2. O professor, na sala de aula, tem uma filosofia
que compreende e orienta a sua ação?
Se tem essa filosofia, como ela se configura –
quais são seus elementos constitutivos e de
compreensão da realidade?
3. Em princípio e genericamente falando, o dia-
a-dia do educador escolar tem por base não
uma filosofia criticamente construída, mas sim
um se nso co m um que foi adquirido, ao longo
do tempo, por acúmulo espontâneo de
experiências e por introjeção acrítica de
conceitos, valores e entendimentos vigentes e
dominantes no seu meio.
4. No geral, a ação pedagógica cotidiana escolar
vem sendo realizada se m um a m e ditação
crítica sobre o que se está fazendo: seu
sentido, significado e finalidade.
5. 1. Osenso comum
O senso comum é formado por conceitos,
significados e valores que adquirimos
espontaneamente, pela convivência, no
ambiente em que vivemos; construindo “uma
visão de mundo”, fragmentária e, por vezes,
contraditória.
O senso comum nasce desse processo de
“acostumar-se” a uma explicação ou
compreensão da realidade, sem que ela seja
questionada. Mais do que uma interpretação
adequada da realidade, ele é uma “forma de
ver” a realidade – mítica, espontânea, acrítica.
6. 1. Osenso comum
Mas será que tudo é senso comum no dia-a-dia das
pessoas?
No seio do senso comum, ocorre o “bom senso”, que
se compõe de fragmentos de criticidade que
emergem no contexto dessas configurações. Nem
tudo no senso comum é ingenuidade.
O ideal seria que o todo da compreensão e da
conduta de cada pessoa se desse de modo crítico,
coerente, sistematizado.
7. 1. Osenso comum
Hoje, fazendo uma afirmação genérica,
podemos dizer que, na prática pedagógica,
impera o senso comum. Será que, para
direcionarmos nossos trabalhos pedagógicos,
temos permanentemente nos perguntado
quem é o educando e o que ele significa? Que
é o conhecimento? Que são os conteúdos
veiculados em nossas aulas? Será que
questionamos o material didático que
utilizamos?
8. 1. Osenso comum
Parece que, em vez de nos questionarmos, nos
acostumamos e nos adaptamos às explicações e
compreensões que foram sendo passadas de uma
geração a outra através da palavra, através dos
gestos e da convivência.
Em educação, dificilmente, nos perguntamos se
esses entendimentos têm algum fundamento. Por
vezes nem mesmo tomamos consciência de que
somos direcionados por algum entendimento. Parece-
nos tão “natural” agir assim, que não nos importa
questionar. Seguimos certos princípios sem
questioná-los e muito menos nos perguntamos se
seriam esses os que gostaríamos de perseguir como
9. 2. Osenso comumpedagógico
EDUCADOR
Quem é o educador no processo educativo
escolar?
Qual é a função do educador?
10. 2. Osenso comumpedagógico
Em geral, e a não ser numa minoria de casos, parece
que o senso comum é o seguinte: para ser professor
no sistema de ensino escolar, basta tomar um certo
conteúdo, preparar-se para apresentá-lo ou dirigir o
seu estudo; ir para uma sala de aula, tomar conta de
uma turma de alunos e efetivar o ritual da docência:
apresentação de conteúdos, controle dos alunos,
avaliação da aprendizagem, disciplinamento etc.
Ou seja, a atividade de docência tornou-se uma rotina
comum, sem que se pergunte se ela implica ou não
decisões contínuas, constantes e precisas, a partir de
um conhecimento adequado das implicações do
processo educativo na sociedade.
11. 2. Osenso comumpedagógico
A ação docente tem sentido e significado.
Assim, se não buscarmos o sentido e o
significado crítico, consciente e explícito da
ação docente, seguimos o sentido e o
significado dominante desse entendimento
que se tornou senso comum.
12. 2. Osenso comumpedagógico
EDUCANDO
Como os professores concebem o educando?
Um dos sujeitos do processo educativo?
Quem é ele?
Qual a sua dimensão?
Qual o seu papel no processo de ensino-
aprendizagem?
13. 2. Osenso comumpedagógico
Que elementos caracterizam o senso comum
pedagógico sobre o educando?
A1 ) O e ducando é um se r passivo .
Não é que o aluno se ja pro priam e nte
passivo ; m as, se g undo o se nso co m um ,
de ve sê -lo . Em geral, os atos e condutas dos
professores dão a entender que eles q ue re m
que os alunos sejam passivos, pois os ativos
“dão trabalho”, seja na disciplina
comportamental, seja na disciplina
intelectual.
14. 2. Osenso comumpedagógico
A2) O e ducando de ve se r ativo se m pre .
Todavia, não se tem muita clareza sobre o que se
compreende como um aluno “ativo”. Por vezes, ativo
têm sido designados os educandos que se agitam
durante as atividades escolares.
Com isso, esquece-se de verificar que o modo de ser
ativo depende do conteúdo com o qual se esteja
trabalhando.
Conteúdo referente a uma atividade física = será ativo
o aluno que a praticou.
Conteúdo referente a uma atividade intelectual = a
atividade será mental.
15. 2. Osenso comumpedagógico
B) O e ducando é um se r de pe nde nte do
e ducado r: desde o que deve aprender até o
que deve responder.
Será mesmo que o educando é tão
dependente assim?
Será que o querer do professor e do
educando não podem ser permeados pela
busca de um entendimento, novo e superior,
através da discussão entre ambos?
16. 2. Osenso comumpedagógico
C) O e ducando é um se r incapaz de criar. Ele tem que
reter e repetir os conhecimentos e não inventá-los.
Lema: “fazer as coisas como o professor quer”.
A ação pedagógica, na maior parte das vezes, está
pautada pela ideia de que o aluno é incapaz de criar,
é um inválido do ponto de vista intelectual. Toda vez
que o educando tenta sair do esquema do dia-a-dia, é
cerceado de diversas maneiras.
17. 2. Osenso comumpedagógico
D) O e ducando é um suje ito incapaz de julg am e nto
so bre si m e sm o e so bre sua apre ndizag e m .
No momento da avaliação, na maior parte das vezes,
o professor nem sequer dá ao educando a
oportunidade de verificar o que não conseguiu
aprender, nem por que não conseguiu aprender.
Será que o aluno não merece um momento de troca
de ideias e entendimento sobre seus avanços e suas
dificuldades?
18. 2. Osenso comumpedagógico
E) O e ducando é um e le m e nto iso lado de tudo o
m ais q ue o ce rca.
O educando é considerado sem vínculos com
a natureza, com o ambiente sócio-cultural,
com a história, com a sociedade; sem
vinculação com a sua natureza ativa.
19. 2. Osenso comumpedagógico
Há uma contradição entre essas condutas
educacionais e aquilo que os educadores dizem.
Todos dizem que desejam educandos ativos,
criativos, autônomos, capazes de decisão etc. porém,
as ações educativas, enquanto atos educativos,
mostram o contrário. O senso comum tornou-se
hegemônico – agimos co m e po r ele, sem nos
perguntarmos sobre sua significação e validade. Só
com a tomada de consciência desses elementos do
senso comum – e com sua superação – poderemos
chegar a uma nova compreensão do educando,
dando um salto à frente.
20. 2. Osenso comumpedagógico
O CONHECIMENTO E SEU PROCESSO
O que é o conhecimento? Qual é o seu
processo de apropriação e construção?
Segundo o senso comum: “O conhecimento
parece ser o conjunto de informações que são
apresentadas ou lidas no livro-texto e o
pro ce sso parece ter sido o de reter essas
informações na memória para depois repeti-
las.”
21. 2. Osenso comumpedagógico
Conhecimento é uma forma de entendimento
da realidade.
Para isso, é claro, podemos e devemos nos
utilizar do saber que a humanidade nos legou.
Eles são nossos auxiliares na compreensão da
realidade.
Mas o que importa é a compreensão da
realidade.
22. 2. O senso comum pedagógico
O processo de conhecimento é ativo e ocorre
a partir da assimilação ativa dos
conhecimentos já estabelecidos e da
construção ativa de novas compreensões da
realidade e não por meio da retenção
padronizada de “lições”.
24. 2. Osenso comumpedagógico
O CONTEÚDO A SERASSIMILADO
Os conteúdos dos livros-textos não são os
melhores e os mais corretos. No entanto, nos
baseamos neles para ensinar e avaliar nossos
alunos.
Ou seja, ao nos basearmos no senso comum
estabelecido sobre os conteúdos que
ensinamos, passamos a exigir que nossos
alunos adquiram conhecimentos errados da
realidade. Se não errados, ao menos
distorcidos.
25. 2. Osenso comumpedagógico
O senso comum pedagógico toma por ve rdade
aquilo que é uma fo rm a de interpretar a
realidade.
Exemplo: Pedro Álvares Cabral “descobriu” o
Brasil.
Descobriu ou invadiu?
Foi o Pedro Álvares Cabral ou a classe
dominante portuguesa através de Cabral?
26. 2. Osenso comumpedagógico
Devido às muitas críticas que se tem feito aos
desvios dos conteúdos de ensino, uma
posição oposta e ingênua tem sido tomada: a
de que não vale a pena ensinar conteúdo
algum e deixar que os alunos reflitam sobre o
seu dia-a-dia, para que “tomem consciência”
dele. Com isso, praticamente, passou-se a
não ensinar nada.
27. 2. Osenso comumpedagógico
Não é porque muitos dos atuais conteúdos
ensinados possuam desvios que não se deva
ensinar conteúdo algum.
O que importa é recuperar o sentido
adequado dos conteúdos escolares e passar
a trabalhar a partir deles.
28. 2. Osenso comumpedagógico
MATERIAL DIDÁTICO
Qual o significado do livro didático na prática
pedagógica escolar?
No geral, ele tem sido assumido como uma
“bíblia”, ou seja, como um livro sagrado: tudo o
que está escrito nele se assume como
verdade.
Deve ser essa a atitude a ser assumida diante
do livro didático?
Será que ele não contém inverdades,
reduções e desvios de conhecimentos?
29. 2. Osenso comumpedagógico
Será que os livros didáticos merecem todo esse
respeito e submissão?
Ou será que devem ser usados sempre de uma forma
crítica, como um ponto de partida a ser abordado,
discutido, questionado, duvidado?
Os livros didáticos podem e devem ser utilizados com
criticidade, ultrapassando os elementos do senso
comum e os próprios limites desses livros.
30. 2. Osenso comumpedagógico
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS DE ENSINO
Os métodos de ensino presentes nos
planejamentos decorrem de uma reflexão
teórica, objetiva e consciente ou emergiram do
“costume” de dizer que os métodos de ensino
são esses?
31. 2. Osenso comumpedagógico
Os planejamentos são produzidos como
preenchimento de um formulário no início do
ano letivo. A atividade é assumida como se
fosse planejamento, mas é executada como
um preenchimento de formulário.
O planejamento seria o m o m e nto de cisivo
sobre o que fazer; um momento de definição
política e científica da ação pedagógica, no
caso da educação.
32. 2. Osenso comumpedagógico
Há a necessidade de estudar que
procedimentos e que atividades possibilitarão,
da melhor forma, que nossos alunos atinjam o
objetivo de aprender o melhor possível
daquilo que estamos pretendendo ensinar.
33. 3. Razões da permanência do senso comum
O senso comum é uma configuração
espontânea, fragmentária e acrítica do
pensamento e do entendimento.
Então, por que permanece em nosso meio,
oferecendo compreensão e direcionamento
para muitas ações humanas, inclusive a
prática escolar?
34. 3. Razões da permanência do senso comum
O conhecimento objetivo oferece um patamar
importante de consciência da realidade.
As classes dominantes e seus representantes
preferem a manutenção e a reprodução da situação
na qual se encontram, o chamado status q uo .
Assim, para os setores dominantes e conservadores
da sociedade, interessa que o senso comum impere
em muitos cantos da vida social e cultural,
especialmente naqueles que se destinam às grandes
massas, como é o caso da educação.
35. 3. Razões da permanência do senso comum
A instituição escolar não poderá, segundo um
ponto de vista conservador, trabalhar na base
do senso crítico, mas sim com base no senso
comum, pois este dá maiores possibilidades
de manipulação, devido às mistificações que
propicia e mantém.
O senso comum é o meio fundamental para a
proliferação da manipulação de informações,
das condutas e dos atos políticos e sociais dos
dirigentes e dos setores dominantes da
sociedade.
36. 3. Razões da permanência do senso comum
Uma educação realizada com base em princípios do
senso comum só poderá estar a serviço de uma
perspectiva social dominante.
A prática educacional não poderia nem deveria, de
forma alguma, atuar com base em elementos do
senso comum, pois tem o objetivo de formar
consciências críticas, capazes de compreender,
propor e agir em função de novas perspectivas de
vidas.