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INTRODUÇÃO
Como bem sabemos o homem foi criado a fim de ter comunhão com o Criador.
Contudo, devido ao seu estado atual em pecado, o homem necessita de que Deus se
revele a ele, mostrando-lhe as verdades acerca de Si, do mundo, e do próprio homem,
para que possa este voltar a ter comunhão novamente com o Criador. Para satisfazer
esta necessidade Deus revelou-se ao homem de tal forma que este pudesse entender
mais sobre Ele e Seus planos. Esta revelação está ao alcance do homem principalmente
por meio do registro dela nas Escrituras Sagradas.
Ora, o cristianismo está fundamentado na revelação de Deus, e sobre ela se
apóia inteiramente. Toda doutrina cristã está baseada na revelação escrita que Deus
produziu por meio de homens vocacionados para isto. De forma que conhecer a Bíblia é
conhecer a vontade de Deus e Sua Pessoa. E ainda que este conhecimento não implique
imediatamente em conhecimento experiencial, não há como ter comunhão com Deus
fora desta revelação.
Diante disto tudo, é preciso que os crentes aprendam cada vez mais acerca das
Escrituras a fim de estarem cada vez mais dentro da vontade do Criador. Para tanto,
apresentamos nesta revista dez estudos sobre as Escrituras, os quais tem como propósito
fazer com que os leitores entendam mais a respeito da revelação entregue por Deus à
humanidade.
Certamente cada estudo desta obra não é exaustivo em seu conteúdo, mas tenta
esclarecer o essencial sobre cada tema abordado. Quaisquer dúvidas que o leitor ainda
possuir após a leitura dos textos, deverão ser retiradas mediante pesquisa em outros
2
materiais teológicos de linha reformada, ou por meio de pastores calvinistas com os
quais ele possa entrar em contato.
Deus abençoe seus estudos!
Pr. Alberto Simonton
3
Estudos TÍTULOS páginas
Nº 1 REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL 04
Nº 2 INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS 10
Nº 3 INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS 14
Nº 4 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS 17
Nº 5 INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS 20
Nº 6 A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS 22
Nº 7 CÂNON DAS ESCRITURAS 30
Nº 8 ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS 39
Nº 9 A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS 41
Nº 10 A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS 44
4
REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL
Introdução
Antes de estudarmos todas as doutrinas de acordo com seus vários temas, faz-
se necessário que iniciemos com a questão das fontes de onde extrairemos estas
doutrinas. Cada religião tem a fonte (ou fontes) de onde procedem as suas crenças, e
com o cristianismo não poderia ser diferente. Portanto, devemos entender bem de onde
é que surgiu cada verdade da religião cristã.
No nosso caso, afirmamos que todas as verdades espirituais são provenientes
de revelações dadas pelo Ser Supremo do universo, o qual se mostrou, por meio delas, a
nós. Mas o que são estas revelações? O que significa ―Revelação‖ dentro do contexto da
teologia cristã? ―Revelação significa intrinsecamente a exposição daquilo que
anteriormente era desconhecido. Na teologia judaico-cristã, o termo é usado
primariamente para a comunicação da verdade divina de Deus para o homem ou seja: a
Sua manifestação de Si mesmo e da Sua vontade.‖ 1
Tradicionalmente, na teologia, a
revelação divina tem sido classificada comumente como sendo de dois tipos: Revelação
Geral e Revelação Especial.
Revelação Geral
A Revelação Geral “é assim chamada porque chega a cada um de nós
simplesmente por vivermos no mundo de Deus. Deus tem se revelado desse modo desde
o começo da história humana.‖2
Todo ser humano pode contemplar esta revelação, e
qualquer um tem acesso a ela, visto ela se dirigir a toda a humanidade. Ela tem em vista
―suprir a necessidade natural das criaturas quanto ao conhecimento do seu Deus‖.3
É
importante que entendamos que ―a revelação geral está radicada na criação e nas
relações gerais de Deus com o homem, é dirigida ao homem como a criatura portadora
da imagem de Deus, e visa a realização do fim para o qual o homem foi criado, o que
pode ser alcançado somente quando o homem conhecer a Deus e gozar comunhão com
Ele.‖4
Como a revelação geral se apresenta ao ser humano? De qual forma o ser
humano entra em contato com ela? Vejamos a seguinte explicação: ―A revelação geral
1
Carl F. H. Henry, Revelação Especial in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja
Cristã. Editor, Walter A. Elwell. São Paulo,Vida Nova, 2009, p 299.
2
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica
do Brasil, 1999, p 626.
3
Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 39.
4
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p
27.
5
não vem ao homem diretamente por comunicações verbais... Deus fala ao homem
através de toda a sua criação, nas forças e nos poderes da natureza, na constituição da
mente humana, na voz da consciência, e no governo providencial do mundo em geral‖.5
Apesar de satisfatório para conhecer alguns aspectos do Criador, a Revelação
Geral não desempenha mais sua função de modo perfeito e suficiente devido às
seguintes razões:
1. O pecado maculou a Revelação Geral de tal forma que esta não mostra Deus
clara e perfeitamente como antes da entrada do pecado;
2. O homem já não consegue entender a Revelação Geral de forma correta devido
à sua pecaminosidade. Assim, ele não tem capacidade espiritual para ver
claramente esta revelação deixada pelo Criador;
3. A Revelação Geral nada diz a respeito do perdão do pecado, ou sobre Cristo,
ou sobre a salvação. Portanto, ela é insuficiente para resgatar os pecadores e
consumar os planos divinos.6
Base Bíblica: Sl 19:1, 2; At 14:17; Rm 1:19, 20; Rm 2:14-15
Base Confessional:
 Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura Sagrada):
―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal
modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens
ficam inescusáveis...‖
 Catecismo Maior (perg. 2) ―Como podemos saber se existe um Deus?‖
Resposta: ―A própria luz da natureza no homem, e as obras de Deus,
claramente testificam que existe um Deus...‖7
Revelação Especial
Devido ao fato de a Revelação Geral ser insuficiente aos propósitos divinos,
aprouve a Deus apresentar a Revelação Especial a fim de levar adiante seu plano eterno
para o mundo. Podemos explicar a Revelação Especial nos seguintes termos: ―A
revelação especial está arraigada no plano de redenção de Deus, é dirigida ao homem na
qualidade de pecador, pode ser adequadamente compreendida e assimilada somente pela
5
Ibid, p 29.
6
Ibid, p 30, 31.
7
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Cultura Cristã,
1999, p 1.
6
fé, e serve ao propósito de assegurar o fim para o qual o homem foi criado a despeito de
toda a perturbação produzida pelo pecado.‖8
Os meios pelos quais a Revelação Especial se apresentou podem ser reduzidos,
de forma geral, a três tipos:
1. Teofanias ou manifestações de Deus :
a. Fogo e nuvens de fumaça (Gn 15:17; Ex 3:2; 19:9, 16, 17; 33:9; Sl
78:14; Sl 99:7);
b. Nos ventos tempestuosos (Jó 38:1; 40:6; Sl 18:10-16);
c. Anjo do Senhor (distinto de Deus - Ex 23:20-23; Is 63:8, 9;
identificado com Deus - Gn 16:13; 31:11-13; 32:28);
d. Encarnação de Cristo (Cl 1:19; 2:9).9
2. Comunicações diretas:
a. Voz audível (Gn 2:16; 3:18, 19; 4:6-15; Ex 19:9; Dt 5:4; 1Sm 3:4);
b. A sorte e o Urim e Tumim (1Sm 10:20, 21; 1Cr 24: 5-31; Ne 11:1;
Nm 27:21; Dt 33:8);
c. Sonho (Nm 12:6; Dt 13:1-6; 1Sm 28:6; Jl 2:28);
d. Visão (Is 6; 21:1; Ez 1-3; 8-11; Dn 1:17; 2:19; 7-10; Am 7:1-9).10
3. Milagres:
―De acordo com a Escritura, Deus também Se revela pelos milagres. É
especialmente deste ponto de vista que os milagres da Escritura devem ser
estudados... Eles são, acima de tudo, manifestações de um poder especial
de Deus, sinais de Sua presença especial, e servem, com freqüência, para
simbolizar verdades espirituais. Como manifestações do reino vindouro de
Deus, tornam-se subservientes à grande obra da redenção... Eles
confirmam as palavras da profecia e apontam para uma nova ordem que
está sendo estabelecida por Deus.‖11
Como se pode observar, a Revelação Especial é diferente da Revelação Geral
na forma de se apresentar ao homem, e igualmente diferente em seu conteúdo:
―A revelação especial não serve, simplesmente, ao propósito de comunicar ao
homem algum conhecimento geral de Deus. Descobre ao homem o
8
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 39.
9
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 34.
10
Ibid, p 34.
11
Ibid, p 35.
7
conhecimento específico do plano divino para a salvação dos pecadores; da
reconciliação de Deus e dos pecadores por meio de Jesus Cristo; do caminho
da salvação aberto por Sua obra redentora, da influência transformadora e
santificadora do Espírito Santo, e das exigências divinas para os que participam
da vida do Espírito.‖12
Como está claro, a Revelação Especial é indispensável ao ser humano a fim de
que este possa sair de seu estado de pecado e entrar em comunhão com o Criador. Ou
seja, a Revelação Especial tem importância imensurável por se tratar de verdades que
mudarão a situação eterna do homem. É por esta causa que Deus fez com que se
registrasse esta revelação a fim de que fosse preservada pelos séculos durante a história
humana, sem os perigos de ser perdida com o passar do tempo, ou ser ―adulterada por
idéias humanas‖. Podemos então falar da relação entre a Escritura e a Revelação
Especial da seguinte forma:
―Em geral pode-se dizer que a revelação especial de Deus assumiu uma forma
permanente na Escritura, e foi assim preservada para a posteridade. Deus quis
que Sua revelação fosse o Seu falar perene para todas as gerações sucessivas
dos homens; e tinha, pois, de guardá-la contra a perda, corrupção e falsificação.
E Ele o fez provendo-lhe um registro infalível e vigiando-o com cuidado
providencial.‖13
Evidentemente nem tudo que fez parte da Revelação Especial está escrito nas
Escrituras (Jo 20:30-31), porém, tudo que foi escrito é suficiente para as necessidades
humanas, e suficiente para o homem cumprir os seus deveres para com Deus (2Tm 3:16,
17).
Base Bíblica: 2Rs 17:13; Sl 103:7; Jo 1:18; Hb 1:1, 2; 1Co 2:9, 10; 1:21
Base Confessional:
 Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura
Sagrada):
―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal
modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os
homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele
conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por
isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-
se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor
12
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 36.
13
Ibid, p 38.
8
preservação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e
malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever
toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles
antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.‖
 Catecismo Maior: (perg. 2) ―Como podemos saber se existe um Deus?‖
Resposta: ―... só a sua Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo
suficiente e eficaz, aos homens, para a sua salvação.‖14
Conclusão
Certamente Deus não revelou tudo acerca de Si mesmo, mas o que revelou é
suficiente para suprir nossas necessidades como criaturas espirituais que precisam de
comunhão com Ele. Mesmo porque, ainda que Ele viesse a revelar-Se plenamente a nós,
não poderíamos compreendê-lo, pois somos finitos. ―Deus é O Incompreensível. O
homem não pode conhecê-lO como Ele é nas profundezas de Seu ser divino‖.15
O
Senhor está tão acima de nós que por mais que quiséssemos conhecer mais dEle, nunca
conseguiríamos chegar a um conhecimento completo:
―Não só é verdade que jamais poderemos compreender plenamente a Deus; é
verdade também que jamais poderemos compreender plenamente nem mesmo
uma só coisa acerca de Deus. Sua grandeza (Sl 145:3), seu entendimento (Sl
147:5), seu conhecimento (Sl 139:6) sua riqueza, sabedoria, juízos e caminhos
(Rm 11:33) estão todos além da nossa capacidade de compreensão plena.‖16
Todavia, o conhecimento que temos por meio da Revelação Geral e por meio
de Revelação Especial não somente podem dar a alegria de salvação àqueles que O
conhecem e O aceitam pela fé. O acesso a estas Revelações torna os pecadores ainda
mais culpados caso não se rendam a elas. Ou seja, quanto mais acesso ao conhecimento
de Deus, mais culpável o homem fica diante dEle ao recusá-lO.
Mas o que dizer daqueles que nunca tiveram acesso à Revelação Especial?
Como poderão ser condenados por não seguir a um Deus que nem chegaram a conhecer
devidamente? A questão é que somos condenados não por causa dos nossos pecados
presentes, mas pelo pecado em Adão. E em segundo lugar, a Revelação Geral já é
suficiente para tornar alguém culpado diante do Senhor. Vejamos a seguinte
explanação:
14
Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 1.
15
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p
26.
16
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 102.
9
―... Ele ativamente revela esses aspectos de si mesmo a todos, de modo que
deixar de agradecer e servir ao Criador é sempre um pecado contra o
conhecimento. No final, nenhuma negação de termos recebido esse
conhecimento será admitida. Paulo usa a revelação universal do poder e da
bondade de Deus como base para a sua acusação contra toda a raça humana
como pecadora e culpada diante de Deus, por causa do nosso fracasso em
servi-lo como devemos (Rm 1:18-3:19).‖17
17
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica
do Brasil, 1999, p 626.
10
INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
Introdução
Ainda que saibamos que Deus decidiu revelar-se ao homem de forma mais
eficiente por meio da Revelação Especial, precisamos entender que Ele ainda resolveu
registrar esta Revelação a fim de que tivéssemos o seu conteúdo fiel. Para que o
conteúdo destes registros fosse realmente fiel à Revelação Especial, Deus fez os
escritores sagrados registrarem por meio de um processo que a teologia denomina de
Inspiração. É sobre isto que nós vamos aprender hoje.
Teorias sobre a Inspiração
1. Natural: Não há qualquer elemento sobrenatural envolvido. A Bíblia foi
escrita por homens de grande talento.
2. Mecânica (teoria da ditação): Os autores bíblicos foram apenas instrumentos
passivos nas mãos de Deus, como máquinas de escrever com as quais Ele teria
escrito.
3. Parcial: Somente o não conhecível foi inspirado (e.g., criação, conceitos
espirituais).
4. Conceitual: Os conceitos, não as palavras, foram inspirados.
5. Gradual: Os autores bíblicos foram mais inspirados que outros autores
humanos.
6. Neo-ortodoxa: Autores humanos só poderiam produzir um registro falível.18
Conceito de Inspiração: ―Inspiração é a ação supervisionadora de Deus sobre os autores
humanos da Bíblia de modo a, usando suas próprias personalidades e estilos, comporem
e registrarem sem erro as palavras de Sua revelação ao homem. A inspiração se aplica
apenas aos manuscritos originais (chamados de autógrafos).‖19
Provas Bíblicas da Inspiração
 Os escritores do Velho Testamento repetidas vezes receberam
determinação para escrever o que o Senhor lhes ordenou (Ex 17:14;
34:27; Nm 33:2; Is 8:1; Jr 25:13; 30:2; Ez 24:1; Dn 12:4; Hb 2:2);
18
Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo,
Mundo Cristão, p 1624.
19
Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo,
Mundo Cristão, p 1624.
11
 Os profetas estavam conscientes de que eram portadores de uma
mensagem divina, e por isso a introduziram por tais fórmulas como:
―Assim diz o Senhor‖; ―A Palavra do Senhor veio a mim‖... Estas
fórmulas se referem freqüentemente à palavra falada, mas são também
usadas em relação com a palavra escrita (Jr 36:27; 32; Ez 26, 27, 31,
32, 39);
 Os escritores do Novo Testamento freqüentemente citam palavras do
Velho Testamento como palavras de Deus ou do Espírito Santo (Mt
15:4; Hb 1:5; 3:7; 5:6; 7:21; etc);
 Paulo fala de suas próprias como palavras ensinadas pelo Espírito
(1Co 2:13), e afirma que Cristo está falando nele (2Co 13:3). Sua
mensagem aos Tessalonicenses é a palavra de Deus (1Ts 2:13);20
 A inspiração foi tanto verbal (se estende até a escolha das palavras -
tanto Jesus quanto Paulo utilizaram uma linha de argumentação onde
dependiam de uma só palavra do texto (Mt 22:43-45; Gl 3:16)21
,
quanto plenária (diz respeito a todos os livros das Escrituras - 2Pe
1:20-21);
 Paulo em (2Tm 3:16) afirma que toda Escritura é inspirada por Deus
(soprado por Deus);
 Pedro afirma igualmente que nenhuma profecia foi dada por homens,
mas foi produto da obra do Espírito Santo nos escritores (2Pe 1:20-
21).
Devemos esclarecer que apesar de toda a Escritura ser inspirada e ser a Palavra
de Deus para nós, isto não significa que tudo nela é de igual ―importância‖. Vejamos a
seguinte explanação:
―Creio que as narrativas e declarações de Gênesis e as genealogias em
Crônicas, foram tão verdadeiramente escritos por inspiração como os Atos dos
Apóstolos. Creio que a mensagem de Paulo sobre a capa e os pergaminhos foi
escrita sob direção divina tanto como o vigésimo capítulo de Êxodo, o décimo
sétimo de João ou o oitavo de Romanos. Seja lembrado que não estou dizendo
que todas essas partes da Bíblia sejam de igual importância para nossas almas.
Nada disso! O que eu digo é que todas elas foram igualmente inspiradas.‖22
Base Confessional:
 Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA
SAGRADA):
20
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 40.
21
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 45.
22
J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. São Paulo, PES, s/d, p 11.
12
Seção II - Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita,
incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são
os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé
e prática: O VELHO TESTAMENTO: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis,
II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos,
Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias,
Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias,
Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias,
Malaquias; O NOVO TESTAMENTO: Mateus, Marcos, Lucas, João,
Atos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses,
Colossenses, ITessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo,
Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III
João, Judas, Apocalipse.
Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27.
Seção III - Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de
inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são,
portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser
aprovados ou empregados senão como escritos humanos.
Seção IV - A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser
crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou
Igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu
Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.
Seção V - Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a
um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do
seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a
harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus
toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o
homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa
perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela
a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua
infalível verdade e divina autoridade provém da operação interior do
Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nosso
coração.
Seção VIII - O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo
povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente
conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo
inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e
13
providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso,
autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve
apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas
línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse
nas Escrituras e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses
livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde
chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas
abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança
pela paciência e conforto das escrituras.
14
INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS
Introdução
Tendo aprendido que as Escrituras foram Inspiradas por Deus de forma verbal
e plenária, podemos estudar agora as demais características da Escrituras que são o
resultado desta Inspiração, sendo a primeira delas a Inerrância.
Conceito de Inerrância
1. ―Por inerrância das Escrituras entende-se que as Escrituras nos manuscritos
originais não afirmam nada contrário aos fatos‖.23
2. ―A inerrância é o ponto de vista de que, quando todos os fatos forem
conhecidos, demonstrarão que a Bíblia, nos seus autógrafos originais e
corretamente interpretada, é inteiramente verdadeira, e nunca falsa, em tudo
quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à ética, quer no tocante às ciências
sociais, físicas ou biológicas.‖24
Provas da Inerrância
Quando estudamos sobre a Inspiração das Escrituras nós vimos que todas as
palavras escritas pelos escritores bíblicos foram dirigidas e selecionadas pelo Espírito
Santo. Desta forma, a Revelação Especial foi guardada de erros humanos. É por isto que
nós cremos que as Escrituras são Inerrantes. Deus por meio da Inspiração, não permitiu
que os escritores cometessem algum erro, seja ele de natureza teológica, histórica,
científica... Além disto, a favor da doutrina da inerrância bíblica podemos afirmar que
sendo Deus um Ser que não mente, não usa de falsidade ou de engano (2Sm 7:28;
Tt 1:2; Hb 6:18; Nm 23:19; Sl 119:160; Jo 14:6; 17:17), Suas palavras Inspiradas não
podem conter inverdades. Ainda podemos acrescentar o fato de que a própria Bíblia
afirma sua Inerrância em seus textos:
―Fora de dúvida, a Bíblia expressa possuir inerrância. De que outra maneira
poderíamos explicar o fato de Cristo ter reivindicado para as própria letras que
formam as palavras da Escritura um caráter permanente, irrevogável: ‗Porque
em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til
passará jamais da lei, até que tudo de cumpra‖ (Mt 5:18)?... Em outras
23
Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 59.
24
P. D. Feinberg, Inerrância e infalibilidade da Bíblia, in Enciclopédia Histórico-
teológica da Igreja Cristã. Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 180.
15
palavras, o Senhor estava afirmando que cada letra, ou cada palavra é
importante, e que o Antigo Testamento seria cumprido exatamente como fora
soletrado, letra por letra, palavra por palavra.‖25
E igualmente faz argumentos
baseado em uma única palavra da Escritura (Mt 22:32; Mt 22:41-46; Jo 10:34),
como também o fez Paulo (Gl 3:16);
Esclarecimentos quanto ao Conceito de Inerrância Bíblica
1. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim empregar a linguagem comum
da fala cotidiana. Isso diz respeito principalmente às descrições ―científicas‖
ou ―históricas‖ de fatos ou eventos. A Bíblia pode falar que o sol nasce e a
chuva cai porque, pela ótica de quem fala, é exatamente isso que ocorre... Não
nos deve incomodar afirmar que a Bíblia é absolutamente fidedigna em tudo o
que diz e também que emprega linguagem corriqueira para descrever
fenômenos naturais ou para fornecer números aproximados ou redondos
quando apropriados às circunstâncias... As declarações bíblicas podem ser
imprecisas e, ainda assim, totalmente verdadeiras. A inerrância diz respeito à
fidedignidade, não ao grau de precisão com que os fatos são relatados.26
2. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim conter citações vagas ou livres.
O jeito de uma pessoa citar as palavras de outra é um procedimento que, em
grande parte, varia de cultura para cultura. Na cultura ocidental
contemporânea, costumamos citar textualmente as palavras da pessoa quando
as colocamos entre aspas (chamamos a isso citação direta). Mas quando
empregamos a citação indireta (sem aspas), espera-se um relato preciso
limitado apenas à essência da declaração...O grego escrito da época do Novo
Testamento não possuía aspas ou sinais equivalentes de pontuação, e uma
citação exata de outra pessoa precisava incluir apenas uma representação
correta do conteúdo dito por ela.27
3. O que não foi ainda explicado não significa que seja inexplicável. É um erro
presumir que, o que ainda não foi explicado, nunca o será um dia.28
4. Não se pode dizer que a Bíblia é falha quando na verdade a interpretação
é que está incorreta.29
25
Charles C. Ryrie, A Inspiração da Bíblia, in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo
Cristão, 1994, p 1647.
26
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 59, 60.
27
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 60.
28
Norman L. Geisler, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da
Bíblia. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p 18.
29
Ibid, p 19.
16
5. Um relato parcial não é um relato falso. Ocasionalmente, a Bíblia expressa a
mesma coisa de diferentes modos, ou pelo menos de diferentes pontos de vista,
em tempos distintos. (Mt 16:16; Mc 8:29; Lc 9:20).30
6. Afirmar que a Bíblia erra quando existem diferenças entre narrações de
um fato é um equívoco que não pode ser levado adiante. Pelo simples fato
de divergirem entre si duas ou mais narrações do mesmo acontecimento, isso
não significa que elas sejam mutuamente exclusivas (Mt 28:5; Jo 20:12).31
7. Na Bíblia encontramos diversos recursos literários. Portanto, não constitui
erro o autor bíblico fazer uso de uma figura de linguagem (metáforas – 2Co
3:2-3; Tg 3:6/comparações – Mt 20:1; Tg 1:6/figuras poéticas – Jó 41:1/
sátira – Mt 19:24; 23:24).32
30
Ibid, 24.
31
Ibid, 25.
32
Ibid, p 27.
17
A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS
Introdução
Em decorrência da doutrina da Inspiração das Escrituras segue-se que todo ser
humano deve dar ouvidos a elas, pois se constituem Palavras de Deus. No tempo de
hoje, onde muita gente parece ―escolher o que vão ou não obedecer‖ das ordenanças
bíblicas, bem como ―decidem em quais doutrinas vão crer‖ simplesmente por vontade
própria, um estudo sobre a Autoridade das Escrituras se faz altamente necessário.
Conceito de Autoridade das Escrituras
Primeiramente devemos observar alguns conceitos sobre Autoridade da Bíblia
a fim de esclarecermos o assunto:
1. ―O princípio cristão da autoridade bíblica significa que Deus é o autor da
Bíblia e deu-a para dirigir a crença e o comportamento do seu povo. Nossas
idéias a respeito de Deus e da nossa conduta devem ser medidas, testadas e,
onde necessário, corrigidas e ampliadas de acordo com a Bíblia, como padrão
de referência. Autoridade é também o direito de ordenar. A Palavra escrita de
Deus, em sua verdade e sabedoria, é o meio que Deus escolheu para exercer o
seu governo sobre nós, e as Escrituras são o instrumento do senhorio de Cristo
sobre a Igreja.‖33
2. ―A autoridade das Escrituras significa que todas as palavras nas Escrituras são
palavras de Deus, de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia ou
desobedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a ele.‖34
Há uma frase muito conhecida entre os cristão evangélicos que diz: ―A Bíblia é
nossa única regra de fé e prática‖. Esta é uma frase por demais feliz, pois declara com
precisão a única autoridade sobre a vida espiritual do ser humano. A Igreja do Senhor se
afastou durante anos das Escrituras, e junto a elas acrescentou várias heresias e tradições
humanas e mundanas. Em chegando a Reforma, alguns retornaram ao verdadeiro
caminho deixado por Jesus e seus apóstolos. Desta forma, a Bíblia voltou a ser a única
autoridade sobre suas vidas.
Não é que os reformadores deram autoridade à Bíblia, eles simplesmente
reconheceram sua autoridade por ser a Palavra divina a nós. ―Os reformadores
33
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica
do Brasil, 1999, p 1453.
34
Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 44.
18
acentuaram o fato de que a Escritura tem autoridade inerente em virtude de sua
inspiração pelo Espírito Santo. A Bíblia deve ser crida por causa de si mesma; É a
Palavra inspirada de Deus, e portanto dirige-se ao homem com autoridade.‖35
Não
precisa da aprovação humana para ter autoridade. Ela tem autoridade devido à sua fonte
- Deus.
Provas Bíblicas da Autoridade das Escrituras
Podemos confirmar que a Bíblia tem autoridade divina por diversas maneiras:
1. Os profetas afirmavam: ―Assim diz o Senhor‖: Is 1:2; 3:16; Jr 51:1; Ez
28:1,11,20; 47:13; Am 1:9; Jl 2:12; Ob 1:1; Mq 4:6; Na 1:12; Hc 2:2; Sf 3:8;
Ag 1:2; Zc 1:3; Ml 1:2;
2. Deus fala por ―intermédio‖ do profeta: 1Rs 14:18; 16:12,34; 2Rs 9:36; 14:25;
Jr 37:2; Zc 7:7, 12; Mt 4:4; Mt 1:22; Mt 19:5; Mc 7:9-13; At 1:16; At 2:16-17;
3. O Novo Testamento afirma que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus: 2Pe
1:20, 21; 2Tm 3:16,17;
4. O Novo Testamento é reconhecido como Palavra divina: 2Pe 3:16; 1Co
14:37;36
O Espírito Santo e a Autoridade das Escrituras
Apesar de a Bíblia afirmar sua própria autoridade, os seres humanos não
aceitarão sua autoridade a menos que o Espírito Santo os convença disto. Só Ele nos
abrirá os olhos espirituais para reconhecer que as Palavras da Bíblia são ―o próprio Deus
falando‖: ―Nossa convicção definitiva de que as palavras da Bíblia são palavras divinas
vem apenas quando o Espírito Santo fala ao nosso coração nas palavras da Bíblia e por
intermédio delas, dando-nos a segurança íntima de que essas são as palavras de nosso
Criador falando conosco.‖37
Veja o seguinte texto (1Co 2:13,14).
Durante a história da Igreja algumas pessoas quiseram comprovar a autoridade
de Bíblia apelando para argumentos diferentes daqueles que ela mesma oferece a
respeito de si. Isto é um trabalho inútil, apesar de bem intencionado. Observe a
explicação abaixo:
―As palavras das Escrituras são autocorroborantes. Elas não podem ser
―comprovadas‖ como palavras de Deus apelando-se a alguma autoridade
superior. Pois caso se apelasse a uma autoridade superior (por exemplo,
exatidão histórica ou coerência lógica) como recurso para provar que a Bíblia é
35
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p
45.
36
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 44-47.
37
Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 48.
19
a Palavra de Deus, então a própria Bíblia deixaria de ser a nossa autoridade
mais alta ou absoluta e ficaria subordinada em matéria de autoridade àquilo a
que apelássemos a fim de provar que ela é a Palavra de Deus. Se no final das
contas apelamos à razão humana, ou à lógica, ou à exatidão histórica, ou à
verdade científica como autoridade pela qual se demonstra que as Escrituras
são as palavras de Deus, então estamos pressupondo que a coisa para a qual
apelamos é uma autoridade superior às palavras de Deus e também mais
verdadeira ou mais confiável‖.38
Base Confessional (Confissão de Fé de Westminster)
CAPÍTULO I
DA ESCRITURA SAGRADA
Seção III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina,
não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de
Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos
humanos.
Seção IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e
obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende
somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida,
porque é a Palavra de Deus.
Seção V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e
reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia
da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo
do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de
salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa
perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de
Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina
autoridade provém da operação interior do Espírito Santo que, pela Palavra e com a
Palavra, testifica em nosso coração.
Seção X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser
determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as
opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o
Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o
Espírito Santo falando na Escritura.
38
Ibid, p 49.
20
INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS
Introdução
Como temos visto, a doutrina da Inspiração traz como conseqüências várias
outras doutrinas a cerca das Escrituras. Vimos assim a doutrina da Inerrância,
Autoridade, e agora a doutrina da Indispensabilidade. O raciocínio é o seguinte: Se a
Bíblia é Inspirada, como poderia conhecer as verdades de Deus a não ser nela? Qual
fonte seria confiável tanto quanto as Escrituras Inspiradas? Por isto elas se tornam
indispensáveis. Por isto mesmo Deus usou do processo da Inspiração, para evitar erros
quanto às verdades da Sua Revelação.
Conceito de Indispensabilidade:
―Dizer que as Escrituras são necessárias significa dizer que a Bíblia é
necessária para conhecer o evangelho, para conservar a vida espiritual e para
conhecer a vontade de Deus, mas não que seja necessária para saber que Deus
existe ou para saber algo sobre o caráter e sobre as leis morais de Deus.‖39
Provas Bíblicas da Indispensabilidade
A doutrina da indispensabilidade conceituada acima pelo teólogo Wayne
Grudem, longe de ser uma doutrina humana, procede da revelação bíblica. Vejamos
como este teólogo prova biblicamente a veracidade deste assunto:
 As Escrituras são necessárias para se conhecer o evangelho (Rm 10:13-17);
 As Escrituras são necessárias para sustentar a fé espiritual (Mt 4:4; Dt 32:47;
1Pe 2:2);
 As Escrituras são necessárias para o conhecimento seguro da vontade de Deus:
E ainda:
―... Todas as pessoas nascidas na terra têm algum conhecimento da vontade de
Deus por intermédio da sua consciência. Mas esse conhecimento é muitas
vezes indistinto e não pode proporcionar certeza. Na verdade, se não existisse a
Palavra escrita de Deus, não poderíamos alcançar a certeza da vontade de Deus
por nenhum outro meio, fosse consciência, conselhos de outras pessoas,
testemunho íntimo do Espírito Santo, mudanças das circunstâncias ou o uso da
razão e do bom senso santificados. Todos esses meios podem proporcionar uma
39
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 77.
21
aproximação da vontade de Deus de modos mais ou menos confiáveis, mas por
meio deles seria simplesmente impossível obter a certeza acerca da vontade de
Deus, pelo menos num mundo caído onde o pecado distorce nossa percepção do
certo e do errado, introduz raciocínios falhos nos nossos processos mentais e
nos faz suprimir de tempos em tempos o testemunho da nossa consciência (cf.
Jr 17.9; Rm 2.14-15; 1Co 8.10; Hb 5.14; 10.22; também 1Tm 4.2; Tt 1.15).‖40
Ainda devemos compreender que a Revelação Geral se tornara ineficiente
quanto à sua função de manifestar a glória de Deus. E mesmo que ela ainda fosse
perfeita não poderia salvar o homem de seu estado de pecado. Por isto as Escrituras são
indispensáveis para o homem.
Base Confessional:
 Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA
SAGRADA):
Seção I – ―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da
providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de
Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para
dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a
salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes
modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois,
para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia
de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto
torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos
modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.‖
Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas
necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é
expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente
deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por
novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens;
reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito
de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e
que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da
Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser
ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras
gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖
40
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. p 79, 80.
22
A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
Introdução
 Quando houve a Reforma Protestante nós demos um salto importantíssimo
para fora das heresias que existiam dentro da Igreja. Os reformadores gritaram
sem hesitar ―Sola Scriptura‖ (somente a Escritura)! E foram muito criticados
por isto.
 O tempo foi passando, e ao invés de os protestantes terem continuado unidos
nesta verdade, começaram a ingressar em um novo tipo de heresia (que na
verdade não é novo, pois já ocorreu na história da igreja em anos anteriores)
– a heresia das novas revelações.
 Hoje nós vemos tantos absurdos ocorrerem por causa desta ―doutrina‖ que
tornou-se até motivo de piada o que profetizam muitas vezes nas reuniões
deles.
 Apesar de triste, esta doutrina ainda se faz muito perigosa para nós reformados
devido à facilidade da aceitação da doutrina por parte dos membros de nossas
igrejas.
 É por isto que se torna indispensável o estudo da Suficiência da Escritura a
fim de combater as ilusões destas heresias na vida de nossas ovelhas.
 Em primeiro lugar devemos apresentar alguns conceitos que demonstrem o que
é a Suficiência das Escrituras segundo a teologia. E em seguida tentar
continuar o nosso estudo provando a doutrina biblicamente, observando a base
confessional, e por último fazendo aplicações práticas desta verdade.
Conceito de Suficiência das Escrituras
Prestemos atenção nestes três conceitos de Suficiência das Escrituras a fim
firmar em nossa mente a idéia que eles querem passar a respeito do assunto:
1. ―Os reformadores sustentaram a perfeição ou a suficiência da Escritura. Isto
não significa que tudo que foi falado ou escrito pelos profetas, por Cristo, e
pelos apóstolos está contido na Escritura, mas simplesmente que a palavra
escrita é suficiente para as necessidades morais e espirituais dos indivíduos e
23
da Igreja. Esta posição envolve a negação de que haja ao lado da Escritura uma
palavra de Deus não escrita de autoridade igual, ou até mesmo superior.‖41
2. ―Dizer que as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia contém
todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da
história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que
precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos
confiar e a ele obedecer.‖42
3. ―Por completitude das Escrituras se entende que elas contêm todas as
revelações existentes de Deus, designadas a serem uma regra de fé e prática
para a Igreja... a Bíblia contém todas as revelações de Deus existentes, as quais
ele designou para serem a regra de fé e prática para sua Igreja; de modo que
nada pode ser legitimamente imposto à consciência dos homens como verdade
ou dever que não esteja diretamente ensinado ou obrigatoriamente implicado
nas Escrituras Sagradas.‖43
Base Bíblica
Para que possamos perceber a legitimidade da doutrina da Suficiência das
Escrituras vamos ver o que diz suas páginas a este respeito:
 As Escrituras ordenam a nós que ―Nada seja acrescentado a ela‖: (Dt 4:2;
12:32; Pv 30:5, 6; Ap 22:18-19);
 Há textos que afirmam que a Bíblia é suficiente para o povo de Deus: (2Tm
3:16, 17; Gl 1:8; Is 8:20);
 Há textos que provam que ela é suficiente para levar a salvação ao pecador
perdido (Lc 16:27-31; 2Tm 3:15; Rm 10:14-17);
 O testemunho bíblico mostra por diversas vezes que Jesus e os apóstolos
utilizavam a Bíblia para fundamentar várias conclusões teológicas, e
fundamentar suas pregações: (Paulo - At 17:2-3; At 18:28; At 26:22; Jesus -
Mt 4:4, 7, 10; Mt 15:1-9; Mt 16:4; Mt 19:4, 5; Mt 22:23-33; Mt 22:34-40;
Mt 22:41-46; Lc 10:25-26; Lc 24:27; Lc 24:44-46; Pedro – At 2:16-21, 25-28,
34,35; At 3:11-26);
41
Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p
47.
42
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, p 86.
43
Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001, p 136, 137.
24
 Nem Jesus, nem os profetas do Antigo Testamento, e nem os apóstolos,
ensinaram que os crentes devem buscar a vontade de Deus, ou conhecer a Deus
buscando informações em outras fontes que não as Escrituras. Os crentes são
encorajados a ler as Escrituras e encontrar nelas o que precisam para sua vida
espiritual (1Co 10:1-13; Rm 15:4; 2Tm 3:15-17; Gl 1:6-9)
Base Confessional
A Confissão de Fé de Westminster Capítulo I, Seção VI, fala sobre a
Suficiência das Escrituras nos seguintes termos:
―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a
glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente
declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À
Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do
Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser
necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora
compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias,
quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades
humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência
cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖
(2Tm. 3:15-17; Gl. 1:8; 2Ts. 2:2; Jo 6:45; 1Cor. 2:9, 10, l2; 1Cor. 11:13-14)
Aplicações Práticas
1. Sobre a Confissão de Fé de Westminster capítulo I, Seção VI falando acerca
da Suficiência da Escritura:
―Duas questões estão por detrás desta afirmação: primeiro, a posição
de Roma em reclamar a autoridade da Igreja em matéria de fé e vida;
segundo, a tendência dos anabatistas de citar novas revelações do
Espírito como algo normativo da fé e comportamento cristãos. A
implicação desta afirmação para o fenômeno carismático moderno
dificilmente poderia ser mais relevante. Reivindicações de revelações
diretas e imediatas do Espírito não têm lugar no pensamento dos
teólogos de Westminster.‖44
44
Derek Thomas, A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo, Os Puritanos, 1998, p
20.
25
2. Não se deve esperar uma nova revelação:
―Porque, enquanto que o Velho Testamento prediz a nova
dispensação, o Novo Testamento não faz referência a alguma
revelação adicional a ser esperada antes do segundo advento de Cristo:
eles sempre se referem à ‗vinda‘ ou ‗aparecimento‘ de Cristo como o
próximo evento supernatural a ser antecipado.‖45
3. O que dizer das predições que se realizam?
―Nosso parâmetro e base de doutrina não é a experiência. É bom
lembrar, por exemplo, o que nos adverte Deuteronômio 13:1-5... Ou
seja, o milagre e a predição podem até acontecer, mas se a doutrina
não está de acordo com a Palavra de Deus não serve. Lembre-se que
Deus nos prova!‖46
4. E quanto a busca por direção divina? A doutrina da Suficiência não nos limita
demais?
―A verdade da suficiência das Escrituras é de grande importância para
nossa vida cristã, pois nos permite concentrar a busca das palavras de
Deus para nós somente na Bíblia, poupando-nos a infindável tarefa de
vasculhar todos os textos de cristãos ao longo da história, ou todos os
ensinamentos da igreja, ou todos os subjetivos sentimentos e
impressões que nos vêm à mente no dia-a-dia, para descobrir o que
Deus exige de nós.‖47
5. É dever cristão estudar a Bíblia para conhecer o que Deus nos revelou (Dt
29:29) ao invés de procurar noutras fontes de revelação:
―A suficiência das Escrituras deve-nos incentivar a tentar descobrir
aquilo que Deus quer que pensemos (sobre uma questão doutrinária
específica) e façamos (numa dada situação). Devemos nos convencer
de que tudo o que Deus quer nos dizer sobre essa questão se encontra
nas Escrituras.‖48
45
A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo,
Os Puritanos. p 65.
46
Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?
São Paulo, Os Puritanos, 1998, p 49, 50.
47
Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 87.
48
Ibid, p 89.
26
6. Tudo que Deus requer de nós está nas Escrituras, portanto, nenhuma suposta
revelação pode nos obrigar a consciência a obedecer:
―Deus nada exige de nós que não esteja determinado explícita ou
implicitamente nas Escrituras. Isso nos lembra que nossa busca da
vontade de Deus deve-se concentrar nas Escrituras, ou seja, não
devemos buscar orientação pelas orações que peçam alteração das
circunstâncias ou dos sentimentos, ou ainda orientação direta do
Espírito Santo fora das Escrituras. Também significa que se alguém
alega ter recebido uma mensagem de Deus que nos diga o que
devemos fazer, jamais precisamos supor que é pecado desobedecer a
essa mensagem a menos que possa ser confirmada pela aplicação da
própria Bíblia à nossa situação.‖49
7. O que dizer do direcionamento divino no interior do crente? Deus não nos
direciona desta forma?
―Deus pode usar e de fato usa impressões subjetivas da sua vontade
para nos lembrar e encorajar, e muitas vezes encaminha os nossos
pensamentos na direção correta nas muitas decisões rápidas que
tomamos ao logo do dia – e são as próprias Escrituras que nos falam
sobre esses fatores subjetivos na orientação (ver At 16:6-7; Rm 8:9,
14, 16; Gl 5:16-18, 25). Todavia, esses versículos sobre a suficiência
das Escrituras nos ensinam que tais impressões subjetivas só podem
nos lembrar alguns parâmetros morais que já estão nas Escrituras, ou
trazer à mente fatos que (pelo menos em teoria) poderíamos ter
conhecido ou que até já conhecíamos; jamais poderão acrescentar
alguma coisa aos mandamentos das Escrituras, nem substituir a Bíblia
na determinação da vontade de Deus, tampouco se igualar às
Escrituras em termos de autoridade na nossa vida.‖50
8. Deus usou os profetas e os apóstolos para entregar a sua revelação ao seu povo.
Não existindo mais o ofício profético, e tendo morrido os apóstolos, não existe
mais revelações que possamos afirmar que são ―a Palavra de Deus‖ para nossa
vida.
9. Muitos que receberam uma ―suposta nova revelação‖ do Espírito acabaram por
encaminhar-se em heresias absurdas. Vejamos os seguintes exemplos:
49
Ibid, p 92.
50
Ibid, p 93.
27
―Benny Himm começou a ensinar que a trindade não eram três
pessoas distintas, e sim nove, porque recebeu isto por ―revelação‖.
Joseph Smith deixou sua Igreja e negou toda a sua fé iniciando o
mormonismo, também por uma revelação. O adventismo se envolveu
num emaranhado de confusão doutrinária por aceitar as revelações de
Hellen White como inspiradas.‖51
10. Devem-se ter critérios quantos às experiências pessoais. Elas devem servir para
o bem, e não para o mal. Conquanto possa ser geradora de um sentimento
grandioso de bem estar, ou alegria, ou edificação, ou paz... Ainda assim a
experiência deve ser avaliada segundo as doutrinas da Bíblia. O único lugar
onde temos a certeza de termos a Palavra de Deus Inerrante são nas Escrituras,
e por isto, tudo deve ser avaliado por meio desta palavra confiável. Tudo o
mais é subjugado por sua Autoridade:
―As pessoas querem formar suas convicções a partir das experiências
que tiveram. Não estou negando que coisas extraordinárias acontecem,
mas não posso, de sã consciência, diante de Deus, firmar minha
doutrina em experiências, nem mesmo nas minhas próprias, quanto
mais nas dos outros‖.52
11. As ―novas revelações‖ podem se tornar um laço perigoso na vida espiritual do
cristão:
―Outros há que falam em revelações de um modo exagerado. Para eles
tudo é entendido da seguinte maneira: ―Deus me revela‖, ―eu não fui
revelado‖, ―estou aguardando uma revelação‖, etc. São pessoas que
acham que para tudo que se vai fazer ou deixar de fazer é preciso ‗ser
revelado‘.‖53
12. Quem vive à procura de pessoas que lhe revelem algo de Deus para ela, na
verdade não entende que se torna dependente de uma outra pessoa, e não da
Palavra Sagrada. É como se Deus só se comunicasse por meio daquela pessoa
(um tipo de mediador):
―Há indivíduos fracos na fé que ficam à procura de pessoas que se
dizem estar recebendo revelações e fluídos divinos... Alguns partem
51
Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?,
p 27.
52
Ibid, p 29.
53
Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII.
Manhumirim, jan/96, p 13.
28
para as consultas espirituais, o que mais se parece com agourice,
consulta a videntes e a ciganos‖.54
13. As ―novas revelações‖ na verdade podem ser simplesmente fruto de uma
mente problemática ou ingênua:
―Mas, outras experiências tidas como revelações extraordinárias, que
não passam de sonhos ou alucinações, não produzem benefícios
espirituais e nem podem auxiliar na santidade cristã, pois geram
confusões teológicas e doutrinárias.‖55
14. Ainda que Deus se comunique extrabíblia, não seria uma ―nova revelação‖
acrescentando ou modificando o que já está escrito canonicamente.Devemos
nos lembrar que este modo de revelação acontecia com os profetas e apóstolos,
e não há garantia de que aconteça conosco. Além disto, ainda que aconteça
com alguém hoje, não será o modo ordinário de comunicação divina a nós.
15. Podemos ver quatro possibilidades das origens das ―novas revelações‖
recebidas por pessoas da igreja:
 Mentira – Há os que mentem de maneira consciente e deliberada,
dizendo que ―o Senhor revelou‖, quando sabem que nada aconteceu.
Jeremias, o profeta, já expressou a reprovação divina aos que
procedem assim (Jr 23:25-26);
 Problemas psicológicos – Há também os que, por falta de saúde
emocional e mental, têm experiências místicas, que são comunicadas
como sendo de origem divina. O pior é que quase sempre estas
pessoas, apesar dos problemas psicológicos, conseguem arrebanhar
muitos seguidores;
 Fraude satânica – O diabo, que pode disfarçar-se até de anjo de luz
(2Co 11:14) engana os desavisados, dando-lhes revelações, que têm
aparência boa, mas conteúdo maligno.56
 Deus – Deus pode até se comunicar com um filho dEle hoje em dia de
modo extrabíblico! Porém, devemos levar sempre em consideração:
1- Que este não é o modo comum de Deus se comunicar conosco nos dias
de hoje;
54
Ibid, p 14.
55
Ibid, p 15.
56
Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII.
Manhumirim, jan/96, p 29.
29
2- Que não é prometido pelas Escrituras que este tipo de experiência vá
acontecer conosco;
3- Que a comunicação direta do Senhor é totalmente dispensável para
nossa vida em comunhão com Deus;
4- Que este tipo de comunicação nunca contrariará as verdades já
reveladas na Bíblia;
5- Que este tipo de comunicação com Deus não é incentivada por nenhum
escritor bíblico;
6- Que este tipo de comunicação não nos dá certeza exata da vontade de
Deus (ou do que Ele nos comunicou por meio desta comunicação direta. A
Bíblia é inspirada, mas estas comunicações?); E nem mesmo nos dá
certeza de que seja realmente Deus que está se comunicando conosco.
Conclusão
Uma verdade deve ser aprendida por todos os cristãos: A Revelação Especial
de Deus está encerrada nas Escrituras, não porque os homens, ou a Igreja, assim o
determina arbitrariamente, mas sim porque elas mesmas confirmam isto.
30
CÂNON DAS ESCRITURAS
Introdução
Temos estudado que Deus resolveu dar-se a conhecer aos homens por meio da
revelação especial, e que esta se encontra principalmente nas Escritas Sagradas, onde
ficaram registradas. Contudo, não adiantaria entregar aos homens a Sua revelação
especial, se no final das contas eles não pudessem saber quais são os registros
inspirados e quais não são!
Por isto Deus mesmo providencia, por meio dos homens, o ajuntamento destes
escritos inspirados em uma só coleção, a fim de que todos saibam quais os livros que
possui a revelação inspirada do Senhor.
Conceituação da expressão “cânon bíblico”
Às vezes muitos cristãos falam do cânon, mas não entendem muito bem o que
significa. Para que possamos compreender bem o assunto do Cânon das Escrituras é
preciso entender primeiro o que significa esta expressão, para depois prosseguirmos
com as demais questões relacionadas com este assunto. Abaixo nós damos três
explicações referentes à palavra cânon a fim esclarecer melhor o assunto do qual
estamos falando:
1. ―A palavra ―cânon‖ deriva do grego Kanon, que significa ―cana‖, portanto uma
vara ou barra, que, por serem utilizadas em medições, passaram a significar
metaforicamente um padrão‖.57
2. ―O vocábulo grego kanõn, que é de origem semítica (cf o hebraico qãneh, em
Ez 40:3, etc.), originalmente significava instrumento de medir, para mais tarde
ser empregado no sentido metafórico de ‗regra de ação‘ semelhantemente...
Não foi senão nos meados do quarto século de nossa era que o termo parece ter
sido aplicado à Bíblia. No uso grego, a palavra ‗cânon‘ parece ter
primeiramente denotado apenas a lista de escritos sagrados, mas no latim,
também se tornou nome para as próprias Escrituras, o que indicava que as
Escrituras são a regra de ação investida com autoridade divina‖.58
57
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida
Nova, 1984, p 427.
58
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 246, 247.
31
3. ―Kanõn também significa regra ou padrão: daí, um sentido secundário da
palavra ‗cânon‘ é a lista de livros que a Igreja reconhece como Escrituras
inspiradas, a norma da fé e da prática‖.59
Como podemos ver nestas explicações acima, o cânon é a coleção de livros que
a Igreja reconhece como revelação inspirada de Deus ao seu povo. E, portanto, quando
falamos em canonização de livros escritos, isto significa ―ser oficialmente reconhecido
como guia ou regra autorizada em matéria de fé ou de prática.‖60
Estes livros
canonizados portanto, são completamente diferentes dos demais livros que os homens
podem escrever.
A atitude da Igreja na formação do cânon
Bom, que Deus entregou uma revelação e fez homens escreveram de modo
inspirado nós já sabemos. Mas como foi que se deu o processo de canonização. Ou seja,
como foram separados os livros inspirados daqueles que não procediam de inspiração
divina? Em primeiro lugar devemos entender que não foi a Igreja que escolheu os livros
que seriam inspirados ou não. A igreja não poderia ―determinar‖ a inspiração de um
livro:
―...nem a Igreja nem os concílios eclesiásticos jamais concederam canonicidade
ou autoridade a qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em
que foi escrito. A Igreja ou seus concílios reconheceram certos livros como
Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos foram
colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia.‖61
E ainda:
―A Igreja não determinou o cânon; reconheceu o cânon. No sentido mais
amplo, nenhum concílio eclesiástico poderia criar um cânon, se a inspiração é a
qualidade essencial da canonicidade, porque nenhum grupo ou concílio poderia
insuflar inspiração em obras já existentes. Tudo quanto os concílios podiam
fazer era dar a sua opinião acerca dos livros que eram canônicos e dos que o
não eram e, depois, deixar que a história justificasse ou invalidasse o seu
veredito.‖62
59
J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 255.
60
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83.
61
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,
Mundo Cristão, 1994, p 1651.
62
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida
Nova, 1984, p 432.
32
Observemos também:
―Há diferença entre a canonicidade de um livro da Bíblia e sua autoridade. Um
livro deve conter autoridade divina, por causa de sua inspiração divina, antes
de ser qualificado para canonização. O livro não recebeu autoridade porque a
Igreja decidiu incluí-lo na lista sagrada, mas porque a mesma reconheceu os
livros que deram evidência de conter autoridade divina em virtude de sua
inspiração divina.‖63
E mesmo a respeito daqueles livros do Novo Testamento que ficaram algum
tempo sob disputa entre as igrejas, no sentido de reconhecerem sua inspiração, no final,
não foi a Igreja, ou concílio, ou qualquer pessoa, que impôs neles a autoridade como
revelação divina:
―O cânon, portanto, não é produto do critério arbitrário de qualquer pessoa,
nem foi determinado por voto conciliar. Resultou do emprego dos vários
escritos que provavam o seu mérito e a sua unidade pelo seu dinamismo
interno. Alguns foram reconhecidos mais lentamente do que outros devido ao
seu pouco tamanho, ou devido ao caráter remoto ou particular do seu destino
ou à anonimidade de autoria, ou devido ainda a aparente falta de aplicabilidade
a necessidades eclesiásticas imediatas. Nenhum destes fatores milita contra a
inspiração de qualquer destes livros ou contra o seu direito de ter um lugar na
palavra autorizada de Deus.‖64
Portanto, a Igreja simplesmente, foi guiada pelo Espírito em todo este processo.
Ou dizendo de outra forma, não foi trabalho do Espírito somente capacitar os escritores
a escreverem um material inspirado, mas foi seu trabalho também ―guiar os homens no
reconhecimento dos escritos inspirados.‖65
Caso contrário, como poderíamos ter a
convicção de que estes livros realmente são os que Deus inspirou? Assim como é seguro
afirmar que os livros são inspirados, podemos confiar que o Espírito da verdade guiou
os servos de Deus neste trabalho tão importante. Ora, quem mais estava interessado que
tivéssemos os livros genuinamente inspirados era o próprio Deus:
―Os livros do Antigo Testamento, tal como aqueles do Novo, foram inspirados
por Deus. Mas o Espírito Santo também operou nos corações do povo de Deus,
a tal ponto que vieram a aceitar esses livros como a Palavra de Deus e
submeteram-se à sua autoridade divina. A ‗providência singular‘ de Deus se
estendeu à origem dos livros separados, como também à sua coleção... Quando
63
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83.
64
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida
Nova, 1984, p 440.
65
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 84.
33
Deus pôs o Cânon em existência, usou homens como Seus instrumentos; ações
humanas e reflexões humanas realizaram suas funções no processo inteiro.‖66
Resumindo, o processo de canonização não foi realizado por meio da
autoridade da Igreja determinando quais livros eram inspirados, pelo contrário, foi
realizado por meio da ação do Espírito Santo guiando a Igreja a reconhecer os livros que
possuíam autoridade sobre ela.
Regras utilizadas para o estabelecimento do cânon
Como todo processo de escolhas, a Igreja utilizou alguns ―requisitos‖ ou
―regras‖ a fim de comprovar a inspiração dos livros escritos. Dentre estes testes
utilizados podemos citar os seguintes:
1. Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento,
isto significava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em
Israel. No caso do Novo Testamento, o livro deveria ter sido escrito ou
influenciado por um apóstolo para ser reconhecido.
2. Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter
peculiar, inspirado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se
demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro por
comunicar a revelação de Deus.
3. O veredicto das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era
importante. Na verdade, houve uma surpreendente unanimidade entre as
primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados.
Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou
questionados por uma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi
questionada por um número grande de igrejas veio a ser aceito
posteriormente como parte do cânon.67
Mais não foram somente estas regras que auxiliaram no processo de formação
do cânon. Há igualmente outras questões que ajudaram neste trabalho importante da
Igreja. Além destas ―regras‖ a Igreja pôde ainda utilizar as seguintes provas para
explicar o reconhecimento dos livros autorizados por Deus (inspirados), e
conseqüentemente fazer a delimitação canônica: O testemunho dos judeus, o
testemunho de Jesus, o testemunho dos apóstolos. Vejamos abaixo:
66
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 247.
67
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,
Mundo Cristão, 1994, p 1651.
34
 ―Referências nos escritos de Flávio Josefo (95 A.D.) e em 2Esdras 14
(100 A.D.) indicam a extensão do cânon do Antigo Testamento como
os 39 livros que hoje aceitamos. A discussão do chamado Sínodo de
Jamnia (70-100 A.D.) parece ter partido desse cânon. Nosso Senhor
delimitou a extensão dos livros canônicos do Antigo Testamento
quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os
profetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc 11:51). O
relato da morte de Abel está, é claro, em Gênesis; o de Zacarias se
acha em 2Crônicas 24:20-21, que é o último livro na disposição da
Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Para nós, é como se
Jesus tivesse dito: ―Sua culpa está registrada e toda a Bíblia – de
Gênesis a Malaquias‖. Ele não incluiu qualquer dos livros apócrifos
que já existiam em Seu tempo e que continham relatos das mortes de
outros mártires israelitas.‖68
 ―Os doze livros apócrifos do Antigo Testamento jamais foram aceitos
pelos judeus ou por nosso Senhor no mesmo nível de autoridade dos
livros canônicos. Eles eram respeitados, mas não foram considerados
como Escritura.‖69
 ―Sobre a autoridade do Novo Testamento, podemos assumir que
durante o ministério do Senhor Jesus, e quando os livros do Novo
Testamento estavam surgindo, o Antigo Testamento já existia como
uma coleção completa, à qual era atribuída autoridade divina. O
Antigo Testamento é repetidas vezes referido como ‗as escrituras‘ (Mt
26:54; Jo 5:39; At 17:2; etc.), indicando que o Antigo Testamento era
uma coleção bem conhecida de escritos, formando uma unidade. Isto
se aplica igualmente à expressão ‗a Escritura‘ que algumas vezes
denota uma passagem definida (Lc 4:21; Jo 13:18, etc) mas que mais
de uma vez aponta para o Antigo Testamento como um todo (Jo 2:22;
At 8:32; etc.). Dificilmente se torna necessário provar que era
atribuída autoridade divina a ‗as Escrituras‘ ou a ‗a Escritura‘ (vd Mt
1:22; 5:18; Jo 10:35; At 1:16, etc.).‖70
68
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,
Mundo Cristão, 1994, p 1651.
69
Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo,
Mundo Cristão, 1994, p 1652.
70
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 251.
35
Oficialização do cânon
Em relação ao cânon do Antigo Testamento nós não precisamos nos deter
muito, pois que, tanto Jesus, quanto os apóstolos, não apoiavam livros diferentes
daqueles que hoje possuímos no cânon do Antigo Testamento. E, igualmente, os
reformadores se apegaram aos mesmos livros que eles:
―Por volta do século IV surgiu uma ruptura entre o costume popular nas igrejas
do Ocidente e a opinião dos estudiosos como Jerônimo. As igrejas
empregavam os livros apócrifos na versão do Antigo Testamento, tomados dos
códices da Septuaginta. Mesmo o concílio de Hipona em 393 d.C.,
influenciado por Agostinho, mais tarde bispo daquela cidade do norte da
África, não optou por fazer distinção entre escritos canônicos e eclesiásticos
(ou apócrifos) do Antigo Testamento. Por outro lado, as igrejas ocidentais da
Ásia Menor, Palestina e Egito tendiam a manter o cânon judaico mais limitado.
Foi por esse cânon mais limitado que optaram os reformadores no século XVI,
enquanto a Igreja Católica Romana endossou a concepção mais abrangente do
cânon no Concílio de Trento em 1546.‖71
E também:
― O fato principal é que, seguindo Cristo e os apóstolos, a Igreja, desde o
próprio início, tem aceito como canônicos os mesmos trinta e nove livros do
Antigo Testamento contidos em nossa enumeração... Os reformadores
reverteram ao Cânon hebraico, ou, para expressar melhor a verdade, ao Cânon
de Cristo e dos apóstolos.‖72
No que diz respeito ao cânon do Novo Testamento, nós vemos que os livros
foram sendo escritos, e, depois, colecionados como material reconhecidamente
inspirado. Contudo, somente depois de alguns séculos é que podemos ver uma definição
oficial dos livros canônicos:
―O Terceiro Concílio de Cartago, em 397, emitiu um decreto semelhante ao do
Sínodo de Laodicéia, e apresentou uma lista de escritos idêntica à dos 27 livros
do atual Novo Testamento.‖73
71
William S. Lasor, David A. Hubbard, Frederic W. Bush, Introdução ao Antigo
Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 657.
72
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 253, 254.
73
Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida
Nova, 1984, p 437.
36
E ainda:
―O quarto século viu a fixação do Cânon dentro dos limites a que estamos
acostumados, tanto no setor Ocidental como no Oriental da Cristandade. No
Oriente o ponto definitivo é a Trigésima nona Carta Pascal de Atanásio, em
367 D.C. Aqui encontramos pela primeira vez um Novo Testamento de limites
exatos, conforme nós o conhecemos... No Ocidente o Cânon foi fixado por
decisão de concílio, em Cartago, no ano de 397 D.C.‖74
Base Confessional
Voltemo-nos agora pra o que declara a Confissão de Fé de Westminster a
respeito da questão do cânon. Em seu Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA, ela
declara o seguinte:
Seção II. ―Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita,
incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os
seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e
prática‖:
O VELHO TESTAMENTO: (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis,
I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó,Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel,
Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias;
O NOVO TESTAMENTO: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos,
I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses,
I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filemon,
Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas, Apocalipse.
Seção III - ―Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração
divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade
da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados
senão como escritos humanos.‖
Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas
necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é
expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido
dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas
74
J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 259.
37
revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos,
entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a
salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas
circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às
ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza
e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem
ser observadas.‖
Seção VIII – ―O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo
povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente
conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados
imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados
puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as
controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo
tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus,
que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve, no temor de Deus, lê-las e
estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as
nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas
abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança
pela paciência e conforto das escrituras.‖
O cânon da Igreja Católica Apostólica Romana
A Igreja Católica Apostólica Romana possui um cânon diferente dos
protestantes. Ela aceita como canônicos alguns livros judeus, os quais são considerados
pelos protestantes como não inspirados. Abaixo citamos uma explicação acerca dos
textos adicionais da Igreja Católica:
―... a Igreja Católica Romana finalmente decretou, em 1546, no concílio de
Trento, que os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2
Macabeus, também fossem aceitos como canônicos. Nesse ponto deve ser
notado que a Igreja Católica Romana também aceita como canônicas as
adições aos livros de Ester, Baruque (‗a carta de Jeremias‘), e Daniel (‗a
oração de Azarias‘, ‗o cântico dos três hebreus‘, ‗a história de Susana‘ e ‗ Bel e
o Dragão‖). Na edição oficial da Vulgata Latina, que havia sido decidida pelo
concílio de Trento, mas que não foi publicada senão em 1592, os livros de 1 e 2
Esdras, e a Oração de Manassés, também foram inseridos, mas após o Novo
Testamento.‖75
75
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.
38
Todos estes textos não inspirados os protestantes rejeitam que sejam aceitos
como Palavra de Deus. E, ―aquilo que foi incluído na Vulgata, em adição aos livros do
Cânon hebraico, é o que os Protestantes usualmente chamam de ‗livros apócrifos‘.‖76
76
N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia.
Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.
39
ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS
Introdução
Tendo aprendido que Deus revelou sua vontade ao homem por meio da
Revelação Especial, e garantiu o registro fiel desta revelação por meio da Inspiração,
precisamos entender agora que de nada adiantaria a Revelação e a Inspiração se não
houvesse a obra de Iluminação. A obra de Iluminação fecha o ciclo da comunicação de
Deus com o homem. Ou seja, a obra de Revelação só consegue atingir seu alvo quando
ocorre a obra de Iluminação no coração do homem. Ela depende inteiramente da obra de
Iluminação.
Conceito de Iluminação
1. ―Iluminação é a atuação de Deus na mente e no coração do homem, através do
Espírito Santo, capacitando-o para compreender o ensino da Bíblia Sagrada.‖ 77
2. ―A doutrina da iluminação relaciona-se com aquele ministério do Espírito
Santo que ajuda o crente a compreender a verdade das Escrituras... a
iluminação refere-se ao ministério do Espírito mediante o qual o significado
das Escrituras é tornado claro ao crente. O homem não-regenerado não pode
experimentar este ministério de iluminação, porque está cego diante da verdade
de Deus (1Co2:14)... o Espírito é a conexão direta entre a mente de Deus,
conforme revelada nas Escrituras, e a mente do crente que procura entender as
Escrituras.‖78
3. ―A obra do Espírito Santo em comunicar essa compreensão, é chamada de
―iluminação‖ ou esclarecimento. Não é uma nova revelação, mas uma obra
dentro de nós, que nos capacita a compreender e a afirmar a revelação da
Bíblia, quando é lida, pregada e ensinada. O pecado obscurece nossa mente
e vontade, de modo que perdemos e resistimos à força das Escrituras. O
Espírito, contudo, abre e desanuvia nossa mente e põe o nosso coração em
sintonia, de modo a podermos entender aquilo que Deus tem revelado (2Co
3:14-16; 4.6; Ef 1:17-18; 3:18-19). Iluminação é a aplicação da verdade
77
Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste, SOCEP,
2001, p 24.
78
C. C. Ryrie, “Iluminação” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã.
Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 305.
40
revelada de Deus ao nosso coração, de modo que nós passamos a entender
como realidade para nós o que o texto sagrado revela.‖79
Quando falamos em Iluminação do Espírito para compreensão das Escrituras
não estamos afirmando que o crente ―entenderá a mensagem da Escritura sem que
necessite interpretar os textos‖. A Iluminação é absolutamente necessária para todos os
crentes entenderem a Bíblia - a Revelação de Deus. ―A iluminação, contudo, não
dispensa o esforço sério e piedoso para se compreender corretamente a palavra de Deus.
A Bíblia Sagrada deve ser lida e interpretada.‖80
Em outras palavras, para
compreendermos as verdades bíblicas necessitamos tanto de interpretação humana
quanto de Iluminação divina.
Base Bíblica da doutrina da Iluminação
A doutrina da Iluminação pode ser facilmente encontrada nos seguintes textos
bíblicos:
 (Ef 1:17-19) Paulo deseja que os efésios entendam verdades
espirituais. E para isto, deveriam ser iluminados em seus corações;
 (1Co 2:14) Paulo diz que o homem natural (o descrente) não aceita as
verdades vindas do Espírito Santo porque não entende. Diferente do
homem regenerado, que tem discernimento espiritual.
Base Confessional:
 Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA):
Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas
necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é
expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente
deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por
novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos,
entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a
salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas
circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às
ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da
natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que
sempre devem ser observadas.‖
79
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica
do Brasil, 1999, p 1348.
80
Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste, SOCEP,
2001, p 25.
41
A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS
Introdução
É verdade que toda denominação possui o seu conjunto de doutrinas, e às vezes
ocorrem diferenças grandes entre umas e outras. Mas se a Bíblia é uma só, porque tantas
diferenças? A razão que traz à tona tantas diferenças de doutrinas é a interpretação dos
textos da Escritura. Mas este fato não é novo, já desde os tempos de Jesus havia
diferentes interpretações das Escrituras (Lc 10:26; Mt 22:23; 5:21, 27, 33, 38, 43; At
23:6-8).
Hoje em dia temos a mesma situação, onde os grupos religiosos, ainda que
todos igualmente evangélicos, se dividem devido às interpretações. Mas como saber
qual a interpretação correta? Existe um modo de interpretação correta ou todos estão
corretos? Na verdade é impossível que tenhamos dois modos de interpretar os textos
bíblicos, e os dois estejam corretos no resultado. Forçosamente um estará errado!
Visto que a interpretação da Bíblia é um assunto de suma importância, pois é a
partir da interpretação que vamos obter nossas doutrinas, e visto que a Reforma
protestante sempre afirmou o direito ao livre exame das Escrituras por parte de todo
cristão, devemos então aprender um pouco das regras de interpretação da Bíblia por
pelo menos duas razões: 1º- Podermos utilizar estas regras em nosso cotidiano quando
estudamos as Escrituras; 2º- Ao sermos ensinados acerca de algum ponto doutrinário
podermos confirmar sua veracidade.
Interpretação das Escrituras
A esta altura é preciso esclarecer que não veremos todas as regras de
interpretação que existe, porém, veremos algumas fundamentais. Aprenderemos
algumas ―regras gerais de interpretação‖, as quais devem ser consideradas e utilizadas
em qualquer texto bíblico. Ou seja, estas regras procuram abranger a interpretação de
todos os tipos de textos da Bíblia – do Antigo ou do Novo Testamento. São elas:
1. Em nossa Confissão de Fé de Westminster no Capítulo I - DA ESCRITURA
SAGRADA em sua Seção IX, temos uma declaração acerca da interpretação
das Escrituras. Vejamos o que ela afirma: “A regra infalível de interpretação
da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o
verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é
múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros
textos que falem mais claramente.” Este texto da Confissão de Fé nos aponta
dois princípios elementares de interpretação: 1- A interpretação das Escrituras
se deve a ela mesma. Ou seja, ninguém deve dizer o significado dos textos,
quem faz isto é a própria Escritura através de outros textos dela mesma. Sendo
42
assim, o sentido de um texto está clarificado e explicado em outro texto; 2- Os
textos da Escritura não possuem vários sentidos, mas somente um sentido;
2. O sentido do texto deve ser sempre aquilo que o autor quis dizer. Como
pensava o reformador João Calvino: ―A primeira função de um intérprete é
deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que
ele deveria dizer.‖81
3. O texto deve ser lido em seu sentido literal, a não ser que demonstre suficiente
evidência, em si mesmo, de que deva ser interpretado de modo figurado ou
simbólico;
4. Todo texto deve ser interpretado de acordo com o assunto a ser tratado no seu
contexto. Não devemos interpretar um texto falando de um assunto teológico
do qual o texto não fala;
5. Discernir bem o que é prescritivo e o que é descritivo nas Escrituras a fim de
saber o que é obrigatório a nós e o que não é obrigatório mas foi apenas
referido. Se um texto não é prescritivo, mas apenas descritivo, então não
podemos utilizá-lo com uma ordem, ou como uma norma;
6. ―As doutrinas não devem ser baseadas em um ou mesmo em poucos versos que
possuam sentidos obscuros.‖82
7. As doutrinas das Escrituras não podem contradizer-se. Sendo assim, se alguém
interpreta um texto de forma a confrontar outra doutrina, o intérprete deve
então procurar onde errou em sua interpretação;
8. O conteúdo da revelação bíblica veio de forma progressiva, portanto, devemos
respeitar o contexto revelacional de cada texto;
9. Na interpretação devemos diferir entre o que é contradição e o que é paradoxo.
Paradoxos existem nasa Escrituras, contradições não;
10. Deve o intérprete estar atento ao uso de símbolos e tipos nas Escrituras. Ao se
deparar com eles, o intérprete deve considerar a explicação que a própria
Escritura faz deles, e não, conceder sua própria explicação ou interpretação
particular;
11. Ao interpretar as parábolas devemos compreender que elas só intencionam
uma única lição. O intérprete deve levar em conta o público-alvo da parábola, a
cultura da época, o contexto histórico em que foi proferida a parábola, e as
demais regras de interpretação citadas acima.
Um modo mais resumido de explicar as regras de interpretação das igrejas
reformadas é dizer a designação deste método. Ele é chamado de método de
interpretação histórico-gramatical. Ou seja, é o modo de interpretação que leva em
consideração a história e a gramática. A- Com o termo histórico, queremos dizer que o
intérprete leva em consideração a cultura, contexto histórico dos ouvintes e do escritor,
81
Louis Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica.São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p
26.
82
Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 188.
43
geografia, situação política, situação religiosa...; B- Com o termo gramatical, queremos
dizer que o intérprete leva em consideração o significado das palavras, contexto das
palavras, sintaxe, figuras de linguagem...
Este é o método correto de se interpretar as Escrituras segundo o pensamento
reformado. Todos os demais métodos de interpretação são falhos e redundarão em
doutrinas distorcidas.
44
A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS
Introdução
Bom, em lição anterior já expomos a existência de um cânon sagrado, chega
agora o momento de demonstrar como estes livros estão relacionados uns com os
outros. A Escritura possui um tema central, um assunto que abrange todos os sub-temas.
Nosso trabalho neste momento é aprender a compreender como esta mensagem central
está disposta em toda a revelação.
As Escrituras possuem uma coleção de sessenta e seis livros, dos quais 39
formam o Antigo Testamento e 27 formam o Novo Testamento. Apesar de se encontrar
nestes livros uma diversidade enorme de histórias e assuntos, é bem verdade também
que é possível tirar de todos eles um único tema central. Lembremos que as Escrituras
são a Revelação Especial de Deus que visa nos mostrar sua Pessoa e sua Vontade. A
Bíblia não traz informações soltas e sem sentido a cerca do Criador divino. Ela é
harmoniosa em seu conteúdo de tal forma que constitui uma ―rede interligada de
informações‖. O que isto quer dizer? Quer dizer que todos os assuntos tratados nos
sessenta e seis livros estão de alguma forma conectados a um tema central. Podemos
comparar o conteúdo com uma árvore. Ainda que nem todas as informações constituam
o ―tronco desta árvore‖ (ou seja, a essência do tema central), elas são como os ―ramos
inseparáveis‖ deste tema.
Revelação Progressiva
Para que entendamos a estrutura das Escrituras precisamos estar a par de que
ela foi formada por meio de um progresso de revelação, e não por um ato de revelação.
Certamente as Escrituras trazem uma diversidade de assuntos interligados, contudo, não
implica que todos eles foram revelados em um único momento.
A Escritura foi escrita durante um período longo de tempo – cerca de 1.500
anos. Deus foi entregando sua Revelação Especial aos poucos, e não tudo de uma só
vez. Não revelou tudo definitivamente em um só momento, mas esclareceu muitas de
suas doutrinas lentamente, com o passar do tempo. É o que chamamos de
―progressividade da Revelação‖.
Deus só acabou de entregar a Revelação Especial com o último livro Inspirado
que foi o Apocalipse. Isto quer dizer que ainda que certos assuntos fossem tratados
desde muito cedo na Revelação Especial, alguns deles só tiveram seu desfecho
revelacional no final do processo de Inspiração. Contudo, visto que já estamos com a
Revelação completa, podemos observar com clareza qual o tema central das Escrituras a
fim de compreendê-las melhor.
45
Tema Central das Escrituras
Apesar de a Bíblia não ser um só livro, ela possui uma só mensagem. Mas que
mensagem é esta? Para um leitor inexperiente, ela poderá estar falando de vários
assuntos, vários acontecimentos, várias personagens... E por fim ele não compreender
qual mensagem constitui o seu tema central. É bem verdade que na Bíblia encontramos
várias histórias e personagens. Vários assuntos e conceitos. Mas todos eles fazem parte
de uma única história denominada História da Salvação.
Todas as histórias, assuntos e conceitos dentro da Escritura têm sua função e
propósito dentro da História da Salvação. Bom, todos eles são parte da História da
Salvação, mas onde fica o tema central das Escrituras? É simples. Em resumo podemos
dizer que: A Bíblia contém vários personagens, várias histórias, vários conceitos,
vários assuntos; sendo que todos eles fazem parte de uma única história chamada
História da Salvação. Esta História da Salvação por sua vez é desenvolvida na Bíblia
por causa do tema central de que a Bíblia trata. O tema central da Bíblia é o da
Aliança de Deus com um povo escolhido por ele.
O tema "Aliança" no Antigo Testamento pode ser resumido na seguinte frase
dita pelo próprio Deus: “Eu serei o seu Deus, e vós sereis o meu povo”. Toda a História
da Salvação vai ser conduzida tendo esta idéia como ‗pano de fundo‘. Não que
desprezemos os outros temas presentes, mas sim, que este tema da Aliança é o seu foco
principal. Os outros temas e assuntos encontrados na Bíblia são como ―galhos que
brotam deste tema central‖. Todos eles estão interligados. Tanto o ―tema central‖ só é
totalmente compreendido por meio dos ―temas secundários‖, como também os ―temas
secundários‖ só são compreendidos tendo o ―tema central‖ como pano de fundo.
Definido o tema central - ―Aliança de Deus com seu povo‖ - que abre nosso
entendimento sobre o conteúdo total das Escrituras, precisamos esclarecer melhor a
idéia contida na palavra "Aliança". A Aliança na Bíblia é a escolha divina de um povo
para seguir seus mandamentos servindo-o (Gn 12:1-3; Ex 3:7-10; Dt 6:1-5). O amor é a
causa desta escolha (Dt 4:37; 10:14-15; 7:7-8; 9:4-6; 10:15; 23:5); e ―o propósito real da
Aliança consiste na intenção de Deus de formar um povo propriamente seu.‖83
As Duas Alianças Bíblicas Centrais
Os teólogos dividem o tema central da Aliança na Bíblia em duas alianças
principais (ou pactos): O Pacto das Obras (Aliança das Obras) e o Pacto da Graça
(Aliança da Graça).
O Pacto das Obras diz respeito ao tempo em que Adão viveu antes do pecado.
Neste Pacto o homem estava condicionado a ter vida eterna somente se obedecesse à
ordem do Criador de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2:16,
17; 3:1-24).
83
O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos. Campinas, Luz Para o Caminho, 1997, p
44.
46
O Pacto da Graça se refere ao tratamento de Deus com o homem depois da
entrada do pecado no mundo. Desde Gênesis capítulo 3 até Apocalipse 22, é o Pacto da
Graça que está em ação.
Administrações da Aliança da Graça
Podemos dividir a Aliança da Graça em dois ―períodos distintos‖; duas
―administrações” diferentes. Podemos diferenciar estas administrações do seguinte
modo: A administração do Pacto da Graça antes de Cristo é chamada de ‗Velha
Aliança‘; e a administração do Pacto da Graça depois da vinda de Cristo é chamada de
‗Nova Aliança‘*.84
Não é que Deus providenciou dois pactos de salvação depois da Queda de
Adão em pecado, sendo um deles a Velha Aliança e o outro a Nova Aliança. Deus
providenciou somente um pacto de salvação – o Pacto da Graça. Este foi iniciado depois
da entrada do pecado e continuará até a consumação de todas as coisas. Há, portanto,
duas administrações diferentes para o mesmo Pacto da Graça. Na primeira
administração (Velha Aliança) o Cristo e sua salvação são prometidos; na segunda
administração (Nova Aliança) o Cristo já veio e cumpriu a salvação esperada.
Estilos literários da Revelação
Para finalizar este assunto da estrutura das Escrituras nós vamos nos deter na
―forma‖ como a Revelação Especial foi escrita durante estes vários séculos de sua
formação. Ora, sabemos que a mensagem das Escrituras procede de um mesmo autor –
o Espírito Santo. Porém, temos que nos lembrar que esta mensagem foi escrita por meio
de homens, e que cada mensagem registrada por eles foi escrita com o ―estilo literário‖
que Espírito Santo guiou que utilizassem. O resultado é que encontramos vários tipos
diferentes de literatura dentro das Escrituras. Para que possamos compreendê-los
melhor, abaixo está a divisão tradicional dos livros conforme seu estilo literário:
84
Ibid, p 53.
* Os termos Velha Aliança e Nova Aliança também são conhecidos como Antigo
Testamento e Novo Testamento.
Novo Testamento
Livros Tipo Literário
De Mateus até João Evangelhos
Atos Histórico
De Romanos até Filemom Cartas Doutrinárias
De Hebreus até Judas Cartas Doutrinárias
Apocalipse Profético
47
Antigo Testamento
Livros Tipo Literário
De Gênesis até Deuteronômio Lei
De Josué até Ester Históricos
De Jó até Cântico dos Cânticos Poéticos
De Isaías até Malaquias Proféticos
48
BIBLIOGRAFIA
— A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994.
— Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste,
SOCEP, 2001.
— Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade
Bíblica do Brasil, 1999.
— Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001.
— Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Cultura
Cristã, 1999.
— Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo, Os Puritanos,
1999.
— Derek Thomas, A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo, Os Puritanos, 1998.
— Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Editor, Walter A. Elwell. São
Paulo,Vida Nova, 2009.
— J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. São Paulo, PES, s/d.
— Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?
São Paulo, Os Puritanos, 1998.
— Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985.
— ___________, Princípios de Interpretação Bíblica.São Paulo, Cultura Cristã, 2000.
— ___________, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990.
49
— Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida
Nova, 1984.
— Norman L. Geisler, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da
Bíblia. São Paulo, Mundo Cristão, 1999.
— O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995.
— O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos. Campinas, Luz Para o Caminho, 1997.
— Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII. Manhumirim, jan/96.
— Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999.
— Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986.
— William S. Lasor, David A. Hubbard, Frederic W. Bush, Introdução ao Antigo
Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1999.

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Estudo sobre as Escrituras

  • 1. INTRODUÇÃO Como bem sabemos o homem foi criado a fim de ter comunhão com o Criador. Contudo, devido ao seu estado atual em pecado, o homem necessita de que Deus se revele a ele, mostrando-lhe as verdades acerca de Si, do mundo, e do próprio homem, para que possa este voltar a ter comunhão novamente com o Criador. Para satisfazer esta necessidade Deus revelou-se ao homem de tal forma que este pudesse entender mais sobre Ele e Seus planos. Esta revelação está ao alcance do homem principalmente por meio do registro dela nas Escrituras Sagradas. Ora, o cristianismo está fundamentado na revelação de Deus, e sobre ela se apóia inteiramente. Toda doutrina cristã está baseada na revelação escrita que Deus produziu por meio de homens vocacionados para isto. De forma que conhecer a Bíblia é conhecer a vontade de Deus e Sua Pessoa. E ainda que este conhecimento não implique imediatamente em conhecimento experiencial, não há como ter comunhão com Deus fora desta revelação. Diante disto tudo, é preciso que os crentes aprendam cada vez mais acerca das Escrituras a fim de estarem cada vez mais dentro da vontade do Criador. Para tanto, apresentamos nesta revista dez estudos sobre as Escrituras, os quais tem como propósito fazer com que os leitores entendam mais a respeito da revelação entregue por Deus à humanidade. Certamente cada estudo desta obra não é exaustivo em seu conteúdo, mas tenta esclarecer o essencial sobre cada tema abordado. Quaisquer dúvidas que o leitor ainda possuir após a leitura dos textos, deverão ser retiradas mediante pesquisa em outros
  • 2. 2 materiais teológicos de linha reformada, ou por meio de pastores calvinistas com os quais ele possa entrar em contato. Deus abençoe seus estudos! Pr. Alberto Simonton
  • 3. 3 Estudos TÍTULOS páginas Nº 1 REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL 04 Nº 2 INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS 10 Nº 3 INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS 14 Nº 4 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS 17 Nº 5 INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS 20 Nº 6 A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS 22 Nº 7 CÂNON DAS ESCRITURAS 30 Nº 8 ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS 39 Nº 9 A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS 41 Nº 10 A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS 44
  • 4. 4 REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL Introdução Antes de estudarmos todas as doutrinas de acordo com seus vários temas, faz- se necessário que iniciemos com a questão das fontes de onde extrairemos estas doutrinas. Cada religião tem a fonte (ou fontes) de onde procedem as suas crenças, e com o cristianismo não poderia ser diferente. Portanto, devemos entender bem de onde é que surgiu cada verdade da religião cristã. No nosso caso, afirmamos que todas as verdades espirituais são provenientes de revelações dadas pelo Ser Supremo do universo, o qual se mostrou, por meio delas, a nós. Mas o que são estas revelações? O que significa ―Revelação‖ dentro do contexto da teologia cristã? ―Revelação significa intrinsecamente a exposição daquilo que anteriormente era desconhecido. Na teologia judaico-cristã, o termo é usado primariamente para a comunicação da verdade divina de Deus para o homem ou seja: a Sua manifestação de Si mesmo e da Sua vontade.‖ 1 Tradicionalmente, na teologia, a revelação divina tem sido classificada comumente como sendo de dois tipos: Revelação Geral e Revelação Especial. Revelação Geral A Revelação Geral “é assim chamada porque chega a cada um de nós simplesmente por vivermos no mundo de Deus. Deus tem se revelado desse modo desde o começo da história humana.‖2 Todo ser humano pode contemplar esta revelação, e qualquer um tem acesso a ela, visto ela se dirigir a toda a humanidade. Ela tem em vista ―suprir a necessidade natural das criaturas quanto ao conhecimento do seu Deus‖.3 É importante que entendamos que ―a revelação geral está radicada na criação e nas relações gerais de Deus com o homem, é dirigida ao homem como a criatura portadora da imagem de Deus, e visa a realização do fim para o qual o homem foi criado, o que pode ser alcançado somente quando o homem conhecer a Deus e gozar comunhão com Ele.‖4 Como a revelação geral se apresenta ao ser humano? De qual forma o ser humano entra em contato com ela? Vejamos a seguinte explicação: ―A revelação geral 1 Carl F. H. Henry, Revelação Especial in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Editor, Walter A. Elwell. São Paulo,Vida Nova, 2009, p 299. 2 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 626. 3 Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 39. 4 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 27.
  • 5. 5 não vem ao homem diretamente por comunicações verbais... Deus fala ao homem através de toda a sua criação, nas forças e nos poderes da natureza, na constituição da mente humana, na voz da consciência, e no governo providencial do mundo em geral‖.5 Apesar de satisfatório para conhecer alguns aspectos do Criador, a Revelação Geral não desempenha mais sua função de modo perfeito e suficiente devido às seguintes razões: 1. O pecado maculou a Revelação Geral de tal forma que esta não mostra Deus clara e perfeitamente como antes da entrada do pecado; 2. O homem já não consegue entender a Revelação Geral de forma correta devido à sua pecaminosidade. Assim, ele não tem capacidade espiritual para ver claramente esta revelação deixada pelo Criador; 3. A Revelação Geral nada diz a respeito do perdão do pecado, ou sobre Cristo, ou sobre a salvação. Portanto, ela é insuficiente para resgatar os pecadores e consumar os planos divinos.6 Base Bíblica: Sl 19:1, 2; At 14:17; Rm 1:19, 20; Rm 2:14-15 Base Confessional:  Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura Sagrada): ―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis...‖  Catecismo Maior (perg. 2) ―Como podemos saber se existe um Deus?‖ Resposta: ―A própria luz da natureza no homem, e as obras de Deus, claramente testificam que existe um Deus...‖7 Revelação Especial Devido ao fato de a Revelação Geral ser insuficiente aos propósitos divinos, aprouve a Deus apresentar a Revelação Especial a fim de levar adiante seu plano eterno para o mundo. Podemos explicar a Revelação Especial nos seguintes termos: ―A revelação especial está arraigada no plano de redenção de Deus, é dirigida ao homem na qualidade de pecador, pode ser adequadamente compreendida e assimilada somente pela 5 Ibid, p 29. 6 Ibid, p 30, 31. 7 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Cultura Cristã, 1999, p 1.
  • 6. 6 fé, e serve ao propósito de assegurar o fim para o qual o homem foi criado a despeito de toda a perturbação produzida pelo pecado.‖8 Os meios pelos quais a Revelação Especial se apresentou podem ser reduzidos, de forma geral, a três tipos: 1. Teofanias ou manifestações de Deus : a. Fogo e nuvens de fumaça (Gn 15:17; Ex 3:2; 19:9, 16, 17; 33:9; Sl 78:14; Sl 99:7); b. Nos ventos tempestuosos (Jó 38:1; 40:6; Sl 18:10-16); c. Anjo do Senhor (distinto de Deus - Ex 23:20-23; Is 63:8, 9; identificado com Deus - Gn 16:13; 31:11-13; 32:28); d. Encarnação de Cristo (Cl 1:19; 2:9).9 2. Comunicações diretas: a. Voz audível (Gn 2:16; 3:18, 19; 4:6-15; Ex 19:9; Dt 5:4; 1Sm 3:4); b. A sorte e o Urim e Tumim (1Sm 10:20, 21; 1Cr 24: 5-31; Ne 11:1; Nm 27:21; Dt 33:8); c. Sonho (Nm 12:6; Dt 13:1-6; 1Sm 28:6; Jl 2:28); d. Visão (Is 6; 21:1; Ez 1-3; 8-11; Dn 1:17; 2:19; 7-10; Am 7:1-9).10 3. Milagres: ―De acordo com a Escritura, Deus também Se revela pelos milagres. É especialmente deste ponto de vista que os milagres da Escritura devem ser estudados... Eles são, acima de tudo, manifestações de um poder especial de Deus, sinais de Sua presença especial, e servem, com freqüência, para simbolizar verdades espirituais. Como manifestações do reino vindouro de Deus, tornam-se subservientes à grande obra da redenção... Eles confirmam as palavras da profecia e apontam para uma nova ordem que está sendo estabelecida por Deus.‖11 Como se pode observar, a Revelação Especial é diferente da Revelação Geral na forma de se apresentar ao homem, e igualmente diferente em seu conteúdo: ―A revelação especial não serve, simplesmente, ao propósito de comunicar ao homem algum conhecimento geral de Deus. Descobre ao homem o 8 Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 39. 9 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 34. 10 Ibid, p 34. 11 Ibid, p 35.
  • 7. 7 conhecimento específico do plano divino para a salvação dos pecadores; da reconciliação de Deus e dos pecadores por meio de Jesus Cristo; do caminho da salvação aberto por Sua obra redentora, da influência transformadora e santificadora do Espírito Santo, e das exigências divinas para os que participam da vida do Espírito.‖12 Como está claro, a Revelação Especial é indispensável ao ser humano a fim de que este possa sair de seu estado de pecado e entrar em comunhão com o Criador. Ou seja, a Revelação Especial tem importância imensurável por se tratar de verdades que mudarão a situação eterna do homem. É por esta causa que Deus fez com que se registrasse esta revelação a fim de que fosse preservada pelos séculos durante a história humana, sem os perigos de ser perdida com o passar do tempo, ou ser ―adulterada por idéias humanas‖. Podemos então falar da relação entre a Escritura e a Revelação Especial da seguinte forma: ―Em geral pode-se dizer que a revelação especial de Deus assumiu uma forma permanente na Escritura, e foi assim preservada para a posteridade. Deus quis que Sua revelação fosse o Seu falar perene para todas as gerações sucessivas dos homens; e tinha, pois, de guardá-la contra a perda, corrupção e falsificação. E Ele o fez provendo-lhe um registro infalível e vigiando-o com cuidado providencial.‖13 Evidentemente nem tudo que fez parte da Revelação Especial está escrito nas Escrituras (Jo 20:30-31), porém, tudo que foi escrito é suficiente para as necessidades humanas, e suficiente para o homem cumprir os seus deveres para com Deus (2Tm 3:16, 17). Base Bíblica: 2Rs 17:13; Sl 103:7; Jo 1:18; Hb 1:1, 2; 1Co 2:9, 10; 1:21 Base Confessional:  Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I , Seção I – Da Escritura Sagrada): ―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar- se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor 12 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 36. 13 Ibid, p 38.
  • 8. 8 preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.‖  Catecismo Maior: (perg. 2) ―Como podemos saber se existe um Deus?‖ Resposta: ―... só a sua Palavra e o seu Espírito o revelam de um modo suficiente e eficaz, aos homens, para a sua salvação.‖14 Conclusão Certamente Deus não revelou tudo acerca de Si mesmo, mas o que revelou é suficiente para suprir nossas necessidades como criaturas espirituais que precisam de comunhão com Ele. Mesmo porque, ainda que Ele viesse a revelar-Se plenamente a nós, não poderíamos compreendê-lo, pois somos finitos. ―Deus é O Incompreensível. O homem não pode conhecê-lO como Ele é nas profundezas de Seu ser divino‖.15 O Senhor está tão acima de nós que por mais que quiséssemos conhecer mais dEle, nunca conseguiríamos chegar a um conhecimento completo: ―Não só é verdade que jamais poderemos compreender plenamente a Deus; é verdade também que jamais poderemos compreender plenamente nem mesmo uma só coisa acerca de Deus. Sua grandeza (Sl 145:3), seu entendimento (Sl 147:5), seu conhecimento (Sl 139:6) sua riqueza, sabedoria, juízos e caminhos (Rm 11:33) estão todos além da nossa capacidade de compreensão plena.‖16 Todavia, o conhecimento que temos por meio da Revelação Geral e por meio de Revelação Especial não somente podem dar a alegria de salvação àqueles que O conhecem e O aceitam pela fé. O acesso a estas Revelações torna os pecadores ainda mais culpados caso não se rendam a elas. Ou seja, quanto mais acesso ao conhecimento de Deus, mais culpável o homem fica diante dEle ao recusá-lO. Mas o que dizer daqueles que nunca tiveram acesso à Revelação Especial? Como poderão ser condenados por não seguir a um Deus que nem chegaram a conhecer devidamente? A questão é que somos condenados não por causa dos nossos pecados presentes, mas pelo pecado em Adão. E em segundo lugar, a Revelação Geral já é suficiente para tornar alguém culpado diante do Senhor. Vejamos a seguinte explanação: 14 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 1. 15 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 26. 16 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 102.
  • 9. 9 ―... Ele ativamente revela esses aspectos de si mesmo a todos, de modo que deixar de agradecer e servir ao Criador é sempre um pecado contra o conhecimento. No final, nenhuma negação de termos recebido esse conhecimento será admitida. Paulo usa a revelação universal do poder e da bondade de Deus como base para a sua acusação contra toda a raça humana como pecadora e culpada diante de Deus, por causa do nosso fracasso em servi-lo como devemos (Rm 1:18-3:19).‖17 17 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 626.
  • 10. 10 INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS Introdução Ainda que saibamos que Deus decidiu revelar-se ao homem de forma mais eficiente por meio da Revelação Especial, precisamos entender que Ele ainda resolveu registrar esta Revelação a fim de que tivéssemos o seu conteúdo fiel. Para que o conteúdo destes registros fosse realmente fiel à Revelação Especial, Deus fez os escritores sagrados registrarem por meio de um processo que a teologia denomina de Inspiração. É sobre isto que nós vamos aprender hoje. Teorias sobre a Inspiração 1. Natural: Não há qualquer elemento sobrenatural envolvido. A Bíblia foi escrita por homens de grande talento. 2. Mecânica (teoria da ditação): Os autores bíblicos foram apenas instrumentos passivos nas mãos de Deus, como máquinas de escrever com as quais Ele teria escrito. 3. Parcial: Somente o não conhecível foi inspirado (e.g., criação, conceitos espirituais). 4. Conceitual: Os conceitos, não as palavras, foram inspirados. 5. Gradual: Os autores bíblicos foram mais inspirados que outros autores humanos. 6. Neo-ortodoxa: Autores humanos só poderiam produzir um registro falível.18 Conceito de Inspiração: ―Inspiração é a ação supervisionadora de Deus sobre os autores humanos da Bíblia de modo a, usando suas próprias personalidades e estilos, comporem e registrarem sem erro as palavras de Sua revelação ao homem. A inspiração se aplica apenas aos manuscritos originais (chamados de autógrafos).‖19 Provas Bíblicas da Inspiração  Os escritores do Velho Testamento repetidas vezes receberam determinação para escrever o que o Senhor lhes ordenou (Ex 17:14; 34:27; Nm 33:2; Is 8:1; Jr 25:13; 30:2; Ez 24:1; Dn 12:4; Hb 2:2); 18 Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, p 1624. 19 Charles C. Ryrie, Um Resumo da Doutrina Bíblica in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, p 1624.
  • 11. 11  Os profetas estavam conscientes de que eram portadores de uma mensagem divina, e por isso a introduziram por tais fórmulas como: ―Assim diz o Senhor‖; ―A Palavra do Senhor veio a mim‖... Estas fórmulas se referem freqüentemente à palavra falada, mas são também usadas em relação com a palavra escrita (Jr 36:27; 32; Ez 26, 27, 31, 32, 39);  Os escritores do Novo Testamento freqüentemente citam palavras do Velho Testamento como palavras de Deus ou do Espírito Santo (Mt 15:4; Hb 1:5; 3:7; 5:6; 7:21; etc);  Paulo fala de suas próprias como palavras ensinadas pelo Espírito (1Co 2:13), e afirma que Cristo está falando nele (2Co 13:3). Sua mensagem aos Tessalonicenses é a palavra de Deus (1Ts 2:13);20  A inspiração foi tanto verbal (se estende até a escolha das palavras - tanto Jesus quanto Paulo utilizaram uma linha de argumentação onde dependiam de uma só palavra do texto (Mt 22:43-45; Gl 3:16)21 , quanto plenária (diz respeito a todos os livros das Escrituras - 2Pe 1:20-21);  Paulo em (2Tm 3:16) afirma que toda Escritura é inspirada por Deus (soprado por Deus);  Pedro afirma igualmente que nenhuma profecia foi dada por homens, mas foi produto da obra do Espírito Santo nos escritores (2Pe 1:20- 21). Devemos esclarecer que apesar de toda a Escritura ser inspirada e ser a Palavra de Deus para nós, isto não significa que tudo nela é de igual ―importância‖. Vejamos a seguinte explanação: ―Creio que as narrativas e declarações de Gênesis e as genealogias em Crônicas, foram tão verdadeiramente escritos por inspiração como os Atos dos Apóstolos. Creio que a mensagem de Paulo sobre a capa e os pergaminhos foi escrita sob direção divina tanto como o vigésimo capítulo de Êxodo, o décimo sétimo de João ou o oitavo de Romanos. Seja lembrado que não estou dizendo que todas essas partes da Bíblia sejam de igual importância para nossas almas. Nada disso! O que eu digo é que todas elas foram igualmente inspiradas.‖22 Base Confessional:  Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA): 20 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 40. 21 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã.Campinas, Luz Para o Caminho, p 45. 22 J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. São Paulo, PES, s/d, p 11.
  • 12. 12 Seção II - Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática: O VELHO TESTAMENTO: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; O NOVO TESTAMENTO: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, ITessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas, Apocalipse. Ef. 2:20; Apoc. 22:18-19: II Tim. 3:16; Mat. 11:27. Seção III - Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos. Seção IV - A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus. Seção V - Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interior do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nosso coração. Seção VIII - O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e
  • 13. 13 providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das escrituras.
  • 14. 14 INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS Introdução Tendo aprendido que as Escrituras foram Inspiradas por Deus de forma verbal e plenária, podemos estudar agora as demais características da Escrituras que são o resultado desta Inspiração, sendo a primeira delas a Inerrância. Conceito de Inerrância 1. ―Por inerrância das Escrituras entende-se que as Escrituras nos manuscritos originais não afirmam nada contrário aos fatos‖.23 2. ―A inerrância é o ponto de vista de que, quando todos os fatos forem conhecidos, demonstrarão que a Bíblia, nos seus autógrafos originais e corretamente interpretada, é inteiramente verdadeira, e nunca falsa, em tudo quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à ética, quer no tocante às ciências sociais, físicas ou biológicas.‖24 Provas da Inerrância Quando estudamos sobre a Inspiração das Escrituras nós vimos que todas as palavras escritas pelos escritores bíblicos foram dirigidas e selecionadas pelo Espírito Santo. Desta forma, a Revelação Especial foi guardada de erros humanos. É por isto que nós cremos que as Escrituras são Inerrantes. Deus por meio da Inspiração, não permitiu que os escritores cometessem algum erro, seja ele de natureza teológica, histórica, científica... Além disto, a favor da doutrina da inerrância bíblica podemos afirmar que sendo Deus um Ser que não mente, não usa de falsidade ou de engano (2Sm 7:28; Tt 1:2; Hb 6:18; Nm 23:19; Sl 119:160; Jo 14:6; 17:17), Suas palavras Inspiradas não podem conter inverdades. Ainda podemos acrescentar o fato de que a própria Bíblia afirma sua Inerrância em seus textos: ―Fora de dúvida, a Bíblia expressa possuir inerrância. De que outra maneira poderíamos explicar o fato de Cristo ter reivindicado para as própria letras que formam as palavras da Escritura um caráter permanente, irrevogável: ‗Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til passará jamais da lei, até que tudo de cumpra‖ (Mt 5:18)?... Em outras 23 Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 59. 24 P. D. Feinberg, Inerrância e infalibilidade da Bíblia, in Enciclopédia Histórico- teológica da Igreja Cristã. Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 180.
  • 15. 15 palavras, o Senhor estava afirmando que cada letra, ou cada palavra é importante, e que o Antigo Testamento seria cumprido exatamente como fora soletrado, letra por letra, palavra por palavra.‖25 E igualmente faz argumentos baseado em uma única palavra da Escritura (Mt 22:32; Mt 22:41-46; Jo 10:34), como também o fez Paulo (Gl 3:16); Esclarecimentos quanto ao Conceito de Inerrância Bíblica 1. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim empregar a linguagem comum da fala cotidiana. Isso diz respeito principalmente às descrições ―científicas‖ ou ―históricas‖ de fatos ou eventos. A Bíblia pode falar que o sol nasce e a chuva cai porque, pela ótica de quem fala, é exatamente isso que ocorre... Não nos deve incomodar afirmar que a Bíblia é absolutamente fidedigna em tudo o que diz e também que emprega linguagem corriqueira para descrever fenômenos naturais ou para fornecer números aproximados ou redondos quando apropriados às circunstâncias... As declarações bíblicas podem ser imprecisas e, ainda assim, totalmente verdadeiras. A inerrância diz respeito à fidedignidade, não ao grau de precisão com que os fatos são relatados.26 2. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim conter citações vagas ou livres. O jeito de uma pessoa citar as palavras de outra é um procedimento que, em grande parte, varia de cultura para cultura. Na cultura ocidental contemporânea, costumamos citar textualmente as palavras da pessoa quando as colocamos entre aspas (chamamos a isso citação direta). Mas quando empregamos a citação indireta (sem aspas), espera-se um relato preciso limitado apenas à essência da declaração...O grego escrito da época do Novo Testamento não possuía aspas ou sinais equivalentes de pontuação, e uma citação exata de outra pessoa precisava incluir apenas uma representação correta do conteúdo dito por ela.27 3. O que não foi ainda explicado não significa que seja inexplicável. É um erro presumir que, o que ainda não foi explicado, nunca o será um dia.28 4. Não se pode dizer que a Bíblia é falha quando na verdade a interpretação é que está incorreta.29 25 Charles C. Ryrie, A Inspiração da Bíblia, in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p 1647. 26 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 59, 60. 27 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 60. 28 Norman L. Geisler, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p 18. 29 Ibid, p 19.
  • 16. 16 5. Um relato parcial não é um relato falso. Ocasionalmente, a Bíblia expressa a mesma coisa de diferentes modos, ou pelo menos de diferentes pontos de vista, em tempos distintos. (Mt 16:16; Mc 8:29; Lc 9:20).30 6. Afirmar que a Bíblia erra quando existem diferenças entre narrações de um fato é um equívoco que não pode ser levado adiante. Pelo simples fato de divergirem entre si duas ou mais narrações do mesmo acontecimento, isso não significa que elas sejam mutuamente exclusivas (Mt 28:5; Jo 20:12).31 7. Na Bíblia encontramos diversos recursos literários. Portanto, não constitui erro o autor bíblico fazer uso de uma figura de linguagem (metáforas – 2Co 3:2-3; Tg 3:6/comparações – Mt 20:1; Tg 1:6/figuras poéticas – Jó 41:1/ sátira – Mt 19:24; 23:24).32 30 Ibid, 24. 31 Ibid, 25. 32 Ibid, p 27.
  • 17. 17 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS Introdução Em decorrência da doutrina da Inspiração das Escrituras segue-se que todo ser humano deve dar ouvidos a elas, pois se constituem Palavras de Deus. No tempo de hoje, onde muita gente parece ―escolher o que vão ou não obedecer‖ das ordenanças bíblicas, bem como ―decidem em quais doutrinas vão crer‖ simplesmente por vontade própria, um estudo sobre a Autoridade das Escrituras se faz altamente necessário. Conceito de Autoridade das Escrituras Primeiramente devemos observar alguns conceitos sobre Autoridade da Bíblia a fim de esclarecermos o assunto: 1. ―O princípio cristão da autoridade bíblica significa que Deus é o autor da Bíblia e deu-a para dirigir a crença e o comportamento do seu povo. Nossas idéias a respeito de Deus e da nossa conduta devem ser medidas, testadas e, onde necessário, corrigidas e ampliadas de acordo com a Bíblia, como padrão de referência. Autoridade é também o direito de ordenar. A Palavra escrita de Deus, em sua verdade e sabedoria, é o meio que Deus escolheu para exercer o seu governo sobre nós, e as Escrituras são o instrumento do senhorio de Cristo sobre a Igreja.‖33 2. ―A autoridade das Escrituras significa que todas as palavras nas Escrituras são palavras de Deus, de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia ou desobedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a ele.‖34 Há uma frase muito conhecida entre os cristão evangélicos que diz: ―A Bíblia é nossa única regra de fé e prática‖. Esta é uma frase por demais feliz, pois declara com precisão a única autoridade sobre a vida espiritual do ser humano. A Igreja do Senhor se afastou durante anos das Escrituras, e junto a elas acrescentou várias heresias e tradições humanas e mundanas. Em chegando a Reforma, alguns retornaram ao verdadeiro caminho deixado por Jesus e seus apóstolos. Desta forma, a Bíblia voltou a ser a única autoridade sobre suas vidas. Não é que os reformadores deram autoridade à Bíblia, eles simplesmente reconheceram sua autoridade por ser a Palavra divina a nós. ―Os reformadores 33 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 1453. 34 Wayne Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 44.
  • 18. 18 acentuaram o fato de que a Escritura tem autoridade inerente em virtude de sua inspiração pelo Espírito Santo. A Bíblia deve ser crida por causa de si mesma; É a Palavra inspirada de Deus, e portanto dirige-se ao homem com autoridade.‖35 Não precisa da aprovação humana para ter autoridade. Ela tem autoridade devido à sua fonte - Deus. Provas Bíblicas da Autoridade das Escrituras Podemos confirmar que a Bíblia tem autoridade divina por diversas maneiras: 1. Os profetas afirmavam: ―Assim diz o Senhor‖: Is 1:2; 3:16; Jr 51:1; Ez 28:1,11,20; 47:13; Am 1:9; Jl 2:12; Ob 1:1; Mq 4:6; Na 1:12; Hc 2:2; Sf 3:8; Ag 1:2; Zc 1:3; Ml 1:2; 2. Deus fala por ―intermédio‖ do profeta: 1Rs 14:18; 16:12,34; 2Rs 9:36; 14:25; Jr 37:2; Zc 7:7, 12; Mt 4:4; Mt 1:22; Mt 19:5; Mc 7:9-13; At 1:16; At 2:16-17; 3. O Novo Testamento afirma que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus: 2Pe 1:20, 21; 2Tm 3:16,17; 4. O Novo Testamento é reconhecido como Palavra divina: 2Pe 3:16; 1Co 14:37;36 O Espírito Santo e a Autoridade das Escrituras Apesar de a Bíblia afirmar sua própria autoridade, os seres humanos não aceitarão sua autoridade a menos que o Espírito Santo os convença disto. Só Ele nos abrirá os olhos espirituais para reconhecer que as Palavras da Bíblia são ―o próprio Deus falando‖: ―Nossa convicção definitiva de que as palavras da Bíblia são palavras divinas vem apenas quando o Espírito Santo fala ao nosso coração nas palavras da Bíblia e por intermédio delas, dando-nos a segurança íntima de que essas são as palavras de nosso Criador falando conosco.‖37 Veja o seguinte texto (1Co 2:13,14). Durante a história da Igreja algumas pessoas quiseram comprovar a autoridade de Bíblia apelando para argumentos diferentes daqueles que ela mesma oferece a respeito de si. Isto é um trabalho inútil, apesar de bem intencionado. Observe a explicação abaixo: ―As palavras das Escrituras são autocorroborantes. Elas não podem ser ―comprovadas‖ como palavras de Deus apelando-se a alguma autoridade superior. Pois caso se apelasse a uma autoridade superior (por exemplo, exatidão histórica ou coerência lógica) como recurso para provar que a Bíblia é 35 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 45. 36 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 44-47. 37 Wayne Grudem, Teologia Sistemática, p 48.
  • 19. 19 a Palavra de Deus, então a própria Bíblia deixaria de ser a nossa autoridade mais alta ou absoluta e ficaria subordinada em matéria de autoridade àquilo a que apelássemos a fim de provar que ela é a Palavra de Deus. Se no final das contas apelamos à razão humana, ou à lógica, ou à exatidão histórica, ou à verdade científica como autoridade pela qual se demonstra que as Escrituras são as palavras de Deus, então estamos pressupondo que a coisa para a qual apelamos é uma autoridade superior às palavras de Deus e também mais verdadeira ou mais confiável‖.38 Base Confessional (Confissão de Fé de Westminster) CAPÍTULO I DA ESCRITURA SAGRADA Seção III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos. Seção IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus. Seção V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interior do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nosso coração. Seção X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura. 38 Ibid, p 49.
  • 20. 20 INDISPENSABILIDADE DAS ESCRITURAS Introdução Como temos visto, a doutrina da Inspiração traz como conseqüências várias outras doutrinas a cerca das Escrituras. Vimos assim a doutrina da Inerrância, Autoridade, e agora a doutrina da Indispensabilidade. O raciocínio é o seguinte: Se a Bíblia é Inspirada, como poderia conhecer as verdades de Deus a não ser nela? Qual fonte seria confiável tanto quanto as Escrituras Inspiradas? Por isto elas se tornam indispensáveis. Por isto mesmo Deus usou do processo da Inspiração, para evitar erros quanto às verdades da Sua Revelação. Conceito de Indispensabilidade: ―Dizer que as Escrituras são necessárias significa dizer que a Bíblia é necessária para conhecer o evangelho, para conservar a vida espiritual e para conhecer a vontade de Deus, mas não que seja necessária para saber que Deus existe ou para saber algo sobre o caráter e sobre as leis morais de Deus.‖39 Provas Bíblicas da Indispensabilidade A doutrina da indispensabilidade conceituada acima pelo teólogo Wayne Grudem, longe de ser uma doutrina humana, procede da revelação bíblica. Vejamos como este teólogo prova biblicamente a veracidade deste assunto:  As Escrituras são necessárias para se conhecer o evangelho (Rm 10:13-17);  As Escrituras são necessárias para sustentar a fé espiritual (Mt 4:4; Dt 32:47; 1Pe 2:2);  As Escrituras são necessárias para o conhecimento seguro da vontade de Deus: E ainda: ―... Todas as pessoas nascidas na terra têm algum conhecimento da vontade de Deus por intermédio da sua consciência. Mas esse conhecimento é muitas vezes indistinto e não pode proporcionar certeza. Na verdade, se não existisse a Palavra escrita de Deus, não poderíamos alcançar a certeza da vontade de Deus por nenhum outro meio, fosse consciência, conselhos de outras pessoas, testemunho íntimo do Espírito Santo, mudanças das circunstâncias ou o uso da razão e do bom senso santificados. Todos esses meios podem proporcionar uma 39 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 77.
  • 21. 21 aproximação da vontade de Deus de modos mais ou menos confiáveis, mas por meio deles seria simplesmente impossível obter a certeza acerca da vontade de Deus, pelo menos num mundo caído onde o pecado distorce nossa percepção do certo e do errado, introduz raciocínios falhos nos nossos processos mentais e nos faz suprimir de tempos em tempos o testemunho da nossa consciência (cf. Jr 17.9; Rm 2.14-15; 1Co 8.10; Hb 5.14; 10.22; também 1Tm 4.2; Tt 1.15).‖40 Ainda devemos compreender que a Revelação Geral se tornara ineficiente quanto à sua função de manifestar a glória de Deus. E mesmo que ela ainda fosse perfeita não poderia salvar o homem de seu estado de pecado. Por isto as Escrituras são indispensáveis para o homem. Base Confessional:  Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA): Seção I – ―Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.‖ Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖ 40 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. p 79, 80.
  • 22. 22 A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS Introdução  Quando houve a Reforma Protestante nós demos um salto importantíssimo para fora das heresias que existiam dentro da Igreja. Os reformadores gritaram sem hesitar ―Sola Scriptura‖ (somente a Escritura)! E foram muito criticados por isto.  O tempo foi passando, e ao invés de os protestantes terem continuado unidos nesta verdade, começaram a ingressar em um novo tipo de heresia (que na verdade não é novo, pois já ocorreu na história da igreja em anos anteriores) – a heresia das novas revelações.  Hoje nós vemos tantos absurdos ocorrerem por causa desta ―doutrina‖ que tornou-se até motivo de piada o que profetizam muitas vezes nas reuniões deles.  Apesar de triste, esta doutrina ainda se faz muito perigosa para nós reformados devido à facilidade da aceitação da doutrina por parte dos membros de nossas igrejas.  É por isto que se torna indispensável o estudo da Suficiência da Escritura a fim de combater as ilusões destas heresias na vida de nossas ovelhas.  Em primeiro lugar devemos apresentar alguns conceitos que demonstrem o que é a Suficiência das Escrituras segundo a teologia. E em seguida tentar continuar o nosso estudo provando a doutrina biblicamente, observando a base confessional, e por último fazendo aplicações práticas desta verdade. Conceito de Suficiência das Escrituras Prestemos atenção nestes três conceitos de Suficiência das Escrituras a fim firmar em nossa mente a idéia que eles querem passar a respeito do assunto: 1. ―Os reformadores sustentaram a perfeição ou a suficiência da Escritura. Isto não significa que tudo que foi falado ou escrito pelos profetas, por Cristo, e pelos apóstolos está contido na Escritura, mas simplesmente que a palavra escrita é suficiente para as necessidades morais e espirituais dos indivíduos e
  • 23. 23 da Igreja. Esta posição envolve a negação de que haja ao lado da Escritura uma palavra de Deus não escrita de autoridade igual, ou até mesmo superior.‖41 2. ―Dizer que as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer.‖42 3. ―Por completitude das Escrituras se entende que elas contêm todas as revelações existentes de Deus, designadas a serem uma regra de fé e prática para a Igreja... a Bíblia contém todas as revelações de Deus existentes, as quais ele designou para serem a regra de fé e prática para sua Igreja; de modo que nada pode ser legitimamente imposto à consciência dos homens como verdade ou dever que não esteja diretamente ensinado ou obrigatoriamente implicado nas Escrituras Sagradas.‖43 Base Bíblica Para que possamos perceber a legitimidade da doutrina da Suficiência das Escrituras vamos ver o que diz suas páginas a este respeito:  As Escrituras ordenam a nós que ―Nada seja acrescentado a ela‖: (Dt 4:2; 12:32; Pv 30:5, 6; Ap 22:18-19);  Há textos que afirmam que a Bíblia é suficiente para o povo de Deus: (2Tm 3:16, 17; Gl 1:8; Is 8:20);  Há textos que provam que ela é suficiente para levar a salvação ao pecador perdido (Lc 16:27-31; 2Tm 3:15; Rm 10:14-17);  O testemunho bíblico mostra por diversas vezes que Jesus e os apóstolos utilizavam a Bíblia para fundamentar várias conclusões teológicas, e fundamentar suas pregações: (Paulo - At 17:2-3; At 18:28; At 26:22; Jesus - Mt 4:4, 7, 10; Mt 15:1-9; Mt 16:4; Mt 19:4, 5; Mt 22:23-33; Mt 22:34-40; Mt 22:41-46; Lc 10:25-26; Lc 24:27; Lc 24:44-46; Pedro – At 2:16-21, 25-28, 34,35; At 3:11-26); 41 Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 47. 42 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, p 86. 43 Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001, p 136, 137.
  • 24. 24  Nem Jesus, nem os profetas do Antigo Testamento, e nem os apóstolos, ensinaram que os crentes devem buscar a vontade de Deus, ou conhecer a Deus buscando informações em outras fontes que não as Escrituras. Os crentes são encorajados a ler as Escrituras e encontrar nelas o que precisam para sua vida espiritual (1Co 10:1-13; Rm 15:4; 2Tm 3:15-17; Gl 1:6-9) Base Confessional A Confissão de Fé de Westminster Capítulo I, Seção VI, fala sobre a Suficiência das Escrituras nos seguintes termos: ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖ (2Tm. 3:15-17; Gl. 1:8; 2Ts. 2:2; Jo 6:45; 1Cor. 2:9, 10, l2; 1Cor. 11:13-14) Aplicações Práticas 1. Sobre a Confissão de Fé de Westminster capítulo I, Seção VI falando acerca da Suficiência da Escritura: ―Duas questões estão por detrás desta afirmação: primeiro, a posição de Roma em reclamar a autoridade da Igreja em matéria de fé e vida; segundo, a tendência dos anabatistas de citar novas revelações do Espírito como algo normativo da fé e comportamento cristãos. A implicação desta afirmação para o fenômeno carismático moderno dificilmente poderia ser mais relevante. Reivindicações de revelações diretas e imediatas do Espírito não têm lugar no pensamento dos teólogos de Westminster.‖44 44 Derek Thomas, A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo, Os Puritanos, 1998, p 20.
  • 25. 25 2. Não se deve esperar uma nova revelação: ―Porque, enquanto que o Velho Testamento prediz a nova dispensação, o Novo Testamento não faz referência a alguma revelação adicional a ser esperada antes do segundo advento de Cristo: eles sempre se referem à ‗vinda‘ ou ‗aparecimento‘ de Cristo como o próximo evento supernatural a ser antecipado.‖45 3. O que dizer das predições que se realizam? ―Nosso parâmetro e base de doutrina não é a experiência. É bom lembrar, por exemplo, o que nos adverte Deuteronômio 13:1-5... Ou seja, o milagre e a predição podem até acontecer, mas se a doutrina não está de acordo com a Palavra de Deus não serve. Lembre-se que Deus nos prova!‖46 4. E quanto a busca por direção divina? A doutrina da Suficiência não nos limita demais? ―A verdade da suficiência das Escrituras é de grande importância para nossa vida cristã, pois nos permite concentrar a busca das palavras de Deus para nós somente na Bíblia, poupando-nos a infindável tarefa de vasculhar todos os textos de cristãos ao longo da história, ou todos os ensinamentos da igreja, ou todos os subjetivos sentimentos e impressões que nos vêm à mente no dia-a-dia, para descobrir o que Deus exige de nós.‖47 5. É dever cristão estudar a Bíblia para conhecer o que Deus nos revelou (Dt 29:29) ao invés de procurar noutras fontes de revelação: ―A suficiência das Escrituras deve-nos incentivar a tentar descobrir aquilo que Deus quer que pensemos (sobre uma questão doutrinária específica) e façamos (numa dada situação). Devemos nos convencer de que tudo o que Deus quer nos dizer sobre essa questão se encontra nas Escrituras.‖48 45 A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo, Os Puritanos. p 65. 46 Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje? São Paulo, Os Puritanos, 1998, p 49, 50. 47 Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 87. 48 Ibid, p 89.
  • 26. 26 6. Tudo que Deus requer de nós está nas Escrituras, portanto, nenhuma suposta revelação pode nos obrigar a consciência a obedecer: ―Deus nada exige de nós que não esteja determinado explícita ou implicitamente nas Escrituras. Isso nos lembra que nossa busca da vontade de Deus deve-se concentrar nas Escrituras, ou seja, não devemos buscar orientação pelas orações que peçam alteração das circunstâncias ou dos sentimentos, ou ainda orientação direta do Espírito Santo fora das Escrituras. Também significa que se alguém alega ter recebido uma mensagem de Deus que nos diga o que devemos fazer, jamais precisamos supor que é pecado desobedecer a essa mensagem a menos que possa ser confirmada pela aplicação da própria Bíblia à nossa situação.‖49 7. O que dizer do direcionamento divino no interior do crente? Deus não nos direciona desta forma? ―Deus pode usar e de fato usa impressões subjetivas da sua vontade para nos lembrar e encorajar, e muitas vezes encaminha os nossos pensamentos na direção correta nas muitas decisões rápidas que tomamos ao logo do dia – e são as próprias Escrituras que nos falam sobre esses fatores subjetivos na orientação (ver At 16:6-7; Rm 8:9, 14, 16; Gl 5:16-18, 25). Todavia, esses versículos sobre a suficiência das Escrituras nos ensinam que tais impressões subjetivas só podem nos lembrar alguns parâmetros morais que já estão nas Escrituras, ou trazer à mente fatos que (pelo menos em teoria) poderíamos ter conhecido ou que até já conhecíamos; jamais poderão acrescentar alguma coisa aos mandamentos das Escrituras, nem substituir a Bíblia na determinação da vontade de Deus, tampouco se igualar às Escrituras em termos de autoridade na nossa vida.‖50 8. Deus usou os profetas e os apóstolos para entregar a sua revelação ao seu povo. Não existindo mais o ofício profético, e tendo morrido os apóstolos, não existe mais revelações que possamos afirmar que são ―a Palavra de Deus‖ para nossa vida. 9. Muitos que receberam uma ―suposta nova revelação‖ do Espírito acabaram por encaminhar-se em heresias absurdas. Vejamos os seguintes exemplos: 49 Ibid, p 92. 50 Ibid, p 93.
  • 27. 27 ―Benny Himm começou a ensinar que a trindade não eram três pessoas distintas, e sim nove, porque recebeu isto por ―revelação‖. Joseph Smith deixou sua Igreja e negou toda a sua fé iniciando o mormonismo, também por uma revelação. O adventismo se envolveu num emaranhado de confusão doutrinária por aceitar as revelações de Hellen White como inspiradas.‖51 10. Devem-se ter critérios quantos às experiências pessoais. Elas devem servir para o bem, e não para o mal. Conquanto possa ser geradora de um sentimento grandioso de bem estar, ou alegria, ou edificação, ou paz... Ainda assim a experiência deve ser avaliada segundo as doutrinas da Bíblia. O único lugar onde temos a certeza de termos a Palavra de Deus Inerrante são nas Escrituras, e por isto, tudo deve ser avaliado por meio desta palavra confiável. Tudo o mais é subjugado por sua Autoridade: ―As pessoas querem formar suas convicções a partir das experiências que tiveram. Não estou negando que coisas extraordinárias acontecem, mas não posso, de sã consciência, diante de Deus, firmar minha doutrina em experiências, nem mesmo nas minhas próprias, quanto mais nas dos outros‖.52 11. As ―novas revelações‖ podem se tornar um laço perigoso na vida espiritual do cristão: ―Outros há que falam em revelações de um modo exagerado. Para eles tudo é entendido da seguinte maneira: ―Deus me revela‖, ―eu não fui revelado‖, ―estou aguardando uma revelação‖, etc. São pessoas que acham que para tudo que se vai fazer ou deixar de fazer é preciso ‗ser revelado‘.‖53 12. Quem vive à procura de pessoas que lhe revelem algo de Deus para ela, na verdade não entende que se torna dependente de uma outra pessoa, e não da Palavra Sagrada. É como se Deus só se comunicasse por meio daquela pessoa (um tipo de mediador): ―Há indivíduos fracos na fé que ficam à procura de pessoas que se dizem estar recebendo revelações e fluídos divinos... Alguns partem 51 Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje?, p 27. 52 Ibid, p 29. 53 Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII. Manhumirim, jan/96, p 13.
  • 28. 28 para as consultas espirituais, o que mais se parece com agourice, consulta a videntes e a ciganos‖.54 13. As ―novas revelações‖ na verdade podem ser simplesmente fruto de uma mente problemática ou ingênua: ―Mas, outras experiências tidas como revelações extraordinárias, que não passam de sonhos ou alucinações, não produzem benefícios espirituais e nem podem auxiliar na santidade cristã, pois geram confusões teológicas e doutrinárias.‖55 14. Ainda que Deus se comunique extrabíblia, não seria uma ―nova revelação‖ acrescentando ou modificando o que já está escrito canonicamente.Devemos nos lembrar que este modo de revelação acontecia com os profetas e apóstolos, e não há garantia de que aconteça conosco. Além disto, ainda que aconteça com alguém hoje, não será o modo ordinário de comunicação divina a nós. 15. Podemos ver quatro possibilidades das origens das ―novas revelações‖ recebidas por pessoas da igreja:  Mentira – Há os que mentem de maneira consciente e deliberada, dizendo que ―o Senhor revelou‖, quando sabem que nada aconteceu. Jeremias, o profeta, já expressou a reprovação divina aos que procedem assim (Jr 23:25-26);  Problemas psicológicos – Há também os que, por falta de saúde emocional e mental, têm experiências místicas, que são comunicadas como sendo de origem divina. O pior é que quase sempre estas pessoas, apesar dos problemas psicológicos, conseguem arrebanhar muitos seguidores;  Fraude satânica – O diabo, que pode disfarçar-se até de anjo de luz (2Co 11:14) engana os desavisados, dando-lhes revelações, que têm aparência boa, mas conteúdo maligno.56  Deus – Deus pode até se comunicar com um filho dEle hoje em dia de modo extrabíblico! Porém, devemos levar sempre em consideração: 1- Que este não é o modo comum de Deus se comunicar conosco nos dias de hoje; 54 Ibid, p 14. 55 Ibid, p 15. 56 Anderson Sathler, Revelações in Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII. Manhumirim, jan/96, p 29.
  • 29. 29 2- Que não é prometido pelas Escrituras que este tipo de experiência vá acontecer conosco; 3- Que a comunicação direta do Senhor é totalmente dispensável para nossa vida em comunhão com Deus; 4- Que este tipo de comunicação nunca contrariará as verdades já reveladas na Bíblia; 5- Que este tipo de comunicação com Deus não é incentivada por nenhum escritor bíblico; 6- Que este tipo de comunicação não nos dá certeza exata da vontade de Deus (ou do que Ele nos comunicou por meio desta comunicação direta. A Bíblia é inspirada, mas estas comunicações?); E nem mesmo nos dá certeza de que seja realmente Deus que está se comunicando conosco. Conclusão Uma verdade deve ser aprendida por todos os cristãos: A Revelação Especial de Deus está encerrada nas Escrituras, não porque os homens, ou a Igreja, assim o determina arbitrariamente, mas sim porque elas mesmas confirmam isto.
  • 30. 30 CÂNON DAS ESCRITURAS Introdução Temos estudado que Deus resolveu dar-se a conhecer aos homens por meio da revelação especial, e que esta se encontra principalmente nas Escritas Sagradas, onde ficaram registradas. Contudo, não adiantaria entregar aos homens a Sua revelação especial, se no final das contas eles não pudessem saber quais são os registros inspirados e quais não são! Por isto Deus mesmo providencia, por meio dos homens, o ajuntamento destes escritos inspirados em uma só coleção, a fim de que todos saibam quais os livros que possui a revelação inspirada do Senhor. Conceituação da expressão “cânon bíblico” Às vezes muitos cristãos falam do cânon, mas não entendem muito bem o que significa. Para que possamos compreender bem o assunto do Cânon das Escrituras é preciso entender primeiro o que significa esta expressão, para depois prosseguirmos com as demais questões relacionadas com este assunto. Abaixo nós damos três explicações referentes à palavra cânon a fim esclarecer melhor o assunto do qual estamos falando: 1. ―A palavra ―cânon‖ deriva do grego Kanon, que significa ―cana‖, portanto uma vara ou barra, que, por serem utilizadas em medições, passaram a significar metaforicamente um padrão‖.57 2. ―O vocábulo grego kanõn, que é de origem semítica (cf o hebraico qãneh, em Ez 40:3, etc.), originalmente significava instrumento de medir, para mais tarde ser empregado no sentido metafórico de ‗regra de ação‘ semelhantemente... Não foi senão nos meados do quarto século de nossa era que o termo parece ter sido aplicado à Bíblia. No uso grego, a palavra ‗cânon‘ parece ter primeiramente denotado apenas a lista de escritos sagrados, mas no latim, também se tornou nome para as próprias Escrituras, o que indicava que as Escrituras são a regra de ação investida com autoridade divina‖.58 57 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 427. 58 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 246, 247.
  • 31. 31 3. ―Kanõn também significa regra ou padrão: daí, um sentido secundário da palavra ‗cânon‘ é a lista de livros que a Igreja reconhece como Escrituras inspiradas, a norma da fé e da prática‖.59 Como podemos ver nestas explicações acima, o cânon é a coleção de livros que a Igreja reconhece como revelação inspirada de Deus ao seu povo. E, portanto, quando falamos em canonização de livros escritos, isto significa ―ser oficialmente reconhecido como guia ou regra autorizada em matéria de fé ou de prática.‖60 Estes livros canonizados portanto, são completamente diferentes dos demais livros que os homens podem escrever. A atitude da Igreja na formação do cânon Bom, que Deus entregou uma revelação e fez homens escreveram de modo inspirado nós já sabemos. Mas como foi que se deu o processo de canonização. Ou seja, como foram separados os livros inspirados daqueles que não procediam de inspiração divina? Em primeiro lugar devemos entender que não foi a Igreja que escolheu os livros que seriam inspirados ou não. A igreja não poderia ―determinar‖ a inspiração de um livro: ―...nem a Igreja nem os concílios eclesiásticos jamais concederam canonicidade ou autoridade a qualquer livro; o livro era autêntico ou não no momento em que foi escrito. A Igreja ou seus concílios reconheceram certos livros como Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos foram colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia.‖61 E ainda: ―A Igreja não determinou o cânon; reconheceu o cânon. No sentido mais amplo, nenhum concílio eclesiástico poderia criar um cânon, se a inspiração é a qualidade essencial da canonicidade, porque nenhum grupo ou concílio poderia insuflar inspiração em obras já existentes. Tudo quanto os concílios podiam fazer era dar a sua opinião acerca dos livros que eram canônicos e dos que o não eram e, depois, deixar que a história justificasse ou invalidasse o seu veredito.‖62 59 J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 255. 60 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83. 61 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p 1651. 62 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 432.
  • 32. 32 Observemos também: ―Há diferença entre a canonicidade de um livro da Bíblia e sua autoridade. Um livro deve conter autoridade divina, por causa de sua inspiração divina, antes de ser qualificado para canonização. O livro não recebeu autoridade porque a Igreja decidiu incluí-lo na lista sagrada, mas porque a mesma reconheceu os livros que deram evidência de conter autoridade divina em virtude de sua inspiração divina.‖63 E mesmo a respeito daqueles livros do Novo Testamento que ficaram algum tempo sob disputa entre as igrejas, no sentido de reconhecerem sua inspiração, no final, não foi a Igreja, ou concílio, ou qualquer pessoa, que impôs neles a autoridade como revelação divina: ―O cânon, portanto, não é produto do critério arbitrário de qualquer pessoa, nem foi determinado por voto conciliar. Resultou do emprego dos vários escritos que provavam o seu mérito e a sua unidade pelo seu dinamismo interno. Alguns foram reconhecidos mais lentamente do que outros devido ao seu pouco tamanho, ou devido ao caráter remoto ou particular do seu destino ou à anonimidade de autoria, ou devido ainda a aparente falta de aplicabilidade a necessidades eclesiásticas imediatas. Nenhum destes fatores milita contra a inspiração de qualquer destes livros ou contra o seu direito de ter um lugar na palavra autorizada de Deus.‖64 Portanto, a Igreja simplesmente, foi guiada pelo Espírito em todo este processo. Ou dizendo de outra forma, não foi trabalho do Espírito somente capacitar os escritores a escreverem um material inspirado, mas foi seu trabalho também ―guiar os homens no reconhecimento dos escritos inspirados.‖65 Caso contrário, como poderíamos ter a convicção de que estes livros realmente são os que Deus inspirou? Assim como é seguro afirmar que os livros são inspirados, podemos confiar que o Espírito da verdade guiou os servos de Deus neste trabalho tão importante. Ora, quem mais estava interessado que tivéssemos os livros genuinamente inspirados era o próprio Deus: ―Os livros do Antigo Testamento, tal como aqueles do Novo, foram inspirados por Deus. Mas o Espírito Santo também operou nos corações do povo de Deus, a tal ponto que vieram a aceitar esses livros como a Palavra de Deus e submeteram-se à sua autoridade divina. A ‗providência singular‘ de Deus se estendeu à origem dos livros separados, como também à sua coleção... Quando 63 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 83. 64 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 440. 65 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 84.
  • 33. 33 Deus pôs o Cânon em existência, usou homens como Seus instrumentos; ações humanas e reflexões humanas realizaram suas funções no processo inteiro.‖66 Resumindo, o processo de canonização não foi realizado por meio da autoridade da Igreja determinando quais livros eram inspirados, pelo contrário, foi realizado por meio da ação do Espírito Santo guiando a Igreja a reconhecer os livros que possuíam autoridade sobre ela. Regras utilizadas para o estabelecimento do cânon Como todo processo de escolhas, a Igreja utilizou alguns ―requisitos‖ ou ―regras‖ a fim de comprovar a inspiração dos livros escritos. Dentre estes testes utilizados podemos citar os seguintes: 1. Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento, isto significava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do Novo Testamento, o livro deveria ter sido escrito ou influenciado por um apóstolo para ser reconhecido. 2. Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspirado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro por comunicar a revelação de Deus. 3. O veredicto das igrejas quanto à natureza canônica dos livros era importante. Na verdade, houve uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou questionados por uma minoria, nenhum livro cuja autenticidade foi questionada por um número grande de igrejas veio a ser aceito posteriormente como parte do cânon.67 Mais não foram somente estas regras que auxiliaram no processo de formação do cânon. Há igualmente outras questões que ajudaram neste trabalho importante da Igreja. Além destas ―regras‖ a Igreja pôde ainda utilizar as seguintes provas para explicar o reconhecimento dos livros autorizados por Deus (inspirados), e conseqüentemente fazer a delimitação canônica: O testemunho dos judeus, o testemunho de Jesus, o testemunho dos apóstolos. Vejamos abaixo: 66 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 247. 67 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p 1651.
  • 34. 34  ―Referências nos escritos de Flávio Josefo (95 A.D.) e em 2Esdras 14 (100 A.D.) indicam a extensão do cânon do Antigo Testamento como os 39 livros que hoje aceitamos. A discussão do chamado Sínodo de Jamnia (70-100 A.D.) parece ter partido desse cânon. Nosso Senhor delimitou a extensão dos livros canônicos do Antigo Testamento quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os profetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc 11:51). O relato da morte de Abel está, é claro, em Gênesis; o de Zacarias se acha em 2Crônicas 24:20-21, que é o último livro na disposição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Para nós, é como se Jesus tivesse dito: ―Sua culpa está registrada e toda a Bíblia – de Gênesis a Malaquias‖. Ele não incluiu qualquer dos livros apócrifos que já existiam em Seu tempo e que continham relatos das mortes de outros mártires israelitas.‖68  ―Os doze livros apócrifos do Antigo Testamento jamais foram aceitos pelos judeus ou por nosso Senhor no mesmo nível de autoridade dos livros canônicos. Eles eram respeitados, mas não foram considerados como Escritura.‖69  ―Sobre a autoridade do Novo Testamento, podemos assumir que durante o ministério do Senhor Jesus, e quando os livros do Novo Testamento estavam surgindo, o Antigo Testamento já existia como uma coleção completa, à qual era atribuída autoridade divina. O Antigo Testamento é repetidas vezes referido como ‗as escrituras‘ (Mt 26:54; Jo 5:39; At 17:2; etc.), indicando que o Antigo Testamento era uma coleção bem conhecida de escritos, formando uma unidade. Isto se aplica igualmente à expressão ‗a Escritura‘ que algumas vezes denota uma passagem definida (Lc 4:21; Jo 13:18, etc) mas que mais de uma vez aponta para o Antigo Testamento como um todo (Jo 2:22; At 8:32; etc.). Dificilmente se torna necessário provar que era atribuída autoridade divina a ‗as Escrituras‘ ou a ‗a Escritura‘ (vd Mt 1:22; 5:18; Jo 10:35; At 1:16, etc.).‖70 68 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p 1651. 69 Charles C. Ryrie, “Como a Bíblia chegou até nós” in A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994, p 1652. 70 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 251.
  • 35. 35 Oficialização do cânon Em relação ao cânon do Antigo Testamento nós não precisamos nos deter muito, pois que, tanto Jesus, quanto os apóstolos, não apoiavam livros diferentes daqueles que hoje possuímos no cânon do Antigo Testamento. E, igualmente, os reformadores se apegaram aos mesmos livros que eles: ―Por volta do século IV surgiu uma ruptura entre o costume popular nas igrejas do Ocidente e a opinião dos estudiosos como Jerônimo. As igrejas empregavam os livros apócrifos na versão do Antigo Testamento, tomados dos códices da Septuaginta. Mesmo o concílio de Hipona em 393 d.C., influenciado por Agostinho, mais tarde bispo daquela cidade do norte da África, não optou por fazer distinção entre escritos canônicos e eclesiásticos (ou apócrifos) do Antigo Testamento. Por outro lado, as igrejas ocidentais da Ásia Menor, Palestina e Egito tendiam a manter o cânon judaico mais limitado. Foi por esse cânon mais limitado que optaram os reformadores no século XVI, enquanto a Igreja Católica Romana endossou a concepção mais abrangente do cânon no Concílio de Trento em 1546.‖71 E também: ― O fato principal é que, seguindo Cristo e os apóstolos, a Igreja, desde o próprio início, tem aceito como canônicos os mesmos trinta e nove livros do Antigo Testamento contidos em nossa enumeração... Os reformadores reverteram ao Cânon hebraico, ou, para expressar melhor a verdade, ao Cânon de Cristo e dos apóstolos.‖72 No que diz respeito ao cânon do Novo Testamento, nós vemos que os livros foram sendo escritos, e, depois, colecionados como material reconhecidamente inspirado. Contudo, somente depois de alguns séculos é que podemos ver uma definição oficial dos livros canônicos: ―O Terceiro Concílio de Cartago, em 397, emitiu um decreto semelhante ao do Sínodo de Laodicéia, e apresentou uma lista de escritos idêntica à dos 27 livros do atual Novo Testamento.‖73 71 William S. Lasor, David A. Hubbard, Frederic W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 657. 72 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 253, 254. 73 Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984, p 437.
  • 36. 36 E ainda: ―O quarto século viu a fixação do Cânon dentro dos limites a que estamos acostumados, tanto no setor Ocidental como no Oriental da Cristandade. No Oriente o ponto definitivo é a Trigésima nona Carta Pascal de Atanásio, em 367 D.C. Aqui encontramos pela primeira vez um Novo Testamento de limites exatos, conforme nós o conhecemos... No Ocidente o Cânon foi fixado por decisão de concílio, em Cartago, no ano de 397 D.C.‖74 Base Confessional Voltemo-nos agora pra o que declara a Confissão de Fé de Westminster a respeito da questão do cânon. Em seu Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA, ela declara o seguinte: Seção II. ―Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática‖: O VELHO TESTAMENTO: (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó,Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias; O NOVO TESTAMENTO: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas, Apocalipse. Seção III - ―Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade da Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos.‖ Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas 74 J. N. Birdsall, “Cânon do Novo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 259.
  • 37. 37 revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖ Seção VIII – ―O Velho Testamento em Hebraico (língua original do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das escrituras.‖ O cânon da Igreja Católica Apostólica Romana A Igreja Católica Apostólica Romana possui um cânon diferente dos protestantes. Ela aceita como canônicos alguns livros judeus, os quais são considerados pelos protestantes como não inspirados. Abaixo citamos uma explicação acerca dos textos adicionais da Igreja Católica: ―... a Igreja Católica Romana finalmente decretou, em 1546, no concílio de Trento, que os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2 Macabeus, também fossem aceitos como canônicos. Nesse ponto deve ser notado que a Igreja Católica Romana também aceita como canônicas as adições aos livros de Ester, Baruque (‗a carta de Jeremias‘), e Daniel (‗a oração de Azarias‘, ‗o cântico dos três hebreus‘, ‗a história de Susana‘ e ‗ Bel e o Dragão‖). Na edição oficial da Vulgata Latina, que havia sido decidida pelo concílio de Trento, mas que não foi publicada senão em 1592, os livros de 1 e 2 Esdras, e a Oração de Manassés, também foram inseridos, mas após o Novo Testamento.‖75 75 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.
  • 38. 38 Todos estes textos não inspirados os protestantes rejeitam que sejam aceitos como Palavra de Deus. E, ―aquilo que foi incluído na Vulgata, em adição aos livros do Cânon hebraico, é o que os Protestantes usualmente chamam de ‗livros apócrifos‘.‖76 76 N. H. Ridderbos, “Cânon do Antigo Testamento” in O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 254.
  • 39. 39 ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS Introdução Tendo aprendido que Deus revelou sua vontade ao homem por meio da Revelação Especial, e garantiu o registro fiel desta revelação por meio da Inspiração, precisamos entender agora que de nada adiantaria a Revelação e a Inspiração se não houvesse a obra de Iluminação. A obra de Iluminação fecha o ciclo da comunicação de Deus com o homem. Ou seja, a obra de Revelação só consegue atingir seu alvo quando ocorre a obra de Iluminação no coração do homem. Ela depende inteiramente da obra de Iluminação. Conceito de Iluminação 1. ―Iluminação é a atuação de Deus na mente e no coração do homem, através do Espírito Santo, capacitando-o para compreender o ensino da Bíblia Sagrada.‖ 77 2. ―A doutrina da iluminação relaciona-se com aquele ministério do Espírito Santo que ajuda o crente a compreender a verdade das Escrituras... a iluminação refere-se ao ministério do Espírito mediante o qual o significado das Escrituras é tornado claro ao crente. O homem não-regenerado não pode experimentar este ministério de iluminação, porque está cego diante da verdade de Deus (1Co2:14)... o Espírito é a conexão direta entre a mente de Deus, conforme revelada nas Escrituras, e a mente do crente que procura entender as Escrituras.‖78 3. ―A obra do Espírito Santo em comunicar essa compreensão, é chamada de ―iluminação‖ ou esclarecimento. Não é uma nova revelação, mas uma obra dentro de nós, que nos capacita a compreender e a afirmar a revelação da Bíblia, quando é lida, pregada e ensinada. O pecado obscurece nossa mente e vontade, de modo que perdemos e resistimos à força das Escrituras. O Espírito, contudo, abre e desanuvia nossa mente e põe o nosso coração em sintonia, de modo a podermos entender aquilo que Deus tem revelado (2Co 3:14-16; 4.6; Ef 1:17-18; 3:18-19). Iluminação é a aplicação da verdade 77 Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste, SOCEP, 2001, p 24. 78 C. C. Ryrie, “Iluminação” in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Walter A. Elwell, editor. São Paulo, Vida Nova, 2009, p 305.
  • 40. 40 revelada de Deus ao nosso coração, de modo que nós passamos a entender como realidade para nós o que o texto sagrado revela.‖79 Quando falamos em Iluminação do Espírito para compreensão das Escrituras não estamos afirmando que o crente ―entenderá a mensagem da Escritura sem que necessite interpretar os textos‖. A Iluminação é absolutamente necessária para todos os crentes entenderem a Bíblia - a Revelação de Deus. ―A iluminação, contudo, não dispensa o esforço sério e piedoso para se compreender corretamente a palavra de Deus. A Bíblia Sagrada deve ser lida e interpretada.‖80 Em outras palavras, para compreendermos as verdades bíblicas necessitamos tanto de interpretação humana quanto de Iluminação divina. Base Bíblica da doutrina da Iluminação A doutrina da Iluminação pode ser facilmente encontrada nos seguintes textos bíblicos:  (Ef 1:17-19) Paulo deseja que os efésios entendam verdades espirituais. E para isto, deveriam ser iluminados em seus corações;  (1Co 2:14) Paulo diz que o homem natural (o descrente) não aceita as verdades vindas do Espírito Santo porque não entende. Diferente do homem regenerado, que tem discernimento espiritual. Base Confessional:  Confissão de Fé de Westminster (Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA): Seção VI – ―Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas.‖ 79 Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 1348. 80 Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste, SOCEP, 2001, p 25.
  • 41. 41 A INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS Introdução É verdade que toda denominação possui o seu conjunto de doutrinas, e às vezes ocorrem diferenças grandes entre umas e outras. Mas se a Bíblia é uma só, porque tantas diferenças? A razão que traz à tona tantas diferenças de doutrinas é a interpretação dos textos da Escritura. Mas este fato não é novo, já desde os tempos de Jesus havia diferentes interpretações das Escrituras (Lc 10:26; Mt 22:23; 5:21, 27, 33, 38, 43; At 23:6-8). Hoje em dia temos a mesma situação, onde os grupos religiosos, ainda que todos igualmente evangélicos, se dividem devido às interpretações. Mas como saber qual a interpretação correta? Existe um modo de interpretação correta ou todos estão corretos? Na verdade é impossível que tenhamos dois modos de interpretar os textos bíblicos, e os dois estejam corretos no resultado. Forçosamente um estará errado! Visto que a interpretação da Bíblia é um assunto de suma importância, pois é a partir da interpretação que vamos obter nossas doutrinas, e visto que a Reforma protestante sempre afirmou o direito ao livre exame das Escrituras por parte de todo cristão, devemos então aprender um pouco das regras de interpretação da Bíblia por pelo menos duas razões: 1º- Podermos utilizar estas regras em nosso cotidiano quando estudamos as Escrituras; 2º- Ao sermos ensinados acerca de algum ponto doutrinário podermos confirmar sua veracidade. Interpretação das Escrituras A esta altura é preciso esclarecer que não veremos todas as regras de interpretação que existe, porém, veremos algumas fundamentais. Aprenderemos algumas ―regras gerais de interpretação‖, as quais devem ser consideradas e utilizadas em qualquer texto bíblico. Ou seja, estas regras procuram abranger a interpretação de todos os tipos de textos da Bíblia – do Antigo ou do Novo Testamento. São elas: 1. Em nossa Confissão de Fé de Westminster no Capítulo I - DA ESCRITURA SAGRADA em sua Seção IX, temos uma declaração acerca da interpretação das Escrituras. Vejamos o que ela afirma: “A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente.” Este texto da Confissão de Fé nos aponta dois princípios elementares de interpretação: 1- A interpretação das Escrituras se deve a ela mesma. Ou seja, ninguém deve dizer o significado dos textos, quem faz isto é a própria Escritura através de outros textos dela mesma. Sendo
  • 42. 42 assim, o sentido de um texto está clarificado e explicado em outro texto; 2- Os textos da Escritura não possuem vários sentidos, mas somente um sentido; 2. O sentido do texto deve ser sempre aquilo que o autor quis dizer. Como pensava o reformador João Calvino: ―A primeira função de um intérprete é deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de atribuir a ele o que pensamos que ele deveria dizer.‖81 3. O texto deve ser lido em seu sentido literal, a não ser que demonstre suficiente evidência, em si mesmo, de que deva ser interpretado de modo figurado ou simbólico; 4. Todo texto deve ser interpretado de acordo com o assunto a ser tratado no seu contexto. Não devemos interpretar um texto falando de um assunto teológico do qual o texto não fala; 5. Discernir bem o que é prescritivo e o que é descritivo nas Escrituras a fim de saber o que é obrigatório a nós e o que não é obrigatório mas foi apenas referido. Se um texto não é prescritivo, mas apenas descritivo, então não podemos utilizá-lo com uma ordem, ou como uma norma; 6. ―As doutrinas não devem ser baseadas em um ou mesmo em poucos versos que possuam sentidos obscuros.‖82 7. As doutrinas das Escrituras não podem contradizer-se. Sendo assim, se alguém interpreta um texto de forma a confrontar outra doutrina, o intérprete deve então procurar onde errou em sua interpretação; 8. O conteúdo da revelação bíblica veio de forma progressiva, portanto, devemos respeitar o contexto revelacional de cada texto; 9. Na interpretação devemos diferir entre o que é contradição e o que é paradoxo. Paradoxos existem nasa Escrituras, contradições não; 10. Deve o intérprete estar atento ao uso de símbolos e tipos nas Escrituras. Ao se deparar com eles, o intérprete deve considerar a explicação que a própria Escritura faz deles, e não, conceder sua própria explicação ou interpretação particular; 11. Ao interpretar as parábolas devemos compreender que elas só intencionam uma única lição. O intérprete deve levar em conta o público-alvo da parábola, a cultura da época, o contexto histórico em que foi proferida a parábola, e as demais regras de interpretação citadas acima. Um modo mais resumido de explicar as regras de interpretação das igrejas reformadas é dizer a designação deste método. Ele é chamado de método de interpretação histórico-gramatical. Ou seja, é o modo de interpretação que leva em consideração a história e a gramática. A- Com o termo histórico, queremos dizer que o intérprete leva em consideração a cultura, contexto histórico dos ouvintes e do escritor, 81 Louis Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica.São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p 26. 82 Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986, p 188.
  • 43. 43 geografia, situação política, situação religiosa...; B- Com o termo gramatical, queremos dizer que o intérprete leva em consideração o significado das palavras, contexto das palavras, sintaxe, figuras de linguagem... Este é o método correto de se interpretar as Escrituras segundo o pensamento reformado. Todos os demais métodos de interpretação são falhos e redundarão em doutrinas distorcidas.
  • 44. 44 A ESTRUTURA DAS ESCRITURAS Introdução Bom, em lição anterior já expomos a existência de um cânon sagrado, chega agora o momento de demonstrar como estes livros estão relacionados uns com os outros. A Escritura possui um tema central, um assunto que abrange todos os sub-temas. Nosso trabalho neste momento é aprender a compreender como esta mensagem central está disposta em toda a revelação. As Escrituras possuem uma coleção de sessenta e seis livros, dos quais 39 formam o Antigo Testamento e 27 formam o Novo Testamento. Apesar de se encontrar nestes livros uma diversidade enorme de histórias e assuntos, é bem verdade também que é possível tirar de todos eles um único tema central. Lembremos que as Escrituras são a Revelação Especial de Deus que visa nos mostrar sua Pessoa e sua Vontade. A Bíblia não traz informações soltas e sem sentido a cerca do Criador divino. Ela é harmoniosa em seu conteúdo de tal forma que constitui uma ―rede interligada de informações‖. O que isto quer dizer? Quer dizer que todos os assuntos tratados nos sessenta e seis livros estão de alguma forma conectados a um tema central. Podemos comparar o conteúdo com uma árvore. Ainda que nem todas as informações constituam o ―tronco desta árvore‖ (ou seja, a essência do tema central), elas são como os ―ramos inseparáveis‖ deste tema. Revelação Progressiva Para que entendamos a estrutura das Escrituras precisamos estar a par de que ela foi formada por meio de um progresso de revelação, e não por um ato de revelação. Certamente as Escrituras trazem uma diversidade de assuntos interligados, contudo, não implica que todos eles foram revelados em um único momento. A Escritura foi escrita durante um período longo de tempo – cerca de 1.500 anos. Deus foi entregando sua Revelação Especial aos poucos, e não tudo de uma só vez. Não revelou tudo definitivamente em um só momento, mas esclareceu muitas de suas doutrinas lentamente, com o passar do tempo. É o que chamamos de ―progressividade da Revelação‖. Deus só acabou de entregar a Revelação Especial com o último livro Inspirado que foi o Apocalipse. Isto quer dizer que ainda que certos assuntos fossem tratados desde muito cedo na Revelação Especial, alguns deles só tiveram seu desfecho revelacional no final do processo de Inspiração. Contudo, visto que já estamos com a Revelação completa, podemos observar com clareza qual o tema central das Escrituras a fim de compreendê-las melhor.
  • 45. 45 Tema Central das Escrituras Apesar de a Bíblia não ser um só livro, ela possui uma só mensagem. Mas que mensagem é esta? Para um leitor inexperiente, ela poderá estar falando de vários assuntos, vários acontecimentos, várias personagens... E por fim ele não compreender qual mensagem constitui o seu tema central. É bem verdade que na Bíblia encontramos várias histórias e personagens. Vários assuntos e conceitos. Mas todos eles fazem parte de uma única história denominada História da Salvação. Todas as histórias, assuntos e conceitos dentro da Escritura têm sua função e propósito dentro da História da Salvação. Bom, todos eles são parte da História da Salvação, mas onde fica o tema central das Escrituras? É simples. Em resumo podemos dizer que: A Bíblia contém vários personagens, várias histórias, vários conceitos, vários assuntos; sendo que todos eles fazem parte de uma única história chamada História da Salvação. Esta História da Salvação por sua vez é desenvolvida na Bíblia por causa do tema central de que a Bíblia trata. O tema central da Bíblia é o da Aliança de Deus com um povo escolhido por ele. O tema "Aliança" no Antigo Testamento pode ser resumido na seguinte frase dita pelo próprio Deus: “Eu serei o seu Deus, e vós sereis o meu povo”. Toda a História da Salvação vai ser conduzida tendo esta idéia como ‗pano de fundo‘. Não que desprezemos os outros temas presentes, mas sim, que este tema da Aliança é o seu foco principal. Os outros temas e assuntos encontrados na Bíblia são como ―galhos que brotam deste tema central‖. Todos eles estão interligados. Tanto o ―tema central‖ só é totalmente compreendido por meio dos ―temas secundários‖, como também os ―temas secundários‖ só são compreendidos tendo o ―tema central‖ como pano de fundo. Definido o tema central - ―Aliança de Deus com seu povo‖ - que abre nosso entendimento sobre o conteúdo total das Escrituras, precisamos esclarecer melhor a idéia contida na palavra "Aliança". A Aliança na Bíblia é a escolha divina de um povo para seguir seus mandamentos servindo-o (Gn 12:1-3; Ex 3:7-10; Dt 6:1-5). O amor é a causa desta escolha (Dt 4:37; 10:14-15; 7:7-8; 9:4-6; 10:15; 23:5); e ―o propósito real da Aliança consiste na intenção de Deus de formar um povo propriamente seu.‖83 As Duas Alianças Bíblicas Centrais Os teólogos dividem o tema central da Aliança na Bíblia em duas alianças principais (ou pactos): O Pacto das Obras (Aliança das Obras) e o Pacto da Graça (Aliança da Graça). O Pacto das Obras diz respeito ao tempo em que Adão viveu antes do pecado. Neste Pacto o homem estava condicionado a ter vida eterna somente se obedecesse à ordem do Criador de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2:16, 17; 3:1-24). 83 O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos. Campinas, Luz Para o Caminho, 1997, p 44.
  • 46. 46 O Pacto da Graça se refere ao tratamento de Deus com o homem depois da entrada do pecado no mundo. Desde Gênesis capítulo 3 até Apocalipse 22, é o Pacto da Graça que está em ação. Administrações da Aliança da Graça Podemos dividir a Aliança da Graça em dois ―períodos distintos‖; duas ―administrações” diferentes. Podemos diferenciar estas administrações do seguinte modo: A administração do Pacto da Graça antes de Cristo é chamada de ‗Velha Aliança‘; e a administração do Pacto da Graça depois da vinda de Cristo é chamada de ‗Nova Aliança‘*.84 Não é que Deus providenciou dois pactos de salvação depois da Queda de Adão em pecado, sendo um deles a Velha Aliança e o outro a Nova Aliança. Deus providenciou somente um pacto de salvação – o Pacto da Graça. Este foi iniciado depois da entrada do pecado e continuará até a consumação de todas as coisas. Há, portanto, duas administrações diferentes para o mesmo Pacto da Graça. Na primeira administração (Velha Aliança) o Cristo e sua salvação são prometidos; na segunda administração (Nova Aliança) o Cristo já veio e cumpriu a salvação esperada. Estilos literários da Revelação Para finalizar este assunto da estrutura das Escrituras nós vamos nos deter na ―forma‖ como a Revelação Especial foi escrita durante estes vários séculos de sua formação. Ora, sabemos que a mensagem das Escrituras procede de um mesmo autor – o Espírito Santo. Porém, temos que nos lembrar que esta mensagem foi escrita por meio de homens, e que cada mensagem registrada por eles foi escrita com o ―estilo literário‖ que Espírito Santo guiou que utilizassem. O resultado é que encontramos vários tipos diferentes de literatura dentro das Escrituras. Para que possamos compreendê-los melhor, abaixo está a divisão tradicional dos livros conforme seu estilo literário: 84 Ibid, p 53. * Os termos Velha Aliança e Nova Aliança também são conhecidos como Antigo Testamento e Novo Testamento. Novo Testamento Livros Tipo Literário De Mateus até João Evangelhos Atos Histórico De Romanos até Filemom Cartas Doutrinárias De Hebreus até Judas Cartas Doutrinárias Apocalipse Profético
  • 47. 47 Antigo Testamento Livros Tipo Literário De Gênesis até Deuteronômio Lei De Josué até Ester Históricos De Jó até Cântico dos Cânticos Poéticos De Isaías até Malaquias Proféticos
  • 48. 48 BIBLIOGRAFIA — A Bíblia Anotada. São Paulo, Mundo Cristão, 1994. — Adão Carlos Nascimento, Curso Para Catecúmenos. Santa Bárbara D‘Oeste, SOCEP, 2001. — Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. — Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001. — Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Cultura Cristã, 1999. — Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. São Paulo, Os Puritanos, 1999. — Derek Thomas, A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo, Os Puritanos, 1998. — Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Editor, Walter A. Elwell. São Paulo,Vida Nova, 2009. — J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. São Paulo, PES, s/d. — Josafá Vasconcelos, Nada se acrescentará... O que dizer de Novas Revelações Hoje? São Paulo, Os Puritanos, 1998. — Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã. Campinas, Luz Para o Caminho, 1985. — ___________, Princípios de Interpretação Bíblica.São Paulo, Cultura Cristã, 2000. — ___________, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990.
  • 49. 49 — Merrill C. Tenney, O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. São Paulo, Vida Nova, 1984. — Norman L. Geisler, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. São Paulo, Mundo Cristão, 1999. — O Novo Dicionário da Bíblia. Editor, R.P. Shedd. São Paulo, Vida Nova, 1995. — O. Palmer Robertson, O Cristo dos Pactos. Campinas, Luz Para o Caminho, 1997. — Revista Estudos Bíblicos Didaquê. Vol XXXIII. Manhumirim, jan/96. — Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999. — Weldon E. Viertel, A Interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro, JUERP, 1986. — William S. Lasor, David A. Hubbard, Frederic W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1999.