O documento discute o uso de probióticos multi-cepas na nutrição aquícola para promover a saúde intestinal de peixes e camarões. Ele descreve como os probióticos podem colonizar e agir no intestino para reduzir patógenos, melhorar a estrutura intestinal e aumentar a absorção de nutrientes. Além disso, discute fatores importantes como a escolha de cepas, métodos de aplicação e testes in vivo necessários para garantir a eficácia dos probióticos.
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Informe Empresarial
PROBIÓTICO MULTI-CEPAS NA NUTRIÇÃO AQUÍCOLA
Aspectos práticos e recentes avanços tecnológicos visando à saúde intestinal de peixes e camarões
A utilização de probióticos na
aquicultura visando melhorar a
qualidade do ambiente de cultivo
tem sido uma prática amplamente
difundida nos últimos anos. Probió-
ticos compostos principalmente por
Bacillus sp., adotados em medidas
de manejo de água e solo, possibi-
litaram a elevação da produtividade
e reduziram o impacto frente a pa-
tógenos. Entretanto, a utilização
de bactérias probióticas como fer-
ramenta nutricional, com foco em
promover a saúde intestinal, ainda
não está amplamente consolidada.
Neste artigo, abordaremos recen-
tes avanços neste campo e novas
tecnologias disponíveis.
Tratamentos
Enterococcus faecium no intestino
(x 108
células/g intestino)*
Dia 1 Dia 10
Intestino com
matéria fecal
Matéria fecal
Intestino sem
matéria fecal
Grupo controle 0 0 0
Grupo probiótico 1,37 ± 0,85 1,52 ± 0,98 1,33 ± 0,28
A suplementação de bactérias probióticas em rações para peixes e camarões é um
tema que tem dividido opiniões entre especialistas e produtores na aquicultura.
Enquanto alguns profissionais se posicionam favoráveis a sua utilização registrando
resultados positivos, outros possuem relatos não tão favoráveis, colocando em cheque
a real efetividade do conceito. Para que obtenhamos sucesso na aplicação de probi-
óticos comerciais em benefício ao animal, temos que considerar previamente uma
série de fatores, tais como: a concentração e o modo de ação das bactérias; forma de
aplicação na ração, estratégia de fornecimento, além de um profundo conhecimento
dos desafios ambientais e principais patógenos a serem enfrentados no cultivo.
Considerandoqueanutriçãorepresentaoprincipalcustodeproduçãodaindústria
aquícola e também a alta volatilidade de preços das commodities que impacta direta-
mente nos preços das rações, faz-se crucial que todo o investimento em aditivos como
os probióticos seja realizado de maneira racional e criteriosa. A utilização de produtos
especializadosecomeficáciacomprovada,podetambémaumentaraschancesdesucesso
e evitar longos e custosos processos de tentativa e erro.
Colonização e ação intestinal
Apesar de haver variações quanto à definição de probióticos na aquicultura,
podemos basicamente considerar estes aditivos na nutrição como um suplemento de
microrganismos vivos, capazes de sobreviverem e colonizarem o ambiente intestinal,
promovendo benefícios ao hospedeiro, tais como: redução da comunidade microbiana
patogênica via competição exclusiva, competição por sítios de fixação e nutrientes,
produção de substâncias antimicrobianas, alteração do ambiente luminal, produção
de enzimas digestivas, imunoestimulação e interferência na comunicação bacteriana.
Um ponto básico de partida para obtenção de cepas de interesse é o isola-
mento e caracterização de bactérias que sejam resistentes, que possuam atividade
em variados ambientes (temperatura, pH, salinidade, suco gástrico, bile e etc.) e que
possuam comprovada capacidade de colonizar o intestino. Na Tabela 1, apresenta-se
teste realizado para avaliar a capacidade de colonização do Enterococcus faecium no
intestino da tilápia. A presença da bactéria no intestino sem matéria fecal e em altas
concentrações (1,3 x 108
), 10 dias após cessar a suplementação, evidencia o bom
potencial deste microrganismo.
Os diversos microrganismos utilizados com função probiótica na aqui-
cultura possuem modo de ação e características bastante variadas com relação
Tabela 1. Presença da bactéria probiótica Enterococcus faecium no dia 1 e 10 dias depois da retirada
do probiótico da alimentação de tilápias do Nilo
*Médias ± Desvio padrão. Utilizando metodologia FISH (Hibridização fluorescente In situ).
Fonte: Biomin, teste realizado na universidade Prince of Songkla, Hat Yai, Tailândia.
Por:
Otavio Serino Castro¹
¹ Biomin Holding GmbH, Áustria.
Gonçalo Santos¹
Jutta Zwielehner¹
Rui Gonçalves¹
Barbara Werber¹
otavio.castro@biomin.net
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a sua capacidade em promover diferentes benefícios ao hospedeiro.
Desta maneira, produtos a base de cepas únicas, podem apresentar
limitações em determinados aspectos e não proporcionar ao animal um
amplo espectro de ação.
Para a elaboração de probióticos multi-cepas, um cuidado es-
pecial deve ser tomado para evitar que um produto seja composto por
bactérias com ações antagônicas. Na Figura 1 , observa-se a capacidade
de colonização do intestino da tilápia pelas cepas de Bacillus sp, Pe-
diococcus sp., Enterococcus sp. e Lactobacillus sp. quando fornecidas
em conjunto. Neste trabalho, bactérias viáveis foram recuperadas até
18 dias após cessar a suplementação.
Praticamente, a utilização de probióticos com capacidade de
colonização possibilita que sejam elaboradas estratégias de uso não
contínuo, permitindo assim a otimização do custo de suplementação.
Estas estratégias devem ser ajustas de acordo com os níveis de desafio
ambiental, características da dieta, fase e tipo de cultivo em questão.
De maneira geral, o principal objetivo da utilização dos probi-
óticos é garantir que o animal mantenha seu intestino saudável e com
uma boa capacidade de resposta imunológica frente a agentes patógenos
e estressantes. Na Figura 2, pode-se claramente observar o potencial
benéfico do uso desta ferramenta na estrutura intestinal e nas caracte-
rísticas das vilosidades da tilápia, onde houve um aumento significativo
da área disponível para absorção de nutrientes.
Inibição de patógenos
Recentemente, mais especificamente em decorrência da deflagra-
ção da EMS (síndrome da mortalidade precoce) na carcinicultura asiáti-
ca, evidenciou-se fortemente a limitação de ação de algumas bactérias
probióticas, que até então possuíam boa eficiência, quando desafiadas
com variedades emergentes e mais virulentas de agentes patogênicos.
Estudos realizados pela Biomin visando à seleção de novas cepas têm
indicado que algumas espécies de bactérias não formadoras de esporos como
o Pediococcus sp., Enterococcus sp e Lactobacillus sp., podem inibir mais
eficientemente patógenos de natureza gram negativa, como o Vibrio.
Na Figura 3, podemos observar a ação de inibição destas bactérias em
comparação a uma série de cepas do gênero Bacillus. Faz-se importante
salientar, que a ação frente a patógenos é tanto espécie-específica como
cepa-específica. Neste caso, observou-se que algumas cepas de Bacillus
subtilis tiveram algum efeito inibidor (#3; #4
e #5), enquanto que outras não apresentaram
resposta na inibição (#6; #2 e #1).
Para garantir que essa inibição seja
realmente efetiva em condições de cultivo,
os testes In vitro devem ser realizados poste-
riormente In vivo, na espécie alvo. Na Tabela
2 apresentam-se os resultados de um estudo
conduzido na Tailândia, onde se se verifi-
cou a capacidade de inibição do Vibrio spp.
Figura 1. Composição percentual da microbiota de juvenis de tilápia do Nilo (55 ±1g) antes e após a suplementação com probiótico multi-cepas AquaStar® Growout por 8
semanas. Cepas probióticas representadas na cor verde no gráfico à direita. Fonte: Biomin
Figura 2. Corte histológico do intestino de tilápias sem
suplementação e suplementadas com probiótico multi-cepas
AquaStar® Growout por 6 semanas. Pesquisa realizada na
Universidade de Plymouth, Inglaterra. Fonte: Standen, Merrifield
& Davies (2015)
Propinibacterium sp., 0,7
Clostridium sp., 1,0
L. crispatus, 4,3
L. helvecticus, 6,4
L. aviarius, 38,0
L. secaliphilus, 23,6
L. pontis, 22,9
Pediococcus sp., 1,1
Lactobacillus sp., 4,9
Enterococcus sp., 11,0
Bacillus sp., 58,2
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tanto no hepatopâncreas, como no intestino de camarões
alimentados com rações contendo probiótico multi-cepas.
Verificou-se também, a significante presença da bactéria
Enterococcus faecium.
A implicação prática desta observação é de que,
frente a um desafio específico, um produto de relativa boa
resposta zootécnica pode perder sua efetividade. Nessas
situações, elevar a dosagem de aplicação poderá ser inútil
e economicamente inviável. Desta maneira, a comparação
de produtos somente baseada em preços e pela concentração
de UFC/g ou UFC/kg, não deve ser adotada como critério
único para tomada de decisão. A comprovação de resultados
In loco ainda é a melhor alternativa.
Método de aplicação
Os principais fatores chaves para o sucesso na apli-
cação industrial dos probióticos na ração são: assegurar
a correta armazenagem dos produtos em fábrica; realizar
a aplicação de maneira homogênea; incluir o produto no
banho de óleo nas etapas finais de produção não expondo
as bactérias a temperaturas excessivas e umidade. Por mais
básico que possa parecer, estas medidas são de extrema
importância para assegurar ao produtor a eficiência do pro-
duto no campo. Na Tabela 3, observam-se os impactos nos
resultados zootécnicos do Catfish Tra, quando alimentado
com dietas contendo probióticos multi-cepas (PROB MC)
Tratamento
CFU/g
Hepatopâncreas Intestino
Vibrio Total
(x 104
)
Enterococcus
faecium (x106
)
Vibrio Total
(x 106
)
Enterococcus
faecium (x108
)
Controle 68,8 ± 19,5a
– 94,1 ± 68,2ns
–
AquaStar® 1,7 ± 0,9b
56,5 ± 23,2b
29,5 ± 19,4b
7,8 ± 5,7b
a, b
, Médias com letras diferentes nas colunas denotam diferença estatística (p < 0.05). Fonte: Supamattaya (2006),
estudo realizado na universidade Prince of Songkla, Hat Yai, Tailândia
Figura 3. Efeito de diversas bactérias probióticas na inibição de
cepa patogênica de Vibrio sp. após 8 horas. Fonte: Biomin
Tabela 2. Contagem total de Vibrio spp. e Enterococcus faecium no sistema digestivo
do camarão, após a alimentação com dietas suplementadas com probiótico multi-
cepas por 6 semanas (metodologia FISH)
Tabela 3. Efeito de probiótico a base de Bacillus contra probiótico multi-espécies, incluídos na extrusão e no
banho de óleo, sobre o desempenho zootécnico do Catfish Tra (Pangasionodon hypophthalmus)
a, b
Médias com letras diferentes nas colunas denotam diferença estatística (p < 0.05). | Fonte: Biomin; Mayer, Encarnação e Santos (2012)
CONTROLE
PROB MC
EXT
PROB MC
COAT
PROB BC
EXT
PROB
BC AT
Peso Inicial 68,7 ± 0,1 68,7 ± 0,1 68,7 ± 0,1 68,7 ± 0,1 68,7 ± 0,1
Peso Final 151,1 ± 2,6a
153,7 ± 3,6ab
158,8 ± 7,2b
152,7 ± 3,1ab
152,9 ± 2,7ab
Ganho de Peso 82,4 ± 2,6a
85,0 ± 3,6ab
90,2 ± 7,2b
84,0 ± 3,1ab
84,3 ± 2,8ab
Consumo de
Ração
106,5 ± 0,5 105,8 ± 0,8 106,7 ± 0,8 105,8 ± 1,1 106,7 ± 0,9
FCA 1,29 ± 0,04a
1,25 ± 0,06bc
1,19 ± 0,09c
1,26 ± 0,03bc
1,27 ± 0,05ab
Informe Empresarial
e a base somente de Bacillus (PROB BC), adicionados a
dieta antes do processamento e após, no banho de óleo.
Neste estudo, comprovou-se que a estratégia mais efetiva
de suplementação dos probióticos foi atingida utilizando-
-se probiótico multi-cepas adicionado no banho de óleo.
Considerações finais
A habilidade dos animais resistirem a infecções de-
pende de um sistema imunológico forte e de um intestino
saudável. Equilibrando a
microbiota intestinal fa-
vorecemos uma melhor
digestão e absorção de nu-
trientes, além de proteger
o animal frente a agentes
patogênicos presentes no
ambiente. A aplicação es-
tratégica de probióticos via
nutrição pode complemen-
tar protocolos preventivos
de manejo, reduzindo riscos
no cultivo e ainda promo-
vendo melhor desempenho
zootécnico e econômico.