Este documento apresenta um plano de curso de Antropologia Cultural ministrado no Centro de Formação Missiológica (CFM). O plano de curso inclui introdução à disciplina, objetivos, bases bíblicas e científicas da Antropologia, conceitos-chave e teorias antropológicas. Também apresenta abordagens e métodos antropológicos, história da Etnologia brasileira, categorias culturais e a relação entre Antropologia e Missões. O plano detalha avaliações, leituras obrig
2. ANTROPOLOGIA CULTURAL
Introdução
Objetivos
1) Bases Bíblicas para o uso da Antropologia
2) Bases Científicas para o uso da Antropologia
3) Conceituando “Antropologia” e “Cultura”
4) O Berço da Antropologia
5) Teorias Antropológicas e seus Expoentes
6) O Campo e a Abordagem Antropológicos
7) Etnologia – A busca do “Ser invisível”
8) Historia da Etnologia Brasileira – Do Empirismo à Sistematização
9) Padrões de Aproximação Etnológica
10)Conceituando o Trabalho Missionário Transcultural
11)Categorizações Culturais – Uma Metodologia para o Entendimento da Cultura
12)Antropologia & Missões – Uma Ponte
Leitura & Estudo de Caso (Shakespeare na Selva) - 30%
Avaliação 1 – 15%
Avaliação 2 – 15%
Participação em Aula – 30%
3. Conhecer os aspectos introdutórios da disciplina Antropologia, seu
momento de inspiração inicial com os gregos, destacando a especificidade
e a concepção do conhecimento antropológico.
Atitudes corretas para com a Antropologia como ciência, como ferramenta
importante para a realização de um ministério transcultural.
Reconhecer e exercitar a capacidade reflexiva, analítica e crítica acerca do
objeto estudado, incorporando-o na sua práxis e aplicando esta
compreensão ao ministério transcultural.
Ligar o conhecimento, as atitudes e as habilidades antropológicas ao
ministério missionário transcultural (Antropologia Missionária)
4. • Para adquirir conhecimento em uma ciência, é
indispensável compreendê-la, para evitar
desperdício.
• Compreender uma ciência é um investimento
intenso, de diversas ordens, de diversos valores e de
diversos preços.
• Ler livros não assegurará a sua a aprendizagem.
• Uma maneira bastante viável de afastar os
desperdícios e esforços desnecessários e chegar
próximo a dominar uma ciência é concentra-se em
três direções:...
5. , rastrear o caminho de elaboração da questão
matriz, uma vez que ela é o núcleo e em seu entorno
gravitará um conjunto de visões, conceitos, teorias e
métodos que interligados formam a ciência.
, conhecer como seus peritos formaram um
projeto de ciência, com que base, com que método
com quais conceitos.
, contextualizar o impacto desta ciência na
sociedade, através do conjunto de respostas que ela
fornece para si, mas que constitui para os indivíduos
em sociedade pontos de esclarecimentos dos seus
problemas.
6.
7.
8. Lévi-Strauss é o principal expoente da corrente estruturalista
na Antropologia. Para fundá-la, Lévi-Strauss buscou elementos das ciências
que, no seu entender, haviam feito avanços significativos no
desenvolvimento de um pensamento propriamente objetivo. Sua maior
inspiração foi a Lingüística Estruturalista da qual faz constante referência.
Ao apropriar-se do pensamento estruturalista para aplicá-lo à
antropologia, Lévi-Strauss pretende chegar ao modus operandi do espírito
humano. Deve haver, no seu entender, elementos universais na atividade do
espírito humano entendidos como partes irredutíveis e suspensas em
relação ao tempo que perpassariam todo modo de pensar dos seres
humanos.
9. Bronisław Kasper Malinowski (Cracóvia, 7 de Abril de 1884 — New Haven, 16 de
Maio de 1942) foi um antropólogo polaco. É considerado um dos fundadores
da antropologia social. Atuando na London School of Economics (LSE), fundou a escola
funcionalista. Suas grandes influências incluíam James Frazer e Ernst Mach.
Sem dúvida, a principal contribuição de Malinowski para a Antropologia foi o
desenvolvimento de um novo método de investigação de campo, cuja origem remonta
à sua intensa experiência de pesquisa na Austrália, inicialmente com o povo Mailu
(1915) e posteriormente com os nativos das Ilhas Trobriand (1915-16, 1917-18).
10. Interpretação das Culturas, GEERTZ, Clifford. Rio de Janeiro,
Zahar, 1978. (Cap. 1: Uma descrição densa: por uma teoria
interpretativa da cultura). Clifford Geertz (1926-2006) foi o
fundador da chamada antropologia hermenêutica ou
interpretativa, que acabou se abrangendo em uma grande área
da ciência. Em sua obra “A interpretação das Culturas”, ele traz o
conceito de cultura.
A cultura é o principal eixo do texto e um conceito fundamental
na antropologia. Geertz usa o conceito de Max Weber, que afirma
que o homem é um ser amarrado em teias de significados que ele
mesmo teceu.
O que poderia ser chamado de teias de significados na visão dele
seria: o mito, a religião, a arte, a escrita, a comunicação, os hábitos
sociais, o comportamento, entre outros. Quando o autor cita que a
cultura é pública, ele esta se referindo aos significados que não se
encontram na mente de uma ou outra pessoa, e sim na ação social,
nos comportamentos.
14. ANTROPOLOGIA
Ciência do homem no sentido mais lato, que engloba
origens, evolução, desenvolvimentos físico, material e
cultural, fisiologia, psicologia, características raciais,
costumes sociais, crenças etc.
ANTROPOLOGIA
É o estudo do homem como ser biológico, social e
cultural. ... Além disso podemos utilizar termos
como Antropologia, Etnografia e Etnologia para distinguir
diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.
16. 1. Cultura como Sistema de Valores
“... As culturas têm como conteúdo estratégias para a avaliação de coisas, atividades,
qualidades e modos de comportamento. Para nós o furto de alimentos é considerado bem
menos grave do que a morte de uma pessoa causada por negligência (ou o aborto,
acréscimo meu). Em culturas onde a taxa de natalidade é muito alta, mas o mantimentos
são raros ou difíceis de conseguir, poderá eventualmente valer o contrário, podendo até
constar em lei.
Existem sociedades onde é vergonhoso para mulheres andar de bicicleta, mesmo que
ninguém consiga explicar de maneira convincente (para o nosso padrão de lógica) qual a
razão disso. Dentro da igreja também podem ocorrer conflitos motivados por diferentes
sistemas de valores, quando não se consegue chegar a uma conclusão sobre o que é pecado
e o que não é, teologicamente falando. Para cristãos provenientes do animismo o adultério
poderá ser um pecado bem menor do que, por exemplo, oferecer um sacrifício aos espíritos
dos antepassados, como era costume fazer antes. Para cristãos europeus esta dificuldade
provavelmente seria inversa. ”
“Valores são decisões “pré-estabelecidas” que uma sociedade toma diante das escolhas
que frequentemente se tem de fazer. Os valores ajudam aqueles que vivem dentro daquele
sistema cultural a saber o que “deve” ser feito a fim de se adequarem ou se conformarem
ao padrão esperado.”
17. 2. Cultura como Estratégia de Sobrevivência
“A forma destacada com que comunidades humanas dependem da sua cultura pode ser
demonstrada por meio de uma experiência feita em computador. Algum tempo atrás,
etnólogos americanos desenvolveram um programa a fim de obter resposta para duas
perguntas. A primeira buscava informações sobre o que aconteceria se a cultura fosse de
alguma forma tirada do ser humano, mas deixando uma lembrança a respeito da mesma. O
resultado mostrou que os atingidos imediatamente poriam mãos à obra para reconstruir a
sua cultura, com tal empenho que depois de poucas gerações já teriam alcançado
novamente o estado original.
A segunda pergunta deveria esclarecer o que poderia acontecer caso a humanidade
fosse privada não apenas de suas culturas, mas também da lembrança delas. A resposta foi
que a maioria dos atingidos morreria em pouco tempo, pois sem a lembrança de
estratégias importantes para o desenvolvimento e a sobrevivência eles estariam entregues
ao ambiente, acontecesse o que acontecesse. Nem mesmo nas zonas temperadas do globo
terrestre é possível viver quando não se conhece o cultivo de cereais. E na atual
concentração populacional na Europa central, uma epidemia de gripe teria efeitos
desastrosos se não se conhecessem os medicamentos necessários”.
18. 3. Cultura e Entendimento entre os Povos
“De tudo que vimos, podemos concluir que pessoas percebem o seu contato com
sociedades de diferentes padrões culturais, primeiramente como uma separação, que traz
como consequência a falta de entendimento e desconfiança.. Essa é a causa da inimizade
contra estrangeiros que parece aumentar ainda mais à medida que as culturas desconhecidas
se aproximam.
Na minha opinião, a função separadora dominante exercida por culturas diferentes é de
tanta importância que não consigo vislumbrar um futuro glorioso para a tão evocada
sociedade multi-cultural.
Ela não vai funcionar, pois exige dos participantes um volume de tolerância impossível
de ser gerado a longo prazo, chegando a impor às sociedades atingidas um preço que
ultrapassaria em muito as suas possibilidades”.
Então...
“Cultura é um sistema mais ou menos integrado de ideias, sentimentos, valores e seus
padrões associados de comportamento e produtos, compartilhados por um grupo de
pessoas que organiza e regulamenta o que pensa, sente e faz.”
Paul Hiebert
19. C
A
M
A
D
A
S
C
U
L
T
U
R
A
I
S
Gerrt Hofsted - Psicologia
Jay Barney - Sociologia
Fred Korthagen - Pedagogia
Edgar Schein - Filosofia
Cosmovisão
Categorias,
lógica,
epistemologia
Sistema de Crenças
Produtos culturais; padrões
de comportamento; signos e
rituais
Paul Hiebert
Transformando Cosmovisões
20. Padrões de Pensamento
e Sentimento
Camadas Culturais
(Domínio Compreensivo)
Linguagem / Língua / Fala
(Domínio Expressivo Verbal)
10%
90%
Material Original por Lidório, Mis. Pr. Ronaldo – Apresentado na 1ª. Capacitação Antropológica – Presidente Figueiredo, 02/2005
Adaptado com permissão.
VISÍVEL E CONCRETO
PRODUÇÃO MATERIAL
COMPORTAMENTO OBSERVÁVEL
HUMANO / SOCIAL
NORMAS DE
COMPORTAMENTO
E RELACIONAMENTO
IMPLÍCITO
VALORES
IMPLÍCITO
CRENÇAS
FUNDAMENTAIS
ABSTRATO
COSMOVISÃO
-
O
C
U
L
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O
+
C
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M
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A
S
C
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L
T
U
R
A
I
S
21. O Berço da Ciência
Antropológica
Diferentes Culturas, KÄSER, Lothar, Editore Descoberta, Londrina-PR, 2004
22. A curiosidade dos gregos com as culturas que lhes eram desconhecidas ainda não
podia ser considerada uma ciência sistemática no sentido de uma etnologia
moderna, mas é antes uma etnografia, a descrição de povos desconhecidos, seu
modo de vida, seus costumes e hábitos.
O historiador Posidônio (135 – 51 a. C.) originário da Síria, é o primeiro a utilizar
a expressão “povo primitivo” para os grupos étnicos dos quais os gregos tomaram
cada vez mais ciência devido às conquistas de Alexandre o Grande.
Teve origem no primeiro século da era cristã uma obra importante de orientação
etnográfica chamada A Germânica, de Tácito (55 – 116 d.C). Ali ele apresenta aos
seus contemporâneos romanos exemplos brilhantes das virtudes dos germânicos a
serem imitados, não se esquecendo de enumerar que eles também tinham maus
costumes, que permitiriam que os romanos os dominassem.
O Berço da Antropologia
23. Com a adoção do cristianismo como religião estatal do Império Romano
começa um desenvolvimento que leva à convicção de que ser cristão e ser
humano são fatos equivalentes. O contraste antigo entre gregos e bárbaros agora
passa a ser entre cristãos e gentios. Na idade média, por uma questão de
princípio, os últimos (gentios) são considerados pertencentes ao reino de
Satanás, exclui-se assim a pesquisa científica sobre os mesmos, o que, no final
das contas, constituiria perigo de vida.
A teologia cristã como doutrina da igreja forma a base da imagem mundial em
evolução na Idade Média. Especulações referentes à pergunta sobre o que
haveria na margem do mundo (oikomene) habitado por seres humanos, ou até
além dela, levaram à conclusão de que era habitada por diversos monstros.
Tradições antigas encontram continuação em cientistas da Arábia, que em suas
viagens chegam à Índia, Ceilão, e Ásia oriental.
Ceilão: hoje é o país de Sri Lanka na Ásia.
O Berço da Antropologia
24. O Berço da Antropologia
Para a etnologia (antropologia) européia torna-se significativa apenas a época dos
descobrimentos, que se iniciou lentamente no século XIII, chegando ao apogeu
nos séculos XVI e XVII e terminando somente em meados do século XIX.
Já no início dessa época o número de relatos etnográficos aumenta
enormemente. Nesta época de conquistas e conquistadores, destacam-se como os
primeiros observadores e relatores das “terras novas” e de seus povos “exóticos”
Marco Pólo (Ásia), Vasco da Gama, Américo Vespúcio e Jean de Léry, que os
descreveram normativamente (de forma etnocentrista) ou descritivamente (de
forma relativista).
Etnocentrista: tendência do homem para menosprezar
sociedades ou povos, cujos costumes divergem d
a sua sociedades ou povo.
Achar que sua etnia é o centro da cultura.
25. O Berço da Antropologia
O século XVIII testemunhou um florescimento da ciência e da filosofia na Europa como
resultado das idéias e discussões geradas pelos primeiros pensadores e filósofos europeus,
como John Locke, Thomas Hobbes, David Hume.
Nestes novos anos a palavra-chave era iluminismo. Como Hobbes, Locke e Descartes
haviam afirmado, o indivíduo livre devia ser a medida de todas as coisas – do
conhecimento e da ordem social. Todo este movimento social racional culminou na França
com a Revolução Francesa.
Neste contexto humano-social-relativista-racional é que nascem as primeiras tentativas
de criar uma ciência antropológica. Uma obra inicial importante foi La Scienza nuova, de
Giambattista Vico (1668 – 1744), uma síntese grandiosa de etnografia, história da religião,
filosofia e ciência natural.
O barão de Montesquieu (1689 – 1755) deu os primeiros passos para a instituição da
antropologia como ciência. Ele escreveu o notável Lettres Persanes (Cartas Persas – 1722),
onde aparece pela primeira vez um problema descrito como homeblindeness na
antropologia cultural, isto é, nossa incapacidade de ver nossa própria cultura
“objetivamente”, “de fora”. A atual antropologia crítica ainda usa essa ideia.
26. O Berço da Antropologia
Já na era do Romantismo, depois da revolução francesa e das transformações
políticas revolucionárias que a seguem, o interesse científico volta-se em toda parte
para o próprio povo, isto é, ao próprio grupo populacional. Origina-se o historicismo.
Começam a formar-se as ciências linguísticas nacionais e a indo-germanística.
Dessa evolução surgem as chamadas filologias, disciplinas especiais que trabalham
com culturas desconhecidas possuidoras de escrita (nipologia, sinologia e muitas
outras). Durante esse período a etnologia com o seu interesse por culturas sem escrita
fica estagnada.
Depois do afastamento da ciência tanto da teologia como da Bíblia durante o
iluminismo, estas agora voltam a entrar em evidência. As pessoas em sociedades sem
escrita, “os primitivos”, agora não são mais considerados os “nobres selvagens”, mas
gente que havia se degenerado da sua cultura original depois da dispersão a partir da
torre de Babel, descendo de um nível elevado para o seu estado atual. Disso concluiu-
se que apenas povos com culturas que alcançaram a fase da civilização têm em si
mesmos a capacidade para um desenvolvimento superior.
27. O Berço da Antropologia
Darwin: Nesse contexto destaca-se, em meados do século XIX, um modelo
novo de ciência, já esboçado há mais tempo nas disciplinas de ciências naturais.
Como propulsor registra-se Charles Darwin (1809 – 1882), que impulsiona, com
suas ideias sobre a origem da vida e das espécies, o desabrochar do evolucionismo
biológico, que engole todas as ciências como uma avalanche, marcando também a
etnologia no período entre 1860 e 1900.
Edward Burnett Tylor: É o primeiro a introduzir o conceito de “animismo”
para as religiões de culturas “primitivas” como resultado de um pensamento
crescente de que compartilhavam os etnólogos de linha comparativa, assim como
os biólogos, sugeriram cadeias de desenvolvimento aparentemente correlatas com
complexos culturais. Exemplo:
Propriedade Coletiva Propriedade Individual
Venera o Ancestral (Politeísmo) Veneração a Deus (Monoteísmo)
28. Lewis Henry Morgan: Emprega princípios evolucionistas para estudar
sistemas de parentesco. Em meados do século XIX e início do XX o
evolucionismo cede lugar a uma série de escolas de etnologia com orientações
teóricas próprias.
o Na Alemanha surge a etnologia histórica, onde é criada a Escola Vienense da
Ciência dos Povos.
o Na Inglaterra o evolucionismo é substituído por métodos oriundos parcialmente
da sociologia francesa. Surge a etnologia social.
o Também nessa fase surge o pai da etnologia de campo, Bronislaw Malinowski,
que substitui a anterior e falha, etnologia de “poltrona” ou de “janela”.
Nos EUA, o cientista Franz Boas consegue, por meio de sua atividade como
pesquisador e professor, que a linguística seja integrada como disciplina parcial na
cultural anthropology, resultando numa combinação muito frutífera de métodos,
desenvolvendo-se assim a antropologia cognitiva.
Cognitiva: ato de adquirir conhecimento.
O Berço da Antropologia
30. 1. Evolucionismo
Edward Burnett TYLOR
(1832-1917)
Primitive Culture (1971):
conceitos como “cultura” e
“animismo”.
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
31. Lewis Henry MORGAN
(1818-1881)
Ancient Society (1877)
três estados de evolução da
humanidade:
selvageria, bárbarie e civilização.
(caçadores) (agricultores)
(industrializados)
coletores
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
32. James George FRAZER
(1854-1941)
O Ramo de Ouro, Círculo do Livro,
1978 [1915]:
Distinção entre magia e religião.
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
33. O outro é diferente porque possui graus
de evolução. O civilizado é resultado de
uma série de homens que regressa até
o primitivo, logo, é possível “pensar” o
selvagem sem conhecê-lo.
Cuidado com o pré-conceito!
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
34. 2. Difusionismo
Franz BOAS (1858-1942)
“pai da antropologia moderna”
A Mente do Ser Primitivo, Vozes,
2010 [1938]
Ideias como igualdade racial,
etnocentrismo e relativismo.
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
35. “Desenvolve a ideia de que cada cultura
tem uma história particular e, portanto, a
difusão de traços culturais deveria
acontecer com frequência” (p.28)
Cada cultura é única.
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
36. 3. Funcionalismo
Bronislaw K. MALINOWSKI
(1884-1942)
Os argonautas do pacífico
ocidental, 1976 [1922]
Trabalho etnográfico (de campo).
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
39. “Estrutura” tem a ver com o
que não é observável, mas
apreensível pela
interpretação científica.
Busca os padrões mentais,
padrões de pensamento e
comunicação, com a
intenção de compreender o
pensamento coletivo.
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
40. Dois discípulos:
Eduardo Viveiros de Castro
Perspectivismo
Philippe Descola
Rudolf Steiner
Sociedades anímicas
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
41. 5. Interpretativa
Clifford James GEERTZ
(1926-2006)
A interpretação das culturas,
LTC, 1989 [1973].
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
42. Leitura da sociedade como
um “texto”, buscando
compreender suas
“entrelinhas”
a busca pelos
significados ou ideias.
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
43. Os Ashante da África são
matrilineares, matrilocais e
e matriarcais, ou seja, a herança ou hereditariedade é
passada pela mulher. Os jovens casais passam a morar junto à
mãe da noiva e a liderança familiar é exercida por uma
matriarca.
- Qual idéia está por trás de tais fatos?
- E, quais implicações das mesmas para a comunicação do
Evangelho?
Teorias Antropológicas e seus Expoentes
44. Teorias Antropológicas e seus Expoentes
Sociedade Líquida
Relações Humanas:
• Laços frágeis, transitórios, superficiais
• Satisfação momentânea; Lógica
Mercantil
• Indivíduo como mercadoria
• “Auto-reificação”
• “Corrosão do Caráter” (Sennett, 1999)
Quais as implicações disto para o
Evanelho?
Auto-reificar:
Transformar
algo abstrato
em concreto;
Reduzir o
humano a
“coisa”;
Reduzir o ser
humano a
valores
meramente
materialistas
46. O Campo e a Abordagem Antropológicos
O homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. Em todas as sociedades
existiram homens que observavam homens.
Houve até alguns que eram teóricos e forjaram, como diz Lévi-Strauss, modelos
elaborados “em casa”. A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a
elaboração de um saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se deram
tanto na Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa.
Mas o projeto de fundar uma ciência do homem – uma Antropologia – é, ao
contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que começa a
se constituir um saber científico (ou pretensamente científico) que toma o homem
como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o
espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os
métodos até então utilizados na área física ou da biologia.
Isso constitui um evento considerável na história do pensamento do homem
sobre o homem.
47. O Campo e a Abordagem Antropológicos
O surgimento e desenvolvimento da ciência e do pensamento do Homem sobre o
Homem é, então, um evento do qual talvez ainda hoje não estejamos medindo
todas as consequências.
Esse pensamento tinha sido até então mitológico, artístico, teológico, filosófico,
mas nunca científico no que dizia respeito ao homem em si.
Trata-se, desta vez, de fazer passar este último do status de sujeito do
conhecimento ao de objeto da ciência.
Finalmente, na Antropologia, ou mais precisamente, o projeto antropológico que
se esboça nessa época muito tardia na história – não podia existir o conceito de
HOMEM enquanto regiões da humanidade permaneciam inexploradas, limitado
em apenas uma região muito pequena do mundo: a Europa.
Isso trará, evidentemente, como veremos mais adiante, consequências
importantes.
48. O Campo e a Abordagem Antropológicos
Para que esse projeto alcance suas primeiras realizações, para que o novo saber
comece a adquirir um início de legitimidade entre outras disciplinas científicas,
será preciso esperar a segunda metade do século XIX, durante o qual a
Antropologia se atribui objetos empíricos autônomos: as sociedades então ditas
“primitivas”, ou seja, exteriores às áreas de civilização europeias ou norte-
americanas.
A ciência, ao menos tal como é concebida na época, supõe uma dualidade radical
entre o observador e seu objeto.
Enquanto que a separação (sem a qual não há experimentação possível) entre o
sujeito observante e o objeto observado é obtida na física, na biologia, botânica,
ou zoologia, pela natureza suficientemente diversa dos dois termos presentes, e na
história, pela distância no tempo que separa o historiador da sociedade estudada, na
Antropologia ela consistirá – nessa época e por muito tempo – em uma distancia
definitivamente geográfica.
49. O Campo e a Abordagem Antropológicos
Assim, as sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades
longínquas (geograficamente, mas que também são as sociedades ‘primitivas’,
tradicionais) , às quais são atribuídas as seguintes características:
1. Sociedades de dimensões restritas
2. Poucos contatos com grupos vizinhos
3. Tecnologia pouco desenvolvida em relação à ocidental
4. Menor especialização das atividades e funções sociais
A Antropologia acaba, portanto, de atribuir-se um objeto que lhe é próprio: o estudo
das populações que não pertencem à civilização ocidental. Serão necessárias ainda
algumas décadas para elaborar ferramentas de investigação que permitam a coleta
direta no campo das observações e informações.
Logo após ter firmado seus próprios métodos de pesquisa – no início do século XX
– a Antropologia percebe que o objeto empírico que tinha escolhido (as sociedades
“primitivas”) está desaparecendo, pois o próprio universo destes não é, de forma
alguma, poupado pela evolução social. Ela se vê, portanto, confrontada a uma crise
de identidade. Fica uma pergunta para o estudo antropológico: “será que a morte
do primitivo há de causar a morte daqueles que haviam se dado como tarefa o seu
estudo?”
54. Período Colonial: Relatórios e Descrições
“É substanciosa a riqueza de informações nos escritos quinhentistas, seiscentistas e
setecentistas referentes aos indígenas brasileiros desses séculos. Missionários, viajantes,
militares, colonos e outros cronistas expressaram seu interesse em registrar a presença de
grupos humanos diferentes e até exóticos que aguçavam sua curiosidade. O registro de seu
modo de vida, seus costumes e padrões, era acompanhado de observações sobre sua etnia,
da descrição da terra e do quadro natural que lhes servia de habitat.”
Historia da Etnologia Brasileira
Pero Vaz de Caminha
Carta ao Rei D. Manoel I
Jean de léry
Viagem à Terra
do Brasil
André Thevet
Singularidades da
França Antártica
Pe. J. Anchieta
Arte da Gramática
da Língua Tupi
Hans Staden
Duas Viagens
ao Brasil
55. Primeira metade do século XIX: Início da Investigação Científica
“Os legados do período colonial, embora valiosos, não se
constituíam em trabalhos científicos dado seu caráter descritivo e
empírico. A primeira metade do século XIX representa a transição
para a sistematização dos conhecimentos a respeito do indígena,
com a presença de naturalistas europeus no Brasil. Interessados no
estudo da fauna e da flora, não deixaram de contactar com o natural
da terra, do qual reuniram material etnográfico de tribos litorâneas e
do interior. A mais importante contribuição dessa fase foi a de Carl
F. Ph. Von Martius, em função do seu pioneirismo abrindo
caminhos à sistematização das observações coletadas e os consequentes rumos
à pesquisa científica. Além disso, a ele se deve o esforço de classificação
dos grupos indígenas.”
“Outra colaboração de valor foi a de Maximiliano, Príncipe de
Wied-Neuwid, com sua monografia sobre os índios Botocudos,
escrita com a objetividade e precisão próprias de um cientista.
A partir daí a Etnologia começa a adquirir o foro de verdadeira ciência.”
Historia da Etnologia Brasileira
Carl F. Ph. Martius
Pri. Maximiliano
56. Historia da Etnologia Brasileira
Segunda metade do século XIX: Expedições Científicas ao Interior do Brasil
“No período compreendido entre 1884 e 1914, o Brasil foi visitado por missões
científicas estrangeiras que alcançaram vários pontos do interior do país, com a finalidade
de contactar com grupos indígenas, observar e coletar informações que viessem enriquecer
os conhecimentos etnológicos e propiciassem uma visão mais profunda da própria natureza
humana.”
“De grande significado foram as duas expedições científicas à região do Alto Xingu
(1884 e 1888) dos alemães Karl von den Steinen e Paul Ehrenreich, quando contactaram
com representantes das quatro grandes famílias indígenas do Brasil, ou seja, Tupi, Jê, Karib
e Aruak e uma de língua Trumai, culturas originais, ainda não afetadas pela presença do
não índio.”
“Também Max Schmidt empreendeu várias expedições ao Estado de Mato Grosso,
assim como Teodor Koch-Grünberg que percorreu a região noroeste do Brasil e Fritz
Krause, o vale do Araguaia. As obras resultantes das pesquisas que empreenderam vieram
enriquecer os estudos indígenas fornecendo dados etnográficos, sociológicos, psicológicos
e linguísticos, além de substanciosas informações sobre a mitologia, a vida social e
religiosa dos grupos em foco.” “Aqui se iniciou o período áureo da história da Etnologia
do Brasil.”
57. Historia da Etnologia Brasileira
Século XX: Contribuições científicas nacionais e estrangeiras
“Até as primeiras décadas do século XX, o estudo do indígena brasileiro despertou
sobretudo a atenção de europeus em geral, e de alemães em particular. Os pesquisadores
nacionais pareciam não se interessar por este objeto de estudo, com raras exceções como
Couto de Magalhães e Barbosa Rodrigues e, mas tarde, Capistrano de Abreu, que
pesquisou e escreveu sobre os Kaxinauá, e E. Roquette Pinto, que estudou os índios Pareci
e Nambikuara.”
“Nas décadas que se seguiram, pesquisadores nacionais e norte-americanos tiveram seu
interesse despertado para esse segmento minoritário da população, participando cada vez
mais ativamente das pesquisas etnológicas.”
“Salienta-se a figura do general C. Mariano da Silva Rondon, o fundador do Serviço de
Proteção aos Índios e pacificador incansável de tribos contactadas. Também Curt
Nimuendajú que durante 40 anos conviveu com grupos indígenas e tornou-se seu profundo
conhecedor. Ainda Charles Wagley, Jules Henry, Lévi-Strauss, Herbert Baldus,
Florestan Fernandes, Egon Schaden, Gioconda Mussolini, Fernando Altenfelder Silva,
Darcy Ribeiro, Harald Schultz, e numerosos outros especialistas que contemporaneamente
desenvolvem seus trabalhos e pesquisas num esforço de continuar registrando e
interpretando toda a cultura material e espiritual desses grupos humanos.
59. Abordagem Ética
Baseia-se na abordagem,
estudo e avaliação de um fato
antropológico a partir de um
valor cultural predefinido.
Esta abordagem possui a
tremenda fraqueza de
observar e categorizar um fato
dentro de uma camada de
valores idealistas
preconcebidos, que,
frequentemente, distorcem a
conclusão antropológica.
Abordagem Êmica
Propõe-se a analisar o fato
antropológico, seja étnico, grupal,
individual ou fenomenológico, a
partir de uma visão factual. É a
procura pela ‘verdade’ como ela é
entendida pelo agente promotor do
fato, ou experimentador (a verdade
conforme é entendida pelo povo... a
verdade deles!)
O valor da abordagem êmica é,
portanto, vital para nossa veia
analítica, pois, de fato, o
pesquisador deve se propor a
entender o fato de acordo com sua
origem, sob pena de jamais
compreendê-lo.
69. Nós, concluintes da primeira turma do curso de pós-graduação em Antropologia Intercultural, realizado na cidade de
Manaus sob os auspícios do Centro Universitário Evangélico do Estado de Goiás e do Instituto Antropos, manifestamos nossa
gratidão pela realização deste curso e pelas excelentes expectativas que ele nos traz quanto ao futuro.
O curso surge em um tempo caracterizado por rápidas e profundas mudanças. A globalização acelerou o surgimento de
um processo de integração social, econômica e cultural em toda a sociedade humana. Fronteiras são transpostas e povos
estabelecem novas relações de troca, resultando em múltiplas ações de interculturalização.
Diante disso, esta especialização em Antropologia Intercultural se caracteriza como um marco educacional e ferramenta
de fundamental importância para a interpretação de símbolos e arranjos sociais em ambientes de interculturalidade.
Queremos aqui manifestar nossa apreciação e gratidão aos Doutores e Mestres que pacientemente investiram na
elaboração e na realização desse curso, conduzindo-nos pelos caminhos da reflexão e do embasamento teórico, a saber:
Professor Dr. Alfredo Ferreira de Souza (UFRR), Professor Dr. Eliseu Vieira Machado Júnior, Professor Dr. José Roberto
Bonome, Professora Dra. Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues Chaves (UFAM), Professor Ms. Edward Mantoanelli Luz (UnB)
e Professora Dr. Ana Keila Mosca Pinezi (UFABC).
Entendemos que o valor desta pós-graduação vai muitíssimo além de um título acadêmico, mas objetiva a aproximação
entre o conhecimento científico antropológico e as ações sociais e missionárias. Reconhecemos o inestimável valor da
Antropologia na relação entre culturas, nos processos de troca e na compreensão dos fatos sociais e que a prática
antropológica nos ajuda a aproximar sem intimidar, dialogar sem impor e intervir sem agredir.
Reconhecendo que a história das ciências sociais não omite as relevantes contribuições que agentes, como educadores e
técnicos em desenvolvimento social, bem como missionários, deixaram à Academia, é com sentimento de apreço e humildade
que reafirmamos nosso desejo de ser não um segmento antagônico, disputando espaço junto às sociedades com as quais
trabalhamos, mas parceiros, tanto na produção do conhecimento como na defesa dos interesses desses povos.
Assim, nós nos comprometemos com a produção de material acadêmico que coopere com a reflexão antropológica e
missionária, contribuindo com a formação continuada de atores das ciências sociais, e manifestamos nosso desejo e
expectativa de aproximação, tanto da ciência da Antropologia, com seu instrumental teórico e prático, quanto de seus
pensadores, de forma que possamos caminhar juntos, em mútua cooperação, para o bem de todos, especialmente dos povos
aos quais servimos.
À luz de um passado de lutas e realizações, empenhamos aqui o nosso compromisso com um futuro promissor e cheio de