2. • Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento, Rio de Janeiro do
Período Regencial, então capital do Império do Brasil. Seus pais foram Francisco José de Assis,
um mulato que pintava paredes, filho de escravos alforriados, e de Maria Leopoldina da Câmara
Machado, lavadeira portuguesa dos Açores. Ambos eram agregados da Dona Maria José de Mendonça
Barrozo Pereira, esposa do falecido senador Bento Barroso Pereira, que abrigou seus pais e os permitiu
morar junto com ela. As terras do Livramento eram ocupadas pela chácara da família de Maria José e já
em 1818 o terreno começou a ser loteado de tão imenso que era, dando origem à rua Nova do
Livramento. Maria José tornou-se madrinha do bebê e Joaquim Alberto de Sousa da Silveira, seu
cunhado, tornou-se o padrinho, de modo que os pais de Machado resolveram homenagear os dois
nomeando-o com seus nomes. Nascera junto a ele uma irmã, que morreu jovem, aos 4 anos, em
1845. Iniciou seus estudos numa escola pública da região, mas não se mostrou interessado por
ela. Ocupava-se também em celebrar missas, o que lhe fez conhecer o Padre Silveira Sarmento, que,
segundo certos biógrafos, se tornou seu mentor de latim e amigo.
3. • Inspirados na Academia Francesa, Medeiros e Albuquerque, Lúcio de
Mendonça, e o grupo de intelectuais da Revista Brasileira idearam e
fundaram, em 1897, junto ao entusiasmado e apoiador Machado de Assis,
a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de cultuar a cultura
brasileira e, principalmente, a literatura nacional. Unanimente, Machado
de Assis foi eleito primeiro presidente da Academia logo que ela havia sido
instalada, no dia 28 de janeiro do mesmo ano. Como escreve Gustavo
Bernardo, "Quando se fala Machado fundou a Academia, no fundo o que
se quer dizer é que Machado pensava na Academia. Os escritores a
fundaram e precisaram de um presidente em torno do qual não houvesse
discussão." No discurso inaugural, Machado aconselhou aos presentes:
"Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que
eles os transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as
sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira."
4. • Com a morte da esposa, entrou em profunda depressão, notada pelos
amigos que lhe visitavam, e, cada vez mais recluso, encaminhou-se
também para sua morte. Numa carta endereçada ao amigo Joaquim
Nabuco, Machado lamenta que "foi-se a melhor parte da minha vida, e
aqui estou só no mundo [...]" Antes de sua morte, em 1908, e depois da
morte da esposa, em 1904, Machado viu publicar suas últimas obras: Esaú
e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908), e Relíquias da Casa Velha(1906).
No mesmo ano desta última obra, escreveu sua última peça teatral, Lição
de Botânica. Em 1905, participou de uma sessão solene da Academia para
a entrega de um ramo de carvalho de Tasso, remetido por Joaquim
Nabuco. Com Relíquias, reuniu em livro mais algumas de suas produções,
como também o soneto "A Carolina", "preito de saudade à esposa
morta." Em 1907, dá início ao seu último romance, Memorial de Aires, que
é um livro norteado por uma poesia leve e tranquila e tendente à saudade.
6. • Às 3h20m de 29 de setembro de 1908 na casa de Cosme Velho, Machado de Assis morre aos sessenta e nove anos
de idade com uma úlcera canceriosa na boca; sua certidão de óbito relata que morrera
de arteriosclerose generalizada, incluindo esclerose cerebral, o que, para alguns, figura questionável pelo motivo
de mostrar-se lúcido nas últimas cartas já relatadas. Ao geral, teve uma morte tranquila, cercado pelos
companheiros mais íntimos que havia feito no Rio de Janeiro: Mário de Alencar, José Veríssimo, Coelho
Neto, Raimundo Correia, Rodrigo Otávio, Euclides da Cunha, etc. Este último relatou, no Jornal do Comércio, no
mesmo ano do falecimento: "Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta,
em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade." Euclides ainda
escreveu: "Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas
que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam lhe os lances encantadores da vida e
reflitam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos."
7. • Dom Casmurro é um romance escrito por Machado de
Assis em 1899 e publicado pela Livraria Garnier. Foi escrito
para sair diretamente em livro, o que ocorreu em 1900,
embora com data do ano anterior. Completa a "trilogia
realista" de Machado de Assis, ao lado de Memórias Póstumas
de Brás Cubas e Quincas Borba, tendo sido esses dois escritos
primeiramente em folhetins. Seu personagem principal é
Bento Santiago, o narrador da história que, contada em
primeira pessoa, pretende "atar as duas pontas da vida", ou
seja, unir relatos desde sua mocidade até os dias em que está
escrevendo o livro. Entre esses dois momentos Bento escreve
sobre suas reminiscências da juventude, sua vida
no seminário, seu caso com Capitu e o ciúme que advém desse
relacionamento, que se torna o enredo central da trama.
8. • Ressurreição é o primeiro romance de Machado de Assis, publicado
em 1872. Embora considerada uma obra da primeira fase, romântica, do
autor, seu romantismo é contido, moderado, sem os excessos sentimentais,
reviravoltas na trama e final feliz do folhetim tipicamente romântico. Trata-
se mais de um romance psicológico, "o que, se não é inédito, é raro em
romances românticos" , onde, mais importante que a intriga é "estudar o
caráter e o comportamento" dos personagens. O próprio Machado, na
"Advertência da Primeira Edição", deixa claro: "Não quis fazer romance de
costumes; tentei o esboço de uma situação e o contraste de dois
caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro." Sua
ideia foi pôr em ação o pensamento de Shakespeare: "Our doubts are
traitors, / And make us lose the good we oft might win, / By fearing to
attempt" (Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que
frequentemente poderíamos ganhar, ao termos medo de tentar.)
9. • O conto Missa do Galo, é narrado em primeira pessoa pelo jovem Nogueira, um rapaz de
dezessete anos que veio ao Rio de Janeiro para estudar. Hospeda-se na casa do escrivão
Meneses, às vezes chamado de Chiquinho, viúvo de uma prima minha , que agora é casado
com Conceição, uma mulher de temperamento moderado, sem extremos, nem grandes
lágrimas, nem grandes risos. Meneses mantém um relacionamento extraconjugal e, uma vez
por semana, sob o pretexto de ir ao teatro, vai se encontrar com sua amante. Conceição tem
conhecimento deste relacionamento e mostra-se submissa. O conto se desenvolve na
véspera do Natal, numa dessas noites em que o escrivão sai de casa e Nogueira fica na sala
de estar aguardando um vizinho para ir à Missa do Galo. Enquanto espera e os outros
dormem, Conceição vai ao seu encontro na sala da casa, onde conversam assuntos variados
e não vêem o tempo passar. Até que o companheiro bate à porta chamando-o para a Missa
do Galo. O que torna o conto bem característico do estilo machadiano é o diálogo entre
Nogueira e Conceição de forte teor sensual, ainda que escrito com a sutileza própria do
autor.
• No dia seguinte, Conceição age como se nada tivesse acontecido, sem que sequer se
lembrasse da conversa que teve com Nogueira na noite anterior.
• No Ano Novo, Nogueira volta à sua cidade e não mais encontra Conceição. Quando volta ao
Rio de Janeiro, Nogueira descobre que Meneses falecera e fica sabendo que Conceição se
casou com o juramentado do marido.