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SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE
BACHAREL EM TEOLOGIA
A Doutrina Bíblica do Pecado
Alberto Simonton Albuquerque Pereira
RECIFE
2006
2
SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE
BACHAREL EM TEOLOGIA
A Doutrina Bíblica do Pecado
Alberto Simonton Albuquerque Pereira
RECIFE
2006
Monografia apresentada sob orientação do Rev.
Stéfano Alves dos Santos, objetivando cumprir
as exigências do Presbitério do Agreste de
Pernambuco (PAPE), de acordo com as
disposições contidas no Art. 120 alínea “b” da
CI/IPB, que trata de licenciatura e ordenação de
candidatos ao Sagrado Ministério.
3
FOLHA DE APROVAÇÃO
___________________________________________
Orientador Rev. Stéfano Alves dos Santos
Data de aprovação:____/_____/_____
i
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu Mestre, Capacitador, e Salvador da minha vida. O qual tem me abençoado em
todo o tempo, e me vocacionou para este ministério.
À minha esposa pelo apoio dado a mim em todos os momentos difíceis me incentivando
nesta jornada custosa, sendo também um constante auxílio na vida.
À minha família que sempre esteve lado a lado comigo quando precisei.
À Igreja Presbiteriana de Lajedo pelo apoio concedido durante todo o período do curso.
Ao Presbitério do Agreste de Pernambuco que depositou sua confiança em mim
reconhecendo meu chamado ao sagrado ministério.
Aos professores do Seminário Presbiteriano do Norte que colaboraram em meu crescimento
intelectual, preparando-me mais para o ministério.
ii
5
DEDICATÓRIA
À minha esposa, que é uma dádiva de Deus para minha vida.
À minha família, a quem desejo todas as bênçãos da parte de Deus.
iii
6
BASE CONFESSIONAL
Confissão de Fé de Westminster
Capítulo VI Seção I
“Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram ao comerem
do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este
pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória.”
iv
7
SUMÁRIO
Folha de aprovação...................................................................................................... i
Agradecimentos........................................................................................................... ii
Dedicatória.................................................................................................................. iii
Base Confessional....................................................................................................... iv
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 08
Capítulo 1
AS CONCEPÇÕES HUMANAS DO PECADO NA HISTÓRIA
1.1 A concepção de pecado da Igreja Católica Romana............................................. 13
1.2 O conceito de pecado dos reformadores............................................................... 21
1.3 Os puritanos e a concepção de pecado.................................................................. 22
1.4 O conceito de pecado após o Iluminismo.............................................................. 23
Capítulo 2
A EXISTÊNCIA DO PECADO NA VIDA HUMANA
2.1 O pecado e sua relação com Deus......................................................................... 30
2.2 Definição de pecado.............................................................................................. 35
2.3 As conseqüências do pecado................................................................................. 37
2.4 Cristo e sua vitória sobre o pecado........................................................................ 41
Capítulo 3
A NECESSIDADE DE VIDA HUMANA SEM PECADO
3.1 Justificação: Vitória sobre a condenação do pecado............................................. 44
3.2 Santificação: Vitória sobre o domínio do pecado................................................. 48
3.3 Glorificação: Vitória sobre a presença do pecado................................................. 52
CONCLUSÃO............................................................................................................. 57
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 60
8
INTRODUÇÃO
O homem tem se mostrado um ser altamente progressivo. Desenvolve tudo que
utiliza a cada ano que passa. Novidades vão surgindo rapidamente em todos os aspectos
que possamos pensar. Dia a dia o homem modifica seu ambiente para melhor. Porém, o
mais intrigante não é sua capacidade de criar, mas a sua capacidade de destruir. A maldade
presente no coração humano é tão real quanto sua capacidade intelectual para invenções. E
assim como podemos receber tantas dádivas provindas de suas mãos, também podemos ver
a perversidade e a maldade surgindo cada vez mais de seu coração.
O mal que brota do coração do homem - denominado de pecado pela Bíblia – é
uma realidade presente em todo o mundo. Mesmo entre aqueles que não crêem na Bíblia,
há uma distinção entre aquilo que o homem faz de „bom‟ e aquilo que ele faz de „mal‟. E
ainda que não recorramos à Bíblia para demonstrar a irrefutável verdade da existência do
pecado entre os homens, mesmo assim podemos provar por outros meios. Como mesmo
fala o teólogo Donaldo D. Turner:
“A reconhecida necessidade de que deve existir um governo com autoridade, os cárceres e
as penitenciárias, os advogados, os juízes e os tribunais de justiça, muitos policiais,
exércitos e navios de guerra pertencentes às nações do mundo, provam a existência do
pecado em toda parte”.1
Desde os tempos mais antigos vemos a manifestação do pecado na raça humana.
Tão arraigado está entre os povos que chega a fazer parte dos seus provérbios populares. A
China, um povo existente desde há muito tempo, possui um provérbio que assim diz:
1
Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação. São Paulo, Imprensa Batista Regular,
1985, p 24.
9
“Existem dois homens bons: um é aquele que está morto e o outro é o que ainda não
nasceu”.2
Por mais que se queira negar sua presença, ou por mais que se deseje a sua ausência,
a verdade é que “o pecado é o fator inevitável em nossa história”.3
Está inserido nela, de tal
forma que não é possível negá-lo. Como diz o Dr. Jorge P. Pardington: “O conhecimento
ou sentido não dá um testemunho vacilante com referência à realidade do pecado. Todo
indivíduo sabe que é pecador. Nenhuma pessoa em idade responsável vive livre de um
sentimento de culpabilidade ou contaminação moral”4
.
Já que não pôde extirpá-lo da humanidade, o homem correu em direção às
explicações do que seria o pecado e o mal. A antropologia deu sua parcela de contribuição,
mas não foi satisfatória. Como bem observou Bruce Milne:
“As antropologias seculares, porém não dão a ajuda necessária. Apesar da diversidade, elas
não têm uma resposta às questões finais: De onde veio a humanidade? Qual sua importância
final? Para onde vamos? Além disso, estão cheias de tensões não resolvidas em sua
compreensão da humanidade.”5
Sendo imperfeita em suas declarações, a antropologia deve então ceder lugar a
quem possa dar respostas convincentes ao homem. Com respeito a isto, temos que
considerar que, com certeza, “o conceito que qualquer pessoa, ou qualquer povo, tenha do
pecado é determinado por seu entendimento do caráter de Deus e da natureza do homem”.6
Por esta razão, a fonte de onde o homem vai tirar suas conclusões a respeito do pecado é de
suma importância. O cristianismo, por possuir em suas mãos a revelação vinda do próprio
Deus, não deveria jamais negligenciar o que dela se pode aprender sobre o tema pecado.
2
Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 25.
3
William Fitch, Deus e o Mal. São Paulo, PES, 1984, p 71.
4
Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 25.
5
Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia. São Paulo, ABU Editora S/C, 1996, p 12.
6
Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro, JUERP, 1977, p 149.
10
Ela é a fonte mais segura de que o homem possa dispor! Contudo, infelizmente, não é
assim que acontece, e nem sempre aconteceu. Hoje em nossos dias podemos encontrar
muitos cristãos que não sabem distinguir, em meio aos conceitos errados do mundo, o que
realmente é pecado.
Para complicar mais ainda a situação, há divergências nas interpretações sobre este
assunto de pecado. E não somente isto, mas há também desvios doutrinários em relação ao
mesmo. Sob pelo menos dois aspectos percebemos desvios da verdadeira doutrina bíblica a
cerca do pecado. O primeiro desvio foi com relação ao próprio conceito de pecado; o
segundo desvio se deu pela maneira como os cristãos devem se comportar em relação a ele.
Acontece desta forma porque a mente humana pecaminosa tem dado as mais
possíveis saídas para se desculpar dos seus pecados. O homem não quer assumir suas faltas
diante do Criador. Como se não bastasse, o diabo também não pretende deixar que o
homem concorde com Deus a respeito da maldade que o pecado faz na vida da
humanidade. Donaldo D. Turner em seu livro A Doutrina do Pecado e da Salvação
expressa de maneira clara este fato:
“O diabo sabe que, enquanto a consciência do homem estiver mais ou menos tranqüila,
deixando-se enganar por um conceito errado da natureza do pecado e suas conseqüências,
não há muito medo de que tal alma chegue um dia a interessar-se pela sua salvação”.
7
A humanidade tem fugido da verdade acerca do pecado e entrado em um caminho
mentiroso. Camuflando suas responsabilidades perante seu Deus, insiste em realizar „atos
religiosamente mais necessários e bondosos‟. Troca-se a obediência pela falsa religiosidade
entre os homens. Dietrich Bonhoeffer bem percebeu este falso caminho de adoração
analisando a situação já presente em sua época:
7
Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 62.
11
“Diz-se por aí que é uma brutalidade da Igreja não querer compreender que sua primeva
tarefa hoje é servir às necessidades físicas. Se ela achar que, mesmo em nossos dias, ainda
devia falar, sempre e primeiramente de Deus, deixando o problema do pão para depois, é
crime”.8
Diante deste quadro triste de anormalidade do comportamento de muitos cristãos em
relação ao pecado, a Igreja não deve permanecer inerte. Considerando as necessidades pelas
quais a Igreja passa nesta época, este trabalho se propõe a conseguir respostas sobre o
assunto, a fim de conhecê-lo de modo mais claro e profundo. Em seguida, demonstrar o
imperativo bíblico de se viver uma vida santa. O tema será explorado na seguinte ordem:
No primeiro capítulo está apresentado As Concepções Humanas do Pecado na História. O
modo como o tema foi considerado por diversos teólogos e filósofos durante a história da
Igreja, revelando que nem sempre o pecado foi definido de uma forma única e objetiva. Em
seguida, no segundo capítulo, está exposto A Existência do Pecado na Vida Humana.
Abordando como se deu a entrada do pecado no mundo, sua relação com Deus e Seu pacto,
e as suas conseqüências visíveis e invisíveis. Para finalizar, o último capítulo fala sobre A
Necessidade de Vida Humana sem Pecado. Este capítulo apresenta verdades que devem
levar o cristão a pelejar contra o pecado.
Concluído o trabalho, o objetivo é podermos contemplar e esperar o futuro, que será
bem diferente da realidade percebida aqui nesta terra. É bem certo que o Catecismo Maior
de Westminster ensina que o episódio da Queda atingiu todo ser humano. Nele
encontramos o seguinte: “O pacto, sendo feito com Adão, como um representante legal,
não para si somente, mas para toda a sua posteridade, todo o gênero humano,
descendendo dele por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele naquela primeira
8
Dietrich Bonhoeffer, Tentação. São Leopoldo, Editora Sinodal, 1991, p 20.
12
transgressão.”9
E é verdade igualmente, que a presença do pecado incomoda nossa
perspectiva de vida como vemos nos pequenos versos de Francis Thompson:
“Nada há que se inicie e se consume
que não venha a ser pago com queixume,
pois com alheia dor todos nascemos
e com a nossa própria perecemos”10
Porém, não devemos nos desanimar, visto que Deus tem um propósito em tudo que
faz. Ele é todo Sábio, e intrinsecamente Santo. Nós não podemos conhecer ou entender
tudo que Ele faz. Bem verdade que vemos desgraças acontecendo no mundo a todo
instante. Mesmo assim, “em última análise, embora ainda não enxerguemos o esquema do
Seu método, o mal será transformado num meio de glorificar a Deus”.11
9
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Editora Cultura Cristã,
1999, p 16.
10
William Fitch, Deus e o Mal, p 7.
11
Ibid, p 17.
13
CAPÍTULO 1
AS CONCEPÇÕES HUMANAS DO PECADO NA HISTÓRIA
1.1 - A concepção de pecado da Igreja Católica Romana
Embora tendo uma quantidade enorme de adeptos, a Igreja Católica está muito
afastada da revelação divina encontrada nas Escrituras. De certo não foi assim desde o
princípio, visto que a Igreja Primitiva perseverava na doutrina dos Apóstolos (At
2:42).12
E ainda que ela carregue o título de „católica‟, não obstante tem se afastado da
Palavra de Deus. O intrigante é que a designação católica foi dada a Igreja com sentidos
bem diferentes daquilo que ela crê e pratica nos dias atuais. O escritor Justo L. Gonzalez,
em um de seus livros, nos informa o seguinte sobre o surgimento do termo „católica‟
utilizado em relação à igreja: “Essa igreja era também „católica‟ porquanto pregava e
ensinava o evangelho „segundo o todo‟... em lugar de basear sua autoridade sobre tal ou
qual apóstolo, a igreja „segundo o todo‟ a basearia sobre „todos‟ os „apóstolos‟.”13
A história da Igreja, acoplado ao nosso conhecimento das doutrinas da Igreja
Católica Romana hoje em dia, não nos deixa dúvidas de que “juntamente com o
desenvolvimento da doutrina teológica, desenvolviam-se também as seitas, ou como lhes
chamavam, as heresias na igreja cristã”.14
O que foi acontecendo é que “os cristãos do
12
A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada
no Brasil. Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 128.
13
Justo L. Gonzalez, E Até os Confins da Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo. A Era dos
Mártires. Vol I. São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1980, pp 107-108.
14
Jesse Lyman Hurlbut, História da Igreja Cristã. Flórida, Editora Vida, 1990, p 61.
14
segundo e terceiro séculos lutaram não só contra as perseguições do mundo pagão, mas
também contra as heresias e doutrinas corrompidas, dentro do próprio rebanho.”15
Visto a Igreja Católica ter se desviado das Escrituras, sua doutrina acerca do pecado
também se afastou consideravelmente. Portanto, é digno de nota explicar as suas
concepções sobre o tema.
1.1.1 - Conceito de pecado
O conceito de pecado que a Igreja Católica professa tem haver somente com as
atitudes exteriores da natureza pecaminosa, e não com a corrupção da própria natureza16
passada a nós por meio de Adão. Segundo o teólogo Louis Berkhof esse é o conceito da
Igreja Católica:“O verdadeiro pecado sempre consiste num ato consciente da vontade. É certo que
as disposições e os hábitos que não estão de acordo com a vontade de Deus são de caráter
pecaminoso; contudo, não se lhes pode chamar pecados, no sentido estrito da palavra”.17
1.1.2 - Concepção do pecado original
Como foi exibido acima, a Igreja Católica Romana possui um conceito errado sobre
o pecado. Portanto, podemos esperar uma deturpação dos demais aspectos relacionados a
ele como uma conseqüência natural e provável. E é exatamente o que acontece. Ou seja, a
Igreja Católica falhou não unicamente em seu conceito sobre a essência do pecado em si,
mas também falhou com relação a sua idéia de „pecado original‟. Que, diga-se de
passagem, é totalmente deturpada e carente do testemunho bíblico. O teólogo David Clark,
15
Jesse Lyman Hurlbut, História da Igreja Cristã, p 61.
16
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17.
17
Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 237.
15
expondo a doutrina do pecado original da Igreja Católica Romana, nos relata com precisão
o pensamento dela por meio das seguintes proposições:
1-O homem foi criado corpo e alma, mas estes eram antagônicos entre si;
2-A justiça ou retidão original foi um dom adicional, a fim de harmonizar os elementos
antagônicos da matéria e do espírito na constituição do homem;
3-Na queda o homem perdeu sua justiça original e ficou no estado de desarmonia em que
fora criado;
4-O pecado original é a perda da justiça original com a conseqüente desarmonia;
5- Todos, portanto, nasceram em pecado, mas o batismo remove esse pecado original e não
deixa nada na alma que seja propriamente de natureza pecaminosa. Entretanto, todos
podem pecar de novo por causa da concupiscência que ainda permanece (fomes –
combustível), mas esta concupiscência não é de natureza pecaminosa. 18
1.1.3 - Pecados veniais e mortais
Na doutrina da Igreja Católica Romana nos deparamos com uma „classificação de
pecados‟ formulada com o passar dos anos de sua história. Esta classificação consiste em
dois tipos de pecados: Os pecados veniais e os pecados mortais. Onde o pecado mortal
significa que “torna o pecador passível de castigo eterno”.19
A presente distinção está baseada no texto encontrado em (Gl 5:21)20
: “ invejas,
bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro,
18
David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática. Recife, Casa Editora Presbiteriana, s/d, pp
217, 218.
19
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 254.
20
Ibid, p 253.
16
como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas
praticam”.21
A despeito de encontrarmos a declaração de que não herdarão o reino de Deus
os praticantes daqueles pecados, não implica que exista esta classificação de pecados no
texto. A classificação de pecados capitais (ou mortais) não é apoiada pela Bíblia, mas é
oriunda da teologia do período medieval da Igreja. “Alguns teólogos monásticos
provavelmente a princípio estabeleceram esse grupo de pecados, ao tentar sistematizar e
identificar todos os pecados essenciais, não necessariamente os mais sérios”.22
Esta opinião não ocorreu entre os teólogos de forma isolada na história da Igreja.
“Clemente de Alexandria e Orígenes admitiam que se podia traçar uma linha entre pecados
perdoáveis e não perdoáveis, mas recusaram classificá-los.”23
Entretanto, nem todos foram
como eles. “Tertuliano foi um estágio adiante e arrolou os pecados mais repulsivos
(incluindo homicídio, adultério, blasfêmia e idolatria ) como além de perdão, enquanto que
ofensas menos importantes podiam ser perdoadas.”24
A partir daí, o desenvolvimento
ocorre com o tempo até a conhecida diferenciação entre pecados „mortais‟ e pecados
„veniais‟. E surgindo também os „sete pecados mortais‟: Soberba, gula, luxúria, avareza,
inveja, ira, e a preguiça.
É inevitável que aprovando esta classificação, se abra uma porta para os
insubordinados cometerem „livremente‟ os pecados perdoáveis – veniais. Em razão disto,
21
A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada
no Brasil, p 204.
22
John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 158.
23
John R. W. Stott, I, II e III João – Introdução e Comentário. São Paulo, Sociedade Religiosa
Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão, 1982, p 161.
24
Ibid, p 161.
17
está presente em seu corpo de doutrina o próprio freio para esta possibilidade. O teólogo F.
R. Harm nos apresenta nitidamente o ensino da Igreja Católica a este respeito:
“para que ninguém se torne complacente, é indicado que o pecado venial pode levar ao
pecado mortal. Quando a pessoa se torna absorvida por seu pecado, a ponto de este se tornar
uma obsessão que finalmente a leva a desviar-se de Deus, a fonte de sua vida, ela entrou no
domínio do pecado mortal – e da morte eterna.”25
1.1.4 - Perdão de pecados
Tendo em vista que a Igreja Católica concebe a doutrina do pecado como algo que
afasta o homem de Deus, e também acredita na vida após a morte, é compreensível que ela
tenha um conceito de perdão de pecados. A doutrina Católica do perdão dos pecados
abrange pelo menos quatro aspectos: Penitência, batismo, Cristo e a missa.
Consideremos primeiramente a penitência. A palavra penitência, no Pequeno
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, vem com a significação que se segue: “...
pena imposta pelo confessor para remissão dos pecados; sacrifícios para expiação dos
pecados”.26
Esta definição da palavra „penitência‟ encontrada neste dicionário é apropriada,
uma vez que está de acordo com a visão Católico-Romana do termo. Só é necessário
acrescentar que o pecado venial, segundo a Igreja Católica, “é perdoado com maior
facilidade, e até mesmo sem confissão. O perdão pelos pecados mortais só pode ser obtido
pelo sacramento da penitência”.27
Observemos o que o Concílio de Trento (1545-1563) fala sobre a penitência em suas
declarações da Sessão XIV (novembro de 1551). Rejeitando veementemente a posição
25
F. R. Harm, pecado mortal. In Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III. Walter
A. Elwell, editor, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, p 118.
26
Hildebrando de Lima, organizador, Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Rio de
Janeiro, Editora Civilização Brasileira S.A., s/d.
27
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 254.
18
protestante com respeito ao perdão dos pecados, a Igreja Católica Romana considera
anatematizadas as seguintes proposições:
“Que para a inteira e perfeita remissão dos pecados não são requeridos três atos num
penitente, como se fossem a matéria do sacramento, a saber, contrição, confissão e
satisfação... que as palavras de Nosso Senhor e Salvador: “A quem perdoardes os pecados”
etc[Jo 20.23] não devem ser entendidas como o poder de perdoar ou reter pecados no
sacramento da penitência...que a confissão sacramental não foi instituída pela autoridade
divina, nem é necessária para a salvação pela autoridade divina”28
Estas proposições anatematizadas demonstram como a Igreja do Senhor,
anteriormente „pura‟, com o passar do tempo chegou a rejeitar a verdade encontrada nas
Escrituras. Esta rejeição da Revelação não durou muito para acontecer. Já no tempo do
século VI, havia manuais que descreviam o modo das penitências.29
Num destes manuais
dizia que: “fazer penitência podia incluir jejum e orações, dar esmolas, viver em
abstinência, e assim por diante”.30
Com o passar dos anos foi acrescentada a confissão a um
sacerdote como meio também de absolvição de pecados.31
Como está patente, a heresia do
perdão de pecados por meio de penitências existe há muito tempo.
Voltemo-nos agora para a doutrina do batismo em relação ao pecado. O batismo na
doutrina da Igreja Católica Romana também exerce um papel importante com respeito ao
perdão de pecados. Para o catolicismo, o batismo é “eficaz para a salvação. Uma condição
sine qua non”.32
Segundo a compreensão da Igreja Católica Romana, o batismo “livra da
culpa do pecado original e de todos os pecados atuais cometidos até à hora do batismo,
28
Henry Bettenson, editor, Documentos da Igreja Cristã. São Paulo, ASTE, 1998, p 368.
29
Bengt Hägglund, História da Teologia. Porto Alegre, Concórdia, 1981, p 135.
30
Ibid, p 135.
31
Ibid, p 136.
32
David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 337.
19
remove a corrupção do pecado, embora permaneça a concupiscência, e liberta o homem da
punição eterna e de todas as punições temporais positivas”.33
Como se não fosse satisfatória esta doutrina do batismo relacionado ao livramento
da corrupção e culpa do pecado, eles dizem que as boas obras servem igualmente para a
salvação do ser humano. Sintetizando, “a teoria católico-romana realmente importa em
duas justificações: uma por causa da graça infundida no batismo e a outra por causa do
mérito das boas obras praticadas pelo próprio homem”.34
“Embora a fé leve ao batismo com
sua graça infundida ou comunicada, fundamento final da justificação são as boas obras”.35
Quanto a Cristo e Sua obra contra o pecado, por mais absurdo que se apresente aos
olhos dos protestantes, a verdade é que na doutrina da salvação ensinada pela Igreja
Católica, o papel da obra de Cristo é um tanto limitado e inseguro. Cristo não é o salvador
eficaz dos eleitos de Deus. Ele é somente aquele que abriu a “porteira da salvação” para
quantos quiserem nela entrar. Ele a tornou possível, mas não real. Notemos a posição da
Igreja Católica explicada pelo teólogo Louis Berkhof:
“A expiação não somente tornou a salvação possível para o homem, mas de fato a garantiu.
Sobre este ponto os calvinistas contestam os católicos romanos, os luteranos, os arminianos
e todos quantos ensinam uma expiação universal. Estes afirmam que a expiação de Cristo
apenas tornou a salvação possível, e incerta, para aqueles a quem é oferecida.”36
O outro aspecto aceito e defendido pelos católicos que colabora no perdão dos
pecados é a missa. Dentre as finalidades da Santa Missa enumeradas por eles está: “Aplacar
a sua justiça e obter misericórdia (sacrifício propiciatório).”37
Do ponto de vista do
33
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pp 631, 632.
34
David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 319.
35
Ibid, p 321.
36
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 394.
37
A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de
mai/2006.
20
catolicismo, “o Santo sacrifício da Missa é oferecido para adorar e glorificar a Deus, para
obter o perdão dos pecados, para pedir graças e favores pessoais e também pelas almas do
Purgatório.”38
A missa é tão poderosa que é capaz de beneficiar até os mortos „no
purgatório‟! Para uma melhor compreensão do papel que a missa exerce com referência ao
perdão dos pecados, vejamos a visão que eles demonstram ter sobre ela:
“É uma prolongação perene e incruenta (sem derramamento de sangue) do mesmo
Sacrifício do Calvário. Ambos os sacrifícios, o da Cruz no Calvário, e o da Missa em
nossos altares, constituem um único e idêntico sacrifício, pois que a Vítima e o Oferente
destes sacrifícios é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. O Sacerdote, como "Mediador
entre Deus e os Homens" (1 Tim. 2, 5) oferece o Santo Sacrifício da Missa em nome de
Jesus Cristo e da sua Igreja, pela salvação do mundo.”39
A idéia católica do poder da missa sobre os pecados está bem expressa nas palavras
de Leonardo de Porto Maurício: “Deus vos perdoa todos os pecados veniais que estais
determinados a evitar. Ele vos perdoa todos os vossos pecados desconhecidos que jamais
confessáreis. O poder de Satanás sobre vós é diminuído”.40
“ Por cada Missa tendes
diminuída a punição temporal devida a vossos pecados, mais ou menos, de acordo com
vosso fervor”.41
Os fiéis não estão realizando a missa sem esperança. Pelo contrário, a
promessa oferecida implicitamente na missa para os fiéis é causa suficiente para
perseverança em participar dela: “Cada Missa irá convosco ao Julgamento e implorará por
perdão para vós”.42
38
A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de
mai/2006.
39
A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de
mai/2006.
40
Leonardo de Porto Maurício, O Tremendo Valor da Santa Missa. Disponível em
rosariopermanente.leiame.net/catequese/missa.php acessado em 25 de mai/2006.
41
Ibid.
42
Ibid.
21
Por possuir um papel de enorme valor dentro da matéria de pecado, os fiéis devem
participar dela constantemente. No entender de teólogos durante a história da Igreja, a
missa é de valor altíssimo e deve ser considerada pelos fiéis. Nas palavras de Santo
Agostinho:
"Na hora da morte, as Missas, às quais tiveres assistido, serão a tua maior consolação. Um
dos fins da Santa Missa é alcançar para ti o perdão dos teus pecados. Em cada Missa, pois,
podes diminuir a pena temporal devida aos teus pecados, pena essa que será diminuída na
proporção do teu fervor. Será ratificada no céu a bênção, que do sacerdote receberes na
Santa Missa. Assistindo-a com devoção, prestas a maior das honras à Santa Humanidade de
Jesus Cristo" 43
Já na visão de São Jerônimo: "Cada Missa à que assistires, alcançar-te-á no céu
maior grau de glória. Serás abençoado em teus negócios pessoais e obterás as graças, que
te são necessárias".44
1.2 - O conceito de pecado dos reformadores
A reforma também contribuiu para uma definição de pecado. Desta feita, a
concepção de pecado não estava apoiada no que os reformadores achavam, nem ancorados
pela tradição, pois não havia nenhuma tradição reformada ainda. Mas certamente os
reformadores ao conceituar pecado procuraram uma regra maior e mais confiável para sua
concepção – Sola Scriptura. Porém, apesar de haver mais de um reformador na história da
igreja, iremos nos deter ao pensamento de Calvino, por ser ele base para nossa teologia
reformada.
43
A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de
mai/2006.
44
A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de
mai/2006.
22
Na concepção de Calvino, o pecado é uma questão de desobediência a Deus.
Vejamos nas suas palavras:
“A proibição contra o comer da árvore do conhecimento do bem e do mal era um teste de
obediência, de modo que Adão, ao obedecer, pudesse demonstrar que estava disposto a
sujeitar-se à autoridade de Deus... Visto que a mulher foi levada pelo engano da serpente a
descrer da Palavra de Deus e a desobedecê-la, fica evidente que o próprio início da queda
era a desobediência”.45
Como percebemos, a concepção dele era que o pecado consistia em não obedecer a
Palavra de Deus. Esta forma de ver o assunto é altamente bíblica e fundamentada em
profundo estudo das Escrituras. Diferentemente da concepção Católica. Sua concepção foi
tão acertada que é seguida mais tarde pelo movimento puritano da Inglaterra.
1.3 - Os puritanos e a concepção de pecado
1.3.1 - Quem foram os puritanos?
Antes de entender qual a concepção de pecado que os Puritanos abraçaram, é mister
conhecer quem eles foram e o que queriam. Logo de início esclarecemos que a designação
„puritano‟, não reflete admiração para com aqueles que seguiam determinada linha de
pensamento. Ao contrário disto, a expressão não era para elogiar, mas para denegrir.
“Sempre foi uma palavra satírica e ofensiva, subentendendo mal-humor, censura,
presunção, e certa medida de hipocrisia”.46
A expressão „Puritano‟ fazia referência a um corpo de pessoas dentro da Igreja da
Inglaterra. O teólogo J. I. Packer pode nos auxiliar com sua breve explicação a cerca do
surgimento do Puritanismo e do contexto em que estavam inseridos:
45
Joseph Pitts Wiles, Ensino Sobre o Cristianismo. São Paulo, PES, p 106,107.
46
J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus. São José dos Campos, Editora FIEL, 1996, p 17.
23
“Defino o puritanismo como o movimento dos séculos XVI e XVII, na Inglaterra, que
procurava reformar e renovar profundamente a igreja da Inglaterra, além do que era
permitido pelo Acordo Elisabetano”.47
“Em resumo, os puritanos queriam excluir do culto
anglicano qualquer coisa que não fosse ordenada pelas Escrituras”.48
A importância deles para nosso estudo não é a coragem de enfrentar todos para
conseguir reformar a igreja de seu país. “Eles desejavam “purificar” a igreja livrando-se dos
“papistas” que ainda restavam”,49
isto é muito positivo. Mas o que eles eram como cristãos
é que nos é respeitável. Pode-se até perguntar: “O que estes zelotes nos poderiam dar do
que precisamos? A resposta é, em uma palavra, maturidade”.50
Não simples cristãos que
estiveram de passagem na terra da Inglaterra. Eram mais do que somente isto. Novamente
utilizando as palavras de J. I. Packer:
“Os Puritanos típicos não eram homens selvagens, ferozes e monstruosos fanáticos
religiosos, e extremistas sociais, mas sóbrios, conscienciosos, e cidadãos de cultura, pessoas
de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas virtudes domésticas, e sem grandes
defeitos... eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus”.51
1.3.2 - O conceito de pecado dos puritanos
Não poderia haver lugar mais claro para se obter o ensino dos Puritanos sobre a
doutrina do pecado do que na Confissão de Fé de Westminster e no Catecismo Maior.
Nelas podemos enxergar nitidamente a posição deles a respeito do tema. Para conhecermos
o conceito de pecado expresso por eles vamos nos valer do Catecismo Maior de
Westminster em sua resposta à pergunta „o que é pecado?‟: “Pecado é qualquer falta de
47
J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus. São José dos Campos, Editora FIEL, 1996, p 33.
48
Robert E. Clouse; Richard V. Pierard; Edwin M. Yamauchi; Dois Reinos – A Igreja e a cultura
interagindo ao longo dos séculos. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003, p 326.
49
Ibid, p 326.
50
J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus, p 18.
51
J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus, p 18.
24
conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como
regra à criatura racional”.52
Ou seja, os puritanos conseguiram entender que mais do que cumprir a Lei divina
exteriormente, Deus requer uma atitude do coração que seja idêntica ao que exige a Sua
Lei. Qualquer ponto em discordância com ela, seja além, seja aquém, é digno de se chamar
pecado.
1.4 - O Conceito de Pecado após o Iluminismo
1.4.1 - O que foi o Racionalismo (Iluminismo)?
“A era do iluminismo (alemão, Die Aufklärung) abrange, a grosso modo, o século
XVIII.”53
Esta época é marcada pela presença do racionalismo. “A causa principal dessa
tendência para o racionalismo foi o desenvolvimento extraordinário do conhecimento que
começara na Renascença”.54
Na realidade o racionalismo não surgiu somente nesta época,
porém muitos anos antes com os gregos. Entretanto, o racionalismo apesar de estar presente
na filosofia grega, “é mais freqüentemente associado com os filósofos do iluminismo tais
como Descartes, Spinoza e Leibniz”.55
“Embora o Iluminismo tenha tido algumas das suas
raízes no Racionalismo do século XVII, as idéias que o caracterizam foram muito além do
Racionalismo de Descartes, Spinoza e os demais pensadores contemporâneos deles.” 56
52
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17.
53
C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II. Walter A. Elwell,
editor, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, p 306.
54
Robert Hastings Nichols, História da Igreja Cristã, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992,
p 223.
39
G. R. Habermas, Racionalismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p
225.
56
C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 306.
25
Foi uma época de grandes progressos na ciência e no conhecimento humano. Um
valor enorme foi dado aos poderes da razão. Caminhando desta forma “o espírito da era
moveu homens a submeterem todas as idéias e instituições a uma prova racional, para então
decidirem se tais idéias e instituições eram dignas de aceitação.”57
Esta maneira de pensar atingiu todas as áreas do pensar existentes no mundo. E
como não poderia deixar de ser, as crenças religiosas também foram atingidas. O
racionalismo substituiu a revelação pela razão e os sentidos, sendo estes últimos
considerados os caminhos naturais para o saber.58
O desvio foi tão grande, que o modo de
olhar as Escrituras foram os mais variados possíveis. A tal ponto de aparecerem no
desenrolar da história pessoas como Gottlieb E. Lessing (1729-1781) que negava “qualquer
distinção entre cristianismo e religiões não-cristãs”.59
O Racionalismo penetrou fortemente nos conceitos de vários cristãos. Sua invasão
destruidora não foi irrelevante. O Iluminismo do século XVIII, é marcado por
características distintas:
“Acentua-se o impulso racionalista que assaltara a teologia no período escolástico: agora,
não se contenta mais em provar a racionalidade da fé demonstrando que as verdades
reveladas se harmonizam com os cânones da razão, mas também submete a Revelação ao
tribunal da razão, dando a esta o dever de purificá-la de todos os elementos
sobrenaturais.”60
O Iluminismo não chegou sem deixar sua marca degradante na teologia da Igreja.
Por causa de sua “nova maneira de pensar”, muitos perverteram a revelação das Escrituras.
A Bíblia já não era o fator sobrenatural que calava todas as outras vozes, mas sim, era
57
Robert Hastings Nichols, História da Igreja Cristã, p 223.
58
Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo, Vida Nova, 1995, p 322.
59
Batista Mondin, Os Grandes Teólogos do Século Vinte. São Paulo, Editora Teológica, 2003, p
23.
60
Batista Mondin, Os Grandes Teólogos do Século Vinte, p 21, 22.
26
apenas mais um dos diversos livros a serem “dissecados” cientificamente por estudiosos
sem nenhum compromisso com Deus. E, além do mais, todos os conceitos bíblicos teriam
que passar pela peneira da razão.
1.4.2 - A influência do racionalismo sobre a concepção de pecado
O período do Iluminismo passou, mas apesar disto ele “deixou a sua marca na
mente moderna. Muitas das idéias que são tomadas por certas na sociedade ocidental têm
sua origem na Era do Iluminismo.”61
Na teologia também vemos suas conseqüências.
Chegando “no século XIX, os teólogos que estavam fascinados pela nova cosmovisão
associada com o iluminismo e o romantismo começaram a reinterpretar o pecado”.62
E em
meio a estas reinterpretações, nós percebemos visivelmente a fuga do homem para não
assumir a perversidade que é o pecado.
O pecado já não tem o „peso‟ que deveria ser reconhecido pelo pecador, mas é
suavizado o mais que possível. “Hoje a verdade acerca do pecado é disfarçada por
eufemismos, e os nossos pecados se tornam meros „pecadilhos, „fraquezas temperamentais‟
ou „problemas de personalidade‟.”63
Este é um mal que foi se espalhando entre os teólogos
e infelizmente fez surgir os mais variados modos de se conceituar ou explicar o pecado.
É de grande importância averiguar os conceitos que se desenvolveram depois do
impacto do racionalismo para que tenhamos uma visão geral de como muitos teólogos
viram e vêem hoje em dia o tema do pecado.
61
C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 308.
62
D. G. Bloesch. Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã.Vol III, p 112.
63
John R. W. Stott, I, II e III João – Introdução e Comentário, p 105.
27
Primeiramente coloquemos a visão „deísta‟, que surgiu em meio ao contexto
Racionalista. O teólogo C. Brown nos descreve a posição deísta da seguinte forma:
“Os deístas alegavam que a religião verdadeira era a religião da razão e da natureza, e que o
cristianismo devia ser conformado a este ponto de vista. Criticavam altamente o apelo
tradicional feito pelos apologistas cristãos às profecias cumpridas e aos milagres como
provas da confirmação divina do cristianismo”.64
Outro ramo da teologia foi o de Frederico Schleiermacher, que se educou entre os
moravianos, mas aos dezenove anos separou-se da fé destes.65
Em sua teologia rejeitava o
conceito de que pecado é a transgressão da lei de Deus, e o conceito de pecado original foi
repudiado por ele.66
Segundo o seu ponto de vista:
“O pecado é relacionado com o sentimento de desconforto mental sempre presente quando
se está devotamente consciente de Deus...o pecado pode, pois ser descrito como a carne em
oposição ao espírito; é este conflito que dificulta a consciência de Deus”67
Outro teólogo que se afastou totalmente do conceito bíblico de pecado foi Paul
Tillich. Foi alguém que se utilizou não da Bíblia para seus postulados teológicos, mas de
outros recursos. Senão, vejamos:
“Paul Tillich entendia que o pecado humano consistia na alienação do seu eu verdadeiro e
do fundamento da sua existência pessoal... fazia uso generoso das categorias psicológicas e
sociológicas (tais como “alienação” e “separação”) para iluminar o mistério do pecado.”68
Não somente estes , porém outros mais deram sua posição sobre o assunto. Kant,
por exemplo, não sabia explicá-lo; Leibnitz, dizia provir da limitação do universo69
e
64
C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 307.
65
Bengt Hägglund, História da Teologia, p 307.
66
Ibid, p 309.
67
Ibid, p 309.
68
D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã.Vol III, p 113.
69
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 221.
28
Ritschl, dizia proceder na ignorância humana.70
Charles Finney “reconhece que o pecado é
um fato indiscutível, mas não uma necessidade. Sua explicação é que nós somos todos
nascidos com depravação física - com uma tendência para auto-gratificação.”71
E “os
evolucionistas (entre os quais há até teólogos) acreditam que o pecado é um resquício
natural da anterior natureza animalesca do homem.”72
Não só teólogos, mas linhas teológicas têm revelado suas posições as respeito do
pecado. Dentre estas linhas modernas da teologia abordaremos a teologia da libertação e
teologia feminina. “Na teologia da libertação, o pecado é redefinido em termos de opressão
social, exploração e aquiescência à injustiça”.73
Não se fala mais em Deus, ou Sua lei. É
relacionado com os homens e seus erros contra os homens. O pecado é a “ganância por
ganhos financeiros às custas dos pobres... o pecado é aquilo que desumaniza e oprime as
pessoas”.74
Na teologia feminista temos um conceito um pouco diferente. A teologia feminista
“entende que a essência do pecado está na passividade diante do mal, na timidez e na
covardia diante da intimidação. O pecado não consiste tanto na auto-afirmação, mas no
desprezo de si mesmo.75
O conceito de pecado sofreu alteração também nas religiões mais „populares‟. Entre
aqueles que não são eruditos e estudiosos. É que vamos encontrar em muitas igrejas
espalhadas pelo Brasil afora. É o que analisa D. G. Bloesch:
70
Louiz Berkhof, Teologia Sistemática, p 221.
71
Tony Lane, Pensamento Cristão. Vol II. São Paulo, Abba Press Editora e Divulgadora Cultural
Ltda, 1999 p 92.
72
Russell Norman Champlin, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol V. São Paulo,
2001.Vol V, p 151.
73
D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113.
74
Ibid, p 113.
75
Ibid, p 113.
29
“O conceito de pecado também tem passado por uma transformação profunda na religião
entre as culturas populares, onde a psicologia tem mais relevância do que a teologia. Sob a
influência do “novo pensamento” e outros movimentos neotranscendentalistas, a religião
dos veículos de comunicação reinterpreta o pecado como pensamento negativo ou
derrotismo. Em alguns outros segmentos da religião de cultura popular... o pecado é
equiparado à doença ou à instabilidade. A cura encontra-se na terapia individual ou grupal,
e não num sacrifício pelo pecado.”76
Como podemos notar, a teologia se diversificou sobre o assunto de maneira vasta.
Mas o conceito de pecado não está presente só na teologia. Está presente também no campo
da filosofia. No campo da filosofia, o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-78) pode nos
dar uma visão filosófica do tema. Sobre este assunto ele tinha uma outra posição. Ele
afirmava o seguinte: “Os indivíduos em um estado natural são basicamente bons, tendo em
vista que a natureza caracteriza-se pelo calor de sentimentos e de amor por outros. Porém, o
progresso e o crescimento da civilização corromperam as pessoas.”77
Como é fácil de concluir, a Igreja caminha, e com ela caminham os pecados e
deturpações dos homens. Por esta causa, tanto o seu comportamento, quanto a sua doutrina,
têm sido atingida. Conseqüentemente, o homem moderno não discerne mais com tanta
precisão o que é pecado. Mas de onde veio o pecado, que causa tantos malefícios ao ser
humano? Será ele um mal da própria natureza humana? Ou um agente inesperado na
história! Estas questões, e outras, serão tratadas no capítulo seguinte.
76
D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113.
77
Robert E. Clouse; Richard V. Pierard; Edwin M. Yamauchi; Dois Reinos – A Igreja e a cultura
interagindo ao longo dos séculos, p 367.
30
CAPÍTULO 2
A EXISTÊNCIA DO PECADO NA VIDA HUMANA
2.1 - O pecado e sua relação com Deus
Antes de tudo, devemos entender que mesmo o pecado estando presente na vida
humana e não na vida divina, ainda assim, o pecado tem a ver com Deus. É claro que se
fala em „pecar contra seres humanos‟. Porém, em última análise, todo pecado cometido
constitui em ofensa contra a divindade.78
2.1.1 – A origem do pecado
Sem sombra de dúvidas quando alguém fala a respeito de pecado tem na mente a
concepção de que ele é mal. Entretanto, apesar deste senso comum em relação à natureza do
pecado, muitos não sabem diferenciar entre mal moral e o mal natural. Não sabem de onde
veio o mal moral, e muito menos qual o seu propósito. Contudo, as Escrituras não nos deixa
totalmente desinformados com respeito a este tema.
Na Palavra de Deus nós percebemos que existe dois tipos de males no mundo: O
mal moral e o mal natural. O mal moral tem a ver com a ética, com a justiça; o mal natural
tem a ver com as conseqüências do mal moral praticado pelos agentes livres criados
(homens e anjos).
O mal natural existe como conseqüência do mal moral (ou pecado). Por isto nos
deteremos ao problema da origem do mal moral. E mesmo que alguns “inocentemente”
possam achar fácil a resposta a esta questão, na verdade ela não é tão simples de ser dada.
78
Antônio Neves de Mesquita, Estudo no Livro de Levítico. Rio de Janeiro, Casa Publicadora
Batista, 1971, p 75.
31
Para esclarecer o problema da origem do mal apresentaremos os axiomas demonstrados
pelo escritor Donaldo D. Turner: 1- Deus é absolutamente soberano sobre tudo; 2- Deus é
Amor, Santidade, e Pureza, não se agradando da iniqüidade; 3- Existe indubitavelmente a
iniqüidade neste mundo de Deus”.79
Tendo em vista que as Escrituras assume os três
axiomas sem negar qualquer deles, o problema se torna um tanto complexo.”80
A fim de darmos uma solução adequada a questão é apropriado conhecer o que a
Confissão de Heidelberg e a Confissão de Westminster declaram sobre o assunto. A
Confissão de Fé de Heidelberg em seu Artigo 13 declara: “... Deus não é o autor, nem tem
culpa do pecado que se comete”.81
A Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo III
Seção I declara:
“... Deus ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem
Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura ...”82
Em seu Capítulo V Seção IV declara:
“A onipotência, a sabedoria inescrutável e a bondade infinita de Deus, de tal maneira se
manifestam na sua providência, que esta se estende até à primeira queda e a todos os outros
pecados dos anjos e dos homens, e isto não por mera permissão ...”83
Neste trabalho nos deteremos apenas nas declarações presentes na Confissão de Fé
de Westminster. Nesta Confissão, não somente encontramos a asseveração de que Deus não
é o autor do mal, mas também que Ele ordenou o primeiro pecado, bem como todos os
outros pecados cometidos posteriormente.
79
Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 35.
80
Ibid, p 38.
81
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg. São Paulo,
Editora Cultura Cristã, 1999, p 13.
82
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo, Cultura
Cristã, 1994, p 17.
83
Ibid, p 31.
32
O teólogo Héber Carlos de Campos fala com propriedade sobre o problema
da origem do mal, apresentando-nos informações valiosas que nos ajudam a entender o
problema:
1. Deus decretou a existência do pecado, mas não cometeu o pecado;
2. O decreto da entrada do pecado no mundo não significa que Deus aprova o pecado;
3. A preordenação dos pecados dos homens não significa que foram forçados a pecar.
O decreto divino torna a entrada do pecado um fato certo de acontecer, mas não
implica que Deus seja culpado do mesmo.84
Não é lícito a nós ultrapassar o que as Escrituras nos revelam. É revelado a nós que
Deus decretou todas as coisas incluindo o mal. Se nós desprezarmos esta verdade por não
compreendê-la, estaremos reagindo semelhante aos racionalistas – crendo somente no que
entendemos pela razão. Quando é afirmado que Deus não é o autor do pecado não se quer
dizer com isto que Ele não o decretou. O que se quer dizer é que Deus não pecou.
Na verdade Deus é a causa do mal (autor do pecado). Contudo, é preciso explicar
que Deus faz o mal existir por meio de suas criaturas. Deus é a causa do mal, mas Ele
mesmo não peca. Esta afirmação não contradiz a Confissão de Westminster. Apenas diz
que Deus não é o autor no sentido de que ele peca. Só as „causas secundárias‟ podem
cometer o pecado.85
“A Escritura é clara nesse ponto. Deus é a causa primária de todas as
coisas, incluindo o pecado (Isaías 45:7; Amós 3:6).”86
84
Héber Carlos de Campos, A Providência e a sua Realização Histórica. São Paulo, Editora
Cultura Cristã, 2001, pp 369, 370.
85
W. Gary Crampton, Deus é a Causa do Pecado? Disponível em www. monergismo.com
acessado em 22 de abr/2006.
86
Ibid.
33
Em síntese, nunca poderemos dizer que Deus peca porque ser o „autor‟ e „aquele
que decreta a existência do pecado‟. Pois nem ele é quem peca (as causas secundárias é que
o fazem), nem Ele está submisso a Lei moral (pois esta serve aos homens não a Ele). E se
dissermos que Deus sendo o sumo Bem, não poderia ser a causa do mal, então caímos num
erro a fim de evitar “outro”. Pois se Deus não for a causa do pecado, outro o foi. E se o
pecado não for causado, logo ele é uma realidade eterna! E com toda certeza nenhuma
destas duas possibilidades é correta.
2.1.2 – Deus Satanás e a origem do pecado
A entrada do pecado decretada por Deus realizou-se primeiramente entre os anjos.
Ou, mais especificamente, com Satanás (Gn 3:1-6; 2Co 11:3; Jo 8:44; 1Jo 3:8). A maioria
dos estudiosos bíblicos e dos teólogos concordam que o mal surgiu com a rebelião de
Satanás”.87
A dificuldade maior é responder como surgiu o mal em um anjo bom. O teólogo
Gerard Van Groningen fala da queda angelical nos seguintes termos:
“Tudo que pode ser dito é que Satanás, criado como arcanjo principesco, recebeu muitos
dons quando foi criado. Satanás tinha a potencialidade e a liberdade como criatura de Deus
para se rebelar contra Deus, para se opor a ele em seu reinado, e para buscar para si o
controle do reino cósmico de Deus”.88
O teólogo Louis Berkhof, comentando o texto de (1Tm 3:6) diz: “Podemos concluir
que, com toda a probabilidade, foi o pecado do orgulho, de desejar ser como Deus em
poder e autoridade”.89
87
Gerard Van Groningen, Criação e Consumação. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p
123.
88
Ibid, p 124.
89
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 222.
34
2.1.3 – Deus, Adão e Eva, e a origem do pecado
A doutrina reformada entende que, com relação a humanidade, o mal entrou por
meio de Adão e Eva. E estritamente falando, por meio de Adão, visto ser ele o cabeça
federal da raça. Na passagem de (Rm 5:12-21) Paulo explica que o pecado entrou na raça
humana por meio da desobediência do representante da humanidade - Adão. E tanto o
pecado como seus resultados passaram aos descendentes dele.
Esta verdade é inegável biblicamente ainda que se levantem objeções como: “Se a
volição é determinada pelo desejo e pelo caráter, como pode um caráter santo ter uma
volição pecaminosa?”90
Para responder esta questão podemos dizer que “parece que o
pecado deve ser uma possibilidade, onde a livre-agência é um fato”.91
Na verdade não temos
subsídios suficientes para dizer como pôde vir pecado de seres santos.
O teólogo Francisco Jacinto, ao tratar do pecado de Adão diz: “Conhecer o bem e o
mal significa dominar o bem e o mal; assenhorear-se deles, implica então em ser como
Deus... o pecado do homem consistiu, pois, em ter pretendido igualar-se a Deus, único
privilégio que lhe faltava”.92
O pecado de Adão consistiu em objetivar ser igual a Deus. Visto nada na criação ser
digno de se tornar tentação ao coração puro de Adão e Eva, nada mais lógico do que tentá-
los a ser como o bem mais precioso que eles haviam conhecido: Deus.
Se por um lado não poderiam ser tentados a obter alguma coisa má (visto que na
criação tudo era muito bom - Gn 1:31), por outro lado poderiam ser tentados a alcançar um
90
David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 198.
91
Ibid, p 199.
92
Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável),
p 23.
35
bem (ser como Deus) através de uma atitude má (comendo do fruto proibido). O casal
edênico não percebeu que já tinham tudo de que precisavam. Eles “não experimentaram
privação por não participarem do fruto dessa árvore”.93
Mas seriam privados se
participassem da mesma.
2.2 – Definição de pecado
A Bíblia, antes de seu relato da entrada do pecado no mundo (Gn 3), nos mostra
uma relação entre Deus e suas criaturas Adão e Eva. Esta relação era constituída ao mesmo
tempo de privilégios para o homem (Gn 1:26-29; 2:8-9,16; 3:8) como também de
responsabilidades (Gn 2:17). “Todos os elementos de uma aliança estavam presentes
(estipulação clara das partes envolvidas, declaração das condições da aliança e uma
promessa de benção pela obediência e punição pela desobediência)”.94
Na realidade as
Escrituras em vários lugares falam de Pacto que Deus fez com o homem (Gn 6:18; 15:18;
17:19; Ex 24:8; Dt 4:23; Sl 89:3; 78:10; 105:10; Jr 31:31; 33:20, 21, 25, 26; 50:5; 32:40; Is
55:3; 56:4; Ez 16:60; Os 6:7; Lc 22:20; Rm 11:27; Hb 8:6, 9; At 3:25).
Portanto, podemos dizer que neste Pacto (ou Aliança) existiam estipulações
formuladas pelo próprio Deus, o autor do Pacto. As estipulações eram que, ele haveria de
dar vida eterna à humanidade por meio da obediência de seu representante Adão, ou
haveria de conceder morte eterna por resultado de sua desobediência.
93
William Fitch, Deus e o Mal, p 31.
94
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999,p 427.
36
Todo relacionamento de Deus com a humanidade estava baseado neste Pacto.
Portanto, “pecado é a quebra de qualquer item do pacto”.95
“Do ponto de vista dos
escritores bíblicos, o pecado entre o povo escolhido é essencialmente a infidelidade dos
homens de Israel no cumprimento das suas responsabilidades perante Deus, de acordo com
o concerto entre Deus e o povo da sua escolha”96
(Is 24:5; Jr 11:10; 22:9; Ez 16:59; 17:15-
19; Os 6:7; Zc 11:10; 1Rs 19:10, 14; 2Rs 18:12; Js 7:15; 23:16).
Nas Escrituras há uma variedade enorme de palavras que são traduzidas por
„pecado‟ – que é a quebra do pacto. Tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, os
escritores não se prenderam ao uso de apenas uma palavra para expressar a idéia de pecado.
Contudo, “é notável que tanto no grego do Novo Testamento como no hebraico do Velho
Testamento, a palavra mais comum para pecado é: errar o alvo”.97
O alvo determinado por
Deus para o homem é a comunhão feliz com Ele. Ao desobedecer à vontade divina, ele
perde o alvo colocado a ele.98
“No pecado, pois, a alma é impedida de acertar no alvo, isto
é, de atingir o propósito para o qual foi criada”.99
Na Bíblia não encontramos nenhuma definição proposital da palavra pecado. E o mais perto
que chegamos disto são os seguintes textos: Tg 4:17; 1João 3:4; 5:17.
Apesar de não ter uma definição clara e direta sobre o pecado, não podemos ignorar
o fato de que, quando se fala de pecado, está se falando de um ato humano contra Deus. A
quebra de Sua lei por meio das ações do homem. Comumente os reformados citam a
95
Wilson C. Ferreira, Esboço de Teologia Bíblica do Novo e Velho Testamentos. Patrocínio,
CEIBEL, 1997, p 58.
96
Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 157.
97
Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 67.
98
Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 164.
99
Russell Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado - versículo por versículo. Vol VI.
São Paulo, Candeia, 1995, p 300.
37
definição de pecado encontrada no Catecismo Maior de Westminster: “pecado é qualquer
falta de conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada
como regra à criatura racional”.100
O pecado em sua essência se mostra como rebeldia a Deus. O homem foi criado debaixo da
lei do Criador. Visto que o homem ao invés de procurar agradar a Deus e obedecê-lo,
preferiu seguir o próprio senhorio, de certa forma podemos falar de pecado como uma
tentativa de deificação do homem através das mãos do próprio homem.
Porém, o pecado não se limita às ações dos homens. O pecado está enraizado na sua
própria natureza desde a queda de Adão. Portanto, o estado pecaminoso é pecado (Pv 4:23;
Jr 17:9; Mt 15:19, 20; Lc 6:45; Hb 3:12), e não somente as atitudes decorrentes desta
natureza (Mt 15:19-20; Gl 5:19-21; 1Co 6:9-10; Ap 21:8).
2.3 - As conseqüências do pecado
O pecado como sendo o maior mal que existe na história humana, e como o mal que
supera todos os males, pois em essência é contra Deus101
, não poderia deixar de trazer
conseqüências graves para seus praticantes. Mas quais as conseqüências do pecado?
Primeiramente, temos que falar que o pecado traz separação inevitável entre a
criatura e o Criador. Esta separação é morte espiritual, a separação da alma humana de
Deus que é sua única vida.102
As conseqüências do pecado podem ser listadas apontando
vários aspectos: Aspecto espiritual (Morte espiritual); aspecto circunstancial (sofrimentos
da vida); aspecto corporal (morte física); aspecto temporal (morte eterna). E não somente
100
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17.
101
Samuel Bolton, O Mal sem Par, in Os Puritanos e a Conversão, p 21.
102
John R. Stott, Cristianismo Básico. São Paulo, Edições Vida Nova, 1979, p 84.
38
podemos enxergar nesta perspectiva. Podemos ainda ver dentro do interior do homem as
conseqüências surgidas: 1- Na volição (Jo 8:34; Rm 7:14-24; Ef 2:1-3; 2Pe 2:19); 2- No
intelecto (Gn 6:5; 1Co 1:21; Ef 4:17); 3- Nas emoções (Rm 1:24-27; 1Tm 6:10; 2Tm
3:4).103
Contudo, mesmo que o pecado tenha atingido todos os aspectos do ser humano, a
Bíblia não faz referência a uma perda total da imagem de Deus no homem caído (Gn 9:6;
1Co 11:7; Tg 3:9).
As conseqüências do pecado não se limitaram ao ser humano em sua natureza. “O
consenso geral entre os teólogos ortodoxos é que o mal moral (o pecado) monta o palco
para o mal físico (as desgraças naturais), mas o modo exato como aquele provoca este
provavelmente permanecerá sempre um assunto de especulação humana”.104
Uma coisa é
certa, o pecado maculou toda a criação, e não somente seus agentes livres.
Falando das conseqüências do pecado devemos esclarecer também que há
penalidades do pecado num sentido judicial (ou positivo), e igualmente penalidades num
sentido natural. “Há punições que são resultados naturais do pecado e das quais os homens
não podem escapar por serem as conseqüências inevitáveis do pecado”.105
(Jo 4:8; Sl 9:15;
94:23; Pv 5:22; 23:21;24:14; 31:3).
2.3.1 – Pecado original
Uma das conseqüências inevitáveis do pecado de Adão que não podemos deixar de
falar é que todos os seres humanos que nascem, já nascem pecadores. Adão como
representante da raça, não poderia separar seu ato errado das suas conseqüências futuras.
103
Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 107.
104
D. G. Bloesch, Pecado, in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 111.
105
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 257.
39
Por isto as Escrituras nos relatam que o pecado é uma realidade universal entre os seres
humanos (Sl 14:3; 142:2; 143:2;1Rs 8:46; Pv 20:9; Ec 7:20; Rm 3:1-12,19,20,23; Gl 3:22;
Tg 3:2; 1Jo 1:8,10).
Como sabemos biblicamente, o pecado não está relacionado com o conhecimento da
Lei divina, pois alguém pode pecar mesmo que não conheça a Lei de Deus. O pecado tem
relação não com o conhecimento individual da Lei divina, mas com o desejo pelo mal. A
vontade de fazer o que é mal. A disposição para rebelar-se contra Deus. Evidentemente que
o pecado não começa na vontade, visto que a natureza depravada e pecaminosa é que a
torna má.
Portanto, ao falamos da universalidade do pecado, falamos de pecado original. Este
termo não se refere ao pecado que Adão cometeu lá no Éden. Não é uma designação ao
“primeiro pecado na história humana”. Antes, é uma referência ao resultado do pecado que
o primeiro homem cometeu. Teólogos desde os pais da igreja falavam sobre o assunto.
Porém, em Agostinho é que encontramos uma melhor conceituação do assunto em questão.
Diz ele: “Segundo ele, a natureza do homem, tanto física como moral, é totalmente
corrompida pelo pecado de Adão, de modo que ele não pode deixar de pecar. Essa
corrupção ou esse pecado original herdado é um castigo moral pelo pecado de Adão”.106
Com os reformadores o conceito não foi tão modificado. E Calvino faz um leve
acréscimo ao tema: “Em termos gerais os reformadores estavam de acordo com Agostinho,
embora Calvino diferisse dele, especialmente em dois pontos, acentuando o fato de que o
106
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 246.
40
pecado não é uma coisa puramente negativa, e que não se limita à natureza sensorial e
emocional do homem.”107
Esta é uma das conseqüências que o pecado traz, que em sua essência podemos
dividir em dois aspectos. Primeiro aspecto é que, por conta do pecado original, todo homem
possui culpa original. E um segundo aspecto é que todo homem já nasce corrupto pelo
pecado. Estado este que é denominado popularmente como depravação total.
2.3.2 – Depravação total
Ao se utilizar deste termo depravação total, não se pretende dizer “que todo homem
é tão completamente depravado como poderia chegar a ser”.108
A depravação total diz
respeito não ao que o homem faz por meio de suas atitudes, mas diz respeito ao por quê
dele fazer o que faz. Diz respeito à origem dos seus pecados. “O pecado, em primeiro lugar,
é uma condição e, então, uma atitude; só então ele se torna uma ação ou uma série de
ações”.109
O homem está corrompido em todos os aspectos do seu ser interior. E sua
depravação não diz respeito somente às atitudes que percebemos, mas diz respeito ao seu
interior. Nas palavras do teólogo John L. Dagg:
“a depravação que lamentamos no gênero humano diz respeito aos princípios de ação como
seres morais... a depravação moral aparece em atos exteriores de transgressão; contudo, por
mais atrozes que sejam os atos exteriores, é a depravação do coração principalmente, que
Deus observa e abomina”.
110
Temos que esclarecer que, a lei do Senhor não se dirige primordialmente aos atos
errados que os homens cometem. Diz respeito essencialmente ao coração do homem. “Toda
107
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 247.
108
Ibid, p 248.
109
Michael Horton, A Lei da Perfeita Liberdade. São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p 160.
110
John L. Dagg, Manual de Teologia. São José dos Campos, 1989, p 126.
41
volição procede de algo que é mais profundo do que a própria volição, o que igualmente
sucede à volição pecaminosa. Um ato pecaminoso é a expressão de um coração depravado
(cf. Mc 7:20-23; Pv 4:23; 23:7)”.111
Na Confissão de Fé de Westminster encontramos explicitamente a declaração de
que o pecado não está restrito aos atos, mas também é considerado pecado a natureza
corrupta de onde os atos maus procedem. Observemos o que está registrado na Confissão
em seu Capítulo VI Seção V: “Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida,
naqueles que são regenerados; e embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo,
todavia tanto ela como os seus impulsos são real e propriamente pecado”.112
Como
percebemos, a depravação total corrompe o ser humano de tal maneira que nada do que ele
faça está livre da mancha do pecado. E até quando não fazemos algo, podemos estar
pecando, pois o pecado não é somente um mal manifestado quando agimos positivamente
contra o que é certo e justo, “o mal não consiste em fazer somente o que não é bom; existe,
também, o pecado da omissão, deixar de fazer o bem”.113
2.4 - Cristo e sua vitória sobre o pecado
O pecado manchou gravemente a criação de Deus deixando-a amaldiçoada. Só o
próprio Deus poderia dar uma solução para o problema do pecado. Por isto Deus envia seu
Filho para vencer de uma vez por todas o pecado a restaurar todas as coisas. Para que isto
fosse concretizado, o homem deveria ser legalmente justificado.
111
J. D. Douglas, editor, O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 1237.
112
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, A Confissão de Fé de Westminster, p 39.
113
Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável),
p 19.
42
Neste caso, é mister compreender que a justificação depende da obediência ativa e
passiva de Cristo. A justificação “não somente significa a remissão dos pecados passados,
mas também um direito constitutivo a todas as coisas boas do porvir”.114
2.4.1 - A obediência de Cristo para obter a vitória
Ao falar da vitória de Cristo sobre o pecado, não podemos esquecer que tudo o que
era requerido a fim de garantir aos eleitos a vida eterna, Jesus teria que satisfazer. Ou seja,
para pagar o preço do pecado Jesus teria que morrer (Rm 6:23; 1Co 15:3), e para garantir a
justiça positiva da Lei, teria que cumpri-la completamente (Gl 4:4, 5, 7; Rm 10:3, 4; 8: 3, 4;
2Co 5:21).
Neste aspecto, a teologia reformada declara que a obra salvífica de Cristo, para ser
completa, deveria contar com Sua obediência à Lei divina - denominada “obediência
ativa”. “Por sua obediência Cristo cumpriu a lei expressa no concerto das obras, que Adão
deixou de cumprir”.115
Se Cristo não obedecesse a lei, os eleitos não estariam com a sua
salvação completa, mas deficiente. “A eficácia salvífica da expiação não estava limitada à
morte de Cristo. Ela se estendeu por “todo o curso de obediência”. Assim, o nascimento, a
vida, os ensinos e os milagres de Cristo, junto com seu sofrimento e morte, pertencem à sua
obra de expiação”.116
Por meio da obediência ativa “ele tornou disponível uma justiça
diante da Lei que é imputada àqueles que confiam nEle, ou é contada a favor deles”.117
114
George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção. São Paulo, PES, s/d,
p 12.
115
David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 278.
116
Timothy George, Teologia dos Reformadores. São Paulo, Vida Nova,1994. p 221.
117
Robert L. Reymond, Obediência de Cristo, in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã.
Vol III, p 39.
43
Portanto, para conseguir vencer o pecado, Cristo teve que cumprir a lei divina, obtendo
assim a vida eterna aos eleitos.
2.4.2 – A morte de Cristo para obter a vitória
Como vimos anteriormente, para conquistar a vitória sobre o pecado, Jesus teria de
cumprir uma segunda etapa da obra salvífica – a morte. O pecado tem como sua
conseqüência primária a morte. Quando falamos de morte nos referimos a todos os aspectos
a ela relacionados, a saber: Morte espiritual, morte física e morte eterna. Sendo assim, o
representante do povo eleito teria que morrer no lugar deles. Ou, morrer a morte deles.
O ponto climático onde Jesus cumpriu estas conseqüências do pecado foi a cruz.
Aliás, “a mensagem da cruz é o mistério central do Evangelho bíblico.”118
Na ressurreição
ele proclama vitória sobre os três: pecado (Hb 9:28), poderes das trevas (Ef 1:20), e
aniquilou a morte (1Tm 1:10).119
As Escrituras nos dizem que “a expiação de Cristo
satisfez completamente as exigências da justiça divina, assim o perdão e a misericórdia
estão garantidos àqueles que receberam a Cristo com uma fé humilde e contrita”.120
Na verdade, “tão-somente o sangue derramado do filho eterno e amado de Deus em
si mesmo poderia ter expiado o pecado”.121
Enfim, só “a cruz de Cristo proporcionou o
caminho ao capacitar o único sacrifício perfeito a expiar o pecado humano de uma vez por
todas”.122
Ele conquistou a vitória!
118
Júlio Andrade Ferreira, Antologia Teológica. Apostila I.Campinas, 1980, p 202.
119
Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 167.
120
John MacArthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 39.
121
Ibid, p 108.
122
John MacArthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 109.
44
CAPÍTULO 3
A NECESSIDADE DE VIDA HUMANA SEM PECADO
3.1 - Justificação: Vitória sobre a condenação do pecado
É bem certo que o pecado traz conseqüências terríveis contra o ser humano
juntamente com a toda a criação. Entretanto, Deus, em Sua infinita misericórdia, resolveu
salvar aqueles que elegeu dentre a humanidade decaída. Para isto, decidiu qual o método a
ser utilizado para retirar destes a condenação que o pecado infligia. Se o pecado gerou
condenação, a salvação teria que gerar justificação.
3.1.1 - Definição de justificação
Quando se fala em justificação, fala-se em declaração judicial, situação legal do
pecador diante de um Deus que é Justo e Juiz (Gn 18:25). Observando a definição de
justificação da Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo XI Seção I,
encontramos:“Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta
justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados
e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas”.123
Segundo esta definição, a
justificação não torna os eleitos aqui na terra justos moralmente. Mas sim, a justificação faz
Deus considerá-los justos legalmente já nesta vida. “Se estamos em Cristo, Deus nos
considera como se nunca houvéssemos pecado e, na verdade, como se já tivéssemos
123
Claudio Antônio Batista Marra, A Confissão de Fé de Westminster, p 64.
45
obedecido perfeitamente à lei”.124
Este é o sentido da justificação. Quem fala sobre este
aspecto da justificação com clareza é o reformador Lutero:
“Lutero usou a famosa frase simul justus et peccator (ao mesmo tempo justo e pecador),
referindo-se à condição simultânea do pecador, onde ele é contado, ao mesmo tempo, como
justo judicialmente, em virtude da imputação da justiça de Cristo e, todavia, permanecendo
pecador em si e de si mesmo”.125
O reformador João Calvino ao falar deste tema também se pronuncia de forma
semelhante: “Destarte, interpretamos nós a justificação simplesmente [como] a aceitação
mercê da qual, recebidos à Sua graça, Deus nos tem por justos.”.126
De forma alguma a
justificação nos faz justos como Jesus era justo. É uma questão judicial, não espiritual.
Ocorre fora de nosso ser interior, no tribunal de Deus. Ou, dizendo de outra maneira, “pela
justiça de Cristo os crentes passam legalmente a ter vida”.127
O modo como ocorre esta justificação é a imputação. “A totalidade da justiça
pessoal de Cristo é imputada a eles e considerada como deles”.128
Do mesmo modo como o
pecado de Adão é imputado à humanidade (Rm 5:12), a justiça de Cristo é imputada aos
eleitos para a vida (Rm 5:18, 19).
3.1.2 - A base e o meio da justificação
Não é de admirar que Deus fale a respeito de justificação logo no Antigo
Testamento (Gn 15:16; Dt 25:1). Pois Ele é Justiça em sua forma mais elevada. Por isto
mesmo não poderíamos esperar outra coisa senão a justiça sendo aplicada sem hesitação
124
Michael Horton, A Lei da Perfeita Liberdade - Os Dez Mandamentos, p 226.
125
Héber Carlos de Campos, A Justificação pela Fé nas Tradições Luterana e Reformada: Um
Ensaio em Teologia Comparativa, Fides Reformata. Vol I. Nº 02, jul-dez 1996, p 35.
126
João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. Vol III. São Paulo, Casa Editora
Presbiteriana, 1989, p 189.
127
George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, p 8.
128
George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, p 6.
46
contra os pecadores. Por isto que, a justificação para ser realizada, não poderia jamais ferir
a justiça divina, mas teria que satisfazê-la completamente. E visto que o homem em seu
estado de pecado jamais poderia se salvar por si mesmo, Deus teria que salvá-lo.
Foi precisamente aqui o erro dos judeus da época do Novo Testamento. Concluíam
que pela obediência à lei de Deus poderiam ser justificados (Lc 18:11, 12; Rm 10:1-3;
9:31). Contudo, a lei “pode definir o pecado mas não pode curá-lo. É como um médico que
pode diagnosticar uma doença mas que é incapaz de erradicá-la ou até mesmo de estabilizá-
la.”129
Tudo provém de Deus. O objeto da justificação é o pecador, porém a base da
justificação é a obra do Mediador. “Nosso conforto com relação à justificação é que toda a
justiça de que necessitamos vem a nós através de Cristo Jesus”.130
A justificação
fundamenta-se em duas bases: O sangue de Cristo compreendendo o pagamento da pena do
pecado, e a Sua obediência compreendendo o cumprimento dos preceitos da lei que dá
vida131
(Rm 5:9; 5:19).
Mesmo as Escrituras comumente atrelarem a justificação à fé, isto não implica em
que a fé é que justifica o pecador. Pelo contrário, “a Escritura nunca diz que somos
justificados dia ten pistin (dia ten pistin), por causa da fé. Quer dizer que a fé nunca
é apresentada como a base da nossa justificação”.132
Ou seja, a fé “não é em si mesma a
causa meritória da justificação, seja no todo ou em parte”.133
129
William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, p 84.
130
Hermann Bavinck, Teologia Sistemática. Fundamentos Teológicos da Fé Cristã. Santa Bárbara
D’Oeste, SOCEP, 1977, p 499.
131
John L. Dagg, Manual de Teologia, p 213.
132
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 524.
133
John L. Dagg, Manual de Teologia, p 215.
47
Assim, tanto o Luteranismo quanto o Calvinismo concordam que este seja o meio
estabelecido por Deus. “Para ambas as tradições portanto, a fé não é a base para a
justificação, mas simplesmente o meio, o órgão de apropriação”.134
Portanto, temos que
levar em consideração não somente a base da justificação (a obra de Cristo), mas
igualmente o meio (a fé). Como disse D. G. Bloesch:
“A humanidade é objetivamente liberta por meio de Cristo que, na cruz e na ressurreição,
venceu os poderes do pecado, da morte e do diabo; mas essa libertação não tem contato
com o pecador até que seja dado o dom do Espírito Santo no despertar para a fé.”135
A Confissão de Fé de Heidelberg ao falar da necessidade da fé em seu Artigo nº 22
ela afirma: “Entretanto, não entendemos isso como se a própria fé nos justificasse, mas ela
é somente o instrumento com que abraçamos Cristo, nossa justiça”.136
Sendo assim, a fé é
necessária para a obtenção da justiça que vem de Cristo, mas ela mesma não é a base da
justificação.
3.1.3 - O momento da justificação
Aceitando que a fé é o instrumento apropriador da justificação, deve-se concluir
assim que enquanto o pecador não exercer a fé em Cristo, ele não está justificado. Cristo
morreu pelos eleitos há muitos anos atrás, mas a justificação pessoal ocorre no momento da
fé. Recordemos que “a doutrina claramente ensinada nas Escrituras é: Quando os homens
crêem em Cristo, então é que passam de um estado de condenação para um estado de
134
Héber Carlos de Campos, A Justificação pela Fé nas Tradições Luterana e Reformada: Um
Ensaio em Teologia Comparativa,Fides Reformata, p 38.
135
D. G. Bloesch, autor, pecado,in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p
113.
136
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg, p 21.
48
justificação”.137
Nas palavras de João Calvino: “Enquanto Cristo permanece fora de nós, e
nós estamos separados dEle, tudo o que Ele sofreu e fez pela salvação da raça humana
permanece sem utilidade e sem valor para nós”.138
Então, no momento da fé, são perdoados
todos os pecados. Sejam eles do passado, do presente ou do futuro.139
Depois da
justificação, o pecador tem como alvo, a partir de então, a santificação.
3.2 - Santificação: Vitória sobre o domínio do pecado
Levando em consideração que a condenação do pecado foi destruída pela
justificação, agora se deve considerar o fato de que o pecado não tem domínio sobre os
cristãos. Aqueles que são justificados também são objeto da santificação. Deus concedeu
aos pecadores eleitos o direito à vida através da justificação, mas também concedeu a eles a
capacidade de viverem esta vida a qual obtiveram.
3.2.1 - Santificação posicional e santificação moral
Antes de tudo é mister esclarecer que quando a Bíblia fala de santidade, ou
santificação, ou santos, ela usa estes termos em mais de um sentido. O primeiro sentido de
santificação relacionado ao cristão é a santificação posicional, que diz respeito a pertencer
ele a Deus. O segundo sentido de santificação diz respeito ao fato de ser o cristão cada vez
mais semelhante a Deus. É a santificação moral. Apesar de que resumidamente falando, o
termo “santo, tanto no hebraico, como no grego, significa separado, consagrado e recriado
137
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg, p 219.
138
Anthony A. Hoekema, Salvos pela Graça. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1997, p 202.
139
Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001, p 1146.
49
para Deus”,140
nós podemos encontrar outro sentido para ele. É o que nos apresenta O Novo
Dicionário da Bíblia:
“O sentido básico da raiz hebraica vAdßq' (qdsh) é variadamente dada como (i)
„separar‟; (i) „brilho‟. A primeira pode sublinhar a santidade ou santificação em termos de
posição, estado, relação, onde as palavras são traduzidas como „cortar‟, „separar‟,
„consagrar para uso exclusivo‟, „dedicar‟, ou „consagração‟, „considerado como sagrado em
contraste com o comum, profano ou secular‟. A última pode sublinhar aqueles empregos
que dizem respeito à condição, estado ou processo, o que no Novo Testamento prossegue
com o pensamento de uma transformação interna que gradualmente tem lugar, e que resulta
em pureza, retidão moral e pensamentos santos e espirituais que se expressam por meio de
uma vida externa de bondade e piedade”.141
Quando falamos de santidade posicional, isto “diz respeito a um estado de ter sido
separado, desligado do ordinário ou mundano e dedicado a um propósito ou uso
particular.”142
Este é o estado de todos os salvos (1Co 6:11; At 20:32; 26:18; Rm 6:2). No
texto de 1Co 6:11, O apóstolo estava declarando a posição que os cristãos gozavam perante
Deus. Eles haviam sido tornados santos, estavam separados das práticas pecaminosas de
outrora que caracterizavam suas vidas.143
A santificação moral é um pouco diferente. “O cristão agora é exortado a ser santo,
em sua experiência diária. Seu anelo deve ser conformar sua condição, ou estado atual no
mundo, com sua posição, diante de Deus, pela imputação”.144
Com toda certeza a Bíblia
ensina que é Deus quem nos santifica (Ts 5:23; Tt 2:14; Hb 13: 20,21; Fp 1:6; Gl 5: 16, 22,
23, 25; Rm 8:13; Jo 17:17; Ef 5:25-27; Fp 2:13), mas também com toda certeza ela afirma
que nós nos santificamos (2Co 7:1; Hb 12:14; Rm 12:1, 2; Fl 2:12). Em síntese, “Deus
toma parte no ato de iniciar a santificação mas, daí, em diante, o homem tem de empregar
140
J. I. Packer, A Redescoberta da Santidade. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 16.
141
J. D. Douglas, editor, O Novo Dicionário da Bíblia, pp 1484, 1485.
142
Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1997, p 418.
143
J. Dwight Pentecost, A Sã Doutrina. São Paulo, Mundo Cristão, 1981, p 102.
144
Ibid, p 279.
50
os recursos que Deus lhe oferece”.145
“É quinhão do cristão experimentar constante vitória
sobre o mal”.146
O cristão deve fazer tudo que puder para obter a santidade.147
O fato é que “embora o pecado não reine em nós, ele todavia ainda permanece em
nós. Ele está destronado mas não destruído”.148
“O pecado no nosso íntimo, embora seja
um „inimigo conquistado‟ ainda deve ser vigorosamente resistido ao longo de nossa
vida”.149
O cristão foi regenerado recebendo uma nova vida que está preparada para realizar
a vontade de Deus. Mas ainda que o cristão já possua esta nova vida, ela precisa ser
fortificada, desenvolvida, amadurecida.
3.2.2 - Meios para a santificação moral
Ao ordenar que o homem fosse responsável também por sua santificação, Deus
entregou a ele tudo o que era necessário para que ele atingisse tal alvo. Deus estabeleceu o
objetivo, e ensinou os meios. Os meios que Deus deixou para que cresçamos em
santificação é denominado na teologia como meio de graça.
Evidentemente que muitas coisas podem nos ensinar em nossa vida, ou nos levam a
ter mais comunhão com Deus. Porém, o termo meio de graça é geralmente utilizado com
um sentido mais limitado, referindo-se aos sacramentos e à Palavra de Deus. De modo
restrito, só estes são considerados os meios de graça.150
145
J. Dwight Pentecost, A Sã Doutrina. São Paulo, Mundo Cristão, 1981, p 278.
146
William Fitch, Deus e o Mal, p 132.
147
Simon Kistemaker, Comentário do Novo Testamento, Exposição de Hebreus. São Paulo,
Editora Cultura Cristã, 2003, p 541.
148
John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 129.
149
John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 131.
150
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 275.
51
A Santa Ceia “para a igreja militante, é um meio de graça fundamental que alimenta
os eleitos em vários aspectos da vida cristã”.151
Lembremos que ela não foi instituída por
homens, mas por Cristo (Mt 26:26-30). Portanto, deve ser celebrada até a sua volta (1Co
11:26) e para o bem da Igreja (1Co 1:17).
Porém, apesar de a Santa Ceia ser um meio de graça que nos ajuda na santificação,
o outro meio de graça, que é a Palavra de Deus, é o mais importante.152
“Uma vida que se
alimenta da Palavra de Deus, que se alegra em fazer a vontade de Deus, é sempre frutífera,
produzindo boas obras”.153
Não há como alguém crescer em santificação sem conhecimento
da Palavra de Deus. É uma contradição de termos quere ter comunhão com Deus ser
conhecê-lo. Portanto, todo o que quer praticar a justiça deve se interessar por aquilo que
Deus revelou.154
3.2.3 – Resultados da negligência na santificação
É dever da Igreja não negligenciar a santificação.A Igreja que não se empenha
constantemente na santificação, acaba por cair num mal muito conhecido pelos cristãos: A
secularização.Vejamos o que o Pacto de Lausanne diz sobre o homem secularizado:
“um membro de igreja secularizado é aquele que fez profissão de fé em Cristo e mantém,
normalmente, alguma relação normal com a igreja. Em seu modo de viver, entretanto, ele
ignora consciente ou inconscientemente os imperativos bíblicos, ou faz pouco caso deles. O
resultado prático é um modo de vida em que Deus aparece essencialmente ausente na
151
Arley Preto Gomes, Uma Perspectiva Escriturística sobre a indignidade de participação na
Ceia do Senhor, Fides Reformata, pp 45,46.
152
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 275.
153
Kyle M. Yates, Estudos no Livro dos Salmos. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1959,
p 13.
154
Ibid, p 12.
52
tomada de decisões de porte. Ele não obedece a Deus e Cristo não é Senhor de toda a sua
vida. O resultado é um modo de vida indiferente daquele ditado pela cultura dominante.”155
Infelizmente existem cristãos que não aprenderam o que é santificação como o
desenvolvimento da nova vida em Cristo; como amadurecimento do seu caráter para a
forma do caráter de Cristo. Ao contrário disto, existem cristãos que pecam constantemente
e não dão importância alguma a isto. Este é o típico cristão secularizado. Ele pode até estar
ciente que cometeu um pecado, mas não possui sentimento de culpa, ou reconhecimento de
que é passível de punição.156
O perigo da secularização pode estar presente em qualquer igreja. Não há nenhuma
barreira que possa impedir sua entrada a não ser a verdadeira santificação nos moldes
bíblicos. O teólogo Juan Carlos Hortiz, fazendo uma análise do comportamento da igreja
em nossos dias, diz que o problema da Igreja é a eterna falta de maturidade dos cristãos
que a compõe.157
Ao falar de secularização, não estamos declarando que os cristãos ficam
secularizados repentinamente. Este é um processo que provém de tempos e tempos de uma
prática errônea de cristianismo. Como bem disse Simonton Araújo:
“crentes então ativos, pregavam até “ficar roxos”, depois começam a faltar aos programas
semanais da Igreja. Acham que não fazem falta. Não dão tanto valor à vida de oração e à
Bíblia. Depois começam a negligenciar a Escola Dominical. Para tais, tanto faz tomar como
não tomar a Ceia do Senhor. Afastam-se de todas as fontes da Graça de Deus”.158
Este é o caminho natural de quem não tem preocupação alguma com o Divino. No
entanto, não é este o plano de Deus para a Igreja. E a santificação nunca deixou de ser parte
155
Série Lausanne, O Evangelho e o Homem Secularizado. São Paulo, ABU Editora s/c e Visão
Mundial, 1985, p 8.
156
Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 171.
157
Simonton Araújo, Persiga a Santificação. Niterói, 1995, p 28.
158
Simonton Araújo, Persiga a Santificação, p 16.
53
do plano divino, ainda que muitos a negligenciem, e pensem que O agradam mesmo assim.
Pelo contrário, a santificação está seguindo para o seu clímax: a glorificação.
3.3 - Glorificação: Vitória sobre a presença do pecado
Deus em seu plano poderoso de salvação não poderia deixar de destruir por fim, o
pecado. A justificação anula a condenação do pecado, a santificação anula seu domínio
sobre o cristão, e a glorificação é a destruição total da presença do pecado no cristão. Se
não houvesse glorificação, o plano salvífico estaria incompleto.
3.3.1 - Definição do termo glorificação
A doutrina da glorificação dos salvos é amplamente encontrada nas Escrituras (Jo
5:28,29; 6:39,40,44,54; 11:23,24; Rm 8:11; 8:19-23; 2Pe 3:7, 12,13; Ap 2:7; 22:11; Rm
8:30) A doutrina da glorificação foi indiretamente anunciada em (Gn 3:15), ainda que foi
claramente exposta somente depois com os profetas. Seguindo o ensinamento Bíblico
podemos definir a glorificação deste modo:
“Glorificação é o passo final da aplicação da redenção. Ocorrerá quando Cristo voltar e
levantar dentre os mortos o corpo de todos os cristãos que morreram, de todas as épocas,
reunindo-o com a alma de cada um, e mudar o corpo de todos os cristãos que estiverem
vivos, dando assim, ao mesmo tempo, a todos os cristãos um corpo ressurreto como o
seu”.159
A glorificação é o último estágio da ordo salutis. Neste estágio do plano da salvação
irá definitivamente cumprir a promessa central da aliança da graça: Ele habitará com eles, e
eles serão seu povo (cp. Gn 17:7; Ex 19:5, 6; Jr 31:33; Ez 34:30; 2Co 6:16; Hb 8:10; 1Pe
159
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 695.
54
2:9, 10)”.160
Um novo planeta virá, agora sem a presença do mal (Ap 21:27). Com a
glorificação, Ele removerá o pecado, as maldições do pecado, e as ações e presença do
Tentador maligno.
3.3.2 – Resultados da glorificação
Como é perceptível por toda a Bíblia, “a meta da redenção divina é coesamente
definida como uma meta em que o pecado será derrotado e removido para todo o
sempre”.161
“Tudo que é do pecado será queimado pelo fogo do juízo divino, e tudo que o
pecado produziu será banido para sempre”.162
Neste tempo em que o mal será banido para
sempre, e os salvos terão um novo modo de viver. Será uma vida relações perfeitas tanto
Com Deus (Ap 21:3;22:4), quanto com o próximo (Ef 4:13; Ap 21:10), consigo mesmo (Ap
21:4), com o ambiente (Rm 8:21-23; Ap 22:1ss) e com o tempo ( 1Pe 1:3ss; Ap 21:4).163
A
glorificação ocorrerá em duas dimensões: no indivíduo salvo e no mundo no qual habita.
Com respeito aos corpos dos salvos, as Escrituras falam que eles serão
transformados (Fp 3:20,21; 1Co 5:1-5; 15: 20,23, 38-50). Esta transformação não será
paulatinamente, mas repentinamente. Como disse Bernard Ramm: “Essa glorificação não é
um processo, não se trata de crescimento, mas ocorre de repente, de modo dramático, no
final dos tempos.”164
E mesmo que ocorra uma chamada „transformação do corpo‟, não
implica em total diferença entre o corpo atual com o que teremos no porvir. “Haverá uma
continuidade definida entre o nosso corpo atual e o corpo que teremos na
160
Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p 381.
161
Ibid, p 15.
162
Ibid, p 112.
163
Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 123.
164
Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, p 433.
55
ressurreição”.165
Não seremos modificados para sermos “outros seres”. Sempre seremos
humanos. A esta altura é instrutiva as palavras de William Hendriksen:
“gostaríamos de advertir ao leitor contra a posição, aparentemente sustentada por alguns,
que a vida porvir (seja no estado intermediário, seja no final) será tão completamente
diferente que não haverá nenhuma conexão entre o nosso presente estado. Assim,
erroneamente, a preservação da identidade pessoal é negada, seja implícita ou
explicitamente”.166
O fato que há uma continuidade dos corpos não tira a verdade de que eles serão
corpos glorificados. O corpo será o mesmo, e não outro. Paulo fala que Deus
“transformará” (Fp 3:21) os corpos, e não, que ganharemos outro. Verdadeiramente o
corpo da ressurreição terá continuidade e relação com o corpo atual, pois dele se deriva.
Porém não implica em simples revitalização do presente corpo.167
Na abordagem que o
apóstolo Paulo faz da ressurreição final em (1Co 15:42-44, 49), ele nos esclarece que o
corpo ressurreto obterá mudanças. E lista-nos pelo menos quatro aspectos do modo como
ele será: Será incorruptível, será glorioso, será poderoso, será espiritual. Mas apesar de
receber estas mudanças seremos os mesmos. É claro que não somente os corpos terão
vitória completa sobre os resultados e presença do pecado. “Na glorificação também haverá
um aperfeiçoamento moral e espiritual do indivíduo”168
(Jd 24). A alma do salvo nunca
mais pecará.
A glorificação não implica em melhoria e benefício somente dos seres humanos.
Toda a criação será amplamente abençoada pela glorificação. Aliás, na missão de Cristo,
ele resgata o universo em sua totalidade. Como afirma Anthony A. Hoekema: “A obra de
165
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 701.
166
William Hendriksen, A Vida Futura Segundo a Bíblia. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana,
1988, p 247.
167
Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, p 505.
168
Ibid, p 431.
56
Cristo, portanto, não é apenas salvar certos indivíduos, nem mesmo salvar uma incontável
multidão de pessoas compradas por sangue. A obra total de Cristo não é nada menos do que
redimir toda esta criação dos efeitos do pecado”.169
Mesmo que seja verdade que a criação foi amaldiçoada juntamente com o homem, e
que a redenção dela também está ligada com a redenção dele (Rm 8:19-22), entretanto, as
Escrituras não são muito claras com respeito a como será este novo céu e esta nova terra.
Por isto, “dentro do mundo protestante, há divergência sobre a questão se a terra será
destruída por completo e substituída ou apenas mudada e renovada”.170
A interpretação luterana professa que haverá uma criação nova. Já os reformados
são tendentes a enfatizar os versículos que falam de uma renovação da presente criação.171
Observemos o que diz o teólogo Wayne A. Grudem sobre o referido tema:
“A posição reformada parece preferível aqui, pois é difícil imaginar que Deus aniquilaria
totalmente sua criação original, causando assim a impressão de ceder ao diabo a última
palavra e desfazendo-se da criação que originariamente era muito boa (Gn 1:31)”.172
Assim, a Bíblia parece favorecer que a terra será renovada e transformada assim
como aconteceu um dia com os cristãos (2Co 5:17). É bem certo que o pecado trouxe
maldição sobre toda a criação, porém o poder salvífico e restaurador de Deus supera tais
conseqüências. Deus fará um mundo glorificado.
169
Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p 369.
170
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 990.
171
Ibid, p 990.
172
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 990.
57
3.3.3 – O início da glorificação
Como é de se esperar, a história humana terá um fim. Não se quer dizer com isto
que todos serão aniquilados. Deus dará um fim a todo o mal. Apesar de existir visões
divergentes sobre o caminhar da história, “a Bíblia tem a sua própria filosofia da história.
Toda a história, afirma ela, começa com Deus, está sob Deus, e terminará segundo a
vontade de Deus”.173
A glorificação é o estágio último da redenção. E este estágio não tem data marcada
nas Escrituras. É um acontecimento que se dará no tempo de Deus, e não compete a
ninguém saber (Mc 13:32; At 1:6,7). A Bíblia só dá duas afirmações sobre este o tempo
deste acontecimento: Primeiro, a glorificação se dará no Dia do Senhor. Sabe-se portanto
que “o dia do Senhor virá e que, nesse dia, a total derrota do mal se consumará”174
(1Co 15;
Ap 21); Segundo, a outra informação é que será juntamente com a volta de Cristo, a qual
será repentina (2Pe 3:10; 1Ts 5:2,3).
173
William Fitch, Deus e o Mal, p 69.
174
Ibid, p 111.
58
CONCLUSÃO
Não há como escapar da verdade que o pecado está presente na vida do ser humano
em todos os aspectos. Como ficou demonstrado aqui, o mal teve seu início, propagou-se
neste meio termo onde a salvação estava sendo providenciada, porém fatalmente terá um
fim.
O homem natural jamais compreenderá estas coisas, e continuará a buscar respostas
as mais absurdas possíveis para explicar a angústia do seu coração causada pelo pecado.
Irão percorrer longos caminhos a procura de resolução para os problemas da alma advindos
do pecado, todavia sem sucesso. Eles nunca conseguirão satisfazer tais necessidades. Como
bem declarou Francisco Jacinto Pereira Filho:
“A Filosofia, a Ciência, os conhecimentos humanos jamais poderiam dar aos homens uma
orientação segura na resolução de seus problemas. Então, as Escrituras com sua Luz
meridiana, Revelação e Inspiração Divinas, conduzem os homens ao verdadeiro Caminho, à
Luz Celestial, ao Sol da Justiça”.175
Realmente as Escrituras podem nos dar respostas a respeito do mal e da causa de
todo o sofrimento humano. Como está demonstrado neste trabalho em seu capítulo 1, os
homens tiveram as mais diferentes explicações em relação ao seu pecado. E o conceito de
pecado varia enormemente entre eles. Isto não só durante uma época, mais durante toda a
história.
Vemos também no capítulo 2 deste trabalho que o mal não é um acidente para
Aquele que tem toda a história nas mãos. Observa-se a natureza essencial do pecado e suas
conseqüências para o homem, tanto coletivamente, como individualmente. É abordado
175
Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável),
p 18.
59
também que a única solução para todo este mal do pecado e suas conseqüências foi a obra
de Cristo. O qual venceu de uma vez para sempre as hostes malignas com suas obras (1Jo
3:8; Cl 2:15).
O capítulo 3 fala acerca das conseqüências desta obra vitoriosa do Messias. As
quais são a justificação dos eleitos de Deus, a santificação de suas vidas tornando-os cada
vez mais semelhantes a Ele mesmo, e a final glorificação de suas vidas levando-os para o
novo céu e a nova terra.
Apesar de conhecer tais verdades a Igreja não tem sido sensível ao pecado como
antes. A realidade de uma vida secularizada e negligente está presente em muitas igrejas
protestantes. A Igreja deveria reagir bem diferente em meio a este mundo pervertido e
corrupto, e nunca agir semelhante aos ímpios desesperados deste mundo. Ao olhar para fim
futuro do mal, é dever do cristão ter uma reação totalmente oposta ao que se tem visto em
muitas igrejas. Como bem falou o teólogo Anthony A. Hoekema: “a doutrina da nova terra
deveria nos dar esperança, coragem e otimismo em tempos de desespero difundido. Embora
o mal seja excessivo neste mundo, é confortante saber que Cristo conquistou a vitória
final”.176
O plano de Deus foi revelado nas Escrituras progressivamente, e hoje o cristão pode
conhecê-lo plenamente. Nela pode-se ver o desenvolvimento temporal da redenção
claramente. É o que nos mostra J. I. Packer:
“A salvação no Novo Testamento tem três tempos: passado, presente e futuro. É a
salvação: da culpa do pecado (o aspecto passado: já não estamos mais debaixo das
penalidades do pecado); do poder do pecado (o aspecto presente: o pecado não mais nos
176
Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, pp 382, 383.
60
domina) e da presença do pecado (o aspecto futuro: o pecado, um dia, não passará de uma
má recordação)”.177
Ora, uma Igreja que não somente conhece estas verdades, mas também as entende
espiritualmente. Não somente entende, mas também crê nelas. Esta Igreja deveria ser
impactante no mundo, não permitindo que o mal se alastre nele como se houvera vencido o
bem. Pelo contrário, demonstrar com a própria vida que o Bem, longe de ser vencido pelo
mau, é o próprio autor e controlador e destruidor do mesmo.
177
J. I. Packer, A Redescoberta da Santidade, p 41.
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A doutrina bíblica do pecado

  • 1. SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE BACHAREL EM TEOLOGIA A Doutrina Bíblica do Pecado Alberto Simonton Albuquerque Pereira RECIFE 2006
  • 2. 2 SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE BACHAREL EM TEOLOGIA A Doutrina Bíblica do Pecado Alberto Simonton Albuquerque Pereira RECIFE 2006 Monografia apresentada sob orientação do Rev. Stéfano Alves dos Santos, objetivando cumprir as exigências do Presbitério do Agreste de Pernambuco (PAPE), de acordo com as disposições contidas no Art. 120 alínea “b” da CI/IPB, que trata de licenciatura e ordenação de candidatos ao Sagrado Ministério.
  • 3. 3 FOLHA DE APROVAÇÃO ___________________________________________ Orientador Rev. Stéfano Alves dos Santos Data de aprovação:____/_____/_____ i
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, meu Mestre, Capacitador, e Salvador da minha vida. O qual tem me abençoado em todo o tempo, e me vocacionou para este ministério. À minha esposa pelo apoio dado a mim em todos os momentos difíceis me incentivando nesta jornada custosa, sendo também um constante auxílio na vida. À minha família que sempre esteve lado a lado comigo quando precisei. À Igreja Presbiteriana de Lajedo pelo apoio concedido durante todo o período do curso. Ao Presbitério do Agreste de Pernambuco que depositou sua confiança em mim reconhecendo meu chamado ao sagrado ministério. Aos professores do Seminário Presbiteriano do Norte que colaboraram em meu crescimento intelectual, preparando-me mais para o ministério. ii
  • 5. 5 DEDICATÓRIA À minha esposa, que é uma dádiva de Deus para minha vida. À minha família, a quem desejo todas as bênçãos da parte de Deus. iii
  • 6. 6 BASE CONFESSIONAL Confissão de Fé de Westminster Capítulo VI Seção I “Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram ao comerem do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória.” iv
  • 7. 7 SUMÁRIO Folha de aprovação...................................................................................................... i Agradecimentos........................................................................................................... ii Dedicatória.................................................................................................................. iii Base Confessional....................................................................................................... iv INTRODUÇÃO........................................................................................................... 08 Capítulo 1 AS CONCEPÇÕES HUMANAS DO PECADO NA HISTÓRIA 1.1 A concepção de pecado da Igreja Católica Romana............................................. 13 1.2 O conceito de pecado dos reformadores............................................................... 21 1.3 Os puritanos e a concepção de pecado.................................................................. 22 1.4 O conceito de pecado após o Iluminismo.............................................................. 23 Capítulo 2 A EXISTÊNCIA DO PECADO NA VIDA HUMANA 2.1 O pecado e sua relação com Deus......................................................................... 30 2.2 Definição de pecado.............................................................................................. 35 2.3 As conseqüências do pecado................................................................................. 37 2.4 Cristo e sua vitória sobre o pecado........................................................................ 41 Capítulo 3 A NECESSIDADE DE VIDA HUMANA SEM PECADO 3.1 Justificação: Vitória sobre a condenação do pecado............................................. 44 3.2 Santificação: Vitória sobre o domínio do pecado................................................. 48 3.3 Glorificação: Vitória sobre a presença do pecado................................................. 52 CONCLUSÃO............................................................................................................. 57 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 60
  • 8. 8 INTRODUÇÃO O homem tem se mostrado um ser altamente progressivo. Desenvolve tudo que utiliza a cada ano que passa. Novidades vão surgindo rapidamente em todos os aspectos que possamos pensar. Dia a dia o homem modifica seu ambiente para melhor. Porém, o mais intrigante não é sua capacidade de criar, mas a sua capacidade de destruir. A maldade presente no coração humano é tão real quanto sua capacidade intelectual para invenções. E assim como podemos receber tantas dádivas provindas de suas mãos, também podemos ver a perversidade e a maldade surgindo cada vez mais de seu coração. O mal que brota do coração do homem - denominado de pecado pela Bíblia – é uma realidade presente em todo o mundo. Mesmo entre aqueles que não crêem na Bíblia, há uma distinção entre aquilo que o homem faz de „bom‟ e aquilo que ele faz de „mal‟. E ainda que não recorramos à Bíblia para demonstrar a irrefutável verdade da existência do pecado entre os homens, mesmo assim podemos provar por outros meios. Como mesmo fala o teólogo Donaldo D. Turner: “A reconhecida necessidade de que deve existir um governo com autoridade, os cárceres e as penitenciárias, os advogados, os juízes e os tribunais de justiça, muitos policiais, exércitos e navios de guerra pertencentes às nações do mundo, provam a existência do pecado em toda parte”.1 Desde os tempos mais antigos vemos a manifestação do pecado na raça humana. Tão arraigado está entre os povos que chega a fazer parte dos seus provérbios populares. A China, um povo existente desde há muito tempo, possui um provérbio que assim diz: 1 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação. São Paulo, Imprensa Batista Regular, 1985, p 24.
  • 9. 9 “Existem dois homens bons: um é aquele que está morto e o outro é o que ainda não nasceu”.2 Por mais que se queira negar sua presença, ou por mais que se deseje a sua ausência, a verdade é que “o pecado é o fator inevitável em nossa história”.3 Está inserido nela, de tal forma que não é possível negá-lo. Como diz o Dr. Jorge P. Pardington: “O conhecimento ou sentido não dá um testemunho vacilante com referência à realidade do pecado. Todo indivíduo sabe que é pecador. Nenhuma pessoa em idade responsável vive livre de um sentimento de culpabilidade ou contaminação moral”4 . Já que não pôde extirpá-lo da humanidade, o homem correu em direção às explicações do que seria o pecado e o mal. A antropologia deu sua parcela de contribuição, mas não foi satisfatória. Como bem observou Bruce Milne: “As antropologias seculares, porém não dão a ajuda necessária. Apesar da diversidade, elas não têm uma resposta às questões finais: De onde veio a humanidade? Qual sua importância final? Para onde vamos? Além disso, estão cheias de tensões não resolvidas em sua compreensão da humanidade.”5 Sendo imperfeita em suas declarações, a antropologia deve então ceder lugar a quem possa dar respostas convincentes ao homem. Com respeito a isto, temos que considerar que, com certeza, “o conceito que qualquer pessoa, ou qualquer povo, tenha do pecado é determinado por seu entendimento do caráter de Deus e da natureza do homem”.6 Por esta razão, a fonte de onde o homem vai tirar suas conclusões a respeito do pecado é de suma importância. O cristianismo, por possuir em suas mãos a revelação vinda do próprio Deus, não deveria jamais negligenciar o que dela se pode aprender sobre o tema pecado. 2 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 25. 3 William Fitch, Deus e o Mal. São Paulo, PES, 1984, p 71. 4 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 25. 5 Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia. São Paulo, ABU Editora S/C, 1996, p 12. 6 Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro, JUERP, 1977, p 149.
  • 10. 10 Ela é a fonte mais segura de que o homem possa dispor! Contudo, infelizmente, não é assim que acontece, e nem sempre aconteceu. Hoje em nossos dias podemos encontrar muitos cristãos que não sabem distinguir, em meio aos conceitos errados do mundo, o que realmente é pecado. Para complicar mais ainda a situação, há divergências nas interpretações sobre este assunto de pecado. E não somente isto, mas há também desvios doutrinários em relação ao mesmo. Sob pelo menos dois aspectos percebemos desvios da verdadeira doutrina bíblica a cerca do pecado. O primeiro desvio foi com relação ao próprio conceito de pecado; o segundo desvio se deu pela maneira como os cristãos devem se comportar em relação a ele. Acontece desta forma porque a mente humana pecaminosa tem dado as mais possíveis saídas para se desculpar dos seus pecados. O homem não quer assumir suas faltas diante do Criador. Como se não bastasse, o diabo também não pretende deixar que o homem concorde com Deus a respeito da maldade que o pecado faz na vida da humanidade. Donaldo D. Turner em seu livro A Doutrina do Pecado e da Salvação expressa de maneira clara este fato: “O diabo sabe que, enquanto a consciência do homem estiver mais ou menos tranqüila, deixando-se enganar por um conceito errado da natureza do pecado e suas conseqüências, não há muito medo de que tal alma chegue um dia a interessar-se pela sua salvação”. 7 A humanidade tem fugido da verdade acerca do pecado e entrado em um caminho mentiroso. Camuflando suas responsabilidades perante seu Deus, insiste em realizar „atos religiosamente mais necessários e bondosos‟. Troca-se a obediência pela falsa religiosidade entre os homens. Dietrich Bonhoeffer bem percebeu este falso caminho de adoração analisando a situação já presente em sua época: 7 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 62.
  • 11. 11 “Diz-se por aí que é uma brutalidade da Igreja não querer compreender que sua primeva tarefa hoje é servir às necessidades físicas. Se ela achar que, mesmo em nossos dias, ainda devia falar, sempre e primeiramente de Deus, deixando o problema do pão para depois, é crime”.8 Diante deste quadro triste de anormalidade do comportamento de muitos cristãos em relação ao pecado, a Igreja não deve permanecer inerte. Considerando as necessidades pelas quais a Igreja passa nesta época, este trabalho se propõe a conseguir respostas sobre o assunto, a fim de conhecê-lo de modo mais claro e profundo. Em seguida, demonstrar o imperativo bíblico de se viver uma vida santa. O tema será explorado na seguinte ordem: No primeiro capítulo está apresentado As Concepções Humanas do Pecado na História. O modo como o tema foi considerado por diversos teólogos e filósofos durante a história da Igreja, revelando que nem sempre o pecado foi definido de uma forma única e objetiva. Em seguida, no segundo capítulo, está exposto A Existência do Pecado na Vida Humana. Abordando como se deu a entrada do pecado no mundo, sua relação com Deus e Seu pacto, e as suas conseqüências visíveis e invisíveis. Para finalizar, o último capítulo fala sobre A Necessidade de Vida Humana sem Pecado. Este capítulo apresenta verdades que devem levar o cristão a pelejar contra o pecado. Concluído o trabalho, o objetivo é podermos contemplar e esperar o futuro, que será bem diferente da realidade percebida aqui nesta terra. É bem certo que o Catecismo Maior de Westminster ensina que o episódio da Queda atingiu todo ser humano. Nele encontramos o seguinte: “O pacto, sendo feito com Adão, como um representante legal, não para si somente, mas para toda a sua posteridade, todo o gênero humano, descendendo dele por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele naquela primeira 8 Dietrich Bonhoeffer, Tentação. São Leopoldo, Editora Sinodal, 1991, p 20.
  • 12. 12 transgressão.”9 E é verdade igualmente, que a presença do pecado incomoda nossa perspectiva de vida como vemos nos pequenos versos de Francis Thompson: “Nada há que se inicie e se consume que não venha a ser pago com queixume, pois com alheia dor todos nascemos e com a nossa própria perecemos”10 Porém, não devemos nos desanimar, visto que Deus tem um propósito em tudo que faz. Ele é todo Sábio, e intrinsecamente Santo. Nós não podemos conhecer ou entender tudo que Ele faz. Bem verdade que vemos desgraças acontecendo no mundo a todo instante. Mesmo assim, “em última análise, embora ainda não enxerguemos o esquema do Seu método, o mal será transformado num meio de glorificar a Deus”.11 9 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p 16. 10 William Fitch, Deus e o Mal, p 7. 11 Ibid, p 17.
  • 13. 13 CAPÍTULO 1 AS CONCEPÇÕES HUMANAS DO PECADO NA HISTÓRIA 1.1 - A concepção de pecado da Igreja Católica Romana Embora tendo uma quantidade enorme de adeptos, a Igreja Católica está muito afastada da revelação divina encontrada nas Escrituras. De certo não foi assim desde o princípio, visto que a Igreja Primitiva perseverava na doutrina dos Apóstolos (At 2:42).12 E ainda que ela carregue o título de „católica‟, não obstante tem se afastado da Palavra de Deus. O intrigante é que a designação católica foi dada a Igreja com sentidos bem diferentes daquilo que ela crê e pratica nos dias atuais. O escritor Justo L. Gonzalez, em um de seus livros, nos informa o seguinte sobre o surgimento do termo „católica‟ utilizado em relação à igreja: “Essa igreja era também „católica‟ porquanto pregava e ensinava o evangelho „segundo o todo‟... em lugar de basear sua autoridade sobre tal ou qual apóstolo, a igreja „segundo o todo‟ a basearia sobre „todos‟ os „apóstolos‟.”13 A história da Igreja, acoplado ao nosso conhecimento das doutrinas da Igreja Católica Romana hoje em dia, não nos deixa dúvidas de que “juntamente com o desenvolvimento da doutrina teológica, desenvolviam-se também as seitas, ou como lhes chamavam, as heresias na igreja cristã”.14 O que foi acontecendo é que “os cristãos do 12 A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 128. 13 Justo L. Gonzalez, E Até os Confins da Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo. A Era dos Mártires. Vol I. São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1980, pp 107-108. 14 Jesse Lyman Hurlbut, História da Igreja Cristã. Flórida, Editora Vida, 1990, p 61.
  • 14. 14 segundo e terceiro séculos lutaram não só contra as perseguições do mundo pagão, mas também contra as heresias e doutrinas corrompidas, dentro do próprio rebanho.”15 Visto a Igreja Católica ter se desviado das Escrituras, sua doutrina acerca do pecado também se afastou consideravelmente. Portanto, é digno de nota explicar as suas concepções sobre o tema. 1.1.1 - Conceito de pecado O conceito de pecado que a Igreja Católica professa tem haver somente com as atitudes exteriores da natureza pecaminosa, e não com a corrupção da própria natureza16 passada a nós por meio de Adão. Segundo o teólogo Louis Berkhof esse é o conceito da Igreja Católica:“O verdadeiro pecado sempre consiste num ato consciente da vontade. É certo que as disposições e os hábitos que não estão de acordo com a vontade de Deus são de caráter pecaminoso; contudo, não se lhes pode chamar pecados, no sentido estrito da palavra”.17 1.1.2 - Concepção do pecado original Como foi exibido acima, a Igreja Católica Romana possui um conceito errado sobre o pecado. Portanto, podemos esperar uma deturpação dos demais aspectos relacionados a ele como uma conseqüência natural e provável. E é exatamente o que acontece. Ou seja, a Igreja Católica falhou não unicamente em seu conceito sobre a essência do pecado em si, mas também falhou com relação a sua idéia de „pecado original‟. Que, diga-se de passagem, é totalmente deturpada e carente do testemunho bíblico. O teólogo David Clark, 15 Jesse Lyman Hurlbut, História da Igreja Cristã, p 61. 16 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17. 17 Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 237.
  • 15. 15 expondo a doutrina do pecado original da Igreja Católica Romana, nos relata com precisão o pensamento dela por meio das seguintes proposições: 1-O homem foi criado corpo e alma, mas estes eram antagônicos entre si; 2-A justiça ou retidão original foi um dom adicional, a fim de harmonizar os elementos antagônicos da matéria e do espírito na constituição do homem; 3-Na queda o homem perdeu sua justiça original e ficou no estado de desarmonia em que fora criado; 4-O pecado original é a perda da justiça original com a conseqüente desarmonia; 5- Todos, portanto, nasceram em pecado, mas o batismo remove esse pecado original e não deixa nada na alma que seja propriamente de natureza pecaminosa. Entretanto, todos podem pecar de novo por causa da concupiscência que ainda permanece (fomes – combustível), mas esta concupiscência não é de natureza pecaminosa. 18 1.1.3 - Pecados veniais e mortais Na doutrina da Igreja Católica Romana nos deparamos com uma „classificação de pecados‟ formulada com o passar dos anos de sua história. Esta classificação consiste em dois tipos de pecados: Os pecados veniais e os pecados mortais. Onde o pecado mortal significa que “torna o pecador passível de castigo eterno”.19 A presente distinção está baseada no texto encontrado em (Gl 5:21)20 : “ invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, 18 David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática. Recife, Casa Editora Presbiteriana, s/d, pp 217, 218. 19 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 254. 20 Ibid, p 253.
  • 16. 16 como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam”.21 A despeito de encontrarmos a declaração de que não herdarão o reino de Deus os praticantes daqueles pecados, não implica que exista esta classificação de pecados no texto. A classificação de pecados capitais (ou mortais) não é apoiada pela Bíblia, mas é oriunda da teologia do período medieval da Igreja. “Alguns teólogos monásticos provavelmente a princípio estabeleceram esse grupo de pecados, ao tentar sistematizar e identificar todos os pecados essenciais, não necessariamente os mais sérios”.22 Esta opinião não ocorreu entre os teólogos de forma isolada na história da Igreja. “Clemente de Alexandria e Orígenes admitiam que se podia traçar uma linha entre pecados perdoáveis e não perdoáveis, mas recusaram classificá-los.”23 Entretanto, nem todos foram como eles. “Tertuliano foi um estágio adiante e arrolou os pecados mais repulsivos (incluindo homicídio, adultério, blasfêmia e idolatria ) como além de perdão, enquanto que ofensas menos importantes podiam ser perdoadas.”24 A partir daí, o desenvolvimento ocorre com o tempo até a conhecida diferenciação entre pecados „mortais‟ e pecados „veniais‟. E surgindo também os „sete pecados mortais‟: Soberba, gula, luxúria, avareza, inveja, ira, e a preguiça. É inevitável que aprovando esta classificação, se abra uma porta para os insubordinados cometerem „livremente‟ os pecados perdoáveis – veniais. Em razão disto, 21 A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil, p 204. 22 John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 158. 23 John R. W. Stott, I, II e III João – Introdução e Comentário. São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão, 1982, p 161. 24 Ibid, p 161.
  • 17. 17 está presente em seu corpo de doutrina o próprio freio para esta possibilidade. O teólogo F. R. Harm nos apresenta nitidamente o ensino da Igreja Católica a este respeito: “para que ninguém se torne complacente, é indicado que o pecado venial pode levar ao pecado mortal. Quando a pessoa se torna absorvida por seu pecado, a ponto de este se tornar uma obsessão que finalmente a leva a desviar-se de Deus, a fonte de sua vida, ela entrou no domínio do pecado mortal – e da morte eterna.”25 1.1.4 - Perdão de pecados Tendo em vista que a Igreja Católica concebe a doutrina do pecado como algo que afasta o homem de Deus, e também acredita na vida após a morte, é compreensível que ela tenha um conceito de perdão de pecados. A doutrina Católica do perdão dos pecados abrange pelo menos quatro aspectos: Penitência, batismo, Cristo e a missa. Consideremos primeiramente a penitência. A palavra penitência, no Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, vem com a significação que se segue: “... pena imposta pelo confessor para remissão dos pecados; sacrifícios para expiação dos pecados”.26 Esta definição da palavra „penitência‟ encontrada neste dicionário é apropriada, uma vez que está de acordo com a visão Católico-Romana do termo. Só é necessário acrescentar que o pecado venial, segundo a Igreja Católica, “é perdoado com maior facilidade, e até mesmo sem confissão. O perdão pelos pecados mortais só pode ser obtido pelo sacramento da penitência”.27 Observemos o que o Concílio de Trento (1545-1563) fala sobre a penitência em suas declarações da Sessão XIV (novembro de 1551). Rejeitando veementemente a posição 25 F. R. Harm, pecado mortal. In Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III. Walter A. Elwell, editor, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, p 118. 26 Hildebrando de Lima, organizador, Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira S.A., s/d. 27 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 254.
  • 18. 18 protestante com respeito ao perdão dos pecados, a Igreja Católica Romana considera anatematizadas as seguintes proposições: “Que para a inteira e perfeita remissão dos pecados não são requeridos três atos num penitente, como se fossem a matéria do sacramento, a saber, contrição, confissão e satisfação... que as palavras de Nosso Senhor e Salvador: “A quem perdoardes os pecados” etc[Jo 20.23] não devem ser entendidas como o poder de perdoar ou reter pecados no sacramento da penitência...que a confissão sacramental não foi instituída pela autoridade divina, nem é necessária para a salvação pela autoridade divina”28 Estas proposições anatematizadas demonstram como a Igreja do Senhor, anteriormente „pura‟, com o passar do tempo chegou a rejeitar a verdade encontrada nas Escrituras. Esta rejeição da Revelação não durou muito para acontecer. Já no tempo do século VI, havia manuais que descreviam o modo das penitências.29 Num destes manuais dizia que: “fazer penitência podia incluir jejum e orações, dar esmolas, viver em abstinência, e assim por diante”.30 Com o passar dos anos foi acrescentada a confissão a um sacerdote como meio também de absolvição de pecados.31 Como está patente, a heresia do perdão de pecados por meio de penitências existe há muito tempo. Voltemo-nos agora para a doutrina do batismo em relação ao pecado. O batismo na doutrina da Igreja Católica Romana também exerce um papel importante com respeito ao perdão de pecados. Para o catolicismo, o batismo é “eficaz para a salvação. Uma condição sine qua non”.32 Segundo a compreensão da Igreja Católica Romana, o batismo “livra da culpa do pecado original e de todos os pecados atuais cometidos até à hora do batismo, 28 Henry Bettenson, editor, Documentos da Igreja Cristã. São Paulo, ASTE, 1998, p 368. 29 Bengt Hägglund, História da Teologia. Porto Alegre, Concórdia, 1981, p 135. 30 Ibid, p 135. 31 Ibid, p 136. 32 David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 337.
  • 19. 19 remove a corrupção do pecado, embora permaneça a concupiscência, e liberta o homem da punição eterna e de todas as punições temporais positivas”.33 Como se não fosse satisfatória esta doutrina do batismo relacionado ao livramento da corrupção e culpa do pecado, eles dizem que as boas obras servem igualmente para a salvação do ser humano. Sintetizando, “a teoria católico-romana realmente importa em duas justificações: uma por causa da graça infundida no batismo e a outra por causa do mérito das boas obras praticadas pelo próprio homem”.34 “Embora a fé leve ao batismo com sua graça infundida ou comunicada, fundamento final da justificação são as boas obras”.35 Quanto a Cristo e Sua obra contra o pecado, por mais absurdo que se apresente aos olhos dos protestantes, a verdade é que na doutrina da salvação ensinada pela Igreja Católica, o papel da obra de Cristo é um tanto limitado e inseguro. Cristo não é o salvador eficaz dos eleitos de Deus. Ele é somente aquele que abriu a “porteira da salvação” para quantos quiserem nela entrar. Ele a tornou possível, mas não real. Notemos a posição da Igreja Católica explicada pelo teólogo Louis Berkhof: “A expiação não somente tornou a salvação possível para o homem, mas de fato a garantiu. Sobre este ponto os calvinistas contestam os católicos romanos, os luteranos, os arminianos e todos quantos ensinam uma expiação universal. Estes afirmam que a expiação de Cristo apenas tornou a salvação possível, e incerta, para aqueles a quem é oferecida.”36 O outro aspecto aceito e defendido pelos católicos que colabora no perdão dos pecados é a missa. Dentre as finalidades da Santa Missa enumeradas por eles está: “Aplacar a sua justiça e obter misericórdia (sacrifício propiciatório).”37 Do ponto de vista do 33 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pp 631, 632. 34 David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 319. 35 Ibid, p 321. 36 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 394. 37 A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de mai/2006.
  • 20. 20 catolicismo, “o Santo sacrifício da Missa é oferecido para adorar e glorificar a Deus, para obter o perdão dos pecados, para pedir graças e favores pessoais e também pelas almas do Purgatório.”38 A missa é tão poderosa que é capaz de beneficiar até os mortos „no purgatório‟! Para uma melhor compreensão do papel que a missa exerce com referência ao perdão dos pecados, vejamos a visão que eles demonstram ter sobre ela: “É uma prolongação perene e incruenta (sem derramamento de sangue) do mesmo Sacrifício do Calvário. Ambos os sacrifícios, o da Cruz no Calvário, e o da Missa em nossos altares, constituem um único e idêntico sacrifício, pois que a Vítima e o Oferente destes sacrifícios é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. O Sacerdote, como "Mediador entre Deus e os Homens" (1 Tim. 2, 5) oferece o Santo Sacrifício da Missa em nome de Jesus Cristo e da sua Igreja, pela salvação do mundo.”39 A idéia católica do poder da missa sobre os pecados está bem expressa nas palavras de Leonardo de Porto Maurício: “Deus vos perdoa todos os pecados veniais que estais determinados a evitar. Ele vos perdoa todos os vossos pecados desconhecidos que jamais confessáreis. O poder de Satanás sobre vós é diminuído”.40 “ Por cada Missa tendes diminuída a punição temporal devida a vossos pecados, mais ou menos, de acordo com vosso fervor”.41 Os fiéis não estão realizando a missa sem esperança. Pelo contrário, a promessa oferecida implicitamente na missa para os fiéis é causa suficiente para perseverança em participar dela: “Cada Missa irá convosco ao Julgamento e implorará por perdão para vós”.42 38 A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de mai/2006. 39 A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de mai/2006. 40 Leonardo de Porto Maurício, O Tremendo Valor da Santa Missa. Disponível em rosariopermanente.leiame.net/catequese/missa.php acessado em 25 de mai/2006. 41 Ibid. 42 Ibid.
  • 21. 21 Por possuir um papel de enorme valor dentro da matéria de pecado, os fiéis devem participar dela constantemente. No entender de teólogos durante a história da Igreja, a missa é de valor altíssimo e deve ser considerada pelos fiéis. Nas palavras de Santo Agostinho: "Na hora da morte, as Missas, às quais tiveres assistido, serão a tua maior consolação. Um dos fins da Santa Missa é alcançar para ti o perdão dos teus pecados. Em cada Missa, pois, podes diminuir a pena temporal devida aos teus pecados, pena essa que será diminuída na proporção do teu fervor. Será ratificada no céu a bênção, que do sacerdote receberes na Santa Missa. Assistindo-a com devoção, prestas a maior das honras à Santa Humanidade de Jesus Cristo" 43 Já na visão de São Jerônimo: "Cada Missa à que assistires, alcançar-te-á no céu maior grau de glória. Serás abençoado em teus negócios pessoais e obterás as graças, que te são necessárias".44 1.2 - O conceito de pecado dos reformadores A reforma também contribuiu para uma definição de pecado. Desta feita, a concepção de pecado não estava apoiada no que os reformadores achavam, nem ancorados pela tradição, pois não havia nenhuma tradição reformada ainda. Mas certamente os reformadores ao conceituar pecado procuraram uma regra maior e mais confiável para sua concepção – Sola Scriptura. Porém, apesar de haver mais de um reformador na história da igreja, iremos nos deter ao pensamento de Calvino, por ser ele base para nossa teologia reformada. 43 A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de mai/2006. 44 A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de mai/2006.
  • 22. 22 Na concepção de Calvino, o pecado é uma questão de desobediência a Deus. Vejamos nas suas palavras: “A proibição contra o comer da árvore do conhecimento do bem e do mal era um teste de obediência, de modo que Adão, ao obedecer, pudesse demonstrar que estava disposto a sujeitar-se à autoridade de Deus... Visto que a mulher foi levada pelo engano da serpente a descrer da Palavra de Deus e a desobedecê-la, fica evidente que o próprio início da queda era a desobediência”.45 Como percebemos, a concepção dele era que o pecado consistia em não obedecer a Palavra de Deus. Esta forma de ver o assunto é altamente bíblica e fundamentada em profundo estudo das Escrituras. Diferentemente da concepção Católica. Sua concepção foi tão acertada que é seguida mais tarde pelo movimento puritano da Inglaterra. 1.3 - Os puritanos e a concepção de pecado 1.3.1 - Quem foram os puritanos? Antes de entender qual a concepção de pecado que os Puritanos abraçaram, é mister conhecer quem eles foram e o que queriam. Logo de início esclarecemos que a designação „puritano‟, não reflete admiração para com aqueles que seguiam determinada linha de pensamento. Ao contrário disto, a expressão não era para elogiar, mas para denegrir. “Sempre foi uma palavra satírica e ofensiva, subentendendo mal-humor, censura, presunção, e certa medida de hipocrisia”.46 A expressão „Puritano‟ fazia referência a um corpo de pessoas dentro da Igreja da Inglaterra. O teólogo J. I. Packer pode nos auxiliar com sua breve explicação a cerca do surgimento do Puritanismo e do contexto em que estavam inseridos: 45 Joseph Pitts Wiles, Ensino Sobre o Cristianismo. São Paulo, PES, p 106,107. 46 J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus. São José dos Campos, Editora FIEL, 1996, p 17.
  • 23. 23 “Defino o puritanismo como o movimento dos séculos XVI e XVII, na Inglaterra, que procurava reformar e renovar profundamente a igreja da Inglaterra, além do que era permitido pelo Acordo Elisabetano”.47 “Em resumo, os puritanos queriam excluir do culto anglicano qualquer coisa que não fosse ordenada pelas Escrituras”.48 A importância deles para nosso estudo não é a coragem de enfrentar todos para conseguir reformar a igreja de seu país. “Eles desejavam “purificar” a igreja livrando-se dos “papistas” que ainda restavam”,49 isto é muito positivo. Mas o que eles eram como cristãos é que nos é respeitável. Pode-se até perguntar: “O que estes zelotes nos poderiam dar do que precisamos? A resposta é, em uma palavra, maturidade”.50 Não simples cristãos que estiveram de passagem na terra da Inglaterra. Eram mais do que somente isto. Novamente utilizando as palavras de J. I. Packer: “Os Puritanos típicos não eram homens selvagens, ferozes e monstruosos fanáticos religiosos, e extremistas sociais, mas sóbrios, conscienciosos, e cidadãos de cultura, pessoas de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas virtudes domésticas, e sem grandes defeitos... eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus”.51 1.3.2 - O conceito de pecado dos puritanos Não poderia haver lugar mais claro para se obter o ensino dos Puritanos sobre a doutrina do pecado do que na Confissão de Fé de Westminster e no Catecismo Maior. Nelas podemos enxergar nitidamente a posição deles a respeito do tema. Para conhecermos o conceito de pecado expresso por eles vamos nos valer do Catecismo Maior de Westminster em sua resposta à pergunta „o que é pecado?‟: “Pecado é qualquer falta de 47 J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus. São José dos Campos, Editora FIEL, 1996, p 33. 48 Robert E. Clouse; Richard V. Pierard; Edwin M. Yamauchi; Dois Reinos – A Igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003, p 326. 49 Ibid, p 326. 50 J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus, p 18. 51 J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus, p 18.
  • 24. 24 conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como regra à criatura racional”.52 Ou seja, os puritanos conseguiram entender que mais do que cumprir a Lei divina exteriormente, Deus requer uma atitude do coração que seja idêntica ao que exige a Sua Lei. Qualquer ponto em discordância com ela, seja além, seja aquém, é digno de se chamar pecado. 1.4 - O Conceito de Pecado após o Iluminismo 1.4.1 - O que foi o Racionalismo (Iluminismo)? “A era do iluminismo (alemão, Die Aufklärung) abrange, a grosso modo, o século XVIII.”53 Esta época é marcada pela presença do racionalismo. “A causa principal dessa tendência para o racionalismo foi o desenvolvimento extraordinário do conhecimento que começara na Renascença”.54 Na realidade o racionalismo não surgiu somente nesta época, porém muitos anos antes com os gregos. Entretanto, o racionalismo apesar de estar presente na filosofia grega, “é mais freqüentemente associado com os filósofos do iluminismo tais como Descartes, Spinoza e Leibniz”.55 “Embora o Iluminismo tenha tido algumas das suas raízes no Racionalismo do século XVII, as idéias que o caracterizam foram muito além do Racionalismo de Descartes, Spinoza e os demais pensadores contemporâneos deles.” 56 52 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17. 53 C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II. Walter A. Elwell, editor, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, p 306. 54 Robert Hastings Nichols, História da Igreja Cristã, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 223. 39 G. R. Habermas, Racionalismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 225. 56 C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 306.
  • 25. 25 Foi uma época de grandes progressos na ciência e no conhecimento humano. Um valor enorme foi dado aos poderes da razão. Caminhando desta forma “o espírito da era moveu homens a submeterem todas as idéias e instituições a uma prova racional, para então decidirem se tais idéias e instituições eram dignas de aceitação.”57 Esta maneira de pensar atingiu todas as áreas do pensar existentes no mundo. E como não poderia deixar de ser, as crenças religiosas também foram atingidas. O racionalismo substituiu a revelação pela razão e os sentidos, sendo estes últimos considerados os caminhos naturais para o saber.58 O desvio foi tão grande, que o modo de olhar as Escrituras foram os mais variados possíveis. A tal ponto de aparecerem no desenrolar da história pessoas como Gottlieb E. Lessing (1729-1781) que negava “qualquer distinção entre cristianismo e religiões não-cristãs”.59 O Racionalismo penetrou fortemente nos conceitos de vários cristãos. Sua invasão destruidora não foi irrelevante. O Iluminismo do século XVIII, é marcado por características distintas: “Acentua-se o impulso racionalista que assaltara a teologia no período escolástico: agora, não se contenta mais em provar a racionalidade da fé demonstrando que as verdades reveladas se harmonizam com os cânones da razão, mas também submete a Revelação ao tribunal da razão, dando a esta o dever de purificá-la de todos os elementos sobrenaturais.”60 O Iluminismo não chegou sem deixar sua marca degradante na teologia da Igreja. Por causa de sua “nova maneira de pensar”, muitos perverteram a revelação das Escrituras. A Bíblia já não era o fator sobrenatural que calava todas as outras vozes, mas sim, era 57 Robert Hastings Nichols, História da Igreja Cristã, p 223. 58 Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo, Vida Nova, 1995, p 322. 59 Batista Mondin, Os Grandes Teólogos do Século Vinte. São Paulo, Editora Teológica, 2003, p 23. 60 Batista Mondin, Os Grandes Teólogos do Século Vinte, p 21, 22.
  • 26. 26 apenas mais um dos diversos livros a serem “dissecados” cientificamente por estudiosos sem nenhum compromisso com Deus. E, além do mais, todos os conceitos bíblicos teriam que passar pela peneira da razão. 1.4.2 - A influência do racionalismo sobre a concepção de pecado O período do Iluminismo passou, mas apesar disto ele “deixou a sua marca na mente moderna. Muitas das idéias que são tomadas por certas na sociedade ocidental têm sua origem na Era do Iluminismo.”61 Na teologia também vemos suas conseqüências. Chegando “no século XIX, os teólogos que estavam fascinados pela nova cosmovisão associada com o iluminismo e o romantismo começaram a reinterpretar o pecado”.62 E em meio a estas reinterpretações, nós percebemos visivelmente a fuga do homem para não assumir a perversidade que é o pecado. O pecado já não tem o „peso‟ que deveria ser reconhecido pelo pecador, mas é suavizado o mais que possível. “Hoje a verdade acerca do pecado é disfarçada por eufemismos, e os nossos pecados se tornam meros „pecadilhos, „fraquezas temperamentais‟ ou „problemas de personalidade‟.”63 Este é um mal que foi se espalhando entre os teólogos e infelizmente fez surgir os mais variados modos de se conceituar ou explicar o pecado. É de grande importância averiguar os conceitos que se desenvolveram depois do impacto do racionalismo para que tenhamos uma visão geral de como muitos teólogos viram e vêem hoje em dia o tema do pecado. 61 C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 308. 62 D. G. Bloesch. Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã.Vol III, p 112. 63 John R. W. Stott, I, II e III João – Introdução e Comentário, p 105.
  • 27. 27 Primeiramente coloquemos a visão „deísta‟, que surgiu em meio ao contexto Racionalista. O teólogo C. Brown nos descreve a posição deísta da seguinte forma: “Os deístas alegavam que a religião verdadeira era a religião da razão e da natureza, e que o cristianismo devia ser conformado a este ponto de vista. Criticavam altamente o apelo tradicional feito pelos apologistas cristãos às profecias cumpridas e aos milagres como provas da confirmação divina do cristianismo”.64 Outro ramo da teologia foi o de Frederico Schleiermacher, que se educou entre os moravianos, mas aos dezenove anos separou-se da fé destes.65 Em sua teologia rejeitava o conceito de que pecado é a transgressão da lei de Deus, e o conceito de pecado original foi repudiado por ele.66 Segundo o seu ponto de vista: “O pecado é relacionado com o sentimento de desconforto mental sempre presente quando se está devotamente consciente de Deus...o pecado pode, pois ser descrito como a carne em oposição ao espírito; é este conflito que dificulta a consciência de Deus”67 Outro teólogo que se afastou totalmente do conceito bíblico de pecado foi Paul Tillich. Foi alguém que se utilizou não da Bíblia para seus postulados teológicos, mas de outros recursos. Senão, vejamos: “Paul Tillich entendia que o pecado humano consistia na alienação do seu eu verdadeiro e do fundamento da sua existência pessoal... fazia uso generoso das categorias psicológicas e sociológicas (tais como “alienação” e “separação”) para iluminar o mistério do pecado.”68 Não somente estes , porém outros mais deram sua posição sobre o assunto. Kant, por exemplo, não sabia explicá-lo; Leibnitz, dizia provir da limitação do universo69 e 64 C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 307. 65 Bengt Hägglund, História da Teologia, p 307. 66 Ibid, p 309. 67 Ibid, p 309. 68 D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã.Vol III, p 113. 69 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 221.
  • 28. 28 Ritschl, dizia proceder na ignorância humana.70 Charles Finney “reconhece que o pecado é um fato indiscutível, mas não uma necessidade. Sua explicação é que nós somos todos nascidos com depravação física - com uma tendência para auto-gratificação.”71 E “os evolucionistas (entre os quais há até teólogos) acreditam que o pecado é um resquício natural da anterior natureza animalesca do homem.”72 Não só teólogos, mas linhas teológicas têm revelado suas posições as respeito do pecado. Dentre estas linhas modernas da teologia abordaremos a teologia da libertação e teologia feminina. “Na teologia da libertação, o pecado é redefinido em termos de opressão social, exploração e aquiescência à injustiça”.73 Não se fala mais em Deus, ou Sua lei. É relacionado com os homens e seus erros contra os homens. O pecado é a “ganância por ganhos financeiros às custas dos pobres... o pecado é aquilo que desumaniza e oprime as pessoas”.74 Na teologia feminista temos um conceito um pouco diferente. A teologia feminista “entende que a essência do pecado está na passividade diante do mal, na timidez e na covardia diante da intimidação. O pecado não consiste tanto na auto-afirmação, mas no desprezo de si mesmo.75 O conceito de pecado sofreu alteração também nas religiões mais „populares‟. Entre aqueles que não são eruditos e estudiosos. É que vamos encontrar em muitas igrejas espalhadas pelo Brasil afora. É o que analisa D. G. Bloesch: 70 Louiz Berkhof, Teologia Sistemática, p 221. 71 Tony Lane, Pensamento Cristão. Vol II. São Paulo, Abba Press Editora e Divulgadora Cultural Ltda, 1999 p 92. 72 Russell Norman Champlin, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol V. São Paulo, 2001.Vol V, p 151. 73 D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113. 74 Ibid, p 113. 75 Ibid, p 113.
  • 29. 29 “O conceito de pecado também tem passado por uma transformação profunda na religião entre as culturas populares, onde a psicologia tem mais relevância do que a teologia. Sob a influência do “novo pensamento” e outros movimentos neotranscendentalistas, a religião dos veículos de comunicação reinterpreta o pecado como pensamento negativo ou derrotismo. Em alguns outros segmentos da religião de cultura popular... o pecado é equiparado à doença ou à instabilidade. A cura encontra-se na terapia individual ou grupal, e não num sacrifício pelo pecado.”76 Como podemos notar, a teologia se diversificou sobre o assunto de maneira vasta. Mas o conceito de pecado não está presente só na teologia. Está presente também no campo da filosofia. No campo da filosofia, o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-78) pode nos dar uma visão filosófica do tema. Sobre este assunto ele tinha uma outra posição. Ele afirmava o seguinte: “Os indivíduos em um estado natural são basicamente bons, tendo em vista que a natureza caracteriza-se pelo calor de sentimentos e de amor por outros. Porém, o progresso e o crescimento da civilização corromperam as pessoas.”77 Como é fácil de concluir, a Igreja caminha, e com ela caminham os pecados e deturpações dos homens. Por esta causa, tanto o seu comportamento, quanto a sua doutrina, têm sido atingida. Conseqüentemente, o homem moderno não discerne mais com tanta precisão o que é pecado. Mas de onde veio o pecado, que causa tantos malefícios ao ser humano? Será ele um mal da própria natureza humana? Ou um agente inesperado na história! Estas questões, e outras, serão tratadas no capítulo seguinte. 76 D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113. 77 Robert E. Clouse; Richard V. Pierard; Edwin M. Yamauchi; Dois Reinos – A Igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos, p 367.
  • 30. 30 CAPÍTULO 2 A EXISTÊNCIA DO PECADO NA VIDA HUMANA 2.1 - O pecado e sua relação com Deus Antes de tudo, devemos entender que mesmo o pecado estando presente na vida humana e não na vida divina, ainda assim, o pecado tem a ver com Deus. É claro que se fala em „pecar contra seres humanos‟. Porém, em última análise, todo pecado cometido constitui em ofensa contra a divindade.78 2.1.1 – A origem do pecado Sem sombra de dúvidas quando alguém fala a respeito de pecado tem na mente a concepção de que ele é mal. Entretanto, apesar deste senso comum em relação à natureza do pecado, muitos não sabem diferenciar entre mal moral e o mal natural. Não sabem de onde veio o mal moral, e muito menos qual o seu propósito. Contudo, as Escrituras não nos deixa totalmente desinformados com respeito a este tema. Na Palavra de Deus nós percebemos que existe dois tipos de males no mundo: O mal moral e o mal natural. O mal moral tem a ver com a ética, com a justiça; o mal natural tem a ver com as conseqüências do mal moral praticado pelos agentes livres criados (homens e anjos). O mal natural existe como conseqüência do mal moral (ou pecado). Por isto nos deteremos ao problema da origem do mal moral. E mesmo que alguns “inocentemente” possam achar fácil a resposta a esta questão, na verdade ela não é tão simples de ser dada. 78 Antônio Neves de Mesquita, Estudo no Livro de Levítico. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1971, p 75.
  • 31. 31 Para esclarecer o problema da origem do mal apresentaremos os axiomas demonstrados pelo escritor Donaldo D. Turner: 1- Deus é absolutamente soberano sobre tudo; 2- Deus é Amor, Santidade, e Pureza, não se agradando da iniqüidade; 3- Existe indubitavelmente a iniqüidade neste mundo de Deus”.79 Tendo em vista que as Escrituras assume os três axiomas sem negar qualquer deles, o problema se torna um tanto complexo.”80 A fim de darmos uma solução adequada a questão é apropriado conhecer o que a Confissão de Heidelberg e a Confissão de Westminster declaram sobre o assunto. A Confissão de Fé de Heidelberg em seu Artigo 13 declara: “... Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete”.81 A Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo III Seção I declara: “... Deus ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura ...”82 Em seu Capítulo V Seção IV declara: “A onipotência, a sabedoria inescrutável e a bondade infinita de Deus, de tal maneira se manifestam na sua providência, que esta se estende até à primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por mera permissão ...”83 Neste trabalho nos deteremos apenas nas declarações presentes na Confissão de Fé de Westminster. Nesta Confissão, não somente encontramos a asseveração de que Deus não é o autor do mal, mas também que Ele ordenou o primeiro pecado, bem como todos os outros pecados cometidos posteriormente. 79 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 35. 80 Ibid, p 38. 81 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p 13. 82 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo, Cultura Cristã, 1994, p 17. 83 Ibid, p 31.
  • 32. 32 O teólogo Héber Carlos de Campos fala com propriedade sobre o problema da origem do mal, apresentando-nos informações valiosas que nos ajudam a entender o problema: 1. Deus decretou a existência do pecado, mas não cometeu o pecado; 2. O decreto da entrada do pecado no mundo não significa que Deus aprova o pecado; 3. A preordenação dos pecados dos homens não significa que foram forçados a pecar. O decreto divino torna a entrada do pecado um fato certo de acontecer, mas não implica que Deus seja culpado do mesmo.84 Não é lícito a nós ultrapassar o que as Escrituras nos revelam. É revelado a nós que Deus decretou todas as coisas incluindo o mal. Se nós desprezarmos esta verdade por não compreendê-la, estaremos reagindo semelhante aos racionalistas – crendo somente no que entendemos pela razão. Quando é afirmado que Deus não é o autor do pecado não se quer dizer com isto que Ele não o decretou. O que se quer dizer é que Deus não pecou. Na verdade Deus é a causa do mal (autor do pecado). Contudo, é preciso explicar que Deus faz o mal existir por meio de suas criaturas. Deus é a causa do mal, mas Ele mesmo não peca. Esta afirmação não contradiz a Confissão de Westminster. Apenas diz que Deus não é o autor no sentido de que ele peca. Só as „causas secundárias‟ podem cometer o pecado.85 “A Escritura é clara nesse ponto. Deus é a causa primária de todas as coisas, incluindo o pecado (Isaías 45:7; Amós 3:6).”86 84 Héber Carlos de Campos, A Providência e a sua Realização Histórica. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2001, pp 369, 370. 85 W. Gary Crampton, Deus é a Causa do Pecado? Disponível em www. monergismo.com acessado em 22 de abr/2006. 86 Ibid.
  • 33. 33 Em síntese, nunca poderemos dizer que Deus peca porque ser o „autor‟ e „aquele que decreta a existência do pecado‟. Pois nem ele é quem peca (as causas secundárias é que o fazem), nem Ele está submisso a Lei moral (pois esta serve aos homens não a Ele). E se dissermos que Deus sendo o sumo Bem, não poderia ser a causa do mal, então caímos num erro a fim de evitar “outro”. Pois se Deus não for a causa do pecado, outro o foi. E se o pecado não for causado, logo ele é uma realidade eterna! E com toda certeza nenhuma destas duas possibilidades é correta. 2.1.2 – Deus Satanás e a origem do pecado A entrada do pecado decretada por Deus realizou-se primeiramente entre os anjos. Ou, mais especificamente, com Satanás (Gn 3:1-6; 2Co 11:3; Jo 8:44; 1Jo 3:8). A maioria dos estudiosos bíblicos e dos teólogos concordam que o mal surgiu com a rebelião de Satanás”.87 A dificuldade maior é responder como surgiu o mal em um anjo bom. O teólogo Gerard Van Groningen fala da queda angelical nos seguintes termos: “Tudo que pode ser dito é que Satanás, criado como arcanjo principesco, recebeu muitos dons quando foi criado. Satanás tinha a potencialidade e a liberdade como criatura de Deus para se rebelar contra Deus, para se opor a ele em seu reinado, e para buscar para si o controle do reino cósmico de Deus”.88 O teólogo Louis Berkhof, comentando o texto de (1Tm 3:6) diz: “Podemos concluir que, com toda a probabilidade, foi o pecado do orgulho, de desejar ser como Deus em poder e autoridade”.89 87 Gerard Van Groningen, Criação e Consumação. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 123. 88 Ibid, p 124. 89 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 222.
  • 34. 34 2.1.3 – Deus, Adão e Eva, e a origem do pecado A doutrina reformada entende que, com relação a humanidade, o mal entrou por meio de Adão e Eva. E estritamente falando, por meio de Adão, visto ser ele o cabeça federal da raça. Na passagem de (Rm 5:12-21) Paulo explica que o pecado entrou na raça humana por meio da desobediência do representante da humanidade - Adão. E tanto o pecado como seus resultados passaram aos descendentes dele. Esta verdade é inegável biblicamente ainda que se levantem objeções como: “Se a volição é determinada pelo desejo e pelo caráter, como pode um caráter santo ter uma volição pecaminosa?”90 Para responder esta questão podemos dizer que “parece que o pecado deve ser uma possibilidade, onde a livre-agência é um fato”.91 Na verdade não temos subsídios suficientes para dizer como pôde vir pecado de seres santos. O teólogo Francisco Jacinto, ao tratar do pecado de Adão diz: “Conhecer o bem e o mal significa dominar o bem e o mal; assenhorear-se deles, implica então em ser como Deus... o pecado do homem consistiu, pois, em ter pretendido igualar-se a Deus, único privilégio que lhe faltava”.92 O pecado de Adão consistiu em objetivar ser igual a Deus. Visto nada na criação ser digno de se tornar tentação ao coração puro de Adão e Eva, nada mais lógico do que tentá- los a ser como o bem mais precioso que eles haviam conhecido: Deus. Se por um lado não poderiam ser tentados a obter alguma coisa má (visto que na criação tudo era muito bom - Gn 1:31), por outro lado poderiam ser tentados a alcançar um 90 David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 198. 91 Ibid, p 199. 92 Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável), p 23.
  • 35. 35 bem (ser como Deus) através de uma atitude má (comendo do fruto proibido). O casal edênico não percebeu que já tinham tudo de que precisavam. Eles “não experimentaram privação por não participarem do fruto dessa árvore”.93 Mas seriam privados se participassem da mesma. 2.2 – Definição de pecado A Bíblia, antes de seu relato da entrada do pecado no mundo (Gn 3), nos mostra uma relação entre Deus e suas criaturas Adão e Eva. Esta relação era constituída ao mesmo tempo de privilégios para o homem (Gn 1:26-29; 2:8-9,16; 3:8) como também de responsabilidades (Gn 2:17). “Todos os elementos de uma aliança estavam presentes (estipulação clara das partes envolvidas, declaração das condições da aliança e uma promessa de benção pela obediência e punição pela desobediência)”.94 Na realidade as Escrituras em vários lugares falam de Pacto que Deus fez com o homem (Gn 6:18; 15:18; 17:19; Ex 24:8; Dt 4:23; Sl 89:3; 78:10; 105:10; Jr 31:31; 33:20, 21, 25, 26; 50:5; 32:40; Is 55:3; 56:4; Ez 16:60; Os 6:7; Lc 22:20; Rm 11:27; Hb 8:6, 9; At 3:25). Portanto, podemos dizer que neste Pacto (ou Aliança) existiam estipulações formuladas pelo próprio Deus, o autor do Pacto. As estipulações eram que, ele haveria de dar vida eterna à humanidade por meio da obediência de seu representante Adão, ou haveria de conceder morte eterna por resultado de sua desobediência. 93 William Fitch, Deus e o Mal, p 31. 94 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999,p 427.
  • 36. 36 Todo relacionamento de Deus com a humanidade estava baseado neste Pacto. Portanto, “pecado é a quebra de qualquer item do pacto”.95 “Do ponto de vista dos escritores bíblicos, o pecado entre o povo escolhido é essencialmente a infidelidade dos homens de Israel no cumprimento das suas responsabilidades perante Deus, de acordo com o concerto entre Deus e o povo da sua escolha”96 (Is 24:5; Jr 11:10; 22:9; Ez 16:59; 17:15- 19; Os 6:7; Zc 11:10; 1Rs 19:10, 14; 2Rs 18:12; Js 7:15; 23:16). Nas Escrituras há uma variedade enorme de palavras que são traduzidas por „pecado‟ – que é a quebra do pacto. Tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, os escritores não se prenderam ao uso de apenas uma palavra para expressar a idéia de pecado. Contudo, “é notável que tanto no grego do Novo Testamento como no hebraico do Velho Testamento, a palavra mais comum para pecado é: errar o alvo”.97 O alvo determinado por Deus para o homem é a comunhão feliz com Ele. Ao desobedecer à vontade divina, ele perde o alvo colocado a ele.98 “No pecado, pois, a alma é impedida de acertar no alvo, isto é, de atingir o propósito para o qual foi criada”.99 Na Bíblia não encontramos nenhuma definição proposital da palavra pecado. E o mais perto que chegamos disto são os seguintes textos: Tg 4:17; 1João 3:4; 5:17. Apesar de não ter uma definição clara e direta sobre o pecado, não podemos ignorar o fato de que, quando se fala de pecado, está se falando de um ato humano contra Deus. A quebra de Sua lei por meio das ações do homem. Comumente os reformados citam a 95 Wilson C. Ferreira, Esboço de Teologia Bíblica do Novo e Velho Testamentos. Patrocínio, CEIBEL, 1997, p 58. 96 Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 157. 97 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 67. 98 Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 164. 99 Russell Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado - versículo por versículo. Vol VI. São Paulo, Candeia, 1995, p 300.
  • 37. 37 definição de pecado encontrada no Catecismo Maior de Westminster: “pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como regra à criatura racional”.100 O pecado em sua essência se mostra como rebeldia a Deus. O homem foi criado debaixo da lei do Criador. Visto que o homem ao invés de procurar agradar a Deus e obedecê-lo, preferiu seguir o próprio senhorio, de certa forma podemos falar de pecado como uma tentativa de deificação do homem através das mãos do próprio homem. Porém, o pecado não se limita às ações dos homens. O pecado está enraizado na sua própria natureza desde a queda de Adão. Portanto, o estado pecaminoso é pecado (Pv 4:23; Jr 17:9; Mt 15:19, 20; Lc 6:45; Hb 3:12), e não somente as atitudes decorrentes desta natureza (Mt 15:19-20; Gl 5:19-21; 1Co 6:9-10; Ap 21:8). 2.3 - As conseqüências do pecado O pecado como sendo o maior mal que existe na história humana, e como o mal que supera todos os males, pois em essência é contra Deus101 , não poderia deixar de trazer conseqüências graves para seus praticantes. Mas quais as conseqüências do pecado? Primeiramente, temos que falar que o pecado traz separação inevitável entre a criatura e o Criador. Esta separação é morte espiritual, a separação da alma humana de Deus que é sua única vida.102 As conseqüências do pecado podem ser listadas apontando vários aspectos: Aspecto espiritual (Morte espiritual); aspecto circunstancial (sofrimentos da vida); aspecto corporal (morte física); aspecto temporal (morte eterna). E não somente 100 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17. 101 Samuel Bolton, O Mal sem Par, in Os Puritanos e a Conversão, p 21. 102 John R. Stott, Cristianismo Básico. São Paulo, Edições Vida Nova, 1979, p 84.
  • 38. 38 podemos enxergar nesta perspectiva. Podemos ainda ver dentro do interior do homem as conseqüências surgidas: 1- Na volição (Jo 8:34; Rm 7:14-24; Ef 2:1-3; 2Pe 2:19); 2- No intelecto (Gn 6:5; 1Co 1:21; Ef 4:17); 3- Nas emoções (Rm 1:24-27; 1Tm 6:10; 2Tm 3:4).103 Contudo, mesmo que o pecado tenha atingido todos os aspectos do ser humano, a Bíblia não faz referência a uma perda total da imagem de Deus no homem caído (Gn 9:6; 1Co 11:7; Tg 3:9). As conseqüências do pecado não se limitaram ao ser humano em sua natureza. “O consenso geral entre os teólogos ortodoxos é que o mal moral (o pecado) monta o palco para o mal físico (as desgraças naturais), mas o modo exato como aquele provoca este provavelmente permanecerá sempre um assunto de especulação humana”.104 Uma coisa é certa, o pecado maculou toda a criação, e não somente seus agentes livres. Falando das conseqüências do pecado devemos esclarecer também que há penalidades do pecado num sentido judicial (ou positivo), e igualmente penalidades num sentido natural. “Há punições que são resultados naturais do pecado e das quais os homens não podem escapar por serem as conseqüências inevitáveis do pecado”.105 (Jo 4:8; Sl 9:15; 94:23; Pv 5:22; 23:21;24:14; 31:3). 2.3.1 – Pecado original Uma das conseqüências inevitáveis do pecado de Adão que não podemos deixar de falar é que todos os seres humanos que nascem, já nascem pecadores. Adão como representante da raça, não poderia separar seu ato errado das suas conseqüências futuras. 103 Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 107. 104 D. G. Bloesch, Pecado, in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 111. 105 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 257.
  • 39. 39 Por isto as Escrituras nos relatam que o pecado é uma realidade universal entre os seres humanos (Sl 14:3; 142:2; 143:2;1Rs 8:46; Pv 20:9; Ec 7:20; Rm 3:1-12,19,20,23; Gl 3:22; Tg 3:2; 1Jo 1:8,10). Como sabemos biblicamente, o pecado não está relacionado com o conhecimento da Lei divina, pois alguém pode pecar mesmo que não conheça a Lei de Deus. O pecado tem relação não com o conhecimento individual da Lei divina, mas com o desejo pelo mal. A vontade de fazer o que é mal. A disposição para rebelar-se contra Deus. Evidentemente que o pecado não começa na vontade, visto que a natureza depravada e pecaminosa é que a torna má. Portanto, ao falamos da universalidade do pecado, falamos de pecado original. Este termo não se refere ao pecado que Adão cometeu lá no Éden. Não é uma designação ao “primeiro pecado na história humana”. Antes, é uma referência ao resultado do pecado que o primeiro homem cometeu. Teólogos desde os pais da igreja falavam sobre o assunto. Porém, em Agostinho é que encontramos uma melhor conceituação do assunto em questão. Diz ele: “Segundo ele, a natureza do homem, tanto física como moral, é totalmente corrompida pelo pecado de Adão, de modo que ele não pode deixar de pecar. Essa corrupção ou esse pecado original herdado é um castigo moral pelo pecado de Adão”.106 Com os reformadores o conceito não foi tão modificado. E Calvino faz um leve acréscimo ao tema: “Em termos gerais os reformadores estavam de acordo com Agostinho, embora Calvino diferisse dele, especialmente em dois pontos, acentuando o fato de que o 106 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 246.
  • 40. 40 pecado não é uma coisa puramente negativa, e que não se limita à natureza sensorial e emocional do homem.”107 Esta é uma das conseqüências que o pecado traz, que em sua essência podemos dividir em dois aspectos. Primeiro aspecto é que, por conta do pecado original, todo homem possui culpa original. E um segundo aspecto é que todo homem já nasce corrupto pelo pecado. Estado este que é denominado popularmente como depravação total. 2.3.2 – Depravação total Ao se utilizar deste termo depravação total, não se pretende dizer “que todo homem é tão completamente depravado como poderia chegar a ser”.108 A depravação total diz respeito não ao que o homem faz por meio de suas atitudes, mas diz respeito ao por quê dele fazer o que faz. Diz respeito à origem dos seus pecados. “O pecado, em primeiro lugar, é uma condição e, então, uma atitude; só então ele se torna uma ação ou uma série de ações”.109 O homem está corrompido em todos os aspectos do seu ser interior. E sua depravação não diz respeito somente às atitudes que percebemos, mas diz respeito ao seu interior. Nas palavras do teólogo John L. Dagg: “a depravação que lamentamos no gênero humano diz respeito aos princípios de ação como seres morais... a depravação moral aparece em atos exteriores de transgressão; contudo, por mais atrozes que sejam os atos exteriores, é a depravação do coração principalmente, que Deus observa e abomina”. 110 Temos que esclarecer que, a lei do Senhor não se dirige primordialmente aos atos errados que os homens cometem. Diz respeito essencialmente ao coração do homem. “Toda 107 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 247. 108 Ibid, p 248. 109 Michael Horton, A Lei da Perfeita Liberdade. São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p 160. 110 John L. Dagg, Manual de Teologia. São José dos Campos, 1989, p 126.
  • 41. 41 volição procede de algo que é mais profundo do que a própria volição, o que igualmente sucede à volição pecaminosa. Um ato pecaminoso é a expressão de um coração depravado (cf. Mc 7:20-23; Pv 4:23; 23:7)”.111 Na Confissão de Fé de Westminster encontramos explicitamente a declaração de que o pecado não está restrito aos atos, mas também é considerado pecado a natureza corrupta de onde os atos maus procedem. Observemos o que está registrado na Confissão em seu Capítulo VI Seção V: “Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida, naqueles que são regenerados; e embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo, todavia tanto ela como os seus impulsos são real e propriamente pecado”.112 Como percebemos, a depravação total corrompe o ser humano de tal maneira que nada do que ele faça está livre da mancha do pecado. E até quando não fazemos algo, podemos estar pecando, pois o pecado não é somente um mal manifestado quando agimos positivamente contra o que é certo e justo, “o mal não consiste em fazer somente o que não é bom; existe, também, o pecado da omissão, deixar de fazer o bem”.113 2.4 - Cristo e sua vitória sobre o pecado O pecado manchou gravemente a criação de Deus deixando-a amaldiçoada. Só o próprio Deus poderia dar uma solução para o problema do pecado. Por isto Deus envia seu Filho para vencer de uma vez por todas o pecado a restaurar todas as coisas. Para que isto fosse concretizado, o homem deveria ser legalmente justificado. 111 J. D. Douglas, editor, O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 1237. 112 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, A Confissão de Fé de Westminster, p 39. 113 Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável), p 19.
  • 42. 42 Neste caso, é mister compreender que a justificação depende da obediência ativa e passiva de Cristo. A justificação “não somente significa a remissão dos pecados passados, mas também um direito constitutivo a todas as coisas boas do porvir”.114 2.4.1 - A obediência de Cristo para obter a vitória Ao falar da vitória de Cristo sobre o pecado, não podemos esquecer que tudo o que era requerido a fim de garantir aos eleitos a vida eterna, Jesus teria que satisfazer. Ou seja, para pagar o preço do pecado Jesus teria que morrer (Rm 6:23; 1Co 15:3), e para garantir a justiça positiva da Lei, teria que cumpri-la completamente (Gl 4:4, 5, 7; Rm 10:3, 4; 8: 3, 4; 2Co 5:21). Neste aspecto, a teologia reformada declara que a obra salvífica de Cristo, para ser completa, deveria contar com Sua obediência à Lei divina - denominada “obediência ativa”. “Por sua obediência Cristo cumpriu a lei expressa no concerto das obras, que Adão deixou de cumprir”.115 Se Cristo não obedecesse a lei, os eleitos não estariam com a sua salvação completa, mas deficiente. “A eficácia salvífica da expiação não estava limitada à morte de Cristo. Ela se estendeu por “todo o curso de obediência”. Assim, o nascimento, a vida, os ensinos e os milagres de Cristo, junto com seu sofrimento e morte, pertencem à sua obra de expiação”.116 Por meio da obediência ativa “ele tornou disponível uma justiça diante da Lei que é imputada àqueles que confiam nEle, ou é contada a favor deles”.117 114 George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção. São Paulo, PES, s/d, p 12. 115 David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 278. 116 Timothy George, Teologia dos Reformadores. São Paulo, Vida Nova,1994. p 221. 117 Robert L. Reymond, Obediência de Cristo, in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 39.
  • 43. 43 Portanto, para conseguir vencer o pecado, Cristo teve que cumprir a lei divina, obtendo assim a vida eterna aos eleitos. 2.4.2 – A morte de Cristo para obter a vitória Como vimos anteriormente, para conquistar a vitória sobre o pecado, Jesus teria de cumprir uma segunda etapa da obra salvífica – a morte. O pecado tem como sua conseqüência primária a morte. Quando falamos de morte nos referimos a todos os aspectos a ela relacionados, a saber: Morte espiritual, morte física e morte eterna. Sendo assim, o representante do povo eleito teria que morrer no lugar deles. Ou, morrer a morte deles. O ponto climático onde Jesus cumpriu estas conseqüências do pecado foi a cruz. Aliás, “a mensagem da cruz é o mistério central do Evangelho bíblico.”118 Na ressurreição ele proclama vitória sobre os três: pecado (Hb 9:28), poderes das trevas (Ef 1:20), e aniquilou a morte (1Tm 1:10).119 As Escrituras nos dizem que “a expiação de Cristo satisfez completamente as exigências da justiça divina, assim o perdão e a misericórdia estão garantidos àqueles que receberam a Cristo com uma fé humilde e contrita”.120 Na verdade, “tão-somente o sangue derramado do filho eterno e amado de Deus em si mesmo poderia ter expiado o pecado”.121 Enfim, só “a cruz de Cristo proporcionou o caminho ao capacitar o único sacrifício perfeito a expiar o pecado humano de uma vez por todas”.122 Ele conquistou a vitória! 118 Júlio Andrade Ferreira, Antologia Teológica. Apostila I.Campinas, 1980, p 202. 119 Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 167. 120 John MacArthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 39. 121 Ibid, p 108. 122 John MacArthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 109.
  • 44. 44 CAPÍTULO 3 A NECESSIDADE DE VIDA HUMANA SEM PECADO 3.1 - Justificação: Vitória sobre a condenação do pecado É bem certo que o pecado traz conseqüências terríveis contra o ser humano juntamente com a toda a criação. Entretanto, Deus, em Sua infinita misericórdia, resolveu salvar aqueles que elegeu dentre a humanidade decaída. Para isto, decidiu qual o método a ser utilizado para retirar destes a condenação que o pecado infligia. Se o pecado gerou condenação, a salvação teria que gerar justificação. 3.1.1 - Definição de justificação Quando se fala em justificação, fala-se em declaração judicial, situação legal do pecador diante de um Deus que é Justo e Juiz (Gn 18:25). Observando a definição de justificação da Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo XI Seção I, encontramos:“Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas”.123 Segundo esta definição, a justificação não torna os eleitos aqui na terra justos moralmente. Mas sim, a justificação faz Deus considerá-los justos legalmente já nesta vida. “Se estamos em Cristo, Deus nos considera como se nunca houvéssemos pecado e, na verdade, como se já tivéssemos 123 Claudio Antônio Batista Marra, A Confissão de Fé de Westminster, p 64.
  • 45. 45 obedecido perfeitamente à lei”.124 Este é o sentido da justificação. Quem fala sobre este aspecto da justificação com clareza é o reformador Lutero: “Lutero usou a famosa frase simul justus et peccator (ao mesmo tempo justo e pecador), referindo-se à condição simultânea do pecador, onde ele é contado, ao mesmo tempo, como justo judicialmente, em virtude da imputação da justiça de Cristo e, todavia, permanecendo pecador em si e de si mesmo”.125 O reformador João Calvino ao falar deste tema também se pronuncia de forma semelhante: “Destarte, interpretamos nós a justificação simplesmente [como] a aceitação mercê da qual, recebidos à Sua graça, Deus nos tem por justos.”.126 De forma alguma a justificação nos faz justos como Jesus era justo. É uma questão judicial, não espiritual. Ocorre fora de nosso ser interior, no tribunal de Deus. Ou, dizendo de outra maneira, “pela justiça de Cristo os crentes passam legalmente a ter vida”.127 O modo como ocorre esta justificação é a imputação. “A totalidade da justiça pessoal de Cristo é imputada a eles e considerada como deles”.128 Do mesmo modo como o pecado de Adão é imputado à humanidade (Rm 5:12), a justiça de Cristo é imputada aos eleitos para a vida (Rm 5:18, 19). 3.1.2 - A base e o meio da justificação Não é de admirar que Deus fale a respeito de justificação logo no Antigo Testamento (Gn 15:16; Dt 25:1). Pois Ele é Justiça em sua forma mais elevada. Por isto mesmo não poderíamos esperar outra coisa senão a justiça sendo aplicada sem hesitação 124 Michael Horton, A Lei da Perfeita Liberdade - Os Dez Mandamentos, p 226. 125 Héber Carlos de Campos, A Justificação pela Fé nas Tradições Luterana e Reformada: Um Ensaio em Teologia Comparativa, Fides Reformata. Vol I. Nº 02, jul-dez 1996, p 35. 126 João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. Vol III. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p 189. 127 George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, p 8. 128 George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, p 6.
  • 46. 46 contra os pecadores. Por isto que, a justificação para ser realizada, não poderia jamais ferir a justiça divina, mas teria que satisfazê-la completamente. E visto que o homem em seu estado de pecado jamais poderia se salvar por si mesmo, Deus teria que salvá-lo. Foi precisamente aqui o erro dos judeus da época do Novo Testamento. Concluíam que pela obediência à lei de Deus poderiam ser justificados (Lc 18:11, 12; Rm 10:1-3; 9:31). Contudo, a lei “pode definir o pecado mas não pode curá-lo. É como um médico que pode diagnosticar uma doença mas que é incapaz de erradicá-la ou até mesmo de estabilizá- la.”129 Tudo provém de Deus. O objeto da justificação é o pecador, porém a base da justificação é a obra do Mediador. “Nosso conforto com relação à justificação é que toda a justiça de que necessitamos vem a nós através de Cristo Jesus”.130 A justificação fundamenta-se em duas bases: O sangue de Cristo compreendendo o pagamento da pena do pecado, e a Sua obediência compreendendo o cumprimento dos preceitos da lei que dá vida131 (Rm 5:9; 5:19). Mesmo as Escrituras comumente atrelarem a justificação à fé, isto não implica em que a fé é que justifica o pecador. Pelo contrário, “a Escritura nunca diz que somos justificados dia ten pistin (dia ten pistin), por causa da fé. Quer dizer que a fé nunca é apresentada como a base da nossa justificação”.132 Ou seja, a fé “não é em si mesma a causa meritória da justificação, seja no todo ou em parte”.133 129 William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, p 84. 130 Hermann Bavinck, Teologia Sistemática. Fundamentos Teológicos da Fé Cristã. Santa Bárbara D’Oeste, SOCEP, 1977, p 499. 131 John L. Dagg, Manual de Teologia, p 213. 132 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 524. 133 John L. Dagg, Manual de Teologia, p 215.
  • 47. 47 Assim, tanto o Luteranismo quanto o Calvinismo concordam que este seja o meio estabelecido por Deus. “Para ambas as tradições portanto, a fé não é a base para a justificação, mas simplesmente o meio, o órgão de apropriação”.134 Portanto, temos que levar em consideração não somente a base da justificação (a obra de Cristo), mas igualmente o meio (a fé). Como disse D. G. Bloesch: “A humanidade é objetivamente liberta por meio de Cristo que, na cruz e na ressurreição, venceu os poderes do pecado, da morte e do diabo; mas essa libertação não tem contato com o pecador até que seja dado o dom do Espírito Santo no despertar para a fé.”135 A Confissão de Fé de Heidelberg ao falar da necessidade da fé em seu Artigo nº 22 ela afirma: “Entretanto, não entendemos isso como se a própria fé nos justificasse, mas ela é somente o instrumento com que abraçamos Cristo, nossa justiça”.136 Sendo assim, a fé é necessária para a obtenção da justiça que vem de Cristo, mas ela mesma não é a base da justificação. 3.1.3 - O momento da justificação Aceitando que a fé é o instrumento apropriador da justificação, deve-se concluir assim que enquanto o pecador não exercer a fé em Cristo, ele não está justificado. Cristo morreu pelos eleitos há muitos anos atrás, mas a justificação pessoal ocorre no momento da fé. Recordemos que “a doutrina claramente ensinada nas Escrituras é: Quando os homens crêem em Cristo, então é que passam de um estado de condenação para um estado de 134 Héber Carlos de Campos, A Justificação pela Fé nas Tradições Luterana e Reformada: Um Ensaio em Teologia Comparativa,Fides Reformata, p 38. 135 D. G. Bloesch, autor, pecado,in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113. 136 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg, p 21.
  • 48. 48 justificação”.137 Nas palavras de João Calvino: “Enquanto Cristo permanece fora de nós, e nós estamos separados dEle, tudo o que Ele sofreu e fez pela salvação da raça humana permanece sem utilidade e sem valor para nós”.138 Então, no momento da fé, são perdoados todos os pecados. Sejam eles do passado, do presente ou do futuro.139 Depois da justificação, o pecador tem como alvo, a partir de então, a santificação. 3.2 - Santificação: Vitória sobre o domínio do pecado Levando em consideração que a condenação do pecado foi destruída pela justificação, agora se deve considerar o fato de que o pecado não tem domínio sobre os cristãos. Aqueles que são justificados também são objeto da santificação. Deus concedeu aos pecadores eleitos o direito à vida através da justificação, mas também concedeu a eles a capacidade de viverem esta vida a qual obtiveram. 3.2.1 - Santificação posicional e santificação moral Antes de tudo é mister esclarecer que quando a Bíblia fala de santidade, ou santificação, ou santos, ela usa estes termos em mais de um sentido. O primeiro sentido de santificação relacionado ao cristão é a santificação posicional, que diz respeito a pertencer ele a Deus. O segundo sentido de santificação diz respeito ao fato de ser o cristão cada vez mais semelhante a Deus. É a santificação moral. Apesar de que resumidamente falando, o termo “santo, tanto no hebraico, como no grego, significa separado, consagrado e recriado 137 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg, p 219. 138 Anthony A. Hoekema, Salvos pela Graça. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1997, p 202. 139 Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001, p 1146.
  • 49. 49 para Deus”,140 nós podemos encontrar outro sentido para ele. É o que nos apresenta O Novo Dicionário da Bíblia: “O sentido básico da raiz hebraica vAdßq' (qdsh) é variadamente dada como (i) „separar‟; (i) „brilho‟. A primeira pode sublinhar a santidade ou santificação em termos de posição, estado, relação, onde as palavras são traduzidas como „cortar‟, „separar‟, „consagrar para uso exclusivo‟, „dedicar‟, ou „consagração‟, „considerado como sagrado em contraste com o comum, profano ou secular‟. A última pode sublinhar aqueles empregos que dizem respeito à condição, estado ou processo, o que no Novo Testamento prossegue com o pensamento de uma transformação interna que gradualmente tem lugar, e que resulta em pureza, retidão moral e pensamentos santos e espirituais que se expressam por meio de uma vida externa de bondade e piedade”.141 Quando falamos de santidade posicional, isto “diz respeito a um estado de ter sido separado, desligado do ordinário ou mundano e dedicado a um propósito ou uso particular.”142 Este é o estado de todos os salvos (1Co 6:11; At 20:32; 26:18; Rm 6:2). No texto de 1Co 6:11, O apóstolo estava declarando a posição que os cristãos gozavam perante Deus. Eles haviam sido tornados santos, estavam separados das práticas pecaminosas de outrora que caracterizavam suas vidas.143 A santificação moral é um pouco diferente. “O cristão agora é exortado a ser santo, em sua experiência diária. Seu anelo deve ser conformar sua condição, ou estado atual no mundo, com sua posição, diante de Deus, pela imputação”.144 Com toda certeza a Bíblia ensina que é Deus quem nos santifica (Ts 5:23; Tt 2:14; Hb 13: 20,21; Fp 1:6; Gl 5: 16, 22, 23, 25; Rm 8:13; Jo 17:17; Ef 5:25-27; Fp 2:13), mas também com toda certeza ela afirma que nós nos santificamos (2Co 7:1; Hb 12:14; Rm 12:1, 2; Fl 2:12). Em síntese, “Deus toma parte no ato de iniciar a santificação mas, daí, em diante, o homem tem de empregar 140 J. I. Packer, A Redescoberta da Santidade. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 16. 141 J. D. Douglas, editor, O Novo Dicionário da Bíblia, pp 1484, 1485. 142 Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1997, p 418. 143 J. Dwight Pentecost, A Sã Doutrina. São Paulo, Mundo Cristão, 1981, p 102. 144 Ibid, p 279.
  • 50. 50 os recursos que Deus lhe oferece”.145 “É quinhão do cristão experimentar constante vitória sobre o mal”.146 O cristão deve fazer tudo que puder para obter a santidade.147 O fato é que “embora o pecado não reine em nós, ele todavia ainda permanece em nós. Ele está destronado mas não destruído”.148 “O pecado no nosso íntimo, embora seja um „inimigo conquistado‟ ainda deve ser vigorosamente resistido ao longo de nossa vida”.149 O cristão foi regenerado recebendo uma nova vida que está preparada para realizar a vontade de Deus. Mas ainda que o cristão já possua esta nova vida, ela precisa ser fortificada, desenvolvida, amadurecida. 3.2.2 - Meios para a santificação moral Ao ordenar que o homem fosse responsável também por sua santificação, Deus entregou a ele tudo o que era necessário para que ele atingisse tal alvo. Deus estabeleceu o objetivo, e ensinou os meios. Os meios que Deus deixou para que cresçamos em santificação é denominado na teologia como meio de graça. Evidentemente que muitas coisas podem nos ensinar em nossa vida, ou nos levam a ter mais comunhão com Deus. Porém, o termo meio de graça é geralmente utilizado com um sentido mais limitado, referindo-se aos sacramentos e à Palavra de Deus. De modo restrito, só estes são considerados os meios de graça.150 145 J. Dwight Pentecost, A Sã Doutrina. São Paulo, Mundo Cristão, 1981, p 278. 146 William Fitch, Deus e o Mal, p 132. 147 Simon Kistemaker, Comentário do Novo Testamento, Exposição de Hebreus. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003, p 541. 148 John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 129. 149 John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 131. 150 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 275.
  • 51. 51 A Santa Ceia “para a igreja militante, é um meio de graça fundamental que alimenta os eleitos em vários aspectos da vida cristã”.151 Lembremos que ela não foi instituída por homens, mas por Cristo (Mt 26:26-30). Portanto, deve ser celebrada até a sua volta (1Co 11:26) e para o bem da Igreja (1Co 1:17). Porém, apesar de a Santa Ceia ser um meio de graça que nos ajuda na santificação, o outro meio de graça, que é a Palavra de Deus, é o mais importante.152 “Uma vida que se alimenta da Palavra de Deus, que se alegra em fazer a vontade de Deus, é sempre frutífera, produzindo boas obras”.153 Não há como alguém crescer em santificação sem conhecimento da Palavra de Deus. É uma contradição de termos quere ter comunhão com Deus ser conhecê-lo. Portanto, todo o que quer praticar a justiça deve se interessar por aquilo que Deus revelou.154 3.2.3 – Resultados da negligência na santificação É dever da Igreja não negligenciar a santificação.A Igreja que não se empenha constantemente na santificação, acaba por cair num mal muito conhecido pelos cristãos: A secularização.Vejamos o que o Pacto de Lausanne diz sobre o homem secularizado: “um membro de igreja secularizado é aquele que fez profissão de fé em Cristo e mantém, normalmente, alguma relação normal com a igreja. Em seu modo de viver, entretanto, ele ignora consciente ou inconscientemente os imperativos bíblicos, ou faz pouco caso deles. O resultado prático é um modo de vida em que Deus aparece essencialmente ausente na 151 Arley Preto Gomes, Uma Perspectiva Escriturística sobre a indignidade de participação na Ceia do Senhor, Fides Reformata, pp 45,46. 152 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 275. 153 Kyle M. Yates, Estudos no Livro dos Salmos. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1959, p 13. 154 Ibid, p 12.
  • 52. 52 tomada de decisões de porte. Ele não obedece a Deus e Cristo não é Senhor de toda a sua vida. O resultado é um modo de vida indiferente daquele ditado pela cultura dominante.”155 Infelizmente existem cristãos que não aprenderam o que é santificação como o desenvolvimento da nova vida em Cristo; como amadurecimento do seu caráter para a forma do caráter de Cristo. Ao contrário disto, existem cristãos que pecam constantemente e não dão importância alguma a isto. Este é o típico cristão secularizado. Ele pode até estar ciente que cometeu um pecado, mas não possui sentimento de culpa, ou reconhecimento de que é passível de punição.156 O perigo da secularização pode estar presente em qualquer igreja. Não há nenhuma barreira que possa impedir sua entrada a não ser a verdadeira santificação nos moldes bíblicos. O teólogo Juan Carlos Hortiz, fazendo uma análise do comportamento da igreja em nossos dias, diz que o problema da Igreja é a eterna falta de maturidade dos cristãos que a compõe.157 Ao falar de secularização, não estamos declarando que os cristãos ficam secularizados repentinamente. Este é um processo que provém de tempos e tempos de uma prática errônea de cristianismo. Como bem disse Simonton Araújo: “crentes então ativos, pregavam até “ficar roxos”, depois começam a faltar aos programas semanais da Igreja. Acham que não fazem falta. Não dão tanto valor à vida de oração e à Bíblia. Depois começam a negligenciar a Escola Dominical. Para tais, tanto faz tomar como não tomar a Ceia do Senhor. Afastam-se de todas as fontes da Graça de Deus”.158 Este é o caminho natural de quem não tem preocupação alguma com o Divino. No entanto, não é este o plano de Deus para a Igreja. E a santificação nunca deixou de ser parte 155 Série Lausanne, O Evangelho e o Homem Secularizado. São Paulo, ABU Editora s/c e Visão Mundial, 1985, p 8. 156 Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 171. 157 Simonton Araújo, Persiga a Santificação. Niterói, 1995, p 28. 158 Simonton Araújo, Persiga a Santificação, p 16.
  • 53. 53 do plano divino, ainda que muitos a negligenciem, e pensem que O agradam mesmo assim. Pelo contrário, a santificação está seguindo para o seu clímax: a glorificação. 3.3 - Glorificação: Vitória sobre a presença do pecado Deus em seu plano poderoso de salvação não poderia deixar de destruir por fim, o pecado. A justificação anula a condenação do pecado, a santificação anula seu domínio sobre o cristão, e a glorificação é a destruição total da presença do pecado no cristão. Se não houvesse glorificação, o plano salvífico estaria incompleto. 3.3.1 - Definição do termo glorificação A doutrina da glorificação dos salvos é amplamente encontrada nas Escrituras (Jo 5:28,29; 6:39,40,44,54; 11:23,24; Rm 8:11; 8:19-23; 2Pe 3:7, 12,13; Ap 2:7; 22:11; Rm 8:30) A doutrina da glorificação foi indiretamente anunciada em (Gn 3:15), ainda que foi claramente exposta somente depois com os profetas. Seguindo o ensinamento Bíblico podemos definir a glorificação deste modo: “Glorificação é o passo final da aplicação da redenção. Ocorrerá quando Cristo voltar e levantar dentre os mortos o corpo de todos os cristãos que morreram, de todas as épocas, reunindo-o com a alma de cada um, e mudar o corpo de todos os cristãos que estiverem vivos, dando assim, ao mesmo tempo, a todos os cristãos um corpo ressurreto como o seu”.159 A glorificação é o último estágio da ordo salutis. Neste estágio do plano da salvação irá definitivamente cumprir a promessa central da aliança da graça: Ele habitará com eles, e eles serão seu povo (cp. Gn 17:7; Ex 19:5, 6; Jr 31:33; Ez 34:30; 2Co 6:16; Hb 8:10; 1Pe 159 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 695.
  • 54. 54 2:9, 10)”.160 Um novo planeta virá, agora sem a presença do mal (Ap 21:27). Com a glorificação, Ele removerá o pecado, as maldições do pecado, e as ações e presença do Tentador maligno. 3.3.2 – Resultados da glorificação Como é perceptível por toda a Bíblia, “a meta da redenção divina é coesamente definida como uma meta em que o pecado será derrotado e removido para todo o sempre”.161 “Tudo que é do pecado será queimado pelo fogo do juízo divino, e tudo que o pecado produziu será banido para sempre”.162 Neste tempo em que o mal será banido para sempre, e os salvos terão um novo modo de viver. Será uma vida relações perfeitas tanto Com Deus (Ap 21:3;22:4), quanto com o próximo (Ef 4:13; Ap 21:10), consigo mesmo (Ap 21:4), com o ambiente (Rm 8:21-23; Ap 22:1ss) e com o tempo ( 1Pe 1:3ss; Ap 21:4).163 A glorificação ocorrerá em duas dimensões: no indivíduo salvo e no mundo no qual habita. Com respeito aos corpos dos salvos, as Escrituras falam que eles serão transformados (Fp 3:20,21; 1Co 5:1-5; 15: 20,23, 38-50). Esta transformação não será paulatinamente, mas repentinamente. Como disse Bernard Ramm: “Essa glorificação não é um processo, não se trata de crescimento, mas ocorre de repente, de modo dramático, no final dos tempos.”164 E mesmo que ocorra uma chamada „transformação do corpo‟, não implica em total diferença entre o corpo atual com o que teremos no porvir. “Haverá uma continuidade definida entre o nosso corpo atual e o corpo que teremos na 160 Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p 381. 161 Ibid, p 15. 162 Ibid, p 112. 163 Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 123. 164 Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, p 433.
  • 55. 55 ressurreição”.165 Não seremos modificados para sermos “outros seres”. Sempre seremos humanos. A esta altura é instrutiva as palavras de William Hendriksen: “gostaríamos de advertir ao leitor contra a posição, aparentemente sustentada por alguns, que a vida porvir (seja no estado intermediário, seja no final) será tão completamente diferente que não haverá nenhuma conexão entre o nosso presente estado. Assim, erroneamente, a preservação da identidade pessoal é negada, seja implícita ou explicitamente”.166 O fato que há uma continuidade dos corpos não tira a verdade de que eles serão corpos glorificados. O corpo será o mesmo, e não outro. Paulo fala que Deus “transformará” (Fp 3:21) os corpos, e não, que ganharemos outro. Verdadeiramente o corpo da ressurreição terá continuidade e relação com o corpo atual, pois dele se deriva. Porém não implica em simples revitalização do presente corpo.167 Na abordagem que o apóstolo Paulo faz da ressurreição final em (1Co 15:42-44, 49), ele nos esclarece que o corpo ressurreto obterá mudanças. E lista-nos pelo menos quatro aspectos do modo como ele será: Será incorruptível, será glorioso, será poderoso, será espiritual. Mas apesar de receber estas mudanças seremos os mesmos. É claro que não somente os corpos terão vitória completa sobre os resultados e presença do pecado. “Na glorificação também haverá um aperfeiçoamento moral e espiritual do indivíduo”168 (Jd 24). A alma do salvo nunca mais pecará. A glorificação não implica em melhoria e benefício somente dos seres humanos. Toda a criação será amplamente abençoada pela glorificação. Aliás, na missão de Cristo, ele resgata o universo em sua totalidade. Como afirma Anthony A. Hoekema: “A obra de 165 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 701. 166 William Hendriksen, A Vida Futura Segundo a Bíblia. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1988, p 247. 167 Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, p 505. 168 Ibid, p 431.
  • 56. 56 Cristo, portanto, não é apenas salvar certos indivíduos, nem mesmo salvar uma incontável multidão de pessoas compradas por sangue. A obra total de Cristo não é nada menos do que redimir toda esta criação dos efeitos do pecado”.169 Mesmo que seja verdade que a criação foi amaldiçoada juntamente com o homem, e que a redenção dela também está ligada com a redenção dele (Rm 8:19-22), entretanto, as Escrituras não são muito claras com respeito a como será este novo céu e esta nova terra. Por isto, “dentro do mundo protestante, há divergência sobre a questão se a terra será destruída por completo e substituída ou apenas mudada e renovada”.170 A interpretação luterana professa que haverá uma criação nova. Já os reformados são tendentes a enfatizar os versículos que falam de uma renovação da presente criação.171 Observemos o que diz o teólogo Wayne A. Grudem sobre o referido tema: “A posição reformada parece preferível aqui, pois é difícil imaginar que Deus aniquilaria totalmente sua criação original, causando assim a impressão de ceder ao diabo a última palavra e desfazendo-se da criação que originariamente era muito boa (Gn 1:31)”.172 Assim, a Bíblia parece favorecer que a terra será renovada e transformada assim como aconteceu um dia com os cristãos (2Co 5:17). É bem certo que o pecado trouxe maldição sobre toda a criação, porém o poder salvífico e restaurador de Deus supera tais conseqüências. Deus fará um mundo glorificado. 169 Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p 369. 170 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 990. 171 Ibid, p 990. 172 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 990.
  • 57. 57 3.3.3 – O início da glorificação Como é de se esperar, a história humana terá um fim. Não se quer dizer com isto que todos serão aniquilados. Deus dará um fim a todo o mal. Apesar de existir visões divergentes sobre o caminhar da história, “a Bíblia tem a sua própria filosofia da história. Toda a história, afirma ela, começa com Deus, está sob Deus, e terminará segundo a vontade de Deus”.173 A glorificação é o estágio último da redenção. E este estágio não tem data marcada nas Escrituras. É um acontecimento que se dará no tempo de Deus, e não compete a ninguém saber (Mc 13:32; At 1:6,7). A Bíblia só dá duas afirmações sobre este o tempo deste acontecimento: Primeiro, a glorificação se dará no Dia do Senhor. Sabe-se portanto que “o dia do Senhor virá e que, nesse dia, a total derrota do mal se consumará”174 (1Co 15; Ap 21); Segundo, a outra informação é que será juntamente com a volta de Cristo, a qual será repentina (2Pe 3:10; 1Ts 5:2,3). 173 William Fitch, Deus e o Mal, p 69. 174 Ibid, p 111.
  • 58. 58 CONCLUSÃO Não há como escapar da verdade que o pecado está presente na vida do ser humano em todos os aspectos. Como ficou demonstrado aqui, o mal teve seu início, propagou-se neste meio termo onde a salvação estava sendo providenciada, porém fatalmente terá um fim. O homem natural jamais compreenderá estas coisas, e continuará a buscar respostas as mais absurdas possíveis para explicar a angústia do seu coração causada pelo pecado. Irão percorrer longos caminhos a procura de resolução para os problemas da alma advindos do pecado, todavia sem sucesso. Eles nunca conseguirão satisfazer tais necessidades. Como bem declarou Francisco Jacinto Pereira Filho: “A Filosofia, a Ciência, os conhecimentos humanos jamais poderiam dar aos homens uma orientação segura na resolução de seus problemas. Então, as Escrituras com sua Luz meridiana, Revelação e Inspiração Divinas, conduzem os homens ao verdadeiro Caminho, à Luz Celestial, ao Sol da Justiça”.175 Realmente as Escrituras podem nos dar respostas a respeito do mal e da causa de todo o sofrimento humano. Como está demonstrado neste trabalho em seu capítulo 1, os homens tiveram as mais diferentes explicações em relação ao seu pecado. E o conceito de pecado varia enormemente entre eles. Isto não só durante uma época, mais durante toda a história. Vemos também no capítulo 2 deste trabalho que o mal não é um acidente para Aquele que tem toda a história nas mãos. Observa-se a natureza essencial do pecado e suas conseqüências para o homem, tanto coletivamente, como individualmente. É abordado 175 Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável), p 18.
  • 59. 59 também que a única solução para todo este mal do pecado e suas conseqüências foi a obra de Cristo. O qual venceu de uma vez para sempre as hostes malignas com suas obras (1Jo 3:8; Cl 2:15). O capítulo 3 fala acerca das conseqüências desta obra vitoriosa do Messias. As quais são a justificação dos eleitos de Deus, a santificação de suas vidas tornando-os cada vez mais semelhantes a Ele mesmo, e a final glorificação de suas vidas levando-os para o novo céu e a nova terra. Apesar de conhecer tais verdades a Igreja não tem sido sensível ao pecado como antes. A realidade de uma vida secularizada e negligente está presente em muitas igrejas protestantes. A Igreja deveria reagir bem diferente em meio a este mundo pervertido e corrupto, e nunca agir semelhante aos ímpios desesperados deste mundo. Ao olhar para fim futuro do mal, é dever do cristão ter uma reação totalmente oposta ao que se tem visto em muitas igrejas. Como bem falou o teólogo Anthony A. Hoekema: “a doutrina da nova terra deveria nos dar esperança, coragem e otimismo em tempos de desespero difundido. Embora o mal seja excessivo neste mundo, é confortante saber que Cristo conquistou a vitória final”.176 O plano de Deus foi revelado nas Escrituras progressivamente, e hoje o cristão pode conhecê-lo plenamente. Nela pode-se ver o desenvolvimento temporal da redenção claramente. É o que nos mostra J. I. Packer: “A salvação no Novo Testamento tem três tempos: passado, presente e futuro. É a salvação: da culpa do pecado (o aspecto passado: já não estamos mais debaixo das penalidades do pecado); do poder do pecado (o aspecto presente: o pecado não mais nos 176 Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, pp 382, 383.
  • 60. 60 domina) e da presença do pecado (o aspecto futuro: o pecado, um dia, não passará de uma má recordação)”.177 Ora, uma Igreja que não somente conhece estas verdades, mas também as entende espiritualmente. Não somente entende, mas também crê nelas. Esta Igreja deveria ser impactante no mundo, não permitindo que o mal se alastre nele como se houvera vencido o bem. Pelo contrário, demonstrar com a própria vida que o Bem, longe de ser vencido pelo mau, é o próprio autor e controlador e destruidor do mesmo. 177 J. I. Packer, A Redescoberta da Santidade, p 41.