Relação entre a pintura e a literatura na obra Ofélia de Shakespeare
1. UniversidadeFederal de Ouro Preto
Instituto de Ciências Humanas e Sociais
Departamento de Letras
Seminário: O Retrato da Literatura Através da Pintura
Disc.: Introduçãoà Literatura Comparada
Prof.: Carla Cristina de Araújo
Grupo: Daniele
Fernanda
Mara
Melina
2. Existe alguns pontos comuns e diferenciados entre a arte de escrever
e a arte de pintar.São eles:
1º - A existência do tema
Tanto a obra literária quanto a pintura apresentam um tema nem
sempre fácil de ser reconhecido. Por isso, fazem-se necessários a
descoberta de antigos valores e o resgate da história, para que
cheguemos a ele. Os temas variam de acordo com a inspiração ou o
contexto de que o pintor ou escritor se utiliza para o seu trabalho.
RELAÇÃO DA PINTURA E DA
LITERATURA
3. 2º - A utilização de uma técnica própria
O pintor utiliza-se de sua sensibilidade, da sua intimidade com as
cores e instrumentos;da capacidade de reproduzir visualmenteuma
realidade, recompondo-a transformada ounão, através de sua própria
interpretação e do domínio de conhecimentosda arte de pintar.
Acontece quase o mesmo com o escritor: utiliza-se de sua
sensibilidade, de sua intimidade com as palavras, estrutura dasfrases,
implicânciasgramaticais e da sua capacidadede reproduzir,através delas
o mundo exterior, real e/ou imaginário, passando-opelo crivo de sua
interpretação, sob o domínio das letras.
As duas expressões artísticas são elaboradas a partir de técnicas
apropriadas para o objetivo doautor ou mesmo da obra. Essas técnicasda
criaçãofísica do sensível,na pintura,torna-seimagística-concreta e, na
criaçãoliterária, imagística-intelectual.
4. 3º - Os recursos utilizados
O pintor utiliza-se de instrumentospróprios para expressar-se:pincéis,
lápis, tintas, telas, materiais diversificados. Também usa seu conhecimentode
técnicasconsagradasou as recria em novos caminhosde expressão.
O escritorutiliza-sede palavras,do seu conhecimentode línguas, dos
meios de registros da reproduçãode suas idéias.Seus instrumentossão ainda
a caneta, o lápis, o papel, a máquina de escrever, o computador, a impressora
e outros.
Utiliza-se também,como o pintor, de sua cultura, de sua maneira própria
de enxergar o mundo, de estudos e pesquisa. Expressa-seatravés do texto
escrito, com imagens que sensibilizem a imaginação doleitor, com descrições
que lhe transmitam conhecimentos de alguns assuntos ou com relatosque o
coloquem informado sobre os acontecimentos.
5. 4º - Espaço e tempo
As linguagensadotadas,tanto pelo pintorquanto pelo escritor sempre são
relacionadas a uma determinada época histórica ou a um determinadoespaço.
Desse modo, a sua produçãopode expressar-sevinda de espaçosinteriores pou
exteriores,visto que o contextohistórico motivadorpode estar instaladodentro e/ou
fora do autor da obra.
6. 5º - Estilo histórico
Visto que o contextohistórico é inserido na obra através da captaçãodo tempo, o estilo
dos autoresda literatura e da pintura apoia-se noschamados "movimentosde influência".
Assim, temos observado a presençade estilosinfluenciadospela escola artística
predominantena época da produção.
Também, a não contemporaneidade de movimentosartístico-literários no tempo e no
espaço histórico, gerou estilos diferentes na expressão de pintores e escritores brasileirose
europeus.
Como resultado,temos obras de pintura e literaturaligadasou não aos "movimentos de
influência", nas quais podemos detectar claramentea época e o estilo., assim como as
característicaspredominantesnas mesma, mostrando o contextohistóricoda sua produção.
7. 6º - Liberdade de expressão
Tanto na pintura quanto nos textos, o artista é livre para estabelecer
convenções e regras, apropriar-se ounão das já existentes.
Não se prendendoa elas, a livre-expressãofará com que sua produção
seja única, tenha seu estilo, expresse sua forma de ver o mundo e o
transforme com seu trabalho.
A interpretação de uma obra artística depende de muitos fatores:
cultura,contexto da literatura, contextohistórico (social, moral,
psicológico, etc.) Se são comuns visões diferentes sobre um assunto, o
mesmo acontececom as produçõesartístico-literárias.
Para tanto, não pode perder de vista seus recursos:conhecimentos
de história e de habilidades técnica paraampliar a experiência pessoal.
8. A PINTURA E A LITERATURA NO
SÉC.XIX
No século dezenove, Paul Gavarni faz uma litografia chamada
Um baile na Chaussée d’Antin, 1862. E em seu livro A casa
Nucingen, Balzac esclarece: “…Isaura dançava a maravilha.
Seus pés eram notáveis por serem tão pequenos, por esse jogo
particular que os velhos mestres chamaram fic-flac e
comparável com a palestra agradável da senhorita Mars… Os
pés de Isaura conservavam com uma clareza, uma precisão, uma
leveza e uma rapidez de muito bom augúrio para as coisas do
coração…”
9. Em 1862, Joaquín Domínguez Bécquer pintou a Dança
de ciganos, e Alexandre Dumas o viu e relatou assim em
seu livro De Paris a Cádiz: “…Vi então renovar-se o
fenômeno de exaltação que já me tinha chocado no
circo. Gritavam ‘bravos’ como jamais ouvira. Cinquenta
chapéus rodavam em um espaço tão estreito aos pés da
bailarina, e esta, com uma habilidade encantadora,
saltava no meio de todos aqueles chapéus sem tocá-la”.
10. Edgard Degas pintou um quadro genial entre muitos do mesmo
tema em 1874, O Ensaio, e o dramaturgo e libretista de ópera,
Ludovico Halévy, que deu vida sarcástica à burguesia francesa, em
sua obra Madame e Monsier Cardinal de 1883, está relacionada
com a pintura do impressionista: “…Paulina vai cumprir os quinze
anos, diz a senhora Cardinal. Está na primeira quadrilha e tenho
certeza que quando fizer o primeiro exame será chefe de dança. Pois
outro dia o diretor lhe acariciou o queixo; e o diretor é um homem
que não acaricia o queixo de todo mundo…”
11. ESSE SLIDE E OS ANTERIORE, 5 A 8 NÃO COMPREENDI MUITO O PQ DE
COLOCÁ-LOS, POIS FALAM DE OBRAS QUE NÃO TRATAREMOS COM MAIS
PROFUNDIDADE, CREIO QUE APENAS OS SLIDES DE INTRODUÇÃO ÀS
SEMELHANÇAS DE PINTURA E LITERATURA SERIAM DE GRANDE VALIA.
12. Quem não conhece ou viu algum dia A dança em Bougival, 1883,
de Auguste Renoir. Certamente o grande escritor Guy de
Maupassant o conheceu e admirou; vemos o que diz emYvette em
1885: “…E como o pianista começou uma valsa, Yvette tomou
bruscamente seu colega pela cintura e o levou consigo com esse
ardor que ela punha no baile. Dançaram assim tanto tempo e de
um modo tão frenético que todo mundo os observava. Os
concorrentes, de pé sobre as mesas, levavam uma espécie de
compasso com seus pés; outros brindavam com seus copos; e o
músico parecia ficar com raiva e batia com os dedos nas teclas de
marfim, com loucas atitudes de todo o corpo, balançando, sem
cessar, a cabeça coberta por seu imenso chapéu” (11).
ESSE SLIDE TÁ PARECENDO COPIADO. ACHO QUE DEVERIA SER EXCLUÍDO!
15. DADOS SOBRE A OBRA
Personagem de uma peça escrita por Shakespeare, Hamlet, entre
1.599 e 1.608 – não se sabe ao certo o ano;
É a peça mais longa do autor;
A história se dá na Dinamarca;
Ophélia se entrega à loucura após a morte de seu pai, o que a
leva à morte;
Ophélia era o amor de Hamlet, que depois de vê-la enlouquecer,
desacredita nas mulheres e crê que ela é desonesta;
16. TRECHOS DA OBRA
Numa conversa com Laertes, irmão de Ofélia, a rainha Gertrudes dá a notíciada morte
de Ofélia:
A Rainha Tanto as desgraçascorrem, que se enleiam no encalçoumas das outras. Vossa
irmã afogou-se,Laertes.
Laertes Afogou-se? Onde? Como?
A Rainha Um salgueiroreflete na ribeira cristalina suacopa acinzentada. Para aí foi
Ofélia sobraçando grinaldasesquisitasde rainúnculas,margaridas,urtigas e de flores de
púrpura, alongadas, a que os nossos campônios chamam nome bem grosseiro, e as nossas
jovens, “dedos de defunto”. Ao tentar pendurar suascoroas nos galhos inclinados, um
dos ramos invejososquebrou, lançandona água chorosa seus troféus de erva e a ela
própria.
17. Seus vestidos se abriram, sustentando-a poralgum tempo, qual
a uma sereia, enquanto ela cantavaantigos trechos, sem
revelarconsciência da desgraça, como criatura ali nascida
e feita para aquele elemento. Muito tempo, porém, não
demorou, sem que os vestidos se tornassem pesados de
tanta água e que de seus cantares arrancassem a infeliz
para a morte lamacenta.
Laertes Afogou-se, dissestes?
A Rainha Afogou-se.
Laertes Querida irmã, já tens água de sobra; não te darei
mais lágrimas. [...]
18. A loucura e a submersão de Ofélia
fascinaram o século XIX. A
multiplicidade de representações
visuais para o episódio de Hamlet,
dentre inúmeros motivos, decorre
também da compreensão ambígua ao
trecho da peça, narrado pela
personagem da rainha Gertrudes,
não encenado e, portanto, ainda mais
sugestivo.
JohnWillianWaterhouse,1889.
19. .
Essa versão é mais tensa e a Ofélia
não se apresenta de forma delicada.
Ela tem força e peso (embora
fragilizada pela loucura)
Eugène Delacroix,1853
20. .
A Ofélia em dimensões maiores, quase toda imersa na água e com uma face assustadora, em
aparente hipotermia, Millais foi atento aos pormenores – em especial às flores, conforme
descritas na peça, diferentemente de Delacroix. Desde então, Ofélia ganhou incontáveis
variaçõesna pintura, muitas delas cercadas por uma flora colorida e exuberante.
John Everett Millais, 1851-2
21. Entre a loucura e a razão, entre o
suicídio e a morte acidental, Ofélia deu
vazão a inúmeras representações
visuais, especialmente no século 19. O
sucesso da imagem relaciona-se,sem
dúvida, à sua polivalência.
Alexandre Cabanel, 1883.
22. Mostra Ofélia em terra firme,
apoiando-se em galhos e ramos,
com os quais os cabelos se
confundem. Há uma tensão:
Ofélia está prestes a cair no
riacho.
RichardWestall, 1793
23. - No século 19 houve uma correspondência entre o sucesso
de Ofélia e o interesse pelas patologias da loucura, associando
epilepsia e histeria, “melancolia erótica” (erotomania) e feminilidade.
Fortaleceu-se a idéia de uma predisposição natural
das mulheres a tais enfermidades.
Repercussões...
- Ofélia não foi vista apenas negativamente; seu “exemplo”
seria uma inspiração às atrizes. Mesmo em 1827, em
Paris, parece ter havido uma moda de penteado com arranjo
de palha, acompanhado de um longo véu negro. Ofélia teria
sido, desse modo, um modelo a ser seguido.
Mas é inegável que ambas
as imagens se alimentam de um gosto mórbido, cada qual expressando seus
sofrimentos: no Milon, certamente a dor física e, talvez, a frustração (pela
derrota) e o arrependimento (pela soberba); em Ofélia, a loucura, o amor não
correspondido e o desengano.
24. ATALA OU LES AMOURS DE DEUX
SAUVAGES DANS LE DESERT
/
ATALA OU OS AMORES DE DOIS
SELVAGENS DO DESERTO
25. DADOS SOBRE A OBRA
Publicada por Chateaubriand no ano de 1.801;
Foi considerada um marco na Literatura Romântica Francesa;
O romance se dá no deserto da América do Sul;
Atala é filha do chefe de uma tribo;
A narração é feita por Choctaw - amor de Atala - já idoso, ao
seu filho adotivo;
Atala se envenena ao lembrar que sua mãe havia lhe consagrado
a Deus, e que sendo assim não podia amar, nem estar com
Choctaw.
26. TRECHO DA OBRA
“Ao pôr do sol, em uma caverna, um velho ermitão segura o
corpo de Atala. O índio Choctaw, tomado pela dor, abraça os
joelhos da menina. Atala, dividida entre seu amor por Choctaw
e a promessa feita à mãe de manter-se virgem cristã, de fato
cometeu suicídio. Depois de uma noite sem dormir, os dois
homens vão enterrar Atala numa caverna. “
27. “Atala estava deitada sobre uma leiva de sensitivas das
montanhas; pés, cabeça, costas e uma parte do seio jaziam
descobertos. Nos cabelos, uma flor fanada de magnólia...
Aquela que eu mesmo depusera, sobre o leito da virgem para
fazê-la fecunda. Os lábios qual botão de rosa colhido há duas
manhãs, pareciam languescer e sorrir. Nas faces de luminosos
luar, distinguiam algumas veias azuis. Os lindos olhos estavam
fechados; juntos os pezinhos, as mãos de alabastro apertavam
sobre o coração, um crucifixo de ébano; no pescoço, o
escapulário de seus votos. Parecia encantada pelo anjo da
melancolia e pelo duplo sono da inocência e do túmulo. Nada vi
de mais celeste.”
28. “O religioso não cessou de orar a noite inteira. Eu estava
ajoelhado em silêncio à cabeceira do leito fúnebre da minha
Atala. Quantas vezes, durante seu sono, eu suportara nos joelhos
aquela encantadora cabeça! Quantas vezes sobre ela me
debruçava para ouvir e respirar seu hálito! Ao presente, porém,
nenhum sussurro saía daquele seio imóvel, e em vão eu
esperava o despertar da beldade”.
32. Tanto Ophélia quanto Atala sofreram e morreram por amor,
tiraram suas próprias vidas por amor. E por esse motivo são
consideradas obras, pitorescas, da mesma linha de
expressão, como é comprovado no seguinte trecho do livro
Ophélia:
“a santa em êxtase tinha os olhos fitos no céu”
assim afirmou Márcia Teixeira Rosa, em “Arte e
Literatura na pintura do século XIX: Algumas
considerações”
33. CONCORDÂNCIAS ENTRE OPHÉLIA E
ATALA
São cristãs;
Acabam por terem um fim trágico;
Tratam de representações de outras artes;
São retradas de forma mórbida e triste;
No seu leito de morte têm ao lado o seu amor.
34. As artes se conjugam umas com as outras, dando forma à
beleza que, depois de tudo, sempre está num cantinho de nossas
vidas, se abrirmos nossos sentidos.
Georges-Michel Darricades