O documento discute as abordagens do conceito de subcultura ao longo do tempo, desde sua origem ligada aos estudos culturais na década de 1940 até as perspectivas pós-modernas. Argumenta-se que é necessária uma compreensão atualizada do termo no contexto convergente atual, diferenciando formas de participação criativa de fãs de ações político-ideológicas.
1. Resistência e participação: o conceito
de subcultura e o estudo de fãs no
atual contexto convergente
Stefanie C. da Silveira
PPGCOM /UFRGS
2.
Objetivo: expor a formação do conceito de
subcultura e a necessidade de uma
compreensão diferenciada da ideia de
resistência e rebeldia ligada à construção do
termo.
• No contexto convergente atual, os fãs utilizam
sua apropriação criativa na produção de
conteúdo baseado nos produtos que admiram.
É preciso diferenciar esta forma de ação
daquela de cunho político e ideológico e que
influenciou os primeiros estudos sobre o
conceito em debate.
3. As abordagens das subculturas
• Conceito ligado aos estudos
culturais. Surge na década de
1940 quando a juventude era
vista como o novo segmento de
mercado no pós-guerra.
• Na perspectiva moderna, o poder
é do grupo dominante e exercido
contra um subordinado, ao qual
resta o comportamento
resistente.
• A noção de subordinado está
ligada a ideia de um sujeito
racional, internamente coeso e
claramente definido frente à
oposição.
4. As abordagens das subculturas
• A abordagem pós-moderna
explora o sujeito a partir de sua
subjetividade fragmentada,
fluida e composta por diversas
motivações.
• Desde os anos 80, relaciona-se a
noção de resistência com ações
mais prosaicas e sutis, menos
heróicas.
• A partir dos estudos de Certeau
(1994), observam-se as
estratégias e táticas cotidianas
de resistência dos sujeitos.
5. As abordagens das subculturas
• Os estudos do Centre of
Contemporary Cultural Studies
(CCCS) da Universidade de
Birmingham propõem que se
olhe de forma positiva à questão
criativa das subculturas.
• A “função latente das
subculturas era expressar e
solucionar, ainda que de uma
maneira ‘mágica’, contradições
sociais ocultas e irresolvidas na
cultura do país” (FREIRE FILHO,
2007)
6. As abordagens das subculturas
• As realizações das subculturas
funcionavam como agentes de
transformação social, ainda que
não revolucionárias.
• De acordo com Freire Filho
(2007), a abordagem britânica
enxergava na resistência das
subculturas uma forma de busca
pela existência coletiva.
• A formação das subculturas dá-
se pela articulação coletiva de
sentidos que gera o
reconhecimento com a
alteridade.
7. As abordagens das subculturas
• Os estudos do CCCS datam do
surgimento do movimento punk,
ou seja, estão inseridos num
contexto de transição.
• Os estudos britânicos foram
criticados e acusados de optar
por pronunciamentos teóricos
generalizantes.
• Para alguns autores, as teorias
do CCCS eram dotadas de
elitismo cultural baseado na
divisão radical entre a rebeldia
subcultural e o consumo passivo.
8. As abordagens das subculturas
• Desta forma, nascia uma nova
vertente de estudos na área: os
pós-subculturalistas (FREIRE
FILHO, 2007).
• Eles propunham a adoção de
metodologias qualitativas
focadas no cotidiano dos
sujeitos, pois acreditavam que a
resistência, quando ocorresse,
apareceria não como rebeldia,
mas numa abordagem mais pós-
moderna, ligada à busca pelo
prazer.
9. As abordagens das subculturas
• Para os críticos do CCCS, o
relevante estava no caráter
disperso e transitório dos grupos.
• A ênfase devia ser dada na
busca pelo pertencimento e
reconhecimento diante dos
semelhantes que compartilham
as mesmas afinidades.
• Ou seja, a pós-subcultura
demonstraria a suposta
superação da subcultura ligada
às características de resistência.
10. As abordagens das subculturas
• Thornton (1996) propõe a noção de subcultura
ligada ao conceito de capital subcultural.
• Para ela, os sujeitos desenvolvem seus
comportamentos em busca de status dentro do
grupo.
• Mais do que caracterizar diferenças culturais como
‘resistências’ à hierarquia ou às remotas
dominações culturais de alguma classe dominante,
as subculturas investigam as micro-estruturas de
poder entalhadas nos desacordos culturais e
debates que acontecem entre grupos associados
mais intimamente (THORNTON, 1996, p. 163) .
11. As abordagens das subculturas
• O conceito identificaria as
culturas de gosto. Assim, a
formação dos grupos ocorre
mais pela identificação
estética do que por rebeldia.
• As aglomerações já não são
formadas por ativismos
políticos característicos da
modernidade, as formas de
agregação social na
contemporaneidade dão-se
pelo hedonismo, pelo culto ao
corpo e pela preponderância
da imagem (MAFFESOLI,
2004).
12. As abordagens das subculturas
• Freire Filho (2007) critica a
abordagem de Thornton e diz
que ela caiu no reducionismo.
• Para ele, os pós-
subculturalistas enxergam
nas novas subculturas apenas
“outra forma de jogo
despolitizado dentro da
redoma de prazer pós-
moderna”.
• Os autores não levam em
conta as relações intra-
subculturais, de classe e
sociais.
13. As abordagens das subculturas
Freire Filho (2007) destaca o
fato de que as subculturas
perdem o caráter
oposicionista quando atuam
unicamente na esfera do lazer
e do consumo.
Um dos fatores que faz
também com que os grupos
não conseguam sustentar a
postura rebelde por muito
tempo é o processo de
redefinição dos estilos e
valores das subculturas
realizado por parte do
mercado.
14. As abordagens das subculturas
As ações que podem ser
consideradas de bricolagem têm
um caráter mais ligado à
homenagem do produto cultural
de adoração do que de
subversão deste (FREIRE FILHO,
2007). Isto é, um fã ao fazer uma
produção de um filme ou de uma
narrativa sobre um objeto de
gosto pessoal, por mais que
possa estar infringindo leis de
copyright, realiza este tipo de
ação a partir de uma apropriação
criativa e muitas vezes
despretensiosa, indo em busca
apenas do lazer.
15. As abordagens das subculturas
Revisão do conceito de
subcultura no que diz respeito
ao estudo de fãs no contexto
convergente. É preciso que se
atualize o caráter de
resistência para uma nova
concepção que abarque as
formas atuais de participação
e produção de conteúdo por
parte dos sujeitos. Sem cair
no elitismo do CCCS e sem
deixar de lado aspectos
relevantes etnográficos.
16. As abordagens das subculturas
Esta atualização não é sinônimo de descaracterização do
termo, mas sim de esclarecimento do que quer dizer resistir
na atualidade. Por exemplo, a produção de legendas de
séries de televisão por parte dos fãs e a distribuição deste
material pela internet pode ser considerado um aspecto de
rebeldia, uma vez que esta ação é desencorajada e alvo de
protestos por parte da indústria midiática.
Este tipo de ação, no entanto, não pode ser confundido ou
igualado aos protestos de rua, pichações, manifestações e
passeatas realizadas pelo movimento punk na década de
1980. É este o aspecto diferencial que precisa ser exposto e
atualizado no que diz respeito à discussão acerca do
conceito de subcultura na contemporaneidade.