O documento apresenta uma introdução às atividades botânicas em recursos fitogenéticos, abordando a nomenclatura botânica, a necessidade de identificar as plantas e a contribuição de grandes mestres para a taxonomia.
2. ATIVIDADES BOTÂNICAS EM RECURSOS FITOGENÉTICOS
“O MUNDO DA FUNDAG”
Fundação de Apoio à Pesquisa
Agrícola
01/07/2023
Esta continua sendo uma série mensal “O MUNDO DA FUNDAG”, agora com o
primeiro Power Point do segundo semestre de 2023.
Objetiva, principalmente, efetivar a integração dos Funcionários com o Conselho
Diretor, como consta de seu Plano Diretor, através da transmissão de conhecimentos
inerentes aos projetos cadastrados, sempre dentro de Agropecuária e Meio Ambiente,
contidos em alguns poucos slides por mês.
Como tema deste semestre trataremos das “ATIVIDADES BOTÂNICAS EM
RECURSOS FITOGENÉTICOS”, lembrando que não temos a pretensão de mostrar
integralmente o assunto, apenas esclarecer a temática e algumas definições, que sejam
úteis para integrá-los na área científica, assim, como lema desta aula apresentaremos
uma INTRODUÇÃO À NOMENCLATURA.
Relembramos-lhe de que as aulas são programadas para seguirem a apresentação
automaticamente, após o tempo de leitura, desta forma é só assistir!
Com isto desejamos, também, despertar a sua curiosidade em relação aos Projetos -
Fundag, onde o Diretor Administrativo Dr. Renato Ferraz de Arruda Veiga continua
sendo o seu contato para tirar dúvidas e também aprender com vocês, por isto
QUESTIONE-SE, questione-me, e leia mais sobre o assunto!
3. Foto: Herbário Fanerogâmico IAC
INTRODUÇÃ0 À NOMENCLATURA BOTÂNICA
Tratamos aqui das atividades inerentes ao tema Nomenclatura de Plantas, que permeiam as demais atividades de Recursos Fitogenéticos,
em especial com a IDENTIFICAÇÃO e a CARACTERIZAÇÃO (em amarelo).
Foto: Centro de Recursos Genéticos e Jardim Botânico IAC, Alfredo Tilli, uso paisagístico.
REGENERAÇÃO
VALORAÇÃOEUSO
IDENTIFICAÇÃO
CARACTERIZAÇÃO
CONSERVAÇÃO
MULTIPLICAÇÃO
INTERCÂMBIOEQUARENTENA
PRESERVAÇÃO
COLETA
DOCUMENTAÇÃOE INFORMATIZAÇÃO
Ambas atividades são essenciais aos profissionais que atuam na agricultura, quer trabalhem com as plantas cultivadas quer com suas
parentes silvestres, e até mesmo no trato com as espécies invasoras, ou na preservação das espécies nativas, pois, todos têm que saber com
quais espécies estão lidando e quais são suas características (VEIGA, RFA., 2023).
4. A NECESSIDADE DE IDENTIFICAR AS PLANTAS
O Homo sapiens sapiens sempre necessitou de um conhecimento mínimo sobre as plantas para poder utilizá-las com segurança.
Desta forma, desde que adquiriu a cultura da escrita, o NOME VULGAR das plantas faz parte de sua cultura, mesmo quando
ainda não possuía o hábito de se fixar por longos períodos em determinadas regiões. Nesta fase, o nome vulgar era suficiente para
os agricultores, pois, a quantidade de espécies cultivadas no princípio da humanidade era muito restrita (VEIGA, RFA., 2023).
Assim, no próprio Período Neolítico (7000 - 2500 a.C.), houve a transformação que permitiu o surgimento das primeiras
civilizações. Tal ocorreu quando os grupos humanos se sedentarizaram, por dominarem as técnicas agrícolas e por terem que
intensificar a prática da agricultura para a sobrevivência de um grande número de pessoas.
Com o passar dos tempos, ao se ampliar a atividade agrícola, o NOME CIENTÍFICO também se tornou essencial à
identificação das plantas, já que o nome vulgar trazia riscos de escolhas erradas por duplicidade de nomes iguais para espécies
distintas, quer seja na coleta, no cultivo e principalmente no objetivo do seu uso.
Mas, a criação dos sistemas de classificação de seres vivos, construídos a partir das
semelhanças e diferenças entre os organismos, mesmo que superficial, surge no livro
“História dos Animais” (Nikómachou ton Stageíron ARISTÓTELES (384 - 322 a.C.), que
influenciou também a taxonomia botânica.
Posteriormente, no período renascentista (séculos XV e XVI), expandiram-se os estudos de classificação dos animais e plantas,
porém, surge com polinômios que eram muito longos, contendo os nomes das espécies e uma descrição em latim. A
nomenclatura concisa atual surge com LINEU, no século XVIII (Adaptado de: Maria Elice Brzezinski PRESTES et al., 2009).
Aqui vale explicar o conceito de TAXONOMIA que é responsável por identificar, nomear e classificar os seres vivos,
organizando-os hierarquicamente, enquanto que a SISTEMÁTICA estuda as relações evolutivas entre os indivíduos.
5. +.
COLABORAÇÃO DOS GRANDES MESTRES
Classificou as plantas segundo o seu hábito (árvores, arbustos, subarbustos e ervas), ainda as separou quanto ao ciclo (anuais,
bienais e perenes). Sabe-se que também distinguiu a forma das inflorescências (centrípetas e centrífugas), reconheceu a posição
dos ovários (súpero e ínfero), além da inserção das pétalas nas corolas (gamopétalas e dialipétalas), entre outros grandes feitos.
Alguns cientistas foram e continuam sendo vitais às pesquisas de identificação de recursos fitogenéticos, dentre eles destacam-se:
TEOFRASTO DE ÉRESO (371 a 287 a.C.)
Este grego escreveu o livro “História Plantarum” onde descreve e classifica mais de 500 espécies de plantas, por suas
características morfológicas (organografia e anatomia), reprodução e usos, com impacto duradouro na história da botânica.
6. O sueco CARLOS LINEU foi o primeiro a utilizar a nomenclatura binomial (gênero e espécie) desenvolvendo o sistema de
classificação hierárquica em Reino, Filo Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie. Seu livro “Species Plantarum” foi o principal
ponto de partida da nomenclatura vegetal, como ela existe hoje, assim, os primeiros nomes científicos válidos (e os nomina
conservanda) são os que aparecem na 5ª edição do Species Plantarum ed. 5 (1753).
CARL VON LINNÉ (1707-1778 d.C.)
Imagem: pontobiologia.com.br
AUMENTO
DA
DIVERSIDADE
AUMENTO
DA
SEMELHANÇA
Desde então, o taxonomista que identifica uma nova espécie tem o crédito da autoria ao lado do nome científico, assim, tem total
liberdade para criar, desde que siga as regras do código de nomenclatura, se não o fizer pode perder sua autoria.
7. JEAN-BAPTISTE LAMARK (1744-1829 d.C.)
Este francês é famoso pela “Teoria Evolutiva - Lamarchismo” que diz que a EVOLUÇÃO dos organismos vivos depende das
mudanças no MEIO AMBIENTE que por sua vez provocam MUDANÇAS HEREDITÁRIAS na estrutura dos organismos.
Considera que o uso ou desuso de certas estruturas pode levar às mudanças hereditárias, nas gerações futuras. Em 1778, publicou
o livro “Flora Francesa”, uma obra composta por três volumes em que descreve as espécies de plantas da França.
Diferentemente de Lamark, o dinamarquês Wilhelm Ludvig
JOHANNSEN (1909) diz que o FENÓTIPO (características físicas,
morfológicas e comportamentais) é o resultado do GENÓTIPO
(conjunto gênico de um indivíduo) mais o EFEITO do MEIO
AMBIENTE.
LAMARK JOHANSEN
8. CHARLES DARWIN (1809-1866 d.C.)
Este inglês elaborou a Teoria Da Evolução (Darwinismo) onde discorreu sobre a Seleção Natural com Descendência Evolutiva,
na qual as espécies ancestrais evoluem, ao longo de gerações, dando origem a novas espécies, o que levou ao atual SISTEMA
FILOGENÉTICO. O livro "A Origem das Espécies (1859)", apresentou a teoria evolutiva e revolucionou a compreensão sobre a
diversidade e a origem das espécies.
9. NICOLAI IVANOVICH VAVILOV (1887-1943 d.C.)
Dedicou sua carreira ao estudo da diversidade das “plantas cultivadas e de suas parentes silvestres”.
Buscou conhecer suas características fenotípicas e a variabilidade intra e interespecífica, a geografia
regional aliada à história das colonizações antigas, por intermédio de expedições científicas de coleta de
germoplasma pelo mundo. Criou, assim, sua teoria do Centro de Origens das Plantas Cultivadas, em
1935, com oito centros de origem e mais três de diversidade.
O frio extremo na
Rússia provocou a falta
de alimentos, e o Eng.
Agr. Ницолай
Иванович Вавилов,
vivendo tal drama,
decidiu buscar plantas
com genes de
resistência às
intempéries e assim
melhorar geneticamente
os alimentos de seu
país, pois, sabia que as
cultivares da Rússia
possuíam estreita base
genética, por terem sido
criadas com um
material genético
reduzido e introduzido
num passado
longínquo. Para isto
viajou pelos cinco
continentes (VEIGA,
RFA., 2023).
10. A NOMENCLATURA
A NOMENCLATURA envolve a IDENTIFICAÇÃO através do uso dos nomes vulgares (nomes
dados pelas pessoas comuns) e do nome científico (nomes dados pelos taxonomistas) após estudo
da morfologia e sua aplicação na taxonomia, com orientação de normas contidas nos Códigos
Internacionais de Nomenclatura: a) para Algas, Fungos e Plantas; b) para Plantas Cultivadas; e c)
para os Nomes dos Autores, com regras de Richard Kenneth BRUMMITT & POWELL'S (1992) .
Fotos: Herbário Fanerogâmico IAC.
De qualquer maneira, a base da IDENTIFICAÇÃO está nos caracteres morfológicos, mais comumente na ORGANOGRAFIA
que na ANATOMIA, utilizando-se de características observáveis a “olho nu” ou mesmo por intermédio de lupas. Saliente-se que
as análises genéticas e moleculares também têm um papel complementar relevante na confirmação da identificação das
espécies, sendo essenciais nos estudos evolutivos e no conhecimento dos paternais (VEIGA, RFA., 2023).
Os dois códigos para as plantas, mostrados acima, se fundamentam na hipótese da existência de relações genéticas entres as
plantas e na evolução das mesmas até chegarem nas espécies e nas cultivares estáveis que conhecemos hoje.
BRUMMITT
11. Foto: Prédio da Botânica Econômica na década de 1980, na rua da Alegria no IAC sede. Foto: Prédio da Botânica Econômica, 2023, na fazenda Santa Eliza – IAC.
A COLETA DE MATERIAL BOTÂNICO
Este trabalho científico, apesar de sua grande relevância, sempre foi menosprezado no Brasil, o que enaltece
muito mais os nossos cientistas taxonomistas, pelo seu esforço individual. Historicamente, no País,
dependemos muito dos trabalhos dos botânicos do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
desde 1808, e dos botânicos do Instituto Agronômico de Campinas, desde 1887, dentre muitos outros, voltados
para as plantas cultivadas, sendo que o IAC sempre enalteceu as atividades da Botânica Econômica e a
manutenção do Herbário Fanerogâmico IAC. Foto: Parte da equipe do Setor de Botânica Econômica do IAC, 2011.
Cada COLETA é identificada com as siglas dos coletores, sendo que a primeira sigla se refere ao nome do
COORDENADOR DA EXPEDIÇÃO [Ex.: numa coleta de espécies de Amendoim (Arachis hypogaea L.) no
Nordeste do Brasil: O Dr. José Francisco Montenegro Valls (coordenador da expedição) utiliza sua sigla “V”,
e o geógrafo Glocimar Pereira da Silva, é o “Sv” (EMBRAPA), enquanto o Dr. Renato Ferraz de Arruda Veiga
(IAC) tem por sigla “Ve”, assim, uma de suas coletas foi a VVeSv 6001, ou somente Valls et al. 6001, já que o
número refere-se à sequência numérica das coletas do especialista coordenador]. Figura: Caderneta de coleta do IAC.
A COLETA DE MATERIAL BOTÂNICO é efetivada para identificar a flora local, podendo ser de um jardim, de uma fazenda, de uma
cidade, de um estado, e até mesmo de um país. Ao coletar uma planta na natureza realiza-se sua identificação preliminar, a qual é
confirmada posteriormente após consulta de chaves dicotômicas de taxonomia (VEIGA, RFA., 2023).
São coletadas exsicatas (= voltchers), com o máximo de partes da planta que permitam sua identificação
[Exemplos: partes subterrâneas (bulbos, raízes, rizomas, tubérculos) e aéreas (ramos, folhas, flores e frutos)].
Ao lado disto são coletados dados relevantes como coloração no momento da coleta, além de aspectos de solo,
relevo, espécies predominantes no local, etc., e outros que se julgue relevantes, principalmente a latitude,
longitude e altitude que permitem o retorno ao local exato da coleta. Mesmo que a Expedição de Coleta seja
de germoplasma, a coleta de exsicatas é obrigatória! Foto: Glocimar P. da Silva (CENARGEN/EMBRAPA), montando exsicatas.
12. Foto: Herbário Fanerogâmico do IAC, década de 1980.
1. HOLÓTIPO: Espécime designado pelo autor como tipo nomenclatural (com este se faz a descrição de uma nova espécie);
2. ISÓTIPO: Duplicata do Holótipo, parte da coleta original;
3. SINTIPO: Espécime citado originalmente pelo autor, o qual não designou holótipo ou enumerou simultaneamente vários
tipos;
4. NEÓTIPO: Espécime ou elemento escolhido para tipo nomenclatural, na inexistência do material sobre o qual foi baseado o
nome do táxon;
5. LECTÓTIPO: Em caso de perda ou não indicação na publicação. Escolhido dentre Isótipo, Sintipo ou Neótipo;
6. COTIPO: Material não descrito pelo coletor original, porém, da mesma planta e local;
7. TOPOTIPO: Material coletado na mesma região, por coletores diferentes.
Como já visto anteriormente, quando se realiza uma expedição científica de coleta de germoplasma, também são coletados
exemplares (EXSICATAS, foto) da planta a ser identificada, a fim de confirmar sua identidade taxonômica, o suficiente para
enviar para outros herbários tradicionais, até mesmo de fora do País (VEIGA, RFA., 2023).
EXSICATA TIPO: É um exemplar associado à descrição e publicação de um nome. No caso de espécie é uma exsicata de
herbário, mas pode também ser uma descrição ou um desenho. Classificação dos tipos de referência:
A CLASSIFICAÇÃO DAS EXSICATAS
13. Exsicata de herbário de Arachis hypogaea L. pronta para ser costurada, no IBONE-AR.
DENOMINAÇÕES TAXONÔMICAS
1. NOME CONSERVADO: São sinonímias permitidas para nomes de família. O fora dos parêntesis é o tradicional, anterior à
publicação de Lineu, o de dentro é o nome atual: Palmae (Arecaceae), Graminae (Poaceae), Cruciferae (Brassicaceae), Leguminosae
(Fabaceae), Guttiferae (Clusiaceae), Umbelliferae (Apiaceae), Labiatae (Lamiaceae), e Compositae (Asteraceae).
2. NOME NULO: Nome publicado sem descrição ou diagnose associada, ou referência a uma descrição ou diagnose publicada
antes, conforme exigido pelo Código para validação de um TÁXON [Unidade taxonômica de classificação cientifica dos seres vivos
(reino, ordem, género e espécie)] ou, simplesmente que não foi publicado;
3. NOME VÁLIDO: corretamente construído e legitimamente publicado;
4. NOME ILEGÍTIMO: incorretamente construído ou não publicado de acordo com as regras;
5. NOME SUPÉRFLUO: quando é um sinônimo de outro validamente publicado anteriormente;
6. SINÔNIMOS: Nomenclatural – quando se baseou na mesma planta da coleta;
Taxonômico – quando se baseou em tipos diferentes, de locais e datas diferentes;
7. AUTÔNIMOS: terminologia automática para séries típicas: Ex: FAMÍLIA: aceae; SUB-FAMÍLIA: oidea; TRIBO: ea;
8. HOMÔNIMO: dois nomes iguais, de autores e plantas diferentes.
Mesa de secagem e aquecedor elétrico, de uso da equipe do IBONE-CORRIENTES-AR, 1988.
Acredito ser relevante apresentar para vocês algumas denominações taxonômicas, para que se compreenda um pouco mais desta
atividade da Botânica, como a seguir:
14. “O MUNDO DA FUNDAG”
Foto: Área in vitro do Quarentenário IAC, 2011.
QUESTIONE-SE
LEIA MAIS
Foto: Por Renato Veiga, coleta de populações de Amendoim (Arachis spp.), mãos de José Francisco Montenegro Valls, Antônio Krapovickas e Glocimar Pereira da Silva, 1983.