Cirandando nos movimentos da expressão do talento artístico: Cultura e arte : uma reflexão Uma visão crítica mas compreensiva dos diferentes caminhos da arte contemporânea permite apreciar seus vasos comunicantes e sua riqueza polifônica.[...] A importância adquirida, na formação do gosto,pelos novos meios de comunicação- os cartazes a televisão-, a irrupção de produtos da cultura popular, junto com as classes que lhe dão origem, obrigam a ampliar o campo da arte, não só os novos objetos nem mensagens, mas a todas as atividades nas quais se realizam a produção, a circulação e o consumo do gosto, da fruição sensível e de sua elaboração imaginária. O estudo da arte abrange,hoje,a análise das obras da arte tanto quanto a das transformações de seu sentido,realizada pelos canais de distribuição e pela variável receptiva dos consumidores. Abrange as artes tradicionalmente conhecida como tais e, também,as atividades não consagradas pelo sistema de belas-artes,como as expressões visuais e musicais nas manifestações políticas,ou aspectos da vida cotidiana. A arte, então,deixa de ser concebida apenas como um campo diferenciado da atividade social e passa a ser, também, um modo de praticar a cultura.
Se era difícil dar uma definição da arte quando o objeto de estudo se esgotava na obra, isso não se tornou definitivamente impossível com tal ampliação? Continuamos pensando que as definições universais e intemporais são idealistas e etnocêntricas, mas podemos formular-mais do que uma definição que encerre o problema- uma caracterização provisória e operacional,um instrumento que permite conhecer a realidade e nela atuar. Se partirmos do que ela foi nos últimos séculos, de sua trajetória em nosso continente e das transformações exigidas por uma estratégia revolucionária, podemos afirmar que a arte abrange todas aquelas atividades ou aqueles aspectos de atividade de uma cultura em que se trabalha o sensível e o imaginário, com o objetivo de alcançar o prazer e a atividade simbólica de um povo ou classe social em função de uma práxis transformadora. (CANCLINI, Nestor García. A socialização da arte: teoria e prática na América Latina. São Paulo, Cultrix,1984. p.207-9 Cirandando nos movimentos da expressão do talento artístico:
Giram lentamente uma ciranda Rodando vão tão longe Rodam a sua maneira E que tem em si a rodadança da criação A tempo pra girar mundo, Na intuição, no simbólico, na notação A tempo pra poetizar, pensar e se expressar... Cada tempo tem o seu giro/tempo No ciclo da diversão São movimentos tocantes de grande expressão Arte na vida Vida na arte Voltas da roda gigante Que só não cessam se lhes for dada a atenção
Todos nós temos a necessidade de comunicação e expressão. Desde a época mais remota o ser humano vem manipulando cores, formas, gestos, espaços, sons, silêncios, superfícies, movimentos, luzes, etc, sempre partindo de sua espontaneidade e de sua livre expressão, desvelando assim uma aptidão especifica ou não para um tipo de linguagem artística, com a intenção de dar sentido a algo, de expressar-se e comunicar-se com os outros. Por isso acredita-se que a livre expressão estimulada e valorizada demonstra o que há de mais belo e rico no ser humano, o seu talento e ou seu repertório cultural adquirido, em que possa conduzi-lo para uma experiência maior no poetizar /fruir ao fabricar sentidos, significações no que expressa e comunica. Pensar a arte em todas as culturas como um movimento que possibilita a socialização, experiências estéticas e conquistas do ser humano, de forma lúdica é prazerosa, é pretende-se com o “Recrearte” proporcionar ao participante do movimento arte e diversão um espaço/tempo para que ele possa expressar-se através das artes plásticas, da música, da literatura e das artes cênicas e demonstrar seu conhecimento/poiesis/talento em uma das modalidades artísticas. Esse desvelamento abrange um processo integrado nos aspectos físico, emocional, cognitivo e social do indivíduo. A arte e a recreação juntas determinam essa integração Objetivo Proporcionar a criança um espaço/tempo onde ela descubra qual o seu talento/forma de expressão artística, para que possam demonstrá-lo aos outros, orgulhoso(a), de sua manifestação. RECREARTE Resgatando Talentos
Cirandando Movimentos 1º Movimento A criança olha, cheira, toca, ouve, se move experimenta, sente, pensa com todo o corpo. O corpo é ação/pensamento. Seu pensamento se dá na ação, na sensação, na percepção, sempre regado pelo sentimento. Convite constante a criação espontânea.A criança está atenta e aberta às experiências e ao mundo...Vive intensamente E vai construindo assim suas percepções estéticas ou não, que a localizará no mundo/contexto que atua.
2º Movimento Cirandando Movimentos Há uma mudança, que vai acontecendo num processo de muitas idas e voltas, na descoberta cada vez mais confirmada de que tudo que esta no mundo tem nome tem um significado, tem um porquê. Nosso trajeto humano é percorrido na busca de significações da própia vida, e isso nasce das descobertas. Não apenas reagimos aos estímulos externos, mas pensamos para agir sobre eles. Isso faz a diferença!.
Cirandando Movimentos 3º Movimento Na continuidade da conquista da forma de expressão o ser humano busca soluções criativas para estar em cena, criando uma lógica e uma coerência perfeitamente adequados aos seus intentos. Em sua intenção de buscar verossimilhança na representação, o ser humano procura regras e convenções com certa exigência. É um momento muito rico. Um exercício com elementos formais que amplia as possibilidades de expressão para interpretar, improvisar ou compor... A organização surge na criação do “espetáculo”, do “está em cena”, do expressar/ mostrar-se. Numa relação: Criador x Criação; Atuantes x Assistente; Palco x Platéia; Produto x Apreciador
Projeto de um eu Poético Acho verdadeira e, além disso, estimulante a idéia de que a personalidade criadora é aquela que é capaz de inventar, escolher e manter um projeto criador, abrindo dentro de si uma área de desenvolvimento remoto em que a liberdade pode se expandir. Creio que essa era também a opinião de Rilke, quando analisava o trabalho poético e não se limitava a cantar a superioridade da obra em relação ao criador.[...] E quando se perguntava como é que tem de nascer um bom poema, não remete para vozes celestes, mas para a experiência. Para escrever um verso que seja, há que ter visto muitas cidades, muitos homens e muitas coisas; há que conhecer os animais, há que ter sentido o vôo dos pássaros e saber que movimentos fazem as flores ao abrirem-se de manhã, leves, brancas e adormecidas, voltando a fechar. Há que ter recordações de muitas noites de amor, todas diferentes, de gritos de mulheres com dor de parto e de parturientes. E ter estado junto a moribundos, e ao lado de um morto, com a janela aberta, pela a qual chegavam, de vez em quando, ruídos do exterior. E tampouco basta ter recordações. Há que saber esquecê-las quando são muitas, e há que ter a imensa paciência de esperar que voltem. Porque as recordações não servem. Tem de converter-se em sangue, olhar e gesto; e quando já não tem nome, nem se distinguem de nós próprios, então pode acontecer que, a certa altura, brote delas a primeira palavra de um verso. Leitura Complementar
Não me importo, depois de um parágrafo tão admiravelmente escrito, de voltar a uma linguagem menos elevada. Quando as recordações se esquecem, convertem-se em núcleos de nossos hábitos e sentimentos, que por sua vez se transformam em um olhar e em gesto. O criador não esta sujeito ao caso, mas sim, em todo o caso, à inconsciência, ao não saber que estar ao construir, tão minuciosamente, o seu Eu poético. Um projeto que concebeu um dia de repente, quando era uma criança que gostava de ver as letras e as imagens, ouvir e contar história e fazer jogos de palavras,e que se manteve durante toda a sua vida distante, como um Eu desejado e irreal que fazia acenos suaves e imperiosos do Eu real que ele era. Nessa busca ao acaso, emocionalmente ou patético, do caminho para chegar até onde colocou o seu anseio, gastou horas incontáveis. Todo o esforço de busca implica uma tenacidade entrançada com todas as atividades. O projeto não é apenas o final entrevisto, mas a constância mantida. A criação não é uma operação formal, mas biológica, vital, exposta azares e acidentes e prolongada pelo anseio de uma subjetividade que quer expandir a sua liberdade, os seus domínios e sua agilidade. (Marina,J. Antonio.Teoria Da Inteligência Criadora.Lisboa,Caminho,1995.p.216-7
Bibliografia : BARBOSA, Ana Mae. À imagem no ensino da Arte: anos oitenta e novos tempos . São Paulo: Perspectiva; Porto Alegre.Fundação IOCHPE, 1981. BOSI, Alfredo. Reflexões Sobre a Arte . São Paulo: Ática, 1985. BRONOWSKI, Jacob. Arte e Conhecimento: ver, imaginar, criar .São Paulo: Martins Fontes, 1983. ECO, Umberto . Obra Aberta . São Paulo: Perspectiva, 1971. MARTINS, Miriam Celeste. PICOSQUE,Gisa.GUERRA, M.Teresinha Telles .Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar fruir e conhecer arte. São Paulo.FTD, 1998. OSBORNE, Harold. A Apreciação da arte .[tradução de Agenor Soares dos Santos ]São Paulo. Cultrix,1970.