OS (DES)CAMINHOS DOS PROFESSORES INICIANTES DE QUÍMICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DO PIAUÍ: DIFICULDADES E DESAFIOS ENFRENTADOS PARA TORNA-SE UM BOM PROFESSOR
Este documento discute as dificuldades e desafios enfrentados por professores iniciantes de química nas escolas públicas do Piauí durante seu processo de inserção profissional. A pesquisa analisou como ocorre a inserção desses professores e identificou suas principais dificuldades, como abordar conteúdos de química para os alunos e desenvolver técnicas de ensino. Os desafios incluem lidar com a sala de aula e a direção da escola. Os professores também refletiram sobre o
Semelhante a OS (DES)CAMINHOS DOS PROFESSORES INICIANTES DE QUÍMICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DO PIAUÍ: DIFICULDADES E DESAFIOS ENFRENTADOS PARA TORNA-SE UM BOM PROFESSOR
DOCENTES UNIVERSITÁRIOS INICIANTES: MOTIVAÇOES, EXPERIENCIAS INICIAIS E DESAF...ProfessorPrincipiante
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PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
OS (DES)CAMINHOS DOS PROFESSORES INICIANTES DE QUÍMICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DO PIAUÍ: DIFICULDADES E DESAFIOS ENFRENTADOS PARA TORNA-SE UM BOM PROFESSOR
1. Problemas sobre os professores principiantes em seus processos de inserção
profissional
INFORMES DE INVESTIGAÇÃO
OS (DES)CAMINHOS DOS PROFESSORES INICIANTES DE QUÍMICA NAS
ESCOLAS PÚBLICAS DA REDE ESTADUAL DO PIAUÍ: DIFICULDADES E
DESAFIOS ENFRENTADOS PARA TORNA-SE UM BOM PROFESSOR
MENDES, Luciana
luquimi@gmail.com
Instituto Federal do Piauí – IFPI
NEVES, Rayssa
rayneves@yahoo.com.br
Instituto Federal do Piauí – IFPI
Palavras-chave: professores iniciantes; química; dificuldades; desafios; bom professor;
INTRODUÇÃO
A inserção de professores iniciantes tem sido assunto de estudos nas pesquisas
educacionais a nível tanto nacional como internacional. Com a finalidade de contribuir
com essa temática, este trabalho investigou como ocorre a inserção à docência dos
professores principiantes de Química selecionados para atuarem na rede estadual
pública do Piauí, principalmente quando esses não possuem a formação inicial concluída
e atuam como professores temporários, analisando as principais dificuldades e desafios
que enfrentaram para torna-se um bom professor.
Assim, tendo como objeto de estudo a iniciação à docência dos professores de Química
buscamos responder: Como ocorre a inserção à docência desses professores? Quais
as principais dificuldades e desafios enfrentados por eles? O que esses professores
iniciantes pensam sobre ser um bom professor?
Foi baseado nessas questões que fizemos uma breve discussão teórica sobre o ciclo da
vida profissional docente resgatando conceitos que vem sendo desenvolvido nas
pesquisas e literatura da atualidade científica sobre a temática dos professores iniciantes.
No segundo momento, apresentamos a metodologia da pesquisa, descrevendo os
instrumentos utilizados na produção dos dados e os passos metodológicos adotados no
desenvolvimento do estudo.
Na terceira parte intitulada: Dificuldades e desafios enfrentados pelos professores
iniciantes de Química, para tornar-se um bom professor, apresentamos as interpretações
2. 2
e análises das transcrições produzidas através das entrevistas, que mostraram aspectos
sobre as dificuldades e problemas no início da carreira docente e a análise dos conceitos
sobre o que é ser um “bom professor” construído durante o processo.
Nas Considerações Finais, retomamos ao nosso tema de pesquisa, realizando
reflexões sobre os resultados encontrados e a forma como ocorre a inserção desses
professores iniciantes na rede pública estadual de ensino no Piauí.
1 CICLO DA VIDA PROFISSIONAL DOCENTE
Em pesquisas sobre o desenvolvimento da carreira docente Huberman (1992, apud
Stahlschmidt, 2009) identifica tendências comuns da vida profissional do professor. De
acordo com estes estudos, apesar de não se tratarem de fases fixas, mas sim de um
processo dinâmico e individual de cada docente, podemos caracterizar o que o autor
definiu como ciclo de vida dos professores, dividindo a carreira basicamente em quatro
momentos:
Formação inicial;
Inicio de carreira como etapa em que já possui estabilidade profissional;
Período em que questiona a sua opção profissional;
Período em que se aproxima de sua aposentadoria.
Nesses diferentes momentos, no caso da profissão de professores, observa-se o
enfrentamento de diferentes necessidades, desafios, dificuldades, problemas,
expectativas, dilemas e a partir disso constroem seu conhecimento profissional (Nono,
2011).
De acordo com Imbernón (2001) esse conhecimento adquirido durante a carreira
profissional no magistério é dinâmico e não estático e, portanto, depende da maneira que
se desenvolve em diversos momentos podendo ser descrito de acordo com as seguintes
situações:
A experiência como docente: quando ainda se encontram como alunos graduandos,
ocupando essa posição, interpretando o sistema educativo como espaço que lhes
apresentam grandes desafios a serem vencidos.
A etapa de formação inicial como pré-requisito fundamental, a fim de promover um
conhecimento profissional, como também, aspectos da profissão docente, de forma a
inspirar mudanças nas ações do futuro profissional.
Vivencia profissional. Durante a prática educacional ocorre o amadurece do
conhecimento específico referente à profissão, em busca da formação permanente, a
excelência do conhecimento profissional posto na pratica docente.
Sendo assim, no decorrer da carreira docente o profissional vivencia fases que possuem
níveis diferentes, sendo uns mais difíceis e outros mais fáceis, os quais contribuem para
torná-lo mais habilidoso e experiente. Com isso, o tempo profissional requer a
experimentação da prática, a superação dos desafios e das dificuldades presentes na
vida profissional dos professores.
Sobre essa perspectiva, o pesquisador de origem suíça Michael Huberman passou muito
tempo da sua vida acadêmica investigando sobre a carreira do professor,
especificamente os quais lecionaram para alunos de 13 a 19 anos no ensino médio, e
desenvolveu o que ele chamou de ciclo vital dos professores. Por meio de uma análise
sobre o ciclo vital profissional, identificou o que ele chamou de fases do desenvolvimento
profissional na carreira docente.
Sobre essas fases da carreira docente, Huberman (1993, apud Nono, 2011) faz um
destaque geral das características no ingresso inicial à carreira docente como a
sobrevivência e as descobertas entendidas como elementos que direcionam os anos
iniciais, sendo o aspecto da sobrevivência caracterizada como “choque da realidade”,
pontuando para tal: o embate inicial; a complexidade; a imprevisibilidade que caracteriza
a sala de aula; a discrepância entre os ideais educacionais e a vida cotidiana nas classes
3. 3
de alunos e nas escolas; a fragmentação do trabalho; a dificuldade de empregar ensino e
gestão de sala de aula; a falta de materiais didáticos, etc.
Sobre os aspectos da descoberta podemos destacar: o entusiasmo do iniciante e
orgulho de finalmente ter sua própria classe, seus alunos, e fazer parte de um corpo
profissional.
Para alguns professores, o entusiasmo inicial torna fácil o inicio na docência, mas, para
outros, as dificuldades tornam o período muito difícil. Em todo caso, é no princípio da
carreira docente que se inicia a formação do conhecimento profissional para um contínuo
desenvolvimento profissional durante as demais fases da carreira docente serão
descritas a seguir (Huberman,1993, apud, Nono, 2011, p. 16):
A fase da estabilidade;
A fase da experimentação ou diversificação;
A fase da procura de uma situação de estabilidade profissional, que lhe
dê segurança;
A fase da preparação do jubilamento, que é a fase final da carreira.
Huberman ainda mostra o ciclo de vida dos professores a partir de um ângulo clínico por
fases desenvolvidas durante uma longa carreira profissional construída em experiência
que deram certo, e outras erradas que resultaram nos profissionais satisfações ou
frustrações, mas que não foi o suficiente para fazê-los abandonar o magistério o qual
exerceram como missão a ser cumprida, zelada e apurada por longo tempo de
dedicação.
Entre os professores que possuem um emprego estável no ensino, as bases dos saberes
profissional parecem terem sido construídas nos anos iniciais da carreira (Tardif e
Raymond, 2000). Para tanto, destaca-se a transição da vida acadêmica para vida
profissional marcada, de um modo geral, pelas desilusões e pelo desencanto na carreira
profissional. Sendo assim, os primeiros anos são decisivos na estruturação da prática
profissional e podem ocasionar o estabelecimento de rotinas e certezas petrificadas
sobre as práticas de ensino que acompanharão o professor ao longo de suas funções no
magistério (Nono, 2011, p. 19).
Garcia (1999, apud Nono, 2011, p. 19), descreve a iniciação a docência da seguinte
forma:
O período de tempo que corresponde os primeiros anos, nos quais os
professores precisam realizar a transição de estudantes a docentes é
uma etapa de tensões e aprendizagens intensivas em contextos
geralmente desconhecidos, durante a qual os professores iniciantes
devem adquirir conhecimento profissional, além de conseguir manter
certo equilíbrio pessoal.
Segundo Abarca (1999, apud Nono, 2011), é importante entender os principais elementos
que permitem caracterizar a temática específica dos professores iniciantes e
compreender esse processo de iniciação à docência considerando o que ocorre no
âmbito pessoal relativo ao próprio iniciante formativo, o que foi relevante ao exercício do
magistério adquirido durante sua formação inicial e como se deu o seu processo com
respeito à prática profissional referente ao exercício da profissão, considerando a
instituição na qual atua.
Sobre comportamento dos professores na realidade escolar, Veenman (1984, apud
Nono, 2011) afirmou que, durante a prática profissional, os docentes observam um
grande distanciamento dos ideais pedagógicos vistos durante a formação inicial e com
esse distanciamento entre essas duas realidades, a fase de transição da formação inicial
dos professores para o ambiente de trabalho na escola pode ser dramática e traumática.
4. 4
1.1 Conhecimento profissional em processo de formação
Shulman (1989, apud Nono 2011) define conhecimento profissional como princípios e
normas formalmente desenvolvidos nos cursos de formação. Portanto, podemos afirmar
que o conhecimento profissional para o ensino deve ser entendido como o conjunto de
compreensões, conhecimentos, habilidades e disposição que um professor necessita ter
para transformar o conhecimento que possui do conteúdo em formas de atuações que
sejam pedagogicamente eficazes e adaptáveis às variações de habilidades e de
repertórios apresentados pelos alunos.
Da elaboração do conhecimento até o como ensinar é um dos grandes desafios dos
professores principiantes, pois o saber pedagógico é uma tarefa desenvolvida pelo
professor ao tentar, por meios próprios, a transmissão de conhecimento para seus
alunos. Para isso, ele lança mão de outros tipos de conhecimentos, a fim de transformar
o ensino do conteúdo de interesse em algo apreciável e significante para seus alunos.
Diante da tamanha relevância relatada anteriormente, observa-se que o processo de
ingresso na carreira docente e o desenvolvimento profissional do professor é um
processo repleto de dificuldades e grandes desafios.
1.2 O “choque de realidade”
Ideia formada pelo autor suíço Huberman e popularizada por Siomn Veeman é o
momento da fase inicial da carreira profissional dos docentes, marcada pelo que ele
caracteriza como períodos de “sobrevivência” e “descobertas” que são apresentados por
meio das dificuldades ou problemas, de uma forma geral, em sala de aula. Como por
exemplo: a falta de materiais didáticos, o saber como lidar com a direção da escola e a
relação com outros profissionais mais experientes, desenvolvimento dos conteúdos que
serão ministrados em sala de aula, elaboração do planejamento, o uso das cadernetas, a
maneira de lidar com as situações imprevisíveis na sala de aula, com os pais de alunos, e
também com a própria identidade do ser professor. Tudo isso e outras coisas mais se
definem por “sobrevivência”, o que acabam que marcando a vida dos professores
principiantes, pois é um período de tensão de aprendizagens sobre a prática docente
(Nono, 2011).
A maneira com que a profissão docente é assumida pelos professores principiantes nas
instituições de ensino é absurda quando comparada com outras profissões. Toda
profissão existe o inicio probatório, em que os novatos são preparados para assumir as
atribuições de sua profissão, além do acompanhamento por um profissional mais
experiente para orientá-lo na execução de suas tarefas. Esse momento de
acompanhamento é um pré-requisito para a orientação desses profissionais à execução
de importantes ações na profissão, que só depois desse período lhe será cobrada a real
execução das funções próprias do seu ofício.
METODOLOGIA
A pesquisa fundamenta-se nos pressupostos da investigação qualitativa e os sujeitos
foram três professores iniciantes de química da rede pública do Estado do Piauí, ainda
alunos matriculados no último ano do Curso de Licenciatura do Instituto Federal do Piauí
– Campus Teresina Central.
Os documentos utilizados no tratamento dos dados durante a pesquisa foram produzidos
a partir da transcrição digitada das falas em áudio para textos escritos que foram
posteriormente revisados e aprovados pelos próprios colaboradores
Com a finalidade de fazer uso de suas falas, atribuímos nomes fictícios para os
entrevistados - Professor Carlos, Professor Rogério e Professor Pablo.
Para a assimilação e interpretação dos dados colhidos nas entrevistas, e com a finalidade
de encontrar coerência nos dados para alcançar o objetivo da pesquisa, optamos em
5. 5
fazer a análise de conteúdo, e para isso desenvolvemos um método de análise misto que
parte de categorias pré-definidas com base nas teorias escolhidas previamente (Moraes,
2003).
Então, as unidades foram definidas no processo inicial de análise e depois feitas o
agrupamento de elementos semelhantes. Construímos as categorias e a partir disso,
desenvolvemos o plano de análise, como poderão ser vistos a seguir:
Diagrama1: Indicadores e questões norteadoras da análise.
Dificuldades no
magistério
Desafios no magistério
O Desenvolvimento do
conhecimento
profissional
Quais as maiores dificuldades que você
vivencia no inicio da carreira docente?
? magistério?
Quais os desafios que você encontrou
no magistério?
Como você analisa esses desafios?
O que é ser um bom professor?
Faça uma análise de si mesmo como
professor.
Quais são suas perspectivas em
relação a sua carreira docência?
Você se sente apto para exercer o
magistério ou ainda necessita de
formação?
6. 6
Tabela 01: Plano de Análise.
Professores Dificuldades Desafios “Bom” Professor
Carlos Abordagem de
conteúdos de
química para os
alunos;
Desenvolver
técnicas que
possibilitem
melhor
exposição de
conteúdos;
Preparo de
materiais
didáticos;
Lidar com as
dificuldades de
aprendizagens
os alunos;
Adaptação de
postura e
linguagem com
os alunos;
Utilização de
termos
científicos com
os alunos;
Melhorar a
maneira de
expor os
conteúdos;
“Diminuir” a
complexidade
dos conteúdos
de químicas
para os alunos;
É um profissional
que tem
compromisso com
o ensino, gosta
do que faz e sua
atuação docente
é uma fonte de
aprendizagem
constante.
Rogério
Abordagem de
conteúdos
Relacionamento
com os alunos;
Relacionamento
com a direção
da escola;
Trabalha com
muitas turmas e
com a carga
horária
excessiva.
Desmistificar
que o conteúdo
de química é
difícil.
É aquele que leva
“a risca” o que
aprendeu na sua
graduação
aplicando as
“ferramentas”
durante o curso.
Pablo
Em decidir qual
conteúdo a ser
exposto para os
alunos;
Em fazer
planejamento;
Em preencher as
cadernetas;
Em saber a
melhor forma de
abordar os
Elaborar
estratégias
para revisar
assuntos não
ministrados nas
series
anteriores.
É aquele que
ensina com base
na teoria e utiliza
boas
“ferramentas”
para desenvolver
um bom ensino.
.
7. 7
conteúdos
devido o atraso
acumulado de
assuntos
anteriores.
O Plano de Análise demonstrou a necessidade imprescindível, defendida pelo referencial
teórico deste estudo, dos professores iniciantes participarem de um programa de
iniciação à docência, a fim de diminuir as dificuldades encontradas no início do
magistério, preparando esses principiantes à docência para os desafios da carreira,
contribuindo efetivamente ao desenvolvimento profissional desses professores, pois,
entende-se que a iniciação à carreira não é um espaço vazio entre a formação inicial e a
carreira profissional, e que, de fato, deve ser acompanhada por todo o sistema
educacional que recebem os aspirantes à docência.
Assim, a interligação de um programa de iniciação à docência, com o enfrentamento da
realidade na escola, ocorrente no inicio da carreira docente e com o desenvolvimento do
conhecimento profissional é fundamental para o preparo dos professores principiantes
para que possam assumir efetivamente e sadiamente o ofício docente. É isso o que
sugerimos abaixo:
Diagrama 02: Inter-relação no inicio da carreira docente
3. DIFICULDADES E DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS PROFESSORES
INICIANTES DE QUÍMICA, PARA TORNA-SE UM BOM PROFESSOR
Os entrevistados têm em comum o pouco tempo de experiência no ensino de Química,
(cerca de onze meses). São, também, alunos dos últimos anos do Curso de Licenciatura
de Química do IFPI Campus Teresina Central:
Eu tenho experiência como professor de Ciências no ensino
fundamental. Agora, no ensino médio, como professor de Química é
diferente, é muito mais complexo (Prof. Carlos).
É bem recente minha experiência como professor atuante. Estou
aprendendo como lecionar, pois ainda não sou experiente, mas tenho
sido bem atuante; um professor bem dinâmico (Prof. Rogério).
Sou marinheiro de primeira viagem.(Prof.Pablo)
Sobre as dificuldades no inicio de carreira, os entrevistados responderam:
Uma das minhas maiores dificuldades é lidar com essa defasagem de
conhecimentos prévios dos alunos em química. Os alunos não sabiam
PROGRAMAS DE INICIAÇÃO A
DOCÊNCIA
ENFRENTAMENTO DA
REALIDADE NA ESCOLA
DESENVOLVIMENTO DO
CONHECIMENTO PROFISSIONAL
8. 8
nada, coisas que eles deveriam ter aprendido lá nos anos anteriores. Eu
já apliquei estudos dirigidos e algumas questões de resolução de
problemas e percebo a deficiência na leitura, então, assim, eu tenho
muita dificuldade em abordar o contexto. (Prof. Carlos)
Os alunos chegam testando o seu conhecimento, foi nisso que senti
certa dificuldade. (Prof. Rogério)
Dos três relatos sobre as dificuldades enfrentadas no ambiente em sala de aula e na
escola como ambiente de trabalho, podemos constatar que a dificuldade mais comum é a
busca pela melhor forma de executar as tarefas em relação à aplicação, abordagem, e
transmissão do conteúdo específico, pois para vencer essas dificuldades partem ações
individuais, o que torna a suas vivências solitárias na escola em que trabalham. Mesmo
sendo especialistas no conhecimento específico não estão seguros em como
desenvolvê-lo de forma a torná-lo passível de ser ensinado.
A dificuldade dos professores iniciantes de estabelecerem os conteúdos a serem
ministrados também foi identificada em pesquisa realizada por Marcelo Garcia (1992,
apud Nono, 2011, p. 30):
A falta de conhecimento sobre quais critérios utilizar para selecionar os
conteúdos a grupo específico de alunos, caracterizam o grupo de
professores iniciantes entrevistados, pois apresentam dificuldades em
adaptar os conhecimentos que possuem, como especialista, a conteúdos
de ensino.
Os entrevistados também demonstraram insegurança diante de situações imprevistas,
principalmente com alunos com dificuldades de aprendizagem. Essas dificuldades
revelam uma preocupação que é bem característica dos professores iniciantes: a
sobrevivência na profissão. Como manejar suas aulas, dúvidas sobre o que deve ensinar,
medo de errar são coisas que ocupam bastante suas mentes e passam um bom tempo
se dedicando em busca de resolver essas questões que eles acham serem problemas
pessoais, no entanto, entendemos que seja falta de um acompanhamento e formação
continuada.
A segunda dificuldade enfrentada pelos professores iniciantes é o preparo de materiais
didáticos e a dificuldade em lidar com aprendizagem dos alunos, como pode ser visto no
relato do Professor Carlos: “Na turma que leciono aula não tem material como um
referencial, e o professor é que tem que procurar os conteúdos”.
Para um professor em início de carreira, a falta de material dificulta sua desenvoltura e
desestimula o trabalho em sala de aula, porque além de lidar com a adaptação do
conteúdo a ser ensinado, tem que desenvolver material de apoio que seja eficiente na
assimilação do conteúdo, além de fazer com que os alunos criem um distanciamento
ainda maior do conteúdo ensinado.
Ao serem questionados sobre os desafios no inicio da carreira, os professores
entrevistados relataram: adaptação de postura e linguagem com os alunos do ensino
médio; o uso de termos científicos com os alunos de ensino médio; a complexidade de
expor os conteúdos de química para alunos com déficit de aprendizagem e como planejar
e elaborar estratégicas para revisar assuntos com turmas que passaram muito tempo
sem professor da área de química.
Segundo Nono (2011) um dos desafios dos professore iniciantes está em descobrir como
tornar o conhecimento que possuem das disciplinas específicas em conhecimento
possível de ser ensinado. Assim, podemos relacionar esse argumento com o que consta
nos relatos:
Será que eu vou dá conta? Será que vou corresponder às expectativas,
então o maior desafio para mim foi eu mesmo, porque eu considerei o
9. 9
conteúdo maior do que eu. Eu via os conteúdos como desafios. (Prof.
Carlos)
De acordo com a minha experiência vejo, no geral, que são as formas
de abordar os conteúdos. (Prof. Pablo)
.
Mesmo possuindo o domínio do conteúdo específico devido sua formação especifica, o
aprender a ensinar faz parte de um processo que se aperfeiçoa na prática e o modo que
usam para abordar o conhecimento em sala de aula é desafiador e complexo, pois além
de descobrir um modo de ensinar teriam que lidar com a deficiência na base do ensino
desses alunos, o que implicou em não só ministrar o conteúdo novo, mais também fazer
uma espécie de revisão de conceitos químicos, para dar suporte aos alunos na
aprendizagem dos conteúdos novos.
O segundo desafio apresentado pelo Professor Carlos foi o resultado de atividades, tendo
em vista a realização de uma avaliação diagnóstica:
Eu já apliquei estudos dirigidos e algumas questões que eu levo para
sala de aula, para acompanhar a resolução de problemas percebo a
deficiência na leitura, na resolução de problemas, então, assim, eu
percebo muita dificuldade em abordar o contexto (Prof. Carlos).
Assim dentre os maiores anseios dos professores iniciantes estar o de avaliar os
conhecimentos anteriores dos alunos sobre Química, por isso que o ato de ensinar inclui
compreensão, transformação, instrução, avaliação, reflexão e nova compreensão
(Wilson, Shulman e Richert,1987, apud Nono, 2011)
Já o professor Pablo relata sobre seu desafio no magistério mostrando carência de
orientação e acompanhamento para desenvolver planejamento e estratégias para lidar
com turmas com atraso de conteúdos de química:
Os principais desafios serão as turmas de segundo e primeiro, porque as
dos primeiros anos, nunca viram assuntos de química e agora vão ter
oportunidade de ver e diante disso sou desafiado a abordar os
conteúdos e preparar para fazer planejamentos para trabalhar com
essas turmas (Prof. Pablo).
Com relação ainda, aos desafios dos magistérios, os professores iniciantes foram
enfáticos na valorização profissional dos professores em início de carreira, pois percebem
o descaso, o desrespeito e as atitudes negativas tomadas pelos próprios profissionais da
categoria, como relata o professor Carlos:
Quero falar da desvalorização profissional que é muito grande por nós,
professores iniciantes e ou substituto. “Vejo grande descaso pelos
próprios profissionais da educação”. Eles modificam o horário sem aviso
prévio e joga qualquer turma, de preferência as piores turmas para
ensinarmos e não dão nenhum apoio para professores no inicio de
carreira. (Prof. Carlos).
De um modo geral os desafios não são somente do professor, pois
esses desafios vêm da parte governamental, também, porque
infelizmente aqui no Brasil há certo descaso com a educação. É um
grande desafio ser professor do magistério no ensino médio nesse
sistema público (Prof. Rogério).
Diante dos diversos desafios na carreira docente, Nono (2011) afirma que os primeiros
anos da carreira docente, é uma etapa decisiva para a estruturação da prática
profissional e podem ocasionar o estabelecimento de rotinas e certas ações enrijecidas
10. 10
na prática do aprender a ensinar, função essa que deve acompanhar o professor em todo
seu magistério de forma evolutiva.
Ao serem questionados sobre o que é ser um bom professor, um dos entrevistados
respondeu: “O bom professor é aquele que tem compromisso com o ensino, que goste do
que faz, e procura realmente fazer da sua atuação docente uma fonte de aprendizagem”.
Outro ponto importante observado na entrevista com o professor Carlos é que ele se ver
apto para o exercício do magistério, quando relata que apesar dos desafios do magistério
quanto à desvalorização da sua classe trabalhista responde que “Você precisa ter muito
amor, muito compromisso e se valorizar porque eles pisam mesmo” (Prof. Carlos).
Então vemos aqui o entusiasmo do professor principiante, relato este que confirma a
teoria do choque de realidade, de Huberman que é marcada também pela “descoberta”,
caracterizada pelos elementos seguintes:
Entusiasmo do iniciante;
Orgulho de finalmente ter sua própria classe, seus alunos, e fazer parte
de um corpo profissional (Huberman 1993, apud, Nono, 2011, p. 16).
O Professor Carlos ainda complementa: “A desvalorização acontece mais devemos
mudar essa história deixando nossa marca e nos valorizar e cultivá-los onde estamos”.
Assim, de acordo com Freitas (2000, p. 105), “a maioria dos principiantes quer
permanecer na profissão, conseguir uma estabilidade profissional e ser reconhecido
como professor”.
O professor principiante precisa, muitas vezes, de ser acompanhado e apoiado pelos
demais profissionais mais experientes. Continuando a descrição do que seja a sua
concepção de bom professor, os professores Pablo e Rogério relataram o seguinte:
É aquele que ensina com base teórica e quando vai para a sala de aula
ministrar o conteúdo utilizando boas ferramentas, a fim de desenvolver o
ensino aprendizagem do aluno, portanto, também sabe planejar suas
aulas, que procura seguir as leis que regem a educação, na área de
química (Prof. Pablo).
Aquele que leva a risca o que aprendeu em toda sua formação, e além
da arte de ser professor ele tem que ser o mais profissional possível em
sua didática no qual ele aprendeu no curso de licenciatura e aplicar com
os seus alunos em sala de aula. O ser profissional é usar essas
ferramentas que ele aprendeu na licenciatura em química que está
cursando (Prof. Rogério).
Percebemos assim o que assinala Cunha (2012, p. 149):
O BOM PROFESSOR está assentado numa perspectiva de ensino que:
- tem no docente o centro do processo de ensinar e aprender;
- coloca no professor as condições do melhor ensinar, no sentido de
transferir seu próprio conhecimento aos alunos.
Portanto, podemos identificar que o modo que descrevem suas próprias experiências e a
concepção sobre o ser um bom professor está muito ligado aos problemas enfrentados
no início da docência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O início na carreira docente, de acordo com os principais problemas enfrentados pelos
professores principiantes de Química, está sendo marcada por grandes problemas
enfrentados no magistério dos quais, como foi discutido anteriormente, são comuns
11. 11
àqueles que ingressam na docência, visto a prática de ensino ser algo aprendido na
vivência do ambiente de trabalho, que no caso é a escola.
Todas essas situações adversas enfrentadas pelos professores principiantes são
vivenciadas de forma solitária e assim, a superação de suas dificuldades é feita sem
nenhuma formação continuada oferecida aos novatos no inicio de carreira docente.
Portanto, os principiantes ao magistério não possuem um apoio que os valorizem, os
estimulem e os sustentem na transição sadia entre uma identidade de aluno graduando
para uma identidade à docência que lhes é exigida, responsabilidade tal qual a de um
professor experiente, já na fase inicial.
Assim, a fase de iniciação à docência na rede estadual pública do Piauí é encarada com
muitas dificuldades, além de não constatarmos nenhuma ação de acompanhamento ou
formação para esses profissionais.
Diante disso, queremos contribuir para a reflexão desses fatos para que as políticas
educacionais se voltem à resolução desses problemas enfrentados pelos iniciantes ao
magistério de Química. E para isso, a elaboração de um programa de inserção na
carreira docente é urgente e necessária, visto ser a melhor forma de ingresso ao
magistério, como acontece em países desenvolvidos, onde a adaptação dos professores
iniciantes ocorre de forma mais adequada na escola contribuindo para o desenvolvimento
profissional deles e, consequentemente, melhorando a qualidade da educação ofertada.
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