Henrique Cavalleiro foi um pintor brasileiro que estudou na Escola Nacional de Belas Artes no início do século XX. Ele foi influenciado inicialmente pelo impressionismo, mas desenvolveu um estilo mais sólido baseado na obra de Cézanne durante sua estadia de cinco anos em Paris. Após retornar ao Brasil em 1925, Cavalleiro teve exposições bem recebidas no Rio de Janeiro e São Paulo e se tornou um importante professor na Escola Nacional de Belas Artes.
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Cavalleiro, henrique campos
1. CAVALLEIRO, Henrique Campos (1892-1975). Carioca, Henrique Cavalleiro assim sintetizou
os seus começos, pouco antes de morrer, num texto do catálogo de sua retrospectiva de 1975,
no Museu Nacional de Belas Artes:
- Quando estudante da Escola Nacional de Belas Artes, de meados de 1910 a 1918, período
que corresponde exatamente ao meu aprendizado de pintura, pois antes cursei apenas
desenho, já empregava a técnica impressionista. Tentava, mesmo, em alguns trabalhos extra-
escolares, seguir um modernismo à maneira de Seurat. Assim, foi executado nessa técnica o
quadro Balões Venezianos, de 1912, exposto no Salão Nacional de Belas Artes de 1914.
Desde então, como por instinto, sempre mantive esse espírito de pesquisa, embora não
encontrasse repercussão ou interesse nos trabalhos que então empreendia, pois, no ambiente
artístico da época, nada existia além de receitas acadêmicas.
Cavalleiro estudou na Escola desde 1907, tendo sido aluno de desenho de Daniel Bérard;
passando à classe de Zeferino da Costa, nela recebeu medalha de ouro em desenho, distinção
que até então só Marques Júnior merecera. Obtendo, em concurso, o prêmio de viagem à
Europa, partiria, tão logo terminado o conflito de 1914-18, com destino a Paris, matriculando-se
na Academia Julian:
- Embarcando para Paris, fiz o sacrifício, imposto pelas minhas condições de pensionato, de
matricular-me na Academia Julian, onde apenas estudei seis meses. Não tive mais paciência
para suportar aquela severa disciplina, a que nove anos de Escola me acostumaram,
passivamente. Revoltei-me com o ambiente, com os processos, com os artistas e tratei de
fundar em Paris o meu ateliê, onde trabalhei durante os cinco anos que lá permaneci. Os meus
envios obtiveram sempre reclamações da Congregação e os pareceres dados sobre eles
observavam o meu afastamento dos moldes consagrados pela orientação da Escola.
Deixando os velhos ensinamentos de seu mestre na Academia Julian, Adolphe Déchenaud,
Cavalleiro abandonou pouco a pouco a sua maneira inicial impressionista por uma arte mais
construída e pensada: não mais as sutilezas cromáticas ou atmosféricas, porém a procura de
uma solidez estrutural baseada em Cézanne, um artista que exerceu sobre o jovem brasileiro
extraordinário fascínio, em começos da década de 1920.
Do período que vai de 1923 ao fim do seu estágio em França datam obras importantes, como
Vestido Rosa, ainda impressionista, Nu diante do Espelho e Mimi o Modelo, telas essas que,
no dizer do próprio Cavalleiro, "já revelam tendências no sentido de volumes e valores tonais,
segundo o princípio de Cézanne".
Expondo em 1924 na Société Nationale des Beaux Arts, Cavalleiro tem seu trabalho
aproximado de Kees Van Dongen pelo crítico do Le Journal - aproximação pertinente,
porquanto certos elementos fauves e expressionistas revelavam-se na pintura do brasileiro.
Retomando em 1925, o pintor realizou duas individuais, no Rio e em São Paulo, encontrando
nessa última "uma elite artística mais avançada nas teorias modernas, que soube dar melhor
aceitação à minha maneira de sentir e pintar". Menotti del Picchia gabou-lhe, por exemplo, "a
construção sólida, a plasmação de volumes realizados por linhas mais precisas e massas de
cor mais sintéticas", enquanto no Rio, Virgílio Maurício disse de sua obra ser "original e pessoal
demais em um meio onde só se admiram as cópias fotográficas da natureza".
É de 1926 uma bela têmpera, Juventude, representando uma ruptura no caminho do artista.
Trata-se de duas figuras femininas, uma desnuda, a outra amparando na mão uma pomba de
asas abertas. Toda a composição, muito estilizada, obedece aos postulados do Art Déco, então
em voga na Europa e, através de John Graz e sobretudo Brecheret, também no Brasil.
Em 1927 era-lhe concedida no Salão a medalha de ouro; logo depois, em 1930, por curto
tempo retornaria à Europa, para estudar arte decorativa. Cabe aqui um parêntese sobre sua
intensa atividade como ilustrador e caricaturista, iniciada em 1906 em O Malho, com
2. colaborações posteriores em Fon-Fon, A Manhã, O Teatro, O Jornal, Ilustração Brasileira e,
após 1929, O Cruzeiro.
Por volta de 1940 a arte de Henrique Cavalleiro exibe revitalização, caracterizada por
acentuada busca de textura pictórica e um sentimento passional da cor. É o momento das
paisagens de Teresópolis, dos nus e figuras construídos mediante uma matéria ricamente
expressiva, com larga utilização de cores truculentas, entre as quais se destacam os violetas e
os azuis, os amarelos e os laranjas, os verdes, os vermelhos.
Professor da Escola Nacional de Belas Artes desde 1938 até jubilar-se em 1962, coube a
Cavalleiro orientar grande número de alunos, entre eles Martinho de Haro, Roberto Burle-Marx
e Ubi Bava, bem como, mais recentemente, Júlio Vieira e Píndaro Castelo Branco,
demonstrando, a amplidão desse espectro, a largueza de sua orientação.
Cavalleiro, que era casado com a pintora Yvonne Visconti Cavalleiro, faleceu a 26 de agosto de
1975, poucos dias após a abertura de sua grande retrospectiva no Museu Nacional de Belas
Artes. No curto depoimento que escreveu para essa mostra, o velho artista deixou aliás
grafadas essas frases, que se revelariam tristemente proféticas:
- Finalmente, farei aqui uma referência toda especial ao meu querido Marques Júnior, que
nunca me saiu nem me sairá da memória. Figura excelsa de artista, professor emérito, esse
inesquecível amigo foi para mim um guia, um animador que me ajudava a vencer dificuldades,
tão freqüentes na vida do artista. Recordando-o com emoção, encerro este trabalho, citando
reverentemente o seu nome. Até breve, Marques Júnior!
Jardim do Luxemburgo, Paris, óleo s/ tela, cerca 1930;
0,45 X 0,54, Museu Nacional de Belas Artes.