Paulo Gabriel Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 1839, filho de pais pobres. Tornou-se um renomado escritor brasileiro e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897. Faleceu em 1908 aos 69 anos.
2. Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio
de Janeiro do Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram
Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, filho
de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira
portuguesa dos Açores. Ambos eram agregados da Dona Maria José de Mendonça
Barrozo Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira, que abrigou seus
pais e os permitiu morar junto com ela. As terras do Livramento eram ocupadas pela
chácara da família de Maria José e já em 1818 o terreno começou a ser loteado de
tão imenso que era, dando origem à rua Nova do Livramento. Maria José tornou-se
madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu cunhado, tornou-se
o padrinho, de modo que os pais de Machado resolveram homenagear os dois
nomeando-o com seus nomes. Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem,
aos 4 anos, em 1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não
se mostrou interessado por ela. Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe
fez conhecer o Padre Silveira Sarmento, que, segundo certos biógrafos, se tornou
seu mentor de latim e amigo.
3. Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de
Mendonça, e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira idearam e
fundaram, em 1897, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis,
a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de cultuar a cultura
brasileira e, principalmente, a literatura nacional. Unanimente, Machado
de Assis foi eleito primeiro presidente da Academia logo que ela havia sido
instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. Como escreve Gustavo
Bernardo, "Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que
se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a
fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse
discussão." No discurso inaugural, Machado aconselhou aos presentes:
"Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que
eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as
sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira."
4. Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos
amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se
também para sua morte. Numa carta endereçada ao amigo Joaquim
Nabuco, Machado lamenta que "foi-se a melhor parte da minha vida, e
aqui estou só no mundo [...]" Antes de sua morte, em 1908, e depois da
morte da esposa, em 1904, Machado viu publicar suas últimas obras: Esaú
e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), e Relíquias da Casa Velha(1906).
No mesmo ano desta última obra, escreveu sua última peça teatral, Lição
de Botânica. Em 1905, participou de uma sessão solene da Academia
para a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por Joaquim
Nabuco. Com Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções,
como também o soneto "A Carolina", "preito de saudade à esposa
morta." Em 1907, dá início ao seu último romance, Memorial de Aires, que é
um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.
6. Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de
Assis morre aos sessenta e nove anos de idade com
uma úlcera canceriosa na boca; sua certidão de óbito relata que morrera
de arteriosclerose generalizada, incluindo esclerose cerebral, o que, para
alguns, figura questionável pelo motivo de mostrar-se lúcido nas últimas cartas
já relatadas. Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos companheiros
mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José
Veríssimo, Coelho Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio, Euclides da Cunha,
etc. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no mesmo ano do falecimento:
"Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do
poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace
de sua enfermidade." Euclides ainda escreveu: "Na sala de jantar, para onde
dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que
ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam lhe os
lances encantadores da vida e reflitam-lhe antigos versos, ainda inéditos,
avaramente guardados em álbuns caprichosos."
7. Dom Casmurro é um romance escrito por Machado de
Assis em 1899 e publicado pela Livraria Garnier. Foi escrito
para sair diretamente em livro, o que ocorreu em 1900,
embora com data do ano anterior. Completa a "trilogia
realista" de Machado de Assis, ao lado de Memórias
Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, tendo sido esses
dois escritos primeiramente em folhetins. Seu personagem
principal é Bento Santiago, o narrador da história que,
contada em primeira pessoa, pretende "atar as duas pontas
da vida", ou seja, unir relatos desde sua mocidade até os
dias em que está escrevendo o livro. Entre esses dois
momentos Bento escreve sobre suas reminiscências da
juventude, sua vida no seminário, seu caso com Capitu e
o ciúme que advém desse relacionamento, que se torna o
enredo central da trama.
8. Ressurreição é o primeiro romance de Machado de Assis, publicado
em 1872. Embora considerada uma obra da primeira fase, romântica, do
autor, seu romantismo é contido, moderado, sem os excessos sentimentais,
reviravoltas na trama e final feliz do folhetim tipicamente romântico. Trata-
se mais de um romance psicológico, "o que, se não é inédito, é raro em
romances românticos" , onde, mais importante que a intriga é "estudar o
caráter e o comportamento" dos personagens. O próprio Machado, na
"Advertência da Primeira Edição", deixa claro: "Não quis fazer romance de
costumes; tentei o esboço de uma situação e o contraste de dois
caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro." Sua
ideia foi pôr em ação o pensamento de Shakespeare: "Our doubts are
traitors, / And make us lose the good we oft might win, / By fearing to
attempt" (Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que
frequentemente poderíamos ganhar, ao termos medo de tentar.)
9. O conto Missa do Galo, é narrado em primeira pessoa pelo jovem Nogueira, um rapaz
de dezessete anos que veio ao Rio de Janeiro para estudar. Hospeda-se na casa do
escrivão Meneses, às vezes chamado de Chiquinho, viúvo de uma prima minha , que
agora é casado com Conceição, uma mulher de temperamento moderado, sem
extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. Meneses mantém um
relacionamento extraconjugal e, uma vez por semana, sob o pretexto de ir ao teatro, vai
se encontrar com sua amante. Conceição tem conhecimento deste relacionamento e
mostra-se submissa. O conto se desenvolve na véspera do Natal, numa dessas noites em
que o escrivão sai de casa e Nogueira fica na sala de estar aguardando um vizinho para
ir à Missa do Galo. Enquanto espera e os outros dormem, Conceição vai ao seu encontro
na sala da casa, onde conversam assuntos variados e não vêem o tempo passar. Até
que o companheiro bate à porta chamando-o para a Missa do Galo. O que torna o
conto bem característico do estilo machadiano é o diálogo entre Nogueira e Conceição
de forte teor sensual, ainda que escrito com a sutileza própria do autor.
No dia seguinte, Conceição age como se nada tivesse acontecido, sem que sequer se
lembrasse da conversa que teve com Nogueira na noite anterior.
No Ano Novo, Nogueira volta à sua cidade e não mais encontra Conceição. Quando
volta ao Rio de Janeiro, Nogueira descobre que Meneses falecera e fica sabendo que
Conceição se casou com o juramentado do marido.