SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
CAVALLEIRO, Henrique Campos (1892-1975). Carioca, Henrique Cavalleiro assim sintetizou
os seus começos, pouco antes de morrer, num texto do catálogo de sua retrospectiva de 1975,
no Museu Nacional de Belas Artes:

- Quando estudante da Escola Nacional de Belas Artes, de meados de 1910 a 1918, período
que corresponde exatamente ao meu aprendizado de pintura, pois antes cursei apenas
desenho, já empregava a técnica impressionista. Tentava, mesmo, em alguns trabalhos extra-
escolares, seguir um modernismo à maneira de Seurat. Assim, foi executado nessa técnica o
quadro Balões Venezianos, de 1912, exposto no Salão Nacional de Belas Artes de 1914.
Desde então, como por instinto, sempre mantive esse espírito de pesquisa, embora não
encontrasse repercussão ou interesse nos trabalhos que então empreendia, pois, no ambiente
artístico da época, nada existia além de receitas acadêmicas.

Cavalleiro estudou na Escola desde 1907, tendo sido aluno de desenho de Daniel Bérard;
passando à classe de Zeferino da Costa, nela recebeu medalha de ouro em desenho, distinção
que até então só Marques Júnior merecera. Obtendo, em concurso, o prêmio de viagem à
Europa, partiria, tão logo terminado o conflito de 1914-18, com destino a Paris, matriculando-se
na Academia Julian:

- Embarcando para Paris, fiz o sacrifício, imposto pelas minhas condições de pensionato, de
matricular-me na Academia Julian, onde apenas estudei seis meses. Não tive mais paciência
para suportar aquela severa disciplina, a que nove anos de Escola me acostumaram,
passivamente. Revoltei-me com o ambiente, com os processos, com os artistas e tratei de
fundar em Paris o meu ateliê, onde trabalhei durante os cinco anos que lá permaneci. Os meus
envios obtiveram sempre reclamações da Congregação e os pareceres dados sobre eles
observavam o meu afastamento dos moldes consagrados pela orientação da Escola.

Deixando os velhos ensinamentos de seu mestre na Academia Julian, Adolphe Déchenaud,
Cavalleiro abandonou pouco a pouco a sua maneira inicial impressionista por uma arte mais
construída e pensada: não mais as sutilezas cromáticas ou atmosféricas, porém a procura de
uma solidez estrutural baseada em Cézanne, um artista que exerceu sobre o jovem brasileiro
extraordinário fascínio, em começos da década de 1920.

Do período que vai de 1923 ao fim do seu estágio em França datam obras importantes, como
Vestido Rosa, ainda impressionista, Nu diante do Espelho e Mimi o Modelo, telas essas que,
no dizer do próprio Cavalleiro, "já revelam tendências no sentido de volumes e valores tonais,
segundo o princípio de Cézanne".

Expondo em 1924 na Société Nationale des Beaux Arts, Cavalleiro tem seu trabalho
aproximado de Kees Van Dongen pelo crítico do Le Journal - aproximação pertinente,
porquanto certos elementos fauves e expressionistas revelavam-se na pintura do brasileiro.

Retomando em 1925, o pintor realizou duas individuais, no Rio e em São Paulo, encontrando
nessa última "uma elite artística mais avançada nas teorias modernas, que soube dar melhor
aceitação à minha maneira de sentir e pintar". Menotti del Picchia gabou-lhe, por exemplo, "a
construção sólida, a plasmação de volumes realizados por linhas mais precisas e massas de
cor mais sintéticas", enquanto no Rio, Virgílio Maurício disse de sua obra ser "original e pessoal
demais em um meio onde só se admiram as cópias fotográficas da natureza".

É de 1926 uma bela têmpera, Juventude, representando uma ruptura no caminho do artista.
Trata-se de duas figuras femininas, uma desnuda, a outra amparando na mão uma pomba de
asas abertas. Toda a composição, muito estilizada, obedece aos postulados do Art Déco, então
em voga na Europa e, através de John Graz e sobretudo Brecheret, também no Brasil.

Em 1927 era-lhe concedida no Salão a medalha de ouro; logo depois, em 1930, por curto
tempo retornaria à Europa, para estudar arte decorativa. Cabe aqui um parêntese sobre sua
intensa atividade como ilustrador e caricaturista, iniciada em 1906 em O Malho, com
colaborações posteriores em Fon-Fon, A Manhã, O Teatro, O Jornal, Ilustração Brasileira e,
após 1929, O Cruzeiro.

Por volta de 1940 a arte de Henrique Cavalleiro exibe revitalização, caracterizada por
acentuada busca de textura pictórica e um sentimento passional da cor. É o momento das
paisagens de Teresópolis, dos nus e figuras construídos mediante uma matéria ricamente
expressiva, com larga utilização de cores truculentas, entre as quais se destacam os violetas e
os azuis, os amarelos e os laranjas, os verdes, os vermelhos.

Professor da Escola Nacional de Belas Artes desde 1938 até jubilar-se em 1962, coube a
Cavalleiro orientar grande número de alunos, entre eles Martinho de Haro, Roberto Burle-Marx
e Ubi Bava, bem como, mais recentemente, Júlio Vieira e Píndaro Castelo Branco,
demonstrando, a amplidão desse espectro, a largueza de sua orientação.

Cavalleiro, que era casado com a pintora Yvonne Visconti Cavalleiro, faleceu a 26 de agosto de
1975, poucos dias após a abertura de sua grande retrospectiva no Museu Nacional de Belas
Artes. No curto depoimento que escreveu para essa mostra, o velho artista deixou aliás
grafadas essas frases, que se revelariam tristemente proféticas:

- Finalmente, farei aqui uma referência toda especial ao meu querido Marques Júnior, que
nunca me saiu nem me sairá da memória. Figura excelsa de artista, professor emérito, esse
inesquecível amigo foi para mim um guia, um animador que me ajudava a vencer dificuldades,
tão freqüentes na vida do artista. Recordando-o com emoção, encerro este trabalho, citando
reverentemente o seu nome. Até breve, Marques Júnior!

                    Jardim do Luxemburgo, Paris, óleo s/ tela, cerca 1930;
                         0,45 X 0,54, Museu Nacional de Belas Artes.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Kandinsky
Kandinsky Kandinsky
Kandinsky
ruca03
 
Artistas Plásticos e Músicos da República
Artistas Plásticos e Músicos da RepúblicaArtistas Plásticos e Músicos da República
Artistas Plásticos e Músicos da República
Michele Pó
 
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorirDesenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
SimoneHelenDrumond
 
Vanessa Santos 7083 Kandinsky
Vanessa Santos 7083 KandinskyVanessa Santos 7083 Kandinsky
Vanessa Santos 7083 Kandinsky
vanessa santos
 
Marcel duchamp_HAVC
Marcel duchamp_HAVCMarcel duchamp_HAVC
Marcel duchamp_HAVC
Hugo Gomes
 
Superando o academicismo
Superando o academicismoSuperando o academicismo
Superando o academicismo
Rafael Santos
 
Joan miró
Joan miróJoan miró
Joan miró
ruca03
 
A Cor na representação
A Cor na representaçãoA Cor na representação
A Cor na representação
latife22
 
Joan miró
Joan miróJoan miró
Joan miró
miicudo
 

Mais procurados (20)

Pablo Picasso
Pablo PicassoPablo Picasso
Pablo Picasso
 
Georges braque
Georges braqueGeorges braque
Georges braque
 
Kandinsky
Kandinsky Kandinsky
Kandinsky
 
Artistas Plásticos e Músicos da República
Artistas Plásticos e Músicos da RepúblicaArtistas Plásticos e Músicos da República
Artistas Plásticos e Músicos da República
 
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorirDesenhos de tarsila do amaral para colorir
Desenhos de tarsila do amaral para colorir
 
Picasso
PicassoPicasso
Picasso
 
Vanessa Santos 7083 Kandinsky
Vanessa Santos 7083 KandinskyVanessa Santos 7083 Kandinsky
Vanessa Santos 7083 Kandinsky
 
Marcel duchamp_HAVC
Marcel duchamp_HAVCMarcel duchamp_HAVC
Marcel duchamp_HAVC
 
Impressionismo, neo-impressionismo e pós-impressionismo
Impressionismo, neo-impressionismo e pós-impressionismoImpressionismo, neo-impressionismo e pós-impressionismo
Impressionismo, neo-impressionismo e pós-impressionismo
 
Superando o academicismo
Superando o academicismoSuperando o academicismo
Superando o academicismo
 
Pablo Picasso
Pablo PicassoPablo Picasso
Pablo Picasso
 
Análise de renoir(com releitura de as duas irmãs)
Análise de renoir(com releitura de as duas irmãs)Análise de renoir(com releitura de as duas irmãs)
Análise de renoir(com releitura de as duas irmãs)
 
Joan miró
Joan miróJoan miró
Joan miró
 
Joan miró
Joan miróJoan miró
Joan miró
 
A Cor na representação
A Cor na representaçãoA Cor na representação
A Cor na representação
 
Impressionismo neo e pos
Impressionismo neo e posImpressionismo neo e pos
Impressionismo neo e pos
 
Paul signac
Paul signacPaul signac
Paul signac
 
Joan miró
Joan miróJoan miró
Joan miró
 
Picasso e cubismo
Picasso e cubismoPicasso e cubismo
Picasso e cubismo
 
Pablo Picasso- Vida e Obra
Pablo Picasso- Vida e ObraPablo Picasso- Vida e Obra
Pablo Picasso- Vida e Obra
 

Semelhante a Cavalleiro, henrique campos

Vicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiroVicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiro
deniselugli2
 
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
eduardoalves354978
 
Seelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristidesSeelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristides
deniselugli2
 
Sigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proençaSigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proença
deniselugli2
 
Albuquerque georgina
Albuquerque georginaAlbuquerque georgina
Albuquerque georgina
deniselugli2
 
Cubismo
CubismoCubismo
Cubismo
Jubiz
 
Cubismo
CubismoCubismo
Cubismo
Jubiz
 

Semelhante a Cavalleiro, henrique campos (20)

Semana de 22
Semana de 22Semana de 22
Semana de 22
 
Vicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiroVicente do rego monteiro
Vicente do rego monteiro
 
Dacosta, milton
Dacosta, miltonDacosta, milton
Dacosta, milton
 
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
 
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
100022681-Semana-de-Arte-Moderna.pdf
 
Seelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristidesSeelinger, helios aristides
Seelinger, helios aristides
 
Dias, cícero
Dias, cíceroDias, cícero
Dias, cícero
 
Arte moderna
Arte modernaArte moderna
Arte moderna
 
Flexor, samson
Flexor, samsonFlexor, samson
Flexor, samson
 
Sigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proençaSigaud, eugênio de proença
Sigaud, eugênio de proença
 
Thiago de carvalho caique xavier
Thiago de carvalho   caique xavierThiago de carvalho   caique xavier
Thiago de carvalho caique xavier
 
Albuquerque georgina
Albuquerque georginaAlbuquerque georgina
Albuquerque georgina
 
Cubismo
CubismoCubismo
Cubismo
 
Ensino médio 1o. bimestre- a arte da primeira metade do século xx-expression...
Ensino médio  1o. bimestre- a arte da primeira metade do século xx-expression...Ensino médio  1o. bimestre- a arte da primeira metade do século xx-expression...
Ensino médio 1o. bimestre- a arte da primeira metade do século xx-expression...
 
Centro de ensino edison lobão1
Centro de ensino edison lobão1Centro de ensino edison lobão1
Centro de ensino edison lobão1
 
Nery, ismael
Nery, ismaelNery, ismael
Nery, ismael
 
Artes - Picasso/ Cubismo
Artes - Picasso/ CubismoArtes - Picasso/ Cubismo
Artes - Picasso/ Cubismo
 
Cubismo
CubismoCubismo
Cubismo
 
Cubismo
CubismoCubismo
Cubismo
 
Modernismo
ModernismoModernismo
Modernismo
 

Mais de deniselugli2

Zeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joãoZeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joão
deniselugli2
 
Weingärtner, pedro
Weingärtner, pedroWeingärtner, pedro
Weingärtner, pedro
deniselugli2
 
Wakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuoWakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuo
deniselugli2
 
Vítor meireles de lima
Vítor meireles de limaVítor meireles de lima
Vítor meireles de lima
deniselugli2
 
Visconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angeloVisconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angelo
deniselugli2
 
Timóteo da costa, artur
Timóteo da costa, arturTimóteo da costa, artur
Timóteo da costa, artur
deniselugli2
 
Taunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoineTaunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoine
deniselugli2
 
Serpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreiraSerpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreira
deniselugli2
 
Schendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, miraSchendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, mira
deniselugli2
 
Rugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritzRugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritz
deniselugli2
 

Mais de deniselugli2 (20)

Zeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joãoZeferino da costa, joão
Zeferino da costa, joão
 
Weingärtner, pedro
Weingärtner, pedroWeingärtner, pedro
Weingärtner, pedro
 
Wega nery
Wega neryWega nery
Wega nery
 
Wakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuoWakabayashi, kazuo
Wakabayashi, kazuo
 
Volpi, alfredo
Volpi, alfredoVolpi, alfredo
Volpi, alfredo
 
Vítor meireles de lima
Vítor meireles de limaVítor meireles de lima
Vítor meireles de lima
 
Visconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angeloVisconti, eliseu d'angelo
Visconti, eliseu d'angelo
 
Viaro, guido
Viaro, guidoViaro, guido
Viaro, guido
 
Valentim, rubem
Valentim, rubemValentim, rubem
Valentim, rubem
 
Tozzi, cláudio.
Tozzi, cláudio.Tozzi, cláudio.
Tozzi, cláudio.
 
Timóteo da costa, artur
Timóteo da costa, arturTimóteo da costa, artur
Timóteo da costa, artur
 
Taunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoineTaunay, nicolas antoine
Taunay, nicolas antoine
 
Tarsila do amaral
Tarsila do amaralTarsila do amaral
Tarsila do amaral
 
Serpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreiraSerpa, ivan ferreira
Serpa, ivan ferreira
 
Segall, lasar
Segall, lasarSegall, lasar
Segall, lasar
 
Scliar, carlos
Scliar, carlosScliar, carlos
Scliar, carlos
 
Schendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, miraSchendel hergesheimer, mira
Schendel hergesheimer, mira
 
Samico, gilvan
Samico, gilvanSamico, gilvan
Samico, gilvan
 
Sacilotto, luís
Sacilotto, luísSacilotto, luís
Sacilotto, luís
 
Rugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritzRugendas, johann moritz
Rugendas, johann moritz
 

Último

Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
AntonioVieira539017
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
edelon1
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
LeloIurk1
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecni
CleidianeCarvalhoPer
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
HELENO FAVACHO
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
LeloIurk1
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
rosenilrucks
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
RavenaSales1
 

Último (20)

Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptxProjeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
Projeto Nós propomos! Sertã, 2024 - Chupetas Eletrónicas.pptx
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
matematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecnimatematica aula didatica prática e tecni
matematica aula didatica prática e tecni
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
 
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdfGEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
GEOGRAFIA - COMÉRCIO INTERNACIONAL E BLOCOS ECONÔMICOS - PROF. LUCAS QUEIROZ.pdf
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 

Cavalleiro, henrique campos

  • 1. CAVALLEIRO, Henrique Campos (1892-1975). Carioca, Henrique Cavalleiro assim sintetizou os seus começos, pouco antes de morrer, num texto do catálogo de sua retrospectiva de 1975, no Museu Nacional de Belas Artes: - Quando estudante da Escola Nacional de Belas Artes, de meados de 1910 a 1918, período que corresponde exatamente ao meu aprendizado de pintura, pois antes cursei apenas desenho, já empregava a técnica impressionista. Tentava, mesmo, em alguns trabalhos extra- escolares, seguir um modernismo à maneira de Seurat. Assim, foi executado nessa técnica o quadro Balões Venezianos, de 1912, exposto no Salão Nacional de Belas Artes de 1914. Desde então, como por instinto, sempre mantive esse espírito de pesquisa, embora não encontrasse repercussão ou interesse nos trabalhos que então empreendia, pois, no ambiente artístico da época, nada existia além de receitas acadêmicas. Cavalleiro estudou na Escola desde 1907, tendo sido aluno de desenho de Daniel Bérard; passando à classe de Zeferino da Costa, nela recebeu medalha de ouro em desenho, distinção que até então só Marques Júnior merecera. Obtendo, em concurso, o prêmio de viagem à Europa, partiria, tão logo terminado o conflito de 1914-18, com destino a Paris, matriculando-se na Academia Julian: - Embarcando para Paris, fiz o sacrifício, imposto pelas minhas condições de pensionato, de matricular-me na Academia Julian, onde apenas estudei seis meses. Não tive mais paciência para suportar aquela severa disciplina, a que nove anos de Escola me acostumaram, passivamente. Revoltei-me com o ambiente, com os processos, com os artistas e tratei de fundar em Paris o meu ateliê, onde trabalhei durante os cinco anos que lá permaneci. Os meus envios obtiveram sempre reclamações da Congregação e os pareceres dados sobre eles observavam o meu afastamento dos moldes consagrados pela orientação da Escola. Deixando os velhos ensinamentos de seu mestre na Academia Julian, Adolphe Déchenaud, Cavalleiro abandonou pouco a pouco a sua maneira inicial impressionista por uma arte mais construída e pensada: não mais as sutilezas cromáticas ou atmosféricas, porém a procura de uma solidez estrutural baseada em Cézanne, um artista que exerceu sobre o jovem brasileiro extraordinário fascínio, em começos da década de 1920. Do período que vai de 1923 ao fim do seu estágio em França datam obras importantes, como Vestido Rosa, ainda impressionista, Nu diante do Espelho e Mimi o Modelo, telas essas que, no dizer do próprio Cavalleiro, "já revelam tendências no sentido de volumes e valores tonais, segundo o princípio de Cézanne". Expondo em 1924 na Société Nationale des Beaux Arts, Cavalleiro tem seu trabalho aproximado de Kees Van Dongen pelo crítico do Le Journal - aproximação pertinente, porquanto certos elementos fauves e expressionistas revelavam-se na pintura do brasileiro. Retomando em 1925, o pintor realizou duas individuais, no Rio e em São Paulo, encontrando nessa última "uma elite artística mais avançada nas teorias modernas, que soube dar melhor aceitação à minha maneira de sentir e pintar". Menotti del Picchia gabou-lhe, por exemplo, "a construção sólida, a plasmação de volumes realizados por linhas mais precisas e massas de cor mais sintéticas", enquanto no Rio, Virgílio Maurício disse de sua obra ser "original e pessoal demais em um meio onde só se admiram as cópias fotográficas da natureza". É de 1926 uma bela têmpera, Juventude, representando uma ruptura no caminho do artista. Trata-se de duas figuras femininas, uma desnuda, a outra amparando na mão uma pomba de asas abertas. Toda a composição, muito estilizada, obedece aos postulados do Art Déco, então em voga na Europa e, através de John Graz e sobretudo Brecheret, também no Brasil. Em 1927 era-lhe concedida no Salão a medalha de ouro; logo depois, em 1930, por curto tempo retornaria à Europa, para estudar arte decorativa. Cabe aqui um parêntese sobre sua intensa atividade como ilustrador e caricaturista, iniciada em 1906 em O Malho, com
  • 2. colaborações posteriores em Fon-Fon, A Manhã, O Teatro, O Jornal, Ilustração Brasileira e, após 1929, O Cruzeiro. Por volta de 1940 a arte de Henrique Cavalleiro exibe revitalização, caracterizada por acentuada busca de textura pictórica e um sentimento passional da cor. É o momento das paisagens de Teresópolis, dos nus e figuras construídos mediante uma matéria ricamente expressiva, com larga utilização de cores truculentas, entre as quais se destacam os violetas e os azuis, os amarelos e os laranjas, os verdes, os vermelhos. Professor da Escola Nacional de Belas Artes desde 1938 até jubilar-se em 1962, coube a Cavalleiro orientar grande número de alunos, entre eles Martinho de Haro, Roberto Burle-Marx e Ubi Bava, bem como, mais recentemente, Júlio Vieira e Píndaro Castelo Branco, demonstrando, a amplidão desse espectro, a largueza de sua orientação. Cavalleiro, que era casado com a pintora Yvonne Visconti Cavalleiro, faleceu a 26 de agosto de 1975, poucos dias após a abertura de sua grande retrospectiva no Museu Nacional de Belas Artes. No curto depoimento que escreveu para essa mostra, o velho artista deixou aliás grafadas essas frases, que se revelariam tristemente proféticas: - Finalmente, farei aqui uma referência toda especial ao meu querido Marques Júnior, que nunca me saiu nem me sairá da memória. Figura excelsa de artista, professor emérito, esse inesquecível amigo foi para mim um guia, um animador que me ajudava a vencer dificuldades, tão freqüentes na vida do artista. Recordando-o com emoção, encerro este trabalho, citando reverentemente o seu nome. Até breve, Marques Júnior! Jardim do Luxemburgo, Paris, óleo s/ tela, cerca 1930; 0,45 X 0,54, Museu Nacional de Belas Artes.