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Coleção:
  RITO
ROMANO
    Vol. I




1
“O SACRIFÍCIO DE CRISTO
E O SACRIFÍCIO DA EUCARISTIA
  SÃO UM ÚNICO SACRIFÍCIO”
                    (Catecismo da Igreja Católica, n. 1367)




                                                         2
O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
   na Forma Extraordinária do Rito Romano

                                                                   Coleção Rito Romano – Vol. I




      A todos os irmãos de boa vontade que lerem estas letras peço caridosamente que me ajudem a
melhorá-las informando erros (digitação, datas, conteúdos etc.), apontado dúvidas e as passagens aqui
expostas que não ficaram claras.




                                     Seminarista Jorge Luís

                   Seminário Maior de Filosofia Discipulado João Paulo II
                         Associação Redemptionis Sacramentum




E-mail: irmaojorge.eucaristia@hotmail.com




                            Arquidiocese Nossa Senhora das Dores



                                          Teresina-Piauí
                                          Março de 2009


                                                                                                   3
DEDICATÓRIA




   Ofereço esta pequena exposição a todos os irmãos e irmãs que amam e
     desejam conhecer e ter acesso à Liturgia de Sempre, de modo muito
particular aos amigos e irmãos da Associação Redemptionis Sacramentum1,

                e a todos os amigos que amam a Santa Igreja Católica
                  e o Culto que ela presta ao único e verdadeiro Deus!




                                 Em honra do Cordeiro de Deus




   1
     A Associação Redemptionis Sacramentvm é uma associação de fiéis católicos da Arquidiocese Nossa Senhora
das Dores, na capital Teresina-Piauí, fundada em 14 de Janeiro de 2009, constituída em Associação Privada de Fiéis
para exercer um apostolado de índole católica, em colaboração com as demais agremiações de fiéis da Arquidiocese.
A mesma Associação procura estudar, apoiar, promover e conservar tudo o que recupere ou salvaguarde a celebração
reverente e consciente dos Mistérios cristãos, nos moldes tradicionais do Rito Romano, nas duas Formas litúrgicas
atualmente em uso na Igreja Católica Apostólica Romana. Buscando, assim, um recíproco enriquecimento entre as
duas Formas do Rito Romano.

                                                                                                                4
ADVERTÊNCIA AO LEITOR

      Pax vobis!
      A todos os que vierem a ler esta nossa exposição advertimos que não é
aconselhável fazer comparações entre a Forma Ordinária do Rito Romano (de Paulo VI,
rezada desde 1970) e a Forma Extraordinária (do Beato João XXIII, rezada até pouco
depois do concílio Vaticano II), a fim de evitar equívoco e confusão.
       Tudo o que diremos aqui é relacionado à Forma conhecida como tridentina ou de
São Pio V, exceto o que indicarmos o contrário.
        São muitos os casos em que grupos e fiéis, que desejam conhecer ou ter o seu
direito de acesso à Forma Extraordinária, demonstram certa aversão a atual Forma
Ordinária ou até mesmo rejeitarem o Magistério e Ordinário da Missa que a Santa Igreja
nos deu após o último Concílio (eis uma chaga na Igreja, a qual não devemos fazer
sangrar mais ainda!). Por isso, advertimos também que ao apresentarmos esse tímido
trabalho não somos movidos por nenhum apego desordenado ao antigo nem por
nenhum desprezo ao novo, pelo contrário. Nossa intenção é dar a conhecer, ao menos de
modo geral, a beleza e história do Rito Romano, sobretudo no que diz respeito ao Santo
Sacrifício da Missa; somos movidos por um desejo de ajudar aqueles irmãos que ainda
não tiveram a oportunidade de conhecer esta Forma do Rito Romano, oferecendo-lhes
este pequeno subsídio; somos movidos pelo desejo de que, conhecendo o Rito codificado
por São Pio V, amemos o Rito da Santa Igreja Romana. Nossa intenção é amar aquelas
coisas sem, contudo, deixar essas!
        Aqui não faremos exposições sobre a problemática gerada em torno da reforma
litúrgica de 1970.
      O que faremos aqui é apenas uma breve apresentação da história do Rito Romano
e ao mesmo tempo uma introdução à Santa Missa na Forma Extraordinária.
       Finalmente, foram estas letras unidas pelo amor e zelo de uma alma católica
apostólica romana, fiel à Igreja, Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam, e que aceita
e professa tudo o que crê e ensina a Esposa do Cordeiro, desde a sua fundação divina,
por Nosso Senhor Jesus, até a última Letra do Romano Pontífice, Papa Bento XVI,
Príncipe da Igreja.




                                                                                  S.J.L.




                                                                                      5
INTRODUÇÃO


      Desde as primeiras mudanças no Ordinário da Santa Missa a Igreja ouviu rumores
sob seu teto e quando apareceu o novo Ordinário (novus ordus) da Missa houve, de
Roma até a mais pobre das capelas, manifestações favoráveis e desfavoráveis.
        No Brasil, desde a publicação da primeira edição do Missal de Paulo VI até hoje
(na espera da terceira edição!), quase quarenta anos depois, é possível constatar os frutos
da última reforma litúrgica. Porém, é bom tomarmos para nós as palavras do Santo Padre
Bento XVI: “A alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do concílio, deve
também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem
quiser ser obediente ao concílio deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não cortar as
raízes de que vive a árvore.”2 Assim temos dois deveres importantíssimos na Igreja: o
primeiro é aceitar o Magistério e autoridade do Santo Concílio Ecumênico Vaticano II, e
sua reta interpretação na pessoa do Romano Pontífice e demais Padres; o segundo é aceitar
com reverência todo o Magistério da Igreja anterior ao próprio Concílio (o qual deu
continuidade ao mesmo Magistério).
        Com a publicação do novo Missal em 1970, o Papa Paulo VI dá à Igreja uma
reformada e renovada3 forma de celebrar a Santa Missa. Esta se tornou a Forma Ordinária e,
rapidamente, ganhou a simpatia de muitos católicos, enquanto que outros preferiam a
Forma antiga (Extraordinária) e uma minoria, ainda, aceitavam e queriam as duas
Formas. Infelizmente percebeu-se um distanciamento, muitas vezes provocados e até
mesmo obrigados, do Rito que, desde tempos imemoráveis e até mesmo durante o
Vaticano II, era usado para a Santa Missa. Consequentemente a geração pós Vaticano II,
quase que totalmente, só conheceu a Forma de 1970 e tudo o que ouvia falar da Liturgia
anterior se resumia em “latim” e “padre de costas para o povo”! No entanto, “não poucos
fiéis aderiram e seguem com muito amor e afeto as formas litúrgicas anteriores”4.
       Em 2007 o Papa Bento XVI, como pai providente, ofereceu de motu proprio e
como um presente, a todos os sacerdotes e fiéis o direito de celebrarem ou terem acesso à
Liturgia anterior à reforma de 1970, declarando: “Portanto, é lícito celebrar o Santo Sacrifício
da Missa segundo a edição típica do Missal Romano promulgada pelo Bem-aventurado João XXIII
em 1962, e nunca ab-rogada”5.
       Por isso, muitas comunidades e grupos de fiéis querem ter a celebração da Santa
Missa também segundo o Missal do Papa João XXIII. Eis que os fiéis tomam consciência
de que é seu direito receber e “poder usar” o presente dado diretamente de nosso
príncipe, Bento XVI.
      Porém, com a publicação desta Carta Apostólica sob a Forma de Motu Proprio, o
Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI houve novamente na Igreja rumores antigos
e novos.
       Diante de tudo isso, encontramos opiniões diversas e um cenário ainda não muito
aberto para a realização do Summorum Pontificum. Para alguns esta realização seria um

   2
     BENTO XVI, Carta aos bispos da Igreja Católica, a propósito da remissão da excomunhão aos quatro bispos
consagrados pelo Arcebispo Lefebvre.
   3
     BENTO XVI, Motu Proprio Summorum Pontificum, p. 7.
   4
     Ibid, p. 8.
   5
     Ibid, p. 9.

                                                                                                          6
verdadeiro bem espiritual e catequético-doutrinal sobre a Santa Missa para nossa
geração, por causa do grande tesouro em símbolos e significados do Rito Gregoriano;
para outros, isso seria um retorno à idade média (o que nos parece um grande exagero!) e
uma ameaça a tudo o que o Vaticano II pretendeu. Outros ainda perguntam: “Para quê
voltar a coisas passadas, arcaicas, que não tem nada com nossa geração e nosso mundo?”
“Para quê essas fórmulas e esse rito ultrapassados que, numa língua que ninguém
entende, impedem o entendimento dos fiéis leigos?” “Por que voltar a este rito que é
centrado no padre e exclui a participação dos leigos?”.
       A essas perguntas (que demonstram tremenda ignorância litúrgica) não queremos
dar respostas prontas, mas oferecer a oportunidade de que descubram por si mesmos as
devidas respostas na leitura desta exposição.
       Por enquanto, basta-nos saber que tudo o que buscamos fazer é em comunhão com
a Santa Igreja6 e empenhando-nos a “levar uma vida santa”, promovendo o crescimento
da própria Igreja7 naquilo que podemos. Basta-nos, ainda, ver a felicidade de tantos
católicos que, engajados nas diversas pastorais e movimentos eclesiais, acolhem, desejam
e buscam o acesso à Forma Extraordinária do Rito Romano. É impressionante ver o
grande número de jovens que se interessam pelo silêncio, sobriedade, orientação,
centralidade e profundidade das orações da Liturgia bimilenar da Igreja! Isto só pode ser
um sinal de Deus confirmando a vontade do Santo Padre Bento XVI!
       Tendo em vista toda a problemática, ou melhor, os desafios de toda essa história é
que resolvemos fazer esta exposição a respeito do Rito Romano.
       Na verdade, nosso desejo é fazer uma pequena introdução ao Rito Romano. Este
livreto seria um ensaio para a primeira parte da história do Rito Romano (que
compreenderia desde o princípio até as reformas sugeridas pelo Concílio Vaticano II). A
segunda parte seria uma continuação com uma visão mais detalhada sobre o desenrolar
da Constituição Sacrosanctum Concilium até aos nossos dias com a atual edição do
Missal Romano.
       Por isso, este livreto não é destinado só àqueles que desejam conhecer ou ter
algum subsídio sobre o Rito Gregoriano, mas a todos os que se interessam pelo Rito da
Igreja Latina. A todos estes oferecemos esta contribuição a fim de que tenhamos
consciência da riqueza litúrgica da Igreja Católica, adquirida e guardada pelos séculos e
herdada por nós.
      Este é o meio possível que encontramos para ajudar na formação dos irmãos. É
humilde, ignorante, mas de coração!
      A todos nosso abraço e pedido de orações pela nossa perseverança no bom
propósito de ser sacerdote do Altíssimo Deus, nosso Pai!
         Pax et bonum!




                                                                 Seminarista Jorge Luís



  6
      JOÃO PAULO II, Código de Direito Canônico, n. 209.
  7
      Ibid, n. 210.

                                                                                       7
PRIMEIRA PARTE:
                              RESUMO HISTÓRICO8




   8
     Para um estudo mais profundo é aconselhável sejam feitas pesquisas em livros sobre liturgia antes da última
reforma litúrgica. Como nem sempre se sabe a quais recorrer é bom, aos que tiverem acesso, aproveitar as indicações
da referência no fim do livreto.

                                                                                                                 8
Capítulo 1
                       A INSTITUIÇÃO DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA


        I. Os sacrifícios judaicos
       Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos amou até o fim, veio ao mundo para reparar o
pecado de Adão e salvar os tristes filhos de Eva, movido por amor ao Pai no Espírito
Santo. Antes, porém, durante toda a História da salvação a vinda de Cristo foi
profetizada, prefigurada e esperada com ardor por todos os santos e santas da Antiga
Aliança. Mas Nosso Senhor só desceu a nós na plenitude dos tempos e foi reconhecido por
João Batista, Seu precursor, como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”9.
        No Antigo Testamento, enquanto o Messias esperado não vinha, o povo oferecia a
Deus muitos sacrifícios com diversas intenções. Assim, encontramos na lei de Moisés (cf.
Êxodo) os seguintes sacrifícios cruentos10 prescritos:

       Holocausto – sacrifício de latria, ou seja, adoração a Deus; as vítimas eram
oferecidas ao domínio de Deus. Queimava-se a vítima completamente, ninguém a comia,
para prestar, por essa consumação, uma homenagem e um reconhecimento pleno, ao
soberano domínio de Deus. Prestava-se, assim, o culto puro de adoração a Deus.
        Hóstia pelo pecado - sacrifício propiciatório: O sacrifício propiciatório era oferecido
para a expiação dos pecados, de modo a tornar Deus propício. Também chamado "hóstia
pelo pecado”. A vítima era dividida em três partes uma parte consumida no fogo sobre
altar, outra queimada fora do acampamento e uma terceira comida pelos sacerdotes.
       Sacrifício eucarístico – sacrifício das hóstias pacíficas: O sacrifício eucarístico era
oferecido para agradecer a Deus, qualquer graça recebida. Eram sacrifícios de ação de
graças.
      Sacrifício impetratório – sacrifício de impetração: Era feito para pedir a Deus
qualquer graça importante. Os sacrifícios eucarísticos e impetratórios, também chamados
de “pacíficos”, se distinguiam da “hóstia pelo pecado” pelo fato de que o povo e os
sacerdotes deviam participar, consumindo uma parte da vítima.
       Portanto, o povo oferecia estes sacrifícios para: adorar a Deus, reconciliar-se com
Ele, pedir as graças necessárias e agradecer as graças recebidas.
       O povo de Deus, desde o principio, foi marcado pelo sacrifício. Sacrifício da sua
própria vida, seja na casa da escravidão seja na busca da terra prometida. Marcada,
sobretudo, pelos sacrifícios de animais que ofereciam à divina Majestade, por Quem foi
ordenado os mesmos sacrifícios. Os sacrifícios eram tantos que chegavam a ser uma
verdadeira matança. “Na festa dos tabernáculos eram sacrificados 30 animais: 13 touros, 2
carneiros, 14 cordeiros, e 1 bode, e isto por seis dias.”11 O grande historiador Flavio Josefo diz
que no seu tempo, por volta do ano 60 depois de Cristo, foi possível contar 265,000
cordeiros pascais.12

   9
     Jo 1,29b
   10
      Cruento diz respeito a sangue. Sacrifício cruento significa o derramamento de sangue da vítima. No Antigo
Testamento pouquíssimos sacrifícios eram incruentos. A Santa Missa é um Sacrifício, o Santo Sacrifício da Cruz,
porém, é Sacrifício incruento, pois, embora bebamos do Sangue de Cristo, não há mais o derramamento do Sangue de
Nosso Senhor. Dizer o contrário seria uma grande heresia.
   11
      J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 458, p. 226.
   12
      Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 458, p. 226.

                                                                                                              9
II. A instituição do Sacrifício cristão
        Foi neste contexto de sacrifícios que o Messias encontrou o povo de Deus. Na
quinta-feira santa, no cenáculo, “Jesus sabia que tinha chegado sua hora. A hora de
passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo,
amou-os até o fim”13 e, depois de encerrar a lei judaica, instituiu o Santo Sacrifício da
Missa quando, antecipando Sua própria morte na Cruz, abençoou o pão, o partiu e o deu
aos discípulos dizendo “isto é o meu Corpo” e fazendo o mesmo com o vinho dizendo
“isto é o meu Sangue”14. Depois Jesus ordenou que os Apóstolos fizessem a mesma coisa
que Ele acabara de fazer, dizendo: “Fazei isto em memória de mim”.15 Eis o rito16
instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme os relatos:

           I Coríntios 11             Marcos, 14                       Lucas, 22                      Mateus 26
             Pelo ano 56               Pelo ano 65                     Pelo ano 80                     Pelo ano 80


 23 Na noite em que ia  22 Enquanto estavam  14 Quando chegou a  20 Ao anoitecer, Jesus

ser entregue, o Senhor comendo,             hora, Jesus pôs-se à se pôs à mesa com os
Jesus tomou o pão                           mesa       com    os Doze.
                                            apóstolos.

 24 e, depois de dar            Jesus tomou o pão,             19A seguir, tomou o           26  Enquanto estavam
graças, partiu-o e            pronunciou a bênção,           pão,    deu     graças,         comendo, Jesus tomou
disse: “Isto é o meu          partiu-o e lhes deu,           partiu-o e lhes deu,            o pão e pronunciou a
corpo entregue por vós.       dizendo: “Tomai, isto é        dizendo: “Isto é o meu          bênção, partiu-o, deu-
Fazei      isto    em         o meu corpo”.                  corpo, que é dado por           o aos discípulos e
memória de mim”.                                             vós. Fazei isto em              disse: “Tomai, comei,
                                                             memória de mim”.                isto é o meu corpo”.

 25 Do mesmo modo,               23Depois, pegou o             20Depois da ceia, fez         27 Em seguida, pegou
depois da ceia, tomou         cálice, deu graças,            o mesmo com o cálice,           um cálice, deu graças e
também o cálice e             passou-o a eles, e             dizendo: “Este cálice é         passou-o        a      eles,
disse: “Este cálice é a       todos beberam. 24 E            a nova aliança no meu           dizendo: “Bebei dele
nova aliança no meu           disse-lhes: “Este é o          sangue,      que      é         todos, 28 pois este é o meu
sangue. Todas as vezes        meu sangue da nova             derramado por vós”.             sangue da nova aliança,
que dele beberdes,            Aliança,     que     é                                         que é derramado em
fazei-o   em     minha        derramado          por                                         favor de muitos, para
memória”.                     muitos”.                                                       remissão dos pecados”.



       Quando Nosso Senhor parte o Pão e fala sobre o Sangue derramado ou dado para ser
bebido Ele faz alusão aos sacrifícios do Antigo Testamento17, usando as mesmas
      13
       Jo 13,1.
      14
       Cf. Mt 26,20-28; Mc 14,22-24; Lc 22,14-20.
    15
       Ibid.
    16
       Rito (do latim ritus) é a forma exterior dos atos litúrgicos. Pode significar a Liturgia total de uma Igreja (como o
Rito Romano), uma celebração litúrgica (como as exéquias) ou uma ação litúrgica (como a incensação). (Cf. J.B.
REUS, Curso de Liturgia, n. 27, p. 26).
    17
       Por exemplo, o capítulo primeiro do livro de Levítico: “3 Se a oferta for um holocausto de gado bovino, deverá
oferecer um macho sem defeito, que levará até à entrada da Tenda do Encontro, para ser aceito pelo Senhor. 5 Depois
matará o bezerro diante do Senhor. Os sacerdotes aaronitas oferecerão o sangue, derramando-o em torno do altar que
está à entrada da Tenda do Encontro. 10 Se a oferta para o holocausto for de gado miúdo, das ovelhas ou cabras, deverá

                                                                                                                       10
expressões (partir, derramar) para Se identificar como a única e verdadeira Vítima capaz
de tirar os pecados dos homens e trazê-los à comunhão com Deus. Assim, se tornam
evidentes as palavras do Bem-Aventurado João Batista que, tendo visto Jesus e
reconhecendo-O, declarou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”18.
        De início os Apóstolos não entenderam tudo o que Jesus fazia nesta cerimônia de
instituição do Seu Sacrifício, só depois da vinda do Espírito Santo vieram a compreender
plenamente o significado do rito com todos os seus detalhes. Nos primeiros dias e meses
os Apóstolos celebravam o rito que Jesus havia instituído tal como viram o próprio
Senhor Jesus fazê-lo. Com o passar do tempo eles foram introduzindo costumes próprios
da comunidade como, por exemplo, o véu prescrito para as mulheres.19 Assim os
Apóstolos passaram cerca de 12 anos celebrando o Santo Sacrifício, instituído por Jesus,
só em Jerusalém, conforme testemunhos autênticos.20
        Considerando que só os Apóstolos assistiram à cerimônia que Jesus instituiu e só
eles celebravam, e isso por 12 anos, podemos afirmar que “na Liturgia há partes
instituídas por eles”21, pois, conforme São Basílio (+ 379), “os ritos litúrgicos, usados por
toda a parte e cujo autor é desconhecido, dimanam da autoridade dos apóstolos.
Portanto, a leitura sagrada, o Sunsum corda e as outras saudações e respostas antes do
prefácio, o cânon, foram introduzidos por eles.”22 Isto quer dizer que, na sua origem, a
Santa Missa é substancialmente instituição divina de Jesus, cercada de ritos e cerimônias
introduzidas pelos Apóstolos.




                                                       Capítulo 2
                             DESENVOLVIMENTO DA LITURGIA CRISTÃ


        I. Culto cristão e culto judeu
       Após a instituição do Sacrifício Eucarístico e a Ascensão de Nosso Senhor, os
Apóstolos, em memória do Mestre, continuaram a fazer tudo o que Ele mesmo havia feito
na última Ceia. Porém, a priori, as primeiras comunidades dos fiéis participavam da
reunião e da Fração do Pão (= Santo Sacrifício, Eucaristia) sem se separarem do culto no
Templo dos judeus. Assim, os primeiros cristãos, seguindo o exemplo do próprio Cristo,
participavam do culto no Templo e do serviço nas sinagogas.
      No entanto, com as perseguições e tensões com os judeus os cristãos foram cada
vez mais se afastando do culto no Templo23, embora o respeitassem e reconhecessem sua
validade. As reuniões dos cristãos eram, geralmente, unidas a uma refeição fraterna24.

oferecer um macho sem defeito. 11 Matará o animal ao lado norte do altar, na presença do Senhor, e os sacerdotes
aaronitas derramarão o sangue em torno do altar.” (Cfr. ainda Lv 1,14 -15.17; 3,7-8.12-13;4,3.5-7.13.16-16.22-
25a.27.30).
   18
      Jo 1, 29.
   19
      Cf. 1 Cor 11,5-11.
   20
      Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 46, p. 31.
   21
      Ibid n. 47, p. 31.
   22
      Ibid.
   23
      A.W REYNA, Introdução à Liturgia, p. 192.
   24
      São Paulo (I Cor 11,17-22) faz-nos crer nisto quando escreve repreendendo os cristãos por não serem fraternos,
não manterem a caridade nas refeições. Diz ele: “Já que estou dando recomendações, não vos posso louvar por vossas

                                                                                                                 11
Com a destruição do Templo no ano 70 os cristãos conheceram um fortalecimento da
Liturgia e os Apóstolos em suas comunidades usaram elementos próprios do culto
judaico, como: as orações, muito praticadas por Nosso Senhor; a leitura de partes do
Antigo Testamento (a Lei, os salmos e os profetas); e a pregação da Sagrada Escritura25.
       Essa cristianização de elementos judaicos seria uma pratica da Igreja de então e
que permaneceria por muito tempo em relação ao secular. Ela demonstra uma
movimentação própria das comunidades em torno do culto a Deus e a tomada de
consciência a respeito da nova Liturgia instituída por Jesus.
       Sem o Templo dos judeus e fora da direção dos sacerdotes, os cristãos reúnem-se
agora em torno do altar de Jesus, participando do Sacrifício que, a priori, foi chamado de
Fractio Panis (Fração do Pão), denominando assim um Rito próprio do novo povo de
Deus.
       Levando em conta o “roteiro” dos judeus, os cristãos se reuniam e o que presidia a
assembléia proferia algumas orações que eram encerradas pelo “amém” dos fiéis. Depois
eram lidas duas leituras (Antigo Testamento) separadas por um canto26. Em seguida,
conforme o costume dos judeus e a prática do Senhor Jesus, acontecia a pregação que
consistia na explicação das leituras. Esta estrutura é praticamente a mesma que mais
tarde seria chamada de Ante-Missa ou Missa dos Catecúmenos (equivalente a Liturgia da
Palavra).


        II. Os tempos apostólicos
        Dos primeiros séculos cristãos temos na Sagrada Escritura exortações de São
Paulo27  que deixam claro que a Igreja apostólica cria verdadeiramente que as Espécies do
Pão e do Vinho, pela palavra do Senhor, eram o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Por isso, no ano 56, São Paulo, após relembrar o rito instituído por Jesus28, adverte
os fiéis que se aproximam da Comunhão, dizendo:
                              Todo aquele que comer do pão e beber do cálice do Senhor indignamente, será
                      réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Portanto, cada um examine a si mesmo antes de
                      comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que comer e beber sem discernir o
                      Corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação.29
       Também um documento antigo chamado de Doutrina dos doze Apóstolos (Didaquè)
fala sobre a liturgia na era apostólica, dizendo:




reuniões, pois elas têm sido, não para o vosso maior bem, mas antes para o vosso dano. Primeiro, ouço dizer que,
quando vos reunis como igreja, têm surgido dissensões entre vós. E, em parte, acredito. É necessário que haja até
divisões entre vós, para que se tornem conhecidos os que, dentre vós, são comprovados! De fato, quando vos reunis,
não é para comer a ceia do Senhor, pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome,
outro se embriaga. Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus e quereis envergonhar
aqueles que nada têm? Que vos direi? Acaso vos louvarei? Não, neste ponto não posso louvar-vos”.
    25
       A.W REYNA, Introdução à Liturgia, p. 198.
    26
       A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 193.
    27
       Cf. 1 Cor 10,14-17.
    28
       Cf. 1 Cor 11,23-26. Este relato de São Paulo é o mais antigo testemunho sobre a Eucaristia, pois foi escrito dez
anos antes dos Evangelhos.
    29
       1 Cor 11,27-30.

                                                                                                                   12
Reuni-vos no dia do Senhor para a Fração do Pão30 e agradecei (celebrai a
                     eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício
                     seja puro.
                              Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes
                     de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado. [...]
                              No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira:
                              Primeiro sobre o cálice, dizendo: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai,
                     pela santa vinha de Davi, teu servo, que tu nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a
                     glória pelos séculos! Amém.
                              Sobre o pão a ser quebrado: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela
                     vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos
                     séculos! Amém.
                              Da mesma maneira como este pão quebrado primeiro fora semeado sobre as
                     colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da terra seja
                     unida a ti tua igreja (assembléia) em teu reino; pois tua é a glória e o poder pelos
                     séculos! Amém.
                              Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em nome
                     do Senhor. Pois a respeito dela disse o Senhor: Não deis as coisas santas aos cães!31
        Depois dos mencionados doze anos os Apóstolos se espalharam, levando consigo
o que era comum ao colégio apostólico, e, conforme os lugares e a necessidade, foram
introduzindo novos ritos e orações. Com a morte dos doze Apóstolos e a sucessão
apostólica vão surgindo, ou se desenvolvendo, liturgias para a Santa Missa, que, embora
tivessem certas diferenças, conservavam algumas semelhanças e o que era essencial no
Sacrifício Eucarístico. Essas liturgias surgiram tanto no Oriente como no Ocidente.32


        III. Os primeiros séculos da Liturgia cristã
       O bispo e mártir Santo Inácio de Antioquia (+ 102), na sua Carta aos Efésios
exortava os fiéis a serem freqüentes na celebração da Eucaristia. E o mártir São Justino (+
165), nas suas Apologias, descreveu o rito comum em sua época para a Santa Missa,
dizendo:
                              Terminadas as orações, damos mutuamente o osculo da paz. Apresenta-se,
                     então, a quem preside aos irmãos pão e um vaso de vinho, e ele tomando-os dá
                     louvores e gloria ao Pai do universo pelo nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e
                     pronuncia uma longa ação de graças em razão dos dons que dele nos vêm. Quando o
                     presidente termina as orações e a ação de graças, o povo presente aclama dizendo:
                     Amém [...].
                              Este alimento se chama entre nós Eucaristia, não sendo licito participar dele
                     senão ao que crê ser verdadeiro o que foi ensinado por nós e já se tiver lavado no banho
                     [batismo] da remissão dos pecados e da regeneração, professando o que Cristo nos
                     ensinou.
                              Porque não tomamos estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma
                     forma que Jesus Cristo, nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa salvação, assim
                     também se nos ensinou que por virtude da oração do Verbo, o alimento sobre o qual foi
                     dita a ação de graças – alimento que, por transformação, se nutrem nosso sangue e
                     nossas carnes – é a Carne e o Sangue daquele mesmo Jesus encarnado. E foi assim que
                     os Apóstolos, nas Memórias por eles escritas, chamadas Evangelhos, nos transmitiram
                     ter-lhe sido ordenado fazer, quanto Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: ‘Fazei
                     isto em memória de mim’. [...]

   30
      Este é um dos primeiros nomes dado à Santa Missa. Hoje o usamos para designar um rito do Santo Sacrifício.
Conferir quadro acima.
   31
      Cf. versão em: F. AQUINO, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 79.
   32
      Por exemplo: a Liturgia de São Tiago.

                                                                                                             13
No dia que se chama do Sol [domingo] celebra-se a reunião33 [...].
                           Assim que o leitor terminar [de ler as memórias dos Apóstolos], o presidente
                   faz uma exortação e convite para imitarmos tais exemplos. [...] Segue-se a distribuição
                   a cada um, dos alimentos consagrados pela ação de graças, e seu envio aos doentes, por
                   meio dos diáconos.34
     Também Santo Hipólito de Roma (+ 234) nos dá um belo relato do Cânon do Rito
Romano, por ocasião da sagração episcopal, que se principia pelas invocações:
                           O Senhor esteja convosco.
                           Respondam todos: E com o teu espírito.
                           Corações ao alto!
                           Já os oferecemos ao Senhor.
                           Demos graças ao Senhor.
                           É digno e justo.
                           E prossiga a seguir: Graças te damos, Deus, pelo teu Filho querido, Jesus
                   Cristo, que nos últimos tempos nos enviastes, Salvador Redentor, mensageiro da tua
                   vontade...35
      Nestes testemunhos temos um retrato fiel do que seria, e de certo modo já era, o
Rito Romano que chegou até nós. Foi dos Apóstolos que a Igreja recebeu a forma com a
qual deveria rezar, o Rito com o qual deveria fazer o que Jesus fez na última Ceia. Seja
como for, Cristo e os Apóstolos estão na origem do Rito da Santa Igreja Romana.
      Dos primeiros séculos da era cristã, porém, não temos nenhum livro litúrgico, a
não ser alguns textos chamados de Tradição Apostólica registrados por Santo Hipólito de
Roma (+ 235) durante o pontificado do Papa Calisto (217-222). É verdade que muitas
orações e gestos eram feitos pelo que presidia como que de forma “espontânea”, mas
obedecendo a tradição existente.
                           Nos primeiros três séculos, os das perseguições, mantêm-se a simplicidade dos
                   ritos ensinados pelos Apóstolos. Ficando para sempre imutáveis os elementos
                   essenciais, simplicíssimos, de instituição divina do Sacrifício e dos Sacramentos, no
                   resto deixa-se, por um lado, margem à improvisação dos ministros do culto, e nota-se,
                   por outro, tendência para uma disciplina de uniformidade.36




                                                   Capítulo 3
                   MAS O QUE É A SANTA MISSA INSTITUÍDA POR JESUS?


       I. Doutrina da Igreja
       A Santa Missa da Igreja Católica é “a essência de tudo o que há de bom e belo”37,
ou seja, Jesus Cristo, morto e ressuscitado por amor dos homens.
       A Instrução Geral do Missal Romano diz que a Missa é o centro da vida da Igreja,
tanto universal como local e centro da vida de cada um dos fiéis38. O Catecismo da Igreja

  33
     Outro nome para designar a Santa Missa.
  34
     Santo. I. ANTIOQUIA, Apologias. Apud Aquino, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 81-82.
  35
     F. AQUINO, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 83.
  36
     M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 43.
  37
     São L. PORTO-MAURICIO, As excelências da Santa Missa, p. 5.
  38
     Cf. PAULO VI, Instrução Geral do Missal Romano, n. 16, p.37.

                                                                                                       14
Católica afirma que “a Eucaristia [Missa] é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização
e a oferta sacramental de seu único Sacrifício na liturgia da Igreja, que é corpo dele”39. E
ainda: “Fonte e ápice de toda a vida cristã”40, “o resumo e a suma de nossa fé”41.
      A Santa Igreja, numa busca de expressar de modo claro e firme a realidade que a
Santa Missa torna presente, encontrou um nome para ela capaz de expressar, sem erro e
com satisfação, tudo o que ela é e contém: Santo Sacrifício.
                           Só o Sacrifício de nossa santa religião, que é a Santa Missa, é um Sacrifício
                   santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a
                   Deus, reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo domínio de Deus.42
       “A Paixão de Cristo é o próprio Sacrifício que oferecemos”43. “Por ser memorial da
Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um Sacrifício”44, pois na Santa Missa Cristo nos
dá o Corpo que “entregou por nós na Cruz, o próprio Sangue que ‘derramou por muitos
para a remissão dos pecados’”45. A Santa Missa é, “portanto, um Sacrifício porque
representa (torna presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica os
seus frutos”46.
     A doutrina da Igreja é clara: “O Sacrifício de Cristo e o Sacrifício da Eucaristia são
um único Sacrifício” 47. Nos mesmos moldes ensina o Código de Direito Canônico:
                            Augustíssimo Sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se
                   oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a
                   Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que
                   se perpetua pelos séculos o Sacrifício da Cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da
                   vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa
                   a construção do Corpo de Cristo.48


       II. Os Santos e a Santa Missa
       São João Crisóstomo dizia que, na Santa Missa, Jesus “deu-se todo não reservando
nada para si”49 e por isso “não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se sente
‘doente de amor’”50. E São Boaventura nos anima a aproximarmo-nos da Sagrada
Comunhão, mesmo que friamente, confiando-nos à misericórdia de Deus51. Pois “duas
espécies de pessoas devem comungar frequentemente: os perfeitos para se conservarem
perfeitos, e os imperfeitos para chegarem à perfeição”.52
      Segundo o Papa São Pio X “a devoção à Eucaristia é a mais nobre de todas as
devoções, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais salutar porque nos dá o


  39
     JOÃO PAULO II, Catecismo da Igreja Católica, n. 1362, p. 375.
  40
     Ibid, n. 1324, p. 365.
  41
     Ibid, n. 1327, p. 365.
  42
     São L. PORTO-MAURÍCIO, As excelências da Santa Missa, p. 6.
  43
     São CIPRIANO, Epist. Ad Caeciliam, apud M. COCHEM.
  44
     JOÃO PAULO II, Catecismo da Igreja Católica, n. 1365, p. 376.
  45
     Idem.
  46
     JOÃO PAULO II, Catecisco da Igreja Católica, n. 1366, p. 376.
  47
     Ibid, n. 1367, p. 376.
  48
     JOÃO PAULO II, Código de Direito Canônico, cân. 897, p. 237.
  49
     São J. CRISÓSTOMO, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88.
  50
     F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88.
  51
     Idem.
  52
     São F. SALES, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88.

                                                                                                        15
proprio autor da graça; é a mais suave, pois suave é o Senhor”53 e ainda “se os Anjos
pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar”54.
       São Gregório afirma que “nosso corpo unido ao Corpo de Cristo, adquire um
princípio de imortalidade, porque se une ao Imortal”.55 Por isso, Santa Teresinha
exortava: “Não é para ficar numa âmbula de ouro, que Jesus desce cada dia do Céu, mas
para encontrar um outro céu, o da nossa alma, onde ele encontra as suas delicias”.56 E
Santa Teresinha explica que “quando o demônio não pode entrar com o pecado no
santuário de nossa alma, quer pelo menos que ela fique vazia, sem dono e afastada da
Comunhão.”57




                                                     Capítulo 4
                              OS RITOS DA SANTA IGREJA CATÓLICA58


        I. As Famílias litúrgicas Católicas
      Antes de prosseguirmos com nossa exposição, propriamente dita, sobre o Rito
Romano, vamos passar de modo geral pelos outros ritos católicos, para entendermos
melhor o Rito da Igreja de Roma.
       Como já vimos (no Capítulo I), Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o Sacrifício da
Santa Missa. Os Apóstolos, então, cercaram esta cerimônia com outras seja em
preparação (como as orações e leituras adotas do culto judaico) seja para manifestar a
honra e o louvor devido a Deus (como as longas ações de graças usadas na Igreja
primitiva e que, de certo modo, deram origem à prece eucarística).
       Como os Apóstolos se espalharam, consequentemente, as cerimônias da
Eucarística que eram comuns ao colégio apostólico ficaram sujeitas à influência das suas
respectivas comunidades.
       Estas comunidades que receberam, na sua maioria, a fé dos próprios Apóstolos ou
de seus discípulos, cresceram e desenvolveram cada vez mais a Liturgia da Igreja. Mais
tarde elas vieram a ser chamadas de familias litúrgicas, pois, delas ramificaram-se diversas
formas da Liturgia católica.
                             Com o decorrer dos anos, porém, e obedecendo a influências locais, foram-se
                     separando quanto a seus costumes e ritos, as grandes igrejas patriarcais e, deste modo,
                     apareceram três famílias litúrgicas que, apesar de apresentarem influências mútuas, são
                     nitidamente distintas: a antioquena (síria), a alexandrina (egípcia) e a romana (latina).59
       Contribuíram para estas distinções o fato de as Igrejas Patriarcais terem grande
centros, as vezes, políticos e linguísticos influenciando outras Igrejas menores, conforme
a Tradição que lhes foi dada pelo Apóstolo fundador.
   53
      São PIO X, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 90.
   54
      Idem.
   55
      São GREGÓRIO, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 91.
   56
      Ibid.
   57
      Ibid.
   58
      Para melhor compreensão deste assunto conferir: J.B. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 61-66; S. MARSILI,
Panorama histórico geral da Liturgia, p. 64-138; J.B. REUS, Curso de Liturgia, pp. 33-39.
   59
      A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 62.

                                                                                                             16
Teve também grande influência nestas distinções o fator lingüístico, pois, embora o
latim fosse a língua do Império Romano e a língua da Igreja de Roma, outras línguas
(como a grega, a sírica e a copta) foram tornando-se línguas de Igrejas particulares, que
por sua vez cresceram a ponto de obterem grande número de fiéis.60
       Estas três famílias litúrgicas são as responsáveis pelos três grandes Ritos da Igreja
Católica: o Antioqueno, o Alexandrino e o Romano.


       II. Os Ritos da Igreja Católica Oriental
       Como vimos, as familias litúrgicas deram origem aos três grandes Ritos da Igreja.
Porém, no Oriente a Igreja Católica desenvolveu-se usando diversas cerimônias que
diferenciavam Igrejas no referente aos Ritos. Neste sentido, distinguem-se os seguintes: o
Rito da Igreja de Antioquia, na Síria; o da Igreja de Cesaréia, na Capadócia e o da Igreja
de Alexandria, no Egito.61
       O Rito Antioqueno, no que diz respeito à Liturgia da Missa, está nos livros II e VIII
das Constituições Apostólicas. Deste Rito surgem outros três Ritos: primeiro, o Rito de São
Tiago ou Liturgia de São Tiago, usado na Igreja de Jerusalém, da qual o Apóstolo São
Tiago foi o primeiro Bispo; segundo, o Rito dos Santos Adeo e Mari ou Liturgia dos Santos
Adeo e Mari, conhecido também como Rito Sírio-Oriental; terceiro, o Rito Bizantino, que é
semelhante à Liturgia de São Tiago.
       Estes Ritos se organizaram, sobretudo, a partir do século IV (como o Caldeu e o
Siríaco) até ao século VII (como o Maronita).
       O Rito Alexandrino, é atribuída sua fundação a São Marcos, o Evangelista; era a
Liturgia da Igreja de Alexandria, rezada em língua grega. Deste derivou-se o Rito Greco-
Alexandrino e a Liturgia Abissínia ou dos XII Apóstolos, que é a Liturgia fixa mais antiga
(século III).
       Estes Ritos se organizaram no século IV (como o Copta) e V (como o Etíope).
      O Rito “Cesareico”, da Igreja de Cesaréia fundada por São Gregório (século III)62.
Dele provém o Rito Armênio que recebeu influências de Antioquia e Bizâncio.63
        Estes dois Ritos são chamados na Igreja de Ritos Orientais por pertencerem à Igreja
que está no Oriente. Eles, e outros Ritos menores, se desenvolveram paralelamente na
Igreja, de modo que um não contradizia ao outro nem abolia o valor dos Ritos aprovados
pela Tradição.
      Esta parte da história da Liturgia e dos Ritos da Igreja é complexa e requer muita
atenção aos detalhes, lingüísticos, místicos e históricos. Porém, como estamos apenas
fazendo uma pequena passagem por ela, para melhor fixação apresentamos o seguinte
quadro sobre os Ritos Orientais, que nos dá uma visão geral64:




  60
     Cf. S. MARSILI, Panorama histórico geral da Liturgia, pp. 56-64.
  61
     Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 45.
  62
     Ibid, p. 137.
  63
     Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 47.
  64
     Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 65; P.. MANOEL, O valor teológico da Liturgia, p. 130.

                                                                                                        17
Ritos principais               Divisões                    Subdivisões


                                                                             - Ritos Sírios unidos
                                               • Ritos Siríacos              - Ritos Malacarésios
                            Ritos                                            unidos
                         Antioquenos                                         - Rito Maronita
                                                                             - Ritos Caldeus unidos
                                               • Ritos Caldeus               - Ritos Malabares
   RITOS                                                                     unidos
 ORIENTAIS             Ritos Armênios          • Ritos Armênios unidos

                                               • Ritos Ítalo-gregos unidos
                      Ritos Bizantinos         • Ritos Melquitas unidos
                                               • Ritos Russos e rutenos unidos
                                               • Ritos Sérvios e Búlgaros unidos
                                               • Ritos Rumenos unidos

                            Ritos              • Ritos Coptas unidos
                        Alexandrinos           • Ritos Abissínios unidos


       III. Os Ritos da Igreja Católica Ocidental
       No Ocidente destacavam-se os Ritos usados nas Igrejas de Roma, da Península
Ibérica, do norte da Itália e da Gália.
      O Rito Romano é o terceiro grande Rito da Liturgia católica. É verdade
incontestável que o príncipe dos Apóstolos, São Pedro, teve sua Sé em Roma. Por isso, já
o grande Santo Irineu (+ 202) afirmava:
                            É com essa Igreja (a de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade e
                    fundação, que deve necessariamente concordar toda Igreja, isto é, que devem
                    concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos
                    que procedem de toda parte, se conservou a Tradição que vem dos Apóstolos65.
       No mesmo sentido São João Crisóstomo dizia: “No interesse da paz e da fé não
podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma”66
e Santo Agostinho, afirmando a superioridade do Papa e de Roma, dizia: “Roma locuta,
causa finita”67.
       Assim, sempre foi prática de todos os fiéis verem no Bispo de Roma o sucessor de
São Pedro, e na Igreja Romana a Mãe de todas as Igrejas espalhadas pelo mundo inteiro.
Por isso, o Rito usado na Igreja de Roma sempre teve muita importância para o mundo
cristão.
        O Papa São Damaso (+ 384), conforme alguns, teria realizado a primeira reforma
significante na Liturgia68, no sentido de organizar as cerimônias existentes. Com esta
  65
     Santo IRINEU, apud F. Aquino, Escola da Fé: III O Sagrado Magistério, p. 46.
  66
     Ibid, p. 45.
  67
     “Roma falou, encerrada a questão!”. Ibid, p. 46.
  68
     Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 64.

                                                                                                        18
reforma surgiram diferenças na Liturgia existente, começando a existir distinções, que
resultou numa Liturgia Romana (Rito Romano propriamente dito) e Liturgia Galicana
(Rito Galicano).
      O Rito Galicano recebeu este nome por causa do seu uso muito comum em toda a
França, então designada de Gália. É semelhante aos Ritos Orientais, mas é de essência
puramente romana. Foi formado entre os séculos IV e VIII e apresenta algumas
semelhanças com o Rito Lionês e foi supresso pelo Rito Romano no século IX e abolido
por Carlos Magno.69 Do Rito Galicano surgiram as Liturgias Celta, Africana, Moçárabe e
Ambrosiana70.
        Os Ritos Célticos são muito antigos e pouco conhecidos.71 O Rito Moçárabe foi
formado na Península Ibérica e foi substituído pelo Rito Romano no século VI. Antes do
Concílio de Trento ele foi restaurado e esta versão é usada pelo cabido do Corpus Christe,
na Sé de Toledo.72 O Rito Ambrosiano foi formado entre os séculos IV e VIII, no norte da
Itália, tendo recebido muita influência romana a partir do século IX. É usado na
Arquidiocese de Milão e em algumas paróquias de Lugano, Bergamo e Novara.73
      Entenderemos melhor essa primeira diversidade do Rito Romano com a seguinte
representação:

                                                    Ritos principais                           Divisão


                                              • Rito Romano


       RITOS OCIDENTAIS                                                         - Ritos Célticos
                                              • Rito Galicano
                                                                                - Rito Africano

                                                                                - Rito Moçárabe

                                                                                - Rito Ambrosiano


       Porém, no Ocidente sempre predominou o Rito Romano, ou seja, o Rito usado na
Igreja fundada por São Pedro em Roma. Ele foi sempre a Liturgia mais comum. A
respeito disso o Papa Inocêncio I (+ 419) escreve:
                                É manifesto que ninguém em toda a Itália, Gália, Espanha, África e ilhas
                        adjacentes fundou igrejas, senão as que o Apóstolo Pedro ou seus sucessores
                        estabeleceram como bispos. Daí se segue que estes tem de guardar o que guarda a
                        Igreja Romana, da qual, sem dúvida, tiram sua origem.74
     Mas para chegar a ser o mais belo tesouro litúrgico da Igreja Católica o Rito
Romano conheceu várias etapas de solidificação. Do ano 100 ao ano 400 ainda era comum

      69
         Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49.
      70
         Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 64.
      71
         Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 50
      72
         Idem.
      73
         Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49
      74
         INOCENCIO I, Eisenhorfer, p. 31-39 e Gatterer. Ann. Lit. p. 31. apud J. B. REUS, Curso de Liturgia, n. 58, p.
35.

                                                                                                                   19
a “improvisação”75, mas propriamente a inspiração, conforme os costumes provindos dos
Apóstolos. Assim, como a priori não existiam livros litúrgicos, os sacerdotes tinham que
decorar as orações principais da Santa Missa, sobretudo aquelas que dariam origem ao
grande Cânon Romano, e os gestos comuns de cada cerimônia. Do ano 400 ao ano 700
surgem na Igreja os primeiros sacramentários, eles continham o Cânon da Santa Missa e
outras orações mutáveis do oficio76. Nesse período o Rito Romano já se encontra todo
fixo, ou seja, as principais funções litúrgicas, textos e orações já se encontram
estabelecidos e solidificados. O primeiro dos sacramentários foi o leonino com 175 textos
litúrgicos77. Depois veio o sacramentário gelasiano, por volta do século V, tendo por autor
provavelmente o Papa Gelásio (+ 496)78. São Gregório Magno (+ 604) compôs o
sacramentário que depois foi chamado gregoriano, no qual prescreveu uma única oração
por dia, 10 prefácios e acrescentou alguns ofícios79. De São Gregório em diante os livros
litúrgicos sofreram poucas modificações rituais significativas.
       Depois dessa “consolidação” do Rito Romano a Igreja decidiu, do ano 700 ao ano
1500, unificar o Rito em todo o mundo católico (lembrando que, paralelamente ao Rito
Romano aqueles outros Ritos litúrgicos foram se desenvolvendo em diversos lugares no
mundo80). Este período foi a época da generalização da Liturgia da Igreja Católica. Para
tanto, São Gregório iniciou uma grande campanha de difusão do Rito Romano no
mundo. Assim ele enviou Santo Agostinho, monge beneditino, com 40 companheiros, no
ano 597, para implantarem o Rito Romano na Inglaterra. Depois enviou São Vilibrordo e
outros missionários ingleses para a Frísia. Santo Ansgário foi enviado para a Dinamarca e
para a Suécia; depois o mesmo Santo Ansgário seguiu com São Bonifácio para a Alemanha
e o país dos francos. Os monges beneditinos de Cluni propagaram o Rito Romano nos
reinos da península ibérica.
        Deste modo, nesses lugares o Rito recebido dos Apóstolos e guardado por Roma
substituiu os Ritos Galicano e Moçárabe81. Houve, então, um período de estabilidade
litúrgica romana.




                                                      Capítulo 5
                             O RITO ROMANO A PARTIR DO PAPA PIO V


       Já sabemos, até aqui, mais ou menos o percurso geral do Rito Romano, assim como
a importância de figuras, como São Gregório, que contribuíram fundamentalmente para
o desenvolvimento da Liturgia romana. Na verdade São Gregório foi o responsável, de
certo modo, pela Liturgia que a Igreja conhece hoje.



   75
      Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 62, p. 37. Não se deve entender esta improvisação como a entendemos em
nosso tempo, mas como uma inspiração divina para dirigir a Deus orações que seguem uma tradição de gestos e
sentidos.
   76
      Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 63, p. 37.
   77
      Ibid n. 63.1, p. 37.
   78
      Ibid n. 63.2, p. 37.
   79
      Ibid n. 63.3, p. 37-38.
   80
      Conferir sobre os Ritos acima.
   81
      Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 64, p. 38; M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49.

                                                                                                              20
Agora vamos continuar essa pequena apresentação com outra figura muito
importante para a perpetuidade dum Rito puro e venerável: São Pio V.


        I. Pedido pela unificação litúrgica
        Até aqui (pouco antes de 1500) os sacramentários traziam apenas textos para as
Missas solenes. Porém, as Missas privadas tornavam-se costume. Por isso, começaram a
existir muitas diferenças na Liturgia tanto nos países como nas Igrejas Particulares, o que
fez surgir pedido de unificação litúrgica para toda a Igreja.
       A estabilidade que o Rito Romano alcançou até o ano 1500 não significou a
suplantação dos outros Ritos católicos, que eram muitos. Pelo ano 1517 o monge
agostiniano Martinho Lutero se revoltou contra a Igreja em relação a vários pontos,
sobretudo na doutrina e na Liturgia, tais como: a Transubstanciação, a Presença Real, as
Indulgências, a realidade sacrifical da Missa etc.
      Por isso, quando da convocação e realização do Sagrado e Dogmático Concílio
Ecumênico de Trento, muitos bispos e cardeais se dirigiram ao Papa intensificando o
pedido de que existisse um único Rito para toda a Igreja, ou seja, livros próprios e
comuns a toda a Igreja.
       Então, depois de longos anos de trabalhos de alguns Pontífices e dos Padres no
Concilio de Trento, o Papa São Pio V decidiu unificar o Rito litúrgico em toda a Igreja
Católica. Para isso ele codificou, ou seja, reorganizou o que já existia no Rito Romano,
levando em conta a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério da Igreja, e fez do Rito da
Igreja de Roma o Rito universal da Igreja Católica no mundo inteiro. Então, para
consumar a unificação o Papa São Pio V publicou, em 1568, o novo Breviário82 e, em 1570,
o novo Missal no qual codificava o Rito Romano de modo perpétuo83.


        II. A bula Quo Primum Tempore do Papa São Pio V
      Desta unificação litúrgica é interessante conhecermos o documento papal que
promulgou o Missal codificado por São Pio V. A Bula Quo Primum Tempore tem suma
importância, por isso apresentamos uma versão do texto na íntegra, com alguns grifos
destacando partes essenciais da perpetuidade desta promulgação. Eis o texto:

                                                      PIO BISPO
                                               Servo dos Servos de Deus
                                                Para perpétua memória

        1 - Desde que fomos elevados ao ápice da Hierarquia Apostólica, de bom grado aplicamos nosso
zelo e nossas forças e dirigimos todos os nossos pensamentos no sentido de conservar na sua pureza tudo o
que diz respeito ao culto da Igreja; o que nos esforçamos por preparar e, com a ajuda de Deus, realizar com
todo o cuidado possível.
        2 - Ora, entre outros decretos do Santo Concílio de Trento cabia-nos estabelecer a edição e
correção dos livros santos: Catecismo, Missal e Breviário.

   82
      Liturgia das Horas.
   83
       Perpetuidade aqui não quer dizer imutabilidade (ao menos não nos elementos humanos), mas permanente,
sempre em vigor. Prova disso é o Summorum Pontificum do Papa Bento XVI. Foram editados posteriormente outros
livros litúrgicos como: martyrologicum romanum, em1584, Gregório XIII; pontificale romanum, 1596; caerimoniale
episcoporum, em 1600; rituale romaum, em 1614; diversos livros de cantos sacros; instructio clementino, 1735 (Cf.
J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 71-73, p. 40-42).

                                                                                                              21
3 - Com a graça de Deus, já foi publicado o Catecismo, destinado à instrução do povo, e corrigido o
Breviário, para que se tributem a Deus os devidos louvores. Outrossim, para que ao Breviário
correspondesse o Missal, como é justo e conveniente (já que é soberanamente oportuno que, na Igreja de
Deus, haja uma só maneira de salmodiar e um só rito para celebrar a Missa), parecia-nos necessário
providenciar, o mais cedo possível, o restante desta tarefa, ou seja, a edição do Missal.
         4 - Para tanto, julgamos dever confiar este trabalho a uma comissão de homens eruditos. Estes
começaram por cotejar cuidadosamente todos os textos com os antigos de nossa Biblioteca Vaticana e
com outros, quer corrigidos, quer sem alteração, que foram requisitados de toda parte. Depois, tendo
consultado os escritos dos antigos e de autores aprovados, que nos deixaram documentos relativos à
organização destes mesmos ritos, eles restituíram o Missal propriamente dito à norma e ao rito dos Santos
Padres.
         5 - Este Missal assim revisto e corrigido, Nós, após madura reflexão, mandamos que seja
impresso e publicado em Roma, a fim de que todos possam tirar os frutos desta disposição e do trabalho
empreendido, de tal sorte que os padres saibam de que preces devem servir-se e quais os ritos, quais as
cerimônias, que devem observar doravante na celebração das Missas.
         6 - E a fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa
Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e
para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal
publicado por Nós, em todas as Igrejas: nas Igrejas Patriarcais, Catedrais, Colegiais, Paroquiais, quer
seculares quer regulares, de qualquer Ordem ou Mosteiro que seja, de homens ou de mulheres, inclusive os
das Ordens Militares, igualmente nas Igrejas ou Capelas sem encargo de almas nas quais a Missa
conventual deve, segundo o direito ou por costume, ser celebrada em voz alta com coro, ou em voz baixa,
segundo o rito da Igreja Romana, ainda quando estas mesmas Igrejas, de qualquer modo isentas, estejam
munidas de um indulto da Sé Apostólica, de costume, de um privilégio, até de um juramento, de uma
confirmação apostólica ou de quaisquer outras espécies de faculdades. A não ser que, ou por uma
instituição aprovada desde a origem pela Sé Apostólica, ou então em virtude de um costume, a
celebração destas Missas nessas mesmas Igrejas tenha um uso ininterrupto superior a 200 anos. A
estas Igrejas Nós, de maneira nenhuma, suprimimos nem a referida instituição, nem seu costume de
celebrar a Missa; mas, se este Missal que acabamos de editar lhes agrada mais, com o consentimento do
Bispo ou do Prelado, junto com o de todo Capítulo, concedemos-lhes a permissão, não obstante quaisquer
disposições em contrário, de poder celebrar a Missa segundo este Missal.
         7 - Quanto a todas as outras sobreditas Igrejas, por Nossa presente Constituição, que será
válida para sempre, Nós decretamos e ordenamos, sob pena de nossa indignação, que o uso de seus
missais próprios seja supresso e sejam eles radical e totalmente rejeitados; e, quanto ao Nosso presente
Missal recentemente publicado, nada jamais lhe deverá ser acrescentado, nem supresso, nem
modificado. Ordenamos a todos e a cada um dos Patriarcas, Administradores das referidas Igrejas, bem
como a todas as outras pessoas revestidas de alguma dignidade eclesiástica, mesmo Cardeais da Santa
Igreja Romana, ou dotados de qualquer outro grau ou preeminência, e em nome da santa obediência,
rigorosamente prescrevemos que todas as outras práticas, todos os outros ritos, sem exceção, de outros
missais, por mais antigos que sejam, observados por costume até o presente, sejam por eles absolutamente
abandonados para o futuro e totalmente rejeitados; cantem ou rezem a Missa segundo o rito, o modo e a
norma por Nós indicados no presente Missal, e na celebração da Missa, não tenha a audácia de acrescentar
outras cerimônias nem de recitar outras orações senão as que estão contidas neste Missal.
         8 - Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula,
concedemos e damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer
Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente,
sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e
censura, e isto para sempre.
         9 - Da mesma forma decretamos e declaramos que os Prelados, Administradores, Cônegos,
Capelães e todos os outros Padres seculares, designados com qualquer denominação, ou Regulares, de
qualquer Ordem, não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que o por Nós ordenado; nem
sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a modificar o presente Missal, e a presente Bula não
poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e
válida, em toda a sua força.
         10 - Não obstante todas as decisões e costumes contrários anteriores, de qualquer espécie:
Constituições e Ordenações Apostólicas, ou Constituições e Ordenações, tanto gerais como especiais,
publicadas em Concílios Provinciais e Sinodais; não obstante também o uso das Igrejas acima enumeradas,

                                                                                                         22
ainda que autorizado por uma prescrição bastante longa e imemorial, mas que não remonte a mais de 200
anos.
         11 - Queremos e, pela mesma autoridade, decretamos que, depois da publicação de Nossa
presente Constituição e deste Missal, todos os padres sejam obrigados a cantar ou celebrar a Missa
de acordo com ele: os que estão na Cúria Romana, após um mês; os que habitam aquém dos Alpes, dentro
de três meses; e os que habitam além das montanhas, após seis meses ou assim que encontrem este Missal à
venda.
         12 - E para que em todos os lugares da Terra este Missal seja conservado sem corrupção e isento de
incorreções e erros, por nossa Autoridade Apostólica e em virtude das presentes, proibimos a todos os
impressores domiciliados nos lugares submetidos, direta ou indiretamente, à Nossa autoridade e à Santa
Igreja Romana, sob pena de confiscação dos livros e de uma multa de 200 ducados de ouro, pagáveis à
Câmara Apostólica, bem como aos outros domiciliados em qualquer outro lugar do mundo, sob pena de
excomunhão ipso facto e de outras penas a Nosso alvitre, se arroguem, por temerária audácia, o direito de
imprimir, oferecer ou aceitar esta Missa, de qualquer maneira, sem nossa permissão, ou sem uma licença
especial de um Comissário Apostólico por Nós estabelecido, para estes casos, nos países interessados, e
sem que antes, este Comissário ateste plenamente que confrontou com o Missal impresso em Roma,
segundo a impressão típica, um exemplar do Missal destinado ao mesmo impressor, que lhe sirva de
modelo para imprimir os outros, e que este concorda com aquele e dele não difere absolutamente em nada.
         13 - E como seria difícil transmitir a presente Bula a todos os lugares do mundo cristão e levá-
la imediatamente ao conhecimento de todos, ordenamos que, segundo o costume, ela seja publicada e
afixada às portas da Basílica do Príncipe dos Apóstolos e da Chancelaria Apostólica, bem como no
Campo de Flora. Ordenamos igualmente que aos exemplares mesmo impressos desta Bula, subscritos pela
mão de um tabelião público e munidos, outrossim, do Selo de uma pessoa constituída em dignidade
eclesiástica, seja dada, no mundo inteiro, a mesma fé inquebrantável que se daria à presente, caso mostrada
ou exibida.
         14 - Assim, portanto, que a ninguém absolutamente seja permitido infringir ou, por temerária
audácia, se opor à presente disposição de nossa permissão, estatuto, ordenação, mandato, preceito,
concessão, indulto, declaração, vontade, decreto e proibição.
         Se alguém, contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições, saiba que incorrerá
na indignação de Deus Todo-poderoso e de seus bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.
                                        Dado em Roma perto de São Pedro,
                             no ano da Encarnação do Senhor mil quinhentos e setenta,
                                  no dia 14 de Julho, quinto de Nosso Pontificado


        III. Depois da unificação do Rito Romano
        Com a Quo Primum Tempore o Missal que sempre fora usado em Roma e
reformado tornou-se a regra para a celebração da Santa Missa. Toda a Igreja Católica
passou então a usar os dois novos livros litúrgicos, como expressão da unificação
litúrgica da Igreja de Jesus Cristo. Assim, o Rito, que já existia na Igreja Romana e foi
codificado pelo Sumo Pontífice São Pio V84, tornou-se o Rito Ordinário da Igreja Católica
(Ordinário não porque existisse outro Rito para toda a Igreja, mas porque tornou-se a
regra). Ele substituiu todos os outros, com exceção dos que já estavam em “uso
ininterrupto superior a 200 anos”.
       Por causa desta exceção muitas instituições como dioceses e ordens religiosas
tiveram seus ritos próprios salvos. Destas algumas preferiram aderir ao Missal Romano.
O Cardeal Antônio Cañizares Llovera, em entrevista na qual falava sobre uma Missa
celebrada por ele no Rito Moçarabe na Catedral de Toledo, disse:

   84
      Esta codificação valerá a São Pio V o fato de muitas vezes, sobretudo hoje, a Santa Missa neste Rito ser
chamada “Missa de São Pio V”. Porém, segundo o pensamento litúrgico de nossos dias, como as cerimônias mais
antigas da Santa Missa foram introduzidas ou organizadas durante o Pontificado do Papa São Dâmaso (+ 384) e do
Papa São Gregório Magno (+ 604), é melhor que se diga “Missa [ou liturgia ou Rito] dâmaso-gregoriana” ou ainda
“Missa Gregoriana”, como também já é costume.

                                                                                                           23
Com efeito, todos os dias na Catedral de Toledo celebra-se a Missa e recitam-
                    se as laudes, também segundo este antiquíssimo rito que sobreviveu à reforma
                    tridentina. É preciso recordar, de fato – e isso não agrada a algumas pessoas – que o
                    chamado Missal de São Pio V não aboliu todos os Ritos precedentes. Foram “salvos”
                    os Ritos que podiam contar com ao menos dois séculos de história. E o Rito Moçárabe
                    – junto com o, por exemplo, Rito próprio da ordem dominicana – estava entre estes.
                    Assim depois do Concílio de Trento não houve uma absoluta uniformidade na liturgia
                    da Igreja Latina.85

       Dentre as instituições ou Ritos conservados pela exceção da Bula estão: o Rito
Beneditino ou Monástico, rezado pela Ordem de São Bento e outras que seguem a Regra
beneditina; o Rito Cisterciense, rezado pela Ordem Cisterciense; o Rito Carmelitano ou
Hierosolimitano, rezado pela Ordem do Carmelo, os monges carmelitas observantes; o
Rito Dominicano, semelhante ao Rito Carmelitano, rezado pela Ordem dos Pregadores, de
São Domingos; o Rito Cartusiano, semelhante ao Rito Romano, rezado pela Ordem
Cartuxa; o Rito Premonstratense, rezado pela Ordem Premonstratense, cônegos regulares;
o Rito de Braga, rezado na Arquidiocese de Braga; o Rito de Lyon (ou Lião)86, próprio da
Diocese de Lião, na França; o Rito Ambrosiano e o Rito Moçárabe.
      Estes Ritos que foram conservados não são antagônicos ao Romano, mas um
patrimônio das suas respectivas instituições. Não são uma oposição à regra universal,
mas manifestação do único e mesmo Rito Romano, pois todos, uns mais outros menos,
foram constituídos e formados na tradição romana. Por isso, são para a Igreja um
verdadeiro tesouro espiritual e como tal devem ser tomados.
      De acordo com tudo o que dissemos sobre a Quo Primum Tempore podemos fazer a
seguinte demonstração sobre a situação dos Ritos da Igreja Latina:87
                                          Rito principal                    Ritos salvaguardados
                                                                       - Rito Beneditino
                                                                       - Rito Cisterciense
                                                                       - Rito Camelitano
        RITOS LATINOS                                                  - Rito Dominicano
           Ocidentais                   • Rito Romano                  - Rito Cartusiano
                                                                       - Rito Premonstratense
                                                                       - Rito Bracarense
                                                                       - Rito de Lionês
                                                                       - Rito Moçárabe
                                                                       - Rito Ambrosiano

       Estes Ritos particulares de Ordens e Dioceses são, de fato, particulares, ou seja, são
usados somente por seus respectivos fiéis e religiosos. Hoje são pouco usados, mas
resistem ao tempo e às reformas.


   85
       http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=20609
   86
       Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 67; A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 66; M. PINTO, O valor
teológico da Liturgia, p. 48-50.
    87
       Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 66; M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 48-50.

                                                                                                        24
Em 1588 o Papa Sisto V instituiu a Congregação para os Ritos, que seria
responsável pela fiscalização e desenvolvimento do Rito Romano88 e regulamentação dos
outros ritos católicos. Esta Congregação teve grande e importante papel na Santa Igreja
até a alguns anos atrás quando foi extinta, no pós Vaticano II.
      Houve ainda algumas modificações no Breviário realizadas pelo Papa São Pio X,
na edição de 1914 e no Missal, na edição de 1920, mas nada que modificasse o Rito
Romano em si ou que incorresse na “indignação de Deus Todo-poderoso e de seus Bem-
Aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo”.
       Mas recentemente o Beato e Papa João XXIII fez uma revisão geral no Missal de
São Pio V, com algumas correções e acréscimos, porém, sem nenhuma mudança
substancial, e o reeditou com a Carta Apostólica dada Motu Próprio sobre as Novas
Rubricas do Breviário e da Missal Romano, em 25 de julho de 1960. É este Missal Romano
que é atualmente usado na Liturgia de Sempre. Esta reforma no Missal de Pio V valeu ao
Santo Padre João XXIII ter o seu nome unido ao Missal de tal forma que, apesar de ainda
se falar Missal de São Pio V, é costume dizer-se Missal de João XXIII ou Missal do Beato João
XXIII.
     Alertamos que o que dissemos (e ainda diremos) aqui é apenas um breve resumo
de uma história multissecular, que deveria ser conhecida por todos os ditos católicos.
       Terminando esta primeira parte é oportuno que fixemos melhor o
desenvolvimento do Ordinário da Santa Missa no Rito Romano. Portanto, lembramos
que os primeiros cristãos cristianizaram cerimônias judaicas89 e que nos primeiros séculos
do cristianismo a Liturgia cristã foi gradativamente se desenvolvendo90 e depois o Papa
São Pio V codificou o Rito Romano; podemos, então, fazer a seguinte sinopse sobre a
Santa Missa no Rito Romano:91

    RITO DA             RITO ROMANO         RITO ROMANO       RITO ROMANO      RITO ROMANO
   SINAGOGA             NO SÉCULO II        NO SÉCULO IV      NO SÉCULO VII   NA CODIFICAÇÃO
                                                                              - Judica
                                                                              - Confiteor
- Orações                                                    - Intróito       - Intróito
                                                             - Kyrie          - Kyrie
                                                             - Glória         - Glória
                                                             - Collecta       - Collecta
- 1ª Leitura: Torá     - 1ª Leitura        - 1ª Leitura      - 1ª Leitura     - Epistola (Lectio)
              Salmo    (Antigo             (Antigo           (Epistola dos
                       Testamento)         Testamento)       Apóstolos)
                       Salmo               Salmo
                                           - 2ª Leitura      - Responsório    - Responsório
                                           (Novo             - Aleluia        - Aleluia
                                           Testamento:
                                           Epístola) Salmo
2ª Leitura: Profecia   - 2ª Leitura        - 3ª Leitura      - 2ª Leitura     - Evangelho
                       (Novo               (Evangelho)       (Evangelho)
                       Testamento)
- Pregação             - Sermão            - Sermão          - Sermão         - Sermão


   88
      Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 65, p. 38.
   89
      Conferir Capítulo 2, I acima.
   90
      Conferir capítulo 2, II-III, acima.
   91
      Conforme A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 199.

                                                                                                    25
- Despedida dos                          - Credo
                     catecúmenos          - Oremus            - Oremus
- Oração dos fiéis   - Oração dos fiéis
- Ósculo da paz      - Ósculo da paz      - Ablução das       - Ablução das mãos
                     - Ablução das        mãos                - Oferenda do povo
                     mãos                 - Oferenda do       - Elevação dos dons
- Oferenda do        - Oferenda do        povo
povo                 povo                 - Segunda ablução
                                          das mãos
                                                              - Orações do
                                                              ofertório
                                                              - Incenso
                                                              - Ablução das mãos
                                          - Secreta           - Secreta
- Oração             - Oração             - Oração            - Oração Eucarística
Eucarística          Eucarística          Eucarística         - Pater noster
                                          - Pater noster      - Fração do Pão
                     - Litania                                - Agnus Dei
                     (Ladainha)           - Ósculo da paz     - Ósculo da paz
                                          - Fração do Pão     - Preparação para a
                                          - Agnus Dei         Comunhão

- Comunhão           - Comunhão           - Comunhão          - Comunhão
                     - Salmo 33           - Canto da          - Canto da
                     - Ação de Graças     Comunhão            Comunhão
                                          - Ação de Graças    - PostCommunio
                     - Benção             - Benção            - Benção
                                                              - Último Evangelho




                                                                                26
SEGUNDA PARTE:
            A SANTA MISSA NO RITO ROMANO92




   92
      É bom que todos fiquem atentos para o fato de, até aqui e adiante, estarmos falando do Rito Gregoriano como
sendo o Rito Romano, o Rito Ordinário da Igreja Ocidental, porém, isto é apenas cronologicamente, ou seja, estamos
nos referindo ao Rito Gregoriano na história da Igreja. Atualmente este Rito é na Igreja a Forma Extraordinária do
Rito Romano (sobre isto ainda falaremos).

                                                                                                               27
Capítulo 6
                                         VISÃO GERAL


         I. Estrutura geral da Santa Missa
       Para facilitar o entendimento da Missa no Rito Romano é bom termos uma visão
geral do Rito. Então, de início, precisamos entender que a Santa Missa é dividida em duas
grandes partes: a Ante-Missa (ou Missa dos Catecúmenos) e a Missa dos Fiéis. Vejamos o
esquema geral:
         1ª parte: - ANTES DO SACRIFÍCIO (Missa dos Catecúmenos) = do intróibo ao
credo.




      2ª parte: - O SACRIFÍCIO (Missa dos Fiéis) = composta pelo ofertório, cânon e
comunhão.




              - DEPOIS DO SACRIFÍCIO = acontece a despedida, benção e o último
Evangelho.




      Porém, existe ainda uma outra parte que não está incluída no Ordinário da Missa,
mas que é facultativa: são as Orações Finais. Elas são geralmente rezadas no fim da Santa
Missa rezada.



                                                                                      28
II. Classificação das Missas93
        O Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo perpetuado no altar é sempre o mesmo,
independentemente da forma que seja celebrada a Santa Missa. Porém, tratando-se do
Sacrifício de Cristo a Igreja conserva antigas formas de celebrar a Santa Missa. Em todas
elas o que sempre deve acontecer é aquilo que prescreve a Santa Igreja nos livros
litúrgicos e a reta intenção do celebrante. Dependendo do grau de solenidade a Missa
pode ser classificada como: solene, cantada ou rezada.
       A Missa solene, celebrada por um bispo, é a forma mais festiva e antiga da Santa
Missa na Igreja. É chamada Missa Pontifical, por ser celebrada pelo bispo, sucessor dos
Apóstolos. A Missa Pontifical tem sua origem no fato de o bispo celebrar rodeado de todo
o seu clero (presbíteros, diáconos e subdiáconos), na época em que só existiam as
catedrais94, onde residia o bispo e os presbíteros. Como não havia concelebração os
presbíteros participavam da Missa do seu bispo. Na Missa Pontifical o bispo é assistido
mais ou menos por trinta e seis ministros (desde presbíteros até os servos mais
inferiores). Esta Missa é cantada e nela o coro e os fiéis participam mutuamente pelo
canto. A Missa Pontifical é a mais solene forma do Santo Sacrifício.
       Quando, porém, as dioceses cresceram juntamente com o número de fiéis, os
presbíteros passaram a celebrar sozinhos, isto é, sem o bispo, em matrizes distantes da
catedral, pois os fiéis não conseguiam mais, por conta da distância e carência de
transporte, participar da Missa Pontifical. Esta Missa celebrada pelos presbíteros é que
deu origem, de certo modo,95 à Missa solene e à Missa cantada (ou Missa Paroquial)
celebrada pelo presbítero.
        A Missa solene do presbítero é uma redução ou adaptação da Missa Pontifical.
Cresceu rapidamente com a contribuição das congregações e ordens que, na celebração
comunitária, contava com grande número de presbíteros e ministros. Nesta o coro e os
fiéis tem grande papel no canto sagrado.
      A Missa cantada ou paroquial é uma redução da Missa solene. Nela o sacerdote
canta sem a assistência dos ministros, por isso ele desempenha todas as funções do
diácono e subdiácano (seja pela própria função seja por um gesto ou sinal que os
representem). O sacerdote é assistido apenas por dois acólitos e algumas cerimônias,
como procissão do Evangelho e a incensação, são suprimidas.
       Com o crescimento do número de sacerdotes (nos mosteiros, conventos e dioceses)
e das confrarias de fiéis e outras circunstâncias começou-se a ter a necessidade de muitas
Missas em vários lugares. Nem sempre se dispunha de coro e ministros suficientes para o
serviço. Então os sacerdotes começaram a rezar a Santa Missa, sem o coro
(consequentemente sem canto), com a assistência de um só ministro e até sem a
assistência de fiéis. Assim, quando os sacerdotes celebravam a forma da Missa com a
assistência dos fiéis ela era denominada Missa rezada e quando a celebrava sem a
assistência dos fiéis era denominada Missa privada.
      Esta forma de rezar a Santa Missa difundiu-se logo, tanto a rezada como a privada,
e, como não tinha canto nem ministros para as funções realizadas na Missa solene e
cantada, o sacerdote passou a rezar as partes que antes eram cantadas.
   93
      Cf. A. FRANÇOIS, Participação Ativa na Missa, p. 84-86; A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 200-202.
   94
      É como se a diocese de um bispo fosse uma grande paróquia. Alias por essa época ainda não existiam as
paróquias.
   95
      Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 201.

                                                                                                         29
Depois dessa Missa rezada se tornar costume os sacerdotes começaram na Missa
solene e cantada, rezar as partes que eram executas pelos fiéis ou pelo coro, tal como ele
faz na Missa rezada. Esta é a explicação, por exemplo, de o sacerdote rezar partes que
estão sendo cantadas ou dele rezar sozinho o que será rezado pela assistência.




                                                     Capítulo 7
                      ORDINÁRIO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO96


       Depois de termos visto a trajetória do Rito Romano e conhecido um pouco de sua
formação, vamos agora continuar a conhecê-lo através do Ordinário da Santa Missa que foi
codificado por São Pio V e reformado pelo Beato João XXIII. Alías, este é o Ordinário
usado até hoje em nossa Santa Igreja.
       No que se segue as letras em vermelho são as rubricas, os números vermelhos
indicam uma posterior explicação e as partes em negrito (cor preta) são as partes próprias
dos fiéis.




   96
      Este ordinário está corrigido conforme o Missal Romano Quotidiano: Latim-Português de Dom Gaspar Lefebvre
(para Portugal).

                                                                                                            30
I. PREPARAÇÃO

       De pé, diante dos degraus do altar, o celebrante começa a Missa, fazendo o sinal da cruz:
     In nomine Patris, + et Filii, et                     Em nome do + Pai e do Filho e do
Spiritus Sancti. Amen.1                              Espírito. Amém
     Ant. Introibo ad altare Dei.                        Ant. Vou me aproximar do altar de
                                                     Deus.

    R. Ad Deum               qui    lætificat            R. Do Deus que é a alegria da
juventutem meam.                                     minha juventude.

     ______________
      1 – Todos se persigam juntamente com o celebrante. Estas primeiras orações de preparação
pública do sacerdote (e da assistência) são comumente chamadas de orações ao pé do altar, pelo
fato de serem rezadas diante do altar.

     Salmo 42 2

     Judica me, Deus, et discerne                        Fazei-me justiça, ó Deus, e tomai a
causam meam de gente non sancta: ab                 defesa da minha causa contra a gente
homine iniquo et doloso erue me.                    desapiedada; do homem iníquo livrai-
                                                    me, Senhor.
     R. Quia tu es, Deus, fortitudo mea:                 R. Pois vós, ó Deus, sois a minha
quare me repulisti, et quare tristis                fortaleza, por que então me haveis
incedo, dum affligit me inimicus?                   repelido? Por que ando eu assim triste,
                                                    oprimido pelo inimigo?
      Emitte lucem tuam et veritatem                     Enviai-me a vossa luz e a vossa
tuam:     ipsa    me   deduxerunt  et               verdade; que me guiem e me conduzam
adduxerunt in montem sanctum tuum,                  até à vossa montanha santa, até à vossa
et in tabernacula tua.                              morada.

   R. Et introibo ad altare Dei: ad                     R. E eu vou me aproximar do altar
Deum qui lætificat juventutem meam.                 de Deus, do Deus que é a alegria da
                                                    minha juventude.
     Confitebor tibi in cithara Deus,                    Eu vos louvarei ao som da cítara,
Deus meus: quare tristis es anima mea,              Senhor, meu Deus. E tu, minha alma,
et quare conturbas me?                              por hás-de estar triste e por que
                                                    alvoroçar-te dentro de mim?
     R. Spera in Deo, quoniam adhuc                     R. Espera em Deus, que uma vez
confitebor illi: salutare vultus mei, et            mais quero enaltecer, a Ele, salvação
Deus meus                                           minha e meu Deus.

     Gloria Patri, et Filio, et Spiritui                 Glória ao Pai e ao Filho e ao
Sancto.                                             Espírito Santo




                                                                                                   31
R. Sicut erat in principo, et nunc,                  R. Assim como era no princípio e
et semper: et in sæcula sæculorum.                   agora e sempre, e por todos os séculos
Amen.                                                dos séculos. Amém.
     ___________________________________
      2 – Este salmo manifesta o desejo do sacerdote celebrante em unir-se a Jesus e lembra a
espera do povo no Antigo Testamento que desejava a vinda do Servo de Deus (o Cristo). Foi
introduzido no século XI. Por ser um canto de alegria é omitido nas Missas pelos defuntos,
requie, e no tempo da Paixão do Senhor. Neste salmo o sacerdote é identificado com Davi que o
compôs.

     Repete a Antífona:
     Introibo ad altare Dei.                           Vou me aproximar do altar de
                                                   Deus.

    R. Ad Deum             qui    lætificat            R. Do Deus que é alegria da
juventutem meam.                                   minha juventude.

   Adjutorium + nostrum in nomine                       O nosso + auxílio está em nome
Domine.                                            do Senhor.

     R. Qui fecit caelum et terram.                      R. Que fez o Céu e a Terra.


     Profundamente inclinado, o celebrante diz o Confiteor, e depois dele, os assistentes.
     Confiteor Deo omnipotenti, etc. 3                     Eu pecador me confesso, etc.
     R. Misereatur tui omnipotens                          R. Que o Deus onipotente se
Deus, et dimissis peccatis tuis, perducat            compadeça de ti, perdoe os teus pecados
te ad vitam æternam. 4                               e te conduza à vida eterna.
     Celebrante: R. Amen                                   Celebrante: R. Amém

     Os assistentes dizem o Confiteor: 5a
     Confiteor Deo omnipotenti, beatæ                     Eu, pecador, me confesso a Deus
Mariæ semper Virgini, beato Michæli                  todo-poderoso, à Bem-Aventurada
Archangelo, beato Joanni Baptistæ,                   sempre Virgem Maria, ao Bem-
sanctis Apostolis Petro et Paulo,                    Aventurado São Miguel Arcanjo, ao
omnibus Sanctis, et tibi, pater: quia                Bem-Aventurado São João Batista, aos
peccavi nimis cogitatione, verbo, et                 Santos Apóstolos São Pedro e São
opere: [percutiunt sibi pectus ter, dicentes]:       Paulo, a todos os Santos, e a vós, padre,
mea culpa, mea culpa, mea maxima                     que    pequei muitas vezes por
culpa.                                               pensamentos, palavras e obras, [bate três
                                                     vezes no peito] por minha culpa, minha
                                                     culpa, minha grande culpa.
    Ideo precor beatam Mariam                             Portanto, rogo à Bem-Aventurada
semper Virginem, beatum Michælem                     Virgem Maria, ao Bem-Aventurado São
Archangelum,      beatum      Joannem                Miguel Arcanjo, ao Bem-Aventurado
Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et               São João Batista, aos Santos Apóstolos
Paulum, omnes Sanctos, et te, pater,                 São Pedro e São Paulo, a todos os


                                                                                             32
orare pro me ad Dominum Deum                       Santos, e a vós, padre, que rogueis por
nostrum.                                           mim a Deus Nosso Senhor.




     Celebrante:
    Misereatur vestri omnipotens                      Que o Deus onipotente se
Deus, et dimissis peccatis vestris,               compadeça de vós, perdoe os vossos
perducat vos ad vitam æternam.                    pecados e vos conduza à vida eterna.
     R. Amen.                                          R. Amém.

     Fazendo o sinal da cruz, o celebrante diz:
     Indulgentiam 5b + absolutionem,                  Perdão +, absolvição e remissão
et      remissionem      peccatorum               dos nossos pecados, nos conceda o
nostrorum, tribuat nobis omnipotens               Senhor onipotente e misericordioso.
et misericors Dominus:
     R. Amen.                                          R. Amém.
     _______________
      3 – O sacerdote celebrante, demonstrando humildade e preparando-se convenientemente
para conceder o perdão de Deus aos fiéis, pede, ele mesmo, antes o perdão de Deus rezando
sozinho o confiteor. O confiteor é a parte mais antiga e mais essencial das Orações ao Pé do
Altar. É uma oração de acusação geral dos próprios pecados; com ele pede-se perdão a Deus por
ousar celebrar o tremendo Sacrifício do altar, visto que o homem já nasceu no pecado.
Substancialmente o confiteor já era rezado no século XI.
      4 – Os assistentes unem-se à oração do sacerdote suplicando a Deus para que os pecados de
Seu ministro sejam perdoados. Esse é o primeiro grande fato que evidencia a participação dos
fiéis na Santa Missa, entendida como “o fazer”, ou seja, os assistentes ou os fiéis não são
passivos, como muitos pensam, eles (seja com esta e outras orações ou pela união com o
sacerdote) participam do Santo Sacrifício de modo ativo, porém, diferentemente do sacerdote.



                                                                                            33
5a – Depois os próprios assistentes, com ou sem os fiéis, rezam o confiteor e recebem do
sacerdote a mesma “oração de intercessão”.
      5b – É importante perceber que esta oração é totalmente diferente da misereatur, tendo
também uma finalidade diferente: a misereatur é um pedido pelo outro, um tipo de “intercessão”,
por isso é rezada por todos, fiéis e sacerdote; a indulgentiam é a oração pela qual se concede o
perdão dos pecados, ou seja, o sacerdote concede o perdão dos pecados gerais (pensamentos,
palavras, obras e omissões = pecados leves, veniais) do próprio sacerdote e dos presentes (por
isso mesmo só o sacerdote reza).

       O celebrante, inclinado, diz:
       Deus, tu conversus vivificabis                       Ó Deus, volvei para nós o vosso
nos.   6                                               rosto e daí-nos a vida.
       R. Et plebs tua lætabitur in te.                       R. E o vosso povo alegrar-se-á em
                                                       Vós.
    Ostende       nobis                Domine,             Mostrai-nos,     Senhor,     a   vossa
misericordiam tuam.                                    misericórdia.
       R. Et salutare tuum da nobis.                        R. E      concedei-nos      a   vossa
                                                       salvação.
       Domine, exuadi orationem meam.                         Ouvi, Senhor, a minha oração.
       R. Et clamor meus ad te veniat.                       R. E até Vós chegue o meu clamor.
       Dominus vobiscum.                                      O Senhor seja convosco.
       R. Et cum spiritu tuo.                                 R. E também com o teu espírito.

           _______________
           6 – Estes versículos são uma introdução à oração seguinte, aufer a nobis.

           O celebrante sobe ao altar, dizendo:
           Oremus.                                             Oremos.
      Aufer a nobis, quæsumus,                               Afastai de nós, Senhor, Vos
Domine, iniquitates nostras: ut ad                     pedimos, as nossas iniqüidades, a fim
Sancta sanctorum puris mereamur                        de mereçermos entrar de alma pura no
mentibus introire.                                     Santo dos Santos.

           O celebrante, inclinado, diz a seguinte oração:
      Oramus te, Domine, per merita                            Nós vos suplicamos, Senhor,
Sanctorum tuorum, quorum reliquiæ                      pelos merecimentos dos vossos Santos,
hic sunt, et omnium Sanctorum: ut                      cujas relíquias se encontram aqui
indulgere digneris omnia peccata mea.                  (beijando o centro do altar) e de todos os
Amen.                                                  Santos, Vos digneis perdoar-nos todos
                                                       os nossos pecados. Amém.




                                                                                                    34
II. PRIMEIRA PARTE:
                                           ANTE-MISSA

       Nas Missas solenes, incensa-se o altar.7
        O celebrante vai para o lado da Epístola, e lê o Introito. Canto solene de entrada, o
Intróito como que enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia. Às primeiras palavras,
todos se benzem, ao mesmo tempo que o celebrante.




       INTRÓITO 8
       [ver Missa do dia]
       ___________________
        7 – Depois de oscular o altar, na Missa solene, o celebrante incensa-o. Este costume já
existia em alguns lugares nos séculos IX-XI. Na Igreja de Roma foi introduzido no século XII.
        8 – Nas Missas pelos defuntos o celebrante, durante o intróito, faz o sinal da Cruz sobre o
livro, indicando que os frutos da Missa serão aplicados às almas do Purgatório. O intróito é,
geralmente, tirado das Sagradas Escrituras. Sua introdução no ordinário da Missa é atribuída ao
Papa Celestino (+ 432) e serve para introduzir os presentes na celebração do dia. Às primeiras
palavras todos se benzem juntos com o sacerdote.


       KYRIE ELEISON 9
       O celebrante, no meio do altar, diz, alternadamente com os assistentes:
       S. Kyrie eleison.                                    Senhor, tende piedade de nós.
       M. Kyrie eleison.                                    Senhor, tende piedade de nós.
       S. Kyrie eleison.                                    Senhor, tende piedade de nós.




                                                                                                35
O santo sacrificio da missa   na forma extraordinria do rito romano - reviso
O santo sacrificio da missa   na forma extraordinria do rito romano - reviso
O santo sacrificio da missa   na forma extraordinria do rito romano - reviso
O santo sacrificio da missa   na forma extraordinria do rito romano - reviso
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  • 2. “O SACRIFÍCIO DE CRISTO E O SACRIFÍCIO DA EUCARISTIA SÃO UM ÚNICO SACRIFÍCIO” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1367) 2
  • 3. O SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA na Forma Extraordinária do Rito Romano Coleção Rito Romano – Vol. I A todos os irmãos de boa vontade que lerem estas letras peço caridosamente que me ajudem a melhorá-las informando erros (digitação, datas, conteúdos etc.), apontado dúvidas e as passagens aqui expostas que não ficaram claras. Seminarista Jorge Luís Seminário Maior de Filosofia Discipulado João Paulo II Associação Redemptionis Sacramentum E-mail: irmaojorge.eucaristia@hotmail.com Arquidiocese Nossa Senhora das Dores Teresina-Piauí Março de 2009 3
  • 4. DEDICATÓRIA Ofereço esta pequena exposição a todos os irmãos e irmãs que amam e desejam conhecer e ter acesso à Liturgia de Sempre, de modo muito particular aos amigos e irmãos da Associação Redemptionis Sacramentum1, e a todos os amigos que amam a Santa Igreja Católica e o Culto que ela presta ao único e verdadeiro Deus! Em honra do Cordeiro de Deus 1 A Associação Redemptionis Sacramentvm é uma associação de fiéis católicos da Arquidiocese Nossa Senhora das Dores, na capital Teresina-Piauí, fundada em 14 de Janeiro de 2009, constituída em Associação Privada de Fiéis para exercer um apostolado de índole católica, em colaboração com as demais agremiações de fiéis da Arquidiocese. A mesma Associação procura estudar, apoiar, promover e conservar tudo o que recupere ou salvaguarde a celebração reverente e consciente dos Mistérios cristãos, nos moldes tradicionais do Rito Romano, nas duas Formas litúrgicas atualmente em uso na Igreja Católica Apostólica Romana. Buscando, assim, um recíproco enriquecimento entre as duas Formas do Rito Romano. 4
  • 5. ADVERTÊNCIA AO LEITOR Pax vobis! A todos os que vierem a ler esta nossa exposição advertimos que não é aconselhável fazer comparações entre a Forma Ordinária do Rito Romano (de Paulo VI, rezada desde 1970) e a Forma Extraordinária (do Beato João XXIII, rezada até pouco depois do concílio Vaticano II), a fim de evitar equívoco e confusão. Tudo o que diremos aqui é relacionado à Forma conhecida como tridentina ou de São Pio V, exceto o que indicarmos o contrário. São muitos os casos em que grupos e fiéis, que desejam conhecer ou ter o seu direito de acesso à Forma Extraordinária, demonstram certa aversão a atual Forma Ordinária ou até mesmo rejeitarem o Magistério e Ordinário da Missa que a Santa Igreja nos deu após o último Concílio (eis uma chaga na Igreja, a qual não devemos fazer sangrar mais ainda!). Por isso, advertimos também que ao apresentarmos esse tímido trabalho não somos movidos por nenhum apego desordenado ao antigo nem por nenhum desprezo ao novo, pelo contrário. Nossa intenção é dar a conhecer, ao menos de modo geral, a beleza e história do Rito Romano, sobretudo no que diz respeito ao Santo Sacrifício da Missa; somos movidos por um desejo de ajudar aqueles irmãos que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer esta Forma do Rito Romano, oferecendo-lhes este pequeno subsídio; somos movidos pelo desejo de que, conhecendo o Rito codificado por São Pio V, amemos o Rito da Santa Igreja Romana. Nossa intenção é amar aquelas coisas sem, contudo, deixar essas! Aqui não faremos exposições sobre a problemática gerada em torno da reforma litúrgica de 1970. O que faremos aqui é apenas uma breve apresentação da história do Rito Romano e ao mesmo tempo uma introdução à Santa Missa na Forma Extraordinária. Finalmente, foram estas letras unidas pelo amor e zelo de uma alma católica apostólica romana, fiel à Igreja, Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam, e que aceita e professa tudo o que crê e ensina a Esposa do Cordeiro, desde a sua fundação divina, por Nosso Senhor Jesus, até a última Letra do Romano Pontífice, Papa Bento XVI, Príncipe da Igreja. S.J.L. 5
  • 6. INTRODUÇÃO Desde as primeiras mudanças no Ordinário da Santa Missa a Igreja ouviu rumores sob seu teto e quando apareceu o novo Ordinário (novus ordus) da Missa houve, de Roma até a mais pobre das capelas, manifestações favoráveis e desfavoráveis. No Brasil, desde a publicação da primeira edição do Missal de Paulo VI até hoje (na espera da terceira edição!), quase quarenta anos depois, é possível constatar os frutos da última reforma litúrgica. Porém, é bom tomarmos para nós as palavras do Santo Padre Bento XVI: “A alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao concílio deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não cortar as raízes de que vive a árvore.”2 Assim temos dois deveres importantíssimos na Igreja: o primeiro é aceitar o Magistério e autoridade do Santo Concílio Ecumênico Vaticano II, e sua reta interpretação na pessoa do Romano Pontífice e demais Padres; o segundo é aceitar com reverência todo o Magistério da Igreja anterior ao próprio Concílio (o qual deu continuidade ao mesmo Magistério). Com a publicação do novo Missal em 1970, o Papa Paulo VI dá à Igreja uma reformada e renovada3 forma de celebrar a Santa Missa. Esta se tornou a Forma Ordinária e, rapidamente, ganhou a simpatia de muitos católicos, enquanto que outros preferiam a Forma antiga (Extraordinária) e uma minoria, ainda, aceitavam e queriam as duas Formas. Infelizmente percebeu-se um distanciamento, muitas vezes provocados e até mesmo obrigados, do Rito que, desde tempos imemoráveis e até mesmo durante o Vaticano II, era usado para a Santa Missa. Consequentemente a geração pós Vaticano II, quase que totalmente, só conheceu a Forma de 1970 e tudo o que ouvia falar da Liturgia anterior se resumia em “latim” e “padre de costas para o povo”! No entanto, “não poucos fiéis aderiram e seguem com muito amor e afeto as formas litúrgicas anteriores”4. Em 2007 o Papa Bento XVI, como pai providente, ofereceu de motu proprio e como um presente, a todos os sacerdotes e fiéis o direito de celebrarem ou terem acesso à Liturgia anterior à reforma de 1970, declarando: “Portanto, é lícito celebrar o Santo Sacrifício da Missa segundo a edição típica do Missal Romano promulgada pelo Bem-aventurado João XXIII em 1962, e nunca ab-rogada”5. Por isso, muitas comunidades e grupos de fiéis querem ter a celebração da Santa Missa também segundo o Missal do Papa João XXIII. Eis que os fiéis tomam consciência de que é seu direito receber e “poder usar” o presente dado diretamente de nosso príncipe, Bento XVI. Porém, com a publicação desta Carta Apostólica sob a Forma de Motu Proprio, o Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI houve novamente na Igreja rumores antigos e novos. Diante de tudo isso, encontramos opiniões diversas e um cenário ainda não muito aberto para a realização do Summorum Pontificum. Para alguns esta realização seria um 2 BENTO XVI, Carta aos bispos da Igreja Católica, a propósito da remissão da excomunhão aos quatro bispos consagrados pelo Arcebispo Lefebvre. 3 BENTO XVI, Motu Proprio Summorum Pontificum, p. 7. 4 Ibid, p. 8. 5 Ibid, p. 9. 6
  • 7. verdadeiro bem espiritual e catequético-doutrinal sobre a Santa Missa para nossa geração, por causa do grande tesouro em símbolos e significados do Rito Gregoriano; para outros, isso seria um retorno à idade média (o que nos parece um grande exagero!) e uma ameaça a tudo o que o Vaticano II pretendeu. Outros ainda perguntam: “Para quê voltar a coisas passadas, arcaicas, que não tem nada com nossa geração e nosso mundo?” “Para quê essas fórmulas e esse rito ultrapassados que, numa língua que ninguém entende, impedem o entendimento dos fiéis leigos?” “Por que voltar a este rito que é centrado no padre e exclui a participação dos leigos?”. A essas perguntas (que demonstram tremenda ignorância litúrgica) não queremos dar respostas prontas, mas oferecer a oportunidade de que descubram por si mesmos as devidas respostas na leitura desta exposição. Por enquanto, basta-nos saber que tudo o que buscamos fazer é em comunhão com a Santa Igreja6 e empenhando-nos a “levar uma vida santa”, promovendo o crescimento da própria Igreja7 naquilo que podemos. Basta-nos, ainda, ver a felicidade de tantos católicos que, engajados nas diversas pastorais e movimentos eclesiais, acolhem, desejam e buscam o acesso à Forma Extraordinária do Rito Romano. É impressionante ver o grande número de jovens que se interessam pelo silêncio, sobriedade, orientação, centralidade e profundidade das orações da Liturgia bimilenar da Igreja! Isto só pode ser um sinal de Deus confirmando a vontade do Santo Padre Bento XVI! Tendo em vista toda a problemática, ou melhor, os desafios de toda essa história é que resolvemos fazer esta exposição a respeito do Rito Romano. Na verdade, nosso desejo é fazer uma pequena introdução ao Rito Romano. Este livreto seria um ensaio para a primeira parte da história do Rito Romano (que compreenderia desde o princípio até as reformas sugeridas pelo Concílio Vaticano II). A segunda parte seria uma continuação com uma visão mais detalhada sobre o desenrolar da Constituição Sacrosanctum Concilium até aos nossos dias com a atual edição do Missal Romano. Por isso, este livreto não é destinado só àqueles que desejam conhecer ou ter algum subsídio sobre o Rito Gregoriano, mas a todos os que se interessam pelo Rito da Igreja Latina. A todos estes oferecemos esta contribuição a fim de que tenhamos consciência da riqueza litúrgica da Igreja Católica, adquirida e guardada pelos séculos e herdada por nós. Este é o meio possível que encontramos para ajudar na formação dos irmãos. É humilde, ignorante, mas de coração! A todos nosso abraço e pedido de orações pela nossa perseverança no bom propósito de ser sacerdote do Altíssimo Deus, nosso Pai! Pax et bonum! Seminarista Jorge Luís 6 JOÃO PAULO II, Código de Direito Canônico, n. 209. 7 Ibid, n. 210. 7
  • 8. PRIMEIRA PARTE: RESUMO HISTÓRICO8 8 Para um estudo mais profundo é aconselhável sejam feitas pesquisas em livros sobre liturgia antes da última reforma litúrgica. Como nem sempre se sabe a quais recorrer é bom, aos que tiverem acesso, aproveitar as indicações da referência no fim do livreto. 8
  • 9. Capítulo 1 A INSTITUIÇÃO DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA I. Os sacrifícios judaicos Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos amou até o fim, veio ao mundo para reparar o pecado de Adão e salvar os tristes filhos de Eva, movido por amor ao Pai no Espírito Santo. Antes, porém, durante toda a História da salvação a vinda de Cristo foi profetizada, prefigurada e esperada com ardor por todos os santos e santas da Antiga Aliança. Mas Nosso Senhor só desceu a nós na plenitude dos tempos e foi reconhecido por João Batista, Seu precursor, como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”9. No Antigo Testamento, enquanto o Messias esperado não vinha, o povo oferecia a Deus muitos sacrifícios com diversas intenções. Assim, encontramos na lei de Moisés (cf. Êxodo) os seguintes sacrifícios cruentos10 prescritos: Holocausto – sacrifício de latria, ou seja, adoração a Deus; as vítimas eram oferecidas ao domínio de Deus. Queimava-se a vítima completamente, ninguém a comia, para prestar, por essa consumação, uma homenagem e um reconhecimento pleno, ao soberano domínio de Deus. Prestava-se, assim, o culto puro de adoração a Deus. Hóstia pelo pecado - sacrifício propiciatório: O sacrifício propiciatório era oferecido para a expiação dos pecados, de modo a tornar Deus propício. Também chamado "hóstia pelo pecado”. A vítima era dividida em três partes uma parte consumida no fogo sobre altar, outra queimada fora do acampamento e uma terceira comida pelos sacerdotes. Sacrifício eucarístico – sacrifício das hóstias pacíficas: O sacrifício eucarístico era oferecido para agradecer a Deus, qualquer graça recebida. Eram sacrifícios de ação de graças. Sacrifício impetratório – sacrifício de impetração: Era feito para pedir a Deus qualquer graça importante. Os sacrifícios eucarísticos e impetratórios, também chamados de “pacíficos”, se distinguiam da “hóstia pelo pecado” pelo fato de que o povo e os sacerdotes deviam participar, consumindo uma parte da vítima. Portanto, o povo oferecia estes sacrifícios para: adorar a Deus, reconciliar-se com Ele, pedir as graças necessárias e agradecer as graças recebidas. O povo de Deus, desde o principio, foi marcado pelo sacrifício. Sacrifício da sua própria vida, seja na casa da escravidão seja na busca da terra prometida. Marcada, sobretudo, pelos sacrifícios de animais que ofereciam à divina Majestade, por Quem foi ordenado os mesmos sacrifícios. Os sacrifícios eram tantos que chegavam a ser uma verdadeira matança. “Na festa dos tabernáculos eram sacrificados 30 animais: 13 touros, 2 carneiros, 14 cordeiros, e 1 bode, e isto por seis dias.”11 O grande historiador Flavio Josefo diz que no seu tempo, por volta do ano 60 depois de Cristo, foi possível contar 265,000 cordeiros pascais.12 9 Jo 1,29b 10 Cruento diz respeito a sangue. Sacrifício cruento significa o derramamento de sangue da vítima. No Antigo Testamento pouquíssimos sacrifícios eram incruentos. A Santa Missa é um Sacrifício, o Santo Sacrifício da Cruz, porém, é Sacrifício incruento, pois, embora bebamos do Sangue de Cristo, não há mais o derramamento do Sangue de Nosso Senhor. Dizer o contrário seria uma grande heresia. 11 J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 458, p. 226. 12 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 458, p. 226. 9
  • 10. II. A instituição do Sacrifício cristão Foi neste contexto de sacrifícios que o Messias encontrou o povo de Deus. Na quinta-feira santa, no cenáculo, “Jesus sabia que tinha chegado sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”13 e, depois de encerrar a lei judaica, instituiu o Santo Sacrifício da Missa quando, antecipando Sua própria morte na Cruz, abençoou o pão, o partiu e o deu aos discípulos dizendo “isto é o meu Corpo” e fazendo o mesmo com o vinho dizendo “isto é o meu Sangue”14. Depois Jesus ordenou que os Apóstolos fizessem a mesma coisa que Ele acabara de fazer, dizendo: “Fazei isto em memória de mim”.15 Eis o rito16 instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme os relatos: I Coríntios 11 Marcos, 14 Lucas, 22 Mateus 26 Pelo ano 56 Pelo ano 65 Pelo ano 80 Pelo ano 80 23 Na noite em que ia 22 Enquanto estavam 14 Quando chegou a 20 Ao anoitecer, Jesus ser entregue, o Senhor comendo, hora, Jesus pôs-se à se pôs à mesa com os Jesus tomou o pão mesa com os Doze. apóstolos. 24 e, depois de dar Jesus tomou o pão, 19A seguir, tomou o 26 Enquanto estavam graças, partiu-o e pronunciou a bênção, pão, deu graças, comendo, Jesus tomou disse: “Isto é o meu partiu-o e lhes deu, partiu-o e lhes deu, o pão e pronunciou a corpo entregue por vós. dizendo: “Tomai, isto é dizendo: “Isto é o meu bênção, partiu-o, deu- Fazei isto em o meu corpo”. corpo, que é dado por o aos discípulos e memória de mim”. vós. Fazei isto em disse: “Tomai, comei, memória de mim”. isto é o meu corpo”. 25 Do mesmo modo, 23Depois, pegou o 20Depois da ceia, fez 27 Em seguida, pegou depois da ceia, tomou cálice, deu graças, o mesmo com o cálice, um cálice, deu graças e também o cálice e passou-o a eles, e dizendo: “Este cálice é passou-o a eles, disse: “Este cálice é a todos beberam. 24 E a nova aliança no meu dizendo: “Bebei dele nova aliança no meu disse-lhes: “Este é o sangue, que é todos, 28 pois este é o meu sangue. Todas as vezes meu sangue da nova derramado por vós”. sangue da nova aliança, que dele beberdes, Aliança, que é que é derramado em fazei-o em minha derramado por favor de muitos, para memória”. muitos”. remissão dos pecados”. Quando Nosso Senhor parte o Pão e fala sobre o Sangue derramado ou dado para ser bebido Ele faz alusão aos sacrifícios do Antigo Testamento17, usando as mesmas 13 Jo 13,1. 14 Cf. Mt 26,20-28; Mc 14,22-24; Lc 22,14-20. 15 Ibid. 16 Rito (do latim ritus) é a forma exterior dos atos litúrgicos. Pode significar a Liturgia total de uma Igreja (como o Rito Romano), uma celebração litúrgica (como as exéquias) ou uma ação litúrgica (como a incensação). (Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 27, p. 26). 17 Por exemplo, o capítulo primeiro do livro de Levítico: “3 Se a oferta for um holocausto de gado bovino, deverá oferecer um macho sem defeito, que levará até à entrada da Tenda do Encontro, para ser aceito pelo Senhor. 5 Depois matará o bezerro diante do Senhor. Os sacerdotes aaronitas oferecerão o sangue, derramando-o em torno do altar que está à entrada da Tenda do Encontro. 10 Se a oferta para o holocausto for de gado miúdo, das ovelhas ou cabras, deverá 10
  • 11. expressões (partir, derramar) para Se identificar como a única e verdadeira Vítima capaz de tirar os pecados dos homens e trazê-los à comunhão com Deus. Assim, se tornam evidentes as palavras do Bem-Aventurado João Batista que, tendo visto Jesus e reconhecendo-O, declarou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”18. De início os Apóstolos não entenderam tudo o que Jesus fazia nesta cerimônia de instituição do Seu Sacrifício, só depois da vinda do Espírito Santo vieram a compreender plenamente o significado do rito com todos os seus detalhes. Nos primeiros dias e meses os Apóstolos celebravam o rito que Jesus havia instituído tal como viram o próprio Senhor Jesus fazê-lo. Com o passar do tempo eles foram introduzindo costumes próprios da comunidade como, por exemplo, o véu prescrito para as mulheres.19 Assim os Apóstolos passaram cerca de 12 anos celebrando o Santo Sacrifício, instituído por Jesus, só em Jerusalém, conforme testemunhos autênticos.20 Considerando que só os Apóstolos assistiram à cerimônia que Jesus instituiu e só eles celebravam, e isso por 12 anos, podemos afirmar que “na Liturgia há partes instituídas por eles”21, pois, conforme São Basílio (+ 379), “os ritos litúrgicos, usados por toda a parte e cujo autor é desconhecido, dimanam da autoridade dos apóstolos. Portanto, a leitura sagrada, o Sunsum corda e as outras saudações e respostas antes do prefácio, o cânon, foram introduzidos por eles.”22 Isto quer dizer que, na sua origem, a Santa Missa é substancialmente instituição divina de Jesus, cercada de ritos e cerimônias introduzidas pelos Apóstolos. Capítulo 2 DESENVOLVIMENTO DA LITURGIA CRISTÃ I. Culto cristão e culto judeu Após a instituição do Sacrifício Eucarístico e a Ascensão de Nosso Senhor, os Apóstolos, em memória do Mestre, continuaram a fazer tudo o que Ele mesmo havia feito na última Ceia. Porém, a priori, as primeiras comunidades dos fiéis participavam da reunião e da Fração do Pão (= Santo Sacrifício, Eucaristia) sem se separarem do culto no Templo dos judeus. Assim, os primeiros cristãos, seguindo o exemplo do próprio Cristo, participavam do culto no Templo e do serviço nas sinagogas. No entanto, com as perseguições e tensões com os judeus os cristãos foram cada vez mais se afastando do culto no Templo23, embora o respeitassem e reconhecessem sua validade. As reuniões dos cristãos eram, geralmente, unidas a uma refeição fraterna24. oferecer um macho sem defeito. 11 Matará o animal ao lado norte do altar, na presença do Senhor, e os sacerdotes aaronitas derramarão o sangue em torno do altar.” (Cfr. ainda Lv 1,14 -15.17; 3,7-8.12-13;4,3.5-7.13.16-16.22- 25a.27.30). 18 Jo 1, 29. 19 Cf. 1 Cor 11,5-11. 20 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 46, p. 31. 21 Ibid n. 47, p. 31. 22 Ibid. 23 A.W REYNA, Introdução à Liturgia, p. 192. 24 São Paulo (I Cor 11,17-22) faz-nos crer nisto quando escreve repreendendo os cristãos por não serem fraternos, não manterem a caridade nas refeições. Diz ele: “Já que estou dando recomendações, não vos posso louvar por vossas 11
  • 12. Com a destruição do Templo no ano 70 os cristãos conheceram um fortalecimento da Liturgia e os Apóstolos em suas comunidades usaram elementos próprios do culto judaico, como: as orações, muito praticadas por Nosso Senhor; a leitura de partes do Antigo Testamento (a Lei, os salmos e os profetas); e a pregação da Sagrada Escritura25. Essa cristianização de elementos judaicos seria uma pratica da Igreja de então e que permaneceria por muito tempo em relação ao secular. Ela demonstra uma movimentação própria das comunidades em torno do culto a Deus e a tomada de consciência a respeito da nova Liturgia instituída por Jesus. Sem o Templo dos judeus e fora da direção dos sacerdotes, os cristãos reúnem-se agora em torno do altar de Jesus, participando do Sacrifício que, a priori, foi chamado de Fractio Panis (Fração do Pão), denominando assim um Rito próprio do novo povo de Deus. Levando em conta o “roteiro” dos judeus, os cristãos se reuniam e o que presidia a assembléia proferia algumas orações que eram encerradas pelo “amém” dos fiéis. Depois eram lidas duas leituras (Antigo Testamento) separadas por um canto26. Em seguida, conforme o costume dos judeus e a prática do Senhor Jesus, acontecia a pregação que consistia na explicação das leituras. Esta estrutura é praticamente a mesma que mais tarde seria chamada de Ante-Missa ou Missa dos Catecúmenos (equivalente a Liturgia da Palavra). II. Os tempos apostólicos Dos primeiros séculos cristãos temos na Sagrada Escritura exortações de São Paulo27 que deixam claro que a Igreja apostólica cria verdadeiramente que as Espécies do Pão e do Vinho, pela palavra do Senhor, eram o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, no ano 56, São Paulo, após relembrar o rito instituído por Jesus28, adverte os fiéis que se aproximam da Comunhão, dizendo: Todo aquele que comer do pão e beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Portanto, cada um examine a si mesmo antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que comer e beber sem discernir o Corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação.29 Também um documento antigo chamado de Doutrina dos doze Apóstolos (Didaquè) fala sobre a liturgia na era apostólica, dizendo: reuniões, pois elas têm sido, não para o vosso maior bem, mas antes para o vosso dano. Primeiro, ouço dizer que, quando vos reunis como igreja, têm surgido dissensões entre vós. E, em parte, acredito. É necessário que haja até divisões entre vós, para que se tornem conhecidos os que, dentre vós, são comprovados! De fato, quando vos reunis, não é para comer a ceia do Senhor, pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia e, enquanto um passa fome, outro se embriaga. Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Acaso vos louvarei? Não, neste ponto não posso louvar-vos”. 25 A.W REYNA, Introdução à Liturgia, p. 198. 26 A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 193. 27 Cf. 1 Cor 10,14-17. 28 Cf. 1 Cor 11,23-26. Este relato de São Paulo é o mais antigo testemunho sobre a Eucaristia, pois foi escrito dez anos antes dos Evangelhos. 29 1 Cor 11,27-30. 12
  • 13. Reuni-vos no dia do Senhor para a Fração do Pão30 e agradecei (celebrai a eucaristia), depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro. Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado. [...] No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira: Primeiro sobre o cálice, dizendo: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu servo, que tu nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém. Sobre o pão a ser quebrado: Nós te bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém. Da mesma maneira como este pão quebrado primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da terra seja unida a ti tua igreja (assembléia) em teu reino; pois tua é a glória e o poder pelos séculos! Amém. Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em nome do Senhor. Pois a respeito dela disse o Senhor: Não deis as coisas santas aos cães!31 Depois dos mencionados doze anos os Apóstolos se espalharam, levando consigo o que era comum ao colégio apostólico, e, conforme os lugares e a necessidade, foram introduzindo novos ritos e orações. Com a morte dos doze Apóstolos e a sucessão apostólica vão surgindo, ou se desenvolvendo, liturgias para a Santa Missa, que, embora tivessem certas diferenças, conservavam algumas semelhanças e o que era essencial no Sacrifício Eucarístico. Essas liturgias surgiram tanto no Oriente como no Ocidente.32 III. Os primeiros séculos da Liturgia cristã O bispo e mártir Santo Inácio de Antioquia (+ 102), na sua Carta aos Efésios exortava os fiéis a serem freqüentes na celebração da Eucaristia. E o mártir São Justino (+ 165), nas suas Apologias, descreveu o rito comum em sua época para a Santa Missa, dizendo: Terminadas as orações, damos mutuamente o osculo da paz. Apresenta-se, então, a quem preside aos irmãos pão e um vaso de vinho, e ele tomando-os dá louvores e gloria ao Pai do universo pelo nome de seu Filho e pelo Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças em razão dos dons que dele nos vêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de graças, o povo presente aclama dizendo: Amém [...]. Este alimento se chama entre nós Eucaristia, não sendo licito participar dele senão ao que crê ser verdadeiro o que foi ensinado por nós e já se tiver lavado no banho [batismo] da remissão dos pecados e da regeneração, professando o que Cristo nos ensinou. Porque não tomamos estas coisas como pão e bebida comuns, mas da mesma forma que Jesus Cristo, nosso Senhor, se fez carne e sangue por nossa salvação, assim também se nos ensinou que por virtude da oração do Verbo, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento que, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossas carnes – é a Carne e o Sangue daquele mesmo Jesus encarnado. E foi assim que os Apóstolos, nas Memórias por eles escritas, chamadas Evangelhos, nos transmitiram ter-lhe sido ordenado fazer, quanto Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: ‘Fazei isto em memória de mim’. [...] 30 Este é um dos primeiros nomes dado à Santa Missa. Hoje o usamos para designar um rito do Santo Sacrifício. Conferir quadro acima. 31 Cf. versão em: F. AQUINO, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 79. 32 Por exemplo: a Liturgia de São Tiago. 13
  • 14. No dia que se chama do Sol [domingo] celebra-se a reunião33 [...]. Assim que o leitor terminar [de ler as memórias dos Apóstolos], o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos tais exemplos. [...] Segue-se a distribuição a cada um, dos alimentos consagrados pela ação de graças, e seu envio aos doentes, por meio dos diáconos.34 Também Santo Hipólito de Roma (+ 234) nos dá um belo relato do Cânon do Rito Romano, por ocasião da sagração episcopal, que se principia pelas invocações: O Senhor esteja convosco. Respondam todos: E com o teu espírito. Corações ao alto! Já os oferecemos ao Senhor. Demos graças ao Senhor. É digno e justo. E prossiga a seguir: Graças te damos, Deus, pelo teu Filho querido, Jesus Cristo, que nos últimos tempos nos enviastes, Salvador Redentor, mensageiro da tua vontade...35 Nestes testemunhos temos um retrato fiel do que seria, e de certo modo já era, o Rito Romano que chegou até nós. Foi dos Apóstolos que a Igreja recebeu a forma com a qual deveria rezar, o Rito com o qual deveria fazer o que Jesus fez na última Ceia. Seja como for, Cristo e os Apóstolos estão na origem do Rito da Santa Igreja Romana. Dos primeiros séculos da era cristã, porém, não temos nenhum livro litúrgico, a não ser alguns textos chamados de Tradição Apostólica registrados por Santo Hipólito de Roma (+ 235) durante o pontificado do Papa Calisto (217-222). É verdade que muitas orações e gestos eram feitos pelo que presidia como que de forma “espontânea”, mas obedecendo a tradição existente. Nos primeiros três séculos, os das perseguições, mantêm-se a simplicidade dos ritos ensinados pelos Apóstolos. Ficando para sempre imutáveis os elementos essenciais, simplicíssimos, de instituição divina do Sacrifício e dos Sacramentos, no resto deixa-se, por um lado, margem à improvisação dos ministros do culto, e nota-se, por outro, tendência para uma disciplina de uniformidade.36 Capítulo 3 MAS O QUE É A SANTA MISSA INSTITUÍDA POR JESUS? I. Doutrina da Igreja A Santa Missa da Igreja Católica é “a essência de tudo o que há de bom e belo”37, ou seja, Jesus Cristo, morto e ressuscitado por amor dos homens. A Instrução Geral do Missal Romano diz que a Missa é o centro da vida da Igreja, tanto universal como local e centro da vida de cada um dos fiéis38. O Catecismo da Igreja 33 Outro nome para designar a Santa Missa. 34 Santo. I. ANTIOQUIA, Apologias. Apud Aquino, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 81-82. 35 F. AQUINO, Escola da Fé I: A Sagrada Tradição, p. 83. 36 M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 43. 37 São L. PORTO-MAURICIO, As excelências da Santa Missa, p. 5. 38 Cf. PAULO VI, Instrução Geral do Missal Romano, n. 16, p.37. 14
  • 15. Católica afirma que “a Eucaristia [Missa] é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferta sacramental de seu único Sacrifício na liturgia da Igreja, que é corpo dele”39. E ainda: “Fonte e ápice de toda a vida cristã”40, “o resumo e a suma de nossa fé”41. A Santa Igreja, numa busca de expressar de modo claro e firme a realidade que a Santa Missa torna presente, encontrou um nome para ela capaz de expressar, sem erro e com satisfação, tudo o que ela é e contém: Santo Sacrifício. Só o Sacrifício de nossa santa religião, que é a Santa Missa, é um Sacrifício santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a Deus, reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo domínio de Deus.42 “A Paixão de Cristo é o próprio Sacrifício que oferecemos”43. “Por ser memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um Sacrifício”44, pois na Santa Missa Cristo nos dá o Corpo que “entregou por nós na Cruz, o próprio Sangue que ‘derramou por muitos para a remissão dos pecados’”45. A Santa Missa é, “portanto, um Sacrifício porque representa (torna presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica os seus frutos”46. A doutrina da Igreja é clara: “O Sacrifício de Cristo e o Sacrifício da Eucaristia são um único Sacrifício” 47. Nos mesmos moldes ensina o Código de Direito Canônico: Augustíssimo Sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da Cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo.48 II. Os Santos e a Santa Missa São João Crisóstomo dizia que, na Santa Missa, Jesus “deu-se todo não reservando nada para si”49 e por isso “não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se sente ‘doente de amor’”50. E São Boaventura nos anima a aproximarmo-nos da Sagrada Comunhão, mesmo que friamente, confiando-nos à misericórdia de Deus51. Pois “duas espécies de pessoas devem comungar frequentemente: os perfeitos para se conservarem perfeitos, e os imperfeitos para chegarem à perfeição”.52 Segundo o Papa São Pio X “a devoção à Eucaristia é a mais nobre de todas as devoções, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais salutar porque nos dá o 39 JOÃO PAULO II, Catecismo da Igreja Católica, n. 1362, p. 375. 40 Ibid, n. 1324, p. 365. 41 Ibid, n. 1327, p. 365. 42 São L. PORTO-MAURÍCIO, As excelências da Santa Missa, p. 6. 43 São CIPRIANO, Epist. Ad Caeciliam, apud M. COCHEM. 44 JOÃO PAULO II, Catecismo da Igreja Católica, n. 1365, p. 376. 45 Idem. 46 JOÃO PAULO II, Catecisco da Igreja Católica, n. 1366, p. 376. 47 Ibid, n. 1367, p. 376. 48 JOÃO PAULO II, Código de Direito Canônico, cân. 897, p. 237. 49 São J. CRISÓSTOMO, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88. 50 F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88. 51 Idem. 52 São F. SALES, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 88. 15
  • 16. proprio autor da graça; é a mais suave, pois suave é o Senhor”53 e ainda “se os Anjos pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar”54. São Gregório afirma que “nosso corpo unido ao Corpo de Cristo, adquire um princípio de imortalidade, porque se une ao Imortal”.55 Por isso, Santa Teresinha exortava: “Não é para ficar numa âmbula de ouro, que Jesus desce cada dia do Céu, mas para encontrar um outro céu, o da nossa alma, onde ele encontra as suas delicias”.56 E Santa Teresinha explica que “quando o demônio não pode entrar com o pecado no santuário de nossa alma, quer pelo menos que ela fique vazia, sem dono e afastada da Comunhão.”57 Capítulo 4 OS RITOS DA SANTA IGREJA CATÓLICA58 I. As Famílias litúrgicas Católicas Antes de prosseguirmos com nossa exposição, propriamente dita, sobre o Rito Romano, vamos passar de modo geral pelos outros ritos católicos, para entendermos melhor o Rito da Igreja de Roma. Como já vimos (no Capítulo I), Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o Sacrifício da Santa Missa. Os Apóstolos, então, cercaram esta cerimônia com outras seja em preparação (como as orações e leituras adotas do culto judaico) seja para manifestar a honra e o louvor devido a Deus (como as longas ações de graças usadas na Igreja primitiva e que, de certo modo, deram origem à prece eucarística). Como os Apóstolos se espalharam, consequentemente, as cerimônias da Eucarística que eram comuns ao colégio apostólico ficaram sujeitas à influência das suas respectivas comunidades. Estas comunidades que receberam, na sua maioria, a fé dos próprios Apóstolos ou de seus discípulos, cresceram e desenvolveram cada vez mais a Liturgia da Igreja. Mais tarde elas vieram a ser chamadas de familias litúrgicas, pois, delas ramificaram-se diversas formas da Liturgia católica. Com o decorrer dos anos, porém, e obedecendo a influências locais, foram-se separando quanto a seus costumes e ritos, as grandes igrejas patriarcais e, deste modo, apareceram três famílias litúrgicas que, apesar de apresentarem influências mútuas, são nitidamente distintas: a antioquena (síria), a alexandrina (egípcia) e a romana (latina).59 Contribuíram para estas distinções o fato de as Igrejas Patriarcais terem grande centros, as vezes, políticos e linguísticos influenciando outras Igrejas menores, conforme a Tradição que lhes foi dada pelo Apóstolo fundador. 53 São PIO X, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 90. 54 Idem. 55 São GREGÓRIO, apud F. AQUINO, Escola da Fé: I Sagrada Tradição, p. 91. 56 Ibid. 57 Ibid. 58 Para melhor compreensão deste assunto conferir: J.B. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 61-66; S. MARSILI, Panorama histórico geral da Liturgia, p. 64-138; J.B. REUS, Curso de Liturgia, pp. 33-39. 59 A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 62. 16
  • 17. Teve também grande influência nestas distinções o fator lingüístico, pois, embora o latim fosse a língua do Império Romano e a língua da Igreja de Roma, outras línguas (como a grega, a sírica e a copta) foram tornando-se línguas de Igrejas particulares, que por sua vez cresceram a ponto de obterem grande número de fiéis.60 Estas três famílias litúrgicas são as responsáveis pelos três grandes Ritos da Igreja Católica: o Antioqueno, o Alexandrino e o Romano. II. Os Ritos da Igreja Católica Oriental Como vimos, as familias litúrgicas deram origem aos três grandes Ritos da Igreja. Porém, no Oriente a Igreja Católica desenvolveu-se usando diversas cerimônias que diferenciavam Igrejas no referente aos Ritos. Neste sentido, distinguem-se os seguintes: o Rito da Igreja de Antioquia, na Síria; o da Igreja de Cesaréia, na Capadócia e o da Igreja de Alexandria, no Egito.61 O Rito Antioqueno, no que diz respeito à Liturgia da Missa, está nos livros II e VIII das Constituições Apostólicas. Deste Rito surgem outros três Ritos: primeiro, o Rito de São Tiago ou Liturgia de São Tiago, usado na Igreja de Jerusalém, da qual o Apóstolo São Tiago foi o primeiro Bispo; segundo, o Rito dos Santos Adeo e Mari ou Liturgia dos Santos Adeo e Mari, conhecido também como Rito Sírio-Oriental; terceiro, o Rito Bizantino, que é semelhante à Liturgia de São Tiago. Estes Ritos se organizaram, sobretudo, a partir do século IV (como o Caldeu e o Siríaco) até ao século VII (como o Maronita). O Rito Alexandrino, é atribuída sua fundação a São Marcos, o Evangelista; era a Liturgia da Igreja de Alexandria, rezada em língua grega. Deste derivou-se o Rito Greco- Alexandrino e a Liturgia Abissínia ou dos XII Apóstolos, que é a Liturgia fixa mais antiga (século III). Estes Ritos se organizaram no século IV (como o Copta) e V (como o Etíope). O Rito “Cesareico”, da Igreja de Cesaréia fundada por São Gregório (século III)62. Dele provém o Rito Armênio que recebeu influências de Antioquia e Bizâncio.63 Estes dois Ritos são chamados na Igreja de Ritos Orientais por pertencerem à Igreja que está no Oriente. Eles, e outros Ritos menores, se desenvolveram paralelamente na Igreja, de modo que um não contradizia ao outro nem abolia o valor dos Ritos aprovados pela Tradição. Esta parte da história da Liturgia e dos Ritos da Igreja é complexa e requer muita atenção aos detalhes, lingüísticos, místicos e históricos. Porém, como estamos apenas fazendo uma pequena passagem por ela, para melhor fixação apresentamos o seguinte quadro sobre os Ritos Orientais, que nos dá uma visão geral64: 60 Cf. S. MARSILI, Panorama histórico geral da Liturgia, pp. 56-64. 61 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 45. 62 Ibid, p. 137. 63 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 47. 64 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 65; P.. MANOEL, O valor teológico da Liturgia, p. 130. 17
  • 18. Ritos principais Divisões Subdivisões - Ritos Sírios unidos • Ritos Siríacos - Ritos Malacarésios Ritos unidos Antioquenos - Rito Maronita - Ritos Caldeus unidos • Ritos Caldeus - Ritos Malabares RITOS unidos ORIENTAIS Ritos Armênios • Ritos Armênios unidos • Ritos Ítalo-gregos unidos Ritos Bizantinos • Ritos Melquitas unidos • Ritos Russos e rutenos unidos • Ritos Sérvios e Búlgaros unidos • Ritos Rumenos unidos Ritos • Ritos Coptas unidos Alexandrinos • Ritos Abissínios unidos III. Os Ritos da Igreja Católica Ocidental No Ocidente destacavam-se os Ritos usados nas Igrejas de Roma, da Península Ibérica, do norte da Itália e da Gália. O Rito Romano é o terceiro grande Rito da Liturgia católica. É verdade incontestável que o príncipe dos Apóstolos, São Pedro, teve sua Sé em Roma. Por isso, já o grande Santo Irineu (+ 202) afirmava: É com essa Igreja (a de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade e fundação, que deve necessariamente concordar toda Igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos que procedem de toda parte, se conservou a Tradição que vem dos Apóstolos65. No mesmo sentido São João Crisóstomo dizia: “No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma”66 e Santo Agostinho, afirmando a superioridade do Papa e de Roma, dizia: “Roma locuta, causa finita”67. Assim, sempre foi prática de todos os fiéis verem no Bispo de Roma o sucessor de São Pedro, e na Igreja Romana a Mãe de todas as Igrejas espalhadas pelo mundo inteiro. Por isso, o Rito usado na Igreja de Roma sempre teve muita importância para o mundo cristão. O Papa São Damaso (+ 384), conforme alguns, teria realizado a primeira reforma significante na Liturgia68, no sentido de organizar as cerimônias existentes. Com esta 65 Santo IRINEU, apud F. Aquino, Escola da Fé: III O Sagrado Magistério, p. 46. 66 Ibid, p. 45. 67 “Roma falou, encerrada a questão!”. Ibid, p. 46. 68 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 64. 18
  • 19. reforma surgiram diferenças na Liturgia existente, começando a existir distinções, que resultou numa Liturgia Romana (Rito Romano propriamente dito) e Liturgia Galicana (Rito Galicano). O Rito Galicano recebeu este nome por causa do seu uso muito comum em toda a França, então designada de Gália. É semelhante aos Ritos Orientais, mas é de essência puramente romana. Foi formado entre os séculos IV e VIII e apresenta algumas semelhanças com o Rito Lionês e foi supresso pelo Rito Romano no século IX e abolido por Carlos Magno.69 Do Rito Galicano surgiram as Liturgias Celta, Africana, Moçárabe e Ambrosiana70. Os Ritos Célticos são muito antigos e pouco conhecidos.71 O Rito Moçárabe foi formado na Península Ibérica e foi substituído pelo Rito Romano no século VI. Antes do Concílio de Trento ele foi restaurado e esta versão é usada pelo cabido do Corpus Christe, na Sé de Toledo.72 O Rito Ambrosiano foi formado entre os séculos IV e VIII, no norte da Itália, tendo recebido muita influência romana a partir do século IX. É usado na Arquidiocese de Milão e em algumas paróquias de Lugano, Bergamo e Novara.73 Entenderemos melhor essa primeira diversidade do Rito Romano com a seguinte representação: Ritos principais Divisão • Rito Romano RITOS OCIDENTAIS - Ritos Célticos • Rito Galicano - Rito Africano - Rito Moçárabe - Rito Ambrosiano Porém, no Ocidente sempre predominou o Rito Romano, ou seja, o Rito usado na Igreja fundada por São Pedro em Roma. Ele foi sempre a Liturgia mais comum. A respeito disso o Papa Inocêncio I (+ 419) escreve: É manifesto que ninguém em toda a Itália, Gália, Espanha, África e ilhas adjacentes fundou igrejas, senão as que o Apóstolo Pedro ou seus sucessores estabeleceram como bispos. Daí se segue que estes tem de guardar o que guarda a Igreja Romana, da qual, sem dúvida, tiram sua origem.74 Mas para chegar a ser o mais belo tesouro litúrgico da Igreja Católica o Rito Romano conheceu várias etapas de solidificação. Do ano 100 ao ano 400 ainda era comum 69 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49. 70 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 64. 71 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 50 72 Idem. 73 Cf. M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49 74 INOCENCIO I, Eisenhorfer, p. 31-39 e Gatterer. Ann. Lit. p. 31. apud J. B. REUS, Curso de Liturgia, n. 58, p. 35. 19
  • 20. a “improvisação”75, mas propriamente a inspiração, conforme os costumes provindos dos Apóstolos. Assim, como a priori não existiam livros litúrgicos, os sacerdotes tinham que decorar as orações principais da Santa Missa, sobretudo aquelas que dariam origem ao grande Cânon Romano, e os gestos comuns de cada cerimônia. Do ano 400 ao ano 700 surgem na Igreja os primeiros sacramentários, eles continham o Cânon da Santa Missa e outras orações mutáveis do oficio76. Nesse período o Rito Romano já se encontra todo fixo, ou seja, as principais funções litúrgicas, textos e orações já se encontram estabelecidos e solidificados. O primeiro dos sacramentários foi o leonino com 175 textos litúrgicos77. Depois veio o sacramentário gelasiano, por volta do século V, tendo por autor provavelmente o Papa Gelásio (+ 496)78. São Gregório Magno (+ 604) compôs o sacramentário que depois foi chamado gregoriano, no qual prescreveu uma única oração por dia, 10 prefácios e acrescentou alguns ofícios79. De São Gregório em diante os livros litúrgicos sofreram poucas modificações rituais significativas. Depois dessa “consolidação” do Rito Romano a Igreja decidiu, do ano 700 ao ano 1500, unificar o Rito em todo o mundo católico (lembrando que, paralelamente ao Rito Romano aqueles outros Ritos litúrgicos foram se desenvolvendo em diversos lugares no mundo80). Este período foi a época da generalização da Liturgia da Igreja Católica. Para tanto, São Gregório iniciou uma grande campanha de difusão do Rito Romano no mundo. Assim ele enviou Santo Agostinho, monge beneditino, com 40 companheiros, no ano 597, para implantarem o Rito Romano na Inglaterra. Depois enviou São Vilibrordo e outros missionários ingleses para a Frísia. Santo Ansgário foi enviado para a Dinamarca e para a Suécia; depois o mesmo Santo Ansgário seguiu com São Bonifácio para a Alemanha e o país dos francos. Os monges beneditinos de Cluni propagaram o Rito Romano nos reinos da península ibérica. Deste modo, nesses lugares o Rito recebido dos Apóstolos e guardado por Roma substituiu os Ritos Galicano e Moçárabe81. Houve, então, um período de estabilidade litúrgica romana. Capítulo 5 O RITO ROMANO A PARTIR DO PAPA PIO V Já sabemos, até aqui, mais ou menos o percurso geral do Rito Romano, assim como a importância de figuras, como São Gregório, que contribuíram fundamentalmente para o desenvolvimento da Liturgia romana. Na verdade São Gregório foi o responsável, de certo modo, pela Liturgia que a Igreja conhece hoje. 75 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 62, p. 37. Não se deve entender esta improvisação como a entendemos em nosso tempo, mas como uma inspiração divina para dirigir a Deus orações que seguem uma tradição de gestos e sentidos. 76 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 63, p. 37. 77 Ibid n. 63.1, p. 37. 78 Ibid n. 63.2, p. 37. 79 Ibid n. 63.3, p. 37-38. 80 Conferir sobre os Ritos acima. 81 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 64, p. 38; M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 49. 20
  • 21. Agora vamos continuar essa pequena apresentação com outra figura muito importante para a perpetuidade dum Rito puro e venerável: São Pio V. I. Pedido pela unificação litúrgica Até aqui (pouco antes de 1500) os sacramentários traziam apenas textos para as Missas solenes. Porém, as Missas privadas tornavam-se costume. Por isso, começaram a existir muitas diferenças na Liturgia tanto nos países como nas Igrejas Particulares, o que fez surgir pedido de unificação litúrgica para toda a Igreja. A estabilidade que o Rito Romano alcançou até o ano 1500 não significou a suplantação dos outros Ritos católicos, que eram muitos. Pelo ano 1517 o monge agostiniano Martinho Lutero se revoltou contra a Igreja em relação a vários pontos, sobretudo na doutrina e na Liturgia, tais como: a Transubstanciação, a Presença Real, as Indulgências, a realidade sacrifical da Missa etc. Por isso, quando da convocação e realização do Sagrado e Dogmático Concílio Ecumênico de Trento, muitos bispos e cardeais se dirigiram ao Papa intensificando o pedido de que existisse um único Rito para toda a Igreja, ou seja, livros próprios e comuns a toda a Igreja. Então, depois de longos anos de trabalhos de alguns Pontífices e dos Padres no Concilio de Trento, o Papa São Pio V decidiu unificar o Rito litúrgico em toda a Igreja Católica. Para isso ele codificou, ou seja, reorganizou o que já existia no Rito Romano, levando em conta a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério da Igreja, e fez do Rito da Igreja de Roma o Rito universal da Igreja Católica no mundo inteiro. Então, para consumar a unificação o Papa São Pio V publicou, em 1568, o novo Breviário82 e, em 1570, o novo Missal no qual codificava o Rito Romano de modo perpétuo83. II. A bula Quo Primum Tempore do Papa São Pio V Desta unificação litúrgica é interessante conhecermos o documento papal que promulgou o Missal codificado por São Pio V. A Bula Quo Primum Tempore tem suma importância, por isso apresentamos uma versão do texto na íntegra, com alguns grifos destacando partes essenciais da perpetuidade desta promulgação. Eis o texto: PIO BISPO Servo dos Servos de Deus Para perpétua memória 1 - Desde que fomos elevados ao ápice da Hierarquia Apostólica, de bom grado aplicamos nosso zelo e nossas forças e dirigimos todos os nossos pensamentos no sentido de conservar na sua pureza tudo o que diz respeito ao culto da Igreja; o que nos esforçamos por preparar e, com a ajuda de Deus, realizar com todo o cuidado possível. 2 - Ora, entre outros decretos do Santo Concílio de Trento cabia-nos estabelecer a edição e correção dos livros santos: Catecismo, Missal e Breviário. 82 Liturgia das Horas. 83 Perpetuidade aqui não quer dizer imutabilidade (ao menos não nos elementos humanos), mas permanente, sempre em vigor. Prova disso é o Summorum Pontificum do Papa Bento XVI. Foram editados posteriormente outros livros litúrgicos como: martyrologicum romanum, em1584, Gregório XIII; pontificale romanum, 1596; caerimoniale episcoporum, em 1600; rituale romaum, em 1614; diversos livros de cantos sacros; instructio clementino, 1735 (Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 71-73, p. 40-42). 21
  • 22. 3 - Com a graça de Deus, já foi publicado o Catecismo, destinado à instrução do povo, e corrigido o Breviário, para que se tributem a Deus os devidos louvores. Outrossim, para que ao Breviário correspondesse o Missal, como é justo e conveniente (já que é soberanamente oportuno que, na Igreja de Deus, haja uma só maneira de salmodiar e um só rito para celebrar a Missa), parecia-nos necessário providenciar, o mais cedo possível, o restante desta tarefa, ou seja, a edição do Missal. 4 - Para tanto, julgamos dever confiar este trabalho a uma comissão de homens eruditos. Estes começaram por cotejar cuidadosamente todos os textos com os antigos de nossa Biblioteca Vaticana e com outros, quer corrigidos, quer sem alteração, que foram requisitados de toda parte. Depois, tendo consultado os escritos dos antigos e de autores aprovados, que nos deixaram documentos relativos à organização destes mesmos ritos, eles restituíram o Missal propriamente dito à norma e ao rito dos Santos Padres. 5 - Este Missal assim revisto e corrigido, Nós, após madura reflexão, mandamos que seja impresso e publicado em Roma, a fim de que todos possam tirar os frutos desta disposição e do trabalho empreendido, de tal sorte que os padres saibam de que preces devem servir-se e quais os ritos, quais as cerimônias, que devem observar doravante na celebração das Missas. 6 - E a fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por Nós, em todas as Igrejas: nas Igrejas Patriarcais, Catedrais, Colegiais, Paroquiais, quer seculares quer regulares, de qualquer Ordem ou Mosteiro que seja, de homens ou de mulheres, inclusive os das Ordens Militares, igualmente nas Igrejas ou Capelas sem encargo de almas nas quais a Missa conventual deve, segundo o direito ou por costume, ser celebrada em voz alta com coro, ou em voz baixa, segundo o rito da Igreja Romana, ainda quando estas mesmas Igrejas, de qualquer modo isentas, estejam munidas de um indulto da Sé Apostólica, de costume, de um privilégio, até de um juramento, de uma confirmação apostólica ou de quaisquer outras espécies de faculdades. A não ser que, ou por uma instituição aprovada desde a origem pela Sé Apostólica, ou então em virtude de um costume, a celebração destas Missas nessas mesmas Igrejas tenha um uso ininterrupto superior a 200 anos. A estas Igrejas Nós, de maneira nenhuma, suprimimos nem a referida instituição, nem seu costume de celebrar a Missa; mas, se este Missal que acabamos de editar lhes agrada mais, com o consentimento do Bispo ou do Prelado, junto com o de todo Capítulo, concedemos-lhes a permissão, não obstante quaisquer disposições em contrário, de poder celebrar a Missa segundo este Missal. 7 - Quanto a todas as outras sobreditas Igrejas, por Nossa presente Constituição, que será válida para sempre, Nós decretamos e ordenamos, sob pena de nossa indignação, que o uso de seus missais próprios seja supresso e sejam eles radical e totalmente rejeitados; e, quanto ao Nosso presente Missal recentemente publicado, nada jamais lhe deverá ser acrescentado, nem supresso, nem modificado. Ordenamos a todos e a cada um dos Patriarcas, Administradores das referidas Igrejas, bem como a todas as outras pessoas revestidas de alguma dignidade eclesiástica, mesmo Cardeais da Santa Igreja Romana, ou dotados de qualquer outro grau ou preeminência, e em nome da santa obediência, rigorosamente prescrevemos que todas as outras práticas, todos os outros ritos, sem exceção, de outros missais, por mais antigos que sejam, observados por costume até o presente, sejam por eles absolutamente abandonados para o futuro e totalmente rejeitados; cantem ou rezem a Missa segundo o rito, o modo e a norma por Nós indicados no presente Missal, e na celebração da Missa, não tenha a audácia de acrescentar outras cerimônias nem de recitar outras orações senão as que estão contidas neste Missal. 8 - Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura, e isto para sempre. 9 - Da mesma forma decretamos e declaramos que os Prelados, Administradores, Cônegos, Capelães e todos os outros Padres seculares, designados com qualquer denominação, ou Regulares, de qualquer Ordem, não sejam obrigados a celebrar a Missa de outro modo que o por Nós ordenado; nem sejam coagidos e forçados, por quem quer que seja, a modificar o presente Missal, e a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e válida, em toda a sua força. 10 - Não obstante todas as decisões e costumes contrários anteriores, de qualquer espécie: Constituições e Ordenações Apostólicas, ou Constituições e Ordenações, tanto gerais como especiais, publicadas em Concílios Provinciais e Sinodais; não obstante também o uso das Igrejas acima enumeradas, 22
  • 23. ainda que autorizado por uma prescrição bastante longa e imemorial, mas que não remonte a mais de 200 anos. 11 - Queremos e, pela mesma autoridade, decretamos que, depois da publicação de Nossa presente Constituição e deste Missal, todos os padres sejam obrigados a cantar ou celebrar a Missa de acordo com ele: os que estão na Cúria Romana, após um mês; os que habitam aquém dos Alpes, dentro de três meses; e os que habitam além das montanhas, após seis meses ou assim que encontrem este Missal à venda. 12 - E para que em todos os lugares da Terra este Missal seja conservado sem corrupção e isento de incorreções e erros, por nossa Autoridade Apostólica e em virtude das presentes, proibimos a todos os impressores domiciliados nos lugares submetidos, direta ou indiretamente, à Nossa autoridade e à Santa Igreja Romana, sob pena de confiscação dos livros e de uma multa de 200 ducados de ouro, pagáveis à Câmara Apostólica, bem como aos outros domiciliados em qualquer outro lugar do mundo, sob pena de excomunhão ipso facto e de outras penas a Nosso alvitre, se arroguem, por temerária audácia, o direito de imprimir, oferecer ou aceitar esta Missa, de qualquer maneira, sem nossa permissão, ou sem uma licença especial de um Comissário Apostólico por Nós estabelecido, para estes casos, nos países interessados, e sem que antes, este Comissário ateste plenamente que confrontou com o Missal impresso em Roma, segundo a impressão típica, um exemplar do Missal destinado ao mesmo impressor, que lhe sirva de modelo para imprimir os outros, e que este concorda com aquele e dele não difere absolutamente em nada. 13 - E como seria difícil transmitir a presente Bula a todos os lugares do mundo cristão e levá- la imediatamente ao conhecimento de todos, ordenamos que, segundo o costume, ela seja publicada e afixada às portas da Basílica do Príncipe dos Apóstolos e da Chancelaria Apostólica, bem como no Campo de Flora. Ordenamos igualmente que aos exemplares mesmo impressos desta Bula, subscritos pela mão de um tabelião público e munidos, outrossim, do Selo de uma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, seja dada, no mundo inteiro, a mesma fé inquebrantável que se daria à presente, caso mostrada ou exibida. 14 - Assim, portanto, que a ninguém absolutamente seja permitido infringir ou, por temerária audácia, se opor à presente disposição de nossa permissão, estatuto, ordenação, mandato, preceito, concessão, indulto, declaração, vontade, decreto e proibição. Se alguém, contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições, saiba que incorrerá na indignação de Deus Todo-poderoso e de seus bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo. Dado em Roma perto de São Pedro, no ano da Encarnação do Senhor mil quinhentos e setenta, no dia 14 de Julho, quinto de Nosso Pontificado III. Depois da unificação do Rito Romano Com a Quo Primum Tempore o Missal que sempre fora usado em Roma e reformado tornou-se a regra para a celebração da Santa Missa. Toda a Igreja Católica passou então a usar os dois novos livros litúrgicos, como expressão da unificação litúrgica da Igreja de Jesus Cristo. Assim, o Rito, que já existia na Igreja Romana e foi codificado pelo Sumo Pontífice São Pio V84, tornou-se o Rito Ordinário da Igreja Católica (Ordinário não porque existisse outro Rito para toda a Igreja, mas porque tornou-se a regra). Ele substituiu todos os outros, com exceção dos que já estavam em “uso ininterrupto superior a 200 anos”. Por causa desta exceção muitas instituições como dioceses e ordens religiosas tiveram seus ritos próprios salvos. Destas algumas preferiram aderir ao Missal Romano. O Cardeal Antônio Cañizares Llovera, em entrevista na qual falava sobre uma Missa celebrada por ele no Rito Moçarabe na Catedral de Toledo, disse: 84 Esta codificação valerá a São Pio V o fato de muitas vezes, sobretudo hoje, a Santa Missa neste Rito ser chamada “Missa de São Pio V”. Porém, segundo o pensamento litúrgico de nossos dias, como as cerimônias mais antigas da Santa Missa foram introduzidas ou organizadas durante o Pontificado do Papa São Dâmaso (+ 384) e do Papa São Gregório Magno (+ 604), é melhor que se diga “Missa [ou liturgia ou Rito] dâmaso-gregoriana” ou ainda “Missa Gregoriana”, como também já é costume. 23
  • 24. Com efeito, todos os dias na Catedral de Toledo celebra-se a Missa e recitam- se as laudes, também segundo este antiquíssimo rito que sobreviveu à reforma tridentina. É preciso recordar, de fato – e isso não agrada a algumas pessoas – que o chamado Missal de São Pio V não aboliu todos os Ritos precedentes. Foram “salvos” os Ritos que podiam contar com ao menos dois séculos de história. E o Rito Moçárabe – junto com o, por exemplo, Rito próprio da ordem dominicana – estava entre estes. Assim depois do Concílio de Trento não houve uma absoluta uniformidade na liturgia da Igreja Latina.85 Dentre as instituições ou Ritos conservados pela exceção da Bula estão: o Rito Beneditino ou Monástico, rezado pela Ordem de São Bento e outras que seguem a Regra beneditina; o Rito Cisterciense, rezado pela Ordem Cisterciense; o Rito Carmelitano ou Hierosolimitano, rezado pela Ordem do Carmelo, os monges carmelitas observantes; o Rito Dominicano, semelhante ao Rito Carmelitano, rezado pela Ordem dos Pregadores, de São Domingos; o Rito Cartusiano, semelhante ao Rito Romano, rezado pela Ordem Cartuxa; o Rito Premonstratense, rezado pela Ordem Premonstratense, cônegos regulares; o Rito de Braga, rezado na Arquidiocese de Braga; o Rito de Lyon (ou Lião)86, próprio da Diocese de Lião, na França; o Rito Ambrosiano e o Rito Moçárabe. Estes Ritos que foram conservados não são antagônicos ao Romano, mas um patrimônio das suas respectivas instituições. Não são uma oposição à regra universal, mas manifestação do único e mesmo Rito Romano, pois todos, uns mais outros menos, foram constituídos e formados na tradição romana. Por isso, são para a Igreja um verdadeiro tesouro espiritual e como tal devem ser tomados. De acordo com tudo o que dissemos sobre a Quo Primum Tempore podemos fazer a seguinte demonstração sobre a situação dos Ritos da Igreja Latina:87 Rito principal Ritos salvaguardados - Rito Beneditino - Rito Cisterciense - Rito Camelitano RITOS LATINOS - Rito Dominicano Ocidentais • Rito Romano - Rito Cartusiano - Rito Premonstratense - Rito Bracarense - Rito de Lionês - Rito Moçárabe - Rito Ambrosiano Estes Ritos particulares de Ordens e Dioceses são, de fato, particulares, ou seja, são usados somente por seus respectivos fiéis e religiosos. Hoje são pouco usados, mas resistem ao tempo e às reformas. 85 http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=20609 86 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 67; A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 66; M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 48-50. 87 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 66; M. PINTO, O valor teológico da Liturgia, p. 48-50. 24
  • 25. Em 1588 o Papa Sisto V instituiu a Congregação para os Ritos, que seria responsável pela fiscalização e desenvolvimento do Rito Romano88 e regulamentação dos outros ritos católicos. Esta Congregação teve grande e importante papel na Santa Igreja até a alguns anos atrás quando foi extinta, no pós Vaticano II. Houve ainda algumas modificações no Breviário realizadas pelo Papa São Pio X, na edição de 1914 e no Missal, na edição de 1920, mas nada que modificasse o Rito Romano em si ou que incorresse na “indignação de Deus Todo-poderoso e de seus Bem- Aventurados Apóstolos São Pedro e São Paulo”. Mas recentemente o Beato e Papa João XXIII fez uma revisão geral no Missal de São Pio V, com algumas correções e acréscimos, porém, sem nenhuma mudança substancial, e o reeditou com a Carta Apostólica dada Motu Próprio sobre as Novas Rubricas do Breviário e da Missal Romano, em 25 de julho de 1960. É este Missal Romano que é atualmente usado na Liturgia de Sempre. Esta reforma no Missal de Pio V valeu ao Santo Padre João XXIII ter o seu nome unido ao Missal de tal forma que, apesar de ainda se falar Missal de São Pio V, é costume dizer-se Missal de João XXIII ou Missal do Beato João XXIII. Alertamos que o que dissemos (e ainda diremos) aqui é apenas um breve resumo de uma história multissecular, que deveria ser conhecida por todos os ditos católicos. Terminando esta primeira parte é oportuno que fixemos melhor o desenvolvimento do Ordinário da Santa Missa no Rito Romano. Portanto, lembramos que os primeiros cristãos cristianizaram cerimônias judaicas89 e que nos primeiros séculos do cristianismo a Liturgia cristã foi gradativamente se desenvolvendo90 e depois o Papa São Pio V codificou o Rito Romano; podemos, então, fazer a seguinte sinopse sobre a Santa Missa no Rito Romano:91 RITO DA RITO ROMANO RITO ROMANO RITO ROMANO RITO ROMANO SINAGOGA NO SÉCULO II NO SÉCULO IV NO SÉCULO VII NA CODIFICAÇÃO - Judica - Confiteor - Orações - Intróito - Intróito - Kyrie - Kyrie - Glória - Glória - Collecta - Collecta - 1ª Leitura: Torá - 1ª Leitura - 1ª Leitura - 1ª Leitura - Epistola (Lectio) Salmo (Antigo (Antigo (Epistola dos Testamento) Testamento) Apóstolos) Salmo Salmo - 2ª Leitura - Responsório - Responsório (Novo - Aleluia - Aleluia Testamento: Epístola) Salmo 2ª Leitura: Profecia - 2ª Leitura - 3ª Leitura - 2ª Leitura - Evangelho (Novo (Evangelho) (Evangelho) Testamento) - Pregação - Sermão - Sermão - Sermão - Sermão 88 Cf. J.B. REUS, Curso de Liturgia, n. 65, p. 38. 89 Conferir Capítulo 2, I acima. 90 Conferir capítulo 2, II-III, acima. 91 Conforme A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 199. 25
  • 26. - Despedida dos - Credo catecúmenos - Oremus - Oremus - Oração dos fiéis - Oração dos fiéis - Ósculo da paz - Ósculo da paz - Ablução das - Ablução das mãos - Ablução das mãos - Oferenda do povo mãos - Oferenda do - Elevação dos dons - Oferenda do - Oferenda do povo povo povo - Segunda ablução das mãos - Orações do ofertório - Incenso - Ablução das mãos - Secreta - Secreta - Oração - Oração - Oração - Oração Eucarística Eucarística Eucarística Eucarística - Pater noster - Pater noster - Fração do Pão - Litania - Agnus Dei (Ladainha) - Ósculo da paz - Ósculo da paz - Fração do Pão - Preparação para a - Agnus Dei Comunhão - Comunhão - Comunhão - Comunhão - Comunhão - Salmo 33 - Canto da - Canto da - Ação de Graças Comunhão Comunhão - Ação de Graças - PostCommunio - Benção - Benção - Benção - Último Evangelho 26
  • 27. SEGUNDA PARTE: A SANTA MISSA NO RITO ROMANO92 92 É bom que todos fiquem atentos para o fato de, até aqui e adiante, estarmos falando do Rito Gregoriano como sendo o Rito Romano, o Rito Ordinário da Igreja Ocidental, porém, isto é apenas cronologicamente, ou seja, estamos nos referindo ao Rito Gregoriano na história da Igreja. Atualmente este Rito é na Igreja a Forma Extraordinária do Rito Romano (sobre isto ainda falaremos). 27
  • 28. Capítulo 6 VISÃO GERAL I. Estrutura geral da Santa Missa Para facilitar o entendimento da Missa no Rito Romano é bom termos uma visão geral do Rito. Então, de início, precisamos entender que a Santa Missa é dividida em duas grandes partes: a Ante-Missa (ou Missa dos Catecúmenos) e a Missa dos Fiéis. Vejamos o esquema geral: 1ª parte: - ANTES DO SACRIFÍCIO (Missa dos Catecúmenos) = do intróibo ao credo. 2ª parte: - O SACRIFÍCIO (Missa dos Fiéis) = composta pelo ofertório, cânon e comunhão. - DEPOIS DO SACRIFÍCIO = acontece a despedida, benção e o último Evangelho. Porém, existe ainda uma outra parte que não está incluída no Ordinário da Missa, mas que é facultativa: são as Orações Finais. Elas são geralmente rezadas no fim da Santa Missa rezada. 28
  • 29. II. Classificação das Missas93 O Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo perpetuado no altar é sempre o mesmo, independentemente da forma que seja celebrada a Santa Missa. Porém, tratando-se do Sacrifício de Cristo a Igreja conserva antigas formas de celebrar a Santa Missa. Em todas elas o que sempre deve acontecer é aquilo que prescreve a Santa Igreja nos livros litúrgicos e a reta intenção do celebrante. Dependendo do grau de solenidade a Missa pode ser classificada como: solene, cantada ou rezada. A Missa solene, celebrada por um bispo, é a forma mais festiva e antiga da Santa Missa na Igreja. É chamada Missa Pontifical, por ser celebrada pelo bispo, sucessor dos Apóstolos. A Missa Pontifical tem sua origem no fato de o bispo celebrar rodeado de todo o seu clero (presbíteros, diáconos e subdiáconos), na época em que só existiam as catedrais94, onde residia o bispo e os presbíteros. Como não havia concelebração os presbíteros participavam da Missa do seu bispo. Na Missa Pontifical o bispo é assistido mais ou menos por trinta e seis ministros (desde presbíteros até os servos mais inferiores). Esta Missa é cantada e nela o coro e os fiéis participam mutuamente pelo canto. A Missa Pontifical é a mais solene forma do Santo Sacrifício. Quando, porém, as dioceses cresceram juntamente com o número de fiéis, os presbíteros passaram a celebrar sozinhos, isto é, sem o bispo, em matrizes distantes da catedral, pois os fiéis não conseguiam mais, por conta da distância e carência de transporte, participar da Missa Pontifical. Esta Missa celebrada pelos presbíteros é que deu origem, de certo modo,95 à Missa solene e à Missa cantada (ou Missa Paroquial) celebrada pelo presbítero. A Missa solene do presbítero é uma redução ou adaptação da Missa Pontifical. Cresceu rapidamente com a contribuição das congregações e ordens que, na celebração comunitária, contava com grande número de presbíteros e ministros. Nesta o coro e os fiéis tem grande papel no canto sagrado. A Missa cantada ou paroquial é uma redução da Missa solene. Nela o sacerdote canta sem a assistência dos ministros, por isso ele desempenha todas as funções do diácono e subdiácano (seja pela própria função seja por um gesto ou sinal que os representem). O sacerdote é assistido apenas por dois acólitos e algumas cerimônias, como procissão do Evangelho e a incensação, são suprimidas. Com o crescimento do número de sacerdotes (nos mosteiros, conventos e dioceses) e das confrarias de fiéis e outras circunstâncias começou-se a ter a necessidade de muitas Missas em vários lugares. Nem sempre se dispunha de coro e ministros suficientes para o serviço. Então os sacerdotes começaram a rezar a Santa Missa, sem o coro (consequentemente sem canto), com a assistência de um só ministro e até sem a assistência de fiéis. Assim, quando os sacerdotes celebravam a forma da Missa com a assistência dos fiéis ela era denominada Missa rezada e quando a celebrava sem a assistência dos fiéis era denominada Missa privada. Esta forma de rezar a Santa Missa difundiu-se logo, tanto a rezada como a privada, e, como não tinha canto nem ministros para as funções realizadas na Missa solene e cantada, o sacerdote passou a rezar as partes que antes eram cantadas. 93 Cf. A. FRANÇOIS, Participação Ativa na Missa, p. 84-86; A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 200-202. 94 É como se a diocese de um bispo fosse uma grande paróquia. Alias por essa época ainda não existiam as paróquias. 95 Cf. A.W. REYNA, Introdução à Liturgia, p. 201. 29
  • 30. Depois dessa Missa rezada se tornar costume os sacerdotes começaram na Missa solene e cantada, rezar as partes que eram executas pelos fiéis ou pelo coro, tal como ele faz na Missa rezada. Esta é a explicação, por exemplo, de o sacerdote rezar partes que estão sendo cantadas ou dele rezar sozinho o que será rezado pela assistência. Capítulo 7 ORDINÁRIO DA SANTA MISSA NO RITO ROMANO96 Depois de termos visto a trajetória do Rito Romano e conhecido um pouco de sua formação, vamos agora continuar a conhecê-lo através do Ordinário da Santa Missa que foi codificado por São Pio V e reformado pelo Beato João XXIII. Alías, este é o Ordinário usado até hoje em nossa Santa Igreja. No que se segue as letras em vermelho são as rubricas, os números vermelhos indicam uma posterior explicação e as partes em negrito (cor preta) são as partes próprias dos fiéis. 96 Este ordinário está corrigido conforme o Missal Romano Quotidiano: Latim-Português de Dom Gaspar Lefebvre (para Portugal). 30
  • 31. I. PREPARAÇÃO De pé, diante dos degraus do altar, o celebrante começa a Missa, fazendo o sinal da cruz: In nomine Patris, + et Filii, et Em nome do + Pai e do Filho e do Spiritus Sancti. Amen.1 Espírito. Amém Ant. Introibo ad altare Dei. Ant. Vou me aproximar do altar de Deus. R. Ad Deum qui lætificat R. Do Deus que é a alegria da juventutem meam. minha juventude. ______________ 1 – Todos se persigam juntamente com o celebrante. Estas primeiras orações de preparação pública do sacerdote (e da assistência) são comumente chamadas de orações ao pé do altar, pelo fato de serem rezadas diante do altar. Salmo 42 2 Judica me, Deus, et discerne Fazei-me justiça, ó Deus, e tomai a causam meam de gente non sancta: ab defesa da minha causa contra a gente homine iniquo et doloso erue me. desapiedada; do homem iníquo livrai- me, Senhor. R. Quia tu es, Deus, fortitudo mea: R. Pois vós, ó Deus, sois a minha quare me repulisti, et quare tristis fortaleza, por que então me haveis incedo, dum affligit me inimicus? repelido? Por que ando eu assim triste, oprimido pelo inimigo? Emitte lucem tuam et veritatem Enviai-me a vossa luz e a vossa tuam: ipsa me deduxerunt et verdade; que me guiem e me conduzam adduxerunt in montem sanctum tuum, até à vossa montanha santa, até à vossa et in tabernacula tua. morada. R. Et introibo ad altare Dei: ad R. E eu vou me aproximar do altar Deum qui lætificat juventutem meam. de Deus, do Deus que é a alegria da minha juventude. Confitebor tibi in cithara Deus, Eu vos louvarei ao som da cítara, Deus meus: quare tristis es anima mea, Senhor, meu Deus. E tu, minha alma, et quare conturbas me? por hás-de estar triste e por que alvoroçar-te dentro de mim? R. Spera in Deo, quoniam adhuc R. Espera em Deus, que uma vez confitebor illi: salutare vultus mei, et mais quero enaltecer, a Ele, salvação Deus meus minha e meu Deus. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Glória ao Pai e ao Filho e ao Sancto. Espírito Santo 31
  • 32. R. Sicut erat in principo, et nunc, R. Assim como era no princípio e et semper: et in sæcula sæculorum. agora e sempre, e por todos os séculos Amen. dos séculos. Amém. ___________________________________ 2 – Este salmo manifesta o desejo do sacerdote celebrante em unir-se a Jesus e lembra a espera do povo no Antigo Testamento que desejava a vinda do Servo de Deus (o Cristo). Foi introduzido no século XI. Por ser um canto de alegria é omitido nas Missas pelos defuntos, requie, e no tempo da Paixão do Senhor. Neste salmo o sacerdote é identificado com Davi que o compôs. Repete a Antífona: Introibo ad altare Dei. Vou me aproximar do altar de Deus. R. Ad Deum qui lætificat R. Do Deus que é alegria da juventutem meam. minha juventude. Adjutorium + nostrum in nomine O nosso + auxílio está em nome Domine. do Senhor. R. Qui fecit caelum et terram. R. Que fez o Céu e a Terra. Profundamente inclinado, o celebrante diz o Confiteor, e depois dele, os assistentes. Confiteor Deo omnipotenti, etc. 3 Eu pecador me confesso, etc. R. Misereatur tui omnipotens R. Que o Deus onipotente se Deus, et dimissis peccatis tuis, perducat compadeça de ti, perdoe os teus pecados te ad vitam æternam. 4 e te conduza à vida eterna. Celebrante: R. Amen Celebrante: R. Amém Os assistentes dizem o Confiteor: 5a Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Eu, pecador, me confesso a Deus Mariæ semper Virgini, beato Michæli todo-poderoso, à Bem-Aventurada Archangelo, beato Joanni Baptistæ, sempre Virgem Maria, ao Bem- sanctis Apostolis Petro et Paulo, Aventurado São Miguel Arcanjo, ao omnibus Sanctis, et tibi, pater: quia Bem-Aventurado São João Batista, aos peccavi nimis cogitatione, verbo, et Santos Apóstolos São Pedro e São opere: [percutiunt sibi pectus ter, dicentes]: Paulo, a todos os Santos, e a vós, padre, mea culpa, mea culpa, mea maxima que pequei muitas vezes por culpa. pensamentos, palavras e obras, [bate três vezes no peito] por minha culpa, minha culpa, minha grande culpa. Ideo precor beatam Mariam Portanto, rogo à Bem-Aventurada semper Virginem, beatum Michælem Virgem Maria, ao Bem-Aventurado São Archangelum, beatum Joannem Miguel Arcanjo, ao Bem-Aventurado Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et São João Batista, aos Santos Apóstolos Paulum, omnes Sanctos, et te, pater, São Pedro e São Paulo, a todos os 32
  • 33. orare pro me ad Dominum Deum Santos, e a vós, padre, que rogueis por nostrum. mim a Deus Nosso Senhor. Celebrante: Misereatur vestri omnipotens Que o Deus onipotente se Deus, et dimissis peccatis vestris, compadeça de vós, perdoe os vossos perducat vos ad vitam æternam. pecados e vos conduza à vida eterna. R. Amen. R. Amém. Fazendo o sinal da cruz, o celebrante diz: Indulgentiam 5b + absolutionem, Perdão +, absolvição e remissão et remissionem peccatorum dos nossos pecados, nos conceda o nostrorum, tribuat nobis omnipotens Senhor onipotente e misericordioso. et misericors Dominus: R. Amen. R. Amém. _______________ 3 – O sacerdote celebrante, demonstrando humildade e preparando-se convenientemente para conceder o perdão de Deus aos fiéis, pede, ele mesmo, antes o perdão de Deus rezando sozinho o confiteor. O confiteor é a parte mais antiga e mais essencial das Orações ao Pé do Altar. É uma oração de acusação geral dos próprios pecados; com ele pede-se perdão a Deus por ousar celebrar o tremendo Sacrifício do altar, visto que o homem já nasceu no pecado. Substancialmente o confiteor já era rezado no século XI. 4 – Os assistentes unem-se à oração do sacerdote suplicando a Deus para que os pecados de Seu ministro sejam perdoados. Esse é o primeiro grande fato que evidencia a participação dos fiéis na Santa Missa, entendida como “o fazer”, ou seja, os assistentes ou os fiéis não são passivos, como muitos pensam, eles (seja com esta e outras orações ou pela união com o sacerdote) participam do Santo Sacrifício de modo ativo, porém, diferentemente do sacerdote. 33
  • 34. 5a – Depois os próprios assistentes, com ou sem os fiéis, rezam o confiteor e recebem do sacerdote a mesma “oração de intercessão”. 5b – É importante perceber que esta oração é totalmente diferente da misereatur, tendo também uma finalidade diferente: a misereatur é um pedido pelo outro, um tipo de “intercessão”, por isso é rezada por todos, fiéis e sacerdote; a indulgentiam é a oração pela qual se concede o perdão dos pecados, ou seja, o sacerdote concede o perdão dos pecados gerais (pensamentos, palavras, obras e omissões = pecados leves, veniais) do próprio sacerdote e dos presentes (por isso mesmo só o sacerdote reza). O celebrante, inclinado, diz: Deus, tu conversus vivificabis Ó Deus, volvei para nós o vosso nos. 6 rosto e daí-nos a vida. R. Et plebs tua lætabitur in te. R. E o vosso povo alegrar-se-á em Vós. Ostende nobis Domine, Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericordiam tuam. misericórdia. R. Et salutare tuum da nobis. R. E concedei-nos a vossa salvação. Domine, exuadi orationem meam. Ouvi, Senhor, a minha oração. R. Et clamor meus ad te veniat. R. E até Vós chegue o meu clamor. Dominus vobiscum. O Senhor seja convosco. R. Et cum spiritu tuo. R. E também com o teu espírito. _______________ 6 – Estes versículos são uma introdução à oração seguinte, aufer a nobis. O celebrante sobe ao altar, dizendo: Oremus. Oremos. Aufer a nobis, quæsumus, Afastai de nós, Senhor, Vos Domine, iniquitates nostras: ut ad pedimos, as nossas iniqüidades, a fim Sancta sanctorum puris mereamur de mereçermos entrar de alma pura no mentibus introire. Santo dos Santos. O celebrante, inclinado, diz a seguinte oração: Oramus te, Domine, per merita Nós vos suplicamos, Senhor, Sanctorum tuorum, quorum reliquiæ pelos merecimentos dos vossos Santos, hic sunt, et omnium Sanctorum: ut cujas relíquias se encontram aqui indulgere digneris omnia peccata mea. (beijando o centro do altar) e de todos os Amen. Santos, Vos digneis perdoar-nos todos os nossos pecados. Amém. 34
  • 35. II. PRIMEIRA PARTE: ANTE-MISSA Nas Missas solenes, incensa-se o altar.7 O celebrante vai para o lado da Epístola, e lê o Introito. Canto solene de entrada, o Intróito como que enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia. Às primeiras palavras, todos se benzem, ao mesmo tempo que o celebrante. INTRÓITO 8 [ver Missa do dia] ___________________ 7 – Depois de oscular o altar, na Missa solene, o celebrante incensa-o. Este costume já existia em alguns lugares nos séculos IX-XI. Na Igreja de Roma foi introduzido no século XII. 8 – Nas Missas pelos defuntos o celebrante, durante o intróito, faz o sinal da Cruz sobre o livro, indicando que os frutos da Missa serão aplicados às almas do Purgatório. O intróito é, geralmente, tirado das Sagradas Escrituras. Sua introdução no ordinário da Missa é atribuída ao Papa Celestino (+ 432) e serve para introduzir os presentes na celebração do dia. Às primeiras palavras todos se benzem juntos com o sacerdote. KYRIE ELEISON 9 O celebrante, no meio do altar, diz, alternadamente com os assistentes: S. Kyrie eleison. Senhor, tende piedade de nós. M. Kyrie eleison. Senhor, tende piedade de nós. S. Kyrie eleison. Senhor, tende piedade de nós. 35