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ECA - arts Auditorium
15:30h - 17:00h
ROUND-TABLE
“ARTE ENATIVA: HIPÓTESES DE
INTERFACES ENTRE PROCESSOS
COGNITIVOS E EXPERIÊNCIA ESTÉTICA”
Ariane Porto Costa Rimoli (Unicamp) (chair)
Luís Rodolfo de Souza Dantas (UNIFIEO)
Lucia Ferraz Nogueira de Souza Dantas
(PUCSP) Jonatas Manzolli (Unicamp)
1º de novembro
MESA REDONDA
ARTE ENATIVA
ARTE ENATIVA:
HIPÓTESES DE INTERFACES
ENTRE PROCESSOS COGNITIVOS
E EXPERIÊNCIA ESTÉTICA
Ariane Porto Rimoli (UNICAMP, Brasil) (Chair)
Luís Rodolfo Ararigboia de Souza Dantas (UNIFIEO-SP, Brasil)
Lucia Ferraz Nogueira de Souza Dantas (PUC-SP-CAPES, Brasil)
Jonatas Manzolli (NICS-UNICAMP, Brasil)
Nossa hipótese é que este processo leva à criação de signos que
podem ser lidos e interpretados por meio da fruição artística e
assim sucessivamente, demonstrando-se, portanto, a máxima -
inúmeras vezes proferida por diversos artistas e filósofos: de que a
melhor maneira de interpretar uma obra de arte é através de outra
obra de arte.
Este processo, que buscaremos executar e descrever, batizamos
com o nome de Arte Enativa, do conceito de enação, cunhado por
Humberto Maturana e Francisco Varela, que advém da expressão
espanhola en acción.
Luís Rodolfo Ararigboia de Souza Dantas (UNIFIEO-SP, Brasil)
DA INAÇÃO LÓGICA À ENAÇÃO INTERATIVA:
VIDA, COGNIÇÃO E SUBJETIVIDADE
Nesta exposição pretendemos explicitar as radicais diferenças
entre as concepções heterônomo-representativas dos
processos de conhecimento com relação às construções
teóricas desenvolvidas por Francisco Varela e Humberto
Maturana, a partir das quais o sujeito cognoscente - vivente
de existência enativa - encontra-se em contínua autocriação, a
implicar percepção e ação enquanto elementos
fundamentalmente inseparáveis na cognição vivida.
Lógica Material
Pragmática
Relação
Ontognoseológica
S ORazão
Raciocínio / Argumento
Conceber
Julgar
Lógica Formal Sintática
Conceito / Termo
Juízo / Proposição
Raciocinar
Semântica
Valor
Ideal
Psíquico
Físico
Sujeito Objeto
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Juízo / Proposição
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Físico
Sujeito Objeto
“Todo fazer é um conhecer e
todo conhecer é um fazer”
(Maturana/Varela, A Árvore do Conhecimento, pp. 31-32)
“Conhecer é uma ação efetiva, ou
seja, uma efetividade operacional no
domínio da existência do ser vivo.”
(Maturana/Varela, A Árvore do
Conhecimento, pp. 35-36)
“(...) Já que todo conhecer faz surgir um mundo, nosso
ponto de partida será necessariamente a efetividade
operacional do ser vivo em seu domínio de existência. Em
outras palavras, nosso marco inicial, para gerar uma
explicação cientificamente validável, é entender o
conhecer como ação efetiva, ação que permita a um ser
vivo continuar sua existência em um determinado meio
ao fazer surgir o seu mundo. Nem mais, nem menos...
(Idem, p.35-36)
“E como saberemos quando tivermos chegado a uma explicação
satisfatória do fenômeno do conhecer? Bem, a esta altura o leitor
poderá imaginar a resposta: quando tivermos proposto um sistema
conceitual capaz de gerar o fenômeno cognitivo como resultado da
ação do ser vivo. E, também, quando tivermos mostrado que esse
processo pode resultar em seres vivos como nós próprios, capazes
de produzir descrições e refletir sobre elas, como consequência de
sua realização como seres vivos, ao funcionar efetivamente em
seus domínios de existência.”
(Idem, p.35-36)
• Biologia da cognição: a vida é um processo de
conhecimento; assim, se o objetivo é compreendê-
la, é necessário entender como os seres vivos
conhecem o mundo.
• Conhecimento: representação fiel de uma realidade
independente de seu conhecedor?
• O conhecimento é um fenômeno baseado em
representações mentais que fazemos do mundo?
• Quais as consequências éticas e práticas do
representacionismo radical? Por exemplo: o mundo é um
objeto a ser explorado pelo homem em busca de benefícios
(o que imposta é a extração de recursos do mundo-coisa).
• Não estamos separados do mundo (v. esquema
ontognoseológico).
Seria o representacionismo um dos fundamentos da
cultura fálico-patriarcal sob a qual vive hoje boa
parte do mundo?
Hanna Arendt, em “Origens do Totalitarismo”:
“O que os fazia diferentes dos outros seres humanos não era
absolutamente a cor da pele, mas o fato de se portarem como se fossem
parte da natureza; tratavam-na como sua senhora inconteste; não
haviam criado um mundo de domínio humano, uma realidade humana, e
portanto, a natureza havia permanecido, em toda a sua majestade, como
a única realidade esmagadora, diante da qual os homens pareciam
meros fantasmas, irreais e espectrais. Pareciam tão amalgamados com a
natureza que careciam de caráter especificamente humano, de realidade
especificamente humana; de sorte que, quando os europeus os
massacravam, de certa forma não sentiam que estivessem cometendo um
crime contra os homens.”
(pp. 222-223).
Para Maturana e Varela, o mundo não é anterior à nossa
experiência. Nossa trajetória de vida nos faz construir
nosso conhecimento do mundo – mas este também
constrói seu próprio conhecimento a nosso respeito.
Sujeito
Enativo
Sujeito ético
em sua
visceral e
permanente
autopoiesis
Lucia Ferraz Nogueira de Souza Dantas
(PUC-SP (CAPES), CEP-PUC (CNPq) - Faculdade de São Bento - SP, Brasil)
Experiência Estética e Percepção:
analisadas à luz da teoria da percepção de Charles S. Peirce em
diálogo com a reflexão acerca da Experiência Estética de John Dewey
A expressão “experiência estética” abarca muitas definições,
por vezes, até mesmo sendo antagônicas. Todavia, é possível
aclarar as especificidades dos meandros da experiência
estética à luz dos pensamentos de Dewey e Peirce.
Arte como Experiência [Art as Experience] *
Dewey explicita que a experiência estética diz respeito não só à
fruição do espectador diante da obra de arte em si, mas também
diz respeito à experiência diante do mundo do artista ao produzir
uma obra de arte.
*DEWEY, John. (1980) Art as experience. 1th Perigee Printing (23rd impression), New York:
Perigee Books.
______. (2012) Arte como experiência. Trad. de Vera Ribeiro. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes.
John Dewey
Para que um objeto possa se constituir como uma obra de arte,
uma experiência plena precisa ter ocorrido no processo de
produção da obra, e esta experiência, singular e única precisa ser
igualmente vivenciada pelo espectador para haja a experiência
estética propriamente dita, que se transformará numa genuína
experiência artística.
Contemplação de mundo – produção e fruição
Nesse sentido, as reflexões de Dewey são importantes para entender essa
interatividade intrínseca entre contemplação de mundo, produção e
fruição de arte, pois ele explica que para que um objeto possa se constituir
como arte, uma experiência plena precisa ter ocorrido no processo de
produção da obra, e essa experiência, igualmente singular.
“Para perceber, o espectador ou observador tem de
criar sua experiência. E a criação deve incluir
relações comparáveis às vivenciadas pelo produtor
original. Elas não são idênticas, em um sentido
literal. [...].”
“Sem o ato de recriação, o objeto não é percebido
como um ato de arte. [...].
Há um trabalho feito por parte de quem percebe,
assim como há um trabalho por parte do artista. ”
(DEWEY, 2012, p.137)
Esta duplicidade da definição de experiência estética pode ser
melhor entendida à luz da distinção cunhada por Dewey entre o
“artístico” (criação da obra de arte) e o “estético” (fruição da obra
de arte).
Isto é, por um lado, o artista experimenta e percebe o mundo, e
retira dessa percepção subsídios para a produção de sua obra, do
outro lado, esse produto é novamente objeto de percepção e gera
outros subsídios para uma experiência de arte que por sua vez
auxilia e modifica a experiência de mundo do expectador que
observou a obra de arte.
“Não há uma palavra que inclua de forma
inequívoca o que é expresso pelas palavras
"artístico" [artistic] e "estético" [esthetic]. Visto
que "artístico" se refere primordialmente ao
ato de produção, e "estético", ao de percepção e
prazer, a inexistência de um termo que designe
o conjunto dos dois processos é lamentável. ”
(DEWEY, 2012, p.125 -126)
Diferença entre estético e artístico para Dewey
ARTÍSTICO
ESTÉTICO
OBRA DE
ARTE
Teoria da Percepção em Peirce
Em contrapartida, à luz dos escritos de Peirce, é possível inferir
que tanto as ações de produção como de contemplação da arte
estão intimamente relacionadas ao processo de percepção da
obra de arte e, sobretudo, de percepção do mundo como obra de
arte – é o que Peirce denominou como o olhar poético que o
artista tem diante mundo.
“[...] olhar para o que está presente tal como
aparece aos olhos do artista. O modo poético
aproxima o estado no qual o presente surge
como presente [...]”
(PEIRCE, CP 5.44)*
* tradução: IBRI, 1996, p.11.
Ainda, as especificidades destas ações de produção artística e de
análise da arte - em seus aspectos duplos de percepção cognitiva
e qualidades de sentimento, podem ser melhor aclarados a partir
do estudo do interior do processo de percepção, no que tange à
tênue passagem do percepto ao juízo perceptivo, descrita por
Peirce no manuscritos que foram publicados nos Collected
Papers. Ele diz da percepção da cor como qualidade de
sentimento.
COR COMO QUALIDADE DE SENTIMENTO
Uma qualidade de sentimento não envolve em si mesma qualquer
reação. Mas uma experiência de reação envolve sim suas qualidades de
sentimentos. Isto se constitui na conjunção de duas qualidades de
sentimentos; e nesta conjunção, essas duas qualidades de sentimento se
transformam em mais do que meras qualidades. Ao serem dispostas
assim umas contra as outras adquirem a concretude e a factualidade
[actuality] de sentimentos. Uma única cor roxa [púpura] que absorve
toda a consciência do nosso pretenso ser seria um mero tom [tone] de
vida. Mas, quando, de repente, uma mudança ocorre estabelecendo duas
cores, uma contra a outra, elas se tornam objetos.
(PEIRCE, CP 7. 533)
“Pelo menos ela esconde o rosto parcialmente.
Bem, então você tem a face aparente, a maçã,
escondendo o visível, mas oculto, o real rosto
da pessoa. É algo que acontece
constantemente. Tudo o que vemos esconde
outra coisa, e nós sempre queremos ver o que
está escondido, pelo que vemos. Há um
interesse no que está escondido e que o visível
não nos mostra. Este interesse pode assumir a
forma de um sentimento bastante intenso,
uma espécie de conflito, pode-se dizer, entre o
visível que está oculto e o visível que está
presente.”
Magritte
“Le fils de l’homme”, de René Magritte. 1964, óleo sobre tela – 116 x 89 cm, Auto retrato.
"Tudo quanto vemos esconde outra coisa; adoraríamos ver o que aquilo que vemos
esconde de nós...“
René Magritte (1898 – 1967)
“Minhas pinturas são imagens visíveis que não escondem nada; elas evocam mistério,
de fato, quando alguém vê uma de minhas pinturas , ele se pergunta esta simples
questão: o que elas significam? E elas não significam nada, porque o mistério também
não significa coisa alguma, é incognoscível.”
In: MAGRITTE, Marcel Paquet, TASCHEN
Não cabe conferir ao invisível mais importância do que ao visível, ou inversamente.
MAGRITTE. In: FOUCAULT. Isto não é um cachimbo. p. 83.
“Le faux miroir”, Falso espelho, 1928
Logo, se por um lado a experiência estética pode ser entendida
como parte fenomênica da análise da obra de arte, no sentido de
ser um gatilho para o juízo estético, que envolve aspectos
cognitivos, e uma análise normativa, fundamentais para a
interpretação crítica da arte.
Por outro lado, é possível pensar a experiência estética a partir
de uma ótica pré-conceitual, sendo, portanto, definida como o
momento do contato íntimo e direto com a obra de arte, contato
este que seria pré-cognitivo e pré-normativo. Sendo assim, é
possível inferir que o estudo da experiência estética, sob uma
ótica fenomenológica, envolve dois vértices, a saber: o
espectador e o artista criador.
Isto posto, a partir de uma possível confluência entre os
conceitos “artístico” e “estético” propostos por Dewey, aliados à
minuciosa análise do processo de percepção elaborada por
Peirce, propomos mostrar que para que haja uma experiência
estética propriamente dita, é preciso que o expectador se
aproprie da obra de arte como se fosse ele o seu criador,
vivenciando-a de maneira artística e poética, e portanto
genética, assim, aquilo que poderia ser banal e objeto de pura
alteridade, passa a ser único, singular e continuum.
No caso do artista, vale destacar duas vivências distintas, a
primeira é a experiência durante o ato de criação da obra de arte,
que pode ser entendida, por si só, como uma experiencia estética
de cunho genético, configurando-se como o ato de contemplação
poética do mundo para a produção da arte; e a segunda é o
momento quando o artista vislumbra o produto de sua ação.
Enfim, seria esta experiência estética, sendo igualmente poética
e artística, capaz de transformar o espectador em um artista
momentâneo?
Se sim, seria possível captar o produto desta experiência,
entendida como uma ação do espectador enquanto artista?
Para os efeitos desta proposta de pesquisa, enação pode ser
entendida enquanto uma ação guiada pela percepção, e é a sua
compreensão (da percepção) que guia o ‘percebedor’ em suas
ações numa determinada situação.
O conceito de Arte Enativa nasce então de uma tríade:
Criar – Compartilhar – Criar.
É uma tríade que retorna
sempre ao seu início, assim
como o ouroboros, a serpente
ou dragão que devora a própria
cauda e cuja representação
simboliza a eternidade.
Nesse sentido, pretende-se mostrar que a arte, com destaque
para aquela formada sob a aplicação do conceito de Arte
Enativa, se constituí como mediador (estabelecedor de
conexões vitais e comunicação) privilegiado para a leitura –
escrita – releitura – reescrita dos mundos interior e exterior,
ao serem desvelados nestas possíveis interfaces entre
mediação sensório-cognitiva e experiênciação artística e
estética.
Ariane Porto Rimoli (UNICAMP, Brasil)
Arte Enativa e Mandala das Emoções como
forma de prospecção da dinâmica cerebral
“Sou artista.
Transformo a vida em sonho
E o sonho em vida
Sou artista
Transmuto em dita a desdita
Bendita seja eu
Artista"
Ariane Porto
Como dois conceitos/hipóteses/sistemas constituídos a partir de
espaços e experiências distintas e distantes se conectam e se
transmutam, gerando novas linguagens e diálogos? O que faz com
que tais sistemas se conectem de forma harmoniosa e horizontal?
Na presente experenciação a ser analisada, tais léxicos se articulam
e expressam através do sistema de Arte Enativa (Ariane Porto Costa
Rimoli), a partir de elementos disparadores provocados
pela Mandala das Emoções (Li Hui Ling), aproximando os campos
da Arte e da Medicina, buscando articular estratégias
complementares de diagnóstico e formas adjuvantes de prospecção
da dinâmica cerebral.
NÓS – (RE)CRIANDO A INTERDISCIPLINARIEDADE, foi o primeiro espetáculo
cênico criado a partir da aplicação do sistema de Arte Enativa, utilizando a
Mandala das Emoções como base dialógica entre os participantes e suas
emoções e memórias afetivas, pessoais e sociais. A proposta foi criada para
atender a demanda dos coordenadores dos cursos da graduação da FCM
(Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp) apresentada para a Enfermeira e
Doutoranda e Neurociência Gabriela Spagnol, com o objetivo de realização
de um trabalho interdisciplinar mediado pela Arte com os calouros da área
saúde (Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia, Farmácia e Educação Física).
Por ser uma proposta de realização de espetáculo cênico, o convite para
assumir a direção geral me foi feito por Gabriela. Surgiu então a ideia de
integrar o método da Mandala das Emoções, tema de seu o doutorado, ao
sistema Arte Enativa.
Por que Arte?
Arte Enativa – o conceito
Tal conceito foi cunhado a partir do termo autopoiese dos biólogos
chilenos Maturana e Varela,que designa a capacidade dos seres
vivos de produzirem a si próprios, um sistema que, ao operar, gera
toda a sua fenomenologia, ocorrendo no metabolismo e na própria
estrutura celular.
A autopoiese é um desdobramento do conceito de auto-organização. A enação
pode ser também entendida enquanto uma ação guiada pela percepção e é a sua
compreensão (da percepção) que guia o sujeito percebedor em suas ações na
situação local. E o ponto de referência para a compreensão é a estrutura sensório-
motora do sujeito, que se torna a base da cognição. A ação é então construída - e
guiada - pela percepção, pela forma como o sujeito percebedor está inscrito em
um corpo. Sendo a Arte um mediador (estabelecedor de conexões vitais e
comunicação) privilegiado para a leitura – escrita – releitura – reescrita dos
mundos interior e exterior, a Arte Enativa nasce da tríade: Criar – Compartilhar –
Criar.
E daí surgem novas formas de consciência.
Mandala das Emoções
O método Mandalas das Emoções tem referencial teórico na
Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que estabelece uma relação de
interdependência entre o corpo, o emocional e a mente, um
influenciando o outro. Segundo Drª. Li Hui Ling, formada em
Medicina Tradicional Chinesa e criadora do sistema, o objetivo das
Mandalas das Emoções é facilitar o acolhimento e a aceitação das
mesmas, ajudando o indivíduo a enfrentar as emoções, cessar a
zona de conflito, aliviando o sofrimento, e proporcionando um bem
estar emocional. Facilita também o acesso do indivíduo ao seu
próprio conteúdo emocional e às lembranças, despertando a
vontade ou capacidade de refletir
Ordem das
mandalas de
acordo com
os conceitos
da Medicina
Tradicional
Chinesa.
A técnica das Mandalas das Emoções apresenta como preceitos teóricos as
cinco estações do ano (primavera, verão, alto verão, outono, inverno), as cinco
etapas da vida (infância, adolescência, jovem adulto, adulto, terceira idade), as
cinco cores (verde, vermelho, amarelo, branco e preto), os cinco sistemas
funcionais (fígado, coração, estômago e pâncreas, pulmões, rim).
As 5 mandalas correspondem a cada um desses conceitos; acrescentando-se,
também, uma emoção para cada mandala, com sua valência positiva (yang) e
negativa (yin), conforme quadro e figura a seguir.
Yin (negativo) Yang (positivo)
Mandala verde
Raiva Compreensão
A mandala verde está ligada com o nascimento, com brotar,
nascer, início da vida, introdução, com a primavera.
Mandala vermelha
Euforia Fé, esperança, compaixão
A mandala vermelha está ligada com a adolescência, o
desenvolvimento, crescimento, e representa o verão.
Mandala amarela
Preocupação, Obsessão Gratidão
A mandala amarela representa o período da vida adulta, da
colheita dos frutos, do alto verão, período de colher resultados.
Mandala branca
Tristeza, Melancolia Alegria
A mandala branca corresponde à fase adulta, ao outono, período
de reflexão/discussão.
Mandala preta
Medo Harmonia, Coragem
A mandala preta representa o período da terceira idade, de
conclusão, fechamento, corresponde ao inverno.
Quadro:
Mandalas e suas
respectivas cores,
descrição e
emoções
relacionadas, no
âmbito positivo e
negativo.
Sendo o ser humano um pequeno universo, possui seus ciclos
próprios que se relacionam a outro ciclo de 5 movimentos: início,
expansão, transformação, acolhimento e fechamento.
Para a concepção e criação do espetáculo NÓS – (RE)CRIANDO A
INTERDISCIPLINARIEDADE foi então utilizado o sistema Arte
Enativa (AE), tendo como elemento disparador a Mandada das
Emoções (ME).
O processo
Qual o verdadeiro sentido da interdisciplinaridade? O que faz um ambiente
fluir de forma saudável e harmônica? Quais os percursos e recursos internos e
externos individuais e coletivos para se atingir essa meta/utopia? Através da
aplicação dos conceitos de Arte Enativa e Mandala das Emoções, NÓS é um
espetáculo criado coletivamente, buscando perguntas e respostas para a
construção de ambientes saudáveis na área da saúde.
1- Sobre a temática
2- Sobre o tempo
3- Sobre as experiências heterogêneas
4- Sobre a linguagem artística
5- Sobre o espaço físico
6- Sobre os recursos
7- Sobre a relação dos participantes no processo
AE e ME - Potencializando leituras e escritas
Arte é linguagem. Linguagem é expressão. Expressão é comunicação.
Comunicação é Arte. Como o Ouroboros, a serpente alquímica que devora a
própria cauda, a Arte está sempre no início e no fim das ações humanas, sendo
também sua mediadora. Seja de forma consciente (em vigília) ou inconsciente
(nos sonhos) criamos formas de expressão e comunicação que transgridem e
superam o léxico comum. O artista é um leitor privilegiado do mundo, que tem
acesso aos seus manuscritos e, a partir de sua leitura, propõe caminhos através
de linguagens cifradas - a Arte.
Ouvir e Escutar / Entender e Compreender
Por mais óbvio que seja, a dicotomia entre Ouvir e Escutar, Entender e
Compreender estão no cerne dos processos de ensino/aprendizagem, desde
uma criança que não compreende porque não pode colocar o dedo em uma
tomada, passando pelo adolescente que não compreende o sentido que tal
disciplina tem em sua vida cotidiana, até o profissional que não consegue
se comunicarpor não ser capaz de escutar/compreender/criar sentido.
Expressar/Comunicar/Transformar
Assim como ouvir não garante escutar e entender não é certeza
de compreender, expressar não significa comunicar. No processo NÓS, a
comunicação foi estimulada a partir do entendimento do indivíduo não como
“emissor” mas sim enquanto “receptor” de mensagens. Se quero me expressar,
tenho que estar apto a receber a mensagem – interna ou externa - que me
chega. Nesse processo, a empatia se potencializa com a alteridade ( eu/eu -
eu/outro = NÓS) e a comunicaçãode qualidade se manifesta.
O espetáculo
O espetáculo NÓS estreou dia 18 de outubro de 2017 no auditório da FCM (Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp), para um público de alunos, professores, funcionários e convidados externos à
comunidade acadêmica. O resultado – segundo manifestações do público presente em debate após a
apresentação – não só superou as expectativas do ponto de vista da estrutura narrativa quanto da
qualidade artística, revelando o potencial pedagógico e, sobretudo, cognitivo da metodologia (Arte
Enativa). Não só os alunos participantes como docentes das áreas da saúde e humanas presentes,
manifestaram o desejo de transformar a experiência em uma disciplina.
Porém, quais elementos se sobressaíram para que a experiência tocasse o público de forma tão intensa?
Segundo os relatos, houve uma percepção por parte da platéia da energia e emoções presentes no palco.
Tais elementos (energia e emoção) não são passíveis de serem contidos no espaço cênico, tendo
invadido o espaço do público (theatron, lugar de onde se vê) e recuperado as origens da Arte – ritual e
comunicação. Sem barreiras ou fronteiras, o público se conectou com os atores, criando um sistema de
comunicação intenso e de mão dupla.
Hipóteses
“Nós compreendemos o outro porque temos dentro
de nós a mesma experiência”
Merleau Ponty
Como nossa conexão com o outro é ativada? A partir da descoberta na década de 90
por uma equipe de neurocientistas italianos liderados por Giacomo Rizzolatinos
dos neurônios-espelhos - células do cérebro capaz de assimilarem tanto o sentido
de uma ação quanto sua emoção em outra pessoa, nos colocando assim em seu
lugar - sabemos que a empatia tem uma origem em nosso sistema neural. No caso
dos seres humanos se encontra no córtex insular, área cerebral ligada à
identificação de emoções. Não se trata apenas de processos lógicos, dedutivos ou
cognitivos, já que a identificação passa também por um processo de ressonância.
Estudos apontam que a empatia pode ser processada na ínsula e que doenças
neurodegeneativas que afetam as regiões temporais e frontais do cérebro, têm
como componente tanto a incapacidade de apresentar empatia até a perda de
carinho por pessoas próximas, chegando a casos de esquizofrenia, ou seja,
problemas de cunho social relacionados a percepção e atenção aos semelhantes.
A arte deve recuperar sua gênese de criadora de rituais e agente de
processos comunicativos para a organização de uma nova sociedade. A
arte é conexão, uma conexão interna - ao redescobrir os propósitos e
valores individuais – e externa – capaz de articular e reconectar pessoas
e grupos sociais.
Nossa hipótese é que a Arte (no caso, o sistema Arte Enativa) e suas
interfaces com a Medicina (Mandala das Emoções), além de
potencial adjuvante no diagnóstico e tratamento de disfunções
psicossociais e neurológicas, pode abrir caminhos para a
prospecção das redes cognitivo-emociono-comportamentais, bases
essas da intrincada dinâmica cerebral.

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Arte Enativa

  • 1.
  • 2. 11- 01 ECA - arts Auditorium 15:30h - 17:00h ROUND-TABLE “ARTE ENATIVA: HIPÓTESES DE INTERFACES ENTRE PROCESSOS COGNITIVOS E EXPERIÊNCIA ESTÉTICA” Ariane Porto Costa Rimoli (Unicamp) (chair) Luís Rodolfo de Souza Dantas (UNIFIEO) Lucia Ferraz Nogueira de Souza Dantas (PUCSP) Jonatas Manzolli (Unicamp)
  • 3. 1º de novembro MESA REDONDA ARTE ENATIVA
  • 4. ARTE ENATIVA: HIPÓTESES DE INTERFACES ENTRE PROCESSOS COGNITIVOS E EXPERIÊNCIA ESTÉTICA Ariane Porto Rimoli (UNICAMP, Brasil) (Chair) Luís Rodolfo Ararigboia de Souza Dantas (UNIFIEO-SP, Brasil) Lucia Ferraz Nogueira de Souza Dantas (PUC-SP-CAPES, Brasil) Jonatas Manzolli (NICS-UNICAMP, Brasil)
  • 5. Nossa hipótese é que este processo leva à criação de signos que podem ser lidos e interpretados por meio da fruição artística e assim sucessivamente, demonstrando-se, portanto, a máxima - inúmeras vezes proferida por diversos artistas e filósofos: de que a melhor maneira de interpretar uma obra de arte é através de outra obra de arte. Este processo, que buscaremos executar e descrever, batizamos com o nome de Arte Enativa, do conceito de enação, cunhado por Humberto Maturana e Francisco Varela, que advém da expressão espanhola en acción.
  • 6.
  • 7. Luís Rodolfo Ararigboia de Souza Dantas (UNIFIEO-SP, Brasil) DA INAÇÃO LÓGICA À ENAÇÃO INTERATIVA: VIDA, COGNIÇÃO E SUBJETIVIDADE
  • 8. Nesta exposição pretendemos explicitar as radicais diferenças entre as concepções heterônomo-representativas dos processos de conhecimento com relação às construções teóricas desenvolvidas por Francisco Varela e Humberto Maturana, a partir das quais o sujeito cognoscente - vivente de existência enativa - encontra-se em contínua autocriação, a implicar percepção e ação enquanto elementos fundamentalmente inseparáveis na cognição vivida.
  • 9. Lógica Material Pragmática Relação Ontognoseológica S ORazão Raciocínio / Argumento Conceber Julgar Lógica Formal Sintática Conceito / Termo Juízo / Proposição Raciocinar Semântica Valor Ideal Psíquico Físico Sujeito Objeto
  • 10. Lógica Material Pragmática Relação Ontognoseológica S ORazão Raciocínio / Argumento Conceber Julgar Lógica Formal Sintática Conceito / Termo Juízo / Proposição Raciocinar Semântica Valor Ideal Psíquico Físico Sujeito Objeto
  • 11. Lógica Material Pragmática Relação Ontognoseológica S ORazão Raciocínio / Argumento Conceber Julgar Lógica Formal Sintática Conceito / Termo Juízo / Proposição Raciocinar Semântica Valor Ideal Psíquico Físico Sujeito Objeto
  • 12. Lógica Material Pragmática Relação Ontognoseológica S ORazão Raciocínio / Argumento Conceber Julgar Lógica Formal Sintática Conceito / Termo Juízo / Proposição Raciocinar Semântica Valor Ideal Psíquico Físico Sujeito Objeto
  • 13. Lógica Material Pragmática Relação Ontognoseológica S ORazão Raciocínio / Argumento Conceber Julgar Lógica Formal Sintática Conceito / Termo Juízo / Proposição Raciocinar Semântica Valor Ideal Psíquico Físico Sujeito Objeto
  • 14. Lógica Material Pragmática Relação Ontognoseológica S ORazão Raciocínio / Argumento Conceber Julgar Lógica Formal Sintática Conceito / Termo Juízo / Proposição Raciocinar Semântica Valor Ideal Psíquico Físico Sujeito Objeto
  • 15. “Todo fazer é um conhecer e todo conhecer é um fazer” (Maturana/Varela, A Árvore do Conhecimento, pp. 31-32)
  • 16. “Conhecer é uma ação efetiva, ou seja, uma efetividade operacional no domínio da existência do ser vivo.” (Maturana/Varela, A Árvore do Conhecimento, pp. 35-36)
  • 17. “(...) Já que todo conhecer faz surgir um mundo, nosso ponto de partida será necessariamente a efetividade operacional do ser vivo em seu domínio de existência. Em outras palavras, nosso marco inicial, para gerar uma explicação cientificamente validável, é entender o conhecer como ação efetiva, ação que permita a um ser vivo continuar sua existência em um determinado meio ao fazer surgir o seu mundo. Nem mais, nem menos... (Idem, p.35-36)
  • 18. “E como saberemos quando tivermos chegado a uma explicação satisfatória do fenômeno do conhecer? Bem, a esta altura o leitor poderá imaginar a resposta: quando tivermos proposto um sistema conceitual capaz de gerar o fenômeno cognitivo como resultado da ação do ser vivo. E, também, quando tivermos mostrado que esse processo pode resultar em seres vivos como nós próprios, capazes de produzir descrições e refletir sobre elas, como consequência de sua realização como seres vivos, ao funcionar efetivamente em seus domínios de existência.” (Idem, p.35-36)
  • 19. • Biologia da cognição: a vida é um processo de conhecimento; assim, se o objetivo é compreendê- la, é necessário entender como os seres vivos conhecem o mundo. • Conhecimento: representação fiel de uma realidade independente de seu conhecedor?
  • 20. • O conhecimento é um fenômeno baseado em representações mentais que fazemos do mundo? • Quais as consequências éticas e práticas do representacionismo radical? Por exemplo: o mundo é um objeto a ser explorado pelo homem em busca de benefícios (o que imposta é a extração de recursos do mundo-coisa). • Não estamos separados do mundo (v. esquema ontognoseológico).
  • 21. Seria o representacionismo um dos fundamentos da cultura fálico-patriarcal sob a qual vive hoje boa parte do mundo?
  • 22. Hanna Arendt, em “Origens do Totalitarismo”: “O que os fazia diferentes dos outros seres humanos não era absolutamente a cor da pele, mas o fato de se portarem como se fossem parte da natureza; tratavam-na como sua senhora inconteste; não haviam criado um mundo de domínio humano, uma realidade humana, e portanto, a natureza havia permanecido, em toda a sua majestade, como a única realidade esmagadora, diante da qual os homens pareciam meros fantasmas, irreais e espectrais. Pareciam tão amalgamados com a natureza que careciam de caráter especificamente humano, de realidade especificamente humana; de sorte que, quando os europeus os massacravam, de certa forma não sentiam que estivessem cometendo um crime contra os homens.” (pp. 222-223).
  • 23. Para Maturana e Varela, o mundo não é anterior à nossa experiência. Nossa trajetória de vida nos faz construir nosso conhecimento do mundo – mas este também constrói seu próprio conhecimento a nosso respeito.
  • 25.
  • 26. Lucia Ferraz Nogueira de Souza Dantas (PUC-SP (CAPES), CEP-PUC (CNPq) - Faculdade de São Bento - SP, Brasil) Experiência Estética e Percepção: analisadas à luz da teoria da percepção de Charles S. Peirce em diálogo com a reflexão acerca da Experiência Estética de John Dewey
  • 27. A expressão “experiência estética” abarca muitas definições, por vezes, até mesmo sendo antagônicas. Todavia, é possível aclarar as especificidades dos meandros da experiência estética à luz dos pensamentos de Dewey e Peirce.
  • 28. Arte como Experiência [Art as Experience] * Dewey explicita que a experiência estética diz respeito não só à fruição do espectador diante da obra de arte em si, mas também diz respeito à experiência diante do mundo do artista ao produzir uma obra de arte. *DEWEY, John. (1980) Art as experience. 1th Perigee Printing (23rd impression), New York: Perigee Books. ______. (2012) Arte como experiência. Trad. de Vera Ribeiro. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes. John Dewey
  • 29. Para que um objeto possa se constituir como uma obra de arte, uma experiência plena precisa ter ocorrido no processo de produção da obra, e esta experiência, singular e única precisa ser igualmente vivenciada pelo espectador para haja a experiência estética propriamente dita, que se transformará numa genuína experiência artística.
  • 30. Contemplação de mundo – produção e fruição Nesse sentido, as reflexões de Dewey são importantes para entender essa interatividade intrínseca entre contemplação de mundo, produção e fruição de arte, pois ele explica que para que um objeto possa se constituir como arte, uma experiência plena precisa ter ocorrido no processo de produção da obra, e essa experiência, igualmente singular.
  • 31.
  • 32. “Para perceber, o espectador ou observador tem de criar sua experiência. E a criação deve incluir relações comparáveis às vivenciadas pelo produtor original. Elas não são idênticas, em um sentido literal. [...].” “Sem o ato de recriação, o objeto não é percebido como um ato de arte. [...]. Há um trabalho feito por parte de quem percebe, assim como há um trabalho por parte do artista. ” (DEWEY, 2012, p.137)
  • 33. Esta duplicidade da definição de experiência estética pode ser melhor entendida à luz da distinção cunhada por Dewey entre o “artístico” (criação da obra de arte) e o “estético” (fruição da obra de arte). Isto é, por um lado, o artista experimenta e percebe o mundo, e retira dessa percepção subsídios para a produção de sua obra, do outro lado, esse produto é novamente objeto de percepção e gera outros subsídios para uma experiência de arte que por sua vez auxilia e modifica a experiência de mundo do expectador que observou a obra de arte.
  • 34. “Não há uma palavra que inclua de forma inequívoca o que é expresso pelas palavras "artístico" [artistic] e "estético" [esthetic]. Visto que "artístico" se refere primordialmente ao ato de produção, e "estético", ao de percepção e prazer, a inexistência de um termo que designe o conjunto dos dois processos é lamentável. ” (DEWEY, 2012, p.125 -126) Diferença entre estético e artístico para Dewey
  • 36. Teoria da Percepção em Peirce Em contrapartida, à luz dos escritos de Peirce, é possível inferir que tanto as ações de produção como de contemplação da arte estão intimamente relacionadas ao processo de percepção da obra de arte e, sobretudo, de percepção do mundo como obra de arte – é o que Peirce denominou como o olhar poético que o artista tem diante mundo.
  • 37. “[...] olhar para o que está presente tal como aparece aos olhos do artista. O modo poético aproxima o estado no qual o presente surge como presente [...]” (PEIRCE, CP 5.44)* * tradução: IBRI, 1996, p.11.
  • 38. Ainda, as especificidades destas ações de produção artística e de análise da arte - em seus aspectos duplos de percepção cognitiva e qualidades de sentimento, podem ser melhor aclarados a partir do estudo do interior do processo de percepção, no que tange à tênue passagem do percepto ao juízo perceptivo, descrita por Peirce no manuscritos que foram publicados nos Collected Papers. Ele diz da percepção da cor como qualidade de sentimento.
  • 39.
  • 40.
  • 41.
  • 42.
  • 43.
  • 44.
  • 45.
  • 46.
  • 47.
  • 48.
  • 49. COR COMO QUALIDADE DE SENTIMENTO Uma qualidade de sentimento não envolve em si mesma qualquer reação. Mas uma experiência de reação envolve sim suas qualidades de sentimentos. Isto se constitui na conjunção de duas qualidades de sentimentos; e nesta conjunção, essas duas qualidades de sentimento se transformam em mais do que meras qualidades. Ao serem dispostas assim umas contra as outras adquirem a concretude e a factualidade [actuality] de sentimentos. Uma única cor roxa [púpura] que absorve toda a consciência do nosso pretenso ser seria um mero tom [tone] de vida. Mas, quando, de repente, uma mudança ocorre estabelecendo duas cores, uma contra a outra, elas se tornam objetos. (PEIRCE, CP 7. 533)
  • 50. “Pelo menos ela esconde o rosto parcialmente. Bem, então você tem a face aparente, a maçã, escondendo o visível, mas oculto, o real rosto da pessoa. É algo que acontece constantemente. Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós sempre queremos ver o que está escondido, pelo que vemos. Há um interesse no que está escondido e que o visível não nos mostra. Este interesse pode assumir a forma de um sentimento bastante intenso, uma espécie de conflito, pode-se dizer, entre o visível que está oculto e o visível que está presente.” Magritte “Le fils de l’homme”, de René Magritte. 1964, óleo sobre tela – 116 x 89 cm, Auto retrato.
  • 51. "Tudo quanto vemos esconde outra coisa; adoraríamos ver o que aquilo que vemos esconde de nós...“ René Magritte (1898 – 1967) “Minhas pinturas são imagens visíveis que não escondem nada; elas evocam mistério, de fato, quando alguém vê uma de minhas pinturas , ele se pergunta esta simples questão: o que elas significam? E elas não significam nada, porque o mistério também não significa coisa alguma, é incognoscível.” In: MAGRITTE, Marcel Paquet, TASCHEN Não cabe conferir ao invisível mais importância do que ao visível, ou inversamente. MAGRITTE. In: FOUCAULT. Isto não é um cachimbo. p. 83.
  • 52. “Le faux miroir”, Falso espelho, 1928
  • 53. Logo, se por um lado a experiência estética pode ser entendida como parte fenomênica da análise da obra de arte, no sentido de ser um gatilho para o juízo estético, que envolve aspectos cognitivos, e uma análise normativa, fundamentais para a interpretação crítica da arte.
  • 54. Por outro lado, é possível pensar a experiência estética a partir de uma ótica pré-conceitual, sendo, portanto, definida como o momento do contato íntimo e direto com a obra de arte, contato este que seria pré-cognitivo e pré-normativo. Sendo assim, é possível inferir que o estudo da experiência estética, sob uma ótica fenomenológica, envolve dois vértices, a saber: o espectador e o artista criador.
  • 55. Isto posto, a partir de uma possível confluência entre os conceitos “artístico” e “estético” propostos por Dewey, aliados à minuciosa análise do processo de percepção elaborada por Peirce, propomos mostrar que para que haja uma experiência estética propriamente dita, é preciso que o expectador se aproprie da obra de arte como se fosse ele o seu criador, vivenciando-a de maneira artística e poética, e portanto genética, assim, aquilo que poderia ser banal e objeto de pura alteridade, passa a ser único, singular e continuum.
  • 56. No caso do artista, vale destacar duas vivências distintas, a primeira é a experiência durante o ato de criação da obra de arte, que pode ser entendida, por si só, como uma experiencia estética de cunho genético, configurando-se como o ato de contemplação poética do mundo para a produção da arte; e a segunda é o momento quando o artista vislumbra o produto de sua ação.
  • 57. Enfim, seria esta experiência estética, sendo igualmente poética e artística, capaz de transformar o espectador em um artista momentâneo? Se sim, seria possível captar o produto desta experiência, entendida como uma ação do espectador enquanto artista?
  • 58. Para os efeitos desta proposta de pesquisa, enação pode ser entendida enquanto uma ação guiada pela percepção, e é a sua compreensão (da percepção) que guia o ‘percebedor’ em suas ações numa determinada situação. O conceito de Arte Enativa nasce então de uma tríade: Criar – Compartilhar – Criar.
  • 59.
  • 60. É uma tríade que retorna sempre ao seu início, assim como o ouroboros, a serpente ou dragão que devora a própria cauda e cuja representação simboliza a eternidade.
  • 61. Nesse sentido, pretende-se mostrar que a arte, com destaque para aquela formada sob a aplicação do conceito de Arte Enativa, se constituí como mediador (estabelecedor de conexões vitais e comunicação) privilegiado para a leitura – escrita – releitura – reescrita dos mundos interior e exterior, ao serem desvelados nestas possíveis interfaces entre mediação sensório-cognitiva e experiênciação artística e estética.
  • 62.
  • 63. Ariane Porto Rimoli (UNICAMP, Brasil) Arte Enativa e Mandala das Emoções como forma de prospecção da dinâmica cerebral
  • 64. “Sou artista. Transformo a vida em sonho E o sonho em vida Sou artista Transmuto em dita a desdita Bendita seja eu Artista" Ariane Porto
  • 65. Como dois conceitos/hipóteses/sistemas constituídos a partir de espaços e experiências distintas e distantes se conectam e se transmutam, gerando novas linguagens e diálogos? O que faz com que tais sistemas se conectem de forma harmoniosa e horizontal? Na presente experenciação a ser analisada, tais léxicos se articulam e expressam através do sistema de Arte Enativa (Ariane Porto Costa Rimoli), a partir de elementos disparadores provocados pela Mandala das Emoções (Li Hui Ling), aproximando os campos da Arte e da Medicina, buscando articular estratégias complementares de diagnóstico e formas adjuvantes de prospecção da dinâmica cerebral.
  • 66. NÓS – (RE)CRIANDO A INTERDISCIPLINARIEDADE, foi o primeiro espetáculo cênico criado a partir da aplicação do sistema de Arte Enativa, utilizando a Mandala das Emoções como base dialógica entre os participantes e suas emoções e memórias afetivas, pessoais e sociais. A proposta foi criada para atender a demanda dos coordenadores dos cursos da graduação da FCM (Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp) apresentada para a Enfermeira e Doutoranda e Neurociência Gabriela Spagnol, com o objetivo de realização de um trabalho interdisciplinar mediado pela Arte com os calouros da área saúde (Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia, Farmácia e Educação Física). Por ser uma proposta de realização de espetáculo cênico, o convite para assumir a direção geral me foi feito por Gabriela. Surgiu então a ideia de integrar o método da Mandala das Emoções, tema de seu o doutorado, ao sistema Arte Enativa.
  • 68. Arte Enativa – o conceito Tal conceito foi cunhado a partir do termo autopoiese dos biólogos chilenos Maturana e Varela,que designa a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios, um sistema que, ao operar, gera toda a sua fenomenologia, ocorrendo no metabolismo e na própria estrutura celular.
  • 69. A autopoiese é um desdobramento do conceito de auto-organização. A enação pode ser também entendida enquanto uma ação guiada pela percepção e é a sua compreensão (da percepção) que guia o sujeito percebedor em suas ações na situação local. E o ponto de referência para a compreensão é a estrutura sensório- motora do sujeito, que se torna a base da cognição. A ação é então construída - e guiada - pela percepção, pela forma como o sujeito percebedor está inscrito em um corpo. Sendo a Arte um mediador (estabelecedor de conexões vitais e comunicação) privilegiado para a leitura – escrita – releitura – reescrita dos mundos interior e exterior, a Arte Enativa nasce da tríade: Criar – Compartilhar – Criar. E daí surgem novas formas de consciência.
  • 71. O método Mandalas das Emoções tem referencial teórico na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que estabelece uma relação de interdependência entre o corpo, o emocional e a mente, um influenciando o outro. Segundo Drª. Li Hui Ling, formada em Medicina Tradicional Chinesa e criadora do sistema, o objetivo das Mandalas das Emoções é facilitar o acolhimento e a aceitação das mesmas, ajudando o indivíduo a enfrentar as emoções, cessar a zona de conflito, aliviando o sofrimento, e proporcionando um bem estar emocional. Facilita também o acesso do indivíduo ao seu próprio conteúdo emocional e às lembranças, despertando a vontade ou capacidade de refletir
  • 72. Ordem das mandalas de acordo com os conceitos da Medicina Tradicional Chinesa.
  • 73. A técnica das Mandalas das Emoções apresenta como preceitos teóricos as cinco estações do ano (primavera, verão, alto verão, outono, inverno), as cinco etapas da vida (infância, adolescência, jovem adulto, adulto, terceira idade), as cinco cores (verde, vermelho, amarelo, branco e preto), os cinco sistemas funcionais (fígado, coração, estômago e pâncreas, pulmões, rim). As 5 mandalas correspondem a cada um desses conceitos; acrescentando-se, também, uma emoção para cada mandala, com sua valência positiva (yang) e negativa (yin), conforme quadro e figura a seguir.
  • 74. Yin (negativo) Yang (positivo) Mandala verde Raiva Compreensão A mandala verde está ligada com o nascimento, com brotar, nascer, início da vida, introdução, com a primavera. Mandala vermelha Euforia Fé, esperança, compaixão A mandala vermelha está ligada com a adolescência, o desenvolvimento, crescimento, e representa o verão. Mandala amarela Preocupação, Obsessão Gratidão A mandala amarela representa o período da vida adulta, da colheita dos frutos, do alto verão, período de colher resultados. Mandala branca Tristeza, Melancolia Alegria A mandala branca corresponde à fase adulta, ao outono, período de reflexão/discussão. Mandala preta Medo Harmonia, Coragem A mandala preta representa o período da terceira idade, de conclusão, fechamento, corresponde ao inverno. Quadro: Mandalas e suas respectivas cores, descrição e emoções relacionadas, no âmbito positivo e negativo.
  • 75. Sendo o ser humano um pequeno universo, possui seus ciclos próprios que se relacionam a outro ciclo de 5 movimentos: início, expansão, transformação, acolhimento e fechamento. Para a concepção e criação do espetáculo NÓS – (RE)CRIANDO A INTERDISCIPLINARIEDADE foi então utilizado o sistema Arte Enativa (AE), tendo como elemento disparador a Mandada das Emoções (ME).
  • 76. O processo Qual o verdadeiro sentido da interdisciplinaridade? O que faz um ambiente fluir de forma saudável e harmônica? Quais os percursos e recursos internos e externos individuais e coletivos para se atingir essa meta/utopia? Através da aplicação dos conceitos de Arte Enativa e Mandala das Emoções, NÓS é um espetáculo criado coletivamente, buscando perguntas e respostas para a construção de ambientes saudáveis na área da saúde.
  • 77. 1- Sobre a temática 2- Sobre o tempo 3- Sobre as experiências heterogêneas 4- Sobre a linguagem artística 5- Sobre o espaço físico 6- Sobre os recursos 7- Sobre a relação dos participantes no processo
  • 78. AE e ME - Potencializando leituras e escritas Arte é linguagem. Linguagem é expressão. Expressão é comunicação. Comunicação é Arte. Como o Ouroboros, a serpente alquímica que devora a própria cauda, a Arte está sempre no início e no fim das ações humanas, sendo também sua mediadora. Seja de forma consciente (em vigília) ou inconsciente (nos sonhos) criamos formas de expressão e comunicação que transgridem e superam o léxico comum. O artista é um leitor privilegiado do mundo, que tem acesso aos seus manuscritos e, a partir de sua leitura, propõe caminhos através de linguagens cifradas - a Arte.
  • 79. Ouvir e Escutar / Entender e Compreender Por mais óbvio que seja, a dicotomia entre Ouvir e Escutar, Entender e Compreender estão no cerne dos processos de ensino/aprendizagem, desde uma criança que não compreende porque não pode colocar o dedo em uma tomada, passando pelo adolescente que não compreende o sentido que tal disciplina tem em sua vida cotidiana, até o profissional que não consegue se comunicarpor não ser capaz de escutar/compreender/criar sentido.
  • 80. Expressar/Comunicar/Transformar Assim como ouvir não garante escutar e entender não é certeza de compreender, expressar não significa comunicar. No processo NÓS, a comunicação foi estimulada a partir do entendimento do indivíduo não como “emissor” mas sim enquanto “receptor” de mensagens. Se quero me expressar, tenho que estar apto a receber a mensagem – interna ou externa - que me chega. Nesse processo, a empatia se potencializa com a alteridade ( eu/eu - eu/outro = NÓS) e a comunicaçãode qualidade se manifesta.
  • 81. O espetáculo O espetáculo NÓS estreou dia 18 de outubro de 2017 no auditório da FCM (Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp), para um público de alunos, professores, funcionários e convidados externos à comunidade acadêmica. O resultado – segundo manifestações do público presente em debate após a apresentação – não só superou as expectativas do ponto de vista da estrutura narrativa quanto da qualidade artística, revelando o potencial pedagógico e, sobretudo, cognitivo da metodologia (Arte Enativa). Não só os alunos participantes como docentes das áreas da saúde e humanas presentes, manifestaram o desejo de transformar a experiência em uma disciplina. Porém, quais elementos se sobressaíram para que a experiência tocasse o público de forma tão intensa? Segundo os relatos, houve uma percepção por parte da platéia da energia e emoções presentes no palco. Tais elementos (energia e emoção) não são passíveis de serem contidos no espaço cênico, tendo invadido o espaço do público (theatron, lugar de onde se vê) e recuperado as origens da Arte – ritual e comunicação. Sem barreiras ou fronteiras, o público se conectou com os atores, criando um sistema de comunicação intenso e de mão dupla.
  • 82. Hipóteses “Nós compreendemos o outro porque temos dentro de nós a mesma experiência” Merleau Ponty
  • 83. Como nossa conexão com o outro é ativada? A partir da descoberta na década de 90 por uma equipe de neurocientistas italianos liderados por Giacomo Rizzolatinos dos neurônios-espelhos - células do cérebro capaz de assimilarem tanto o sentido de uma ação quanto sua emoção em outra pessoa, nos colocando assim em seu lugar - sabemos que a empatia tem uma origem em nosso sistema neural. No caso dos seres humanos se encontra no córtex insular, área cerebral ligada à identificação de emoções. Não se trata apenas de processos lógicos, dedutivos ou cognitivos, já que a identificação passa também por um processo de ressonância. Estudos apontam que a empatia pode ser processada na ínsula e que doenças neurodegeneativas que afetam as regiões temporais e frontais do cérebro, têm como componente tanto a incapacidade de apresentar empatia até a perda de carinho por pessoas próximas, chegando a casos de esquizofrenia, ou seja, problemas de cunho social relacionados a percepção e atenção aos semelhantes.
  • 84. A arte deve recuperar sua gênese de criadora de rituais e agente de processos comunicativos para a organização de uma nova sociedade. A arte é conexão, uma conexão interna - ao redescobrir os propósitos e valores individuais – e externa – capaz de articular e reconectar pessoas e grupos sociais.
  • 85. Nossa hipótese é que a Arte (no caso, o sistema Arte Enativa) e suas interfaces com a Medicina (Mandala das Emoções), além de potencial adjuvante no diagnóstico e tratamento de disfunções psicossociais e neurológicas, pode abrir caminhos para a prospecção das redes cognitivo-emociono-comportamentais, bases essas da intrincada dinâmica cerebral.