O documento discute a importância do silêncio na liturgia e nas horas canônicas. As sete horas canônicas vieram a constituir os momentos da reza do Ofício Divino cristão. A noite é um tempo privilegiado para a oração, como evidenciado na Bíblia e praticado por monges ao longo da história.
As sete horas canônicas vieram a constituir os vários momentos da reza do Ofício Divino cristão
1. • Um último
componente
importante da
celebração litúrgica
em geral e para a
consciente e
frutuosa
participação no
Ofício das Horas
em particular é o
silêncio.
SILÊNCIO
2. • Na Igreja, já na Antiguidade era feito um
silêncio após cada salmo, para refletir sobre o
seu conteúdo (antes da oração sálmica).
• O Vaticano II fala de um "silêncio sagrado" na
Liturgia.
• Um liturgista como Brault afirma que "nada
mais contrário à entrada num ritmo e na oração
litúrgica que a ausência do silêncio".
3. • Mas que silêncio? Não um silêncio pobre e vazio. Mas
um silêncio rico e pleno.
• Não uma reflexão racional. Um tempo de
interiorização contemplativa. De ruminação e
degustação da mensagem rezada.
• De apropriação, de personalização das mensagens
expressadas pela Palavra, de cultivo dos sentimentos
por ela despertados, ou de resposta comprometida
aos questionamentos ou apelos por ela feitos.
4.
5. • A IG215 fala algo semelhante ao
referir-se à função desse
silêncio na reza do Ofício:
• Conforme ela, o silêncio deve
ser feito "para facilitar a plena
ressonância da voz do Espírito
Santo nos corações,
• e para unir mais estreitamente
a oração pessoal com a Palavra
de Deus e com a voz pública da
Igreja".
6. • Em que momentos podem
ocorrer tais pausas?
• Após cada salmo e sua antífona,
sobretudo se, depois do silêncio,
se acrescentar a oração sálmica.
• Depois da leitura ou da homilia
que se pode fazer após a leitura.
• Antes ou depois do responsório.
• Nas preces, depois de o
dirigente dizer as duas partes da
invocação.
7. • Convém fazer também breve pausa
respiratória entre um e outro
versículo dos salmos, para quebrar
a rotina, evitar o atropelo e facilitar
a oração meditada.
• Mas os espaços silenciosos devem
ser intercalados com critério, e
devem ser breves, de modo a não
interromper o ritmo da celebração,
a não criar inadmissíveis
fracionamentos em partes que
devem permanecer unidas.
8. • Introdução
• No Salmo 119, versículo 164, o autor diz:
• "Eu vos louvo sete vezes cada dia, porque justos são
os vossos julgamentos ".
• O sentido autêntico de septies (septies in diem
laudem dixi tibí) não era literalmente "sete", mas
"muitas vezes".
• Os primeiros monges desconheciam isso. Tomando o
sentido literal do texto, passaram a rezar as sete horas
canônicas que vieram a constituir os vários momentos
da reza do Oficio Divino cristão.
AS HORAS
10. • Mas como, biblicamente, o número sete tem a
conotação de plenitude, a fixação de sete momentos de
oração litúrgica foi também traduzido, na Igreja, como
uma vontade de estabelecer clara referência a Deus em
cada uma das horas do dia.
• "O hebraico bíblico não tem palavra para designar hora,
e parece que os israelitas não empregavam esse modo
de calcular o tempo.
• Na época do Novo Testamento, entretanto, os judeus
empregavam a divisão grega e romana do período
diurno em 12 horas, que eram calculadas de um modo
aproximativo e variavam em duração de acordo com a
duração variável da luz do dia"
11. • Assim, por exemplo, a terceira
hora correspondeu às nossas 9
horas; a sexta, às nossas 12
horas; e a nona. às nossas 15
horas.
• Conforme a "Tradição
Apostólica", de Santo Hipólito.
já no século III, se fala de sete
momentos de oração:
• a oração da manhã, da terça,
da sexta, da nona, a oração da
tarde, da meia-noite e do
cantar do galo.
12. • São Bento estabeleceu como
horas de oração diurna as
Laudes, a Prima, a Terça, a
Sexta, a Nona, as Vésperas e as
Completas.
• As horas propostas hoje aos
cristãos são as das Leituras,
das Laudes, a Hora Menor ou
Média (Terça ou Sexta, ou
Nona), as Vésperas e as
Completas.
• Dentre elas, há uma
matização. A proeminência é
atribuída às Laudes e Vésperas.
13. • Aliás, já na voltado século II para o III, Tertuliano
considerava essas duas horas como legitimas,
• isto é, mandadas por lei, enquanto via particularmente
as Horas Menores como "comuns", quer dizer, não
obrigatórias.
• Na mesma linha, há autores, hoje, para quem seria
desejável que as Horas Menores fossem consideradas
não como oração litúrgica oficial, mas como oração
particular ou de devoção.
14. • A noite é tempo privilegiado para a oração.
• Bernal, falando particularmente da meia-noite
nas culturas rurais, diz que este "é o momento
em que a criação repousa e dorme.
• É como se toda a vida, que ferve pujante e
vigorosa ao longo do dia nas aldeias e nos
campos, se mostrasse agora dormente num sono
de paz e de espera.
• É então, no silêncio da noite, que os justos se
apressam em louvar ao Senhor e dar-lhe graças".
ORAÇÃO NOTURNA
15. • Na Escritura do Antigo Testamento há
referências à oração noturna.
• Jó fala de Iahweh como do "Deus que inspira
cantos de louvor durante a noite ".
• E o salmista proclama: "Alta noite, eu me
levanto e vos dou graças pelas vossas decisões
leais e justas ".
• E o caso dele não era isolado. A oração da
meia-noite era conhecida e praticada por
outros integrantes do povo hebreu.
16. • Mas não como hora oficial de oração.
• Tratava-se, antes, de uma prática particular, e de
uma prática realizada só por algumas pessoas de
profunda vida espiritual, e isso ainda de maneira
não habitual.
• Parece que a oração noturna era também
praticada em Qumrã.
• Os Evangelhos5 dão conta de Jesus passando "a
noite inteira em oração a Deus ".
• E, conforme o testemunho dos Atos 6, Paulo e
Silas cantavam os louvores de Deus a meia-noite.
17. • São Cipriano, falando "sobre a oração do Senhor",
lançava um convite:
• "Realizemos aqui o que somos destinados a ser.
• Já que no Reino nós gozaremos de um dia
permanente, sem interrupção da noite, vigiemos
aqui, à noite, como se fosse dia".
• Tertuliano recomenda a um jovem cristão não
casar com uma moça pagã. E qual o motivo que
alega? "O que vai ela dizer quando você levantar à
meia-noite para orar?“
• E São João Crisóstomo censurava as mães cristãs
por não despertarem os filhos para a oração da
meia-noite.
18. • O que, para o comum dos
cristãos, distinguia esta
oração das outras Horas,
era que estas,
particularmente a da
manhã e o do fim do dia,
eram, na Antiguidade,
comunitárias, enquanto que
a feita durante a noite era
privada, rezada
pessoalmente ou em
família.
• Os monges, juntamente
com as virgens, foram os
que contribuíram
decisivamente para
instaurar e manter esta
oração também como
oração oficial e comunitária.
19. • Para rezar regularmente de três em três horas,
dividiram a oração noturna em três etapas:
21,24 e 03 horas.
• E a estas ainda acrescentaram as Completas
antes de dormir, e a Hora Prima antes de iniciar
o trabalho do dia, hora depois desaparecida,
por passar a coincidir praticamente com as
Laudes.
• Essa reza do Ofício Noturno foi sempre uma das
"tarefas mais específicas" dos monges "na
história da Igreja".
20. • " Até hoje, "enquanto o mundo e a
criação inteira repousam e
dormem,
• esses grupos de homens e
mulheres expressam, no silêncio
da noite, a atividade vigilante da
Igreja, Esposa de Cristo, que
espera ansiosa e acordada, com as
lâmpadas acesas, a volta do seu
Senhor”.
• Ao longo da história, esta oração
recebeu vários nomes: Ofício da
meia-noite, Oficio da noite,
Noturnos, Vigílias, Oficio depois do
sono, Ofício do canto do galo,
Matinas.