Camilo Pessanha viveu quase 30 anos em exílio voluntário em Macau, onde se dedicou à poesia e ao estudo da cultura chinesa. Suas obras mais conhecidas são os poemas reunidos no livro "Clepsidra", publicado em 1922 graças à iniciativa de Ana de Castro Osório, por quem Pessanha nutriu um amor não correspondido. A poesia de Pessanha explora temas como a efemeridade da vida e a passagem inexorável do tempo.
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CAMILO PESSANHA
CLEPSIDRAInês Leitão Nº5 12º B
Escreveu poemas e sonetos singulares
como a sua vida. Camilo Pessanha é
considerado "o representante mais
genuíno do simbolismo" em Portugal. Em
Macau cumpriu um exílio voluntário de
quase 30 anos por causa, dizem, de um
desgosto de amor.
Camilo não se preocupava em guardar o que escrevia em papel, antes
tinha os poemas de cor e os ditava quando era preciso. Na sua “poesia
de imagens” há uma melodia de palavras, um encontro entre estados
de alma e musicalidade, um ritmo de sons percetível na leitura. A sua
obra “é o fruto mais puro e sazonado do Simbolismo português”. Os
poemas mais antigos que se conhecem são “Lúbrica” de 1885 e,
“Caminho” de 1887. Depois da sua morte, foram publicados ensaios
seus sobre a cultura oriental num volume intitulado “China”.
Camilo Pessanha (1827-1926), doutor formado na faculdade de
Direito em Coimbra, foi professor, advogado e redator de jornais em
Macau. A adaptação à pequena colónia portuguesa não foi fácil, com
o tempo conseguiu desenvolver uma paixão pela arte e literatura
chinesas. Aprendeu a falar cantonense, traduziu poemas da dinastia
Ming e foi um colecionador de arte oriental que veio a doar ao estado
português.
De Camilo diz-se que se deixou cair
no vício do ópio, que a sua figura
impressionava pela magreza, pelas
barbas negras e um certo olhar
febril, que tinha a saúde fraca e
medo da morte. Por duas vezes
voltou a Portugal para tratar-se.
Mas o poeta que escreveu “eu vi a
luz em um país perdido, a minha
alma é lânguida e inerme” morreu
na sua Macau, que um dia chamou
“o chão antipático do exílio”.
https://ensina.rtp.pt/artigo/camilo
-pessanha-1867-1926/
«Adormecei.
Não
suspireis.
Não
respireis.»
«não há fim que não seja a
retenção de um começo, ou
do espectro do recomeço. E
um começo retido será,
propriamente, um fim?»
Camilo de
Almeida Pessanha
Clepsidra, título simbólico,
que se refere a um
instrumento de medição do
tempo dado na Grécia aos
oradores, instrumento do tipo
da ampulheta, mas no qual
corria água. Foneticamente o
título lembra igualmente
“hidra”, o monstro devorador.
O título aponta, assim, para a
fragilidade da vida e da
condição humana, para o fluir
inexorável do tempo, que não
deixa que nada se fixe na
retina (poema Imagens que
passais pela retina). Ora são
estes os grandes temas da
obra: a efemeridade de tudo
quanto passa, a perda, a
inutilidade do que se faz ou
vive.
Intimamente relacionado
com estes temas estão o da
desistência e consternação,
como sentimentos; o receio
ou náusea pela consumação
dos desejos; a apatia
contemplativa e a abulia
(incapacidade de querer); a
realidade vista como
ambígua; a importância da
música.
Por outro lado, trata-se de
uma poesia intelectual que se
debruça sobre a problemática
do conhecimento – o homem
só atinge os fenómenos, as
aparências do real, e não a
essência, o verdadeiro real; o
homem só pode dispor de
coisas mutáveis, indefinidas,
inconsistentes.
https://www.passeiweb.com/est
udos/livros/clepsidra/
Camilo de
Almeida Pessanha nasceu
em Coimbra a 7 de setembro
de 1867 e faleceu em Macau a
1 de março de 1926. Tirou o
curso de Direito em Coimbra
e partiu para Macau onde
exerceu funções judiciais. O
contacto com a cultura
chinesa levou-o a escrever
vários estudos e a fazer
traduções de poetas chineses.
Foram, todavia, os seus
poemas simbolistas que
largamente influenciaram a
geração de Orpheu, desde
Mário de Sá-Carneiro até
Fernando Pessoa. Os seus
poemas foram reunidos na
coletânea Clepsidra,
publicada em 1922, tendo
sido Fernando Pessoa o
principal mentor da edição.
Camilo Pessanha morreu em
Macau vítima do ópio. http://alfarrabio.di.uminho.pt/v
ercial/pessanha.htm
2. Inês Leitão Nº5 12º B CLEPSIDRA
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UMA INICIATIVA DE
RECONHECIMENTO
A história de “Clepsidra” é de talento e de amor, de
estoicismo e de inteligência. Sem a iniciativa de Ana de
Castro Osório não teríamos essa obra-prima das letras
portuguesas. Passaria despercebida ou esquecida, como
os poemas de Cesário Verde, sem a intervenção de Silva
Pinto… A história é mais do que comovente, como tantas
vezes mo tem lembrado o meu querido amigo António
Osório. E quando celebramos os cem anos, é bom que ao
ouvirmos o poeta nos lembremos de um amor, que
apesar de impossível, não impediu a generosa iniciativa
que tornou grande um poeta grande. “A sete chaves – a
carta encantada! / E um lenço bordado… Esse hei de o
levar / Que é para molhar na água salgada / No dia em
que enfim deixar de chorar” … O livro “O Amor de
Camilo Pessanha” de António Osório (Elo, 2005) conta,
aliás, como tudo se passou, revelando as cartas de amor
que Ana não destruiu. Arnaldo Saraiva afirmou que se
Camilo Pessanha fosse de um outro país, certamente que
abundariam traduções e estudos sobre a sua obra. No
entanto, estamos longe do justo reconhecimento, apesar
da opinião de Fernando Pessoa, que constitui uma
importante referência. Tudo começa pela paixão de
Pessanha por Ana de Castro Osório, a que esta não
correspondeu.
Pessanha era amigo íntimo do seu colega de curso em
Direito Alberto Osório de Castro, irmão de Ana, com
quem passava férias em Mangualde em casa do Pai, João
Baptista de Castro, que tratava por “primo”. Ana não
podia, porém, corresponder ao amor de Camilo
Pessanha, por namorar o jornalista e político republicano
Paulino de Oliveira, com quem casará em 1898, cinco
anos depois da tentativa. A jovem exprime, porém, o
desejo «de que Camilo lhe perdoe o desgosto que lhe
causa e que seja seu amigo…». E se é certo que autoriza
Camilo a destruir a sua carta, tal não acontece,
prevalecendo uma «atitude de estoica nobreza». Camilo
“restitui” a carta de Ana, e esta guarda essa
correspondência, que virá a ser revelada pelo poeta
António Osório. Anos depois, em fins de 1915, reata-se o
convívio entre Ana e Camilo – que “jantava e seroava em
nossa casa invariavelmente duas vezes por semana”,
segundo o testemunho de João de Castro Osório, filho de
Ana. E é este que se vai encarregar da recolha da poesia:
«Comoveu-o ver que um rapaz de dezassete anos lhe
pedia para repetir os seus versos de modo a poder
escrevê-los, e que, ao fim da noite, lhe mostrava dois ou
três dos seus Poemas para ele emendar qualquer erro de
interpretação. Prometeu então Camilo Pessanha escrever
em cada noite dos nossos serões de família um ou dois
dos seus Poemas, até juntar todas as suas obras
poéticas». E assim Ana assume o encargo da publicação
dos poemas que recolhera «e dos outros que deveria
enviar e se esperaram durante quatro anos, sempre em
vão». Ana de Castro Osório toma a iniciativa de publicar,
há exatamente cem anos, em 1920, nas Edições
Lusitânia, de que era proprietária, a Clepsidra.
https://www.cnc.pt/clepsidra-de-camilo-pessanha-1867-
1926/
A CLEPSYDRA LIBERTADA
TIAGO FILIPE DOS
SANTOS SOARES VALENTE
CLARIANO
A poesia de Camilo Pessanha
ensina-nos por via da fina
ironia a felicidade que se
encontra nas possibilidades de
estar vivo face à morte, a
conclusão lógica da vida. Tal
como os seus poemas,
equacionados com a morte
quando surgem escritos,
ninguém canta depois da morte.
Ao orientar a sua poesia para a
música e para a morte, o poeta
que é também um esteta brinca
com a ideia geral de que
ninguém liga ao que os poetas
dizem.
De facto, Pessanha não preferia
estar morto e é ironicamente
que diz preferir “não ouvir nem
ver”, por saber que só a vida
pode oferecer impressões como
constantes surpresas. Ao
analisar, nos seus poemas, a
efemeridade, a transitoriedade
e a fixação pela morte, o poeta
sublinha por via de uma
psicologia inversa a liberdade
que se tem durante a vida: de
não se deixar fixar por nada, de
ser múltiplo, capaz de ser
corregedor predial, licenciado
em direito, professor de
história, opiómano, exímio
poeta e autêntico esteta em
simultâneo e saber que a morte
só vai fixar as características
negativas que se tem em vida.
À medida que foi envelhecendo,
o poeta sentiu o tempo passar
como a água por uma clepsidra e
procurou distinguir nas
experiências a melodia da água
que passava, pretendendo
transpor este som para poesia. A
abulia que projetava na poesia
deve-se ao seu aborrecimento
com o tempo que continuamente
lhe roubava as sensações, que
eram como areia que lhe caía por
entre os dedos. Por isso, não teve
receios de se mudar para Macau
quando a situação familiar o
exigiu. A sua poesia está em
eterna dívida para com
momentos passageiros e
passados, para com os quais
serve de cerimonial fúnebre,
prestando-lhes um culto da
nostalgia e uma esperança num
futuro diferente e melhor, acerca
do qual pudesse continuar a
escrever.
https://repositorio.ul.pt/bitstrea
m/10451/32147/1/ulfl242230_t
m.pdf
3. CLEPSIDRA Inês Leitão Nº5 12º B
Página 3
Apreciação
pessoal
Relato do sentido aquando da leitura do livro .
Não é um livro para ser
lido sem ser pensado nem
para se ler sem pensar …
Anexo / auxiliar- conceitos /
palavras :
pág. 8
“auriluzente” »» Que brilha como
ouro. = AURIFULGENTE
“ébrios”»» 1.Que ingeriu
demasiada bebida alcoólica. =
BÊBEDO, EMBRIAGADO ≠
SÓBRIO
2. [Figurado] Apaixonado;
alucinado; sedento.
“precito” pág. 10»» (latim
praescitus, -a, -um, particípio
passado de praescio, -ire, saber
antes, saber previamente)
adjectivo e nome masculino
1. [Religião] Que ou quem está
antecipadamente condenado.
2. Que ou quem foi sujeito a
condenação ou maldição. =
CONDENADO, MALDITO,
RÉPROBO
“Daqui inda este néctar
avigora!...”Pág. 13
Pag 22 citação em francês
“Il pleure dans mon coeur
Comme il plust sur la ville”
Verlaine
"Chora dentro de meu coração
Assim como chove na cidade "
(http://triunfecomofrances.blogsp
ot.com/2011/11/il-pleure-dans-
mon-coeur-de-verlaine.html )
Pág. 24
“matutina”, »» ma·tu·ti·no
(latim matutinus, -a, -um, relativo
à manhã)
adjectivo
1. Relativo à madrugada ou ao
princípio da manhã. = MATINAL,
MATUTINAL
2. Que acontece ou se faz de
manhã. = MATINAL, MATUTINAL
3. Que acorda cedo. =
MADRUGADOR, MATINAL,
MATUTINAL
“prolixas” »» (latim prolixus, -a, -
um, alongado)
adjectivo
1. Que usa demasiadas palavras
(ex.: autora prolixa). = DIFUSO,
PALAVROSO, VERBOSO ≠
CONCISO, LACÓNICO,
RESUMIDO, SINTÉTICO,
SUCINTO
2. Excessivamente longo (ex.:
discurso prolixo). ≠ BREVE,
CURTO
3. Que cansa ou entedia (ex.: a peça
era longa e prolixa). =
ENFADONHO, FASTIDIOSO
“Impropérios” »» (latim
improperium, -ii, censura,
repreensão, afronta)
nome masculino
1. Censura ultrajante.
2. Palavra ou conjunto de palavras
ofensivas. = INJÚRIA, VITUPÉRIO
impropérios
nome masculino plural
3. [Liturgia católica] Versos
cantados no ofício da Sexta-Feira
Santa, e que contêm as
exprobrações que Jesus dirigiu aos
judeus.
“Belveder”»» nome masculino
1. Terraço alto.
2. Pequeno mirante.
3. Ponto elevado, de largo
horizonte.Ver imagem =
MIRADOURO, MIRANTE
Sinónimo Geral: BELVEDERE,
BELVER
“Lumaréu” pág. 33»» Fogacho;
fogueira.
“Fulgida” pág. 39 »» (latim fulgeo,
-ere, brilhar, reluzir)
verbo intransitivo
1. Brilhar durante um breve
instante.
2. Ter fulgor. = RESPLANDECER
3. [Figurado] Tornar-se distinto. =
BRILHAR, SOBRESSAIR
Palavras relacionadas: fulgência,
prefulgir, fulgente, fulgurar,
fúlgido.
fúl·gi·do
(latim fulgidus, -a, -um, luminoso,
brilhante)
adjectivo
Que fulge, brilha (ex.: cabelos
fúlgidos). = BRILHANTE,
FULGENTE
“Ptomaínas” pág. 41»»n (grego
ptóma, -atos, queda, calamidade,
cadáver, ruína + -ina)
nome feminino
1. Putrefacção cadavérica.
2. Parte apodrecida de qualquer
organismo.
3. Infecção que resulta dessa
putrefacção.
4. [Química] Substância orgânica
azotada proveniente da
decomposição de matéria orgânica
de origem animal.
“Rútilo” pág. 43 »»(latim rutilus, -
a, -um, vermelho vivo, ruivo;
brilhante)
adjectivo
1. [Linguagem poética] Que brilha
ou cintila muito (ex.: luz rútila;
metal rútilo). = BRILHANTE,
CINTILANTE, RUTILANTE
2. Que tem a cor do ouro muito
viva.
“Humílima” pág. 44»» superlativo
absoluto sintético de humilde
muito humilde
“Convulsionadas” pág. 45
»»c(latim convulsio, -onis,
convulsão + -ar)
verbo transitivo
1. Pôr em convulsão.
2. [Figurado] Excitar; agitar.
3. Revolucionar.
pág. 46
“Alabastros” »» (grego alábastros,
-ou)
nome masculino
1. [Mineralogia] Variedade de
gipsite branca, translúcida, pouco
dura e susceptível de um belo
polido.
2. [Mineralogia] Variedade de
calcite.Ver imagem
3. [Figurado] Qualidade do que é
branco. = ALVURA, BRANCURA
“Balaústres”»» (italiano
balaustro)
nome masculino
1. Colunelo ou pequeno pilar que,
geralmente com outros, sustenta
um peitoril ou corrimão.
2. Parte lateral da voluta do
capitel jónico.
“Inumar” pág. 51»»(latim inhumo,
-are, de in, em + humus, -i, solo,
terra)
verbo transitivo
Pôr na terra ou em sepultura. =
ENTERRAR, SEPULTAR ≠
DESENTERRAR, EXUMAR
“Logradas” pág. 52»»cc verbo
transitivo
1. Estar na posse de. =
DESFRUTAR, FRUIR, GOZAR
2. Obter com êxito. = ALCANÇAR,
CONSEGUIR ≠ FALHAR
3. Fazer cair em logro ou mentira.
= ENGANAR, INTRUJAR
verbo transitivo e pronominal
4. Ter proveito ou satisfação. =
APROVEITAR
verbo intransitivo
5. Ter o efeito esperado.
“Labutes” pág. 53 »»trabalhar
intensamente e com perseverança;
esforçar-se; lidar
“Vocifere” pág. 54»» verbo
transitivo e intransitivo
dizer em voz alta e iradamente;
berrar, clamar, bradar
verbo transitivo
criticar duramente em tom
agressivo
pág. 57
“Alado”»» adjectivo-Que tem asas.
“Besantes”»» 1.antiga moeda
bizantina de ouro
2.HERÁLDICA peça circular de
ouro ou prata, sem marca,
figurada no brasão de armas
3.plural ornato arquitetónico
característico do estilo românico.
“Banhados os céus a flux” pág. 59
“Soergue-os “ pág. 60»»verbo
transitivo e pronominal
1. Erguer ou erguer-se um tanto.
2. Levantar ou levantar-se um
pouco e a custo ou gradualmente.
pág. 62
“Hemoptise”»» A hemoptise é a
eliminação de sangue do trato
respiratório pela tosse. A
hemoptise maciça é a produção
de ≥ 600 mL de sangue
(quantidade equivalente àquela de
uma cuba reniforme repleta) em
24 h.»»
https://www.msdmanuals.com/pt
-
pt/profissional/dist%C3%BArbios
-pulmonares/sintomas-de-
doen%C3%A7as-
pulmonares/hemoptise
“Daqui inda este néctar avigora!...”
“Timonando uma concha alvinitente!”
"Chora dentro de meu coração
Assim como chove na cidade "
pág. 47
“Osculou “»»verbo transitivo
1.-dar ósculos a, beijar
2.-figurado tocar de leve
“Aljôfar” »» 1.pérola pequena /
Porção de pérolas miúdas.
2.figurado gota de orvalho
3.figurado lágrima
pág. 48
“Timonando uma concha
alvinitente!”
“Avaro” pág. 50»»cc (latim
avarus, -a, -um)
adjectivo e nome masculino
1. Que ou quem tem muito apego
ao dinheiro ou aos bens materiais;
que ou quem mostra avareza. ≠
DISSIPADOR, ESBANJADOR,
GASTADOR, PERDULÁRIO,
PRÓDIGO
2. Que ou aquele que dá ou
partilha com pouca generosidade.
Sinónimo Geral: AVARENTO,
FORRETA, SOMÍTICO, SOVINA
“Vesânias “ »» 1.designação
genérica de qualquer forma de
perturbação mental
2.alienação mental; loucura
3.ideia fixa; mania
“Gemebundo”»» 1. Muito
gemente.
2. Lamuriento.
Total palavras e conceitos
procuradas : 32
Fonte : Priberam e infopédia
“Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e
inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem
ruído!
No chão sumir-se, como faz um
verme…”
"Gemebundo arrulhar dos sonhos não
sonhados,
Que toda a noite errais, doces almas
penando,
E as asas lacerais na aresta dos
telhados,
E no vento expirais em um queixume
brando,
Nunca foi fácil ler e interpretar os poemas e relações
estabelecidas ao longo de todo o livro.
Apesar das suas modestas 63 paginas (na edição adotada
editorial presença; Casa Fernando Pessoa) a leitura integral do
livro foi algo gradual. Numa primeira leitura iniciada a
26/10/2020 e finalizada a 13/11/2020 não fui capaz de
compreender e apreciar o livro e os seus poemas na sua
totalidade. Na verdade, não sei se consegui estabelecer algum
parecer final em relação a qualquer poema.
Inicialmente as páginas 41 e 42 captaram a minha atenção talvez
por não parecem dizer nada mas ao mesmo tempo me terem
feito pensar o que será verdadeiramente “o nada “ , após uma
leitura dos mesmos poemas pelo Exmo. Sr. Luís Lima Barreto o
meu pensamento não se desfolhava em somente duas páginas ,
agora os poemas inscritos nas páginas 24, 34, 50,55 tornaram-se
mais do que poemas .
Isto fez-me perceber que a leitura do poema de um modo correto
e cuidado é algo fulcral para a sua compreensão, ou tentativa de
compreensão.
Fiz ao longo da leitura um mapa conceptual das palavras cujo
significado desconhecia ou pensava desconhecer, empiricamente
as palavras antes escritas e agora desvendadas ganhavam novos
sentidos e ambições , a experiência da leitura fez-me ver que
muitas vezes a mesma palavra pode ter vários significados e que
a definição da mesma depende não só do leitor como também do
meio e disposição que este dedica ao livro .
Não consegui, contudo, finalizar a minha ideia geral e finita do
livro, dos poemas e dedicações nele inscritos …
Talvez nunca o consiga fazer, porque a minha interpretação
pessoal altera-se como o sentido do vento não sou capaz de
imprimir um pensamento num rio que flua na mesma direção
Apesar de tudo isto não foi de todo algo desagradável assistir à
evolução perante das palavras e do seu peso em cada poema
encontrava novos sentidos e premunições, contudo todo ele foi
escrito com um propósito, todos os poemas, apesar de separados
por títulos e páginas procuram atribuir ao livro um fim em
comum.
Ao longo da obra existem dísticas, quadras versos em redondilha
maior e menor entre muitas outras particularidades que devem
ser entendidas por cada um de nós com o nosso sentido, único.
Como é possível percecionar pelos versos, em baixo, transcritos
pertencentes á primeira e última página respetivamente o
culminar de um livro não esquece o seu inicio nem imobiliza o
seu final.
Adormecei. Não suspireis. Não respireis."
Por fim aconselho a leitura do mesmo … alertando para a
atenção, predisposição e cuidado que deve ser tomado na leitura
deste volume, evidencio ainda que o livro não foi para mim de
compreensão imediata, contudo o mesmo pode não ser sentido
por quem o decida ler.
“Pessanha é poeta que encanta, seduz, pela musicalidade, pela
cadência, pelas imagens que nos envolvem, nos conquistam e
nos arrastam em melopeia e sugestões. Traduz a noção de
fugacidade e de passagem indelével do tempo” José Ribeiro Ferreira