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PROSAS SEGUIDAS DE ODES MÍNIMAS
AUTOR
• José Paulo Paes é poeta, tradutor, ensaísta e editor. Nasceu em
Taquaritinga (SP) em 1926.
• Estudou química industrial em Curitiba, onde iniciou sua
atividade literária colaborando na revista Joaquim, dirigida por
Dalton Trevisan.
• De volta a São Paulo trabalhou em um laboratório
farmacêutico e numa editora. Desde 1948 escreve com
regularidade para jornais e periódicos literários.
• Toda sua obra poética foi reunida, em 1986, sob o título Um
por todos. No terreno da tradução verteu do inglês, do francês,
do italiano, do espanhol, do alemão e do grego moderno mais de uma centena de
livros.
• Em 1987 dirigiu uma oficina de tradução de poesia na UNICAMP. Faleceu no
dia 09.10.1998.
CARACTERÍSTICAS DO AUTOR
• O autor pertence, cronologicamente, à terceira geração do Modernismo
brasileiro ( 1945 – 1964 ).
• Nos seus poemas, percebemos conceitos que o aproximam de Oswald Andrade:
a poesia sintética, o espírito satírico, o humor, a brevidade, o trocadilho e a
paródia, o poema-piada.
• Poucos adjetivos e recusa do sentimentalismo.
• Inspira-se no Concretismo: valorização do aspecto visual do poema,
remontagem vocabular.
• Uso do epigrama: poema breve marcado por tom satírico. Serviu aos romanos
como instrumento na Antiguidade Clássica para comentar os assuntos da cidade.
• Trabalha a memória, aspectos existenciais e sociais.
• Presença constante da esposa Dora.
PROSAS SEGUIDAS DE ODES MÍNIMAS
• Contém vinte textos em prosa poética e treze poemas.
• Obra do gênero lírico.
• O livro começa falando da morte e termina com reflexões sobre o nascimento.
• ‘Expõe-nos o que parece ser, antes de mais nada, uma experiência de separação.
As pessoas e as coisas que um dia existiram nos deixaram, e o que resta somos
nós mesmos’. (Marcelo Coelho).
COMENTÁRIOS
• Em seguida, pequenos comentários sobre alguns poemas de José Paulo Paes.
• CANÇÃO DO ADOLESCENTE
Se mais bem olhardes
Notareis que as rugas
Umas são postiças
Outras literárias.
Notareis ainda
O que mais escondo:
A descontinuidade
Do meu corpo híbrido.
Quando corto a rua
Para me ocultar
As mulheres riem
(sempre tão agudas!)
Do meu corpo
Que força macabra
Misturou pedaços
De criança e homem
Para me criar?
Se quereis salvar-me
Desta anatomia,
Batizai-me depressa
Com as inefáveis (que não se pode exprimir por palavras)
As assustadoras
Águas do mundo.
Elementos fundamentais do poema:
• Mistura desajeitada entre o adolescente e o homem amadurecido.
• Híbrido que inspira dó ou riso.
• O poema lembra Drummond pelo cansaço com que enxerga a geração humana.
• Niilismo temático – Presença do ‘gauche’, o desajeitado, o diferente, o esquerdo.
COMENTÁRIOS
• MUNDO NOVO
Como estás vendo, não valeu a pena tanto esforço:
A urgência na construção da Arca
O rigor na escolha dos sobreviventes
A monotonia da vida a bordo desde os primeiros dias
A carestia aceita com resmungos nos últimos dias
Os olhos cansados de buscar um sol continuamente adiado.
E no entanto sabias de antemão que seria assim. Sabias que a pomba iria
Trazer não um ramo de oliva mas espinheiro.
Sabias e não disseste nada a nós, teus tripulantes, que ora vês lavrando com
As mesmas enxadas de Caim e Abel a terra mal enxuta do dilúvio.
Aliás, se nos dissesses, nós não te acreditaríamos.
Elementos fundamentais do poema:
• Mais uma vez, o poeta se aproxima de Drummond lembrando o livro A Rosa do
povo marcado pela esperança num mundo melhor.
• Ocorre aqui, também, a defesa da existência por pior que seja.
• Note que o texto está classificado como prosa, mas tem alguns elementos
próprios da poesia como o ritmo.
• Isso nos faz lembrar autores como Cruz e Souza que produziu também prosa
poética.
COMENTÁRIOS
• A CASA
Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas.
Na livraria, há um avô que faz cartões de boas festas com corações de purpurina.
Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo.
Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos.
No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha.
Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão.
Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família.
Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias de outro mundo.
No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha.
E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo:
Trouxe até ali o pássaro dos sonhos.
Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa.
Antes que ele acorde e se descubra também morto.
Elementos fundamentais do poema:
• Recuperação do passado por meio da memória afetiva lembrando Manoel
Bandeira.
• Presença de personagens da vida familiar que povoaram a infância do poeta.
• Versos curtos, concisos sugerindo intensidade de significado.
• Assim como em Bandeira, a presença da morte em muitas expressões como
‘avisos fúnebres’, ‘caixão’, ‘mortalhas’ e ‘morreu’.
• A consciência da transitoriedade da vida ao olhar para o passado; a certeza da
vida como viagem; a precariedade da existência.
• O texto insiste na idéia de dormir e acordar; do sonho. O sonho como
instrumento de resgate do passado.
• Há elementos próprios do Romantismo: o sonho, a fantasia, a emotividade.
Podemos perceber, também, traços do Simbolismo (o universo místico) e do
Surrealismo (o devaneio onírico).
COMENTÁRIOS
• AOS ÓCULOS
só fingem que põem
o mundo ao alcance
dos meus olhos míopes.
já não vejo as coisas
como são: vejo-as como querem
que eu as veja.
logo, são eles que vêem,
não eu que, cônscio
do logro, lhes sou grato
por anteciparem em mim
o Édipo curioso
de suas próprias trevas.
Elementos fundamentais do poema:
• A visão distorcida, imposta pelo capitalismo, na metáfora dos óculos.
• O poeta trabalha o conceito de ‘ideologia’ no sentido marxista do termo: falsa
consciência que temos da realidade.
• O sistema, o poder capitalista através da palavra e da imagem, finge que põe o
mundo ao alcance do eu – lírico.
• O poder tem a possibilidade de criar uma realidade paralela afastada das coisas
como elas são.
• Os óculos funcionam como filtro da realidade impedindo a perfeita consciência
do mundo.
• O sistema, o outro é quem vê; portanto, anula-se a identidade pessoal criando-se
a identidade coletiva, a sociedade de massas: todos pensam, desejam e olham
apenas uma falsa realidade.
• O eu – lírico ainda agradece ao sistema por antecipar sua condição de Édipo: o
que fura os próprios olhos.
EXERCÍCIOS
Texto para as questões 01 e 02:
“À televisão”.
Teu boletim meteorológico
me diz aqui e agora
se chove ou se faz sol.
Para que ir lá fora?
A comida suculenta
que pões à minha frente
como-a toda com os olhos.
Aposentei os dentes.
Nos dramalhões que encenas
há tamanho poder
de vida que eu próprio
nem me canso em viver.
Guerra, sexo, esporte
— me dás tudo, tudo.
Vou pregar minha porta:
já não preciso do mundo.
PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992
01.( UERJ) No poema, a televisão é humanizada, assumindo o papel de interlocutor do
eu poético. Identifique o elemento lingüístico que melhor caracteriza essa humanização
e transcreva um verso em que ele apareça.
02. (UERJ) Indique o tema geral do poema e explique como ele é abordado criticamente
por José Paulo Paes.
RESPOSTA
1 - O uso da segunda pessoa gramatical. Um dentre os versos:
• Teu boletim meteorológico
• que pões à minha frente
• nos dramalhões que encenas
•me dás tudo, tudo.
2 - O tema geral é a sociedade do espetáculo ou a presença da tecnologia na vida do
homem. No texto, a televisão representa esse tema geral, simbolizando a solidão
humana.

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  • 1. PROSAS SEGUIDAS DE ODES MÍNIMAS AUTOR • José Paulo Paes é poeta, tradutor, ensaísta e editor. Nasceu em Taquaritinga (SP) em 1926. • Estudou química industrial em Curitiba, onde iniciou sua atividade literária colaborando na revista Joaquim, dirigida por Dalton Trevisan. • De volta a São Paulo trabalhou em um laboratório farmacêutico e numa editora. Desde 1948 escreve com regularidade para jornais e periódicos literários. • Toda sua obra poética foi reunida, em 1986, sob o título Um por todos. No terreno da tradução verteu do inglês, do francês, do italiano, do espanhol, do alemão e do grego moderno mais de uma centena de livros. • Em 1987 dirigiu uma oficina de tradução de poesia na UNICAMP. Faleceu no dia 09.10.1998. CARACTERÍSTICAS DO AUTOR • O autor pertence, cronologicamente, à terceira geração do Modernismo brasileiro ( 1945 – 1964 ). • Nos seus poemas, percebemos conceitos que o aproximam de Oswald Andrade: a poesia sintética, o espírito satírico, o humor, a brevidade, o trocadilho e a paródia, o poema-piada. • Poucos adjetivos e recusa do sentimentalismo. • Inspira-se no Concretismo: valorização do aspecto visual do poema, remontagem vocabular. • Uso do epigrama: poema breve marcado por tom satírico. Serviu aos romanos como instrumento na Antiguidade Clássica para comentar os assuntos da cidade. • Trabalha a memória, aspectos existenciais e sociais. • Presença constante da esposa Dora. PROSAS SEGUIDAS DE ODES MÍNIMAS • Contém vinte textos em prosa poética e treze poemas. • Obra do gênero lírico. • O livro começa falando da morte e termina com reflexões sobre o nascimento. • ‘Expõe-nos o que parece ser, antes de mais nada, uma experiência de separação. As pessoas e as coisas que um dia existiram nos deixaram, e o que resta somos nós mesmos’. (Marcelo Coelho). COMENTÁRIOS • Em seguida, pequenos comentários sobre alguns poemas de José Paulo Paes. • CANÇÃO DO ADOLESCENTE Se mais bem olhardes
  • 2. Notareis que as rugas Umas são postiças Outras literárias. Notareis ainda O que mais escondo: A descontinuidade Do meu corpo híbrido. Quando corto a rua Para me ocultar As mulheres riem (sempre tão agudas!) Do meu corpo Que força macabra Misturou pedaços De criança e homem Para me criar? Se quereis salvar-me Desta anatomia, Batizai-me depressa Com as inefáveis (que não se pode exprimir por palavras) As assustadoras Águas do mundo. Elementos fundamentais do poema: • Mistura desajeitada entre o adolescente e o homem amadurecido. • Híbrido que inspira dó ou riso. • O poema lembra Drummond pelo cansaço com que enxerga a geração humana. • Niilismo temático – Presença do ‘gauche’, o desajeitado, o diferente, o esquerdo. COMENTÁRIOS • MUNDO NOVO Como estás vendo, não valeu a pena tanto esforço: A urgência na construção da Arca O rigor na escolha dos sobreviventes A monotonia da vida a bordo desde os primeiros dias A carestia aceita com resmungos nos últimos dias Os olhos cansados de buscar um sol continuamente adiado. E no entanto sabias de antemão que seria assim. Sabias que a pomba iria Trazer não um ramo de oliva mas espinheiro. Sabias e não disseste nada a nós, teus tripulantes, que ora vês lavrando com As mesmas enxadas de Caim e Abel a terra mal enxuta do dilúvio.
  • 3. Aliás, se nos dissesses, nós não te acreditaríamos. Elementos fundamentais do poema: • Mais uma vez, o poeta se aproxima de Drummond lembrando o livro A Rosa do povo marcado pela esperança num mundo melhor. • Ocorre aqui, também, a defesa da existência por pior que seja. • Note que o texto está classificado como prosa, mas tem alguns elementos próprios da poesia como o ritmo. • Isso nos faz lembrar autores como Cruz e Souza que produziu também prosa poética. COMENTÁRIOS • A CASA Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas. Na livraria, há um avô que faz cartões de boas festas com corações de purpurina. Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo. Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos. No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha. Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão. Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família. Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias de outro mundo. No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha. E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo: Trouxe até ali o pássaro dos sonhos. Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa. Antes que ele acorde e se descubra também morto. Elementos fundamentais do poema: • Recuperação do passado por meio da memória afetiva lembrando Manoel Bandeira. • Presença de personagens da vida familiar que povoaram a infância do poeta. • Versos curtos, concisos sugerindo intensidade de significado. • Assim como em Bandeira, a presença da morte em muitas expressões como ‘avisos fúnebres’, ‘caixão’, ‘mortalhas’ e ‘morreu’. • A consciência da transitoriedade da vida ao olhar para o passado; a certeza da vida como viagem; a precariedade da existência. • O texto insiste na idéia de dormir e acordar; do sonho. O sonho como instrumento de resgate do passado. • Há elementos próprios do Romantismo: o sonho, a fantasia, a emotividade. Podemos perceber, também, traços do Simbolismo (o universo místico) e do Surrealismo (o devaneio onírico).
  • 4. COMENTÁRIOS • AOS ÓCULOS só fingem que põem o mundo ao alcance dos meus olhos míopes. já não vejo as coisas como são: vejo-as como querem que eu as veja. logo, são eles que vêem, não eu que, cônscio do logro, lhes sou grato por anteciparem em mim o Édipo curioso de suas próprias trevas. Elementos fundamentais do poema: • A visão distorcida, imposta pelo capitalismo, na metáfora dos óculos. • O poeta trabalha o conceito de ‘ideologia’ no sentido marxista do termo: falsa consciência que temos da realidade. • O sistema, o poder capitalista através da palavra e da imagem, finge que põe o mundo ao alcance do eu – lírico. • O poder tem a possibilidade de criar uma realidade paralela afastada das coisas como elas são. • Os óculos funcionam como filtro da realidade impedindo a perfeita consciência do mundo. • O sistema, o outro é quem vê; portanto, anula-se a identidade pessoal criando-se a identidade coletiva, a sociedade de massas: todos pensam, desejam e olham apenas uma falsa realidade. • O eu – lírico ainda agradece ao sistema por antecipar sua condição de Édipo: o que fura os próprios olhos. EXERCÍCIOS Texto para as questões 01 e 02: “À televisão”. Teu boletim meteorológico me diz aqui e agora
  • 5. se chove ou se faz sol. Para que ir lá fora? A comida suculenta que pões à minha frente como-a toda com os olhos. Aposentei os dentes. Nos dramalhões que encenas há tamanho poder de vida que eu próprio nem me canso em viver. Guerra, sexo, esporte — me dás tudo, tudo. Vou pregar minha porta: já não preciso do mundo. PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 01.( UERJ) No poema, a televisão é humanizada, assumindo o papel de interlocutor do eu poético. Identifique o elemento lingüístico que melhor caracteriza essa humanização e transcreva um verso em que ele apareça. 02. (UERJ) Indique o tema geral do poema e explique como ele é abordado criticamente por José Paulo Paes. RESPOSTA 1 - O uso da segunda pessoa gramatical. Um dentre os versos:
  • 6. • Teu boletim meteorológico • que pões à minha frente • nos dramalhões que encenas •me dás tudo, tudo. 2 - O tema geral é a sociedade do espetáculo ou a presença da tecnologia na vida do homem. No texto, a televisão representa esse tema geral, simbolizando a solidão humana.