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UM ARTISTA SEM APETITE: UMA AÇÃO PERFORMÁTICA SOBRE
OS TIPOS DE FOME
Diewerson do Nascimento Raymundo (UERGS) 1
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS
Resumo: O presente texto descreve os procedimentos de criação de uma ação
performática sobre a fome. Tal atividade foi gerada a partir de leituras de Um
artista da fome de Franz Kakfa e do poema Tem gente com fome, de Solano
Trindade, e, se constitui basicamente das ações integrativas do espectador
com o artista (performer2
), oferecendo brechas para improvisações e outros
acontecimentos que possam surgir durante a atividade.
Palavras-chave: performance; fome; público ativo.
Durante nossas atividades como bolsistas do Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES, desenvolvemos ações
interdisciplinares abarcando a importância da leitura e da criação de novas
práticas docentes que venham ao encontro desse tema. Desse modo,
partirmos para uma experiência com as manifestações dadaístas3
, nós
trabalhamos também com improvisos em grupos que continham graduandos
de artes visuais, dança, música e teatro. A motivação de trabalhar essa
temática mobilizou os bolsistas a desenvolverem a partir das improvisações
uma proposta performática em suas áreas de atuação respectivas. Durante o
processo entramos em contato com o conto Um artista da Fome de Franz
1
Licenciando em Teatro pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - Montenegro. Atua
em projetos sociais com oficinas de Teatro nas escolas. É bolsista e pesquisador do projeto
Artista e arteiro: ensinar com arte e aprender brincando. Está vinculado ao grupo de pesquisa
“Arte:criação, interdisciplinaridade” coordenado pela professora Dra. Cristina Rolim
Wolffenbüttel.
E-mail: diewersonraymundo@gmail.com
2
Segundo Renato Cohen (2007, P.28) para ocorrer um evento performático é necessário que
ação ocorra no momento presente e no local determinado. “Nesse sentido, a exibição pura e
simples de um vídeo, por exemplo, que foi pré-gravado, não caracteriza uma performance, a
menos que este vídeo esteja contextualizado dentro de uma seqüência maior, funcionando
como uma instalação, ou seja, sendo exibido concomitantemente com alguma atuação ao
vivo”.
3
O dadaísmo surge em meio à guerra, em 1916, do encontro de um grupo de refugiados
(escritores e artistas plásticos) com o intuito de fazer algo significativo que chocasse a
burguesia da época. O termo “dada” foi encontrado por acaso numa consulta a um dicionário
francês, significava “cavalo de brinquedo”, desse modo o sentido da palavra não define uma
proposta, mas sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação dadaísta) [...]
Algumas traduções explicam o que o significado de “dada” remeta a linguagem utilizada pela
criança em processo de aprendizagem da fala. (MASSAUD, 2004, P.114)
Kafka (2011), na qual certamente nos serviu de norte para a criação das ações.
Como não tínhamos muito tempo para o cumprimento da atividade era preciso
que organizássemos a ideia, pensando nos pormenores, como: materiais
necessários e estabelecer um objetivo para proposta.
Pensando nas leituras que já havíamos feito no decorrer desse ano,
lembrei do livro de poemas de Solano Trindade, intitulado Tem gente com
fome. Recordo-me que o autor trata diversas questões que se interpõem a
esse assunto. Eu desejava elaborar uma atividade em que o público interagisse
diretamente. Eis que nascia o objetivo: Propiciar aos espectadores uma
experiência interativa e reflexiva com objeto artístico fome.
Intitulei a performance de Um artista sem apetite, pois acreditava que com
as interações do público o apetite do performance poderia mudar. Dentre os
objetos utilizados estão dez pratos (tratados para parecerem sujos), dois
cartazes com dizeres: “Você sente fome de quê?” “Alimente o artista!”. Canetas
coloridas e pedaços de papel para que o público preencha a pergunta e
alimente o artista com a palavra escrita, gerando uma reação no artista. Depois
que os pratos ficarem cheios o artista tem “forças” para se desamarrar sozinho
pois seu espírito foi alimentado pelo povo.
Abaixo descrevo um esquema de como a atividade se organiza
espacialmente, bem como os procedimentos esperados:
Referências
COHEN, Renato. Performance como linguagem: criação de um tempo-espaço
de experimentação. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.
KAFKA, Franz. Um artista da fome, seguido de: na Colônia penal e Outras
histórias. Tradução de Guilherme da Silva Braga. Porto Alegre, RS: L&PM,
2011.
MASSAUD, Moisés. Dicionário de termos literários. 12ªed. São Paulo: Cultrix,
2004.
TRINDADE, SOLANO. Tem gente com fome. São Paulo: Nova Alexandria,
2008.

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Um artista sem apetite

  • 1. UM ARTISTA SEM APETITE: UMA AÇÃO PERFORMÁTICA SOBRE OS TIPOS DE FOME Diewerson do Nascimento Raymundo (UERGS) 1 Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS Resumo: O presente texto descreve os procedimentos de criação de uma ação performática sobre a fome. Tal atividade foi gerada a partir de leituras de Um artista da fome de Franz Kakfa e do poema Tem gente com fome, de Solano Trindade, e, se constitui basicamente das ações integrativas do espectador com o artista (performer2 ), oferecendo brechas para improvisações e outros acontecimentos que possam surgir durante a atividade. Palavras-chave: performance; fome; público ativo. Durante nossas atividades como bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES, desenvolvemos ações interdisciplinares abarcando a importância da leitura e da criação de novas práticas docentes que venham ao encontro desse tema. Desse modo, partirmos para uma experiência com as manifestações dadaístas3 , nós trabalhamos também com improvisos em grupos que continham graduandos de artes visuais, dança, música e teatro. A motivação de trabalhar essa temática mobilizou os bolsistas a desenvolverem a partir das improvisações uma proposta performática em suas áreas de atuação respectivas. Durante o processo entramos em contato com o conto Um artista da Fome de Franz 1 Licenciando em Teatro pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - Montenegro. Atua em projetos sociais com oficinas de Teatro nas escolas. É bolsista e pesquisador do projeto Artista e arteiro: ensinar com arte e aprender brincando. Está vinculado ao grupo de pesquisa “Arte:criação, interdisciplinaridade” coordenado pela professora Dra. Cristina Rolim Wolffenbüttel. E-mail: diewersonraymundo@gmail.com 2 Segundo Renato Cohen (2007, P.28) para ocorrer um evento performático é necessário que ação ocorra no momento presente e no local determinado. “Nesse sentido, a exibição pura e simples de um vídeo, por exemplo, que foi pré-gravado, não caracteriza uma performance, a menos que este vídeo esteja contextualizado dentro de uma seqüência maior, funcionando como uma instalação, ou seja, sendo exibido concomitantemente com alguma atuação ao vivo”. 3 O dadaísmo surge em meio à guerra, em 1916, do encontro de um grupo de refugiados (escritores e artistas plásticos) com o intuito de fazer algo significativo que chocasse a burguesia da época. O termo “dada” foi encontrado por acaso numa consulta a um dicionário francês, significava “cavalo de brinquedo”, desse modo o sentido da palavra não define uma proposta, mas sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação dadaísta) [...] Algumas traduções explicam o que o significado de “dada” remeta a linguagem utilizada pela criança em processo de aprendizagem da fala. (MASSAUD, 2004, P.114)
  • 2. Kafka (2011), na qual certamente nos serviu de norte para a criação das ações. Como não tínhamos muito tempo para o cumprimento da atividade era preciso que organizássemos a ideia, pensando nos pormenores, como: materiais necessários e estabelecer um objetivo para proposta. Pensando nas leituras que já havíamos feito no decorrer desse ano, lembrei do livro de poemas de Solano Trindade, intitulado Tem gente com fome. Recordo-me que o autor trata diversas questões que se interpõem a esse assunto. Eu desejava elaborar uma atividade em que o público interagisse diretamente. Eis que nascia o objetivo: Propiciar aos espectadores uma experiência interativa e reflexiva com objeto artístico fome. Intitulei a performance de Um artista sem apetite, pois acreditava que com as interações do público o apetite do performance poderia mudar. Dentre os objetos utilizados estão dez pratos (tratados para parecerem sujos), dois cartazes com dizeres: “Você sente fome de quê?” “Alimente o artista!”. Canetas coloridas e pedaços de papel para que o público preencha a pergunta e alimente o artista com a palavra escrita, gerando uma reação no artista. Depois que os pratos ficarem cheios o artista tem “forças” para se desamarrar sozinho pois seu espírito foi alimentado pelo povo. Abaixo descrevo um esquema de como a atividade se organiza espacialmente, bem como os procedimentos esperados: Referências COHEN, Renato. Performance como linguagem: criação de um tempo-espaço de experimentação. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.
  • 3. KAFKA, Franz. Um artista da fome, seguido de: na Colônia penal e Outras histórias. Tradução de Guilherme da Silva Braga. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011. MASSAUD, Moisés. Dicionário de termos literários. 12ªed. São Paulo: Cultrix, 2004. TRINDADE, SOLANO. Tem gente com fome. São Paulo: Nova Alexandria, 2008.