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JOÃO PEDRO GAVA RIBEIRO
ERGONOMIA: CONCEITOS ESSENCIAIS REFERENTES À DISCIPLINA
CURITIBA
2018
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - DIAGRAMA DE VENN DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ERGONOMIA....15
FIGURA 2 – PIRÂMIDE DA HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW.........16
FIGURA 3 – DIVISÕES DA ERGONOMIA...........................................................................16
FIGURA 4 – PIRÂMIDE DOS BONS HÁBITOS...................................................................17
FIGURA 5 – POSTURAS INADEQUADAS NOS POSTOS DE TRABALHO....................34
Quadro 1 - Fatores estruturantes das representações de bem-estar e mal-estar no trabalho
................................................................................................Error: Reference source not found
LISTA DE ABREVIATURAS
ACGIH - American Conference of Government Industrial Hygienists
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
DORT - Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
EAA_QVT - Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho
HFE - Human Factors Engineering
IA_QVT - Inventário de Avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho
IEA - International Ergonomics Association
LER - Lesões por Esforço Repetitivo
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
NBR - Norma Brasileira Regulamentadora
NR - Norma Regulamentadora
QVT - Qualidade de Vida no Trabalho
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar as condições atuais da Ergonomia, seja ela uma
ciência ou uma prática a ser integrada à cultura organizacional. Assim, analisa-se sobre a ótica
ergonômica todos os principais aspectos correlacionados à dinâmica das empresas no que se
refere às competências da Higiene Ocupacional. Com a ascensão do conceito de civilização
moderna e o início da Primeira Revolução Industrial, a ergonomia começou a ser plenamente
negligenciada. Nesse ínterim, os indivíduos subjugaram a Ergonomia dentro das práticas de
Higiene Ocupacional. Foi tão somente na pós-Segunda Guerra Mundial que nasceu uma
abordagem científica a tal disciplina. A metodologia de pesquisa empregada foi uma pesquisa
de revisão bibliográfica com referencial teórico. Então, serão abordadas questões fulcrais no
desenvolvimento do pensamento ergonômico como: conceitos essenciais da ergonomia, sua
história, disciplinas associadas, as moléstias que surgem de inadequações aos princípios
ergonômicos, entre outras. Desse modo, o estudo buscará aprimorar as técnicas ergonômicas,
com novas informações e visões acerca do tema; sintetizando dados fundamentais que se
adequem ao cotidiano do ergonomista. Conclui-se que tal trabalho será mais uma contribuição
científica a uma ciência nova a qual é a ergonomia, com uma interface que se distingue de
outros trabalhos sobre a temática no que tange à simplicidade na linguagem, todavia
ausentando-se a carestia de rigor científico.
Palavras-chave: Ergonomia. Higiene Ocupacional. Conceitos Essenciais. Técnicas.
ABSTRACT
The present study has the purpose to analyze the Human Factors' actual conditions, be it one
science or one practice to be integrated with the organizational culture. Therefore, it’s
analyzed by the ergonomics’ optics the main aspects regarded with the companies’ dynamics
regarding the functions of Occupational Hygiene. With the rise of the concept of modern
civilization and the beginning of the First Industrial Revolution, the Humans Factors have
started to be definitely neglected. In this meantime, the individuals subjugated the Ergonomic
inside the Occupational Hygiene’s practices. It was so only in post Second War that was born
one scientific approach to this discipline. The methodology used is one bibliographical review
research with theoretical reference. Then key issues in ergonomic thinking will be addressed,
for example: essencial concepts, its history, associated disciplines, the diseases that arise from
inadequacies in ergonomic thinking and others. In this way, the study will look for the
improvement of ergonomics’ techniques, with new information and visions about the topic;
synthesizing key data that apply to the routine of the ergonomist. It’s concluded the present
work is another scientific contribution for one new science which is the Human Factors, with
one interface which distinguishes itself from other works about the thematic about the
language’s simplicity, however abstaining from the hardship of scientific rigor.
Key words: Human Factors. Occupational Hygiene. Essencial Concepts. Techniques.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................10
2 DESENVOLVIMENTO.........................................................................................................11
2.1 PRECEITUAÇÕES E CONCEPÇÕES DE ERGONOMIA..............................................11
2.2 HISTÓRIA DA ERGONOMIA..........................................................................................17
2.3 DISCIPLINAS ASSOCIADAS..........................................................................................18
2.4 RELAÇÃO ENTRE HIGIENE OCUPACIONAL E ERGONOMIA................................20
2.5 A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET)..................................................21
2.6 ANÁLISE DA NORMA REGULAMENTADORA 17 (NR 17).......................................27
2.7 O LEVANTAMENTO E TRANSPORTE DE CARGAS..................................................29
2.8 Doenças associadas à Ergonomia.......................................................................................34
2.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE Estresse, MONOTONIA E FADIGA.................................36
2.10 TRABALHO EM TURNOS E NOTURNO.....................................................................39
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................42
10
1 INTRODUÇÃO
A questão central inerente à produção desse texto é: Pode-se abordar a Ergonomia
com uma linguagem apropriada e com pleno rigor científico? A resposta é sim, afinal a busca
por uma linguagem simples, sem rebuscamentos e métodos quantitativos com o escopo de
facilitar a compreensão acerca dos principais aspectos da Ergonomia foi o objetivo central
dessa pesquisa. Então, para a consecução do objetivo de explanar a Ergonomia com a
máxima da simplicidade e coerência usou-se uma revisão bibliográfica de referencial teórico.
Ao mesmo tempo, procurou-se um epítome com legitimidade, usando e analisando os
temas sem faltar citações, considerações necessárias e assertivas, argumentos e entre outros
métodos de caráter científico. Notoriamente, para solucionar a problemática da simplicidade
da linguagem gozou-se de sólido referencial teórico para embasar todas as afirmações e
considerações acerca de cada um dos temas em questão.
Agora, no que se discorre da Ergonomia, ela nasceu com um objetivo fixado: o de
permitir uma melhor adaptação da máquina ao homem, no entanto sem oferecer gargalos e
descompassos na produtividade. Os princípios ergonômicos deveriam ser a base para o
projeto e produção de layout de qualquer empresa. Deixar o ergonomista desocupado em uma
hora dessas é um equívoco que pode de certa forma adulçorar a produtividade e
consequentemente, arredar a lucratividade no longo prazo.
Assim, revela-se a importância e a necessidade da Ergonomia, a qual vem evoluindo
em coaduno com a evolução tecnológica, uma vez que essa surge já na pós-Segunda Guerra
Mundial para arredar causas trabalhistas e propiciar maior qualidade de vida ao trabalhador.
Nesse caldo, a Ergonomia floresceu e tende a se tornar cada vez mais relevante. Porquanto,
sua tendência de crescimento é evidente, pois cada vez mais discutir a tecnologia e torná-la
adaptável ao homem é assunto atual.
Desse modo, no primeiro capítulo aborda-se os principais conceitos da Ergonomia, sua
História, disciplinas integrantes e sua relação com a Higiene Ocupacional. Já no segundo
capítulo, trata-se da Análise Ergonômica do Trabalho, dos seus procedimentos científicos e
dos passos para uma intervenção ergonômica. Já no terceiro capítulo analisa-se as partes
essenciais na Norma Regulamentadora 17. No quarto capítulo analisou-se o levantamento e
transporte de cargas. Então, enquanto o quinto capítulo considerou doenças físicas, o sexto
capítulo considerou as doenças psicológicas correlacionadas às práticas não ergonômicas. Por
último, no sexto capítulo analisou-se tópicos do trabalho em turnos e noturno e seus males.
11
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 PRECEITUAÇÕES E CONCEPÇÕES DE ERGONOMIA
A ergonomia é, de certa maneira, uma ciência bastante nova em comparação a outras
integrantes da Higiene Ocupacional. Seu desenvolvimento só foi fomentado a partir da pós-
Segunda Guerra Mundial, sendo que recatos referentes a outros riscos ocupacionais já eram
observados desde 1745 quando o visionário da medicina ocupacional, Bernardino Ramazzini,
redigiu seu livro De Morbis Artificum Diatriba (“Doença dos Trabalhadores”), onde percebia
anomalias relacionadas à poeira, vibrações, metais, produtos químicos e entre outras
categorias de substâncias quando estas entravam em contato com os trabalhadores. Em
coadunação aos riscos físicos, químicos, biológicos e acidentes de trabalho constitui o
conjunto singular dos riscos ocupacionais.
A ergonomia provém, na etimologia do vocábulo, das palavras gregas ergon, que
significa “trabalho”, e nomos, que significa “leis ou normas”. Assim, poder-se-ia preceituar a
ergonomia como sendo um conjunto de leis e normas que regem o trabalho em qualquer uma
de suas espécies. Tal seria uma definição limitada de ergonomia, uma vez que a ergonomia se
restringe a meras normas as quais servem para qualificar a forma que ocorre o trabalho ou
como o mesmo deveria ocorrer. Tal definição é inadequada pelas seguintes razões:
a) Esquece-se que o foco central da ergonomia é a análise da relação homem-máquina e todas
as especificidades desta relação;
b) Desconsidera o caráter essencialmente prático e científico da ergonomia, centrando-se em
seu aspecto jurídico e normativo;
c) Simplista na medida em que subjuga funções, objetivos e práticas da ergonomia em meras
formalidades profissionais.
Portanto, tal definição não é satisfatória para definir um conceito tão abrangente
semanticamente como a ergonomia. Assim, uma abordagem mais abarcativa foi proposta pela
Societé d’ergonomie de langue française na década de 1970, sendo a respectiva:
A ergonomia pode ser definida como a adaptação do trabalho ao homem ou,
mais precisamente, como a aplicação de conhecimentos científicos relativos
ao homem e necessários para conceber ferramentas, máquinas e dispositivos
que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia
(FALZON, 2007).
12
Nessa definição percebe-se evidente ressalto à expressão “adaptação do trabalho ao
homem”. Assim, em outras palavras, ergonomia seria um conjunto de esforço de cunho
científico no sentido de melhor adaptar o trabalho ao homem, ou seja, permitir com que o
homem possa realizar seu trabalho da forma mais eficiente e segura possível por intermédio
de máquinas. Tal ênfase foi inspirada no título da obra de Faverge, Leplat e Guiguet,
L’Adaptation de la machine à l’homme (1958). Seu posicionamento concernente ao intuito da
ergonomia era diametralmente oposto da obra de Bonnardel, publicada no ano de 1947,
L’Adaptation de l’homme à son métier – o qual defendia uma adequação humana ao
desenvolvimento tecnológico e às máquinas (pregada principalmente pelos defensores da
seleção profissional).
Outra possível definição para a ergonomia é promovida pelo enfoque da relação
homem-máquina e todas as facetas dessa relação:
A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. O trabalho
aqui tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas aquelas
máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais, mas
também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e o
seu trabalho (LIDA, 1990).
Esta definição é a que privilegia a perspectiva de Leplat e Guiguet, uma vez que
reconhece a necessidade da máquina se adaptar ao trabalho realizado pelo homem. O mesmo
é possível de se pontuar no caso acerca da definição da Societé d’ergonomie de langue
française, própria da década de 1970.
Consoante a Mattos, a ergonomia tem um objetivo correlacionado à adaptação do
trabalho ao homem, e não o contrário como é visto em determinadas conjunturas no trabalho.
No presente momento, a definição mais aceita para o preceito de ergonomia é a proposta pela
International Ergonomics Association (IEA), adotada no ano de 2000:
“A ergonomia (ou Human Factors) é a disciplina científica que visa a
compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros
componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos,
dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem-estar das pessoas e o
desempenho global dos sistemas” (IEA apud FALZON, 2007).
Aqui se reforça a tríade básica da ergonomia, ou seja, três princípios orientadores da
disciplina da ergonomia: conforto, eficiência e segurança. Tal tríade encontra-se representada
pela Figura 1.
13
Segundo Lida (1990), para a consecução dos objetivos da disciplina, ela estuda
certos aspectos comportamentais humanos quando na presença do trabalho e alguns demais
fatores como, por traslado:
a) o homem – aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos e sociais que envolvem o trabalhador
e seu organismo; interferência da sexualidade, idade, treinamento e motivação nos postos de
trabalho;
b) a máquina – ajudas e apoios materiais e instrumentais os quais os homens utilizam na
realização de seus trabalhos, inserindo-se equipamentos, ferramentas, mobiliários, estruturas e
instalações;
c) o ambiente – analisa as idiossincrasias do ambiente físico que cingem o homem durante o
trabalho, incluindo os riscos físicos, químicos e biológicos;
d) a organização do trabalho – a confluência de elementos já citados no sistema produtivo,
entendendo como passível de análise os horários, turnos de trabalho e a constituição das
equipes de trabalho.
Esses elementos são de extrema relevância quando se analisam fatores de influência
nos riscos ergonômicos. Quanto aos princípios norteadores da ergonomia pondera-se, quanto
à tríade da ergonomia, que:
Os objetivos práticos da ergonomia são a segurança, satisfação e o bem-estar
dos trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos. A
eficiência virá como resultado. Em geral, não se aceita colocar a eficiência
como sendo o objetivo principal da ergonomia, porque ela, isoladamente,
poderia significar sacrifício e sofrimento dos trabalhadores e isso é
inaceitável, porque a ergonomia visa, em primeiro lugar, o bem-estar do
trabalhador (LIDA, 1990).
A definição da IEA abrange três divisões fulcrais da ergonomia:
a) A ergonomia física: trata de características anatômicas, fisiológicas, biomecânicas e
antropométricas mediante a relação homem e atividade física desempenhada no trabalho.
Alguns temas que compõem a área de atuação da ergonomia física são: posturas de trabalho,
doenças ósseo-musculares correlatas ao trabalho, os movimentos de extensa repetição e a
segurança física do trabalhador perante a máquina;
b) A ergonomia cognitiva: trata das dinâmicas de caráter mental, como por traslado, a
memória; o raciocínio; a percepção; e a resposta psicológica e orgânica a estímulos exteriores.
Essas dinâmicas têm uma correlação com as interações entre as pessoas e outros componentes
de um sistema de trabalho. Alguns temas que competem à área de atuação da ergonomia
14
cognitiva são: carga mental, a interação mentalizada entre homem e máquina, a confiabilidade
humana nos processos produtivos e organizacionais, o estresse ocupacional e as moléstias
psicológicas perante o relacionamento homem-máquina;
c) A ergonomia organizacional: trata da otimização dos sistemas sociais e hierárquicos
imanentes a uma estrutura organizacional, com suas regras e princípios estabelecidos. Os
temas que competem à área de atuação da ergonomia organizacional são: a comunicação, a
percepção dos processos de trabalho, os horários de trabalho, o trabalho em equipe, o trabalho
cooperativo, a cultura organizacional e a gestão de qualidade do produto.
Tais divisões estão dispostas na Figura 3. A ergonomia organizacional não entrará
em veementes discussões e elucidações, até porque se acredita que a mesma não é nosso foco
de pesquisa, contudo se considera essencial analisar a Pirâmide de Maslow e como a sua real
aplicação no contexto da ergonomia é capaz de ampliar lucros e a produtividade de uma
empresa. A Figura 4 demonstra também alguns princípios que devem ser seguidos por
qualquer adaptação ergonômica ou para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador.
A pirâmide de Maslow é uma divisão hierárquica proposta por Abraham Maslow para
explicar que certas necessidades humanas são, numa escala gráfica, superiores a outras.
Assim, as necessidades inferiores da pirâmide são as básicas para a sobrevivência humana;
sendo que o grau de relevância dessas necessidades vai decrescendo de acordo com o quanto
se sobe na pirâmide. A Pirâmide de Maslow está representada pela Figura 2.
Dessarte, uma empresa é capaz de interferir, mais diretamente que nas outras
hierarquias, no que tange há três dessas: a segurança [profissional e ocupacional]; a estima
(respeito no ambiente de trabalho); e a “realização” [profissional]. As empresas devem,
portanto, dar condições de seus empregados ascenderem na Pirâmide de Maslow, seja por
meio da oferta de segurança do trabalho com baixos índices de acidentes de trabalho e por
segurança financeira (segurança); ou pela defesa de princípios e controle acerca do assunto
dentro do local de trabalho, arredando, por conseguinte práticas de assédio moral, assédio
sexual e/ou correspondentes (estima); e por meio de práticas que propiciem ampliação de boa
conjuntura cognitiva e física do trabalhador para a prática do trabalho (“realização”
profissional).
Por fim, existe a necessidade de se perceber o tipo de contribuição que a ergonomia
pode fomentar nos mais diversos planos e postos de trabalho. Assim, têm-se as seguintes
contribuições ergonômicas:
a) Ergonomia de concepção – se dá quando a contribuição se faz no prenúncio do projeto do
produto ou dos sistemas produtivos; sendo a prática mais desejável no âmbito da prevenção
15
dos riscos ergonômicos, podendo-se aplicar providências para arredar a incidência de doenças
e mazelas aos trabalhadores desde o início da identificação de riscos. Contudo, exigem-se
conhecimentos e experiência sólidos por parte de quem projeta esses sistemas. Nele o custo é
relativamente reduzido em longo prazo, visto que se evitam acidentes de trabalho e,
consequentemente, despesas com indenizações e a reformulação do ambiente de trabalho e
sistemas produtivos;
b) Ergonomia de correção – sua ocorrência é real, e menos hipotética como é o caso da
Ergonomia de concepção; porque os sistemas produtivos já estão formados e operantes.
Todavia, deve ser eventual, pois envolve consideráveis gastos em curto prazo, como é o caso
da reposição de máquinas adequando-as à ergonomia para o trabalhador. Algumas, de certa
maneira, acabam envolvendo menores gasto; mas que não configuram situação ideal, como é
o caso da mudança de postura, colocação de certos dispositivos de segurança e a elevação da
iluminação no ambiente de trabalho;
c) Ergonomia de conscientização – se dá quando os problemas não são facilmente
solucionáveis, nem na fase da concepção quanto na fase da correção. Percebe-se que ao longo
do tempo as máquinas sofrem com as modificações originárias, ora do desgaste natural, ora
das mudanças introduzidas pelos serviços da manutenção. Dessa forma, é primordial acentuar
o papel dos trabalhadores na localização de problemas nos processos produtivos por meio de
cursos de treinamento e reciclagens, permitindo que o trabalhador tenha os atributos para
saber como proceder de acordo com o fator de risco encontrado.
Figura 1 - Diagrama de Venn dos Princípios Básicos da Ergonomia
Fonte: http://www.ergoss.com.br/2015/09/ergonomia-no-trabalho-8-situacoes-a-evitar/
16
Figura 2 – Pirâmide da Hierarquia das Necessidades de Maslow
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow
Figura 3 – Divisões da Ergonomia
Fonte: http://ergomais.com.br/index.php/blog/ergonomia-fisica-cognitiva-e-organizacional
17
Figura 4 – Pirâmide dos Bons Hábitos
Fo
nte: https://www.reliza.com.br/blog/2017/piramide-dos-bons-habitos-construa-sua/
2.2 HISTÓRIA DA ERGONOMIA
Os estudos sobre a relação entre o ser humano e o trabalho não tem uma definição
específica, visto que ela pode ter se iniciado em tempos diferentes, como o uso da pedra
lascada para fazer ferramentas que gerou várias consequências após.
A definição pode ser separada em relação à época que está sendo estudada; no século
XIX, Wojciech Jarstembowsky deu a primeira definição de Ergonomia, “A ergonomia como
18
uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço,
pensamento, relacionamento e dedicação”, comentada anos depois por Karwowsky.
Outra definição é da ergonomia no período clássico, onde com o avanço da
humanidade e de épocas, foram sendo descobertos mais riscos, porventura os riscos
ergonômicos aparecendo no século XVIII, e no século XIX a origem da higiene ocupacional.
A virada para o século XX trouxe avanços para ergonomia, fisiologistas e engenheiros eram
alguns agentes principais da Ergonomia, nessa época surgiu um dos primeiros paradigmas da
Ergonomia: o ser humano como um ser que transforma a energia.
Esse paradigma durou até a metade do século XX e se consolidou na Inglaterra, no
período entre guerras, onde visavam pesquisar sobre a saúde do trabalhador na indústria de
guerra. Sendo assim a ergonomia clássica, surgida imediatamente após a segunda guerra, tem
sua definição como a relação entre homem e trabalho, equipamento e ambiente tendo a
aplicação de algumas ciências para a solução de problemas.
A segunda Guerra Mundial uniu grupos de profissionais, como psicólogos e
engenheiros para resolver problemas enfrentados por soldados em relação aos equipamentos,
mecanismos e veículos de guerra, sendo então, uma forte base para a Ergonomia. Assim, é
depois da Segunda Guerra que foi criada uma sociedade da Ergonomia, que, junto trouxe uma
corrente ergonômica denominada HFE (Human Factors Engineering).
Depois de toda a situação ocorrida na Europa, a Ergonomia passou a ter outro
questionamento: como conceber adequadamente os novos postos de trabalho a partir do
estudo da situação existente? Então, a Ergonomia passou a ter um novo estudo de condições
do trabalho e a adaptar os postos de trabalho.
2.3 DISCIPLINAS ASSOCIADAS
A ergonomia tem relação com uma gama de outras ciências que a constitui de forma a
produzir novos conhecimentos e diretrizes para o estudo da ergonomia. Assim, temos as
seguintes ciências as quais integram a ergonomia:
a) Biologia humana;
b) Medicina do trabalho;
c) Ciências cognitivas;
d) Psicologia do trabalho.
Cada uma dessas ciências tem alguma contribuição para a ergonomia. Por exemplo,
jamais seria possível entender o estresse ocupacional sem se conhecerem as causas do mesmo;
19
função desempenhada pelas ciências cognitivas e psicológicas. Por isso, percebe-se a
abrangência da ergonomia quanto a suas “ciências auxiliares”, algo que pode ser explanado
pelo fato de a ergonomia ser uma disciplina nova e que usufrui de conhecimentos e ciências
mais antigas para delas haurir embasamento técnico e científico. A noção de vizinhança
científica é bastante incerta: havendo tanto vizinhos próximos quanto distantes.
Na Biologia humana, depreende-se a existência de muitas outras ciências como a
Anatomia, Fisiologia e Antropologia física. Algumas das questões abordadas por essa ciência
são:
a) Ergonomia das posturas de trabalho: relação com estudos sob a tutela da antropometria, nos
quais se aplica o dimensionamento dos postos de trabalho com base na média das alturas de
um recorte visível do universo de trabalhadores;
b) Ergonomia da atividade muscular: busca evitar distúrbios (principalmente
osteomusculares) por meio de uma adequação do ambiente e instrumentos com o escopo de
tornar a atividade promovida mais adaptada à homeostase do organismo;
c) Ergonomia dos ambientes: trata-se do estudo do ambiente e posto de trabalho por meio de
diversas perspectivas. Nessa hipótese, permite-se o estabelecimento de limites de tolerância
(ou de conforto) para certa variável científica perante o corpo do indivíduo. Contribui para
uma concepção e uma adaptação dos locais de trabalho.
Já a Medicina do Trabalho também é um arranjo de disciplinas que agregam acerca da
precaução às doenças resultantes da prática inadequada ou do posto inadequado de trabalho e
quanto aos meios de diagnóstico e análise do problema. Diverge da Biologia humana, já que a
Medicina do Trabalho é direcionada às doenças ocupacionais e em como elas se desenvolvem
em longo prazo no organismo.
Quanto às Ciências cognitivas e a Psicologia do Trabalho, as Ciências Cognitivas
podem ser de duas categorias: a psicologia cognitiva e a inteligência artificial. A união
conceitual entre a psicologia cognitiva e a ergonomia propiciou a gênese do termo ergonomia
cognitiva, emprestando a ergonomia da psicologia cognitiva métodos e modelos.
A relação entre ergonomia e a inteligência artificial acabam sendo periódicas e
ocorrendo por intercessão da psicologia cognitiva. Uma utilização da inteligência artificial
para fins ergonômicos cinge o exemplo dos sistemas especialistas, que desempenham
incumbência de dar assistência ao trabalhador.
Desse modo, fica vedada a descaracterização da Ergonomia como uma ciência inter-
trans-multi-disciplinar – já que ela necessita de uma série de outras ciências para angariar e
obter seu caráter científico, que será melhor tratado no capítulo 2.5. Assim, a Ergonomia faz
20
uso de uma série de métodos e técnicas científicas para a consecução de seus objetivos
específicos da própria matéria ou de outras matérias, como é o caso da Administração e da
Contabilidade, as quais desejam uma maior aquisição de rendimentos, lucros e dividendos.
2.4 RELAÇÃO ENTRE HIGIENE OCUPACIONAL E ERGONOMIA
Anterior a uma análise do papel de um ergonomista é fundamental ter-se em mente os
quatro pilares da Higiene Ocupacional e uma definição para a mesma. Tal definição permitirá
uma melhor intelecção dos conceitos que serão desenvolvidos tanto nessa seção quanto nesse
trabalho como um todo.
A Higiene Ocupacional, segundo a American Conference of Government Industrial
Hygienists (ACGIH), pode ser definida como sendo:
A Higiene Ocupacional é a ciência e a arte do reconhecimento, da
avaliação e do controle de fatores ou tensões ambientais originados do
ou no local de trabalho e que podem causar doenças, prejuízos para a
saúde e bem-estar, desconforto e ineficiência significativos entre os
trabalhadores ou entre os cidadãos da comunidade.
Então, essa definição acaba por comportar a existência de quatro etapas no que diz
respeito aos riscos ocupacionais (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes de
trabalho):
a) Antecipação: é o ato de buscar antecipar/evitar que ocorra um possível acidente de trabalho
por intermédio de uma série de instrumentos representados pelo reconhecimento e avaliação;
b) Reconhecimento: é o ato de perceber e conceber certo equívoco no modo de operar do
posto de trabalho que influencia nos índices de acidentes de trabalhos e doenças ocupacionais;
c) Avaliação: consiste na utilização de métodos e procedimentos quantitativos e qualitativos
com o intuito de mensurar as chances de certo tipo de risco ocupacional incidir sobre os
trabalhadores;
d) Controle: significa regular os postos e as relações de trabalho com a finalidade de impedir a
reincidência de certo acidente e/ou risco ocupacional.
Outras definições e descrições para os conceitos de Reconhecimento, Avaliação e
Controle são as respectivas:
“Reconhecimento: nesta primeira etapa, realizamos e reconhecimento dos agentes ambientais
que afetam a saúde dos trabalhadores. É importante observar que se um agente tóxico não for
reconhecido, ele não será avaliado nem controlado. Desta forma, para que esta etapa seja
21
bem-sucedida, devemos ter conhecimento profundo do processo produtivo, ou seja, dos
produtos envolvidos no processo, dos métodos de trabalho, do fluxo do processo, do arranjo
físico das instalações, do número máximo de trabalhadores expostos, dentre outros fatores
relevantes. Avaliação: nesta etapa, realizamos uma avaliação quantitativa e/ou qualitativa dos
agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos postos de trabalho. É nesta fase que
devemos detectar os contaminantes, fazer a coleta de amostras (quando cabível), realizar
medições e análises das intensidades e das concentrações dos agentes, realizar cálculos e
interpretações dos dados levantados no campo, comparando os dados de exposição
estabelecidos pelas normas vigentes. Controle: com base nos dados obtidos nas etapas
anteriores, devemos propor e adotar medidas que visem à eliminação ou minimização do risco
presente no ambiente.” (SALIBA apud BELTRAMI, 2013).
Todas essas etapas intervêm de alguma maneira no resultado da segurança e conforto
de um ambiente de trabalho. De certa forma, já se nota que a ergonomia tem correlação estrita
com a Higiene Ocupacional; uma vez que a primeira é subdivisão da segunda. Assim,
qualquer risco da Higiene Ocupacional (que não seja a ergonomia) virá a afetar a ergonomia.
O efeito mediante a presença de certo risco físico, por exemplo, uma vibração que incida
sobre um trabalhador pode depender de onde esta incide e qual era a postura do trabalhador
durante a recepção da vibração, matéria da ergonomia. Portanto, a ergonomia não se constrói
por si só.
2.5 A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET)
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é o método pelo qual, por meio de
artifícios científicos e provenientes de outras ciências, procura-se identificar e quantificar
variáveis ergonômicas dentro de certos postos de trabalho e até mesmo concernente à
hierarquia de funções imersas em uma empresa.
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), no território brasileiro, é colocada ao lado
com os problemas da ciência do trabalho e da saúde do trabalho, sendo que ela constitui a
principal fonte de início para a Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no
Trabalho (EAA_QVT), a qual também pode ser considerada uma abordagem possível na
ergonomia.
A EAA_QVT teve seu surgimento a partir de algumas especificidades, as quais
levaram a algumas demandas, mais naturais do que únicas, que trouxeram uma dúvida de
como a ergonomia poderia interferir e transformar o trabalho. A EAA_QVT procura mudar a
22
concepção de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), podendo ser observado, por exemplo, a
quase ausência da “organização do trabalho” no enfoque assistencialista.
Essa pode ser segregada em duas dimensões: a primeira visa o bem-estar do
trabalhador a partir de normas e outros; e a segunda também busca o bem-estar no trabalho,
porém é pela ótica do trabalhador em representações, sendo que as teorias do EAA_QVT se
baseiam nessa dimensão. Porquanto, as teorias da Ergonomia da Atividade Aplicada à
Qualidade de Vida no Trabalho não buscam alterar o trabalho, mas sim de estimar o QVT em
dois níveis: o macroergonômico, cujo caráter é definido por um diagnóstico que se apresenta
em duas variantes, o bem-estar no trabalho e o mal-estar, observando que, mesmo podendo se
diferenciar o mal-estar do bom com o nível de felicidade e animação, por exemplo, não existe
uma divisão muito clara que diferencie as duas - as duas podem ser avaliadas, além da
observação livre, por exemplo, por meio do uso de Inventário de Avaliação de Qualidade de
Vida no Trabalho (IA_QVT).
A principal vantagem de se usar o IA_QVT é ter uma demanda que distribua as bases
para o diagnóstico microergonômico pelo uso do AET clássico. Uma analogia que pode ser
fomentada entre o diagnóstico macroergonômico e o microergonômico é que o
macroergonômico revela a ponta do iceberg, enquanto o microergonômico revela a base do
iceberg. Essa analogia mostra a importância de ambos os diagnósticos.
Apresentado isso, chegamos ao nível microergonômico, o qual tem sua avaliação com
base em procedimentos básicos da Análise Ergonômica do Trabalho: análise, observações e
entrevistas, tendo como objetivo o de aprofundar a pesquisa ou investigação, buscando
descobrir como um determinado ambiente ou posto de trabalho se configura e os riscos
preponderantes neste espaço em relação ao trabalho nele executado. Outrossim, é possível
citar duas fontes primordiais de mal-estar no trabalho: as tarefas repetitivas e as cobranças
excessivas em curtos prazos.
Sendo assim, mesmo que o EAA_QVT ainda esteja em construção, ocorrerão mais
consertos e mais limites que deverão serão expandidos para o qual há a necessidade de
promoção de ajustes teóricos, e o uso de um modelo teórico-metodológico tem que ser
entendido para promover a busca do QVT. Dessa forma, existe constância no emprego de
métodos e procedimentos analíticos prosaicos no que concerne à AET, a saber:
a) Planejamento da coleta de dados;
b) Recorte do problema observado;
c) Sensibilização dos indivíduos com participação na pesquisa;
23
d) Observação do tipo livre;
e) Entrevistas individuais;
f) Observação sistemática às situações próprias do trabalho executado;
g) Tratamento de dados coletados;
h) Criação de relatório final, o qual elenque as principais mudanças e recomendações que
precisam ser promovidas e consideradas na tomada de decisão.
A análise dos fatores estruturantes das representações de bem-estar e mal-estar no
trabalho é fundamental na exegese psicológica dos trabalhadores na AET. Tais fatores
estruturantes se encontram dispostos no Quadro 1.
Fonte: Elaboração própria, com base em Ferreira (2015).
2.5.1 As atribuições do ergonomista na AET
No contexto da ergonomia centrada na atividade, transformar o trabalho é a finalidade
primeira da ação ergonômica, e o que o ergonomista deve realizar de forma a contribuir com:
a) A concepção de situações de trabalho que não alterem a saúde dos trabalhadores e nas
quais estes possam exercer suas competências;
Quadro 1 - Fatores estruturantes das representações de bem-estar e mal-estar no trabalho
Condições de
trabalho
Equipamentos arquitetônicos (piso, paredes, teto, portas, janelas, decoração, arranjos
físicos, layout); ambiente físico (espaços de trabalho, iluminação, temperatura,
ventilação, acústica); instrumental (ferramentas, máquinas, aparelhos, dispositivos
informacionais, documentação, postos de trabalho, mobiliário complementar); matéria-
prima (materiais, bases informacionais); suporte organizacional (informações,
suprimentos, tecnologias, políticas de remuneração, de capacitação e de benefícios).
Organização do
trabalho
Missão, objetivo e metas organizacionais (qualidade e quantidade, parametragens);
divisão do trabalho (hierárquica, técnica, social); processo de trabalho (ciclos, etapas,
ritmos, tipos de pressão); padrão de conduta (conhecimento, atitudes, habilidades
previstas, higiene, trajes/vestimentas); trabalho prescrito (planejamento tarefas, natureza
e conteúdo das tarefas, regras formais e informais, procedimentos técnicos, prazos);
tempo de trabalho (jornada, duração, turnos, pausas, férias, flexibilidade); gestão do
trabalho (controles, supervisão, fiscalização, disciplina, relação entre o constrangimento
e o esforço promovido pelo trabalhador).
Relações
socioprofissionais
Relações hierárquicas (chefia imediata, chefias superiores); relação inter-pares (colegas
de trabalho, membros de equipes); relações externas (cidadãos-usuários dos serviços
públicos, clientes e parceiros de canal, fornecedores de produtos e serviços, auditores,
fiscais).
Reconhecimento e
crescimento
profissional
Reconhecimento (do trabalho realizado, do empenho, da dedicação, da hierarquia com
chefia imediata e superiores, da instituição, dos cidadãos-usuários, da sociedade);
crescimento profissional (uso da criatividade, desenvolvimento de competências,
capacitações, oportunidades, incentivos, qualificação do trabalho, equidade, plano de
carreira).
Elo Trabalho e Vida
Social
Sentido do trabalho (prazer, bem-estar, valorização do tempo vivenciado na
organização, sentimento de utilidade social, produtividade saudável); importância da
instituição empregadora (significados pessoal, profissional, familiar e social); vida social
(relação trabalho-casa, relação trabalho-família, relação trabalho-amigos).
24
b) Os objetivos econômicos determinados pela empresa, em função dos investimentos
realizados ou futuros.
Hubault (2004) afirma que os objetivos e escopos da Análise Ergonômica do Trabalho
(AET) e as áreas passíveis de análise pela ergonomia são:
A ergonomia tem a missão de aprofundar a compreensão da relação
entre o que o homem vive no trabalho e pelo seu trabalho, o que ele
faz com o que a empresa compreende disso, o que ela faz disto, ainda
mais o que ela espera disto, o que ela quer fazer disto.
Com isso o ergonomista interessa-se pela reação do homem e da empresa, do homem e
da técnica, do homem e seu ambiente, enfim de cada nível que se pode conceber uma
interface entre esses termos.
A busca desses dois objetivos origina a AET, cujo método busca resolver os
problemas da inadequação do trabalho às características humanas geradas por:
a) Projetos de sistemas de produção, de processos, da organização do trabalho e das tarefas
que foram feitas;
b) Situações de adaptação, transformação ou concepção de sistemas de produção em que
houve predominância dos aspectos financeiros, técnicos ou organizacionais que não
favoreceram a reflexão sobre o lugar incontornável do homem no sistema de produção.
Além disso, nessa apresentação da análise ergonômica do trabalho, percebe-se que sua
compreensão é um meio que permite:
a) Conhecer melhor e explicar melhor as relações entre as condições de realização da
produção e a saúde dos trabalhadores;
b) Propor pistas de reflexão úteis para a concepção das situações de trabalho;
c) Melhorar a organização dos sistemas sociais e técnicos, a gestão dos recursos humanos e,
em consequência, o desempenho da empresa em seu todo.
Assim, a ergonomia não é só análise da atividade, bem como a análise da atividade
pode ser utilizada em outros domínios que não o do trabalho. Contudo, a partir das discussões
apresentadas, é possível levantar os seguintes aspectos-chave sobre o método da ergonomia da
atividade:
a) Ela se desenvolve da ação;
b) Os atores são todos os que participam do processo de interação homem-máquina, inclusive
o pesquisador/ergonomista;
c) A interação entre os atores gera um aumento do conhecimento ou o nível de consciência da
atividade, que será fator chave para a transformação da situação do trabalho;
25
d) É um método cíclico que se retroalimenta a partir do conhecimento ou aumento da
consciência gerada dentro dessa análise;
e) O trabalho deve ser realizado tendo a análise ergonômica do trabalho como ferramenta
principal para a geração dos dados brutos.
2.5.2 Procedimentos científicos da AET
Durante o processo de reconhecimento científico da AET, algumas questões
epistemológicas foram colocadas em pauta. Desse modo, a reflexão epistemológica tem por
objeto as provas às quais devem se submeter às pesquisas, as teorias e os modelos que
queiram merecer o adjetivo “científico”. Nesse contexto, é de fundamental relevância a
inserção de preceitos científicos para a Ergonomia.
Segundo Daniellou, citado por Pizo, para alguns pesquisadores da área, a ergonomia
continuará um “projeto”, uma “arte”, uma “tecnologia” que utiliza conhecimentos produzidos
por outras disciplinas; para outros, a ergonomia pode produzir conhecimentos sobre a
atividade de trabalho ou sobre a atividade do ergonomista, a qual lhe pertence
exclusivamente, e que nada impede esse conhecimento de ganhar um dia dignidade de
“científico” e certa independência perante outras disciplinas.
Para dar base a essas constatações, o autor abre discussões sobre os seguintes aspectos:
a) A consciência das bifurcações: o ergonomista é solicitado por um conjunto de teorias e
modelos científicos que abrange localmente os fenômenos com os quais ele se defronta. Esses
modelos não se encaixam de modo cômodo para constituir um corpo de conhecimentos para a
ação, e em certas zonas de realidade eles se contradizem e em outras estão ausentes. Assim, a
emergência de conceitos que alimentam a reflexão cotidiana do ergonomista é resultado de
um conjunto de manobras, de “bifurcações”. Essa condição gera uma justaposição de
conceitos que dificulta a formação de um acordo do que significa produzir conhecimentos
científicos em ergonomia;
b) A relação entre ergonomia e os conhecimentos científicos: há um acordo patente de que a
ergonomia utiliza conhecimentos oriundos da fisiologia, psicologia e outras áreas de
conhecimento. Também há certa concordância de que a utilização não é uma simples
aplicação desses conhecimentos, sendo que a ergonomia leva a transformá-los pelo seu caráter
integrador. Por esse fato, a ergonomia é reconhecida por levar as outras disciplinas a produzir
conhecimentos em zonas em que a prática as revela duvidosa;
26
c) A relação homem e o trabalho: a questão dos critérios da ergonomia está relacionada a uma
discussão dos paradigmas à luz dos quais se estuda o trabalho. A ergonomia classicamente
leva em conta um duplo critério – o da saúde dos trabalhadores e o da eficácia econômica –
sobre o qual exige a construção de compromissos que são influenciados por diversos fatores
externos. Além disso, tem-se o enigma das relações entre tarefa e atividade, o trabalho
prescrito e o trabalho real, os limites da adaptação humana, os modelos do homem e suas
dimensões, os modelos da sociedade e da mudança social;
d) A questão dos comportamentos à ação: a referência aos termos “comportamentos” ou
“condutas” do homem no trabalho e a influência que essa perspectiva gera no
desenvolvimento da ação. As questões das racionalidades que levam o ergonomista a
descrever-se como ator da transformação das situações de trabalho, abrindo um espaço para
discutir como ocorrem as modalidades da ação do ergonomista.
O autor também destaca a distinção entre a análise da atividade e a análise ergonômica
do trabalho. Um ponto em comum: ambas produzem conhecimentos a partir da elaboração de
um modelo e da verificação de sua validade. Pontua-se que a análise da atividade tenderá a
perceber a atividade realizada pelo trabalhador, enquanto que a análise ergonômica verá como
a atividade interfere na saúde do trabalhador e como essa atividade influirá positiva ou
negativamente na interação homem-máquina.
2.5.3 Passos para uma intervenção ergonômica
Todo o momento que a interação entre o homem e máquina se vê debilitada, seja em
face do aspecto físico ou psicológico, necessita-se duma intervenção ergonômica. Dessa
forma, é papel da AET determinar o espaço, os limites e a intensidade da intervenção.
Referenciando Couto, comentado por Rocha (2004), acredita-se que tais são passos
necessários para a intervenção ergonômica, seja em fenômenos organizacionais quanto
fenômenos produtivos:
a) Passo primeiro: consiste na adequação e transmutação das condições básicas de trabalho,
com conforto praticamente inexistente, dentro dos postos de trabalho;
b) Passo segundo: promovem-se melhorias nas condições ambientais do trabalho, com a
promoção de conforto luminoso, acústico e térmico;
c) Passo terceiro: consiste no aperfeiçoamento dos métodos de trabalho, fazendo-se análise
biomecânica para identificar desvios nesse quesito inerentes ao ambiente e os postos de
trabalho;
27
d) Passo quarto: mudanças nos sistemas de trabalho, buscando facilitar relações hierárquicas e
organizacionais que acabam se tornando óbices e empecilhos para os fins ergonômicos
possuídos pela empresa;
e) Passo quinto: normalização de todas as outras situações que acabam tendo impacto
ergonômico sobre o trabalhador, seja físico ou mental.
2.6 ANÁLISE DA NORMA REGULAMENTADORA 17 (NR 17)
A NR 17 é uma das únicas normas técnicas acerca da ergonomia no Brasil, ocupando
em conjunto com a NBR 1001 o papel de dispositivo legal sobre a ergonomia no país. Tal NR
17 é composta por dois anexos: Anexo 1 e Anexo 2. Seu Anexo 1 e seu Anexo 2 têm como
foco, respectivamente, o caso da ergonomia de caixas de supermercado e de atendentes de
telemarkting. Então, leremos algumas partes essenciais da NR17 com suas devidas indicações
ao longo do texto.
Os objetivos legais da NR 17, de um modo geral, são fixados em 17.1:
17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação
das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Já em 17.1.1, temos a caracterização de quais condições de trabalho que a norma
regulamentaria:
17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e
descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de
trabalho e à própria organização do trabalho.
Já em 17.2.1 e 17.2.2., define-se a distinção entre os tipos de transportes de cargas:
17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é
suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição
da carga.
17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira
contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas.
Enquanto que, em 17.3.1 cria-se uma oneração ao trabalhador no que se concerne à
posição de trabalho sentada:
17.3.1. Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho
deve ser planejado ou adaptado para esta posição.
28
Referente aos trabalhos de posição de pé ou sentada, o 17.3.2 obriga o empregador a
oferecer certos instrumentos e estruturas antropométricas nos postos de trabalho:
17.3.2. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas,
escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura,
visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos:
a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade,
com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento;
b) ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador;
c) ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação
adequados dos segmentos corporais.
O mesmo de fato ocorre com 17.3.3, mas agora no caso do assento:
17.3.3. Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos
mínimos de conforto:
a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida;
b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento;
c) borda frontal arredondada;
d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar.
Referente à iluminação, em 17.5.3, 17.5.4 e 17.5.5 salienta-se a importância e as
idiossincrasias da iluminação que deve ser implementada nos ambientes de trabalho, a qual
acaba variando segundo o ambiente de trabalho específico, para que a mesma não seja nem
excessiva e nem insuficiente em função do trabalho executado:
17.5.3. Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial,
geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.
17.5.3.1. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa.
17.5.3.2. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar
ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos.
Por fim, no ao tratar do aspecto ergonômico organizacional, criam-se direitos ao
trabalhador com atividade que causa sobrecarga muscular em 17.6.3, além de se determinar a
organização do trabalho como um parâmetro intersubjetivo, o qual varia em conformidade
com as características próprias do trabalhador em questão:
17.6.1. A organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas dos
trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
29
17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço,
ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho,
deve ser observado o seguinte:
a) todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de remuneração e
vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos
trabalhadores;
b) devem ser incluídas pausas para descanso;
c) quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15
(quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de
produção vigentes na época anterior ao afastamento.
2.7 O LEVANTAMENTO E TRANSPORTE DE CARGAS
Para manter uma postura ou movimento os músculos realizam um gasto energético e
permitem o deslocamento do membro do corpo. Notoriamente existem determinadas
recomendações e formas de se evitar doenças mediante o transporte e levantamento
inadequado de cargas, assunto que será tratado mais adiante.
2.7.1 Disciplinas associadas
Posturas derivam de algumas outras áreas, sendo elas:
a) Biomecânica: estudo onde as leis da física são aplicadas no corpo humano seguido de
alguns preceitos, assim, para manter uma boa postura as articulações têm que se manter em
uma posição neutra, ou seja, que possua pequena tensão nos músculos. Isso leva a outros
princípios: pesos têm que ser mantidos o mais perto do corpo; pequenos períodos de tempo da
coluna ou cabeça curvado para frente também evitando dores; evitar torceduras no tronco as
quais podem ser prejudiciais; a necessidade do pré-aquecimentos dos músculos antes de um
movimento, ou seja, evitar movimentos bruscos, alternância nos movimentos ou posturas, se
caso não ocorra pode causar fadiga e/ou lesões; limitar o esforço muscular durante certos
períodos de tempo para evitar fadigas, desconfortos e a queda do desempenho; evitar o
cansaço muscular, pois um alto cansaço leva mais tempo para recuperar, podendo ser evitada
pelo uso de pequenas pausas com frequência;
b) Fisiologia: estudo do funcionamento físico do corpo humano, sendo que ela pode calcular a
necessidade energética dos pulmões e coração, ocorrendo com o esforço muscular. Além
30
disso, os seres humanos são capazes de realizar atividades por longos períodos que não
ultrapassem um gasto energético de 250W ou de 3,575kcal/min; sendo que, inferior a isso, a
tarefa não é pesada e não necessita de pausas, sendo essas atividades, por exemplo, a
digitação e atividades domésticas, caso ultrapasse, é necessário a realização de pausas ou
substituição para uma atividade mais leve;
c) Antropometria: estudo das medidas do corpo humano. Destarte, nesse caso, observam-se as
diferenças entre os trabalhadores, porque um projeto pode ser confortável para um, mas
desconfortável para outro. Então para impedir desconfortos aos trabalhadores é feita uma
média entre os trabalhadores para atingir o maior nível de conforto, para isso, usam-se tabelas
antropométricas (tomando cuidado para que essa tabela se encaixe na população
determinada), as medidas são feitas como se a população estivesse nua e depois são
acrescentados o peso e a medida das roupas. Na Figura 5 nota-se uma série de exemplos de
médias das medidas humanas. Os padrões resultantes dessas médias são usufruídos na criação
de bancadas, cadeiras, instrumentos, ferramentas e estruturas imanentes aos trabalhos
executados pelos trabalhadores. Tais padrões possibilitam uma normalização desses
elementos e a existência de conforto físico na prática do trabalho.
Por fim, a Antropometria acaba se separando em duas áreas: Antropometria Física e
Antropometria Cultural. A Antropometria Física estuda o físico do homem. Ao longo da
história a antropometria auxiliou diversas disciplinas como a psicologia, ao longo do tempo
foi encontrada vários problemas na segunda guerra, então se iniciou a medição para a criação
de projetos, sendo que é usada a Antropometria sempre que possível para evitar acidentes
físicos e psíquicos, também é considerado abstrato a expressão de homem médio, o qual seria
a média dos homens medidos.
2.7.2 Recomendações para o transporte e levantamento de cargas
O levantamento e o transporte manual de cargas são fatores que propendem os
trabalhadores a sofrerem lesões, ora na coluna vertebral, ora em suas outras formações
musculares e esqueléticas. A maior preocupação nesse sentido refere-se à sobrecarga de
componentes da região lombar e de discos intervertebrais.
Concebe-se como verossímil a ideia de que se não é possível arredar o transporte
manual de cargas pesadas por meio de automação, deve-se então intercalar o transporte de
cargas pesadas com cargas leves. Assim, é percebível uma resistência óssea na direção
vertical da coluna vertebral, algo pouco percebível da direção horizontal por exemplo. A
31
Figura 4 mostra algumas posturas inadequadas que podem preponderar nos locais e postos de
trabalho.
Existem algumas recomendações e procedimentos necessários no que tange à
realização do levantamento e transporte de cargas, a saber:
a) Busca por uma manutenção do estado reto da coluna, usufruindo da musculatura das pernas
para a consecução dos movimentos;
b) Manutenção de determinada proximidade entre a carga e o corpo em questão;
c) Remoção de objetos adjacentes, os quais retardem e dificultem o fomento dos movimentos;
d) Manipulação da carga por ambas as mãos;
e) Colocação da carga sobre uma bancada antropométrica antes do deslocamento para mitigar
problemas posturais resultantes de como a carga foi segurada.
f) Quando a postura é o que estamos analisando deve-se contar com alguns elementos como
quando as articulações estão em posição neutra, ou seja, quando os músculos e ligamentos
estão os menos esticados possíveis;
g) Na conservação de pesos próximos ao corpo, não pode haver pesos a serem pegos muito
longe do corpo para que os tendões tenham que se articular de forma excessiva e repetitiva;
h) Evitar a inclinação para frente porque a parte acima da cintura de um adulto pesa 40 kgf, e
inclinar a coluna pode forçar vários músculos mais do que eles realmente podem, gerando
uma grande pressão no tronco;
i) Evitar também a torção da cabeça que o simples inclinar de 30° pode pesar de 4 a 5 kg a
mais, ocorrendo uma grande tensão nos músculos do pescoço;
j) As tensões no tronco também podem causar pressões indesejáveis nas vértebras fazendo
com que os discos lombares sejam pressionados contra as vértebras, e as articulações
presentes dois lados da coluna fiquem desiguais, sendo isso bem prejudicial (Escoliose,
Hipercifose, Hiperlordose);
k) Movimentos bruscos que causam picos de tensão também são ruins, especialmente para a
musculatura, pois a musculatura antes de um grande esforço deve se aquecer, pois músculos
têm ritmos lentos;
l) Posturas prolongadas e movimentos repetitivos são bem desgastantes para o Sistema
Musculoesquelético;
m) Para prevenir a exaustão muscular devem ser feitas intervalos de tempo curtos e em grande
quantidade;
n) A posição em pé é muitas vezes escolhida, pois dizem que desta forma a coluna fica mais
reta, e amassa menos os discos lombares, mas da mesma forma é muito fatigante, acumula
32
sangue nas pernas dando-as uma sensação de peso na perna, sensação de dor nos membros e
meios de contato, com a tensão muscular dificultando as tarefas de precisão;
2.7.3 Considerações acerca do Sistema homem-máquina
Consoante a Pinheiro e França (2006), citado por Franceschi (2013): O sistema
Homem Máquina é a união de um ou mais elementos simultaneamente para a realização de
uma tarefa. De tal modo para o homem tomar uma decisão, o homem precisa ter
conhecimento sobre as informações da máquina, de suas condições e as tarefas a serem
realizadas na mesma.
Ainda segundo Pinheiro e França (2006), explicado por Franceschi (2013), podemos
perceber tal sistema em utilizando uma torradeira, por exemplo, onde o homem coloca o pão,
a liga, e aguarda seu processo.
De acordo com Falzon (2012), comentado por Franceschi (2013): É preciso entender
de forma considerável a relação homem máquina para compreender os desafios na ergonomia,
aparentes a partir desses sistemas complexos e dinâmicos.
2.7.4 Interações no Sistema homem-máquina
A Ergonomia é basicamente o estudo de uma interação entre o homem e a máquina,
seja de forma harmoniosa ou com atritos imanentes a tal relação. Nesse sentido, é necessário
compreender como funciona e se dá essa interação para uma intervenção quando essa se
mostrar necessária, ora no posto de trabalho, ora na operação e manutenção da máquina em si.
Conforme Lida (2006), citado por Franceschi (2013): O sistema homem-máquina-
ambiente, corresponde a um dos estudos básico na ergonomia, sendo formado pelo básico, um
homem e uma máquina, onde eles interagem de forma contínua entre si, realizando trabalhos,
e ainda segundo este autor, existem dois tipos de máquinas, máquinas tradicionais, as quais o
ajudam a realizar trabalhos físicos, a exemplo de ferramentas manuais, máquinas-ferramentas,
e as máquinas cognitivas, sendo estas operadas por informações, como os computadores por
um exemplo.
Neste sistema, os componentes atuam como controladores de processo tanto como
processadores de dados, utilizando diferentemente seu potencial em situações específicas.
Cabe ao projetista definir que funções serão realizadas pelas máquinas, e quais ficaram sobre
33
o operador humano. Por conta disso, é importante saber diferenciar as propriedades
específicas de cada elemento, para poder identificar suas vantagens e desvantagens.
De acordo com Lida (2006), citado por Francheschi (2013): “Devem existir
subsistemas próprios para que o homem possa comandar o sistema, assim possibilitando as
interações no sistema homem-máquina. A exemplo deste temos vários tipos usuais de
controles: alavancas, manivelas, volantes, mouses, touchpads, entre outros. Além de abranger
os subsistemas humanos que receptam informações, e o subsistema humano de resposta.
2.7.5 Diferenças entre o homem e a máquina no sistema
A máquina se distingue no sistema por/porque:
a) Não estar sujeita a fatores emocionais, ou fadiga;
b) Executa operações repetitivas ou demais precisas com uma grande confiabilidade, por
poderem ser programadas;
c) Consegue selecionar muito mais rapidamente os dados e as informações que necessita;
d) Memoriza com exatidão um número muitas vezes superior de dados;
e) Exerce sua força em grande quantidade com precisão;
f) Capaz de executar computações com exatidão e rapidez;
g) É sensível a estímulos, além do que o homem consegue perceber (ondas de rádio,
infravermelho, entre outros estímulos);
h) Executa simultaneamente diferentes atividades;
i) É insensível a fatores anormais;
j) Repete operações contínuas, rápidas, e precisas do mesmo jeito, por uma longa quantidade
de tempo;
k) Consegue operar em ambientes hostis, e inclusive inabitáveis pelo homem.
O ser humano se distingue no sistema por/porque:
a) É capaz de decidir, julgando e vindo a resolver situações específicas;
b) Ter a capacidade de resolver situações não codificadas, não se limitando ao previsível;
c) Não precisa de uma programação, desenvolve seus próprios métodos, ao se fazerem
necessários;
d) É sensível a uma grande gama de estímulos;
e) Generaliza a partir de modelos percebidos;
f) É capaz de guardar uma grande quantidade de informações por bastante tempo, e pode
recordar de fatores importantes em momentos apropriados;
34
g) Consegue aplicar originalidade ao resolver um problema, buscando soluções alternativas;
h) Aprende com experiências passadas.
Figura 5 – Posturas inadequadas nos postos de trabalho
Fonte: Extraído de Mattos (2011).
2.8 DOENÇAS ASSOCIADAS À ERGONOMIA
Algumas doenças físicas estão associadas às práticas repetitivas dentro da ergonomia,
integrando o conjunto das doenças de Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Doenças Osteo-
musculares relacionadas ao trabalho (DORT):
a) Tenossinovite;
b) Bursite;
c) Epicondilite;
d) Síndrome Cervicobranquial;
e) Síndrome do Túnel do Carpo.
De certa maneira, ocorreu a substituição do termo LER por DORT, já que existiam
sintomas nos quais inexistia lesão aparente e real. Dessa forma, temos as demais doenças
pontuadas, as quais advêm do LER/DORT. Nesse caso, elas surgem em conjunto com a
LER/DORT por conta de atividades iteradas e repetitivas, e não necessariamente por conta de
uma postura inadequada.
De forma geral são esforços excessivos feitos no sistema musculoesquelético, que o
desgastam (e estas injúrias normalmente acontecem nos membros superiores), em devidos
setores há uma maior chance de ocorrer ou de agravar alguns destes problemas como:
a) Setor de Soldagem;
b) Setor Industrial;
35
c) Setor de Montagem;
d) Setor de investimento.
Podemos descrever os sintomas dessas outras doenças da seguinte forma:
a) Tenossinovite: Inflamação causada na bainha a qual conecta o músculo de tendão ao seu
respectivo osso;
b) Bursite: Inflamação das bursas (que são bolsas de líquido que entram em contato com os
ossos, ampliando uma consequente dor na realização do movimento, em face da disfunção das
bursas, as quais reduzem o atrito entre os ossos e o músculo de tendão;
c) Epicondilite: Inflamação de músculos e tendões do cotovelo;
d) Síndrome Cervicobranquial: dor nos braços e na região cervical;
e) Síndrome do Túnel do Carpo: no ventre do punho onde passam os tendões e nervos dos
dedos, incide formigamento e dormência resultante de um nervo comprimindo um punho.
Na realidade, no Brasil, estes distúrbios foram primeiramente reconhecidos com
tenossinovites ocupacionais e por isso, principalmente na década de 80, sindicalistas lutaram
para que hoje seja considerada como doença de trabalho.
Em relação aos distúrbios, devem ser analisados os fatores diretos e indiretos, além
de não os analisar de forma separada, e sim conjunta. Outrossim, existem fatores de risco
específicos que podem contribuir para o agravamento dessas doenças:
a) Posto de Trabalho: Embora este elemento diretamente não afete o sistema
musculoesquelético, ele se não for de boa qualidade pode forçar o trabalhador a forçar seus
músculos, inclinando seu corpo para frente e causando em longo prazo uma série de
problemas;
b) Exposição a vibrações: Causa efeito nos sistemas muscular e neurológico;
c) Exposição ao frio: efeito direto no tecido ou em qualquer EPI que o trabalhador esteja
utilizando, e indireto no seu corpo;
d) Ruído elevado: Causa mudanças e alterações de comportamento, pode causar surdez em
casos extremos, problemas psicológicos e até problemas hormonais;
e) Pressão mecânica localizada: Ocorre a compressão de um lugar mole do sistema
musculoesquelético;
f) As posturas inadequadas: podem causar afecções musculoesqueléticas.
Quanto à classificação do indivíduo com relação à massa corporal, esta permite a
facilitação dos cálculos para estabelecimento de limite de tolerância (ou de carga) que alguém
consegue suportar, temos as seguintes divisões:
36
a) Indivíduo ectomorfo: nos Ectomorfos, o corpo é magro, pescoço comprido, pouca gordura
e músculos e tem ombros e braços caídos e seu rosto é largo com queixo fino.
b) Indivíduo endomorfo: os Endomorfos têm cintura larga, abdome largo, muita gordura
presente em seu corpo todo, seu rosto têm o formato característico de uma pera, tendo o tórax
relativamente pequeno.
c) Indivíduo mesomorfo: os Mesomorfos são pessoas musculosas com abdome fino, rosto
largo e maciço, tendo pouca gordura subcutânea, isto é, seu corpo é musculoso com formas
angulosas.
Já com relação às moléstias provenientes de más posturas na coluna cervical temos o
seguinte arranjo:
a) Hérnia: normalmente provém de um processo degenerativo, causando dor cervical e
compressão medular – afetando área nervosa;
b) Osteoporose: ocorre a redução da densidade óssea;
c) Escoliose: é deformidade lateral na coluna, todavia com deformidade nos três planos (axial,
sagital e coronal);
d) Cifose de Scheuermann: normalmente presente em crianças de 8 a 12 anos, deixa a coluna
vertebral com cifose (desvio da coluna vertebral, localizado na região torácica do organismo).
Portanto, podemos notar a presença de uma série de fatores e doenças relacionadas às
atividades repetitivas e às posturas inadequadas. Reforça-se também a existência de uma
gama de fatores de agravo, advindos de outros riscos ocupacionais e de determinados setores
industriais. Assim, nesse capítulo as moléstias e doenças de cunho psicológico e cognitivo não
forma tratadas; uma vez que o estresse será abordado no capítulo 2.9 Considerações sobre
carga mental, o estresse as formas de prevenção.
2.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTRESSE, MONOTONIA E FADIGA
Esses são temas essenciais na ciência da ergonomia, visto que essas moléstias
compõem as principais resultantes do cansaço decorrente da prática assídua do trabalho. Da
ideia de estresse nasce o conceito de carga (ambíguo em certo sentido), o qual significa o grau
de rigor duma tarefa em certo momento ou as consequências da execução dessa tarefa.
Daí surge os conceitos de constrangimento e esforço:
a) Constrangimento: uma meta ou estado da tarefa a ser atingido em determinado prazo ou
período;
37
b) Esforço: se refere ao grau de mobilização física, cognitiva ou psíquica do operador na
realização da tarefa.
A análise da carga consiste em considerar o esforço em função do constrangimento.
Tal visão de carga se aplica ao aspecto físico, psíquico e cognitivo. Então, acredita-se que
para tornar um esforço elevado em um esforço aceitável, deve-se proceder da seguinte forma:
a) pela redução da complexidade da tarefa (adaptando ambiente do trabalho; automatizando a
produção; assistência por inteligência artificial; entre outros);
b) pelo aumento da competência do operador (trabalho cooperativo e coletivo; investimento
na otimização da qualificação profissional; e pela integração entre trabalhadores experientes e
menos experientes).
Tais procedimentos podem, porventura, mitigar – em conjunto a medidas
administrativas e de redução de riscos ocupacionais – a ocorrência de stress. Por fim, é válido
compreender os possíveis modos de prevenção para patologias psicológicas:
a) Prevenção primária a qual atua nas condições criadoras de estresse e patologias
psicológicas;
b) Prevenção secundária a qual controla o estresse já identificado;
c) Prevenção terciária a qual acompanha os indivíduos afetados pelo estresse.
Porquanto, a prevenção primária é preferível as demais, pois é melhor tratar qualquer
patologia em seu prenúncio e não em um estado mais avançado. Assim, o mesmo acaba por
valer no caso do estresse. Ademais, é claro que além dessas formas de prevenção deverem ser
incentivadas pelos proprietários das empresas, é necessário que os trabalhadores terem a
iniciativa de identificar as diversas formas de prevenção ao stress; afinal, ninguém melhor que
o trabalhador para descrever a situação psicológica dos trabalhadores.
2.9.1 Monotonia
A monotonia é uma resposta proveniente do indivíduo a todo o trabalho que é visto e
percebido como desinteressante, a um trabalho repetitivo prolongado e com alto controle ou
vigilância por parte dos superiores. Tal ocorrência incide principalmente nos trabalhadores
noturnos, indivíduos com pouca motivação, pessoas mais extrovertidas em atividades de
introversão e repetição, além de pessoas com elevada qualificação, as quais praticam
atividades que consideram limiares e aquém de suas capacidades.
38
Atinge também aqueles que têm outro motivo para atuar em certa profissão
(enriquecer apesar de não gostarem da profissão), em período de treinamento ou com outro
trabalho. Assim, ele aflige indivíduos que se sentem insatisfeitos com a tarefa que executam.
Pode ser combatido ou por “alargamento” ou por “enriquecimento” do trabalho. A
diferença entre o método do “alargamento” e do “enriquecimento” é muito bem explanada da
seguinte maneira:
Entende-se “alargamento” quando o funcionário muda de função, mas
mantém as mesmas atividades psicomotoras exercidas anteriormente;
enquanto o “enriquecimento” do trabalho compreende a mudança de
função agregando novas demandas cognitivas e responsabilidades
(MATTOS, 2011).
Assim, é bom ressaltar que a central conseguinte da monotonia é a perda de atenção
pelo trabalhador, algo que contribui para a morosidade e lentidão do sistema produtivo de
uma forma geral. Um exemplo dessa relação é fomentado por Lida (1990):
Em tarefa da vigilância da tela do radar, durante duas horas seguidas,
observou-se que a quantidade média de sinais não-detectados era de
50% na primeira meia-hora. Essas porcentagens subiram,
respectivamente, para 77, 84 e 90% para as segunda, terceira e quarta
meia horas.
2.9.2 Fadiga
A fadiga possui componente físico, neuromuscular; envolvendo também fatores de
cunho psicológico. A fadiga da categoria neuromuscular já fora anteriormente ponderada
como resultante do uso intenso do sistema muscular e nervoso central. A fadiga física pode
inevitavelmente resultar em posterior fadiga mental, com perdas consideráveis na percepção
do trabalhador quanto ao trabalho por ele promovido. A fadiga é interferida por fatores
individuais, não obstante a melhor medida de combate é a intercalação de descansos e pausas
regulares durante a jornada de trabalho.
Mattos (2011), ao mesmo tempo em que considera a relação necessidade nervosa e
fadiga, conjectura a correlação trabalho promovido e tempo de descanso:
Não há uma regra geral sobre a duração e quantidade de pausas
durante a jornada. Tarefas com exigências nervosas e de atenção
apresentam melhores resultados com pausas curtas e frequentes de 2 a
5 min. Outras atividades mais usuais, pausas de 10 min a cada duas
39
horas de trabalho. Para trabalhos pesados recomenda-se pausa igual ao
tempo de atividade, por exemplo, trabalha-se uma hora e descansa-se
uma hora.
Pausas naturais como a de tomar um café, sair para fumar ou ir ao banheiro não devem
ser sempre evitadas, porque podem ser consideradas mecanismos naturais do corpo humano
perante o trabalho.
2.9.3 Estresse
O estresse nasce de certa resposta do corpo à distinção entre constrangimento e
esforço. No qual se procura arredar que o trabalho fique aquém das expectativas, porém se
considera que isso não é possível dentro dos recursos e tempo disponíveis. Desse modo, é
fenômeno subjetivo e tem clara correlação com a compreensão individual que existe quanto às
nossas incapacidades e limites no trabalho.
Assim, o estresse surge e evolui sob certas condições: supervisão e vigilância
constante do trabalho; falta ou ausência de auxílio e reconhecimento de supervisores; atenção
elevada exigida; o ambiente físico; o nível de complexidade das tarefas etc.
2.10 TRABALHO EM TURNOS E NOTURNO
Existem determinadas empresas as quais, com o escopo de ampliar os lucros perante
investimentos ou por conta do fato de serem indústrias que não podem ser paralisadas devido
a sua relevância social atribuída, necessitam de trabalhadores que operem em regime de
trabalho em turnos ou noturno.
Assim, tal percepção é bem ressaltada por Mattos (2011):
Apesar de não ser o ideal, o trabalho é uma realidade na economia
moderna. Algumas indústrias não podem ser paralisadas sem
comprometer o bem-estar da sociedade (uma usina elétrica, por
exemplo) e outras não param por questões econômicas, para amortizar
os altos investimentos (uma empresa de processamento de dados,
por exemplo.
O trabalho noturno é considerado como qualquer trabalho realizado entre às
22h00min às 05h00min, diferente da hora diurna, a hora do trabalho noturno dura 52 minutos
40
e 30 segundos, observando que o trabalhador não tenha menos de 25 anos nem mais de 50
anos.
Mesmo assim, o trabalhador noturno pode demorar a se acostumar com o trabalho
noturno, pois é complicado para o nosso corpo se acostumar a trabalhar no ciclo de sono
diurno e, isso pode levar a uma queda de qualidade no trabalho, além do maior número de
acidentes e da ampliação da gravidade destes.
As consequências ao trabalhador acometido ao trabalho noturno e em turno são
variadas, sendo algumas delas: pouca duração e alteração no sono, distúrbios alimentares,
irritabilidade, baixa qualidade de sono, queda no desempenho, falta de concentração,
acidentes, interferência no nível social do trabalhador, dores de cabeça, estresse e, nos piores
casos, pode vir a causar câncer ou depressão. Ademais, é considerável o consumo maior de
substâncias estimulantes como café e cigarros, álcool e soporíferos.
O consumo dessas substâncias em excesso pode ocasionar aceleração do ciclo cardíaco
e maior consumo de oxigênio pelo organismo. No estrato social, tais horários podem
desencadear incompatibilidade de horário. Esses trabalhadores acabam angariando menor
vida social e menor relação com membros da família e amigos.
A tentativa de aplicar turnos alternados entre trabalho diurno e noturno pode mitigar
tal incompatibilidade, e, consequentemente, otimizar a vivência social o trabalhador e sua
resultante maior eficiência e produtividade, decorrente da maior satisfação referente ao seu
trabalho.
Portanto, a aprendizagem de alguns métodos pode ajudar a diminuir isso, sendo os
principais deles: Ritmo circadiano, o mecanismo que adapta o relógio biológico, realização de
trabalhos mais dinâmicos no período noturno, evitar trabalhos que exigem alta concentração;
além destes o uso de intervalos, os quais podem ter o seu tempo variado de acordo com o
tempo que o trabalhador irá passar na atividade noturna, por exemplo, em uma jornada de
trabalho entre 4 a 6 horas, haverá um intervalo de 15 minutos; o uso de turnos entre
trabalhadores, sendo preferível o uso de turnos curtos, pausa para refeição, dias para fim de
semana e rotações em sentido horário.
O trabalhador também deverá ser pago pela hora noturna, com um aumento de 20% do
valor da hora diurna do empregado (exceto se a hora for feita a partir de um acordo benéfico,
convenção coletiva ou sentença normativa) e, também poderá ser pago pelas horas extras, os
quais se juntam ao salário do trabalhador.
No caso do trabalho em turnos: trabalhar por turnos significa trabalhar sempre nos
mesmos horários todos os dias, podendo eles serem rotativos, mas nele o trabalhador ainda
41
terá é claro que trabalhar uma determinada quantidade de horas por semana ou mês. Um turno
tem o limite máximo de 8 horas por dia e 40 horas semanais.
Enquanto que, para os turnos noturnos há um acréscimo salarial de 25%, o acréscimo
por trabalhar todos os sete dias da semana é de 22% a 25% do salário. Já se os turnos forem
de segunda a sexta o acréscimo é de 15% a 20%. Outrossim, se se trabalhar seis dias seguidos
depois de seis dias de trabalho o trabalhador em questão terá o direito a um dia de descanso.
Quando se analisam turnos, precisa-se ponderar também a duração de intervalos para
almoço que duram, segundo a última decisão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)
embasada na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), no máximo 60 minutos.
Além disso, acaba sendo necessário ter-se em mente que a alteração do Ciclo
Circadiano, ou seja, o ciclo de sono, necessita de 4 a 5 dias para se acostumar com o regime
de trabalho noturno. Sendo desinteressante e não peremptório na adaptação um regime
semanal baseado no rodízio, o que dificulta essa adaptação. Podendo-se considerar turnos de 2
a 3 semanas. Então, deve-se considerar que certos indivíduos acabam sendo propensos a se
adaptar com maior facilidade ao horário noturno de trabalho.
Ademais, o trabalho não pode ser monótono e repetitivo já que isso apenas alarga o
sono e a fadiga do trabalhador que já está exposto a trabalho atípico. Porquanto, uma
adaptação do organismo ao horário noturno é possibilitada quando esse trabalho envolve
atividades com elevada movimentação corporal.
Apesar disso, deve-se arredar e evitar os trabalhos que exijam alta aptidão e esforço
físico, isto é, o constrangimento durante a fomentação do trabalho precisa ser menor. Desse
modo, ao se usufruir de trabalho noturno nas empresas é necessário analisar as respectivas
questões:
a) Alteração do Ritmo Circadiano;
b) Discrepâncias físicas e psicológicas entre os indivíduos;
c) Saúde do trabalhador;
d) Consequências sociais;
e) Tipo de atividade realizada.
Portanto, o trabalho noturno é um tema complicado na ergonomia, uma vez que de
certa maneira esse não deveria existir. Contudo, socialmente ele possui elevada relevância e
cardinalidade. O que se revela obrigatório, então, é que as empresas busquem formas de
tornar o trabalho, tanto noturno quanto em turnos, menos danoso ao trabalhador e que esse lhe
seja fruto de satisfação e bem-estar, dentro do possível.
42
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada vez mais, mostrou-se e prezou-se pela Ergonomia na execução deste
trabalho acadêmico. Desse modo, a relevância da Ergonomia foi provada por meio de uma
gama de pesquisas qualitativas e quantitativas. Assim, é possível considerar que a Ergonomia
tem indubitável relevância.
Ademais, foi possível demonstrar facilmente tal relevância com o maior
substrato teórico disponível. Portanto, todos os objetivos apontados foram alcançados de
forma satisfatória. Não só isso, mas a metodologia citada foi essencial e suficiente para a
concretização e consubstanciação dos objetivos propostos.
Por isso, é claro que a Ergonomia vem cada vez mais sendo implementada nas
empresas - sendo que ela é uma disciplina vasta e de múltiplas abordagens. A abrangência da
pesquisa de referencial teórico propiciou também ampla compreensão do desenvolvimento
desta nova disciplina científica.
Por fim, perfaz-se convenientemente este trabalho com a seguinte frase, e que reforça
os princípios norteadores da pesquisa:
Diante de um novo cenário empresarial e com a globalização tem sido
evidente a mudança de paradigmas no ambiente empresarial em busca
de melhores condições e desempenhos em termos de qualidade e
produtividade. Nesse contexto, as boas condições de trabalho vêm
sendo gradualmente reconhecidas como de grande importância para que
as organizações cumpram suas metas, prazo e demandas do mercado de
trabalho (FREITAS, 2014).
43
REFERÊNCIAS
ANÁLISE ergonômica do trabalho e o reconhecimento científico do conhecimento
gerado. Maringá: [s.n.], 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/prod/v20n4/AOP_200902028.pdf>. Acesso em: 05 maio 2018.
A importância da ergonomia dentro do ambiente de produção. Viçosa: SAEPRO, 2014.
Disponível em: <http://www.saepro.ufv.br/wp-content/uploads/2014.5.pdf>. Acesso em: 15
jun. 2018.
BELTRAMI, Monica ; STUMM, Silvana. Higiene no Trabalho. Curitiba: Rede Etec, 2013.
192 p. Disponível em: <http://ead.ifap.edu.br/netsys/public/livros/LIVROS
%20SEGURANÇA%20DO%20TRABALHO/Módulo%20III/17%20Higiene%20no
%20Trabalho/Livro_Higiene%20no%20Trabalho.pdf>. Acesso em: 05 maio 2018.
DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard . Ergonomia Prática. 2. ed. [S.l.]: Editora Edgard
Blücher, 2004. 152 p.
ERGONOMIA da Atividade aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho: lugar,
importância e contribuição da Análise Ergonômica do Trabalho (AET). São Paulo:
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbso/v40n131/0303-7657-rbso-40-131-18.pdf>. Acesso em: 05
maio 2018.
FALZON, Pierre (Ed.). Ergonomia. São Paulo: Blucher, 2007. 640 p. ISBN 9788521204121
(enc.).
FRANCESCHI, Alessandro de . Ergonomia. Santa Maria: Colégio Técnico Industrial de
Santa Maria, 2013. 115 p. Disponível em:
<http://estudio01.proj.ufsm.br/cadernos_seguranca/quinta_etapa/ergonomia.pdf>. Acesso em:
04 maio 2018.
JORNADA noturna. Porto Alegre: Direito e Justiça, 2015. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fadir/article/viewFile/19961/12661>. Acesso
em: 15 maio 2018.
LIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1990. 465
p.
MATTOS, Ubijara Aluizio de Oliveira et al. (Org.). Higiene e Segurança do Trabalho . Rio
de Janeiro: Elsevier, 2011. 419 p.
ROCHA, Geraldo Celso . Trabalho, Saúde e Ergonomia: Relação entre Aspectos Legais e
Médicos. Curitiba: Juruá Editora, 2004. 151 p.
VIDAL, Mario Cesar. INTRODUÇÃO À ERGONOMIA. Rio de Janeiro: Fundação
Coppetec, [2010]. 35 p.

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Conceitos essenciais da Ergonomia

  • 1. JOÃO PEDRO GAVA RIBEIRO ERGONOMIA: CONCEITOS ESSENCIAIS REFERENTES À DISCIPLINA CURITIBA 2018 LISTA DE ILUSTRAÇÕES
  • 2. FIGURA 1 - DIAGRAMA DE VENN DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ERGONOMIA....15 FIGURA 2 – PIRÂMIDE DA HIERARQUIA DAS NECESSIDADES DE MASLOW.........16 FIGURA 3 – DIVISÕES DA ERGONOMIA...........................................................................16 FIGURA 4 – PIRÂMIDE DOS BONS HÁBITOS...................................................................17 FIGURA 5 – POSTURAS INADEQUADAS NOS POSTOS DE TRABALHO....................34 Quadro 1 - Fatores estruturantes das representações de bem-estar e mal-estar no trabalho ................................................................................................Error: Reference source not found
  • 3. LISTA DE ABREVIATURAS ACGIH - American Conference of Government Industrial Hygienists CLT - Consolidação das Leis do Trabalho DORT - Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho EAA_QVT - Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho HFE - Human Factors Engineering IA_QVT - Inventário de Avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho IEA - International Ergonomics Association LER - Lesões por Esforço Repetitivo MTE - Ministério do Trabalho e Emprego NBR - Norma Brasileira Regulamentadora NR - Norma Regulamentadora QVT - Qualidade de Vida no Trabalho
  • 4. RESUMO O presente estudo tem como objetivo analisar as condições atuais da Ergonomia, seja ela uma ciência ou uma prática a ser integrada à cultura organizacional. Assim, analisa-se sobre a ótica ergonômica todos os principais aspectos correlacionados à dinâmica das empresas no que se refere às competências da Higiene Ocupacional. Com a ascensão do conceito de civilização moderna e o início da Primeira Revolução Industrial, a ergonomia começou a ser plenamente negligenciada. Nesse ínterim, os indivíduos subjugaram a Ergonomia dentro das práticas de Higiene Ocupacional. Foi tão somente na pós-Segunda Guerra Mundial que nasceu uma abordagem científica a tal disciplina. A metodologia de pesquisa empregada foi uma pesquisa de revisão bibliográfica com referencial teórico. Então, serão abordadas questões fulcrais no desenvolvimento do pensamento ergonômico como: conceitos essenciais da ergonomia, sua história, disciplinas associadas, as moléstias que surgem de inadequações aos princípios ergonômicos, entre outras. Desse modo, o estudo buscará aprimorar as técnicas ergonômicas, com novas informações e visões acerca do tema; sintetizando dados fundamentais que se adequem ao cotidiano do ergonomista. Conclui-se que tal trabalho será mais uma contribuição científica a uma ciência nova a qual é a ergonomia, com uma interface que se distingue de outros trabalhos sobre a temática no que tange à simplicidade na linguagem, todavia ausentando-se a carestia de rigor científico. Palavras-chave: Ergonomia. Higiene Ocupacional. Conceitos Essenciais. Técnicas.
  • 5. ABSTRACT The present study has the purpose to analyze the Human Factors' actual conditions, be it one science or one practice to be integrated with the organizational culture. Therefore, it’s analyzed by the ergonomics’ optics the main aspects regarded with the companies’ dynamics regarding the functions of Occupational Hygiene. With the rise of the concept of modern civilization and the beginning of the First Industrial Revolution, the Humans Factors have started to be definitely neglected. In this meantime, the individuals subjugated the Ergonomic inside the Occupational Hygiene’s practices. It was so only in post Second War that was born one scientific approach to this discipline. The methodology used is one bibliographical review research with theoretical reference. Then key issues in ergonomic thinking will be addressed, for example: essencial concepts, its history, associated disciplines, the diseases that arise from inadequacies in ergonomic thinking and others. In this way, the study will look for the improvement of ergonomics’ techniques, with new information and visions about the topic; synthesizing key data that apply to the routine of the ergonomist. It’s concluded the present work is another scientific contribution for one new science which is the Human Factors, with one interface which distinguishes itself from other works about the thematic about the language’s simplicity, however abstaining from the hardship of scientific rigor. Key words: Human Factors. Occupational Hygiene. Essencial Concepts. Techniques. SUMÁRIO
  • 6. 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................10 2 DESENVOLVIMENTO.........................................................................................................11 2.1 PRECEITUAÇÕES E CONCEPÇÕES DE ERGONOMIA..............................................11 2.2 HISTÓRIA DA ERGONOMIA..........................................................................................17 2.3 DISCIPLINAS ASSOCIADAS..........................................................................................18 2.4 RELAÇÃO ENTRE HIGIENE OCUPACIONAL E ERGONOMIA................................20 2.5 A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET)..................................................21 2.6 ANÁLISE DA NORMA REGULAMENTADORA 17 (NR 17).......................................27 2.7 O LEVANTAMENTO E TRANSPORTE DE CARGAS..................................................29 2.8 Doenças associadas à Ergonomia.......................................................................................34 2.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE Estresse, MONOTONIA E FADIGA.................................36 2.10 TRABALHO EM TURNOS E NOTURNO.....................................................................39 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................42
  • 7. 10 1 INTRODUÇÃO A questão central inerente à produção desse texto é: Pode-se abordar a Ergonomia com uma linguagem apropriada e com pleno rigor científico? A resposta é sim, afinal a busca por uma linguagem simples, sem rebuscamentos e métodos quantitativos com o escopo de facilitar a compreensão acerca dos principais aspectos da Ergonomia foi o objetivo central dessa pesquisa. Então, para a consecução do objetivo de explanar a Ergonomia com a máxima da simplicidade e coerência usou-se uma revisão bibliográfica de referencial teórico. Ao mesmo tempo, procurou-se um epítome com legitimidade, usando e analisando os temas sem faltar citações, considerações necessárias e assertivas, argumentos e entre outros métodos de caráter científico. Notoriamente, para solucionar a problemática da simplicidade da linguagem gozou-se de sólido referencial teórico para embasar todas as afirmações e considerações acerca de cada um dos temas em questão. Agora, no que se discorre da Ergonomia, ela nasceu com um objetivo fixado: o de permitir uma melhor adaptação da máquina ao homem, no entanto sem oferecer gargalos e descompassos na produtividade. Os princípios ergonômicos deveriam ser a base para o projeto e produção de layout de qualquer empresa. Deixar o ergonomista desocupado em uma hora dessas é um equívoco que pode de certa forma adulçorar a produtividade e consequentemente, arredar a lucratividade no longo prazo. Assim, revela-se a importância e a necessidade da Ergonomia, a qual vem evoluindo em coaduno com a evolução tecnológica, uma vez que essa surge já na pós-Segunda Guerra Mundial para arredar causas trabalhistas e propiciar maior qualidade de vida ao trabalhador. Nesse caldo, a Ergonomia floresceu e tende a se tornar cada vez mais relevante. Porquanto, sua tendência de crescimento é evidente, pois cada vez mais discutir a tecnologia e torná-la adaptável ao homem é assunto atual. Desse modo, no primeiro capítulo aborda-se os principais conceitos da Ergonomia, sua História, disciplinas integrantes e sua relação com a Higiene Ocupacional. Já no segundo capítulo, trata-se da Análise Ergonômica do Trabalho, dos seus procedimentos científicos e dos passos para uma intervenção ergonômica. Já no terceiro capítulo analisa-se as partes essenciais na Norma Regulamentadora 17. No quarto capítulo analisou-se o levantamento e transporte de cargas. Então, enquanto o quinto capítulo considerou doenças físicas, o sexto capítulo considerou as doenças psicológicas correlacionadas às práticas não ergonômicas. Por último, no sexto capítulo analisou-se tópicos do trabalho em turnos e noturno e seus males.
  • 8. 11 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 PRECEITUAÇÕES E CONCEPÇÕES DE ERGONOMIA A ergonomia é, de certa maneira, uma ciência bastante nova em comparação a outras integrantes da Higiene Ocupacional. Seu desenvolvimento só foi fomentado a partir da pós- Segunda Guerra Mundial, sendo que recatos referentes a outros riscos ocupacionais já eram observados desde 1745 quando o visionário da medicina ocupacional, Bernardino Ramazzini, redigiu seu livro De Morbis Artificum Diatriba (“Doença dos Trabalhadores”), onde percebia anomalias relacionadas à poeira, vibrações, metais, produtos químicos e entre outras categorias de substâncias quando estas entravam em contato com os trabalhadores. Em coadunação aos riscos físicos, químicos, biológicos e acidentes de trabalho constitui o conjunto singular dos riscos ocupacionais. A ergonomia provém, na etimologia do vocábulo, das palavras gregas ergon, que significa “trabalho”, e nomos, que significa “leis ou normas”. Assim, poder-se-ia preceituar a ergonomia como sendo um conjunto de leis e normas que regem o trabalho em qualquer uma de suas espécies. Tal seria uma definição limitada de ergonomia, uma vez que a ergonomia se restringe a meras normas as quais servem para qualificar a forma que ocorre o trabalho ou como o mesmo deveria ocorrer. Tal definição é inadequada pelas seguintes razões: a) Esquece-se que o foco central da ergonomia é a análise da relação homem-máquina e todas as especificidades desta relação; b) Desconsidera o caráter essencialmente prático e científico da ergonomia, centrando-se em seu aspecto jurídico e normativo; c) Simplista na medida em que subjuga funções, objetivos e práticas da ergonomia em meras formalidades profissionais. Portanto, tal definição não é satisfatória para definir um conceito tão abrangente semanticamente como a ergonomia. Assim, uma abordagem mais abarcativa foi proposta pela Societé d’ergonomie de langue française na década de 1970, sendo a respectiva: A ergonomia pode ser definida como a adaptação do trabalho ao homem ou, mais precisamente, como a aplicação de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para conceber ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia (FALZON, 2007).
  • 9. 12 Nessa definição percebe-se evidente ressalto à expressão “adaptação do trabalho ao homem”. Assim, em outras palavras, ergonomia seria um conjunto de esforço de cunho científico no sentido de melhor adaptar o trabalho ao homem, ou seja, permitir com que o homem possa realizar seu trabalho da forma mais eficiente e segura possível por intermédio de máquinas. Tal ênfase foi inspirada no título da obra de Faverge, Leplat e Guiguet, L’Adaptation de la machine à l’homme (1958). Seu posicionamento concernente ao intuito da ergonomia era diametralmente oposto da obra de Bonnardel, publicada no ano de 1947, L’Adaptation de l’homme à son métier – o qual defendia uma adequação humana ao desenvolvimento tecnológico e às máquinas (pregada principalmente pelos defensores da seleção profissional). Outra possível definição para a ergonomia é promovida pelo enfoque da relação homem-máquina e todas as facetas dessa relação: A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. O trabalho aqui tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas aquelas máquinas e equipamentos utilizados para transformar os materiais, mas também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e o seu trabalho (LIDA, 1990). Esta definição é a que privilegia a perspectiva de Leplat e Guiguet, uma vez que reconhece a necessidade da máquina se adaptar ao trabalho realizado pelo homem. O mesmo é possível de se pontuar no caso acerca da definição da Societé d’ergonomie de langue française, própria da década de 1970. Consoante a Mattos, a ergonomia tem um objetivo correlacionado à adaptação do trabalho ao homem, e não o contrário como é visto em determinadas conjunturas no trabalho. No presente momento, a definição mais aceita para o preceito de ergonomia é a proposta pela International Ergonomics Association (IEA), adotada no ano de 2000: “A ergonomia (ou Human Factors) é a disciplina científica que visa a compreensão fundamental das interações entre os seres humanos e outros componentes de um sistema, e a profissão que aplica princípios teóricos, dados e métodos com o objetivo de otimizar o bem-estar das pessoas e o desempenho global dos sistemas” (IEA apud FALZON, 2007). Aqui se reforça a tríade básica da ergonomia, ou seja, três princípios orientadores da disciplina da ergonomia: conforto, eficiência e segurança. Tal tríade encontra-se representada pela Figura 1.
  • 10. 13 Segundo Lida (1990), para a consecução dos objetivos da disciplina, ela estuda certos aspectos comportamentais humanos quando na presença do trabalho e alguns demais fatores como, por traslado: a) o homem – aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos e sociais que envolvem o trabalhador e seu organismo; interferência da sexualidade, idade, treinamento e motivação nos postos de trabalho; b) a máquina – ajudas e apoios materiais e instrumentais os quais os homens utilizam na realização de seus trabalhos, inserindo-se equipamentos, ferramentas, mobiliários, estruturas e instalações; c) o ambiente – analisa as idiossincrasias do ambiente físico que cingem o homem durante o trabalho, incluindo os riscos físicos, químicos e biológicos; d) a organização do trabalho – a confluência de elementos já citados no sistema produtivo, entendendo como passível de análise os horários, turnos de trabalho e a constituição das equipes de trabalho. Esses elementos são de extrema relevância quando se analisam fatores de influência nos riscos ergonômicos. Quanto aos princípios norteadores da ergonomia pondera-se, quanto à tríade da ergonomia, que: Os objetivos práticos da ergonomia são a segurança, satisfação e o bem-estar dos trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos. A eficiência virá como resultado. Em geral, não se aceita colocar a eficiência como sendo o objetivo principal da ergonomia, porque ela, isoladamente, poderia significar sacrifício e sofrimento dos trabalhadores e isso é inaceitável, porque a ergonomia visa, em primeiro lugar, o bem-estar do trabalhador (LIDA, 1990). A definição da IEA abrange três divisões fulcrais da ergonomia: a) A ergonomia física: trata de características anatômicas, fisiológicas, biomecânicas e antropométricas mediante a relação homem e atividade física desempenhada no trabalho. Alguns temas que compõem a área de atuação da ergonomia física são: posturas de trabalho, doenças ósseo-musculares correlatas ao trabalho, os movimentos de extensa repetição e a segurança física do trabalhador perante a máquina; b) A ergonomia cognitiva: trata das dinâmicas de caráter mental, como por traslado, a memória; o raciocínio; a percepção; e a resposta psicológica e orgânica a estímulos exteriores. Essas dinâmicas têm uma correlação com as interações entre as pessoas e outros componentes de um sistema de trabalho. Alguns temas que competem à área de atuação da ergonomia
  • 11. 14 cognitiva são: carga mental, a interação mentalizada entre homem e máquina, a confiabilidade humana nos processos produtivos e organizacionais, o estresse ocupacional e as moléstias psicológicas perante o relacionamento homem-máquina; c) A ergonomia organizacional: trata da otimização dos sistemas sociais e hierárquicos imanentes a uma estrutura organizacional, com suas regras e princípios estabelecidos. Os temas que competem à área de atuação da ergonomia organizacional são: a comunicação, a percepção dos processos de trabalho, os horários de trabalho, o trabalho em equipe, o trabalho cooperativo, a cultura organizacional e a gestão de qualidade do produto. Tais divisões estão dispostas na Figura 3. A ergonomia organizacional não entrará em veementes discussões e elucidações, até porque se acredita que a mesma não é nosso foco de pesquisa, contudo se considera essencial analisar a Pirâmide de Maslow e como a sua real aplicação no contexto da ergonomia é capaz de ampliar lucros e a produtividade de uma empresa. A Figura 4 demonstra também alguns princípios que devem ser seguidos por qualquer adaptação ergonômica ou para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador. A pirâmide de Maslow é uma divisão hierárquica proposta por Abraham Maslow para explicar que certas necessidades humanas são, numa escala gráfica, superiores a outras. Assim, as necessidades inferiores da pirâmide são as básicas para a sobrevivência humana; sendo que o grau de relevância dessas necessidades vai decrescendo de acordo com o quanto se sobe na pirâmide. A Pirâmide de Maslow está representada pela Figura 2. Dessarte, uma empresa é capaz de interferir, mais diretamente que nas outras hierarquias, no que tange há três dessas: a segurança [profissional e ocupacional]; a estima (respeito no ambiente de trabalho); e a “realização” [profissional]. As empresas devem, portanto, dar condições de seus empregados ascenderem na Pirâmide de Maslow, seja por meio da oferta de segurança do trabalho com baixos índices de acidentes de trabalho e por segurança financeira (segurança); ou pela defesa de princípios e controle acerca do assunto dentro do local de trabalho, arredando, por conseguinte práticas de assédio moral, assédio sexual e/ou correspondentes (estima); e por meio de práticas que propiciem ampliação de boa conjuntura cognitiva e física do trabalhador para a prática do trabalho (“realização” profissional). Por fim, existe a necessidade de se perceber o tipo de contribuição que a ergonomia pode fomentar nos mais diversos planos e postos de trabalho. Assim, têm-se as seguintes contribuições ergonômicas: a) Ergonomia de concepção – se dá quando a contribuição se faz no prenúncio do projeto do produto ou dos sistemas produtivos; sendo a prática mais desejável no âmbito da prevenção
  • 12. 15 dos riscos ergonômicos, podendo-se aplicar providências para arredar a incidência de doenças e mazelas aos trabalhadores desde o início da identificação de riscos. Contudo, exigem-se conhecimentos e experiência sólidos por parte de quem projeta esses sistemas. Nele o custo é relativamente reduzido em longo prazo, visto que se evitam acidentes de trabalho e, consequentemente, despesas com indenizações e a reformulação do ambiente de trabalho e sistemas produtivos; b) Ergonomia de correção – sua ocorrência é real, e menos hipotética como é o caso da Ergonomia de concepção; porque os sistemas produtivos já estão formados e operantes. Todavia, deve ser eventual, pois envolve consideráveis gastos em curto prazo, como é o caso da reposição de máquinas adequando-as à ergonomia para o trabalhador. Algumas, de certa maneira, acabam envolvendo menores gasto; mas que não configuram situação ideal, como é o caso da mudança de postura, colocação de certos dispositivos de segurança e a elevação da iluminação no ambiente de trabalho; c) Ergonomia de conscientização – se dá quando os problemas não são facilmente solucionáveis, nem na fase da concepção quanto na fase da correção. Percebe-se que ao longo do tempo as máquinas sofrem com as modificações originárias, ora do desgaste natural, ora das mudanças introduzidas pelos serviços da manutenção. Dessa forma, é primordial acentuar o papel dos trabalhadores na localização de problemas nos processos produtivos por meio de cursos de treinamento e reciclagens, permitindo que o trabalhador tenha os atributos para saber como proceder de acordo com o fator de risco encontrado. Figura 1 - Diagrama de Venn dos Princípios Básicos da Ergonomia Fonte: http://www.ergoss.com.br/2015/09/ergonomia-no-trabalho-8-situacoes-a-evitar/
  • 13. 16 Figura 2 – Pirâmide da Hierarquia das Necessidades de Maslow Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow Figura 3 – Divisões da Ergonomia Fonte: http://ergomais.com.br/index.php/blog/ergonomia-fisica-cognitiva-e-organizacional
  • 14. 17 Figura 4 – Pirâmide dos Bons Hábitos Fo nte: https://www.reliza.com.br/blog/2017/piramide-dos-bons-habitos-construa-sua/ 2.2 HISTÓRIA DA ERGONOMIA Os estudos sobre a relação entre o ser humano e o trabalho não tem uma definição específica, visto que ela pode ter se iniciado em tempos diferentes, como o uso da pedra lascada para fazer ferramentas que gerou várias consequências após. A definição pode ser separada em relação à época que está sendo estudada; no século XIX, Wojciech Jarstembowsky deu a primeira definição de Ergonomia, “A ergonomia como
  • 15. 18 uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação”, comentada anos depois por Karwowsky. Outra definição é da ergonomia no período clássico, onde com o avanço da humanidade e de épocas, foram sendo descobertos mais riscos, porventura os riscos ergonômicos aparecendo no século XVIII, e no século XIX a origem da higiene ocupacional. A virada para o século XX trouxe avanços para ergonomia, fisiologistas e engenheiros eram alguns agentes principais da Ergonomia, nessa época surgiu um dos primeiros paradigmas da Ergonomia: o ser humano como um ser que transforma a energia. Esse paradigma durou até a metade do século XX e se consolidou na Inglaterra, no período entre guerras, onde visavam pesquisar sobre a saúde do trabalhador na indústria de guerra. Sendo assim a ergonomia clássica, surgida imediatamente após a segunda guerra, tem sua definição como a relação entre homem e trabalho, equipamento e ambiente tendo a aplicação de algumas ciências para a solução de problemas. A segunda Guerra Mundial uniu grupos de profissionais, como psicólogos e engenheiros para resolver problemas enfrentados por soldados em relação aos equipamentos, mecanismos e veículos de guerra, sendo então, uma forte base para a Ergonomia. Assim, é depois da Segunda Guerra que foi criada uma sociedade da Ergonomia, que, junto trouxe uma corrente ergonômica denominada HFE (Human Factors Engineering). Depois de toda a situação ocorrida na Europa, a Ergonomia passou a ter outro questionamento: como conceber adequadamente os novos postos de trabalho a partir do estudo da situação existente? Então, a Ergonomia passou a ter um novo estudo de condições do trabalho e a adaptar os postos de trabalho. 2.3 DISCIPLINAS ASSOCIADAS A ergonomia tem relação com uma gama de outras ciências que a constitui de forma a produzir novos conhecimentos e diretrizes para o estudo da ergonomia. Assim, temos as seguintes ciências as quais integram a ergonomia: a) Biologia humana; b) Medicina do trabalho; c) Ciências cognitivas; d) Psicologia do trabalho. Cada uma dessas ciências tem alguma contribuição para a ergonomia. Por exemplo, jamais seria possível entender o estresse ocupacional sem se conhecerem as causas do mesmo;
  • 16. 19 função desempenhada pelas ciências cognitivas e psicológicas. Por isso, percebe-se a abrangência da ergonomia quanto a suas “ciências auxiliares”, algo que pode ser explanado pelo fato de a ergonomia ser uma disciplina nova e que usufrui de conhecimentos e ciências mais antigas para delas haurir embasamento técnico e científico. A noção de vizinhança científica é bastante incerta: havendo tanto vizinhos próximos quanto distantes. Na Biologia humana, depreende-se a existência de muitas outras ciências como a Anatomia, Fisiologia e Antropologia física. Algumas das questões abordadas por essa ciência são: a) Ergonomia das posturas de trabalho: relação com estudos sob a tutela da antropometria, nos quais se aplica o dimensionamento dos postos de trabalho com base na média das alturas de um recorte visível do universo de trabalhadores; b) Ergonomia da atividade muscular: busca evitar distúrbios (principalmente osteomusculares) por meio de uma adequação do ambiente e instrumentos com o escopo de tornar a atividade promovida mais adaptada à homeostase do organismo; c) Ergonomia dos ambientes: trata-se do estudo do ambiente e posto de trabalho por meio de diversas perspectivas. Nessa hipótese, permite-se o estabelecimento de limites de tolerância (ou de conforto) para certa variável científica perante o corpo do indivíduo. Contribui para uma concepção e uma adaptação dos locais de trabalho. Já a Medicina do Trabalho também é um arranjo de disciplinas que agregam acerca da precaução às doenças resultantes da prática inadequada ou do posto inadequado de trabalho e quanto aos meios de diagnóstico e análise do problema. Diverge da Biologia humana, já que a Medicina do Trabalho é direcionada às doenças ocupacionais e em como elas se desenvolvem em longo prazo no organismo. Quanto às Ciências cognitivas e a Psicologia do Trabalho, as Ciências Cognitivas podem ser de duas categorias: a psicologia cognitiva e a inteligência artificial. A união conceitual entre a psicologia cognitiva e a ergonomia propiciou a gênese do termo ergonomia cognitiva, emprestando a ergonomia da psicologia cognitiva métodos e modelos. A relação entre ergonomia e a inteligência artificial acabam sendo periódicas e ocorrendo por intercessão da psicologia cognitiva. Uma utilização da inteligência artificial para fins ergonômicos cinge o exemplo dos sistemas especialistas, que desempenham incumbência de dar assistência ao trabalhador. Desse modo, fica vedada a descaracterização da Ergonomia como uma ciência inter- trans-multi-disciplinar – já que ela necessita de uma série de outras ciências para angariar e obter seu caráter científico, que será melhor tratado no capítulo 2.5. Assim, a Ergonomia faz
  • 17. 20 uso de uma série de métodos e técnicas científicas para a consecução de seus objetivos específicos da própria matéria ou de outras matérias, como é o caso da Administração e da Contabilidade, as quais desejam uma maior aquisição de rendimentos, lucros e dividendos. 2.4 RELAÇÃO ENTRE HIGIENE OCUPACIONAL E ERGONOMIA Anterior a uma análise do papel de um ergonomista é fundamental ter-se em mente os quatro pilares da Higiene Ocupacional e uma definição para a mesma. Tal definição permitirá uma melhor intelecção dos conceitos que serão desenvolvidos tanto nessa seção quanto nesse trabalho como um todo. A Higiene Ocupacional, segundo a American Conference of Government Industrial Hygienists (ACGIH), pode ser definida como sendo: A Higiene Ocupacional é a ciência e a arte do reconhecimento, da avaliação e do controle de fatores ou tensões ambientais originados do ou no local de trabalho e que podem causar doenças, prejuízos para a saúde e bem-estar, desconforto e ineficiência significativos entre os trabalhadores ou entre os cidadãos da comunidade. Então, essa definição acaba por comportar a existência de quatro etapas no que diz respeito aos riscos ocupacionais (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes de trabalho): a) Antecipação: é o ato de buscar antecipar/evitar que ocorra um possível acidente de trabalho por intermédio de uma série de instrumentos representados pelo reconhecimento e avaliação; b) Reconhecimento: é o ato de perceber e conceber certo equívoco no modo de operar do posto de trabalho que influencia nos índices de acidentes de trabalhos e doenças ocupacionais; c) Avaliação: consiste na utilização de métodos e procedimentos quantitativos e qualitativos com o intuito de mensurar as chances de certo tipo de risco ocupacional incidir sobre os trabalhadores; d) Controle: significa regular os postos e as relações de trabalho com a finalidade de impedir a reincidência de certo acidente e/ou risco ocupacional. Outras definições e descrições para os conceitos de Reconhecimento, Avaliação e Controle são as respectivas: “Reconhecimento: nesta primeira etapa, realizamos e reconhecimento dos agentes ambientais que afetam a saúde dos trabalhadores. É importante observar que se um agente tóxico não for reconhecido, ele não será avaliado nem controlado. Desta forma, para que esta etapa seja
  • 18. 21 bem-sucedida, devemos ter conhecimento profundo do processo produtivo, ou seja, dos produtos envolvidos no processo, dos métodos de trabalho, do fluxo do processo, do arranjo físico das instalações, do número máximo de trabalhadores expostos, dentre outros fatores relevantes. Avaliação: nesta etapa, realizamos uma avaliação quantitativa e/ou qualitativa dos agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos postos de trabalho. É nesta fase que devemos detectar os contaminantes, fazer a coleta de amostras (quando cabível), realizar medições e análises das intensidades e das concentrações dos agentes, realizar cálculos e interpretações dos dados levantados no campo, comparando os dados de exposição estabelecidos pelas normas vigentes. Controle: com base nos dados obtidos nas etapas anteriores, devemos propor e adotar medidas que visem à eliminação ou minimização do risco presente no ambiente.” (SALIBA apud BELTRAMI, 2013). Todas essas etapas intervêm de alguma maneira no resultado da segurança e conforto de um ambiente de trabalho. De certa forma, já se nota que a ergonomia tem correlação estrita com a Higiene Ocupacional; uma vez que a primeira é subdivisão da segunda. Assim, qualquer risco da Higiene Ocupacional (que não seja a ergonomia) virá a afetar a ergonomia. O efeito mediante a presença de certo risco físico, por exemplo, uma vibração que incida sobre um trabalhador pode depender de onde esta incide e qual era a postura do trabalhador durante a recepção da vibração, matéria da ergonomia. Portanto, a ergonomia não se constrói por si só. 2.5 A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO (AET) A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é o método pelo qual, por meio de artifícios científicos e provenientes de outras ciências, procura-se identificar e quantificar variáveis ergonômicas dentro de certos postos de trabalho e até mesmo concernente à hierarquia de funções imersas em uma empresa. A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), no território brasileiro, é colocada ao lado com os problemas da ciência do trabalho e da saúde do trabalho, sendo que ela constitui a principal fonte de início para a Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (EAA_QVT), a qual também pode ser considerada uma abordagem possível na ergonomia. A EAA_QVT teve seu surgimento a partir de algumas especificidades, as quais levaram a algumas demandas, mais naturais do que únicas, que trouxeram uma dúvida de como a ergonomia poderia interferir e transformar o trabalho. A EAA_QVT procura mudar a
  • 19. 22 concepção de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), podendo ser observado, por exemplo, a quase ausência da “organização do trabalho” no enfoque assistencialista. Essa pode ser segregada em duas dimensões: a primeira visa o bem-estar do trabalhador a partir de normas e outros; e a segunda também busca o bem-estar no trabalho, porém é pela ótica do trabalhador em representações, sendo que as teorias do EAA_QVT se baseiam nessa dimensão. Porquanto, as teorias da Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho não buscam alterar o trabalho, mas sim de estimar o QVT em dois níveis: o macroergonômico, cujo caráter é definido por um diagnóstico que se apresenta em duas variantes, o bem-estar no trabalho e o mal-estar, observando que, mesmo podendo se diferenciar o mal-estar do bom com o nível de felicidade e animação, por exemplo, não existe uma divisão muito clara que diferencie as duas - as duas podem ser avaliadas, além da observação livre, por exemplo, por meio do uso de Inventário de Avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho (IA_QVT). A principal vantagem de se usar o IA_QVT é ter uma demanda que distribua as bases para o diagnóstico microergonômico pelo uso do AET clássico. Uma analogia que pode ser fomentada entre o diagnóstico macroergonômico e o microergonômico é que o macroergonômico revela a ponta do iceberg, enquanto o microergonômico revela a base do iceberg. Essa analogia mostra a importância de ambos os diagnósticos. Apresentado isso, chegamos ao nível microergonômico, o qual tem sua avaliação com base em procedimentos básicos da Análise Ergonômica do Trabalho: análise, observações e entrevistas, tendo como objetivo o de aprofundar a pesquisa ou investigação, buscando descobrir como um determinado ambiente ou posto de trabalho se configura e os riscos preponderantes neste espaço em relação ao trabalho nele executado. Outrossim, é possível citar duas fontes primordiais de mal-estar no trabalho: as tarefas repetitivas e as cobranças excessivas em curtos prazos. Sendo assim, mesmo que o EAA_QVT ainda esteja em construção, ocorrerão mais consertos e mais limites que deverão serão expandidos para o qual há a necessidade de promoção de ajustes teóricos, e o uso de um modelo teórico-metodológico tem que ser entendido para promover a busca do QVT. Dessa forma, existe constância no emprego de métodos e procedimentos analíticos prosaicos no que concerne à AET, a saber: a) Planejamento da coleta de dados; b) Recorte do problema observado; c) Sensibilização dos indivíduos com participação na pesquisa;
  • 20. 23 d) Observação do tipo livre; e) Entrevistas individuais; f) Observação sistemática às situações próprias do trabalho executado; g) Tratamento de dados coletados; h) Criação de relatório final, o qual elenque as principais mudanças e recomendações que precisam ser promovidas e consideradas na tomada de decisão. A análise dos fatores estruturantes das representações de bem-estar e mal-estar no trabalho é fundamental na exegese psicológica dos trabalhadores na AET. Tais fatores estruturantes se encontram dispostos no Quadro 1. Fonte: Elaboração própria, com base em Ferreira (2015). 2.5.1 As atribuições do ergonomista na AET No contexto da ergonomia centrada na atividade, transformar o trabalho é a finalidade primeira da ação ergonômica, e o que o ergonomista deve realizar de forma a contribuir com: a) A concepção de situações de trabalho que não alterem a saúde dos trabalhadores e nas quais estes possam exercer suas competências; Quadro 1 - Fatores estruturantes das representações de bem-estar e mal-estar no trabalho Condições de trabalho Equipamentos arquitetônicos (piso, paredes, teto, portas, janelas, decoração, arranjos físicos, layout); ambiente físico (espaços de trabalho, iluminação, temperatura, ventilação, acústica); instrumental (ferramentas, máquinas, aparelhos, dispositivos informacionais, documentação, postos de trabalho, mobiliário complementar); matéria- prima (materiais, bases informacionais); suporte organizacional (informações, suprimentos, tecnologias, políticas de remuneração, de capacitação e de benefícios). Organização do trabalho Missão, objetivo e metas organizacionais (qualidade e quantidade, parametragens); divisão do trabalho (hierárquica, técnica, social); processo de trabalho (ciclos, etapas, ritmos, tipos de pressão); padrão de conduta (conhecimento, atitudes, habilidades previstas, higiene, trajes/vestimentas); trabalho prescrito (planejamento tarefas, natureza e conteúdo das tarefas, regras formais e informais, procedimentos técnicos, prazos); tempo de trabalho (jornada, duração, turnos, pausas, férias, flexibilidade); gestão do trabalho (controles, supervisão, fiscalização, disciplina, relação entre o constrangimento e o esforço promovido pelo trabalhador). Relações socioprofissionais Relações hierárquicas (chefia imediata, chefias superiores); relação inter-pares (colegas de trabalho, membros de equipes); relações externas (cidadãos-usuários dos serviços públicos, clientes e parceiros de canal, fornecedores de produtos e serviços, auditores, fiscais). Reconhecimento e crescimento profissional Reconhecimento (do trabalho realizado, do empenho, da dedicação, da hierarquia com chefia imediata e superiores, da instituição, dos cidadãos-usuários, da sociedade); crescimento profissional (uso da criatividade, desenvolvimento de competências, capacitações, oportunidades, incentivos, qualificação do trabalho, equidade, plano de carreira). Elo Trabalho e Vida Social Sentido do trabalho (prazer, bem-estar, valorização do tempo vivenciado na organização, sentimento de utilidade social, produtividade saudável); importância da instituição empregadora (significados pessoal, profissional, familiar e social); vida social (relação trabalho-casa, relação trabalho-família, relação trabalho-amigos).
  • 21. 24 b) Os objetivos econômicos determinados pela empresa, em função dos investimentos realizados ou futuros. Hubault (2004) afirma que os objetivos e escopos da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e as áreas passíveis de análise pela ergonomia são: A ergonomia tem a missão de aprofundar a compreensão da relação entre o que o homem vive no trabalho e pelo seu trabalho, o que ele faz com o que a empresa compreende disso, o que ela faz disto, ainda mais o que ela espera disto, o que ela quer fazer disto. Com isso o ergonomista interessa-se pela reação do homem e da empresa, do homem e da técnica, do homem e seu ambiente, enfim de cada nível que se pode conceber uma interface entre esses termos. A busca desses dois objetivos origina a AET, cujo método busca resolver os problemas da inadequação do trabalho às características humanas geradas por: a) Projetos de sistemas de produção, de processos, da organização do trabalho e das tarefas que foram feitas; b) Situações de adaptação, transformação ou concepção de sistemas de produção em que houve predominância dos aspectos financeiros, técnicos ou organizacionais que não favoreceram a reflexão sobre o lugar incontornável do homem no sistema de produção. Além disso, nessa apresentação da análise ergonômica do trabalho, percebe-se que sua compreensão é um meio que permite: a) Conhecer melhor e explicar melhor as relações entre as condições de realização da produção e a saúde dos trabalhadores; b) Propor pistas de reflexão úteis para a concepção das situações de trabalho; c) Melhorar a organização dos sistemas sociais e técnicos, a gestão dos recursos humanos e, em consequência, o desempenho da empresa em seu todo. Assim, a ergonomia não é só análise da atividade, bem como a análise da atividade pode ser utilizada em outros domínios que não o do trabalho. Contudo, a partir das discussões apresentadas, é possível levantar os seguintes aspectos-chave sobre o método da ergonomia da atividade: a) Ela se desenvolve da ação; b) Os atores são todos os que participam do processo de interação homem-máquina, inclusive o pesquisador/ergonomista; c) A interação entre os atores gera um aumento do conhecimento ou o nível de consciência da atividade, que será fator chave para a transformação da situação do trabalho;
  • 22. 25 d) É um método cíclico que se retroalimenta a partir do conhecimento ou aumento da consciência gerada dentro dessa análise; e) O trabalho deve ser realizado tendo a análise ergonômica do trabalho como ferramenta principal para a geração dos dados brutos. 2.5.2 Procedimentos científicos da AET Durante o processo de reconhecimento científico da AET, algumas questões epistemológicas foram colocadas em pauta. Desse modo, a reflexão epistemológica tem por objeto as provas às quais devem se submeter às pesquisas, as teorias e os modelos que queiram merecer o adjetivo “científico”. Nesse contexto, é de fundamental relevância a inserção de preceitos científicos para a Ergonomia. Segundo Daniellou, citado por Pizo, para alguns pesquisadores da área, a ergonomia continuará um “projeto”, uma “arte”, uma “tecnologia” que utiliza conhecimentos produzidos por outras disciplinas; para outros, a ergonomia pode produzir conhecimentos sobre a atividade de trabalho ou sobre a atividade do ergonomista, a qual lhe pertence exclusivamente, e que nada impede esse conhecimento de ganhar um dia dignidade de “científico” e certa independência perante outras disciplinas. Para dar base a essas constatações, o autor abre discussões sobre os seguintes aspectos: a) A consciência das bifurcações: o ergonomista é solicitado por um conjunto de teorias e modelos científicos que abrange localmente os fenômenos com os quais ele se defronta. Esses modelos não se encaixam de modo cômodo para constituir um corpo de conhecimentos para a ação, e em certas zonas de realidade eles se contradizem e em outras estão ausentes. Assim, a emergência de conceitos que alimentam a reflexão cotidiana do ergonomista é resultado de um conjunto de manobras, de “bifurcações”. Essa condição gera uma justaposição de conceitos que dificulta a formação de um acordo do que significa produzir conhecimentos científicos em ergonomia; b) A relação entre ergonomia e os conhecimentos científicos: há um acordo patente de que a ergonomia utiliza conhecimentos oriundos da fisiologia, psicologia e outras áreas de conhecimento. Também há certa concordância de que a utilização não é uma simples aplicação desses conhecimentos, sendo que a ergonomia leva a transformá-los pelo seu caráter integrador. Por esse fato, a ergonomia é reconhecida por levar as outras disciplinas a produzir conhecimentos em zonas em que a prática as revela duvidosa;
  • 23. 26 c) A relação homem e o trabalho: a questão dos critérios da ergonomia está relacionada a uma discussão dos paradigmas à luz dos quais se estuda o trabalho. A ergonomia classicamente leva em conta um duplo critério – o da saúde dos trabalhadores e o da eficácia econômica – sobre o qual exige a construção de compromissos que são influenciados por diversos fatores externos. Além disso, tem-se o enigma das relações entre tarefa e atividade, o trabalho prescrito e o trabalho real, os limites da adaptação humana, os modelos do homem e suas dimensões, os modelos da sociedade e da mudança social; d) A questão dos comportamentos à ação: a referência aos termos “comportamentos” ou “condutas” do homem no trabalho e a influência que essa perspectiva gera no desenvolvimento da ação. As questões das racionalidades que levam o ergonomista a descrever-se como ator da transformação das situações de trabalho, abrindo um espaço para discutir como ocorrem as modalidades da ação do ergonomista. O autor também destaca a distinção entre a análise da atividade e a análise ergonômica do trabalho. Um ponto em comum: ambas produzem conhecimentos a partir da elaboração de um modelo e da verificação de sua validade. Pontua-se que a análise da atividade tenderá a perceber a atividade realizada pelo trabalhador, enquanto que a análise ergonômica verá como a atividade interfere na saúde do trabalhador e como essa atividade influirá positiva ou negativamente na interação homem-máquina. 2.5.3 Passos para uma intervenção ergonômica Todo o momento que a interação entre o homem e máquina se vê debilitada, seja em face do aspecto físico ou psicológico, necessita-se duma intervenção ergonômica. Dessa forma, é papel da AET determinar o espaço, os limites e a intensidade da intervenção. Referenciando Couto, comentado por Rocha (2004), acredita-se que tais são passos necessários para a intervenção ergonômica, seja em fenômenos organizacionais quanto fenômenos produtivos: a) Passo primeiro: consiste na adequação e transmutação das condições básicas de trabalho, com conforto praticamente inexistente, dentro dos postos de trabalho; b) Passo segundo: promovem-se melhorias nas condições ambientais do trabalho, com a promoção de conforto luminoso, acústico e térmico; c) Passo terceiro: consiste no aperfeiçoamento dos métodos de trabalho, fazendo-se análise biomecânica para identificar desvios nesse quesito inerentes ao ambiente e os postos de trabalho;
  • 24. 27 d) Passo quarto: mudanças nos sistemas de trabalho, buscando facilitar relações hierárquicas e organizacionais que acabam se tornando óbices e empecilhos para os fins ergonômicos possuídos pela empresa; e) Passo quinto: normalização de todas as outras situações que acabam tendo impacto ergonômico sobre o trabalhador, seja físico ou mental. 2.6 ANÁLISE DA NORMA REGULAMENTADORA 17 (NR 17) A NR 17 é uma das únicas normas técnicas acerca da ergonomia no Brasil, ocupando em conjunto com a NBR 1001 o papel de dispositivo legal sobre a ergonomia no país. Tal NR 17 é composta por dois anexos: Anexo 1 e Anexo 2. Seu Anexo 1 e seu Anexo 2 têm como foco, respectivamente, o caso da ergonomia de caixas de supermercado e de atendentes de telemarkting. Então, leremos algumas partes essenciais da NR17 com suas devidas indicações ao longo do texto. Os objetivos legais da NR 17, de um modo geral, são fixados em 17.1: 17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Já em 17.1.1, temos a caracterização de quais condições de trabalho que a norma regulamentaria: 17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. Já em 17.2.1 e 17.2.2., define-se a distinção entre os tipos de transportes de cargas: 17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga. 17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas. Enquanto que, em 17.3.1 cria-se uma oneração ao trabalhador no que se concerne à posição de trabalho sentada: 17.3.1. Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição.
  • 25. 28 Referente aos trabalhos de posição de pé ou sentada, o 17.3.2 obriga o empregador a oferecer certos instrumentos e estruturas antropométricas nos postos de trabalho: 17.3.2. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos: a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento; b) ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; c) ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos segmentos corporais. O mesmo de fato ocorre com 17.3.3, mas agora no caso do assento: 17.3.3. Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto: a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; c) borda frontal arredondada; d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar. Referente à iluminação, em 17.5.3, 17.5.4 e 17.5.5 salienta-se a importância e as idiossincrasias da iluminação que deve ser implementada nos ambientes de trabalho, a qual acaba variando segundo o ambiente de trabalho específico, para que a mesma não seja nem excessiva e nem insuficiente em função do trabalho executado: 17.5.3. Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade. 17.5.3.1. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa. 17.5.3.2. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. Por fim, no ao tratar do aspecto ergonômico organizacional, criam-se direitos ao trabalhador com atividade que causa sobrecarga muscular em 17.6.3, além de se determinar a organização do trabalho como um parâmetro intersubjetivo, o qual varia em conformidade com as características próprias do trabalhador em questão: 17.6.1. A organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
  • 26. 29 17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte: a) todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores; b) devem ser incluídas pausas para descanso; c) quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento. 2.7 O LEVANTAMENTO E TRANSPORTE DE CARGAS Para manter uma postura ou movimento os músculos realizam um gasto energético e permitem o deslocamento do membro do corpo. Notoriamente existem determinadas recomendações e formas de se evitar doenças mediante o transporte e levantamento inadequado de cargas, assunto que será tratado mais adiante. 2.7.1 Disciplinas associadas Posturas derivam de algumas outras áreas, sendo elas: a) Biomecânica: estudo onde as leis da física são aplicadas no corpo humano seguido de alguns preceitos, assim, para manter uma boa postura as articulações têm que se manter em uma posição neutra, ou seja, que possua pequena tensão nos músculos. Isso leva a outros princípios: pesos têm que ser mantidos o mais perto do corpo; pequenos períodos de tempo da coluna ou cabeça curvado para frente também evitando dores; evitar torceduras no tronco as quais podem ser prejudiciais; a necessidade do pré-aquecimentos dos músculos antes de um movimento, ou seja, evitar movimentos bruscos, alternância nos movimentos ou posturas, se caso não ocorra pode causar fadiga e/ou lesões; limitar o esforço muscular durante certos períodos de tempo para evitar fadigas, desconfortos e a queda do desempenho; evitar o cansaço muscular, pois um alto cansaço leva mais tempo para recuperar, podendo ser evitada pelo uso de pequenas pausas com frequência; b) Fisiologia: estudo do funcionamento físico do corpo humano, sendo que ela pode calcular a necessidade energética dos pulmões e coração, ocorrendo com o esforço muscular. Além
  • 27. 30 disso, os seres humanos são capazes de realizar atividades por longos períodos que não ultrapassem um gasto energético de 250W ou de 3,575kcal/min; sendo que, inferior a isso, a tarefa não é pesada e não necessita de pausas, sendo essas atividades, por exemplo, a digitação e atividades domésticas, caso ultrapasse, é necessário a realização de pausas ou substituição para uma atividade mais leve; c) Antropometria: estudo das medidas do corpo humano. Destarte, nesse caso, observam-se as diferenças entre os trabalhadores, porque um projeto pode ser confortável para um, mas desconfortável para outro. Então para impedir desconfortos aos trabalhadores é feita uma média entre os trabalhadores para atingir o maior nível de conforto, para isso, usam-se tabelas antropométricas (tomando cuidado para que essa tabela se encaixe na população determinada), as medidas são feitas como se a população estivesse nua e depois são acrescentados o peso e a medida das roupas. Na Figura 5 nota-se uma série de exemplos de médias das medidas humanas. Os padrões resultantes dessas médias são usufruídos na criação de bancadas, cadeiras, instrumentos, ferramentas e estruturas imanentes aos trabalhos executados pelos trabalhadores. Tais padrões possibilitam uma normalização desses elementos e a existência de conforto físico na prática do trabalho. Por fim, a Antropometria acaba se separando em duas áreas: Antropometria Física e Antropometria Cultural. A Antropometria Física estuda o físico do homem. Ao longo da história a antropometria auxiliou diversas disciplinas como a psicologia, ao longo do tempo foi encontrada vários problemas na segunda guerra, então se iniciou a medição para a criação de projetos, sendo que é usada a Antropometria sempre que possível para evitar acidentes físicos e psíquicos, também é considerado abstrato a expressão de homem médio, o qual seria a média dos homens medidos. 2.7.2 Recomendações para o transporte e levantamento de cargas O levantamento e o transporte manual de cargas são fatores que propendem os trabalhadores a sofrerem lesões, ora na coluna vertebral, ora em suas outras formações musculares e esqueléticas. A maior preocupação nesse sentido refere-se à sobrecarga de componentes da região lombar e de discos intervertebrais. Concebe-se como verossímil a ideia de que se não é possível arredar o transporte manual de cargas pesadas por meio de automação, deve-se então intercalar o transporte de cargas pesadas com cargas leves. Assim, é percebível uma resistência óssea na direção vertical da coluna vertebral, algo pouco percebível da direção horizontal por exemplo. A
  • 28. 31 Figura 4 mostra algumas posturas inadequadas que podem preponderar nos locais e postos de trabalho. Existem algumas recomendações e procedimentos necessários no que tange à realização do levantamento e transporte de cargas, a saber: a) Busca por uma manutenção do estado reto da coluna, usufruindo da musculatura das pernas para a consecução dos movimentos; b) Manutenção de determinada proximidade entre a carga e o corpo em questão; c) Remoção de objetos adjacentes, os quais retardem e dificultem o fomento dos movimentos; d) Manipulação da carga por ambas as mãos; e) Colocação da carga sobre uma bancada antropométrica antes do deslocamento para mitigar problemas posturais resultantes de como a carga foi segurada. f) Quando a postura é o que estamos analisando deve-se contar com alguns elementos como quando as articulações estão em posição neutra, ou seja, quando os músculos e ligamentos estão os menos esticados possíveis; g) Na conservação de pesos próximos ao corpo, não pode haver pesos a serem pegos muito longe do corpo para que os tendões tenham que se articular de forma excessiva e repetitiva; h) Evitar a inclinação para frente porque a parte acima da cintura de um adulto pesa 40 kgf, e inclinar a coluna pode forçar vários músculos mais do que eles realmente podem, gerando uma grande pressão no tronco; i) Evitar também a torção da cabeça que o simples inclinar de 30° pode pesar de 4 a 5 kg a mais, ocorrendo uma grande tensão nos músculos do pescoço; j) As tensões no tronco também podem causar pressões indesejáveis nas vértebras fazendo com que os discos lombares sejam pressionados contra as vértebras, e as articulações presentes dois lados da coluna fiquem desiguais, sendo isso bem prejudicial (Escoliose, Hipercifose, Hiperlordose); k) Movimentos bruscos que causam picos de tensão também são ruins, especialmente para a musculatura, pois a musculatura antes de um grande esforço deve se aquecer, pois músculos têm ritmos lentos; l) Posturas prolongadas e movimentos repetitivos são bem desgastantes para o Sistema Musculoesquelético; m) Para prevenir a exaustão muscular devem ser feitas intervalos de tempo curtos e em grande quantidade; n) A posição em pé é muitas vezes escolhida, pois dizem que desta forma a coluna fica mais reta, e amassa menos os discos lombares, mas da mesma forma é muito fatigante, acumula
  • 29. 32 sangue nas pernas dando-as uma sensação de peso na perna, sensação de dor nos membros e meios de contato, com a tensão muscular dificultando as tarefas de precisão; 2.7.3 Considerações acerca do Sistema homem-máquina Consoante a Pinheiro e França (2006), citado por Franceschi (2013): O sistema Homem Máquina é a união de um ou mais elementos simultaneamente para a realização de uma tarefa. De tal modo para o homem tomar uma decisão, o homem precisa ter conhecimento sobre as informações da máquina, de suas condições e as tarefas a serem realizadas na mesma. Ainda segundo Pinheiro e França (2006), explicado por Franceschi (2013), podemos perceber tal sistema em utilizando uma torradeira, por exemplo, onde o homem coloca o pão, a liga, e aguarda seu processo. De acordo com Falzon (2012), comentado por Franceschi (2013): É preciso entender de forma considerável a relação homem máquina para compreender os desafios na ergonomia, aparentes a partir desses sistemas complexos e dinâmicos. 2.7.4 Interações no Sistema homem-máquina A Ergonomia é basicamente o estudo de uma interação entre o homem e a máquina, seja de forma harmoniosa ou com atritos imanentes a tal relação. Nesse sentido, é necessário compreender como funciona e se dá essa interação para uma intervenção quando essa se mostrar necessária, ora no posto de trabalho, ora na operação e manutenção da máquina em si. Conforme Lida (2006), citado por Franceschi (2013): O sistema homem-máquina- ambiente, corresponde a um dos estudos básico na ergonomia, sendo formado pelo básico, um homem e uma máquina, onde eles interagem de forma contínua entre si, realizando trabalhos, e ainda segundo este autor, existem dois tipos de máquinas, máquinas tradicionais, as quais o ajudam a realizar trabalhos físicos, a exemplo de ferramentas manuais, máquinas-ferramentas, e as máquinas cognitivas, sendo estas operadas por informações, como os computadores por um exemplo. Neste sistema, os componentes atuam como controladores de processo tanto como processadores de dados, utilizando diferentemente seu potencial em situações específicas. Cabe ao projetista definir que funções serão realizadas pelas máquinas, e quais ficaram sobre
  • 30. 33 o operador humano. Por conta disso, é importante saber diferenciar as propriedades específicas de cada elemento, para poder identificar suas vantagens e desvantagens. De acordo com Lida (2006), citado por Francheschi (2013): “Devem existir subsistemas próprios para que o homem possa comandar o sistema, assim possibilitando as interações no sistema homem-máquina. A exemplo deste temos vários tipos usuais de controles: alavancas, manivelas, volantes, mouses, touchpads, entre outros. Além de abranger os subsistemas humanos que receptam informações, e o subsistema humano de resposta. 2.7.5 Diferenças entre o homem e a máquina no sistema A máquina se distingue no sistema por/porque: a) Não estar sujeita a fatores emocionais, ou fadiga; b) Executa operações repetitivas ou demais precisas com uma grande confiabilidade, por poderem ser programadas; c) Consegue selecionar muito mais rapidamente os dados e as informações que necessita; d) Memoriza com exatidão um número muitas vezes superior de dados; e) Exerce sua força em grande quantidade com precisão; f) Capaz de executar computações com exatidão e rapidez; g) É sensível a estímulos, além do que o homem consegue perceber (ondas de rádio, infravermelho, entre outros estímulos); h) Executa simultaneamente diferentes atividades; i) É insensível a fatores anormais; j) Repete operações contínuas, rápidas, e precisas do mesmo jeito, por uma longa quantidade de tempo; k) Consegue operar em ambientes hostis, e inclusive inabitáveis pelo homem. O ser humano se distingue no sistema por/porque: a) É capaz de decidir, julgando e vindo a resolver situações específicas; b) Ter a capacidade de resolver situações não codificadas, não se limitando ao previsível; c) Não precisa de uma programação, desenvolve seus próprios métodos, ao se fazerem necessários; d) É sensível a uma grande gama de estímulos; e) Generaliza a partir de modelos percebidos; f) É capaz de guardar uma grande quantidade de informações por bastante tempo, e pode recordar de fatores importantes em momentos apropriados;
  • 31. 34 g) Consegue aplicar originalidade ao resolver um problema, buscando soluções alternativas; h) Aprende com experiências passadas. Figura 5 – Posturas inadequadas nos postos de trabalho Fonte: Extraído de Mattos (2011). 2.8 DOENÇAS ASSOCIADAS À ERGONOMIA Algumas doenças físicas estão associadas às práticas repetitivas dentro da ergonomia, integrando o conjunto das doenças de Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Doenças Osteo- musculares relacionadas ao trabalho (DORT): a) Tenossinovite; b) Bursite; c) Epicondilite; d) Síndrome Cervicobranquial; e) Síndrome do Túnel do Carpo. De certa maneira, ocorreu a substituição do termo LER por DORT, já que existiam sintomas nos quais inexistia lesão aparente e real. Dessa forma, temos as demais doenças pontuadas, as quais advêm do LER/DORT. Nesse caso, elas surgem em conjunto com a LER/DORT por conta de atividades iteradas e repetitivas, e não necessariamente por conta de uma postura inadequada. De forma geral são esforços excessivos feitos no sistema musculoesquelético, que o desgastam (e estas injúrias normalmente acontecem nos membros superiores), em devidos setores há uma maior chance de ocorrer ou de agravar alguns destes problemas como: a) Setor de Soldagem; b) Setor Industrial;
  • 32. 35 c) Setor de Montagem; d) Setor de investimento. Podemos descrever os sintomas dessas outras doenças da seguinte forma: a) Tenossinovite: Inflamação causada na bainha a qual conecta o músculo de tendão ao seu respectivo osso; b) Bursite: Inflamação das bursas (que são bolsas de líquido que entram em contato com os ossos, ampliando uma consequente dor na realização do movimento, em face da disfunção das bursas, as quais reduzem o atrito entre os ossos e o músculo de tendão; c) Epicondilite: Inflamação de músculos e tendões do cotovelo; d) Síndrome Cervicobranquial: dor nos braços e na região cervical; e) Síndrome do Túnel do Carpo: no ventre do punho onde passam os tendões e nervos dos dedos, incide formigamento e dormência resultante de um nervo comprimindo um punho. Na realidade, no Brasil, estes distúrbios foram primeiramente reconhecidos com tenossinovites ocupacionais e por isso, principalmente na década de 80, sindicalistas lutaram para que hoje seja considerada como doença de trabalho. Em relação aos distúrbios, devem ser analisados os fatores diretos e indiretos, além de não os analisar de forma separada, e sim conjunta. Outrossim, existem fatores de risco específicos que podem contribuir para o agravamento dessas doenças: a) Posto de Trabalho: Embora este elemento diretamente não afete o sistema musculoesquelético, ele se não for de boa qualidade pode forçar o trabalhador a forçar seus músculos, inclinando seu corpo para frente e causando em longo prazo uma série de problemas; b) Exposição a vibrações: Causa efeito nos sistemas muscular e neurológico; c) Exposição ao frio: efeito direto no tecido ou em qualquer EPI que o trabalhador esteja utilizando, e indireto no seu corpo; d) Ruído elevado: Causa mudanças e alterações de comportamento, pode causar surdez em casos extremos, problemas psicológicos e até problemas hormonais; e) Pressão mecânica localizada: Ocorre a compressão de um lugar mole do sistema musculoesquelético; f) As posturas inadequadas: podem causar afecções musculoesqueléticas. Quanto à classificação do indivíduo com relação à massa corporal, esta permite a facilitação dos cálculos para estabelecimento de limite de tolerância (ou de carga) que alguém consegue suportar, temos as seguintes divisões:
  • 33. 36 a) Indivíduo ectomorfo: nos Ectomorfos, o corpo é magro, pescoço comprido, pouca gordura e músculos e tem ombros e braços caídos e seu rosto é largo com queixo fino. b) Indivíduo endomorfo: os Endomorfos têm cintura larga, abdome largo, muita gordura presente em seu corpo todo, seu rosto têm o formato característico de uma pera, tendo o tórax relativamente pequeno. c) Indivíduo mesomorfo: os Mesomorfos são pessoas musculosas com abdome fino, rosto largo e maciço, tendo pouca gordura subcutânea, isto é, seu corpo é musculoso com formas angulosas. Já com relação às moléstias provenientes de más posturas na coluna cervical temos o seguinte arranjo: a) Hérnia: normalmente provém de um processo degenerativo, causando dor cervical e compressão medular – afetando área nervosa; b) Osteoporose: ocorre a redução da densidade óssea; c) Escoliose: é deformidade lateral na coluna, todavia com deformidade nos três planos (axial, sagital e coronal); d) Cifose de Scheuermann: normalmente presente em crianças de 8 a 12 anos, deixa a coluna vertebral com cifose (desvio da coluna vertebral, localizado na região torácica do organismo). Portanto, podemos notar a presença de uma série de fatores e doenças relacionadas às atividades repetitivas e às posturas inadequadas. Reforça-se também a existência de uma gama de fatores de agravo, advindos de outros riscos ocupacionais e de determinados setores industriais. Assim, nesse capítulo as moléstias e doenças de cunho psicológico e cognitivo não forma tratadas; uma vez que o estresse será abordado no capítulo 2.9 Considerações sobre carga mental, o estresse as formas de prevenção. 2.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESTRESSE, MONOTONIA E FADIGA Esses são temas essenciais na ciência da ergonomia, visto que essas moléstias compõem as principais resultantes do cansaço decorrente da prática assídua do trabalho. Da ideia de estresse nasce o conceito de carga (ambíguo em certo sentido), o qual significa o grau de rigor duma tarefa em certo momento ou as consequências da execução dessa tarefa. Daí surge os conceitos de constrangimento e esforço: a) Constrangimento: uma meta ou estado da tarefa a ser atingido em determinado prazo ou período;
  • 34. 37 b) Esforço: se refere ao grau de mobilização física, cognitiva ou psíquica do operador na realização da tarefa. A análise da carga consiste em considerar o esforço em função do constrangimento. Tal visão de carga se aplica ao aspecto físico, psíquico e cognitivo. Então, acredita-se que para tornar um esforço elevado em um esforço aceitável, deve-se proceder da seguinte forma: a) pela redução da complexidade da tarefa (adaptando ambiente do trabalho; automatizando a produção; assistência por inteligência artificial; entre outros); b) pelo aumento da competência do operador (trabalho cooperativo e coletivo; investimento na otimização da qualificação profissional; e pela integração entre trabalhadores experientes e menos experientes). Tais procedimentos podem, porventura, mitigar – em conjunto a medidas administrativas e de redução de riscos ocupacionais – a ocorrência de stress. Por fim, é válido compreender os possíveis modos de prevenção para patologias psicológicas: a) Prevenção primária a qual atua nas condições criadoras de estresse e patologias psicológicas; b) Prevenção secundária a qual controla o estresse já identificado; c) Prevenção terciária a qual acompanha os indivíduos afetados pelo estresse. Porquanto, a prevenção primária é preferível as demais, pois é melhor tratar qualquer patologia em seu prenúncio e não em um estado mais avançado. Assim, o mesmo acaba por valer no caso do estresse. Ademais, é claro que além dessas formas de prevenção deverem ser incentivadas pelos proprietários das empresas, é necessário que os trabalhadores terem a iniciativa de identificar as diversas formas de prevenção ao stress; afinal, ninguém melhor que o trabalhador para descrever a situação psicológica dos trabalhadores. 2.9.1 Monotonia A monotonia é uma resposta proveniente do indivíduo a todo o trabalho que é visto e percebido como desinteressante, a um trabalho repetitivo prolongado e com alto controle ou vigilância por parte dos superiores. Tal ocorrência incide principalmente nos trabalhadores noturnos, indivíduos com pouca motivação, pessoas mais extrovertidas em atividades de introversão e repetição, além de pessoas com elevada qualificação, as quais praticam atividades que consideram limiares e aquém de suas capacidades.
  • 35. 38 Atinge também aqueles que têm outro motivo para atuar em certa profissão (enriquecer apesar de não gostarem da profissão), em período de treinamento ou com outro trabalho. Assim, ele aflige indivíduos que se sentem insatisfeitos com a tarefa que executam. Pode ser combatido ou por “alargamento” ou por “enriquecimento” do trabalho. A diferença entre o método do “alargamento” e do “enriquecimento” é muito bem explanada da seguinte maneira: Entende-se “alargamento” quando o funcionário muda de função, mas mantém as mesmas atividades psicomotoras exercidas anteriormente; enquanto o “enriquecimento” do trabalho compreende a mudança de função agregando novas demandas cognitivas e responsabilidades (MATTOS, 2011). Assim, é bom ressaltar que a central conseguinte da monotonia é a perda de atenção pelo trabalhador, algo que contribui para a morosidade e lentidão do sistema produtivo de uma forma geral. Um exemplo dessa relação é fomentado por Lida (1990): Em tarefa da vigilância da tela do radar, durante duas horas seguidas, observou-se que a quantidade média de sinais não-detectados era de 50% na primeira meia-hora. Essas porcentagens subiram, respectivamente, para 77, 84 e 90% para as segunda, terceira e quarta meia horas. 2.9.2 Fadiga A fadiga possui componente físico, neuromuscular; envolvendo também fatores de cunho psicológico. A fadiga da categoria neuromuscular já fora anteriormente ponderada como resultante do uso intenso do sistema muscular e nervoso central. A fadiga física pode inevitavelmente resultar em posterior fadiga mental, com perdas consideráveis na percepção do trabalhador quanto ao trabalho por ele promovido. A fadiga é interferida por fatores individuais, não obstante a melhor medida de combate é a intercalação de descansos e pausas regulares durante a jornada de trabalho. Mattos (2011), ao mesmo tempo em que considera a relação necessidade nervosa e fadiga, conjectura a correlação trabalho promovido e tempo de descanso: Não há uma regra geral sobre a duração e quantidade de pausas durante a jornada. Tarefas com exigências nervosas e de atenção apresentam melhores resultados com pausas curtas e frequentes de 2 a 5 min. Outras atividades mais usuais, pausas de 10 min a cada duas
  • 36. 39 horas de trabalho. Para trabalhos pesados recomenda-se pausa igual ao tempo de atividade, por exemplo, trabalha-se uma hora e descansa-se uma hora. Pausas naturais como a de tomar um café, sair para fumar ou ir ao banheiro não devem ser sempre evitadas, porque podem ser consideradas mecanismos naturais do corpo humano perante o trabalho. 2.9.3 Estresse O estresse nasce de certa resposta do corpo à distinção entre constrangimento e esforço. No qual se procura arredar que o trabalho fique aquém das expectativas, porém se considera que isso não é possível dentro dos recursos e tempo disponíveis. Desse modo, é fenômeno subjetivo e tem clara correlação com a compreensão individual que existe quanto às nossas incapacidades e limites no trabalho. Assim, o estresse surge e evolui sob certas condições: supervisão e vigilância constante do trabalho; falta ou ausência de auxílio e reconhecimento de supervisores; atenção elevada exigida; o ambiente físico; o nível de complexidade das tarefas etc. 2.10 TRABALHO EM TURNOS E NOTURNO Existem determinadas empresas as quais, com o escopo de ampliar os lucros perante investimentos ou por conta do fato de serem indústrias que não podem ser paralisadas devido a sua relevância social atribuída, necessitam de trabalhadores que operem em regime de trabalho em turnos ou noturno. Assim, tal percepção é bem ressaltada por Mattos (2011): Apesar de não ser o ideal, o trabalho é uma realidade na economia moderna. Algumas indústrias não podem ser paralisadas sem comprometer o bem-estar da sociedade (uma usina elétrica, por exemplo) e outras não param por questões econômicas, para amortizar os altos investimentos (uma empresa de processamento de dados, por exemplo. O trabalho noturno é considerado como qualquer trabalho realizado entre às 22h00min às 05h00min, diferente da hora diurna, a hora do trabalho noturno dura 52 minutos
  • 37. 40 e 30 segundos, observando que o trabalhador não tenha menos de 25 anos nem mais de 50 anos. Mesmo assim, o trabalhador noturno pode demorar a se acostumar com o trabalho noturno, pois é complicado para o nosso corpo se acostumar a trabalhar no ciclo de sono diurno e, isso pode levar a uma queda de qualidade no trabalho, além do maior número de acidentes e da ampliação da gravidade destes. As consequências ao trabalhador acometido ao trabalho noturno e em turno são variadas, sendo algumas delas: pouca duração e alteração no sono, distúrbios alimentares, irritabilidade, baixa qualidade de sono, queda no desempenho, falta de concentração, acidentes, interferência no nível social do trabalhador, dores de cabeça, estresse e, nos piores casos, pode vir a causar câncer ou depressão. Ademais, é considerável o consumo maior de substâncias estimulantes como café e cigarros, álcool e soporíferos. O consumo dessas substâncias em excesso pode ocasionar aceleração do ciclo cardíaco e maior consumo de oxigênio pelo organismo. No estrato social, tais horários podem desencadear incompatibilidade de horário. Esses trabalhadores acabam angariando menor vida social e menor relação com membros da família e amigos. A tentativa de aplicar turnos alternados entre trabalho diurno e noturno pode mitigar tal incompatibilidade, e, consequentemente, otimizar a vivência social o trabalhador e sua resultante maior eficiência e produtividade, decorrente da maior satisfação referente ao seu trabalho. Portanto, a aprendizagem de alguns métodos pode ajudar a diminuir isso, sendo os principais deles: Ritmo circadiano, o mecanismo que adapta o relógio biológico, realização de trabalhos mais dinâmicos no período noturno, evitar trabalhos que exigem alta concentração; além destes o uso de intervalos, os quais podem ter o seu tempo variado de acordo com o tempo que o trabalhador irá passar na atividade noturna, por exemplo, em uma jornada de trabalho entre 4 a 6 horas, haverá um intervalo de 15 minutos; o uso de turnos entre trabalhadores, sendo preferível o uso de turnos curtos, pausa para refeição, dias para fim de semana e rotações em sentido horário. O trabalhador também deverá ser pago pela hora noturna, com um aumento de 20% do valor da hora diurna do empregado (exceto se a hora for feita a partir de um acordo benéfico, convenção coletiva ou sentença normativa) e, também poderá ser pago pelas horas extras, os quais se juntam ao salário do trabalhador. No caso do trabalho em turnos: trabalhar por turnos significa trabalhar sempre nos mesmos horários todos os dias, podendo eles serem rotativos, mas nele o trabalhador ainda
  • 38. 41 terá é claro que trabalhar uma determinada quantidade de horas por semana ou mês. Um turno tem o limite máximo de 8 horas por dia e 40 horas semanais. Enquanto que, para os turnos noturnos há um acréscimo salarial de 25%, o acréscimo por trabalhar todos os sete dias da semana é de 22% a 25% do salário. Já se os turnos forem de segunda a sexta o acréscimo é de 15% a 20%. Outrossim, se se trabalhar seis dias seguidos depois de seis dias de trabalho o trabalhador em questão terá o direito a um dia de descanso. Quando se analisam turnos, precisa-se ponderar também a duração de intervalos para almoço que duram, segundo a última decisão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) embasada na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), no máximo 60 minutos. Além disso, acaba sendo necessário ter-se em mente que a alteração do Ciclo Circadiano, ou seja, o ciclo de sono, necessita de 4 a 5 dias para se acostumar com o regime de trabalho noturno. Sendo desinteressante e não peremptório na adaptação um regime semanal baseado no rodízio, o que dificulta essa adaptação. Podendo-se considerar turnos de 2 a 3 semanas. Então, deve-se considerar que certos indivíduos acabam sendo propensos a se adaptar com maior facilidade ao horário noturno de trabalho. Ademais, o trabalho não pode ser monótono e repetitivo já que isso apenas alarga o sono e a fadiga do trabalhador que já está exposto a trabalho atípico. Porquanto, uma adaptação do organismo ao horário noturno é possibilitada quando esse trabalho envolve atividades com elevada movimentação corporal. Apesar disso, deve-se arredar e evitar os trabalhos que exijam alta aptidão e esforço físico, isto é, o constrangimento durante a fomentação do trabalho precisa ser menor. Desse modo, ao se usufruir de trabalho noturno nas empresas é necessário analisar as respectivas questões: a) Alteração do Ritmo Circadiano; b) Discrepâncias físicas e psicológicas entre os indivíduos; c) Saúde do trabalhador; d) Consequências sociais; e) Tipo de atividade realizada. Portanto, o trabalho noturno é um tema complicado na ergonomia, uma vez que de certa maneira esse não deveria existir. Contudo, socialmente ele possui elevada relevância e cardinalidade. O que se revela obrigatório, então, é que as empresas busquem formas de tornar o trabalho, tanto noturno quanto em turnos, menos danoso ao trabalhador e que esse lhe seja fruto de satisfação e bem-estar, dentro do possível.
  • 39. 42 3.CONSIDERAÇÕES FINAIS Cada vez mais, mostrou-se e prezou-se pela Ergonomia na execução deste trabalho acadêmico. Desse modo, a relevância da Ergonomia foi provada por meio de uma gama de pesquisas qualitativas e quantitativas. Assim, é possível considerar que a Ergonomia tem indubitável relevância. Ademais, foi possível demonstrar facilmente tal relevância com o maior substrato teórico disponível. Portanto, todos os objetivos apontados foram alcançados de forma satisfatória. Não só isso, mas a metodologia citada foi essencial e suficiente para a concretização e consubstanciação dos objetivos propostos. Por isso, é claro que a Ergonomia vem cada vez mais sendo implementada nas empresas - sendo que ela é uma disciplina vasta e de múltiplas abordagens. A abrangência da pesquisa de referencial teórico propiciou também ampla compreensão do desenvolvimento desta nova disciplina científica. Por fim, perfaz-se convenientemente este trabalho com a seguinte frase, e que reforça os princípios norteadores da pesquisa: Diante de um novo cenário empresarial e com a globalização tem sido evidente a mudança de paradigmas no ambiente empresarial em busca de melhores condições e desempenhos em termos de qualidade e produtividade. Nesse contexto, as boas condições de trabalho vêm sendo gradualmente reconhecidas como de grande importância para que as organizações cumpram suas metas, prazo e demandas do mercado de trabalho (FREITAS, 2014).
  • 40. 43 REFERÊNCIAS ANÁLISE ergonômica do trabalho e o reconhecimento científico do conhecimento gerado. Maringá: [s.n.], 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prod/v20n4/AOP_200902028.pdf>. Acesso em: 05 maio 2018. A importância da ergonomia dentro do ambiente de produção. Viçosa: SAEPRO, 2014. Disponível em: <http://www.saepro.ufv.br/wp-content/uploads/2014.5.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2018. BELTRAMI, Monica ; STUMM, Silvana. Higiene no Trabalho. Curitiba: Rede Etec, 2013. 192 p. Disponível em: <http://ead.ifap.edu.br/netsys/public/livros/LIVROS %20SEGURANÇA%20DO%20TRABALHO/Módulo%20III/17%20Higiene%20no %20Trabalho/Livro_Higiene%20no%20Trabalho.pdf>. Acesso em: 05 maio 2018. DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard . Ergonomia Prática. 2. ed. [S.l.]: Editora Edgard Blücher, 2004. 152 p. ERGONOMIA da Atividade aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho: lugar, importância e contribuição da Análise Ergonômica do Trabalho (AET). São Paulo: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbso/v40n131/0303-7657-rbso-40-131-18.pdf>. Acesso em: 05 maio 2018. FALZON, Pierre (Ed.). Ergonomia. São Paulo: Blucher, 2007. 640 p. ISBN 9788521204121 (enc.). FRANCESCHI, Alessandro de . Ergonomia. Santa Maria: Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, 2013. 115 p. Disponível em: <http://estudio01.proj.ufsm.br/cadernos_seguranca/quinta_etapa/ergonomia.pdf>. Acesso em: 04 maio 2018. JORNADA noturna. Porto Alegre: Direito e Justiça, 2015. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fadir/article/viewFile/19961/12661>. Acesso em: 15 maio 2018. LIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1990. 465 p. MATTOS, Ubijara Aluizio de Oliveira et al. (Org.). Higiene e Segurança do Trabalho . Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 419 p. ROCHA, Geraldo Celso . Trabalho, Saúde e Ergonomia: Relação entre Aspectos Legais e Médicos. Curitiba: Juruá Editora, 2004. 151 p. VIDAL, Mario Cesar. INTRODUÇÃO À ERGONOMIA. Rio de Janeiro: Fundação Coppetec, [2010]. 35 p.