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1ª Edição |Maio| 2014
Impressão em São Paulo/SP
ERGONOMIA
Roger Valentim Abdala
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
Coordenação Geral
Nelson Boni
Professor Responsável
Roger Valentim Abdala
Coordenadora Peda-
gógica de Curso- EAD
Roseli Lopes de Macedo Leal
Coordenação de Projetos
Leandro Lousada
Revisão Ortográfica
Vanessa Almeida
Projeto Gráfico, Dia-
gramação e Capa
Ana Flávia Marcheti
1º Edição: Maio de 2014
Impressão em São Paulo/SP
ERGONOMIA
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
A135e Abdala, Roger Valentim..
Ergonomia. / Roger Valentim Abdala – São Paulo : 		
Know How, 2013.
		 156p. : 21 cm.
	 	 Inclui bibliografia
		 ISBN : 978-85-8065-257-4
1. Ergonomia. 2. Ergonomia física. 3. Ergonomia
cognitiva. 4. Ergonomia organizacional. I. Título.
CDD – 620.82
Introdução
Unidade 1
Princípios e história da ergonomia
1.1 Disciplinas da ergonomia
1.2 Objetivos da ergonomia
1.3 Tarefa e Atividade
1.4 Observações diretas e indiretas
1.5 Verbalizações
1.6 Metodologia em ergonomia
Unidade 2
Ergonomia física
2.1 Músculos Esqueléticos
2.2 Trabalho Muscular
2.2.1 Trabalho muscular dinâmico
2.2.2 Trabalho muscular estático
2.2.3 Prevenção de sobrecarga muscular
2.3 Discos Intervertebrais
2.4 Antropometria
2.5 Biomecânica Ocupacional
.7
.11
.55
SUMÁRIO
2.5.1 Planos cardinais de referência
2.5.2 Movimentos realizados pelos músculos
Unidade 3
Ergonomia cognitiva
3.1 Sensação e percepção
3.2 Memória
3.3 Tomada de decisão
3.4 Modelos cognitivos
3.5 Carga Mental
3.6 Erro humano
Unidade 4
Ergonomia organizacional
4.1 Estresse
4.2 Estrutura organizacional
4.3 Trabalho flexível
4.4 Rotação de trabalhadores
4.5 Seleção e treinamento
Gabarito
Referências
.120
.138
.147
.88
Introdução
O estudo da ergonomia é abrangente e requer
dos estudiosos uma análise profunda de questões re-
lacionadas ao ser humano e suas interações com o
ambiente. Destacam-se as questões físicas, cogniti-
vas e organizacionais que interagem com o trabalha-
dor, suas potencialidades e capacidades ao realizar
uma tarefa e as limitações de um sistema.
Em vista disso, as organizações têm se esfor-
çado para aumentar a qualidade e produtividade de
seus produtos e serviços levando-se em considera-
ção a saúde, segurança e conforto do ser humano
no ambiente de trabalho. Dores e sobrecargas de
trabalho são riscos à saúde do trabalhador, causam
redução da produtividade e diminuição de qualida-
de de produtos e serviços, ou seja, o custo humano
impacta diretamente nos objetivos organizacionais.
Ao se empregar os princípios da ergonomia
para a redução de não conformidades de trabalho, os
profissionais de saúde e segurança do trabalho, ges-
tores e diretores buscam estudar as possíveis situa-
ções que podem sobrecarregar o trabalhador no que
tange ao seu corpo físico e sua cognição, bem como
as relações de trabalho que possam causar estresse,
monotonia, agressividade, dentre outras consequên-
cias maléficas de ordem psicossocial.
A ergonomia pode contribuir na definição de
métodos de trabalho que permitam uma interação
homem – máquina - sistema saudável, equilibrada e
de acordo com os limites e capacidades de cada um
destes, considerando os aspectos biológicos do ser
humano, tecnológicos das máquinas e ferramentas e
de cultura e política organizacional.
Neste trabalho, abordaremos princípios da
ergonomia, seja ela de correção ou de concepção,
analisaremos também os tipos de ergonomia (física,
cognitiva e organizacional) e por fim abordaremos
assuntos relacionados a Norma Regulamentadora –
17, a norma brasileira de Ergonomia.
Unidade 1
11
1. Princípios e história da ergonomia
O polonês Wojciech Jastrzebowski é conside-
rado o primeiro estudioso moderno de ergonomia
ao escrever um artigo intitulado “The Science of
Work” (A Ciência do Trabalho). A saber:
“(...) um enfoque científico que nos permitirá conhecer,
em benefício próprio e dos demais, os melhores frutos
do trabalho de toda a vida com o mínimo de esforço e a
máxima satisfação.” (JASTRZEBOWSKI, 1857).
Etimologicamente, o termo “ergonomia” tem
origem das palavras gregas “nomos”, que significa
“norma”, e “ergo”, que significa “trabalho”. Pode-
-se dizer que ergonomia é a “ciência do trabalho”,
ou que desenvolve regras e normas para conceber
um sistema de trabalho. Neste contexto, o termo tra-
balho significa uma atividade no qual um operador
humano busca alcançar um objetivo.
O ser humano é, portanto, o centro do estudo,
ou seja, a ergonomia é uma ciência antropocêntrica,
12
na qual o trabalho deve ser adequado ao ser huma-
no e não o contrário. Esta é uma das bases da er-
gonomia. Apesar de o ser humano ser adaptável às
condições impostas a ele, ainda assim, há limites a
serem respeitados, pois esta adaptação não é infinita.
“Adaptar o trabalho ao homem” é, portanto, um dos
princípios da ergonomia.
Há pouco mais de um século, as condições de
trabalho eram intoleráveis para a saúde e segurança
dos trabalhadores. Doenças e epidemias, muitas ve-
zes oriundas das condições de saneamento básico das
cidades, potencializadas pelas condições precárias de
higiene no ambiente laboral, obrigaram governos a
criarem leis com foco na proteção ao trabalhador.
Através de leis que estabeleciam limites de ho-
ras diárias de trabalho, restrição do trabalho infantil,
condições sanitárias de trabalho, foram algumas das
bases quanto ao início da atenção aos aspectos de
adaptar o trabalho ao trabalhador, ou seja, pode-se
dizer que à partir daí teve início a ergonomia moder-
na que atualmente conhecemos.
Até a II Guerra Mundial, o desenvolvimento
e aplicação destas leis de proteção ao trabalhador
foram lentos. Isto porque este importante evento
acelerou o desenvolvimento da tecnologia militar,
através da criação e aperfeiçoamento das armas de
guerra, como, por exemplo, os veículos de combate,
aviões, dispositivos de navegação e detecção.
13
Concomitantemente a estas invenções e me-
lhorias nas armas de guerra, estudiosos, engenhei-
ros, médicos, psicólogos, físicos e sociólogos perce-
beram a importância de adaptar estes instrumentos
tecnológicos às condições de trabalho, aos limites do
usuário militar, levando-se em consideração aspectos
físicos, cognitivos e psicológicos que objetivavam a
redução do erro, a tomada de decisão rápida e eficaz,
ou seja, a confiabilidade de máquinas e pessoas.
O sucesso militar dependia, portanto, não ape-
nas de quem dominasse a melhor tecnologia, levaria
vantagem nos combates as nações que conseguis-
sem adaptar melhor seus instrumentos de guerras
aos seus usuários, os militares pilotos de aviões e de
carros de combate, os soldados e seus fuzis, os co-
mandantes e suas informações de guerra.
A II Guerra Mundial foi impulso para o desen-
volvimento da ergonomia no pós-guerra. A partir de
1950, com o foco e alta demanda das indústrias na
produção (foco na produtividade), a ergonomia teve
um terreno fértil para se desenvolver. Novas leis de
proteção à saúde e segurança do trabalhador foram
criadas principalmente na Europa e Estados Unidos
e posteriormente no Japão e Canadá.
Dez anos depois, a partir de 1960, a energia me-
cânica, de maneira gradual, foi tomando lugar do em-
prego da energia proveniente do esforço muscular do
ser humano para a execução das atividades ocupacio-
14
nais. Na época, verificou-se que a ocorrência de aci-
dentes de trabalho estava relacionada com o emprego
do trabalho manual, a aplicação de força muscular na
resolução de tarefas laborais e as questões temporais,
como, por exemplo, as demandas temporais relacio-
nadas à busca de alta produtividade.
Esta relação entre os objetivos exclusivamente
de produção industrial e o consequente índice de aci-
dentes de trabalho, somada ao início de preocupações
com a saúde e segurança do trabalhador, exemplifica-
do pelas leis nesta área, fizeram com que os objetivos
da ergonomia gradualmente se voltassem mais para
a segurança do trabalho em vez da produtividade a
qualquer preço. Esta época foi por volta dos anos 60
e o início dos anos 70 nos países desenvolvidos.
No início da evolução histórica da ergonomia,
seus estudos estavam relacionados à ergonomia físi-
ca, ou seja, estudos antropométricos, estudos rela-
cionados à biomecânica, gasto energético, fisiologia
humana, temperatura corporal versus temperatura
ambiente e carga física de trabalho, frequência car-
díaca e respiratória, e outros estudos relacionados às
questões físicas limítrofes do ser humano testadas
em laboratório e em campo.
O foco dos estudos era a contração muscular e
sua relação com as capacidades do ser humano in-
teragindo com um ambiente de trabalho qualquer.
Falando mais especificadamente, os estudos relacio-
15
navam-se com o esforço muscular realizado, diversi-
dade e amplitudes de movimentos articulares e seus
limites toleráveis. Todos estes estudos num contexto
de busca da produtividade, mas que, gradualmente,
foram mudando para foco em saúde, segurança e
conforto do trabalhador, estes três objetivos últimos
como atualmente a ergonomia se configura quando
se fala em seus objetivos e escopo.
Atualmente, os princípios científicos da ergo-
nomia física são muito bem conhecidos pelos pro-
fissionais da área, como por exemplo, desenhos de
postos de trabalho, estudos antropométricos, ergo-
nomia no uso de computadores e terminais de vídeo,
ergonomia em trabalhos pesados, etc. Sem dúvida
alguma o pós-guerra contribuiu muito para o avanço
da ergonomia física. Outras áreas em que a ergono-
mia também se desenvolveu daquela época até os
tempos atuais foram as áreas da ergonomia cogni-
tiva e organizacional. Estas últimas, porém, ainda
requerem de estudos bem mais aprofundados pelos
pesquisadores e profissionais de saúde e segurança
do trabalho.
A ergonomia física sem dúvida alguma serve de
base para a maioria dos trabalhos atuais de consul-
torias em ergonomia, seus princípios são bem acei-
tos e claramente suas mudanças e intervenções são
identificadas. Configura-se, contudo como um vasto
campo de trabalho estudos ligados à ergonomia cog-
16
nitiva e ergonomia organizacional, não porque seus
avanços históricos foram nulos, mas porque seu rit-
mo de desenvolvimento foi mais lento comparando-
-se com a ergonomia física.
“ Ergonomia
                     é uma disciplina científica relacionada ao
entendimento das interações entre os seres huma-
nos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de
teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim
de otimizar o bem-estar humano e o desempenho
global do sistema."
Fontem: International ergonomics association - iea (www.iea.cc)
Além disso, os processos mentais e as relações
sociais no trabalho, muitas vezes, possuem suas ba-
ses em constructos qualitativos, nem sempre de fácil
domínio para validações de achados científicos por
parte da equipe de pesquisa ou pelos profissionais
da área. Somado a isso, como foi informado ante-
riormente, as principais demandas de trabalho da
ergonomia atual no Brasil e no mundo ainda se ba-
seiam em demandas relacionadas aos princípios da
ergonomia física. Desta maneira, entendem-se as
razões que fazem com que a ergonomia cognitiva e
organizacional esteja no palco da maioria das atuais
pesquisas científicas em ergonomia.
17
1.1 Disciplinas da ergonomia
Não entraremos no mérito dos debates que de-
fendem que a ergonomia é ou não uma ciência e/
ou uma técnica que emprega princípios científicos
de outras disciplinas para uso em seu escopo de tra-
balho, ou seja, o ser humano desempenhando uma
atividade num ambiente qualquer de trabalho. Basta
no momento dizermos que a ergonomia desenvolve
suas técnicas dentro de bases científicas num ponto
que permeia disciplinas relacionadas à engenharia
(físicas e exatas), à medicina, psicologia e sociolo-
gia (humanas e sociais), por exemplo, a solução de
problemas de iluminação, temperatura, ruído e vi-
brações, anatomia, fisiologia, psicologia. A Figura 1
ilustra os domínios da ergonomia quanto a algumas
das disciplinas que a compõe.
18
A ergonomia é uma disciplina autônoma, mas
não pode viver sem se nutrir das aquisições de várias
disciplinas, aquisições dinâmicas e assimiladas em
um espírito interdisciplinar (WISNER, 2004, .p. 35).
Na Europa, os primeiros pesquisadores tiveram
como foco de estudo as ciências humanas, conce-
dendo à ergonomia uma relação mais forte com a
fisiologia e a psicologia. A importância de uma abor-
dagem nesta área está em estudos que relacionam
a ergonomia aos problemas de consumo energético
do trabalhador, as posturas de trabalho, aplicação de
forças musculares, levantamento de cargas, trabalho
repetitivo, etc. Em relação à psicologia, os estudos
relacionam-se com interações do trabalhador com
os terminais de vídeo, usabilidade de computadores
e equipamentos de forte apelo tecnológico, moti-
vação no trabalho, relações sociais de trabalho etc.
Cabe aqui ressaltar que não se faz intervenções er-
gonômicas sem dar enfoque misto às disciplinas que
compõem a ergonomia, assim dizemos que a ergo-
nomia é uma ciência multidisciplinar.
Nos Estados Unidos os pioneiros em estudos
ergonômicos despenderam seus esforços em assun-
tos relacionados ao campo da psicologia experimen-
tal e engenharia. O termo “engenharia humana” e
“engenharia de fatores humanos” são termos usados
até hoje naquele país e também no Canadá.
A natureza de interdisciplinaridade da ergonomia
19
é resultado de outra característica importante: a ergo-
nomia é uma ciência antropocêntrica, ou seja, o ser hu-
mano é o centro de atenção de seus estudos e esforços.
E como definir o ser humano? Como medi-lo? Como
elaborar ambiente de trabalho que o comportem com
a máxima de segurança, saúde e conforto?
A amplitude vasta de respostas e de opções de
propostas para as perguntas acima parecem não ter
fim. Em vista disso, parece claro que a ergonomia se
agrega a outras disciplinas para compor e elaborar
respostas para estas e outras perguntas.
O desafio da ergonomia é adaptar o trabalho
às pessoas. Como fazer isso? Primeiramente temos
que definir quem é o ser humano, quem é o traba-
lhador. A partir daí, o ambiente precisa ser definido.
Disciplinas que compõe aspectos biopsicossociais
são ferramentas para fornecer respostas para nossos
questionamentos enquanto profissionais e pesqui-
sadores de saúde e segurança do trabalho, a grande
área da qual a ergonomia faz parte.
Segundo Abrahão et al. (2009), três pressupos-
tos são necessários para compreensão da ação ergo-
nômica e suas metodologias: a interdisciplinaridade,
a análise de situações reais e o envolvimento dos su-
jeitos, conforme Figura 2.
20
Ainda, segundo os autores, a interdisciplinarida-
de da qual serve de base para a ergonomia, resulta da
importância de se analisar o fenômeno do trabalho
humano sobre diferentes perspectivas (ABRAHÃO
et al, 2009).
Esta relação da ergonomia com outras discipli-
nas e profissionais (médicos, engenheiros, fisiote-
rapeutas, administradores, terapeutas ocupacionais,
psicólogos, enfermeiros, etc.) exige a elaboração de
novos conceitos ao integrar conhecimentos destes
diversos profissionais (CURIE, 2004).
21
1.2 Objetivos da ergonomia
Antes de discutir os objetivos da ergonomia, é
importante que façamos uma reflexão sobre como a
ergonomia poderá favorecer empregados e empre-
gadores, trabalhadores e organizações empresariais.
Algumas destas vantagens estão relacionadas com a
produtividade e na qualidade do trabalho executado.
Outras vantagens estão relacionadas à saúde e a con-
fiabilidade humana e a satisfação no trabalho.
“ Objetivo da ergonomia [ transformar o trabalhador
de forma a adaptá-lo às caracteristicas e variabilida-
de do homem e do processo produtivo ]
Fonte: Abrahão [et al.] (2009)
Desta forma, a relação de contribuição que a
ergonomia oferece para empresas e empregados, é
a eficiência no alcance de resultados, a redução de
desperdícios de tempo e de recursos, a prevenção
de erros e a proteção a pessoa humana no trabalho.
Falzon (2007) complementa sobre os objetivos da
ergonomia da seguinte maneira:
A especificidade da ergonomia reside em sua tensão
entre dois objetivos. De um lado, um objetivo cen-
trado nas organizações e no seu desempenho. Esse
desempenho pode ser apreendido sobre diferentes
22
aspectos: eficiência, produtividade, confiabilidade,
qualidade, durabilidade etc. De outro, um objetivo
centrado nas pessoas, este também se desdobrando
em diferentes dimensões: segurança, saúde, confor-
to, facilidade de uso, satisfação, interesse do trabalho,
prazer etc. (FALZON, 2009, p.8).
Para a ergonomia não é aceitável que haja des-
perdícios de energia de maquinários ou humana, ou
de tempo devido, por exemplo, a não conformidade
de layout ergonômico, problemas relacionados aos
espaços de trabalho ou não conformidades relacio-
nadas a sobrecargas cognitivas e assuntos relaciona-
dos à organização do trabalho.
As bases científicas da ergonomia têm como
escopo a adaptação do trabalho ao ser humano com
vistas à sua saúde, segurança e conforto. Apesar do
antropocentrismo da ergonomia é comum que estes
esforços, em contrapartida, gerem benefícios não
apenas ao ser humano no trabalho, mas há uma ten-
dência também de que eles proporcionem à organi-
zação um trabalho mais eficaz, redução de custos e
ganho de produtividade.
Estudos ergonômicos, no meio acadêmico, mas
principalmente no campo da prestação de serviços
de profissionais da área, buscam esta relação de efi-
ciência e ganho mútuo entre empresa e empregados.
23
Por um lado, o trabalhador se beneficia com a
ergonomia no sentido que poderá exercer suas ativi-
dades laborais com maior segurança, num ambiente
salutar e confortável, ou seja, com um equilíbrio entre
as demandas de trabalho e suas capacidades labora-
tivas. De outro lado, as organizações empresariais se
beneficiam da ergonomia no sentido que ofertam um
ambiente propício para o desempenho, consequente-
mente reduzindo custos relacionados a não confor-
midades na área de saúde e segurança do trabalho.
Os custos diretos e indiretos relacionados com
o gerenciamento de trabalhadores afastados por do-
enças ou acidentes de trabalho e não afastados, mas
com sua capacidade ocupacional reduzida, como no
caso de trabalhadores acometidos de distúrbios os-
teomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são
exemplos de situações nas quais ações ergonômicas
visam eliminar.
A relevância da ergonomia está no fato de que
ela melhora situações de trabalho, não apenas com
benefícios para o trabalhador, mas também para as
organizações empresariais. Através de estudos siste-
máticos, como por exemplo, a Análise Ergonômica
do Trabalho (AET), os profissionais de ergonomia
conseguem fornecer dados das características da po-
pulação envolvida, no caso os trabalhadores, bem
como do ambiente nos quais eles desempenham
suas funções. De posse destas informações sistemá-
24
ticas os profissionais da área de ergonomia elaboram
propostas técnicas, conceitos, diretrizes e procedi-
mentos que à medida que são seguidos e defendidos
a partir da alta direção da organização, gestores ge-
renciais e trabalhadores de nível operacional, contri-
buem para a redução de custos e o desenvolvimento
da eficácia no trabalho.
A ergonomia pode ser dividida em três segmen-
tos distintos:
• Ergonomia de correção: atua de maneira restrita,
modificando elementos parciais do posto de traba-
lho, tais como dimensões, iluminação, ruído, dispo-
sição de salas de trabalho, entre outros (IIDA, 2003);
• Ergonomia de concepção: Ao contrário, inter-
fere amplamente no projeto do posto de trabalho,
dos instrumentos, da máquina ou do sistema de pro-
dução, organização do trabalho, e formação pessoal
(IIDA, 2003);
• Ergonomia de conscientização: Surgiu da ne-
cessidade de orientar os profissionais de diversas
áreas de atuação, com o objetivo de transmitir os
conhecimentos já existentes e fazer com que estes
profissionais os utilizem (IIDA, 2003).
25
1.3 Tarefa e Atividade
O conhecimento sobre a tarefa e a atividade,
suas definições teóricas, classificações e diferencia-
ções resultam em pressupostos básicos e importan-
tes para ações em ergonomia e o desenvolvimento
de análises ergonômicas do trabalho (AET).
Podemos definir tarefa como o trabalho pres-
crito e a atividade como o trabalho real. A tarefa se
define, portanto, por seus objetivos, suas demandas
e as condições tecnológicas que a empresa disponi-
biliza para a execução das atividades.
Algumas perguntas nos ajudam a ponderar so-
bre o que se deve levar em consideração ao se anali-
sar uma tarefa, ou um trabalho prescrito;
• O que deve ser feito (função, objetivos)?
• Como deve ser feito (procedimentos de trabalho,
instruções, padrões, operações admissíveis, exigên-
cias, segurança)?
• Quais os recursos (tecnologia disponível caracte-
rísticas do posto de trabalho, ambiente de trabalho,
documentação, máquinas, materiais)?
• Qual o tempo disponível (ritmos, prazos)?
• Quais as características do ambiente físico (am-
biente de trabalho)?
• Quais as características do ambiente cognitivo (fer-
ramentas de apoio) e coletivo (presença ou ausência
26
de colegas, parceiros, da hierarquia, modalidades de
comunicação etc.) (FALZON, 2009)?
• Quais as características sociais do trabalho (modo de
remuneração, controle, sanção etc.) (FALZON, 2009)?
• Quem executa a tarefa (características da po-
pulação trabalhadora, como por exemplo, idade,
gênero, tempo na função, experiências, requisitos
para a função)?
A tarefa (trabalho prescrito) se diferencia da ati-
vidade (trabalho real), por várias razões, entre elas
estão as estratégias dos operadores, as quais variam
de indivíduo para indivíduo, as flutuações do am-
biente de trabalho, ocorrências não programadas,
etc. Além disso, a tarefa é planejada por gestores que
nem sempre possuem um conhecimento adequado
das condições de execução das atividades.
A atividade é definida como um conjunto de
condutas que o trabalhador assume para desem-
penhar um trabalho. Por exemplo, as posturas que
assume, os processos mentais que utiliza para to-
mar uma decisão, os movimentos que executa para
transformar um produto ou realizar um processo. A
forma como pega uma ferramenta, a força e a fre-
quência de contrações musculares que imprime para
realizar uma tarefa.
Em vista disso, é comum que haja adaptações
em tempo real por parte dos operadores. É a máqui-
27
na que quebrada a ferramenta que falta, ou que está
desgastada, a planilha que está incompleta, a deman-
da de trabalho que foi alterada ou aumentada, etc.
Quando a discrepância entre tarefa e atividade
aumenta, em geral, aumentam também as sobrecar-
gas de ordem física, cognitiva e organizacional dos
trabalhadores, que, muitas vezes, têm que se adaptar
rapidamente às novas condições de trabalho ao exe-
cutar suas atividades.
Por exemplo, um trabalhador necessita fixar um
quadro numa parede de madeira. Para tal, a tarefa é
programada para que ele execute esta atividade com
o uso de um martelo e pregos. Ele é treinado para
tal, possui um tempo disponível bem dimensiona-
do e possui experiência na função. Porém, ao iniciar
sua atividade lhe é informado que não há martelos
disponíveis. Como ele irá realizar este trabalho? As
adaptações que ele realizar poderão gerar mudanças
nas aplicações de forças musculares, mudanças de
posturas, aumento de risco de acidentes, redução da
qualidade do trabalho e outras consequências noci-
vas ao trabalhador e o recebedor do serviço.
O que aconteceria se o trabalhador tivesse que
realizar esta atividade durante toda a sua jornada diá-
ria de 08 horas? E se a falta do martelo se mantivesse
durante toda a semana ou durante todo o mês?
Apesar de ilustrarmos de maneira hipotética
este exemplo, é comum ocorrerem situações reais de
28
trabalho nas quais faltam materiais para a execução
das tarefas, ou não há tempo hábil disponível, ou o
trabalhador não é treinado para tal. A consequên-
cia quando estas situações ocorrem são o que cha-
mamos de não conformidades. Abismos formados
pela discrepância entre tarefa e atividade são uma
das principais causas de custos humanos que, conse-
quentemente, resultam em custos financeiros para as
organizações empresariais e toda a sociedade.
1.4 Observações diretas e indiretas
“A atividade não se reduz ao comportamento. O
comportamento é a parte observável, manifesta, da
atividade. A atividade inclui o observável e o não ob-
servável: a atividade intelectual ou mental. A ativida-
de gera o comportamento.” (FALZON, 2009, p. 9).
Para se analisar uma atividade é necessário que
se façam observações. Faverge (1972) elaborou uma
forma de observação na qual há quatro tipos de aná-
lise da atividade. São elas:
• Gestos e posturas: neste tipo de observação é dada
atenção às ações realizadas pelo do trabalhador, sua
frequência e duração. Medidas de frequência cardía-
ca e gasto energético são exemplos de dados quan-
29
titativos a serem levados em consideração neste tipo
de análise.
Na atual ergonomia, a análise dos gestos e posturas
é realizada por vídeos e fotografias, associados à aplica-
ção de ferramentas ergonômicas, programas de compu-
tador e outras ferramentas e instrumentos tecnológicos.
• Aquisição da Informação: neste tipo de obser-
vação realiza-se registro dos movimentos oculares
do trabalhador através de filmagem. Através dis-
so, verificam-se os sinais que o trabalhador utiliza
para buscar informações do ambiente como recurso
para realizar uma tarefa. Pode-se dizer que a análise
da aquisição da informação é um complemento da
análise dos gestos e posturas, pois em geral os mo-
vimentos e as posturas assumidas são respostas de
processos cognitivos.
• Regulação: neste tipo de análise o profissional que
realiza a observação busca identificar os ajustes que
o trabalhador necessita fazer para compensar flutua-
ções do ambiente e de suas próprias condições com
a finalidade de executar e completar o trabalho.
A regulação é um mecanismo de controle que
compara os resultados de um processo com uma
produção desejada e ajusta esse processo em relação
à diferença constatada (FALZON, 2009, p. 10).
30
• Processos mentais: este tipo de observação é reali-
zado principalmente em postos automatizados e de
inteligência artificial. Requerem do observador um
entendimento profundo da forma de raciocinar do
trabalhador na resolução de problemas. Os processos
mentais levam em consideração o planejamento do
trabalho, a antecipação de ações e diagnóstico. Neste
tipo de análise, não é possível realizar uma observação
direta, mas sim inferência e respostas verbais.
1.5 Verbalizações
Ressaltamos a importância das verbalizações
dos trabalhadores para a realização de uma análise
ergonômica. As verbalizações podem ser classifica-
das em “verbalizações espontâneas” e “verbaliza-
ções provocadas”. As primeiras ocorrem esponta-
neamente, sem que haja pedido do profissional de
ergonomia. Quando há um pedido do observador
para que o trabalhador “pense alto”, chamamos de
verbalização provocada.
As verbalizações contribuem em muito para a
comprovação de achados ergonômicos ou confir-
mação de diagnóstico ergonômico, principalmente
em aspectos cognitivos de análise. Em geral, deve-se
incentivar que as verbalizações sejam feitas em tem-
po real de trabalho.
Outro fato importante sobre as verbalizações
31
diz respeito ao nível de confiança que o trabalhador
o qual é o interlocutor possui em relação ao pesqui-
sador, ou o ergonomista observador. Verbalizações
poderão ser mascaradas caso o trabalhador não se
sinta seguro sobre os propósitos reais de uma análise
ergonômica, ou dos resultados que suas verbaliza-
ções poderão gerar para ele mesmo.
A sinceridade dos trabalhadores nas verbaliza-
ções é primordial para que o diagnóstico ergonômi-
co seja claro, confiável e real. Caberá ao ergonomis-
ta observador conquistar esta confiança, a qual em
geral é desenvolvida pela frequência e duração das
observações, além das características organizacio-
nais da instituição empresarial local da observação.
Em suma, o observador tem que “entrar na tribo”
antes de buscar informações do trabalho através de
verbalizações dos trabalhadores.
1.6 Metodologia em ergonomia
Como vimos anteriormente, a ergonomia sur-
giu da necessidade de melhoria do desempenho no
trabalho e respostas socioeconômicas a questões re-
lacionadas a situações de trabalho não satisfatórias.
Desta maneira, a ergonomia foi experimentando,
assinalando fortemente uma atitude científica, dis-
tinguindo-se claramente dos que formulavam reco-
mendações com base em preconceitos sociológicos
32
(WISNER, 1994. p. 87).
Há cerca de 70 anos, os métodos experimentais
de pesquisa em ergonomia permitiram progressos e
melhorias de situações de trabalho que proporciona-
ram avanços tecnológicos e redução de perdas hu-
manas, de tempo e de materiais.
A abordagem metodológica da ergonomia gra-
dativamente foi migrando dos objetivos militares
para os industriais, firmando-se numa abordagem
que demandava fatos, dados quantitativos, conse-
lhos precisos, resultados claramente demonstráveis.
Tudo isso num tempo curto, ou seja, sem atrapalhar
o trabalho industrial (WISNER, 1994). Esta propos-
ta metodológica estende-se até os dias atuais.
A experimentação utilizada para o estudo do ser
humano seguia as mesmas regras para a física e quí-
mica, contribuindo para elucidar fatos indiscutíveis e
permitindo dar conselhos precisos. Porém, este tipo
de abordagem não pertencia nem pertence à pesquisa,
e, sim, a estudos experimentais, ou seja, assim como
nos primórdios da ergonomia, pois, os critérios in-
dustriais não possuíam, tampouco possuem uma base
puramente científica (WISNER, 1994).
Apesar de existirem certas lacunas científicas
de abordagem industrial da ergonomia, ainda assim
esta metodologia possui certos benefícios, os quais
de maneira resumida serão citados. São eles:
33
• Custo: a contribuição ergonômica é de baixo cus-
to, pois basta recorrer ao saber do especialista, aju-
dado por alguns tratados e por experiências simples
e rápidas (quick and dirty);
• Tempo: o trabalho na indústria não foi pertur-
bado, visto que o ergonomista se contentou com
a descrição do problema feita por seu interlocutor
da direção e eventualmente com uma rápida visita
aos lugares, ou com uma análise sumária da situação
(WISNER, 1994. p. 91).
Alguns profissionais atuam em ergonomia mes-
mo sem possuir o conhecimento necessário para exe-
cutar atividades e serviços nesta área. Estes podem
até obter sucesso mesmo ao executar intervenções
insuficientes e frágeis, pois comumente os recebe-
dores dos serviços desconhecem quase que comple-
tamente sobre o funcionamento do corpo humano,
questões relacionadas à biomecânica e a antropome-
tria e outros assuntos de saúde do trabalhador.
(...) muitos ergonomistas, no mundo, prestam servi-
ços agindo dessas maneiras. A razão desse sucesso se
deve ao fato de que a ignorância do funcionamento
do homem é tão profunda na maioria dos planejado-
res que algumas contribuições ergonômicas, mesmo
modestas e desajeitadas, têm um efeito muito positi-
vo. (WISNER, 1994, p. 91).
34
Um dos pontos mais importantes a serem le-
vados em consideração é a variabilidade do homem
ao longo do dia (ciclo circadiano) e também a va-
riabilidade de capacidades e competências de pessoa
para pessoa e entre períodos. Alguns exemplos desta
diversidade são:
• Força muscular;
• Idade;
• Estatura;
• Massa corporal;
• Antecedentes de traumas e patologias;
• Nível e grau de instrução;
• Experiência profissional;
• Gênero;
• Etc.
É comum que planejadores de trabalho tenham
fracassado ao tentar projetar demandas de trabalho
para o ser humano, levando em consideração experiên-
cias puramente tecnológicas, ou seja, não se pode com-
parar a variabilidade do homem com a variabilidade de
uma máquina. Há 50 anos este era um erro frequente.
Apesar de variabilidade do homem e também
da tarefa e atividade, há ainda administradores, en-
genheiros de produção e outros gestores fabris que
insistem em se basear no sistema homem-máquina
ao elaborar e dimensionar a produção, ou seja, com-
35
parar o homem a uma máquina.
1.6.1 Análise Ergonômica do Trabalho
A primeira vez que a Análise Ergonômica do
Trabalho foi proposta foi em 1955, através do livro “A
Análise do Trabalho”, de autoria de Faverge e Om-
bredane. O desenvolvimento desta metodologia pros-
seguiu através dos ergonomistas Güerín, Montmollin,
Wisner, Leplat, e Laville, os quais aprofundaram suas
bases teóricas e diversificaram suas aplicações.
A Análise Ergonômica do Trabalho é definida
como um conjunto estruturado e intercomplemen-
tar de análises situadas, de natureza global e sistemá-
tica, sobre os determinantes da atividade das pessoas
numa organização (GÜERÍN, 2001).
A Análise Ergonômica do Trabalho centra seus
objetivos, métodos e desenvolvimentos teóricos so-
bre a atividade de trabalho, suas dificuldades físicas
e/ou cognitivas e sobre as condições de trabalho en-
contradas nas empresas (GÜERÍN, 2001).
Nas ações ergonômicas demandadas pelas or-
ganizações é importante que o profissional de ergo-
nomia dê atenção não só para as bases científicas
desta disciplina, mas também para os resultados eco-
nômicos que a organização empresarial conseguirá
com esta ação.
Güerín et al (2001) intitula um de seus livros
36
com a seguinte expressão: “Compreender o Traba-
lho para Transformá-lo” e defende que os objetivos
da ação ergonômica têm estes dois enfoques, um
voltado para os trabalhadores, sua saúde e valoriza-
ção e outro voltado para os objetivos econômicos
da empresa.
A metodologia de Análise Ergonômica do Tra-
balho – AET leva em conta estes dois objetivos ma-
cros e através da AET busca-se resolver problemas
relacionados a situações de adaptação ou concepção
de sistemas de produção nos quais o foco foi pu-
ramente financeiro, técnico ou organizacional, não
favorecendo uma reflexão sobre o a influência dos
meios de trabalho e cuja concepção não leva sufi-
cientemente em consideração as variabilidades dos
trabalhadores e do ambiente (GÜERÍN, 2001).
Segundo Güerín (2001), o objetivo da AET é:
a) Conhecer e explicar as relações entre a saúde dos
trabalhadores e as condições de realização do trabalho;
b) Compreender o trabalho para uma posterior trans-
formação ou concepção de novas situações laborais;
c) Melhorar a organização dos sistemas sociotécni-
cos, a gestão dos recursos humanos e, em consequ-
ência, o desempenho da empresa como um todo.
A Análise Ergonômica do Trabalho - AET pos-
37
sui cinco componentes estruturais, os quais se confi-
guram como etapas metodológicas introdutórias, de
desenvolvimento e de recomendações.
Esta estruturação da AET promove uma base
crescente de conhecimentos sobre o estudo em
questão. Estas etapas metodológicas são a análise da
demanda (1), a análise da tarefa (2), a análise da ati-
vidade (3), o diagnóstico ergonômico (4) e as reco-
mendações ergonômicas (5). Cada etapa possui suas
características e especificidades e, como tal, reque-
rem uma abordagem específica.
A análise da demanda é a primeira das 05 eta-
pas. Ela é apresentada ao ergonomista pelo dirigente
da empresa ou por um de seus representantes legais,
ou seja, quando o ergonomista é solicitado, em geral,
já se conhece algumas das não conformidades ergo-
nômicas da organização, ou tentativas de tratamento
técnico (FALZON, 2007).
Segundo Falzon (2007), a análise da demanda
tem os objetivos de:
a) Identificar a história da demanda e seu contex-
to, a população envolvida, além do demandante
que entrou em contato, e as tentativas de respos-
ta já realizadas;
b) Identificar os desafios propostos pela demanda,
os quais podem ser diversos, como desafios econô-
micos, de saúde e segurança ocupacional e gestão.
38
Identificar também os responsáveis pela permissão
para início da intervenção ergonômica;
c) Recolher informações que permitam realizar os
estudos dos problemas demandados, como por
exemplo, consulta ao Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais (PPRA), Programa de Controle
de Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO), esta-
tística de acidentes, etc.
d) Identificar as representações e expectativas que os
responsáveis da organização empresarial possuem
do ergonomista;
e) Identificar a cultura organizacional da empre-
sa, os limites de intervenção (sociais, econômi-
cos, temporais);
f) Permitir ao ergonomista verificar sua competência
e pertinência de sua intervenção e possível reformu-
lação dos objetivos e modalidades de ação.
É recomendado que antes da contratação de
um serviço de ergonomia seja possível que o ergo-
nomista realize uma visita para a empresa deman-
dante do serviço. Neste momento, o ergonomista
poderá tomar conhecimento da demanda, caracte-
rísticas do trabalho e da empresa, prazos etc. Um
projeto ou contrato deverá contemplar os seguintes
características e aspectos (FALZON, 2007):
• A demanda reformulada;
39
• Os prazos;
• A natureza das contribuições que se esperam do
ergonomista, seus prazos e grau de precisão;
• As condições de sucesso da intervenção, como
por exemplo, o acesso às situações de trabalho, do-
cumentos e pessoas, regras da intervenção, recursos
técnicos, modalidades de difusão dos resultados.
Enfim, a análise da demanda visa compreender
bem a natureza e o objetivo do pedido (WISNER,
1994) a qual servirá de base para a sequência do tra-
balho a ser realizado pelo ergonomista.
A análise da tarefa, como discutido anterior-
mente, é parte da prescrição do trabalho, das nor-
mas e dos recursos disponibilizados pela empresa.
A tarefa diz respeito ao que o trabalhador tem que
fazer, segundo determinadas normas e padrões de
qualidade e de quantidade. A tarefa, portanto, abran-
ge as condições de trabalho, pois influenciam as pos-
sibilidades de ação (ABRAHÃO et al, 2009).
A tarefa de maneira geral compõe-se dos se-
guintes elementos a serem analisados:
• Pessoas
• Ações
• Informações
• Entradas e saídas
• Máquinas
40
• Ambiente
• Condições organizacionais
Em relação às pessoas os elementos de análise
da tarefa são:
Em relação ao ambiente os elementos de análi-
se da tarefa são:
Ainda outros elementos ambientais que devem
ser levado em consideração para a análise da tarefa são:
• Materiais;
41
• Ferramentas;
• Cargas;
• Dimensões;
• Mobiliário;
• EPI / EPC;
• Dispositivos de informações;
• Controles;
• Substâncias químicas.
Em relação às questões organizacionais os ele-
mentos de análise da tarefa são:
• Jornada;
• Turnos;
• Hora-extra;
• Salário;
• Plano de carreira;
• Relações de trabalho;
• Valorização social do trabalho;
• Trabalho em grupo;
• Rodízios;
• Estilos gerenciais.
A análise da tarefa aborda um conjunto de ob-
jetivos e prescrições dados aos operadores, definida
pelos seus modos operatórios, as instruções, as nor-
mas de segurança e os recursos da empresa dispo-
nibilizados aos operadores para a realização de suas
42
atividades (GUERIN, 2001).
A análise da tarefa também é considerada como
um princípio que impõe um modo de definição do
trabalho em relação ao tempo. A característica prin-
cipal da tarefa é sua exterioridade em relação ao tra-
balhador envolvido (GUERIN, 2001).
A exterioridade diz respeito ao planejamento
do trabalho por um engenheiro de produção, um ad-
ministrador ou gestor que não participa ativamente
in loco da produção por ele planejada. Frequente-
mente, estes gestores não levam em conta as particu-
laridades dos operadores e muito menos o que eles
pensam sobre as escolhas feitas e impostas (GUE-
RIN, 2001).
Após a abordagem da análise da tarefa a qual
diz respeito às prescrições e regulamentos do traba-
lho, iremos agora discorrer sobre a análise da ativi-
dade, sua natureza e características, seus elementos
de estudo, conceitos e definições.
De maneira introdutória, vimos que a atividade
difere da tarefa da mesma forma que o trabalho real
difere do trabalho prescrito. Variabilidades decor-
rentes da tecnologia, das pessoas e da organização
constituem estas diferenças entre o que é real e o que
é prescrito. Outro fator que contribui para esta dis-
crepância é limitações e fragilidades do planejamen-
to da produção, dificuldades de recursos ofertados
pela empresa e restrições temporais para a produção.
43
De maneira geral, podemos dizer que a ativida-
de consiste naquilo que o trabalhador faz, suas ações,
suas decisões para atingir os objetivos definidos na
tarefa ou redefinidos de acordo com o trabalho real
(ABRAHÃO et al., 2009).
Há ainda uma dimensão importante da atividade:
a forma como o trabalhador executa para atingir os ob-
jetivos propostos para a tarefa. Esta dimensão contem-
pla o trabalho muscular (força, flexibilidade, controlo
motor, posturas assumidas, etc.), e as atividades cogni-
tivas do trabalhador (ABRAHÃO et al., 2009).
A análise da atividade se faz através da observa-
ção dos comportamentos dos trabalhadores, sua fala,
a direção do olhar, os gestos, os movimentos, desloca-
mentos, etc. A atividade pode ser analisada também a
partir das estratégias operatórias adotadas pelo traba-
lhador para cumprir as metas com as condições for-
necidas pela empresa (ABRAHÃO et al., 2009).
Os elementos analisados devem ser quantificá-
veis através de registros estatísticos, fotografias, ví-
deos, planilhas, softwares, entrevistas, questionários
etc. De maneira resumida, os aspectos a serem defi-
nidos e analisados são:
• Realização do trabalho;
• Percepção do trabalho;
• Gestos e movimentos;
• Posturas e vícios;
44
• Ritmo de trabalho;
• Pausas e repousos;
• Fatores sociais;
• Técnicas de análise.
As características de resultado em uma Análise
Ergonômica do Trabalho (AET) constam de:
A Figura 5 ilustra as relações entre tarefa e ativi-
dade, suas diferenças e particularidades. Nota-se que
a tarefa está relacionada às condições predetermina-
das e a resultados antecipados e a atividade de traba-
45
lho às condições reais de trabalho e ao resultado real.
O diagnóstico ergonômico, parte integrante de
uma Análise Ergonômica do Trabalho é resultado de
uma reflexão e avaliação das etapas pregressas ante-
riormente conduzidas.
Não se pode identificar um diagnóstico ergonô-
mico sem antes ter abordado o assunto ou tema em
questão. Por exemplo, não se pode no diagnóstico
identificar uma postura incorreta de um trabalhador
que realiza uma atividade qualquer sem ter registra-
do esta postura por meio de fotografias ou vídeos na
análise da atividade, ser ter registrado a frequência
que o trabalhador assume tal postura.
Além disso, não se pode diagnosticar que a
postura “x” assumida gera riscos de doenças oste-
omusculares sem corroborar esta informação nas
46
estatísticas de afastamentos ou registros de entrada
no serviço médico da empresa por conta de dores
ou qualquer distúrbio igual ou similar ao identifica-
do, seja pelo trabalhador em questão ou por outros
trabalhadores que realizam o mesmo tipo de tarefa.
O diagnóstico ergonômico resulta da articula-
ção dos dados resultantes das hipóteses iniciais de
pesquisa levantadas durante a análise da demanda,
das observações livres do ergonomista, da comple-
xidade e da variabilidade das situações de trabalho,
das questões relacionadas à organização do trabalho
ou a cultura organizacional e dos conhecimentos do
ergonomista (ABRAHÃO et al., 2009)
A formulação do diagnóstico ergonômico tem
como objetivo a reformulação das questões iniciais
e hipóteses de base, contribuir para desvendar as es-
tratégias usadas pelos operadores para realizar uma
atividade e contribuir para uma mudança das repre-
sentações sobre o trabalho (ABRAHÃO et al., 2009).
Segundo Guerín (2001), o diagnóstico ergonômico
também contribui para a resolução de problemas
micro e macro e identificar sintomas relacionados a
não conformidades, como por exemplo:
• Erros humanos;
• Incidentes críticos;
• Afastamentos;
• Falta de qualidade nos serviços.
47
Por fim, as recomendações ergonômicas são
o produto do esforço metodológico realizado nas
etapas iniciais e finais de uma AET. Por isso, a er-
gonomia é uma ciência e uma técnica, uma ciência
porque requer uma abordagem de pesquisa científica
e também porque demanda ações transformadoras
de cunho socioeconômico.
Não existe uma ação ergonômica sem a busca
pela transformação do trabalho, a melhoria dos pro-
cessos produtivos, da valorização do profissional na
empresa e sua proteção contra doenças ocupacio-
nais e acidentes de trabalho.
É importante que haja envolvimento de vários
profissionais e representantes da empresa para que
as recomendações ergonômicas sejam mais comple-
tas, menos restritivas e alcancem as expectativas de
todos envolvidos. Não se faz ergonomia sem envol-
vimento dos trabalhadores.
Segundo Guerín (2001), as recomendações er-
gonômicas contemplam uma apresentação do es-
tudo, objetivo, e resultados, o modelo operativo de
ação e os custos das modificações e perspectivas. Al-
guns exemplos de melhorias são:
• Projeto de novos sistemas de trabalho;
• Análise de tempos e movimentos;
• Antropometria;
• Enriquecimento das tarefas;
48
• Controle do ritmo de trabalho;
• Rodízio das tarefas;
• Pausas energéticas;
• Relaxamento muscular;
• Pequenas melhorias;
• Correção dos vícios.
A Figura 6 ilustra a relação entre as etapas de
uma Análise Ergonômica do Trabalho com a tipo-
logia de recursos de investigação em pesquisa que
devem ser realizados para levantamento de dados,
reflexões analíticas e alcance dos objetivos.
Finalizamos este capítulo ressaltando que o
foco da Análise Ergonômica do Trabalho é contri-
buir para o cumprimento do item 17.1 da NR 17, o
qual informa:
49
Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer pa-
râmetros que permitam a adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas dos tra-
balhadores, de modo a proporcionar um máximo de
conforto, segurança e desempenho eficiente.
Para que se possa atingir o objetivo supracitado,
a NR 17 informa os requisitos mínimos de interven-
ção e análise para o desenvolvimento de uma AET.
Estes requisitos são:
• Levantamento, transporte e descarga individual
de materiais;
• Mobiliário dos postos de trabalho;
• Equipamentos dos postos de trabalho;
• Condições ambientais de trabalho:
• Organização do trabalho:
o As normas de produção;
o O modo operatório;
o A exigência de tempo;
o A determinação do conteúdo de tempo;
o O ritmo de trabalho;
o O conteúdo das tarefas.
50
A AET trata-se de um documento dinâmico
e por isso deve estar baseado em ações mediatas e
imediatas, ou seja, é necessário que se gerencie os
achados obtidos durante o levantamento das infor-
mações para a melhoria do trabalho.
51
Exercícios
1) Explique a relação do desenvolvimento da ergo-
nomia com o pós II Guerra Mundial.
2) Explique por que atualmente as principais pesqui-
sas científicas possuem foco na ergonomia cognitiva
e organizacional.
3) Explique por que a ergonomia possui natureza
interdisciplinar.
4) Segundo Abrahão et al. (2009), há três pressupos-
tos para uma compreensão da ação ergonômica e de
suas metodologias
5) Por que empregadores e empregados se benefi-
ciam da ergonomia?
Unidade 2
55
2. ERGONOMIA FÍSICA
Os distúrbios musculoesqueléticos encontram-
-se como uma das principais causas de afastamento
do trabalho, tanto nos países desenvolvidos quanto
nos países em desenvolvimento. A ergonomia física
configura-se, portanto, numa ferramenta fundamen-
tal de saúde e segurança do trabalho. Veremos neste
capítulo as características da ergonomia física, os te-
mas que aborda, e natureza de atuação profissional.
Neste tipo de ergonomia são abordadas as ca-
racterísticas anatômicas, antropométricas, fisiológi-
cas e biomecânicas do homem em sua relação com
a atividade física. A repetitividade, as cargas e postu-
ras de trabalho, o levantamento e o carregamento de
objetos, as LER/DORT, o layout do posto de traba-
lho, a segurança e a saúde são os aspectos abordados
na ergonomia física (IEA, 2000).
Visto que para compreender as diferenças cor-
porais é necessário conhecer as características ana-
tômicas e fisiológicas básicas do sistema musculoes-
quelético, para iniciar nossos estudos em ergonomia
física iremos abordar assuntos básicos sobre o fun-
56
cionamento do corpo humano, como por exemplo,
os músculos, tendões e articulações. Em seguida
abordaremos sobre o trabalho muscular, biomecâni-
ca, e gasto energético.
2.1 Músculos Esqueléticos
Através da atividade motora os músculos se
desenvolvem, aumentam de volume e força muscu-
lar, independentemente se esta atividade muscular
ocorre dentro ou fora de empresas. Entretanto, o
desenvolvimento muscular segue padrões fisiológi-
cos de treinamento e requer períodos de descanso
e recuperação. Por exemplo, para aumento da força
muscular o indivíduo deve realizar treinamento ativo
de aplicação de forças intensas com o objetivo de au-
mentar o número de filamentos de actina e miosina
(miofibrilas) e o volume do retículo sarcoplasmático.
O exercício de alta intensidade aumenta também a
atividade enzimática dos músculos estriados. Por outro
lado, a inatividade muscular causa a atrofia do tecido
muscular e a sobrecarga de exercícios causam dores, in-
flamações e lesões das fibras do tecido muscular.
A sobrecarga muscular resultante do excesso de
exercícios e de falta de tempo de descanso e recupe-
ração resulta em degeneração muscular, que depen-
dendo do tempo de ação do estímulo nocivo poderá
gerar doenças músculo tendinosas crônicas.
57
Em atividades laborais as ações motoras em
geral requerem padrões de controle muscular como
precisão, aplicação de força, manutenção de ritmos
ativos de contração, podendo ser contrações estáti-
cas e dinâmicas, frequência e duração da ação mo-
tora. Quaisquer sobrecargas destas ações musculares
podem resultar em danos físicos aos trabalhadores,
como fadiga, dores e lesão tecidual. A Figura 7 ilustra
esquematicamente as estruturas da fibras musculares.
Os principais fatores de risco para o desencade-
amento de transtornos musculares relacionados ao
trabalho são:
• Repetição da contração muscular;
• Necessidade de aplicação de força ao exercer
uma atividade;
58
• Permanência de contração muscular estática;
• Manutenção de posturas estáticas e assimétricas;
• Necessidade de trabalhar com contrações muscula-
res precisas (movimentos finos);
• Alta demanda visual no trabalho;
• Vibrações de membros superiores e de corpo inteiro.
Estes riscos são potencializados caso não haja
períodos suficientes de recuperação fisiológica antes
do próximo período ou jornada de trabalho. Fatores
ambientais, socioculturais ou pessoais também po-
dem potencializar os riscos de lesões ou distúrbios
nos tecidos musculares.
A experiência e os dados estatísticos demons-
tram que os principais locais de acometimento de
dores musculares são nas articulações dos membros
superiores: ombros, cotovelos e punhos, algumas ve-
zes irradiadas para braços e antebraços e também na
região da coluna vertebral, principalmente na região
lombar. Alguns exemplos das enfermidades muscu-
lares relacionadas ao trabalho são:
a) Reumatismo muscular;
b) Fibrose
c) Miosite;
d) Mialgia;
e) Fibromialgia;
f) Síndrome miofascial;
59
g) Dores e lesões do maguito rotador;
h) Epicondilites;
i) Bursites;
j) Etc.
2.2 Trabalho Muscular
Apesar dos avanços tecnológicos, e da redu-
ção dos trabalhos pesados, muitas atividades in-
dustriais ainda são realizadas através de aplicação
de esforços musculares estáticos e dinâmicos por
parte dos trabalhadores.
Neste item veremos como o trabalho muscular
pode influenciar a saúde dos trabalhadores e como a
ergonomia pode contribuir na prevenção de distúr-
bios osteomusculares relacionados ao trabalho.
Para começar nosso estudo vamos dividir o tra-
balho muscular em dois principais grupos:
a) Trabalho muscular dinâmico;
b) Trabalho muscular estático.
Sendo estes tipos de trabalhos musculares de-
sempenhados na manipulação de materiais (elevação
e carregamento) ou em trabalhos repetitivos.
2.2.1 Trabalho muscular dinâmico
60
No trabalho muscular dinâmico, os músculos
esqueléticos estão constantemente se contraindo e
se relaxando, desta forma, o fluxo sanguíneo local
aumenta, irrigando o músculo esquelético e permi-
tindo sua nutrição e metabolismo. Este aumento do
aporte sanguíneo muscular ocorre devido ao bom-
beamento do sangue pelo coração, que em geral re-
duz o fluxo sanguíneo que iria para outras áreas do
corpo e aumentando o número de vasos sanguíneos
abertos na musculatura que está em trabalho.
A frequência cardíaca, a pressão sanguínea e o
consumo de oxigênio dos músculos aumentam de
acordo com a intensidade do trabalho muscular. Em
conjunto, aumenta-se também a ventilação pulmo-
nar e a frequência respiratória.
O sistema cardiorrespiratório fica mais ativado
para promover um maior aporte de oxigênio que é
levado pelo sangue arterial até os músculos que es-
tão desenvolvendo o trabalho dinâmico.
Quanto maior for o consumo de oxigênio pe-
los músculos, maior será a intensidade do trabalho
muscular dinâmico. Ou seja, o consumo máximo de
oxigênio (VO2max) indica a capacidade máxima que
uma pessoa possui para o trabalho aeróbico. Além
disso, os valores do consumo de oxigênio indicam
também o gasto energético do indivíduo, por exem-
plo, 1 litro de O2/min = 5 kcal/min.
Quanto maior o volume e a massa do tecido
61
muscular maior será a capacidade de trabalho dinâ-
mico do músculo. Proporcionalmente, o trabalho
dinâmico realizado por músculos pequenos (ex.: bí-
ceps braquial) gera uma maior resposta cardiorres-
piratória (aumento da frequência cardíaca e pressão
sanguínea) do que o trabalho de músculos grandes
(ex.: quadríceps).
“ Saibamais
                     Quando a contração muscular estiver
entre 15 a 20% de sua força máxima, a circulação
sanguínea continua normalmente. Porém quando
essa contração chega a 60% o sangue deixa de circu-
lar no interior do músculo. Em consequência disso
o músculo entra em fadiga rapidamente, não sen-
do possível mantê-lo contraído por mais de 1 ou 2
minutos. Em seguida ocorre uma dor muscular que
provoca uma interrupção obrigatória do trabalho.
(texto extraído do livro Ergonomia – Projeto e Pro-
dução do autor Itiro Iida – 2005, págs. 161 e 162).
2.2.2 Trabalho muscular estático
O trabalho muscular estático é o tipo de con-
tração de maior risco para a gênese de distúrbios
dolorosos e lesões. Isto ocorre porque durante a
contração muscular não há movimento articular e o
62
fluxo de sangue para a região fica restrito devido ao
espasmo do tecido muscular, favorecendo a fadiga
mais facilmente do que em trabalhos dinâmicos.
O aumento da pressão sanguínea é a princi-
pal característica da contração muscular estática. A
frequência cardíaca e o gasto cardíaco não sofrem
grandes variações. A Figura 8 ilustra o músculo ope-
rando em condições desfavoráveis de aporte san-
guíneo quando em contração estática, favorecendo
o acometimento de fadiga muscular e lesões ao se
comparar com o trabalho muscular dinâmico.
A carga estática não deve superar 8% da força
máxima muscular, quando estes esforços precisam
ser realizados diariamente, durante várias horas. Se
essa carga estática chegar de 15 a 20% da força máxi-
ma muscular e se for executada durante dias e sema-
nas sem intervalos, a consequência será a incidência
63
de fadiga, dores e doenças osteomusculares (IIDA,
2005, p. 162).
2.2.3 Prevenção de sobrecarga muscular
A sobrecarga muscular ocorre quando a capaci-
dade de trabalho de um músculo ou grupo de mús-
culos é superada pela demanda imposta durante uma
atividade. Em geral, a fadiga é o primeiro sinal de
sobrecarga muscular, reduzindo a capacidade para o
trabalho, a produtividade e a qualidade do trabalho.
Para a prevenção da sobrecarga muscular é ne-
cessário verificar o conteúdo do trabalho e o am-
biente no qual o trabalhador está inserido. A subs-
tituição da aplicação de força muscular por meios
técnicos de levantamento e carregamento de cargas
é um dos principais recursos para a prevenção de
sobrecargas musculares.
Outra maneira de prevenção é flexibilizar as
atividades, rodízios de tarefas, pausas e redesenho
do trabalho de acordo com as capacidades do tra-
balhador e a demanda. O foco é reduzir ao máximo
o trabalho muscular estático e o trabalho repetitivo.
Importante também que o trabalhador seja trei-
nado, possua condição física de acordo com a deman-
da, controle o sobrepeso e não seja sedentário. Isto
porque os esforços em ergonomia podem ser insufi-
cientes se não tiverem a contribuição do trabalhador.
64
2.3 Discos Intervertebrais
Os discos intervertebrais são estruturas que
se localizam na coluna vertebral. Eles permitem o
movimento e a flexibilidade do tronco, realizam as
transmissões de cargas e redução de impactos. Os
distúrbios em coluna vertebral ocorrem devido a
alguma alteração morfológica dos discos interverte-
brais, como alteração de seu formato ou da sua lo-
calização entre as vértebras, ou ainda do seu núcleo,
redução de espessura, ou distúrbios em suas fibras.
As hérnias de disco são um exemplo destes casos.
A coluna vertebral é composta por 24 discos
intervertebrais que se situam entre as vértebras. O
volume dos discos intervertebrais aumenta à medi-
da que se posicionam na coluna na direção superior
para inferior.
Os discos intervertebrais são formados por um
tecido cartilaginoso. Em sua região interna contém
o núcleo pulposo, que é uma massa gelatinosa que
permite a redução de cargas na coluna vertebral. No
perímetro externo do disco intervertebral há o anel
fibroso, que é uma estrutura muito firme, como se
fosse uma rede trançada. Este anel fibroso tenta im-
pedir que o núcleo pulposo sofra herniações quando
o disco intervertebral é submetido a cargas axiais ou
laterais de compressão.
65
Como informado anteriormente, o disco inter-
vertebral transmite e distribui as cargas mecânicas ao
longo da coluna vertebral. O disco permite também
que o ser humano permaneça em postura bípede e
use concomitantemente seus membros superiores
em diversos tipos de atividades. Permite ainda fazer
o tronco curvar-se, torcer-se e se inclinar.
Durante as atividades laborais os discos inter-
vertebrais podem ser submetidos a cargas mecânicas
complexas, principalmente se a natureza das ativi-
dades seja física, como no levantamento e carrega-
mento de cargas, trabalhos manuais, trabalhos que
exijam a aplicação de forças etc.
Por exemplo, a extensão e a flexão de tronco
produzem forças de tração e compressão nos dis-
cos intervertebrais. Já a rotação da coluna produz
tensões transversais de cisalhamento. Em geral, con-
66
tudo, não há movimentos puramente de flexão, ex-
tensão, inclinação lateral ou de rotação. Na prática
os movimentos corpóreos, incluindo no tronco são
compostos de dois ou mais tipos de movimentos.
A Figura 10 ilustra os níveis de pressão do 3º
disco intervertebral lombar nas diferentes posturas.
Percebam que a pressão é maior na postura sentada
do que na posição ortostática (em pé). Permanecer
na postura sentada por longos períodos é um risco
ocupacional para lesões em coluna vertebral, princi-
palmente na região lombar.
Medições de cargas mecânicas realizadas nos
discos intervertebrais demonstram que a posição
sentada gera uma pressão cinco vezes maior do que
na posição deitada. O levantamento de cargas au-
menta ainda mais as cargas na coluna. Se esta carga
for elevada longe do eixo axial do corpo as pressões
67
nos discos intervertebrais crescem muito. Este é o
principal risco de lesões em coluna vertebral: elevar
cargas a partir do solo e longe do eixo axial do corpo.
Outros riscos importantes são a elevação e o
transporte repetitivo de cargas pesadas ou a perma-
nência do trabalhador em posturas de flexão, hipe-
rextensão, inclinação e torção. Os riscos aumentam
quando estas posturas são compostas. Os riscos de
lesões lombares estão associados também à vibra-
ção, principalmente na frequência de 5 a 10 Hz e ca-
racterísticas pessoais do indivíduo, como por exem-
plo, o sobrepeso, o sedentarismo, lesões prévias e
encurtamento muscular.
A prevenção de distúrbios em coluna vertebral
é baseada em três parâmetros de conduta:
a) O desenho (layout) e os espaços de trabalho;
b) Educação e formação;
c) Seleção do trabalhador1
.
O Quadro 2 expõe de maneira sistemática e su-
cinta exemplos de parâmetros de melhoria para re-
dução de riscos de lesões em coluna vertebral lom-
bar (HALPERN, 1992).
1
A seleção de trabalhador não faz parte da ergonomia, pois fere os princípios
antropocêntricos da disciplina de “adaptar o trabalho ao homem”, porém pode
fazer parte de ações práticas de proteção ao trabalhador por períodos pré-
-determinados e quando todos os outros recursos falharem.
68
A maioria das ações ergonômicas de prevenção
de distúrbios em coluna vertebral lombar focalizam
seus esforços na redução da frequência de levanta-
mento de cargas, localização inicial para seu levanta-
mento para inibir a necessidade de flexão, inclinação
e torção de tronco, adequação das pegas (alças) e na
adaptação dos espaços de trabalho.
Parte das melhorias nesta área envolve a tecno-
69
logia, como a substituição do esforço muscular pela
ação de forças de máquinas e equipamentos, princi-
palmente se há uma dificuldade em adaptações con-
forme descritas no parágrafo anterior.
A manipulação de pacientes no leito (banhos,
medicações), sobretudo os pacientes obesos e de-
pendentes (em leitos de UTI, por exemplo), a in-
serção de mecanismos para elevação como o Jack,
Viking (lifts) é mais eficaz do que tentar seguir as
prescrições contidas no parágrafo anterior, visto que
a carga a ser manipulada pelo trabalhador é um ser
humano e ainda que haja tecnologia envolvida as al-
turas e dimensões à serem trabalhadas possuem res-
trições impostas pelo leito hospitalar.
Outro ponto importante é a educação e forma-
ção dos trabalhadores. Não se pode permitir que os
trabalhadores sejam alocados em tarefas que requei-
ram a manipulação de cargas sem que eles recebam
treinamento adequado e periódico sobre as formas
corretas de desempenhar suas atividades. Além dis-
so, a NR-17 exige que seja feita uma capacitação so-
bre o assunto para os trabalhadores que manipulem
cargas em seu trabalho.
Estes treinamentos deverão ser documentados
e cada trabalhador deverá assinar uma lista de pre-
sença para comprovar sua participação. Uma avalia-
ção do treinamento deverá ser feita por eles com o
objetivo de melhoria da qualidade do evento.
70
A seleção do trabalhador como exposto ante-
riormente deve ser feita em última instância, pois o
que deve ser adaptado é o trabalho e não o indiví-
duo. Entretanto, temos que convir que há trabalhos
de natureza pesada os quais uma seleção pode ser a
forma mais adequada de prevenção de dores lomba-
res (bombeiros, policiais, pedreiros etc.).
2.4 Antropometria
A antropometria é um conjunto de teorias e
práticas dedicadas a definir os métodos e variáveis
para medir o ser humano com o objetivo de assegu-
rar seu conforto, segurança e saúde ao executar suas
atividades. A antropometria é um importante ramo
de estudo da ergonomia física.
A antropometria se relaciona com a estrutura
do corpo, sua composição, massa, estatura, dimen-
sões, constituição corporal e os espaços de trabalho,
as máquinas e o ambiente como um todo.
Para o estudo da antropometria padronizam-se
algumas variáveis antropométricas de medida, que
expressam uma dimensão padrão do corpo ou um
segmento corporal. São definidos pontos de referên-
cia precisos do corpo, como por exemplo, medidas
realizadas a partir de proeminências ósseas ou extre-
midades de um membro.
As medidas antropométricas podem ser lineares,
71
como a altura ou a distância entre pontos de referên-
cia corporais, angulares, como por exemplo, o ângulo
formado pela flexão máxima do tronco ou do punho
de um indivíduo. Pode ser ainda um perímetro, como
o perímetro do braço na altura média do músculo bí-
ceps, ou a medida da cintura pélvica etc.
Os instrumentos mais comuns utilizados na
antropometria são a fita métrica, o goniômetro e o
estadiômetro. Entretanto, atualmente muitas das me-
didas antropométricas são resultados de instrumentos
complexos automatizados, utilizados principalmente
em laboratórios de biomecânica e antropometria (dis-
ciplinas complementares) e softwares diversos.
A Figura 11 ilustra as principais variáveis antro-
pométricas, como por exemplo, a estatura, as distân-
cias dos membros superiores e inferiores, as dimen-
sões da cabeça, os alcances horizontes na postura
em pé e sentado.
“ Saibamais Eletromiografia (EMG): é o estudo da ativi-
dade elétrica do músculo. O estudo do músculo a partir dessa
perspectiva pode ser muito válido por proporcionar informa-
ção concernente ao controle dos movimentos voluntários e/
ou reflexos. O estudo da atividade muscular durante determi-
nada tarefa pode revelar quais músculos iniciam e cessam sua
atividade. Além disso, é possível quantificar a magnitude da
resposta elétrica dos músculos durante a tarefa.
72
Eletromiograma é o perfil do sinal elétrico detectado por um
eletrodo num músculo, ou seja, é a medida do potencial de ação
do sarcolema.
Sinal de EMG é registrado usando um eletrodo, que funciona
como uma antena, podendo estar interno ou superficialmente
sobre a pele. O eletrodo interno é uma agulha que é aplicada
diretamente sobre o músculo. Este tipo de eletrodo é utilizado
para músculos profundos ou pequenos. Eletrodos de superfí-
cies são aplicados sobre a pele, por cima de um músculo, de
modo que são utilizados principalmente para músculos super-
ficiais (é o mais utilizado em estudos biomecânicos).
(Texto extraído do livro “Fundamentos do Movi-
mento Humano” de Joseph Hamill, p. 85 e 86).
73
A antropometria é uma ferramenta que auxilia
na definição das distâncias de trabalho, como por
exemplo, a altura ideal de uma bancada, de uma
mesa para uso de computadores etc., o diâmetro de
uma alça, de um assento para uso em escritórios ou
para veículos, ou ainda para determinar o tamanho
exato do uniforme dos trabalhadores.
Como exposto anteriormente, nos dias atuais,
softwares diversos auxiliam no dimensionamento
antropométrico, sendo na prática as medidas seg-
mentares individuais ficarem quase que restritas para
trabalhos de cunho científico, ou seja, laboratórios
principalmente de universidades ou em indústrias
multinacionais, como montadoras de veículos para a
resolução de problemas bem específicos.
2.5 Biomecânica Ocupacional
A biomecânica é uma disciplina que une dois ra-
dicais: “bio” (sistema vivo) + “mecânica” (análise de
forças e seus efeitos) para estudar os movimentos cor-
porais e forças relacionadas ao trabalho. Ela estuda a
forma que o organismo exerce força e gera movimento.
A biomecânica une as ciências físicas, ciências
biológicas e ciências comportamentais para compre-
ender a carga física de trabalho. Ela utiliza leis da
física e conceitos de engenharia para descrever mo-
vimentos realizados por vários segmentos corpóreos
74
e forças que agem sobre estas partes do corpo du-
rante atividades normais de vida diária (CHAFFIN
et al, 2001, p.1)
A biomecânica estuda as interações do ser hu-
mano com os materiais, ferramentas, posto de traba-
lho e máquinas com o objetivo de reduzir os distúr-
bios músculo esqueléticos.
Segundo Hall (2007), os movimentos humanos
podem ser analisados de maneira quantitativa ou
qualitativa. A análise quantitativa, como o próprio
nome diz, inclui informações numéricas, enquanto
a análise qualitativa requer descrições de caracte-
rísticas relacionadas às qualidades, ou seja, sem ne-
cessidade de números. Por exemplo, ao se analisar
um trabalhador pegando um documento numa im-
pressora o observador poderia dizer: o trabalhador
inclinou-se pouco para tal (ao descrever o movimen-
to de maneira qualitativa). De maneira quantitativa,
o observador poderia dizer, o trabalhador flexionou
seu tronco em 15 graus para alcançar o documento.
O corpo humano assemelha-se a um sistema de
alavancas movido pela contração muscular. Vejamos
como o corpo humano trabalha como alavancas. A
Figura 12 ilustra o tipo de alavanca interfixa, na qual
o ponto de apoio encontra-se entre a carga e o ponto
de aplicação da força.
75
A Figura 13 ilustra o tipo de alavanca interresis-
tente, na qual a resistência (carga) permanece entre o
ponto de apoio e o local de aplicação da força.
Segundo Couto (2002), o ser humano possui
pouca capacidade de aplicação de forças físicas no tra-
balho, pois suas alavancas fisiológicas possuem carac-
terísticas que habilitam a realização de movimentos
de alta velocidade e grande amplitude de movimento,
porém com baixa capacidade de força e aplicação de
resistências. Isto ocorre pela predominância no corpo
76
humano de alavanca do tipo interpotente
A Figura 14 ilustra o tipo de alavanca interpo-
tente, na qual o local de aplicação da força perma-
nece entre o ponto de apoio e a resistência (carga).
O movimento humano é composto por dois
tipos de movimentos: o movimento linear e o mo-
vimento angular. Geralmente atuam simultaneamen-
te numa combinação complexa a qual chamamos de
movimentação geral.
O movimento linear também é denominado de
movimento de translação ou translacional (HAMILL,
2008). Este tipo de movimento ocorre ao longo de
uma trajetória retilínea, ou ainda, de maneira curva em
que todos os pontos num corpo ou objeto se movi-
mentam numa mesma direção e num mesmo interva-
lo de tempo. Alguns autores classificam o movimento
linear de duas maneiras: se o movimento ocorrer em
linha reta o movimento é retilíneo e se a linha for cur-
va, o movimento é curvilíneo (HALL, 2007).
O movimento angular é o movimento em torno
77
de algum ponto ou a rotação ao redor de uma linha
central imaginária, conhecida como eixo de rotação
(HALL, 2007; HAMILL, 2008). Nos estudos biome-
cânicos em geral primeiramente analisa-se as caracte-
rísticas do movimento linear de uma atividade e, em
seguida, examina-se os movimentos angulares (HA-
MILL, 2008).
2.5.1 Planos cardinais de referência
Segundo Hall (2007), os planos cardinais são
planos anatômicos de referência os quais dividem o
corpo em três dimensões:
• Plano sagital (ântero-posterior): divide o corpo ver-
ticalmente, em metade direita e esquerda. Neste plano
ocorrem os movimentos para frente e para trás do
corpo e dos segmentos corporais;
• Plano frontal (frontal): divide o corpo verticalmente
em metades anterior e posterior. Neste plano ocor-
rem os movimentos laterais do corpo e dos segmen-
tos corporais;
• Plano transverso (horizontal): divide o corpo nas
metades superior e inferior. Neste plano ocorrem os
movimentos horizontais do corpo e de seus segmen-
tos (quando o corpo está na vertical).
78
“ SaibamaisTerminologia dos Movimentos Articulares
“Quando o corpo humano se encontra na posição
anatômica de referência, considera-se que todos os
segmentos corporais estão posicionados a 0° ou em
posição neutra. A rotação de um segmento corporal
na direção oposta à posição anatômica é denomina-
da de acordo com a direção do movimento e men-
surada como o ângulo formado entre a posição do
segmento corporal e a posição anatômica”.
(texto extraído do livro Biomecânica Básica (p. 37) de
Susan Hall (2007).
79
No plano sagital os três movimentos principais
são a flexão, a extensão e a hiperextensão.
Os movimentos principais no plano frontal são
chamados de abdução (afastamento da linha média
do corpo) e a adução (aproxima-se da linha média
do corpo). As inclinações laterais do tronco também
ocorrem no plano frontal, bem como a elevação e
depressão da escápula. No caso da mão ocorrem o
desvio radial (movimento do punho em direção ao
osso rádio) e o desvio ulnar (movimento do punho
em direção ao osso ulna), também chamados de ab-
dução e adução do punho. No caso dos pés a rota-
ção lateral da planta do pé é denominada eversão
80
e a rotação medial é chamada de inversão (HALL,
2007), conforme Figura 17.
Os movimentos no plano transverso são as
rotações mediais e laterais (membros superiores e
inferiores), supinação (palma da mão voltada para
frente/cima) e pronação (palma da mão voltada para
trás/baixo) para o antebraço. No caso da cabeça,
pescoço e ombro os movimentos são chamados de
rotação para a esquerda e rotação para a direita.
81
2.5.2 Movimentos realizados pelos músculos
Os músculos são os principais responsáveis
pelos movimentos corporais. Devido às contrações
musculares conseguimos manter uma postura, le-
vantar uma carga, e movimentar o corpo. Pode ain-
da retardar um segmento que está se movimentando
numa determinada velocidade e acelerar o corpo ou
um objeto.
82
Os músculos possuem uma tensão a qual é apli-
cada nas articulações em forma de compressão, o que
favorece a estabilidade articular. Quando as tensões
musculares provocam afastamento dos segmentos
corporais em membros superiores e inferiores ocorre
o contrário, a tração, o que pode causar instabilidade
articular e consequentemente riscos de lesões.
Os músculos são classificados em estriados
(músculos esqueléticos e do miocárdio/cardíaco) e
lisos (músculos viscerais, como por exemplo, do in-
testino). Os músculos esqueléticos são de controle
voluntário e o do miocárdio e lisos estão sob contro-
le do sistema autônomo.
Os músculos esqueléticos são responsáveis pela
locomoção, movimento dos membros, postura e es-
tabilidade articular (HAMILL, 2008).
As quatro características do tecido muscular es-
quelético são (HAMILL, 2008):
• Irritabilidade: capacidade de responder à estímulos;
• Contratilidade: capacidade do músculo de encurtar
ao receber estímulos;
• Extensibilidade: capacidade do músculo de alongar
ou esticar além do comprimento em repouso. Este
alongamento só pode ser realizado através da ação
de outro músculo ou de uma força externa;
• Elasticidade: capacidade da fibra muscular em re-
tornar ao seu comprimento de repouso.
83
Em relação à tensão muscular usam-se as se-
guintes classificações:
•Concêntrico: músculo que realiza tensão provocan-
do encurtamento no seu comprimento, ou seja, o
trabalho é positivo;
• Excêntrico: músculo que mesmo realizando tensão
o músculo se alonga, ou seja, o trabalho é negativo;
• Isométrico: músculo que realiza tensão, mas não há
mudança visível ou externa na posição articular, ou
seja, não há trabalho externo.
Em relação ao músculo motor do movimento usam-
-se as seguintes classificações:
•Agonista: músculo responsável pela produção de
um movimento específico por meio de ação muscu-
lar concêntrica;
• Antagonista: músculo responsável pela oposição à
ação muscular concêntrica do músculo agonista.
Em relação ao tipo de exercício muscular usam-se as
seguintes classificações:
• Exercício isocinético: exercício em que a ação
muscular é realizada numa mesma velocidade. Ge-
ralmente ocorre num aparelho de velocidade con-
trolada. O indivíduo desenvolve tensão máxima ao
longo da amplitude total de movimento na veloci-
dade especificada do movimento (HAMILL, 2008);
• Exercício isométrico: exercício que se aplica carga
ao músculo em uma mesma posição articular (HA-
84
“ Saibamais Propriedades dos Músculos
Força: é a potência máxima que pode ser exercida
numa única contração voluntária.
Resistência: é a capacidade de persistir. Definida
e medida como a capacidade de repetição de con-
trações submáximas ou o tempo de sustentação de
esforço submáximo.
Flexibilidade: é a amplitude de movimento através
da qual os membros são capazes de mover-se.
Velocidade: inclui o tempo de reação e o tempo
de movimento.
Potência: é a combinação de força e velocidade (é a
distância percorrida pelo músculo em determinada
carga em determinado tempo).
Agilidade: é a capacidade de mudar de direção e
posição rapidamente, com precisão e sem perda
do equilíbrio.
Equilíbrio: é a capacidade de manter o posicionamen-
to correto do corpo durante movimentos vigorosos.
Coordenação: é a relação harmoniosa entre os mo-
vimentos repetidos e de alta velocidade.
(texto extraído do livro “Ergonomia Aplicada ao Trabalho em
18 Lições”, de Hudson Couto, p. 25-26).
MILL, 2008);
• Exercício isotônico: exercício em que uma ação
muscular (excêntrica ou concêntrica) é realizada para
mobilizar uma carga específica ao longo de uma am-
plitude de movimento (HAMILL, 2008).
85
Como já vimos os movimentos são realizados
através da contração muscular. Estas contrações pos-
suem características de velocidade, precisão e forma
específica de movimento, dependendo do segmen-
to corporal e consequentemente dos músculos que
agem como agonistas e antagonistas no trabalho
muscular. As características dos movimentos são:
• Precisão: Os movimentos são realizados através
das extremidades mais distais do corpo humano,
neste caso, as pontas dos dedos das mãos;
• Ritmo: Os movimentos devem ser suaves, curtos
e rítmicos. Acelerações ou desacelerações bruscas,
ou mudanças rápidas de direção causam fadiga, pois
exigem neste caso maior contração muscular (IIDA,
2005, p. 175);
• Movimentos retos: São mais difíceis de serem rea-
lizados, pois exigem integração complexa de movi-
mentação de outras articulações (IIDA, 2005);
• Terminações: São movimentos que exigem posi-
cionamentos precisos. Demandam atenção visual
importante, e podem ser difíceis e demorados. Con-
troles e anteparos são importantes para a execução
destes movimentos (IIDA, 2005).
Exercícios
1) Cite exemplos de aspectos abordados pela ergo-
nomia física.
2) Quais as consequências para os trabalhadores de
sobrecargas musculares?
3) Quais os principais fatores de risco para o desen-
cadeamento de transtornos musculares relacionados
ao trabalho?
4) Cite formas de prevenção de sobrecargas musculares.
5) A prevenção de distúrbios em coluna vertebral é ba-
seada em três parâmetros de conduta. Quais são eles?
Unidade 3
89
3. ERGONOMIA COGNITIVA
A ergonomia cognitiva contempla os processos
mentais dos trabalhadores em situação de trabalho.
Os itens mais importantes neste tipo de ergono-
mia são: a percepção, a memória, o raciocínio e as
respostas motoras, a relação das interações entre
pessoas e outros componentes de um sistema, etc.
Os temas centrais são a carga mental de trabalho, a
tomada de decisão, a interação homem-máquina, a
confiabilidade e o estresse (IEA, 2000).
A Ergonomia Cognitiva é uma especialidade
da Ergonomia - ciência do trabalho que estuda as
repercussões da organização e dos processos de tra-
balho (ambientes, artefatos, métodos) sobre o con-
forto, segurança, saúde e na eficácia do trabalho.
É uma disciplina científica que tem por obje-
tivo descrever e explicar os aspectos cognitivos da
relação entre a ação humana e os elementos físicos e
materiais do ambiente, mediados pelo uso de artefa-
tos (CRUZ, 2006).
Para iniciar nosso estudo sobre a ergonomia
cognitiva vamos definir o termo cognição. Segundo
90
Cruz (2001), cognição é um termo psicológico que
designa o processo de conhecer a realidade, ou mais
especificamente, a capacidade humana para adqui-
rir, manter e utilizar informações, conhecimentos ou
aprendizagens. É a partir dos processos cognitivos
que o ser humano adquire e produz conhecimentos.
Os processos cognitivos básicos são:
• Ater-se a estímulos ambientais
• Perceber propriedades ou características desses es-
tímulos e as relações entre eles
• Tomar decisões com base em conhecimentos e ra-
ciocínios derivados dessas percepções
• Executar ações coordenadas de ativação, manuten-
ção e controle de comportamentos (regulações)
Para tais usam-se a memória, a atenção e cons-
ciência, o reconhecimento de padrões, a resolução
de problemas e a tomada de decisões.
O trabalhador, portanto captam as informações
através dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, ol-
fato, cinestesia e propriocepção) e tentam interpretar
e organizar estas informações para então tomar suas
decisões. E o que é a percepção? Percepção é um
conjunto de processos pelos quais recebemos, reco-
nhecemos, organizamos e entendemos as sensações
recebidas dos estímulos ambientais (ABRAHÃO et
al 2009).
91
3.1 Sensação e percepção
Segundo Iida (2005), sensação é o processo bio-
lógico de captação de energia ambiental e a percepção
é o resultado do processamento do estímulo senso-
rial, dando-lhe um significado, ou seja, os estímulos
recebidos são organizados e integrados para que seja
significativo para o indivíduo. A memória faz parte
deste processo de significância das sensações.
Ainda segundo o autor a sensação é um fenô-
meno biológico, ao passo que a percepção envolve
um processamento, ou seja, para que ocorra necessi-
ta que o indivíduo compare a informação com outra
previamente armazenada na memória, ou seja, de-
pende de suas experiências e de fatores individuais,
como por exemplo, a personalidade, o nível de aten-
ção e as expectativas (IIDA, 2005).
A percepção pode ser alterada pelo nosso co-
nhecimento, por nossa motivação, pelo estado emo-
cional e por outras condições fisiológicas. Estes es-
tados influenciam a sensibilidade dos objetos como
também as propriedades percebidas neles.
Os estágios da percepção são a pré-atenção e
a atenção. Na pré-atenção há a percepção de “algo”
diferente no ambiente e são identificadas caracterís-
ticas globais do objeto. Já na atenção há a focalização
dos sentidos em aspectos interessantes do objeto ou
estímulo e o reconhecimento das informações.
92
“ Saibamais Sensação X Percepção
Letras impressas em um papel são convertidas em
sensações pelas células fotossensíveis dos olhos. Es-
ses estímulos são conduzidos pelo nervo óptico até
o lobo occipital do cérebro. Neste local são decodi-
ficados através da atuação da memória. A percepção
das letras está ligada à identificação de suas formas
e o seu reconhecimento, em comparação com um
padrão armazenado na memória.
Uma pessoa analfabeta não possui esta memória
e, por isso, não consegue fazer esta decodificação,
ou seja, não consegue transformar alguns traços do
papel em significados. Outro exemplo ocorre com
usuários de computadores que não reconhecem os
ícones presentes em interfaces de programas, desta
forma, em alguns casos, estes usuários não conse-
guem decifrar o significado desses ícones e, então,
há um bloqueio da percepção.
(Texto extraído de “Ergonomia – Projeto e Produção” de au-
toria de Itiro Iida, 2ª. Edição p. 259).
.
93
A manutenção da atenção é modulada pelos se-
guintes fatores:
• Fator fisiológico - depende das condições neuroló-
gicas e da situação física de trabalho;
• Fator motivacional - depende da forma como o
estímulo se apresenta e provoca interesse;
• Concentração - depende do grau de solicitação e
de atuação do estímulo.
Para o estudo da percepção, memória e tomada
de decisões a ergonomia faz uso dos conhecimentos
das ciências cognitivas. A diferença está nas especifici-
dades da ergonomia, que faz o uso destas disciplinas
com o foco do indivíduo no ambiente de trabalho.
As ciências cognitivas distinguem cinco gran-
des áreas, as quais são: a psicologia cognitiva, a inte-
ligência artificial, a linguística cognitiva, as neuroci-
ências e a filosofia da mente (LEPLAT & MONT-
MOLLIN, in FALZON, 2007).
Na Figura 20 podemos identificar que os estí-
mulos provenientes do meio ambiente apresentam
uma série de características que são captadas pelos
nossos sentidos, neste caso a visão. Tais informações
captadas pela visão são transformadas em estímulos
eletroquímicos, transmitidos dos olhos para as regi-
ões de processamento do cérebro e interpretadas,
organizadas, armazenadas e evocadas. Neste proces-
94
so são utilizados a memória, a categorização, aten-
ção, resolução de problemas e processos decisórios,
que servem de base para a ação do indivíduo. Fica,
portanto, claro que a rosa da figura é apenas uma
rosa após a informação sensorial é traduzida pelo
sistema nervoso central, mas especificadamente no
córtex cerebral.
Podemos resumir os assuntos abordados neste
subitem da seguinte maneira: a sensação é um fe-
nômeno essencialmente biológico enquanto que a
percepção envolve processamento, reconhecimento
de uma informação, comparação (memória). Vimos
que a percepção também depende de experiências
anteriores do indivíduo, bem como de fatores indivi-
95
duais, tais como: a personalidade, o nível de atenção
e as expectativas do indivíduo.
Desta maneira, as atividades cognitivas são
constituídas por conceitos ou símbolos. É sobre
esses símbolos que reagimos ao meio ambiente ou
agimos sobre ele, modificando-o e nos modificando
nesse processo.
3.2 Memória
Como a memória humana é parte importante
para que estímulos sensoriais se transformem em per-
cepções, ou seja, que tenham significância ao indiví-
duo, o estudo da memória é importante para estudio-
sos em ergonomia. Além disso, veremos que a memó-
ria serve também de base para a tomada de decisões.
“ Saibamais Diferenças entre MCD e MLD
A MCD relaciona-se mais com os aspectos formais
do que aqueles conceituais da informação. Ela tende
a confundir palavras que têm sons semelhantes en-
tre si (ex.: tom, bom, som, são), mas não as palavras
diferentes que têm significados semelhantes (ex.: ne-
gro, preto, escuro). Na MLD o inverso acontece, ou
seja, se relaciona mais com os aspectos semânticos
ou conceituais, podendo se confundir informações
de conceitos parecidos (ex.: diagrama / gráfico). Por
exemplo, pode-se confundir Pedro com João, porque
96
são irmãos ou porque ambos têm a mesma profissão
(Texto extraído de Ergonomia Projeto e Produção – Itiro Iida, 2005, p. 261).
A memória é um conceito que expressa uma
condição de reflexo ou “estocagem” das represen-
tações e dos conhecimentos. Através da memória é
possível utilizar as capacidades mnésicas como uma
competência cognitiva essencial à organização e fun-
cionamento do pensamento e da linguagem.
Dentre os processos cognitivos, a memória é o
processo pelo qual as experiências levam à alteração
do comportamento. Através da memória é possível
que o indivíduo tenha capacidade de reter, recuperar,
armazenar e evocar informações disponíveis, gerar
novas ideias e, finalmente, a memória ajuda na toma-
da de decisões.
No processo de memorização, as informações
ambientais são captadas, interpretadas, filtradas e ar-
mazenadas em 03 níveis de processamento:
1. Registro sensorial - sensação/percepção;
2. A memória de curta duração (MCD)
3. A memória de longa duração (MLD)
• A Memória de Curta Duração (MCD), também cha-
mada de memória de trabalho, designa o conjunto dos
processos que permitem conservar uma informação
durante o tempo necessário para a execução de uma
ação. Por exemplo, é utilizada quando alguém dita
97
o número de um telefone: este número é retido na
memória, podendo ser transcrito no papel e, se esse
processo demorar mais de 30 segundos, não seremos
mais capazes de lembrá-lo (IIDA, 2005).
A MCD ou de trabalho tem capacidade de esto-
cagem limitada. O número de unidades retidas, assim
como o seu tempo de conservação, depende, por um
lado, da significação das unidades a memorizar e, por
outro lado, de uma atividade de auto-repetição que
permite conservar as informações. É uma memória
específica à realização de uma tarefa particular, ela
tem uma duração de vida transitória ligada à duração
desta tarefa.
A Memória de Longa Duração (MLD) designa
o conjunto dos processos que permitem conservar
o conjunto de acontecimentos e conhecimentos que
uma pessoa acumulou ao longo da sua vida. A MLD
tem caráter associativo, ou seja, as novas informa-
ções são melhor fixadas quando se conectam com
a rede neural já existente no cérebro (IIDA, 2005).
A Tabela 1 ilustra as diferenças entre a Memó-
ria de Curta Duração (MCD) e a Memória de Longa
Duração (MLD):
98
Há ainda autores que classificam em 05 ti-
pos as memórias:
• Memória declarativa;
• Memória imediata;
• Memória de curta duração;
• Memória de longa duração;
• Memória de procedimento.
Memória declarativa refere-se à retenção de ex-
periências sobre fatos e eventos do passado. Ela tem
a capacidade de verbalizar um fato.
Memória imediata é a memória que dura de
frações a poucos segundos, como por exemplo, ca-
pacidade de repetir imediatamente um número de
telefone que é dito, estes fatos são, após um tempo,
completamente esquecidos.
Memória de curto prazo tem duração de algu-
mas horas e existe a formação de traços de memória,
por exemplo, a capacidade de lembrar-se do que se
99
vestiu no dia anterior, ou com quem se encontrou.
Memória de longa duração é a memória com
duração de meses a anos, como por exemplo, a capa-
cidade de aprendizado de uma nova língua.
Memória de procedimento é revelada quando a
experiência facilita o desempenho numa tarefa que não
requer evocação consciente ou intencional daquela ex-
periência, ou seja, é a capacidade de reter e processar
informações que não podem ser verbalizadas, como
tocar um instrumento ou andar de bicicleta.
3.3 Tomada de decisão
Segundo Iida (2005) a decisão é a escolha de
uma entre diversas alternativas, cursos de ação ou
opções possíveis. A tomada de decisões é uma das
atividades cognitivas mais comuns no ser humano.
De maneira resumida pode-se dizer que a tomada de
decisões consiste na seleção entre escolhas e oportu-
nidades possíveis.
É uma abordagem sistemática de um conjun-
to de processos mentais usados para determinar
com firmeza o melhor curso de ação em resposta
a um dado conjunto de circunstâncias. O processo
de tomada de decisões faz uso tanto da memória de
curta duração quanto da memória de longa duração.
A principal causa da dificuldade de tomar decisões
complexas está na capacidade limitada da memória
100
de curta duração, desta maneira, algumas opções
podem ser esquecidas ou omitidas. Esta limitação é
responsável por grande parte dos acidentes ocorri-
dos por falha humana. Aspectos cognitivos (pensa-
mentos) e afetivos (sentimentos) estão relacionados
à tomada de decisão no contexto da ocorrência de
acidentes de trabalho.
É comum que trabalhadores tenham que ser
obrigados a tomar decisões sem conhecer todas as
alternativas possíveis, ou seja, erros e acidentes po-
dem acabar ocorrendo como resultado de uma de-
cisão tomada de forma incorreta, ou quando opta
por uma alternativa na qual o resultado não será o
esperado pelo indivíduo (Iida, 2005).
Há vários fatores que influenciam a tomada
de decisões. As perguntas à seguir servem para que
ponderemos sobre alguns deles:
• ...há intervenção de fatores externos?
• ...há pressões no trabalho?
• ...há restrições tecnológicas?
• ...há restrições de tempo?
• ...a comunicação é insuficiente?
• ... há motivação no trabalho?
As classes de tomada de decisões são:
• Rotina;
101
• Estratégica;
• Operacional;
• Emergência.
Alguns condicionantes para a tomada de deci-
sões são:
• Aspectos cognitivos:
o Percepção;
o Atenção;
o Memória;
o Tomada de decisão;
• Estados mentais:
o Desejo;
o Motivação;
o Crenças;
o Valores.
As consequências de uma decisão são os resul-
tados, os quais são associados a uma significância ou
um valor subjetivo de utilidade. Como cada indivíduo
possui seus valores e motivações, as pessoas tomam
decisões diferentes mesmo estando na mesma situa-
ção. Os modelos mais recentes de análise de um pro-
cesso decisório consideram 03 etapas, as quais são:
coleta de informações, avaliação e seleção (Iida, 2005).
A coleta de informações no sentido que em
que é importante que antes da tomada de decisões
102
as pessoas busquem informações. Quanto melhor a
qualidade destas informações é mais provável que
da mesma maneira as decisões sejam de melhor qua-
lidade. Quando as informações não são completas
ou são de difícil interpretação as decisões podem ser
tomadas em suposições ou probabilidades. O con-
trário, ou seja, o excesso de informações também
dificulta uma tomada de decisão de qualidade. Se o
indivíduo tiver condições de filtrar as informações, a
chance de utilizar aquelas que são relevantes para a
tomada de decisões pode contribuir para a qualidade
das mesmas num processo decisório.
Existem, ainda, indivíduos que possuem uma
visão parcial do problema e tomam decisões de su-
botimização das informações, o que também contri-
bui para que decisões sejam tomadas sem uma base
de análise adequada.
A avaliação ocorre quando as informações re-
cebidas pelo indivíduo são úteis para avaliar uma si-
tuação, comparando-as com experiências e conheci-
mentos prévios do indivíduo (Iida, 2005).
Quando o indivíduo coleta estas informações
e as processa é necessário que esta interpretação do
seu significado componha um modelo cognitivo.
Quanto mais fidedigno este modelo cognitivo es-
tiver em relação à realidade, maior será o grau de
acertos no que se refere à tomada de decisão. Além
disso, o modelo mental servirá de base para prever a
103
evolução futura do ambiente, desta forma, o proces-
so decisório deve se adaptar a dinâmica do trabalho.
A seleção das opções é a última etapa do pro-
cesso decisório. Uma vez escolhida uma opção, é im-
portante descrevê-la minuciosamente e providenciar
condições compatíveis para implementá-la. Para tal,
há necessidade de definições de atribuições de res-
ponsabilidades e provisão de recursos (Iida, 2005).
3.4 Modelos cognitivos
A investigação dos níveis de marco teórico de
referência, como o estudado anteriormente (sistema
sensório-motor, percepção e processamento das in-
formações) é sustentada pela psicologia cognitiva.
Nos últimos 40 anos, o estudo dos processos cogni-
tivos humanos tem proporcionado teorias explicati-
vas e dados empíricos que nos permitem conhecer
como as pessoas sentem, percebem e armazenam in-
formações, e, por outro lado, como a recuperam e a
utilizam para a tomada de decisões (CAÑAS, 2000).
Os modelos cognitivos que serão propostos
tentam explicar a interação de uma pessoa com um
artefato. Em geral, este é o esquema de processa-
mento de informações tal como hoje é utilizado em
psicologia cognitiva.
104
O modelo ilustrado na Figura 21 considera que
o ser humano possui um sistema cognitivo compos-
to por sistemas sensoriais encarregados de extrair as
informações do ambiente. Estas informações são
analisadas pelos processos perceptivos e armazena-
das pela memória, para poder ser recuperada e utili-
zada anteriormente.
Em ergonomia cognitiva este modelo de siste-
ma cognitivo humano está presente de uma ou outra
maneira, ou seja, em todas as investigações. Deve-se
ressaltar que a investigação não está dirigida a por a
prova hipóteses sobre o modelo cognitivo, e sim de
tratar de utilizá-lo para explicar a interação entre uma
pessoa e um artefato. Por isso, os modelos de ergono-
mia cognitiva consideram ser fundamental conhecer
105
quais são as atividades que uma pessoa realiza, assim
como estabelecer princípios baseados nos conheci-
mentos da psicologia cognitiva que podem ser aplica-
dos no desenho de interfaces (CAÑAS, 2000).
Agora que estudamos sobre a sensação, percep-
ção, memória, atenção, processamento das informa-
ções e tomada de decisão, iremos analisar as figu-
ras a seguir, as quais ilustram exemplos de modelos
cognitivos explicativos (de Gagné e de Richard) para
processos mentais.
Verifica-se que as entradas ocorrem no sistema
sensorial humano (visão, audição, tato, paladar, ol-
fato, propriocepção, cinestesia), estes estímulos são
processados cognitivamente e em seguida tem-se
uma resposta, a qual pode ser um simples pensa-
mento até uma resposta motora.
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  • 1. 1ª Edição |Maio| 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Roger Valentim Abdala
  • 2. Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 Coordenação Geral Nelson Boni Professor Responsável Roger Valentim Abdala Coordenadora Peda- gógica de Curso- EAD Roseli Lopes de Macedo Leal Coordenação de Projetos Leandro Lousada Revisão Ortográfica Vanessa Almeida Projeto Gráfico, Dia- gramação e Capa Ana Flávia Marcheti 1º Edição: Maio de 2014 Impressão em São Paulo/SP ERGONOMIA Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 A135e Abdala, Roger Valentim.. Ergonomia. / Roger Valentim Abdala – São Paulo : Know How, 2013. 156p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-8065-257-4 1. Ergonomia. 2. Ergonomia física. 3. Ergonomia cognitiva. 4. Ergonomia organizacional. I. Título. CDD – 620.82
  • 3. Introdução Unidade 1 Princípios e história da ergonomia 1.1 Disciplinas da ergonomia 1.2 Objetivos da ergonomia 1.3 Tarefa e Atividade 1.4 Observações diretas e indiretas 1.5 Verbalizações 1.6 Metodologia em ergonomia Unidade 2 Ergonomia física 2.1 Músculos Esqueléticos 2.2 Trabalho Muscular 2.2.1 Trabalho muscular dinâmico 2.2.2 Trabalho muscular estático 2.2.3 Prevenção de sobrecarga muscular 2.3 Discos Intervertebrais 2.4 Antropometria 2.5 Biomecânica Ocupacional .7 .11 .55 SUMÁRIO
  • 4. 2.5.1 Planos cardinais de referência 2.5.2 Movimentos realizados pelos músculos Unidade 3 Ergonomia cognitiva 3.1 Sensação e percepção 3.2 Memória 3.3 Tomada de decisão 3.4 Modelos cognitivos 3.5 Carga Mental 3.6 Erro humano Unidade 4 Ergonomia organizacional 4.1 Estresse 4.2 Estrutura organizacional 4.3 Trabalho flexível 4.4 Rotação de trabalhadores 4.5 Seleção e treinamento Gabarito Referências .120 .138 .147 .88
  • 5.
  • 7. O estudo da ergonomia é abrangente e requer dos estudiosos uma análise profunda de questões re- lacionadas ao ser humano e suas interações com o ambiente. Destacam-se as questões físicas, cogniti- vas e organizacionais que interagem com o trabalha- dor, suas potencialidades e capacidades ao realizar uma tarefa e as limitações de um sistema. Em vista disso, as organizações têm se esfor- çado para aumentar a qualidade e produtividade de seus produtos e serviços levando-se em considera- ção a saúde, segurança e conforto do ser humano no ambiente de trabalho. Dores e sobrecargas de trabalho são riscos à saúde do trabalhador, causam redução da produtividade e diminuição de qualida- de de produtos e serviços, ou seja, o custo humano impacta diretamente nos objetivos organizacionais. Ao se empregar os princípios da ergonomia para a redução de não conformidades de trabalho, os profissionais de saúde e segurança do trabalho, ges- tores e diretores buscam estudar as possíveis situa- ções que podem sobrecarregar o trabalhador no que tange ao seu corpo físico e sua cognição, bem como as relações de trabalho que possam causar estresse,
  • 8. monotonia, agressividade, dentre outras consequên- cias maléficas de ordem psicossocial. A ergonomia pode contribuir na definição de métodos de trabalho que permitam uma interação homem – máquina - sistema saudável, equilibrada e de acordo com os limites e capacidades de cada um destes, considerando os aspectos biológicos do ser humano, tecnológicos das máquinas e ferramentas e de cultura e política organizacional. Neste trabalho, abordaremos princípios da ergonomia, seja ela de correção ou de concepção, analisaremos também os tipos de ergonomia (física, cognitiva e organizacional) e por fim abordaremos assuntos relacionados a Norma Regulamentadora – 17, a norma brasileira de Ergonomia.
  • 9.
  • 11. 11 1. Princípios e história da ergonomia O polonês Wojciech Jastrzebowski é conside- rado o primeiro estudioso moderno de ergonomia ao escrever um artigo intitulado “The Science of Work” (A Ciência do Trabalho). A saber: “(...) um enfoque científico que nos permitirá conhecer, em benefício próprio e dos demais, os melhores frutos do trabalho de toda a vida com o mínimo de esforço e a máxima satisfação.” (JASTRZEBOWSKI, 1857). Etimologicamente, o termo “ergonomia” tem origem das palavras gregas “nomos”, que significa “norma”, e “ergo”, que significa “trabalho”. Pode- -se dizer que ergonomia é a “ciência do trabalho”, ou que desenvolve regras e normas para conceber um sistema de trabalho. Neste contexto, o termo tra- balho significa uma atividade no qual um operador humano busca alcançar um objetivo. O ser humano é, portanto, o centro do estudo, ou seja, a ergonomia é uma ciência antropocêntrica,
  • 12. 12 na qual o trabalho deve ser adequado ao ser huma- no e não o contrário. Esta é uma das bases da er- gonomia. Apesar de o ser humano ser adaptável às condições impostas a ele, ainda assim, há limites a serem respeitados, pois esta adaptação não é infinita. “Adaptar o trabalho ao homem” é, portanto, um dos princípios da ergonomia. Há pouco mais de um século, as condições de trabalho eram intoleráveis para a saúde e segurança dos trabalhadores. Doenças e epidemias, muitas ve- zes oriundas das condições de saneamento básico das cidades, potencializadas pelas condições precárias de higiene no ambiente laboral, obrigaram governos a criarem leis com foco na proteção ao trabalhador. Através de leis que estabeleciam limites de ho- ras diárias de trabalho, restrição do trabalho infantil, condições sanitárias de trabalho, foram algumas das bases quanto ao início da atenção aos aspectos de adaptar o trabalho ao trabalhador, ou seja, pode-se dizer que à partir daí teve início a ergonomia moder- na que atualmente conhecemos. Até a II Guerra Mundial, o desenvolvimento e aplicação destas leis de proteção ao trabalhador foram lentos. Isto porque este importante evento acelerou o desenvolvimento da tecnologia militar, através da criação e aperfeiçoamento das armas de guerra, como, por exemplo, os veículos de combate, aviões, dispositivos de navegação e detecção.
  • 13. 13 Concomitantemente a estas invenções e me- lhorias nas armas de guerra, estudiosos, engenhei- ros, médicos, psicólogos, físicos e sociólogos perce- beram a importância de adaptar estes instrumentos tecnológicos às condições de trabalho, aos limites do usuário militar, levando-se em consideração aspectos físicos, cognitivos e psicológicos que objetivavam a redução do erro, a tomada de decisão rápida e eficaz, ou seja, a confiabilidade de máquinas e pessoas. O sucesso militar dependia, portanto, não ape- nas de quem dominasse a melhor tecnologia, levaria vantagem nos combates as nações que conseguis- sem adaptar melhor seus instrumentos de guerras aos seus usuários, os militares pilotos de aviões e de carros de combate, os soldados e seus fuzis, os co- mandantes e suas informações de guerra. A II Guerra Mundial foi impulso para o desen- volvimento da ergonomia no pós-guerra. A partir de 1950, com o foco e alta demanda das indústrias na produção (foco na produtividade), a ergonomia teve um terreno fértil para se desenvolver. Novas leis de proteção à saúde e segurança do trabalhador foram criadas principalmente na Europa e Estados Unidos e posteriormente no Japão e Canadá. Dez anos depois, a partir de 1960, a energia me- cânica, de maneira gradual, foi tomando lugar do em- prego da energia proveniente do esforço muscular do ser humano para a execução das atividades ocupacio-
  • 14. 14 nais. Na época, verificou-se que a ocorrência de aci- dentes de trabalho estava relacionada com o emprego do trabalho manual, a aplicação de força muscular na resolução de tarefas laborais e as questões temporais, como, por exemplo, as demandas temporais relacio- nadas à busca de alta produtividade. Esta relação entre os objetivos exclusivamente de produção industrial e o consequente índice de aci- dentes de trabalho, somada ao início de preocupações com a saúde e segurança do trabalhador, exemplifica- do pelas leis nesta área, fizeram com que os objetivos da ergonomia gradualmente se voltassem mais para a segurança do trabalho em vez da produtividade a qualquer preço. Esta época foi por volta dos anos 60 e o início dos anos 70 nos países desenvolvidos. No início da evolução histórica da ergonomia, seus estudos estavam relacionados à ergonomia físi- ca, ou seja, estudos antropométricos, estudos rela- cionados à biomecânica, gasto energético, fisiologia humana, temperatura corporal versus temperatura ambiente e carga física de trabalho, frequência car- díaca e respiratória, e outros estudos relacionados às questões físicas limítrofes do ser humano testadas em laboratório e em campo. O foco dos estudos era a contração muscular e sua relação com as capacidades do ser humano in- teragindo com um ambiente de trabalho qualquer. Falando mais especificadamente, os estudos relacio-
  • 15. 15 navam-se com o esforço muscular realizado, diversi- dade e amplitudes de movimentos articulares e seus limites toleráveis. Todos estes estudos num contexto de busca da produtividade, mas que, gradualmente, foram mudando para foco em saúde, segurança e conforto do trabalhador, estes três objetivos últimos como atualmente a ergonomia se configura quando se fala em seus objetivos e escopo. Atualmente, os princípios científicos da ergo- nomia física são muito bem conhecidos pelos pro- fissionais da área, como por exemplo, desenhos de postos de trabalho, estudos antropométricos, ergo- nomia no uso de computadores e terminais de vídeo, ergonomia em trabalhos pesados, etc. Sem dúvida alguma o pós-guerra contribuiu muito para o avanço da ergonomia física. Outras áreas em que a ergono- mia também se desenvolveu daquela época até os tempos atuais foram as áreas da ergonomia cogni- tiva e organizacional. Estas últimas, porém, ainda requerem de estudos bem mais aprofundados pelos pesquisadores e profissionais de saúde e segurança do trabalho. A ergonomia física sem dúvida alguma serve de base para a maioria dos trabalhos atuais de consul- torias em ergonomia, seus princípios são bem acei- tos e claramente suas mudanças e intervenções são identificadas. Configura-se, contudo como um vasto campo de trabalho estudos ligados à ergonomia cog-
  • 16. 16 nitiva e ergonomia organizacional, não porque seus avanços históricos foram nulos, mas porque seu rit- mo de desenvolvimento foi mais lento comparando- -se com a ergonomia física. “ Ergonomia é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres huma- nos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema." Fontem: International ergonomics association - iea (www.iea.cc) Além disso, os processos mentais e as relações sociais no trabalho, muitas vezes, possuem suas ba- ses em constructos qualitativos, nem sempre de fácil domínio para validações de achados científicos por parte da equipe de pesquisa ou pelos profissionais da área. Somado a isso, como foi informado ante- riormente, as principais demandas de trabalho da ergonomia atual no Brasil e no mundo ainda se ba- seiam em demandas relacionadas aos princípios da ergonomia física. Desta maneira, entendem-se as razões que fazem com que a ergonomia cognitiva e organizacional esteja no palco da maioria das atuais pesquisas científicas em ergonomia.
  • 17. 17 1.1 Disciplinas da ergonomia Não entraremos no mérito dos debates que de- fendem que a ergonomia é ou não uma ciência e/ ou uma técnica que emprega princípios científicos de outras disciplinas para uso em seu escopo de tra- balho, ou seja, o ser humano desempenhando uma atividade num ambiente qualquer de trabalho. Basta no momento dizermos que a ergonomia desenvolve suas técnicas dentro de bases científicas num ponto que permeia disciplinas relacionadas à engenharia (físicas e exatas), à medicina, psicologia e sociolo- gia (humanas e sociais), por exemplo, a solução de problemas de iluminação, temperatura, ruído e vi- brações, anatomia, fisiologia, psicologia. A Figura 1 ilustra os domínios da ergonomia quanto a algumas das disciplinas que a compõe.
  • 18. 18 A ergonomia é uma disciplina autônoma, mas não pode viver sem se nutrir das aquisições de várias disciplinas, aquisições dinâmicas e assimiladas em um espírito interdisciplinar (WISNER, 2004, .p. 35). Na Europa, os primeiros pesquisadores tiveram como foco de estudo as ciências humanas, conce- dendo à ergonomia uma relação mais forte com a fisiologia e a psicologia. A importância de uma abor- dagem nesta área está em estudos que relacionam a ergonomia aos problemas de consumo energético do trabalhador, as posturas de trabalho, aplicação de forças musculares, levantamento de cargas, trabalho repetitivo, etc. Em relação à psicologia, os estudos relacionam-se com interações do trabalhador com os terminais de vídeo, usabilidade de computadores e equipamentos de forte apelo tecnológico, moti- vação no trabalho, relações sociais de trabalho etc. Cabe aqui ressaltar que não se faz intervenções er- gonômicas sem dar enfoque misto às disciplinas que compõem a ergonomia, assim dizemos que a ergo- nomia é uma ciência multidisciplinar. Nos Estados Unidos os pioneiros em estudos ergonômicos despenderam seus esforços em assun- tos relacionados ao campo da psicologia experimen- tal e engenharia. O termo “engenharia humana” e “engenharia de fatores humanos” são termos usados até hoje naquele país e também no Canadá. A natureza de interdisciplinaridade da ergonomia
  • 19. 19 é resultado de outra característica importante: a ergo- nomia é uma ciência antropocêntrica, ou seja, o ser hu- mano é o centro de atenção de seus estudos e esforços. E como definir o ser humano? Como medi-lo? Como elaborar ambiente de trabalho que o comportem com a máxima de segurança, saúde e conforto? A amplitude vasta de respostas e de opções de propostas para as perguntas acima parecem não ter fim. Em vista disso, parece claro que a ergonomia se agrega a outras disciplinas para compor e elaborar respostas para estas e outras perguntas. O desafio da ergonomia é adaptar o trabalho às pessoas. Como fazer isso? Primeiramente temos que definir quem é o ser humano, quem é o traba- lhador. A partir daí, o ambiente precisa ser definido. Disciplinas que compõe aspectos biopsicossociais são ferramentas para fornecer respostas para nossos questionamentos enquanto profissionais e pesqui- sadores de saúde e segurança do trabalho, a grande área da qual a ergonomia faz parte. Segundo Abrahão et al. (2009), três pressupos- tos são necessários para compreensão da ação ergo- nômica e suas metodologias: a interdisciplinaridade, a análise de situações reais e o envolvimento dos su- jeitos, conforme Figura 2.
  • 20. 20 Ainda, segundo os autores, a interdisciplinarida- de da qual serve de base para a ergonomia, resulta da importância de se analisar o fenômeno do trabalho humano sobre diferentes perspectivas (ABRAHÃO et al, 2009). Esta relação da ergonomia com outras discipli- nas e profissionais (médicos, engenheiros, fisiote- rapeutas, administradores, terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfermeiros, etc.) exige a elaboração de novos conceitos ao integrar conhecimentos destes diversos profissionais (CURIE, 2004).
  • 21. 21 1.2 Objetivos da ergonomia Antes de discutir os objetivos da ergonomia, é importante que façamos uma reflexão sobre como a ergonomia poderá favorecer empregados e empre- gadores, trabalhadores e organizações empresariais. Algumas destas vantagens estão relacionadas com a produtividade e na qualidade do trabalho executado. Outras vantagens estão relacionadas à saúde e a con- fiabilidade humana e a satisfação no trabalho. “ Objetivo da ergonomia [ transformar o trabalhador de forma a adaptá-lo às caracteristicas e variabilida- de do homem e do processo produtivo ] Fonte: Abrahão [et al.] (2009) Desta forma, a relação de contribuição que a ergonomia oferece para empresas e empregados, é a eficiência no alcance de resultados, a redução de desperdícios de tempo e de recursos, a prevenção de erros e a proteção a pessoa humana no trabalho. Falzon (2007) complementa sobre os objetivos da ergonomia da seguinte maneira: A especificidade da ergonomia reside em sua tensão entre dois objetivos. De um lado, um objetivo cen- trado nas organizações e no seu desempenho. Esse desempenho pode ser apreendido sobre diferentes
  • 22. 22 aspectos: eficiência, produtividade, confiabilidade, qualidade, durabilidade etc. De outro, um objetivo centrado nas pessoas, este também se desdobrando em diferentes dimensões: segurança, saúde, confor- to, facilidade de uso, satisfação, interesse do trabalho, prazer etc. (FALZON, 2009, p.8). Para a ergonomia não é aceitável que haja des- perdícios de energia de maquinários ou humana, ou de tempo devido, por exemplo, a não conformidade de layout ergonômico, problemas relacionados aos espaços de trabalho ou não conformidades relacio- nadas a sobrecargas cognitivas e assuntos relaciona- dos à organização do trabalho. As bases científicas da ergonomia têm como escopo a adaptação do trabalho ao ser humano com vistas à sua saúde, segurança e conforto. Apesar do antropocentrismo da ergonomia é comum que estes esforços, em contrapartida, gerem benefícios não apenas ao ser humano no trabalho, mas há uma ten- dência também de que eles proporcionem à organi- zação um trabalho mais eficaz, redução de custos e ganho de produtividade. Estudos ergonômicos, no meio acadêmico, mas principalmente no campo da prestação de serviços de profissionais da área, buscam esta relação de efi- ciência e ganho mútuo entre empresa e empregados.
  • 23. 23 Por um lado, o trabalhador se beneficia com a ergonomia no sentido que poderá exercer suas ativi- dades laborais com maior segurança, num ambiente salutar e confortável, ou seja, com um equilíbrio entre as demandas de trabalho e suas capacidades labora- tivas. De outro lado, as organizações empresariais se beneficiam da ergonomia no sentido que ofertam um ambiente propício para o desempenho, consequente- mente reduzindo custos relacionados a não confor- midades na área de saúde e segurança do trabalho. Os custos diretos e indiretos relacionados com o gerenciamento de trabalhadores afastados por do- enças ou acidentes de trabalho e não afastados, mas com sua capacidade ocupacional reduzida, como no caso de trabalhadores acometidos de distúrbios os- teomusculares relacionados ao trabalho (DORT) são exemplos de situações nas quais ações ergonômicas visam eliminar. A relevância da ergonomia está no fato de que ela melhora situações de trabalho, não apenas com benefícios para o trabalhador, mas também para as organizações empresariais. Através de estudos siste- máticos, como por exemplo, a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), os profissionais de ergonomia conseguem fornecer dados das características da po- pulação envolvida, no caso os trabalhadores, bem como do ambiente nos quais eles desempenham suas funções. De posse destas informações sistemá-
  • 24. 24 ticas os profissionais da área de ergonomia elaboram propostas técnicas, conceitos, diretrizes e procedi- mentos que à medida que são seguidos e defendidos a partir da alta direção da organização, gestores ge- renciais e trabalhadores de nível operacional, contri- buem para a redução de custos e o desenvolvimento da eficácia no trabalho. A ergonomia pode ser dividida em três segmen- tos distintos: • Ergonomia de correção: atua de maneira restrita, modificando elementos parciais do posto de traba- lho, tais como dimensões, iluminação, ruído, dispo- sição de salas de trabalho, entre outros (IIDA, 2003); • Ergonomia de concepção: Ao contrário, inter- fere amplamente no projeto do posto de trabalho, dos instrumentos, da máquina ou do sistema de pro- dução, organização do trabalho, e formação pessoal (IIDA, 2003); • Ergonomia de conscientização: Surgiu da ne- cessidade de orientar os profissionais de diversas áreas de atuação, com o objetivo de transmitir os conhecimentos já existentes e fazer com que estes profissionais os utilizem (IIDA, 2003).
  • 25. 25 1.3 Tarefa e Atividade O conhecimento sobre a tarefa e a atividade, suas definições teóricas, classificações e diferencia- ções resultam em pressupostos básicos e importan- tes para ações em ergonomia e o desenvolvimento de análises ergonômicas do trabalho (AET). Podemos definir tarefa como o trabalho pres- crito e a atividade como o trabalho real. A tarefa se define, portanto, por seus objetivos, suas demandas e as condições tecnológicas que a empresa disponi- biliza para a execução das atividades. Algumas perguntas nos ajudam a ponderar so- bre o que se deve levar em consideração ao se anali- sar uma tarefa, ou um trabalho prescrito; • O que deve ser feito (função, objetivos)? • Como deve ser feito (procedimentos de trabalho, instruções, padrões, operações admissíveis, exigên- cias, segurança)? • Quais os recursos (tecnologia disponível caracte- rísticas do posto de trabalho, ambiente de trabalho, documentação, máquinas, materiais)? • Qual o tempo disponível (ritmos, prazos)? • Quais as características do ambiente físico (am- biente de trabalho)? • Quais as características do ambiente cognitivo (fer- ramentas de apoio) e coletivo (presença ou ausência
  • 26. 26 de colegas, parceiros, da hierarquia, modalidades de comunicação etc.) (FALZON, 2009)? • Quais as características sociais do trabalho (modo de remuneração, controle, sanção etc.) (FALZON, 2009)? • Quem executa a tarefa (características da po- pulação trabalhadora, como por exemplo, idade, gênero, tempo na função, experiências, requisitos para a função)? A tarefa (trabalho prescrito) se diferencia da ati- vidade (trabalho real), por várias razões, entre elas estão as estratégias dos operadores, as quais variam de indivíduo para indivíduo, as flutuações do am- biente de trabalho, ocorrências não programadas, etc. Além disso, a tarefa é planejada por gestores que nem sempre possuem um conhecimento adequado das condições de execução das atividades. A atividade é definida como um conjunto de condutas que o trabalhador assume para desem- penhar um trabalho. Por exemplo, as posturas que assume, os processos mentais que utiliza para to- mar uma decisão, os movimentos que executa para transformar um produto ou realizar um processo. A forma como pega uma ferramenta, a força e a fre- quência de contrações musculares que imprime para realizar uma tarefa. Em vista disso, é comum que haja adaptações em tempo real por parte dos operadores. É a máqui-
  • 27. 27 na que quebrada a ferramenta que falta, ou que está desgastada, a planilha que está incompleta, a deman- da de trabalho que foi alterada ou aumentada, etc. Quando a discrepância entre tarefa e atividade aumenta, em geral, aumentam também as sobrecar- gas de ordem física, cognitiva e organizacional dos trabalhadores, que, muitas vezes, têm que se adaptar rapidamente às novas condições de trabalho ao exe- cutar suas atividades. Por exemplo, um trabalhador necessita fixar um quadro numa parede de madeira. Para tal, a tarefa é programada para que ele execute esta atividade com o uso de um martelo e pregos. Ele é treinado para tal, possui um tempo disponível bem dimensiona- do e possui experiência na função. Porém, ao iniciar sua atividade lhe é informado que não há martelos disponíveis. Como ele irá realizar este trabalho? As adaptações que ele realizar poderão gerar mudanças nas aplicações de forças musculares, mudanças de posturas, aumento de risco de acidentes, redução da qualidade do trabalho e outras consequências noci- vas ao trabalhador e o recebedor do serviço. O que aconteceria se o trabalhador tivesse que realizar esta atividade durante toda a sua jornada diá- ria de 08 horas? E se a falta do martelo se mantivesse durante toda a semana ou durante todo o mês? Apesar de ilustrarmos de maneira hipotética este exemplo, é comum ocorrerem situações reais de
  • 28. 28 trabalho nas quais faltam materiais para a execução das tarefas, ou não há tempo hábil disponível, ou o trabalhador não é treinado para tal. A consequên- cia quando estas situações ocorrem são o que cha- mamos de não conformidades. Abismos formados pela discrepância entre tarefa e atividade são uma das principais causas de custos humanos que, conse- quentemente, resultam em custos financeiros para as organizações empresariais e toda a sociedade. 1.4 Observações diretas e indiretas “A atividade não se reduz ao comportamento. O comportamento é a parte observável, manifesta, da atividade. A atividade inclui o observável e o não ob- servável: a atividade intelectual ou mental. A ativida- de gera o comportamento.” (FALZON, 2009, p. 9). Para se analisar uma atividade é necessário que se façam observações. Faverge (1972) elaborou uma forma de observação na qual há quatro tipos de aná- lise da atividade. São elas: • Gestos e posturas: neste tipo de observação é dada atenção às ações realizadas pelo do trabalhador, sua frequência e duração. Medidas de frequência cardía- ca e gasto energético são exemplos de dados quan-
  • 29. 29 titativos a serem levados em consideração neste tipo de análise. Na atual ergonomia, a análise dos gestos e posturas é realizada por vídeos e fotografias, associados à aplica- ção de ferramentas ergonômicas, programas de compu- tador e outras ferramentas e instrumentos tecnológicos. • Aquisição da Informação: neste tipo de obser- vação realiza-se registro dos movimentos oculares do trabalhador através de filmagem. Através dis- so, verificam-se os sinais que o trabalhador utiliza para buscar informações do ambiente como recurso para realizar uma tarefa. Pode-se dizer que a análise da aquisição da informação é um complemento da análise dos gestos e posturas, pois em geral os mo- vimentos e as posturas assumidas são respostas de processos cognitivos. • Regulação: neste tipo de análise o profissional que realiza a observação busca identificar os ajustes que o trabalhador necessita fazer para compensar flutua- ções do ambiente e de suas próprias condições com a finalidade de executar e completar o trabalho. A regulação é um mecanismo de controle que compara os resultados de um processo com uma produção desejada e ajusta esse processo em relação à diferença constatada (FALZON, 2009, p. 10).
  • 30. 30 • Processos mentais: este tipo de observação é reali- zado principalmente em postos automatizados e de inteligência artificial. Requerem do observador um entendimento profundo da forma de raciocinar do trabalhador na resolução de problemas. Os processos mentais levam em consideração o planejamento do trabalho, a antecipação de ações e diagnóstico. Neste tipo de análise, não é possível realizar uma observação direta, mas sim inferência e respostas verbais. 1.5 Verbalizações Ressaltamos a importância das verbalizações dos trabalhadores para a realização de uma análise ergonômica. As verbalizações podem ser classifica- das em “verbalizações espontâneas” e “verbaliza- ções provocadas”. As primeiras ocorrem esponta- neamente, sem que haja pedido do profissional de ergonomia. Quando há um pedido do observador para que o trabalhador “pense alto”, chamamos de verbalização provocada. As verbalizações contribuem em muito para a comprovação de achados ergonômicos ou confir- mação de diagnóstico ergonômico, principalmente em aspectos cognitivos de análise. Em geral, deve-se incentivar que as verbalizações sejam feitas em tem- po real de trabalho. Outro fato importante sobre as verbalizações
  • 31. 31 diz respeito ao nível de confiança que o trabalhador o qual é o interlocutor possui em relação ao pesqui- sador, ou o ergonomista observador. Verbalizações poderão ser mascaradas caso o trabalhador não se sinta seguro sobre os propósitos reais de uma análise ergonômica, ou dos resultados que suas verbaliza- ções poderão gerar para ele mesmo. A sinceridade dos trabalhadores nas verbaliza- ções é primordial para que o diagnóstico ergonômi- co seja claro, confiável e real. Caberá ao ergonomis- ta observador conquistar esta confiança, a qual em geral é desenvolvida pela frequência e duração das observações, além das características organizacio- nais da instituição empresarial local da observação. Em suma, o observador tem que “entrar na tribo” antes de buscar informações do trabalho através de verbalizações dos trabalhadores. 1.6 Metodologia em ergonomia Como vimos anteriormente, a ergonomia sur- giu da necessidade de melhoria do desempenho no trabalho e respostas socioeconômicas a questões re- lacionadas a situações de trabalho não satisfatórias. Desta maneira, a ergonomia foi experimentando, assinalando fortemente uma atitude científica, dis- tinguindo-se claramente dos que formulavam reco- mendações com base em preconceitos sociológicos
  • 32. 32 (WISNER, 1994. p. 87). Há cerca de 70 anos, os métodos experimentais de pesquisa em ergonomia permitiram progressos e melhorias de situações de trabalho que proporciona- ram avanços tecnológicos e redução de perdas hu- manas, de tempo e de materiais. A abordagem metodológica da ergonomia gra- dativamente foi migrando dos objetivos militares para os industriais, firmando-se numa abordagem que demandava fatos, dados quantitativos, conse- lhos precisos, resultados claramente demonstráveis. Tudo isso num tempo curto, ou seja, sem atrapalhar o trabalho industrial (WISNER, 1994). Esta propos- ta metodológica estende-se até os dias atuais. A experimentação utilizada para o estudo do ser humano seguia as mesmas regras para a física e quí- mica, contribuindo para elucidar fatos indiscutíveis e permitindo dar conselhos precisos. Porém, este tipo de abordagem não pertencia nem pertence à pesquisa, e, sim, a estudos experimentais, ou seja, assim como nos primórdios da ergonomia, pois, os critérios in- dustriais não possuíam, tampouco possuem uma base puramente científica (WISNER, 1994). Apesar de existirem certas lacunas científicas de abordagem industrial da ergonomia, ainda assim esta metodologia possui certos benefícios, os quais de maneira resumida serão citados. São eles:
  • 33. 33 • Custo: a contribuição ergonômica é de baixo cus- to, pois basta recorrer ao saber do especialista, aju- dado por alguns tratados e por experiências simples e rápidas (quick and dirty); • Tempo: o trabalho na indústria não foi pertur- bado, visto que o ergonomista se contentou com a descrição do problema feita por seu interlocutor da direção e eventualmente com uma rápida visita aos lugares, ou com uma análise sumária da situação (WISNER, 1994. p. 91). Alguns profissionais atuam em ergonomia mes- mo sem possuir o conhecimento necessário para exe- cutar atividades e serviços nesta área. Estes podem até obter sucesso mesmo ao executar intervenções insuficientes e frágeis, pois comumente os recebe- dores dos serviços desconhecem quase que comple- tamente sobre o funcionamento do corpo humano, questões relacionadas à biomecânica e a antropome- tria e outros assuntos de saúde do trabalhador. (...) muitos ergonomistas, no mundo, prestam servi- ços agindo dessas maneiras. A razão desse sucesso se deve ao fato de que a ignorância do funcionamento do homem é tão profunda na maioria dos planejado- res que algumas contribuições ergonômicas, mesmo modestas e desajeitadas, têm um efeito muito positi- vo. (WISNER, 1994, p. 91).
  • 34. 34 Um dos pontos mais importantes a serem le- vados em consideração é a variabilidade do homem ao longo do dia (ciclo circadiano) e também a va- riabilidade de capacidades e competências de pessoa para pessoa e entre períodos. Alguns exemplos desta diversidade são: • Força muscular; • Idade; • Estatura; • Massa corporal; • Antecedentes de traumas e patologias; • Nível e grau de instrução; • Experiência profissional; • Gênero; • Etc. É comum que planejadores de trabalho tenham fracassado ao tentar projetar demandas de trabalho para o ser humano, levando em consideração experiên- cias puramente tecnológicas, ou seja, não se pode com- parar a variabilidade do homem com a variabilidade de uma máquina. Há 50 anos este era um erro frequente. Apesar de variabilidade do homem e também da tarefa e atividade, há ainda administradores, en- genheiros de produção e outros gestores fabris que insistem em se basear no sistema homem-máquina ao elaborar e dimensionar a produção, ou seja, com-
  • 35. 35 parar o homem a uma máquina. 1.6.1 Análise Ergonômica do Trabalho A primeira vez que a Análise Ergonômica do Trabalho foi proposta foi em 1955, através do livro “A Análise do Trabalho”, de autoria de Faverge e Om- bredane. O desenvolvimento desta metodologia pros- seguiu através dos ergonomistas Güerín, Montmollin, Wisner, Leplat, e Laville, os quais aprofundaram suas bases teóricas e diversificaram suas aplicações. A Análise Ergonômica do Trabalho é definida como um conjunto estruturado e intercomplemen- tar de análises situadas, de natureza global e sistemá- tica, sobre os determinantes da atividade das pessoas numa organização (GÜERÍN, 2001). A Análise Ergonômica do Trabalho centra seus objetivos, métodos e desenvolvimentos teóricos so- bre a atividade de trabalho, suas dificuldades físicas e/ou cognitivas e sobre as condições de trabalho en- contradas nas empresas (GÜERÍN, 2001). Nas ações ergonômicas demandadas pelas or- ganizações é importante que o profissional de ergo- nomia dê atenção não só para as bases científicas desta disciplina, mas também para os resultados eco- nômicos que a organização empresarial conseguirá com esta ação. Güerín et al (2001) intitula um de seus livros
  • 36. 36 com a seguinte expressão: “Compreender o Traba- lho para Transformá-lo” e defende que os objetivos da ação ergonômica têm estes dois enfoques, um voltado para os trabalhadores, sua saúde e valoriza- ção e outro voltado para os objetivos econômicos da empresa. A metodologia de Análise Ergonômica do Tra- balho – AET leva em conta estes dois objetivos ma- cros e através da AET busca-se resolver problemas relacionados a situações de adaptação ou concepção de sistemas de produção nos quais o foco foi pu- ramente financeiro, técnico ou organizacional, não favorecendo uma reflexão sobre o a influência dos meios de trabalho e cuja concepção não leva sufi- cientemente em consideração as variabilidades dos trabalhadores e do ambiente (GÜERÍN, 2001). Segundo Güerín (2001), o objetivo da AET é: a) Conhecer e explicar as relações entre a saúde dos trabalhadores e as condições de realização do trabalho; b) Compreender o trabalho para uma posterior trans- formação ou concepção de novas situações laborais; c) Melhorar a organização dos sistemas sociotécni- cos, a gestão dos recursos humanos e, em consequ- ência, o desempenho da empresa como um todo. A Análise Ergonômica do Trabalho - AET pos-
  • 37. 37 sui cinco componentes estruturais, os quais se confi- guram como etapas metodológicas introdutórias, de desenvolvimento e de recomendações. Esta estruturação da AET promove uma base crescente de conhecimentos sobre o estudo em questão. Estas etapas metodológicas são a análise da demanda (1), a análise da tarefa (2), a análise da ati- vidade (3), o diagnóstico ergonômico (4) e as reco- mendações ergonômicas (5). Cada etapa possui suas características e especificidades e, como tal, reque- rem uma abordagem específica. A análise da demanda é a primeira das 05 eta- pas. Ela é apresentada ao ergonomista pelo dirigente da empresa ou por um de seus representantes legais, ou seja, quando o ergonomista é solicitado, em geral, já se conhece algumas das não conformidades ergo- nômicas da organização, ou tentativas de tratamento técnico (FALZON, 2007). Segundo Falzon (2007), a análise da demanda tem os objetivos de: a) Identificar a história da demanda e seu contex- to, a população envolvida, além do demandante que entrou em contato, e as tentativas de respos- ta já realizadas; b) Identificar os desafios propostos pela demanda, os quais podem ser diversos, como desafios econô- micos, de saúde e segurança ocupacional e gestão.
  • 38. 38 Identificar também os responsáveis pela permissão para início da intervenção ergonômica; c) Recolher informações que permitam realizar os estudos dos problemas demandados, como por exemplo, consulta ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), Programa de Controle de Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO), esta- tística de acidentes, etc. d) Identificar as representações e expectativas que os responsáveis da organização empresarial possuem do ergonomista; e) Identificar a cultura organizacional da empre- sa, os limites de intervenção (sociais, econômi- cos, temporais); f) Permitir ao ergonomista verificar sua competência e pertinência de sua intervenção e possível reformu- lação dos objetivos e modalidades de ação. É recomendado que antes da contratação de um serviço de ergonomia seja possível que o ergo- nomista realize uma visita para a empresa deman- dante do serviço. Neste momento, o ergonomista poderá tomar conhecimento da demanda, caracte- rísticas do trabalho e da empresa, prazos etc. Um projeto ou contrato deverá contemplar os seguintes características e aspectos (FALZON, 2007): • A demanda reformulada;
  • 39. 39 • Os prazos; • A natureza das contribuições que se esperam do ergonomista, seus prazos e grau de precisão; • As condições de sucesso da intervenção, como por exemplo, o acesso às situações de trabalho, do- cumentos e pessoas, regras da intervenção, recursos técnicos, modalidades de difusão dos resultados. Enfim, a análise da demanda visa compreender bem a natureza e o objetivo do pedido (WISNER, 1994) a qual servirá de base para a sequência do tra- balho a ser realizado pelo ergonomista. A análise da tarefa, como discutido anterior- mente, é parte da prescrição do trabalho, das nor- mas e dos recursos disponibilizados pela empresa. A tarefa diz respeito ao que o trabalhador tem que fazer, segundo determinadas normas e padrões de qualidade e de quantidade. A tarefa, portanto, abran- ge as condições de trabalho, pois influenciam as pos- sibilidades de ação (ABRAHÃO et al, 2009). A tarefa de maneira geral compõe-se dos se- guintes elementos a serem analisados: • Pessoas • Ações • Informações • Entradas e saídas • Máquinas
  • 40. 40 • Ambiente • Condições organizacionais Em relação às pessoas os elementos de análise da tarefa são: Em relação ao ambiente os elementos de análi- se da tarefa são: Ainda outros elementos ambientais que devem ser levado em consideração para a análise da tarefa são: • Materiais;
  • 41. 41 • Ferramentas; • Cargas; • Dimensões; • Mobiliário; • EPI / EPC; • Dispositivos de informações; • Controles; • Substâncias químicas. Em relação às questões organizacionais os ele- mentos de análise da tarefa são: • Jornada; • Turnos; • Hora-extra; • Salário; • Plano de carreira; • Relações de trabalho; • Valorização social do trabalho; • Trabalho em grupo; • Rodízios; • Estilos gerenciais. A análise da tarefa aborda um conjunto de ob- jetivos e prescrições dados aos operadores, definida pelos seus modos operatórios, as instruções, as nor- mas de segurança e os recursos da empresa dispo- nibilizados aos operadores para a realização de suas
  • 42. 42 atividades (GUERIN, 2001). A análise da tarefa também é considerada como um princípio que impõe um modo de definição do trabalho em relação ao tempo. A característica prin- cipal da tarefa é sua exterioridade em relação ao tra- balhador envolvido (GUERIN, 2001). A exterioridade diz respeito ao planejamento do trabalho por um engenheiro de produção, um ad- ministrador ou gestor que não participa ativamente in loco da produção por ele planejada. Frequente- mente, estes gestores não levam em conta as particu- laridades dos operadores e muito menos o que eles pensam sobre as escolhas feitas e impostas (GUE- RIN, 2001). Após a abordagem da análise da tarefa a qual diz respeito às prescrições e regulamentos do traba- lho, iremos agora discorrer sobre a análise da ativi- dade, sua natureza e características, seus elementos de estudo, conceitos e definições. De maneira introdutória, vimos que a atividade difere da tarefa da mesma forma que o trabalho real difere do trabalho prescrito. Variabilidades decor- rentes da tecnologia, das pessoas e da organização constituem estas diferenças entre o que é real e o que é prescrito. Outro fator que contribui para esta dis- crepância é limitações e fragilidades do planejamen- to da produção, dificuldades de recursos ofertados pela empresa e restrições temporais para a produção.
  • 43. 43 De maneira geral, podemos dizer que a ativida- de consiste naquilo que o trabalhador faz, suas ações, suas decisões para atingir os objetivos definidos na tarefa ou redefinidos de acordo com o trabalho real (ABRAHÃO et al., 2009). Há ainda uma dimensão importante da atividade: a forma como o trabalhador executa para atingir os ob- jetivos propostos para a tarefa. Esta dimensão contem- pla o trabalho muscular (força, flexibilidade, controlo motor, posturas assumidas, etc.), e as atividades cogni- tivas do trabalhador (ABRAHÃO et al., 2009). A análise da atividade se faz através da observa- ção dos comportamentos dos trabalhadores, sua fala, a direção do olhar, os gestos, os movimentos, desloca- mentos, etc. A atividade pode ser analisada também a partir das estratégias operatórias adotadas pelo traba- lhador para cumprir as metas com as condições for- necidas pela empresa (ABRAHÃO et al., 2009). Os elementos analisados devem ser quantificá- veis através de registros estatísticos, fotografias, ví- deos, planilhas, softwares, entrevistas, questionários etc. De maneira resumida, os aspectos a serem defi- nidos e analisados são: • Realização do trabalho; • Percepção do trabalho; • Gestos e movimentos; • Posturas e vícios;
  • 44. 44 • Ritmo de trabalho; • Pausas e repousos; • Fatores sociais; • Técnicas de análise. As características de resultado em uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET) constam de: A Figura 5 ilustra as relações entre tarefa e ativi- dade, suas diferenças e particularidades. Nota-se que a tarefa está relacionada às condições predetermina- das e a resultados antecipados e a atividade de traba-
  • 45. 45 lho às condições reais de trabalho e ao resultado real. O diagnóstico ergonômico, parte integrante de uma Análise Ergonômica do Trabalho é resultado de uma reflexão e avaliação das etapas pregressas ante- riormente conduzidas. Não se pode identificar um diagnóstico ergonô- mico sem antes ter abordado o assunto ou tema em questão. Por exemplo, não se pode no diagnóstico identificar uma postura incorreta de um trabalhador que realiza uma atividade qualquer sem ter registra- do esta postura por meio de fotografias ou vídeos na análise da atividade, ser ter registrado a frequência que o trabalhador assume tal postura. Além disso, não se pode diagnosticar que a postura “x” assumida gera riscos de doenças oste- omusculares sem corroborar esta informação nas
  • 46. 46 estatísticas de afastamentos ou registros de entrada no serviço médico da empresa por conta de dores ou qualquer distúrbio igual ou similar ao identifica- do, seja pelo trabalhador em questão ou por outros trabalhadores que realizam o mesmo tipo de tarefa. O diagnóstico ergonômico resulta da articula- ção dos dados resultantes das hipóteses iniciais de pesquisa levantadas durante a análise da demanda, das observações livres do ergonomista, da comple- xidade e da variabilidade das situações de trabalho, das questões relacionadas à organização do trabalho ou a cultura organizacional e dos conhecimentos do ergonomista (ABRAHÃO et al., 2009) A formulação do diagnóstico ergonômico tem como objetivo a reformulação das questões iniciais e hipóteses de base, contribuir para desvendar as es- tratégias usadas pelos operadores para realizar uma atividade e contribuir para uma mudança das repre- sentações sobre o trabalho (ABRAHÃO et al., 2009). Segundo Guerín (2001), o diagnóstico ergonômico também contribui para a resolução de problemas micro e macro e identificar sintomas relacionados a não conformidades, como por exemplo: • Erros humanos; • Incidentes críticos; • Afastamentos; • Falta de qualidade nos serviços.
  • 47. 47 Por fim, as recomendações ergonômicas são o produto do esforço metodológico realizado nas etapas iniciais e finais de uma AET. Por isso, a er- gonomia é uma ciência e uma técnica, uma ciência porque requer uma abordagem de pesquisa científica e também porque demanda ações transformadoras de cunho socioeconômico. Não existe uma ação ergonômica sem a busca pela transformação do trabalho, a melhoria dos pro- cessos produtivos, da valorização do profissional na empresa e sua proteção contra doenças ocupacio- nais e acidentes de trabalho. É importante que haja envolvimento de vários profissionais e representantes da empresa para que as recomendações ergonômicas sejam mais comple- tas, menos restritivas e alcancem as expectativas de todos envolvidos. Não se faz ergonomia sem envol- vimento dos trabalhadores. Segundo Guerín (2001), as recomendações er- gonômicas contemplam uma apresentação do es- tudo, objetivo, e resultados, o modelo operativo de ação e os custos das modificações e perspectivas. Al- guns exemplos de melhorias são: • Projeto de novos sistemas de trabalho; • Análise de tempos e movimentos; • Antropometria; • Enriquecimento das tarefas;
  • 48. 48 • Controle do ritmo de trabalho; • Rodízio das tarefas; • Pausas energéticas; • Relaxamento muscular; • Pequenas melhorias; • Correção dos vícios. A Figura 6 ilustra a relação entre as etapas de uma Análise Ergonômica do Trabalho com a tipo- logia de recursos de investigação em pesquisa que devem ser realizados para levantamento de dados, reflexões analíticas e alcance dos objetivos. Finalizamos este capítulo ressaltando que o foco da Análise Ergonômica do Trabalho é contri- buir para o cumprimento do item 17.1 da NR 17, o qual informa:
  • 49. 49 Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer pa- râmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos tra- balhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Para que se possa atingir o objetivo supracitado, a NR 17 informa os requisitos mínimos de interven- ção e análise para o desenvolvimento de uma AET. Estes requisitos são: • Levantamento, transporte e descarga individual de materiais; • Mobiliário dos postos de trabalho; • Equipamentos dos postos de trabalho; • Condições ambientais de trabalho: • Organização do trabalho: o As normas de produção; o O modo operatório; o A exigência de tempo; o A determinação do conteúdo de tempo; o O ritmo de trabalho; o O conteúdo das tarefas.
  • 50. 50 A AET trata-se de um documento dinâmico e por isso deve estar baseado em ações mediatas e imediatas, ou seja, é necessário que se gerencie os achados obtidos durante o levantamento das infor- mações para a melhoria do trabalho.
  • 51. 51
  • 53. 1) Explique a relação do desenvolvimento da ergo- nomia com o pós II Guerra Mundial. 2) Explique por que atualmente as principais pesqui- sas científicas possuem foco na ergonomia cognitiva e organizacional. 3) Explique por que a ergonomia possui natureza interdisciplinar. 4) Segundo Abrahão et al. (2009), há três pressupos- tos para uma compreensão da ação ergonômica e de suas metodologias 5) Por que empregadores e empregados se benefi- ciam da ergonomia?
  • 55. 55 2. ERGONOMIA FÍSICA Os distúrbios musculoesqueléticos encontram- -se como uma das principais causas de afastamento do trabalho, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. A ergonomia física configura-se, portanto, numa ferramenta fundamen- tal de saúde e segurança do trabalho. Veremos neste capítulo as características da ergonomia física, os te- mas que aborda, e natureza de atuação profissional. Neste tipo de ergonomia são abordadas as ca- racterísticas anatômicas, antropométricas, fisiológi- cas e biomecânicas do homem em sua relação com a atividade física. A repetitividade, as cargas e postu- ras de trabalho, o levantamento e o carregamento de objetos, as LER/DORT, o layout do posto de traba- lho, a segurança e a saúde são os aspectos abordados na ergonomia física (IEA, 2000). Visto que para compreender as diferenças cor- porais é necessário conhecer as características ana- tômicas e fisiológicas básicas do sistema musculoes- quelético, para iniciar nossos estudos em ergonomia física iremos abordar assuntos básicos sobre o fun-
  • 56. 56 cionamento do corpo humano, como por exemplo, os músculos, tendões e articulações. Em seguida abordaremos sobre o trabalho muscular, biomecâni- ca, e gasto energético. 2.1 Músculos Esqueléticos Através da atividade motora os músculos se desenvolvem, aumentam de volume e força muscu- lar, independentemente se esta atividade muscular ocorre dentro ou fora de empresas. Entretanto, o desenvolvimento muscular segue padrões fisiológi- cos de treinamento e requer períodos de descanso e recuperação. Por exemplo, para aumento da força muscular o indivíduo deve realizar treinamento ativo de aplicação de forças intensas com o objetivo de au- mentar o número de filamentos de actina e miosina (miofibrilas) e o volume do retículo sarcoplasmático. O exercício de alta intensidade aumenta também a atividade enzimática dos músculos estriados. Por outro lado, a inatividade muscular causa a atrofia do tecido muscular e a sobrecarga de exercícios causam dores, in- flamações e lesões das fibras do tecido muscular. A sobrecarga muscular resultante do excesso de exercícios e de falta de tempo de descanso e recupe- ração resulta em degeneração muscular, que depen- dendo do tempo de ação do estímulo nocivo poderá gerar doenças músculo tendinosas crônicas.
  • 57. 57 Em atividades laborais as ações motoras em geral requerem padrões de controle muscular como precisão, aplicação de força, manutenção de ritmos ativos de contração, podendo ser contrações estáti- cas e dinâmicas, frequência e duração da ação mo- tora. Quaisquer sobrecargas destas ações musculares podem resultar em danos físicos aos trabalhadores, como fadiga, dores e lesão tecidual. A Figura 7 ilustra esquematicamente as estruturas da fibras musculares. Os principais fatores de risco para o desencade- amento de transtornos musculares relacionados ao trabalho são: • Repetição da contração muscular; • Necessidade de aplicação de força ao exercer uma atividade;
  • 58. 58 • Permanência de contração muscular estática; • Manutenção de posturas estáticas e assimétricas; • Necessidade de trabalhar com contrações muscula- res precisas (movimentos finos); • Alta demanda visual no trabalho; • Vibrações de membros superiores e de corpo inteiro. Estes riscos são potencializados caso não haja períodos suficientes de recuperação fisiológica antes do próximo período ou jornada de trabalho. Fatores ambientais, socioculturais ou pessoais também po- dem potencializar os riscos de lesões ou distúrbios nos tecidos musculares. A experiência e os dados estatísticos demons- tram que os principais locais de acometimento de dores musculares são nas articulações dos membros superiores: ombros, cotovelos e punhos, algumas ve- zes irradiadas para braços e antebraços e também na região da coluna vertebral, principalmente na região lombar. Alguns exemplos das enfermidades muscu- lares relacionadas ao trabalho são: a) Reumatismo muscular; b) Fibrose c) Miosite; d) Mialgia; e) Fibromialgia; f) Síndrome miofascial;
  • 59. 59 g) Dores e lesões do maguito rotador; h) Epicondilites; i) Bursites; j) Etc. 2.2 Trabalho Muscular Apesar dos avanços tecnológicos, e da redu- ção dos trabalhos pesados, muitas atividades in- dustriais ainda são realizadas através de aplicação de esforços musculares estáticos e dinâmicos por parte dos trabalhadores. Neste item veremos como o trabalho muscular pode influenciar a saúde dos trabalhadores e como a ergonomia pode contribuir na prevenção de distúr- bios osteomusculares relacionados ao trabalho. Para começar nosso estudo vamos dividir o tra- balho muscular em dois principais grupos: a) Trabalho muscular dinâmico; b) Trabalho muscular estático. Sendo estes tipos de trabalhos musculares de- sempenhados na manipulação de materiais (elevação e carregamento) ou em trabalhos repetitivos. 2.2.1 Trabalho muscular dinâmico
  • 60. 60 No trabalho muscular dinâmico, os músculos esqueléticos estão constantemente se contraindo e se relaxando, desta forma, o fluxo sanguíneo local aumenta, irrigando o músculo esquelético e permi- tindo sua nutrição e metabolismo. Este aumento do aporte sanguíneo muscular ocorre devido ao bom- beamento do sangue pelo coração, que em geral re- duz o fluxo sanguíneo que iria para outras áreas do corpo e aumentando o número de vasos sanguíneos abertos na musculatura que está em trabalho. A frequência cardíaca, a pressão sanguínea e o consumo de oxigênio dos músculos aumentam de acordo com a intensidade do trabalho muscular. Em conjunto, aumenta-se também a ventilação pulmo- nar e a frequência respiratória. O sistema cardiorrespiratório fica mais ativado para promover um maior aporte de oxigênio que é levado pelo sangue arterial até os músculos que es- tão desenvolvendo o trabalho dinâmico. Quanto maior for o consumo de oxigênio pe- los músculos, maior será a intensidade do trabalho muscular dinâmico. Ou seja, o consumo máximo de oxigênio (VO2max) indica a capacidade máxima que uma pessoa possui para o trabalho aeróbico. Além disso, os valores do consumo de oxigênio indicam também o gasto energético do indivíduo, por exem- plo, 1 litro de O2/min = 5 kcal/min. Quanto maior o volume e a massa do tecido
  • 61. 61 muscular maior será a capacidade de trabalho dinâ- mico do músculo. Proporcionalmente, o trabalho dinâmico realizado por músculos pequenos (ex.: bí- ceps braquial) gera uma maior resposta cardiorres- piratória (aumento da frequência cardíaca e pressão sanguínea) do que o trabalho de músculos grandes (ex.: quadríceps). “ Saibamais Quando a contração muscular estiver entre 15 a 20% de sua força máxima, a circulação sanguínea continua normalmente. Porém quando essa contração chega a 60% o sangue deixa de circu- lar no interior do músculo. Em consequência disso o músculo entra em fadiga rapidamente, não sen- do possível mantê-lo contraído por mais de 1 ou 2 minutos. Em seguida ocorre uma dor muscular que provoca uma interrupção obrigatória do trabalho. (texto extraído do livro Ergonomia – Projeto e Pro- dução do autor Itiro Iida – 2005, págs. 161 e 162). 2.2.2 Trabalho muscular estático O trabalho muscular estático é o tipo de con- tração de maior risco para a gênese de distúrbios dolorosos e lesões. Isto ocorre porque durante a contração muscular não há movimento articular e o
  • 62. 62 fluxo de sangue para a região fica restrito devido ao espasmo do tecido muscular, favorecendo a fadiga mais facilmente do que em trabalhos dinâmicos. O aumento da pressão sanguínea é a princi- pal característica da contração muscular estática. A frequência cardíaca e o gasto cardíaco não sofrem grandes variações. A Figura 8 ilustra o músculo ope- rando em condições desfavoráveis de aporte san- guíneo quando em contração estática, favorecendo o acometimento de fadiga muscular e lesões ao se comparar com o trabalho muscular dinâmico. A carga estática não deve superar 8% da força máxima muscular, quando estes esforços precisam ser realizados diariamente, durante várias horas. Se essa carga estática chegar de 15 a 20% da força máxi- ma muscular e se for executada durante dias e sema- nas sem intervalos, a consequência será a incidência
  • 63. 63 de fadiga, dores e doenças osteomusculares (IIDA, 2005, p. 162). 2.2.3 Prevenção de sobrecarga muscular A sobrecarga muscular ocorre quando a capaci- dade de trabalho de um músculo ou grupo de mús- culos é superada pela demanda imposta durante uma atividade. Em geral, a fadiga é o primeiro sinal de sobrecarga muscular, reduzindo a capacidade para o trabalho, a produtividade e a qualidade do trabalho. Para a prevenção da sobrecarga muscular é ne- cessário verificar o conteúdo do trabalho e o am- biente no qual o trabalhador está inserido. A subs- tituição da aplicação de força muscular por meios técnicos de levantamento e carregamento de cargas é um dos principais recursos para a prevenção de sobrecargas musculares. Outra maneira de prevenção é flexibilizar as atividades, rodízios de tarefas, pausas e redesenho do trabalho de acordo com as capacidades do tra- balhador e a demanda. O foco é reduzir ao máximo o trabalho muscular estático e o trabalho repetitivo. Importante também que o trabalhador seja trei- nado, possua condição física de acordo com a deman- da, controle o sobrepeso e não seja sedentário. Isto porque os esforços em ergonomia podem ser insufi- cientes se não tiverem a contribuição do trabalhador.
  • 64. 64 2.3 Discos Intervertebrais Os discos intervertebrais são estruturas que se localizam na coluna vertebral. Eles permitem o movimento e a flexibilidade do tronco, realizam as transmissões de cargas e redução de impactos. Os distúrbios em coluna vertebral ocorrem devido a alguma alteração morfológica dos discos interverte- brais, como alteração de seu formato ou da sua lo- calização entre as vértebras, ou ainda do seu núcleo, redução de espessura, ou distúrbios em suas fibras. As hérnias de disco são um exemplo destes casos. A coluna vertebral é composta por 24 discos intervertebrais que se situam entre as vértebras. O volume dos discos intervertebrais aumenta à medi- da que se posicionam na coluna na direção superior para inferior. Os discos intervertebrais são formados por um tecido cartilaginoso. Em sua região interna contém o núcleo pulposo, que é uma massa gelatinosa que permite a redução de cargas na coluna vertebral. No perímetro externo do disco intervertebral há o anel fibroso, que é uma estrutura muito firme, como se fosse uma rede trançada. Este anel fibroso tenta im- pedir que o núcleo pulposo sofra herniações quando o disco intervertebral é submetido a cargas axiais ou laterais de compressão.
  • 65. 65 Como informado anteriormente, o disco inter- vertebral transmite e distribui as cargas mecânicas ao longo da coluna vertebral. O disco permite também que o ser humano permaneça em postura bípede e use concomitantemente seus membros superiores em diversos tipos de atividades. Permite ainda fazer o tronco curvar-se, torcer-se e se inclinar. Durante as atividades laborais os discos inter- vertebrais podem ser submetidos a cargas mecânicas complexas, principalmente se a natureza das ativi- dades seja física, como no levantamento e carrega- mento de cargas, trabalhos manuais, trabalhos que exijam a aplicação de forças etc. Por exemplo, a extensão e a flexão de tronco produzem forças de tração e compressão nos dis- cos intervertebrais. Já a rotação da coluna produz tensões transversais de cisalhamento. Em geral, con-
  • 66. 66 tudo, não há movimentos puramente de flexão, ex- tensão, inclinação lateral ou de rotação. Na prática os movimentos corpóreos, incluindo no tronco são compostos de dois ou mais tipos de movimentos. A Figura 10 ilustra os níveis de pressão do 3º disco intervertebral lombar nas diferentes posturas. Percebam que a pressão é maior na postura sentada do que na posição ortostática (em pé). Permanecer na postura sentada por longos períodos é um risco ocupacional para lesões em coluna vertebral, princi- palmente na região lombar. Medições de cargas mecânicas realizadas nos discos intervertebrais demonstram que a posição sentada gera uma pressão cinco vezes maior do que na posição deitada. O levantamento de cargas au- menta ainda mais as cargas na coluna. Se esta carga for elevada longe do eixo axial do corpo as pressões
  • 67. 67 nos discos intervertebrais crescem muito. Este é o principal risco de lesões em coluna vertebral: elevar cargas a partir do solo e longe do eixo axial do corpo. Outros riscos importantes são a elevação e o transporte repetitivo de cargas pesadas ou a perma- nência do trabalhador em posturas de flexão, hipe- rextensão, inclinação e torção. Os riscos aumentam quando estas posturas são compostas. Os riscos de lesões lombares estão associados também à vibra- ção, principalmente na frequência de 5 a 10 Hz e ca- racterísticas pessoais do indivíduo, como por exem- plo, o sobrepeso, o sedentarismo, lesões prévias e encurtamento muscular. A prevenção de distúrbios em coluna vertebral é baseada em três parâmetros de conduta: a) O desenho (layout) e os espaços de trabalho; b) Educação e formação; c) Seleção do trabalhador1 . O Quadro 2 expõe de maneira sistemática e su- cinta exemplos de parâmetros de melhoria para re- dução de riscos de lesões em coluna vertebral lom- bar (HALPERN, 1992). 1 A seleção de trabalhador não faz parte da ergonomia, pois fere os princípios antropocêntricos da disciplina de “adaptar o trabalho ao homem”, porém pode fazer parte de ações práticas de proteção ao trabalhador por períodos pré- -determinados e quando todos os outros recursos falharem.
  • 68. 68 A maioria das ações ergonômicas de prevenção de distúrbios em coluna vertebral lombar focalizam seus esforços na redução da frequência de levanta- mento de cargas, localização inicial para seu levanta- mento para inibir a necessidade de flexão, inclinação e torção de tronco, adequação das pegas (alças) e na adaptação dos espaços de trabalho. Parte das melhorias nesta área envolve a tecno-
  • 69. 69 logia, como a substituição do esforço muscular pela ação de forças de máquinas e equipamentos, princi- palmente se há uma dificuldade em adaptações con- forme descritas no parágrafo anterior. A manipulação de pacientes no leito (banhos, medicações), sobretudo os pacientes obesos e de- pendentes (em leitos de UTI, por exemplo), a in- serção de mecanismos para elevação como o Jack, Viking (lifts) é mais eficaz do que tentar seguir as prescrições contidas no parágrafo anterior, visto que a carga a ser manipulada pelo trabalhador é um ser humano e ainda que haja tecnologia envolvida as al- turas e dimensões à serem trabalhadas possuem res- trições impostas pelo leito hospitalar. Outro ponto importante é a educação e forma- ção dos trabalhadores. Não se pode permitir que os trabalhadores sejam alocados em tarefas que requei- ram a manipulação de cargas sem que eles recebam treinamento adequado e periódico sobre as formas corretas de desempenhar suas atividades. Além dis- so, a NR-17 exige que seja feita uma capacitação so- bre o assunto para os trabalhadores que manipulem cargas em seu trabalho. Estes treinamentos deverão ser documentados e cada trabalhador deverá assinar uma lista de pre- sença para comprovar sua participação. Uma avalia- ção do treinamento deverá ser feita por eles com o objetivo de melhoria da qualidade do evento.
  • 70. 70 A seleção do trabalhador como exposto ante- riormente deve ser feita em última instância, pois o que deve ser adaptado é o trabalho e não o indiví- duo. Entretanto, temos que convir que há trabalhos de natureza pesada os quais uma seleção pode ser a forma mais adequada de prevenção de dores lomba- res (bombeiros, policiais, pedreiros etc.). 2.4 Antropometria A antropometria é um conjunto de teorias e práticas dedicadas a definir os métodos e variáveis para medir o ser humano com o objetivo de assegu- rar seu conforto, segurança e saúde ao executar suas atividades. A antropometria é um importante ramo de estudo da ergonomia física. A antropometria se relaciona com a estrutura do corpo, sua composição, massa, estatura, dimen- sões, constituição corporal e os espaços de trabalho, as máquinas e o ambiente como um todo. Para o estudo da antropometria padronizam-se algumas variáveis antropométricas de medida, que expressam uma dimensão padrão do corpo ou um segmento corporal. São definidos pontos de referên- cia precisos do corpo, como por exemplo, medidas realizadas a partir de proeminências ósseas ou extre- midades de um membro. As medidas antropométricas podem ser lineares,
  • 71. 71 como a altura ou a distância entre pontos de referên- cia corporais, angulares, como por exemplo, o ângulo formado pela flexão máxima do tronco ou do punho de um indivíduo. Pode ser ainda um perímetro, como o perímetro do braço na altura média do músculo bí- ceps, ou a medida da cintura pélvica etc. Os instrumentos mais comuns utilizados na antropometria são a fita métrica, o goniômetro e o estadiômetro. Entretanto, atualmente muitas das me- didas antropométricas são resultados de instrumentos complexos automatizados, utilizados principalmente em laboratórios de biomecânica e antropometria (dis- ciplinas complementares) e softwares diversos. A Figura 11 ilustra as principais variáveis antro- pométricas, como por exemplo, a estatura, as distân- cias dos membros superiores e inferiores, as dimen- sões da cabeça, os alcances horizontes na postura em pé e sentado. “ Saibamais Eletromiografia (EMG): é o estudo da ativi- dade elétrica do músculo. O estudo do músculo a partir dessa perspectiva pode ser muito válido por proporcionar informa- ção concernente ao controle dos movimentos voluntários e/ ou reflexos. O estudo da atividade muscular durante determi- nada tarefa pode revelar quais músculos iniciam e cessam sua atividade. Além disso, é possível quantificar a magnitude da resposta elétrica dos músculos durante a tarefa.
  • 72. 72 Eletromiograma é o perfil do sinal elétrico detectado por um eletrodo num músculo, ou seja, é a medida do potencial de ação do sarcolema. Sinal de EMG é registrado usando um eletrodo, que funciona como uma antena, podendo estar interno ou superficialmente sobre a pele. O eletrodo interno é uma agulha que é aplicada diretamente sobre o músculo. Este tipo de eletrodo é utilizado para músculos profundos ou pequenos. Eletrodos de superfí- cies são aplicados sobre a pele, por cima de um músculo, de modo que são utilizados principalmente para músculos super- ficiais (é o mais utilizado em estudos biomecânicos). (Texto extraído do livro “Fundamentos do Movi- mento Humano” de Joseph Hamill, p. 85 e 86).
  • 73. 73 A antropometria é uma ferramenta que auxilia na definição das distâncias de trabalho, como por exemplo, a altura ideal de uma bancada, de uma mesa para uso de computadores etc., o diâmetro de uma alça, de um assento para uso em escritórios ou para veículos, ou ainda para determinar o tamanho exato do uniforme dos trabalhadores. Como exposto anteriormente, nos dias atuais, softwares diversos auxiliam no dimensionamento antropométrico, sendo na prática as medidas seg- mentares individuais ficarem quase que restritas para trabalhos de cunho científico, ou seja, laboratórios principalmente de universidades ou em indústrias multinacionais, como montadoras de veículos para a resolução de problemas bem específicos. 2.5 Biomecânica Ocupacional A biomecânica é uma disciplina que une dois ra- dicais: “bio” (sistema vivo) + “mecânica” (análise de forças e seus efeitos) para estudar os movimentos cor- porais e forças relacionadas ao trabalho. Ela estuda a forma que o organismo exerce força e gera movimento. A biomecânica une as ciências físicas, ciências biológicas e ciências comportamentais para compre- ender a carga física de trabalho. Ela utiliza leis da física e conceitos de engenharia para descrever mo- vimentos realizados por vários segmentos corpóreos
  • 74. 74 e forças que agem sobre estas partes do corpo du- rante atividades normais de vida diária (CHAFFIN et al, 2001, p.1) A biomecânica estuda as interações do ser hu- mano com os materiais, ferramentas, posto de traba- lho e máquinas com o objetivo de reduzir os distúr- bios músculo esqueléticos. Segundo Hall (2007), os movimentos humanos podem ser analisados de maneira quantitativa ou qualitativa. A análise quantitativa, como o próprio nome diz, inclui informações numéricas, enquanto a análise qualitativa requer descrições de caracte- rísticas relacionadas às qualidades, ou seja, sem ne- cessidade de números. Por exemplo, ao se analisar um trabalhador pegando um documento numa im- pressora o observador poderia dizer: o trabalhador inclinou-se pouco para tal (ao descrever o movimen- to de maneira qualitativa). De maneira quantitativa, o observador poderia dizer, o trabalhador flexionou seu tronco em 15 graus para alcançar o documento. O corpo humano assemelha-se a um sistema de alavancas movido pela contração muscular. Vejamos como o corpo humano trabalha como alavancas. A Figura 12 ilustra o tipo de alavanca interfixa, na qual o ponto de apoio encontra-se entre a carga e o ponto de aplicação da força.
  • 75. 75 A Figura 13 ilustra o tipo de alavanca interresis- tente, na qual a resistência (carga) permanece entre o ponto de apoio e o local de aplicação da força. Segundo Couto (2002), o ser humano possui pouca capacidade de aplicação de forças físicas no tra- balho, pois suas alavancas fisiológicas possuem carac- terísticas que habilitam a realização de movimentos de alta velocidade e grande amplitude de movimento, porém com baixa capacidade de força e aplicação de resistências. Isto ocorre pela predominância no corpo
  • 76. 76 humano de alavanca do tipo interpotente A Figura 14 ilustra o tipo de alavanca interpo- tente, na qual o local de aplicação da força perma- nece entre o ponto de apoio e a resistência (carga). O movimento humano é composto por dois tipos de movimentos: o movimento linear e o mo- vimento angular. Geralmente atuam simultaneamen- te numa combinação complexa a qual chamamos de movimentação geral. O movimento linear também é denominado de movimento de translação ou translacional (HAMILL, 2008). Este tipo de movimento ocorre ao longo de uma trajetória retilínea, ou ainda, de maneira curva em que todos os pontos num corpo ou objeto se movi- mentam numa mesma direção e num mesmo interva- lo de tempo. Alguns autores classificam o movimento linear de duas maneiras: se o movimento ocorrer em linha reta o movimento é retilíneo e se a linha for cur- va, o movimento é curvilíneo (HALL, 2007). O movimento angular é o movimento em torno
  • 77. 77 de algum ponto ou a rotação ao redor de uma linha central imaginária, conhecida como eixo de rotação (HALL, 2007; HAMILL, 2008). Nos estudos biome- cânicos em geral primeiramente analisa-se as caracte- rísticas do movimento linear de uma atividade e, em seguida, examina-se os movimentos angulares (HA- MILL, 2008). 2.5.1 Planos cardinais de referência Segundo Hall (2007), os planos cardinais são planos anatômicos de referência os quais dividem o corpo em três dimensões: • Plano sagital (ântero-posterior): divide o corpo ver- ticalmente, em metade direita e esquerda. Neste plano ocorrem os movimentos para frente e para trás do corpo e dos segmentos corporais; • Plano frontal (frontal): divide o corpo verticalmente em metades anterior e posterior. Neste plano ocor- rem os movimentos laterais do corpo e dos segmen- tos corporais; • Plano transverso (horizontal): divide o corpo nas metades superior e inferior. Neste plano ocorrem os movimentos horizontais do corpo e de seus segmen- tos (quando o corpo está na vertical).
  • 78. 78 “ SaibamaisTerminologia dos Movimentos Articulares “Quando o corpo humano se encontra na posição anatômica de referência, considera-se que todos os segmentos corporais estão posicionados a 0° ou em posição neutra. A rotação de um segmento corporal na direção oposta à posição anatômica é denomina- da de acordo com a direção do movimento e men- surada como o ângulo formado entre a posição do segmento corporal e a posição anatômica”. (texto extraído do livro Biomecânica Básica (p. 37) de Susan Hall (2007).
  • 79. 79 No plano sagital os três movimentos principais são a flexão, a extensão e a hiperextensão. Os movimentos principais no plano frontal são chamados de abdução (afastamento da linha média do corpo) e a adução (aproxima-se da linha média do corpo). As inclinações laterais do tronco também ocorrem no plano frontal, bem como a elevação e depressão da escápula. No caso da mão ocorrem o desvio radial (movimento do punho em direção ao osso rádio) e o desvio ulnar (movimento do punho em direção ao osso ulna), também chamados de ab- dução e adução do punho. No caso dos pés a rota- ção lateral da planta do pé é denominada eversão
  • 80. 80 e a rotação medial é chamada de inversão (HALL, 2007), conforme Figura 17. Os movimentos no plano transverso são as rotações mediais e laterais (membros superiores e inferiores), supinação (palma da mão voltada para frente/cima) e pronação (palma da mão voltada para trás/baixo) para o antebraço. No caso da cabeça, pescoço e ombro os movimentos são chamados de rotação para a esquerda e rotação para a direita.
  • 81. 81 2.5.2 Movimentos realizados pelos músculos Os músculos são os principais responsáveis pelos movimentos corporais. Devido às contrações musculares conseguimos manter uma postura, le- vantar uma carga, e movimentar o corpo. Pode ain- da retardar um segmento que está se movimentando numa determinada velocidade e acelerar o corpo ou um objeto.
  • 82. 82 Os músculos possuem uma tensão a qual é apli- cada nas articulações em forma de compressão, o que favorece a estabilidade articular. Quando as tensões musculares provocam afastamento dos segmentos corporais em membros superiores e inferiores ocorre o contrário, a tração, o que pode causar instabilidade articular e consequentemente riscos de lesões. Os músculos são classificados em estriados (músculos esqueléticos e do miocárdio/cardíaco) e lisos (músculos viscerais, como por exemplo, do in- testino). Os músculos esqueléticos são de controle voluntário e o do miocárdio e lisos estão sob contro- le do sistema autônomo. Os músculos esqueléticos são responsáveis pela locomoção, movimento dos membros, postura e es- tabilidade articular (HAMILL, 2008). As quatro características do tecido muscular es- quelético são (HAMILL, 2008): • Irritabilidade: capacidade de responder à estímulos; • Contratilidade: capacidade do músculo de encurtar ao receber estímulos; • Extensibilidade: capacidade do músculo de alongar ou esticar além do comprimento em repouso. Este alongamento só pode ser realizado através da ação de outro músculo ou de uma força externa; • Elasticidade: capacidade da fibra muscular em re- tornar ao seu comprimento de repouso.
  • 83. 83 Em relação à tensão muscular usam-se as se- guintes classificações: •Concêntrico: músculo que realiza tensão provocan- do encurtamento no seu comprimento, ou seja, o trabalho é positivo; • Excêntrico: músculo que mesmo realizando tensão o músculo se alonga, ou seja, o trabalho é negativo; • Isométrico: músculo que realiza tensão, mas não há mudança visível ou externa na posição articular, ou seja, não há trabalho externo. Em relação ao músculo motor do movimento usam- -se as seguintes classificações: •Agonista: músculo responsável pela produção de um movimento específico por meio de ação muscu- lar concêntrica; • Antagonista: músculo responsável pela oposição à ação muscular concêntrica do músculo agonista. Em relação ao tipo de exercício muscular usam-se as seguintes classificações: • Exercício isocinético: exercício em que a ação muscular é realizada numa mesma velocidade. Ge- ralmente ocorre num aparelho de velocidade con- trolada. O indivíduo desenvolve tensão máxima ao longo da amplitude total de movimento na veloci- dade especificada do movimento (HAMILL, 2008); • Exercício isométrico: exercício que se aplica carga ao músculo em uma mesma posição articular (HA-
  • 84. 84 “ Saibamais Propriedades dos Músculos Força: é a potência máxima que pode ser exercida numa única contração voluntária. Resistência: é a capacidade de persistir. Definida e medida como a capacidade de repetição de con- trações submáximas ou o tempo de sustentação de esforço submáximo. Flexibilidade: é a amplitude de movimento através da qual os membros são capazes de mover-se. Velocidade: inclui o tempo de reação e o tempo de movimento. Potência: é a combinação de força e velocidade (é a distância percorrida pelo músculo em determinada carga em determinado tempo). Agilidade: é a capacidade de mudar de direção e posição rapidamente, com precisão e sem perda do equilíbrio. Equilíbrio: é a capacidade de manter o posicionamen- to correto do corpo durante movimentos vigorosos. Coordenação: é a relação harmoniosa entre os mo- vimentos repetidos e de alta velocidade. (texto extraído do livro “Ergonomia Aplicada ao Trabalho em 18 Lições”, de Hudson Couto, p. 25-26). MILL, 2008); • Exercício isotônico: exercício em que uma ação muscular (excêntrica ou concêntrica) é realizada para mobilizar uma carga específica ao longo de uma am- plitude de movimento (HAMILL, 2008).
  • 85. 85 Como já vimos os movimentos são realizados através da contração muscular. Estas contrações pos- suem características de velocidade, precisão e forma específica de movimento, dependendo do segmen- to corporal e consequentemente dos músculos que agem como agonistas e antagonistas no trabalho muscular. As características dos movimentos são: • Precisão: Os movimentos são realizados através das extremidades mais distais do corpo humano, neste caso, as pontas dos dedos das mãos; • Ritmo: Os movimentos devem ser suaves, curtos e rítmicos. Acelerações ou desacelerações bruscas, ou mudanças rápidas de direção causam fadiga, pois exigem neste caso maior contração muscular (IIDA, 2005, p. 175); • Movimentos retos: São mais difíceis de serem rea- lizados, pois exigem integração complexa de movi- mentação de outras articulações (IIDA, 2005); • Terminações: São movimentos que exigem posi- cionamentos precisos. Demandam atenção visual importante, e podem ser difíceis e demorados. Con- troles e anteparos são importantes para a execução destes movimentos (IIDA, 2005).
  • 87. 1) Cite exemplos de aspectos abordados pela ergo- nomia física. 2) Quais as consequências para os trabalhadores de sobrecargas musculares? 3) Quais os principais fatores de risco para o desen- cadeamento de transtornos musculares relacionados ao trabalho? 4) Cite formas de prevenção de sobrecargas musculares. 5) A prevenção de distúrbios em coluna vertebral é ba- seada em três parâmetros de conduta. Quais são eles?
  • 89. 89 3. ERGONOMIA COGNITIVA A ergonomia cognitiva contempla os processos mentais dos trabalhadores em situação de trabalho. Os itens mais importantes neste tipo de ergono- mia são: a percepção, a memória, o raciocínio e as respostas motoras, a relação das interações entre pessoas e outros componentes de um sistema, etc. Os temas centrais são a carga mental de trabalho, a tomada de decisão, a interação homem-máquina, a confiabilidade e o estresse (IEA, 2000). A Ergonomia Cognitiva é uma especialidade da Ergonomia - ciência do trabalho que estuda as repercussões da organização e dos processos de tra- balho (ambientes, artefatos, métodos) sobre o con- forto, segurança, saúde e na eficácia do trabalho. É uma disciplina científica que tem por obje- tivo descrever e explicar os aspectos cognitivos da relação entre a ação humana e os elementos físicos e materiais do ambiente, mediados pelo uso de artefa- tos (CRUZ, 2006). Para iniciar nosso estudo sobre a ergonomia cognitiva vamos definir o termo cognição. Segundo
  • 90. 90 Cruz (2001), cognição é um termo psicológico que designa o processo de conhecer a realidade, ou mais especificamente, a capacidade humana para adqui- rir, manter e utilizar informações, conhecimentos ou aprendizagens. É a partir dos processos cognitivos que o ser humano adquire e produz conhecimentos. Os processos cognitivos básicos são: • Ater-se a estímulos ambientais • Perceber propriedades ou características desses es- tímulos e as relações entre eles • Tomar decisões com base em conhecimentos e ra- ciocínios derivados dessas percepções • Executar ações coordenadas de ativação, manuten- ção e controle de comportamentos (regulações) Para tais usam-se a memória, a atenção e cons- ciência, o reconhecimento de padrões, a resolução de problemas e a tomada de decisões. O trabalhador, portanto captam as informações através dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, ol- fato, cinestesia e propriocepção) e tentam interpretar e organizar estas informações para então tomar suas decisões. E o que é a percepção? Percepção é um conjunto de processos pelos quais recebemos, reco- nhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais (ABRAHÃO et al 2009).
  • 91. 91 3.1 Sensação e percepção Segundo Iida (2005), sensação é o processo bio- lógico de captação de energia ambiental e a percepção é o resultado do processamento do estímulo senso- rial, dando-lhe um significado, ou seja, os estímulos recebidos são organizados e integrados para que seja significativo para o indivíduo. A memória faz parte deste processo de significância das sensações. Ainda segundo o autor a sensação é um fenô- meno biológico, ao passo que a percepção envolve um processamento, ou seja, para que ocorra necessi- ta que o indivíduo compare a informação com outra previamente armazenada na memória, ou seja, de- pende de suas experiências e de fatores individuais, como por exemplo, a personalidade, o nível de aten- ção e as expectativas (IIDA, 2005). A percepção pode ser alterada pelo nosso co- nhecimento, por nossa motivação, pelo estado emo- cional e por outras condições fisiológicas. Estes es- tados influenciam a sensibilidade dos objetos como também as propriedades percebidas neles. Os estágios da percepção são a pré-atenção e a atenção. Na pré-atenção há a percepção de “algo” diferente no ambiente e são identificadas caracterís- ticas globais do objeto. Já na atenção há a focalização dos sentidos em aspectos interessantes do objeto ou estímulo e o reconhecimento das informações.
  • 92. 92 “ Saibamais Sensação X Percepção Letras impressas em um papel são convertidas em sensações pelas células fotossensíveis dos olhos. Es- ses estímulos são conduzidos pelo nervo óptico até o lobo occipital do cérebro. Neste local são decodi- ficados através da atuação da memória. A percepção das letras está ligada à identificação de suas formas e o seu reconhecimento, em comparação com um padrão armazenado na memória. Uma pessoa analfabeta não possui esta memória e, por isso, não consegue fazer esta decodificação, ou seja, não consegue transformar alguns traços do papel em significados. Outro exemplo ocorre com usuários de computadores que não reconhecem os ícones presentes em interfaces de programas, desta forma, em alguns casos, estes usuários não conse- guem decifrar o significado desses ícones e, então, há um bloqueio da percepção. (Texto extraído de “Ergonomia – Projeto e Produção” de au- toria de Itiro Iida, 2ª. Edição p. 259). .
  • 93. 93 A manutenção da atenção é modulada pelos se- guintes fatores: • Fator fisiológico - depende das condições neuroló- gicas e da situação física de trabalho; • Fator motivacional - depende da forma como o estímulo se apresenta e provoca interesse; • Concentração - depende do grau de solicitação e de atuação do estímulo. Para o estudo da percepção, memória e tomada de decisões a ergonomia faz uso dos conhecimentos das ciências cognitivas. A diferença está nas especifici- dades da ergonomia, que faz o uso destas disciplinas com o foco do indivíduo no ambiente de trabalho. As ciências cognitivas distinguem cinco gran- des áreas, as quais são: a psicologia cognitiva, a inte- ligência artificial, a linguística cognitiva, as neuroci- ências e a filosofia da mente (LEPLAT & MONT- MOLLIN, in FALZON, 2007). Na Figura 20 podemos identificar que os estí- mulos provenientes do meio ambiente apresentam uma série de características que são captadas pelos nossos sentidos, neste caso a visão. Tais informações captadas pela visão são transformadas em estímulos eletroquímicos, transmitidos dos olhos para as regi- ões de processamento do cérebro e interpretadas, organizadas, armazenadas e evocadas. Neste proces-
  • 94. 94 so são utilizados a memória, a categorização, aten- ção, resolução de problemas e processos decisórios, que servem de base para a ação do indivíduo. Fica, portanto, claro que a rosa da figura é apenas uma rosa após a informação sensorial é traduzida pelo sistema nervoso central, mas especificadamente no córtex cerebral. Podemos resumir os assuntos abordados neste subitem da seguinte maneira: a sensação é um fe- nômeno essencialmente biológico enquanto que a percepção envolve processamento, reconhecimento de uma informação, comparação (memória). Vimos que a percepção também depende de experiências anteriores do indivíduo, bem como de fatores indivi-
  • 95. 95 duais, tais como: a personalidade, o nível de atenção e as expectativas do indivíduo. Desta maneira, as atividades cognitivas são constituídas por conceitos ou símbolos. É sobre esses símbolos que reagimos ao meio ambiente ou agimos sobre ele, modificando-o e nos modificando nesse processo. 3.2 Memória Como a memória humana é parte importante para que estímulos sensoriais se transformem em per- cepções, ou seja, que tenham significância ao indiví- duo, o estudo da memória é importante para estudio- sos em ergonomia. Além disso, veremos que a memó- ria serve também de base para a tomada de decisões. “ Saibamais Diferenças entre MCD e MLD A MCD relaciona-se mais com os aspectos formais do que aqueles conceituais da informação. Ela tende a confundir palavras que têm sons semelhantes en- tre si (ex.: tom, bom, som, são), mas não as palavras diferentes que têm significados semelhantes (ex.: ne- gro, preto, escuro). Na MLD o inverso acontece, ou seja, se relaciona mais com os aspectos semânticos ou conceituais, podendo se confundir informações de conceitos parecidos (ex.: diagrama / gráfico). Por exemplo, pode-se confundir Pedro com João, porque
  • 96. 96 são irmãos ou porque ambos têm a mesma profissão (Texto extraído de Ergonomia Projeto e Produção – Itiro Iida, 2005, p. 261). A memória é um conceito que expressa uma condição de reflexo ou “estocagem” das represen- tações e dos conhecimentos. Através da memória é possível utilizar as capacidades mnésicas como uma competência cognitiva essencial à organização e fun- cionamento do pensamento e da linguagem. Dentre os processos cognitivos, a memória é o processo pelo qual as experiências levam à alteração do comportamento. Através da memória é possível que o indivíduo tenha capacidade de reter, recuperar, armazenar e evocar informações disponíveis, gerar novas ideias e, finalmente, a memória ajuda na toma- da de decisões. No processo de memorização, as informações ambientais são captadas, interpretadas, filtradas e ar- mazenadas em 03 níveis de processamento: 1. Registro sensorial - sensação/percepção; 2. A memória de curta duração (MCD) 3. A memória de longa duração (MLD) • A Memória de Curta Duração (MCD), também cha- mada de memória de trabalho, designa o conjunto dos processos que permitem conservar uma informação durante o tempo necessário para a execução de uma ação. Por exemplo, é utilizada quando alguém dita
  • 97. 97 o número de um telefone: este número é retido na memória, podendo ser transcrito no papel e, se esse processo demorar mais de 30 segundos, não seremos mais capazes de lembrá-lo (IIDA, 2005). A MCD ou de trabalho tem capacidade de esto- cagem limitada. O número de unidades retidas, assim como o seu tempo de conservação, depende, por um lado, da significação das unidades a memorizar e, por outro lado, de uma atividade de auto-repetição que permite conservar as informações. É uma memória específica à realização de uma tarefa particular, ela tem uma duração de vida transitória ligada à duração desta tarefa. A Memória de Longa Duração (MLD) designa o conjunto dos processos que permitem conservar o conjunto de acontecimentos e conhecimentos que uma pessoa acumulou ao longo da sua vida. A MLD tem caráter associativo, ou seja, as novas informa- ções são melhor fixadas quando se conectam com a rede neural já existente no cérebro (IIDA, 2005). A Tabela 1 ilustra as diferenças entre a Memó- ria de Curta Duração (MCD) e a Memória de Longa Duração (MLD):
  • 98. 98 Há ainda autores que classificam em 05 ti- pos as memórias: • Memória declarativa; • Memória imediata; • Memória de curta duração; • Memória de longa duração; • Memória de procedimento. Memória declarativa refere-se à retenção de ex- periências sobre fatos e eventos do passado. Ela tem a capacidade de verbalizar um fato. Memória imediata é a memória que dura de frações a poucos segundos, como por exemplo, ca- pacidade de repetir imediatamente um número de telefone que é dito, estes fatos são, após um tempo, completamente esquecidos. Memória de curto prazo tem duração de algu- mas horas e existe a formação de traços de memória, por exemplo, a capacidade de lembrar-se do que se
  • 99. 99 vestiu no dia anterior, ou com quem se encontrou. Memória de longa duração é a memória com duração de meses a anos, como por exemplo, a capa- cidade de aprendizado de uma nova língua. Memória de procedimento é revelada quando a experiência facilita o desempenho numa tarefa que não requer evocação consciente ou intencional daquela ex- periência, ou seja, é a capacidade de reter e processar informações que não podem ser verbalizadas, como tocar um instrumento ou andar de bicicleta. 3.3 Tomada de decisão Segundo Iida (2005) a decisão é a escolha de uma entre diversas alternativas, cursos de ação ou opções possíveis. A tomada de decisões é uma das atividades cognitivas mais comuns no ser humano. De maneira resumida pode-se dizer que a tomada de decisões consiste na seleção entre escolhas e oportu- nidades possíveis. É uma abordagem sistemática de um conjun- to de processos mentais usados para determinar com firmeza o melhor curso de ação em resposta a um dado conjunto de circunstâncias. O processo de tomada de decisões faz uso tanto da memória de curta duração quanto da memória de longa duração. A principal causa da dificuldade de tomar decisões complexas está na capacidade limitada da memória
  • 100. 100 de curta duração, desta maneira, algumas opções podem ser esquecidas ou omitidas. Esta limitação é responsável por grande parte dos acidentes ocorri- dos por falha humana. Aspectos cognitivos (pensa- mentos) e afetivos (sentimentos) estão relacionados à tomada de decisão no contexto da ocorrência de acidentes de trabalho. É comum que trabalhadores tenham que ser obrigados a tomar decisões sem conhecer todas as alternativas possíveis, ou seja, erros e acidentes po- dem acabar ocorrendo como resultado de uma de- cisão tomada de forma incorreta, ou quando opta por uma alternativa na qual o resultado não será o esperado pelo indivíduo (Iida, 2005). Há vários fatores que influenciam a tomada de decisões. As perguntas à seguir servem para que ponderemos sobre alguns deles: • ...há intervenção de fatores externos? • ...há pressões no trabalho? • ...há restrições tecnológicas? • ...há restrições de tempo? • ...a comunicação é insuficiente? • ... há motivação no trabalho? As classes de tomada de decisões são: • Rotina;
  • 101. 101 • Estratégica; • Operacional; • Emergência. Alguns condicionantes para a tomada de deci- sões são: • Aspectos cognitivos: o Percepção; o Atenção; o Memória; o Tomada de decisão; • Estados mentais: o Desejo; o Motivação; o Crenças; o Valores. As consequências de uma decisão são os resul- tados, os quais são associados a uma significância ou um valor subjetivo de utilidade. Como cada indivíduo possui seus valores e motivações, as pessoas tomam decisões diferentes mesmo estando na mesma situa- ção. Os modelos mais recentes de análise de um pro- cesso decisório consideram 03 etapas, as quais são: coleta de informações, avaliação e seleção (Iida, 2005). A coleta de informações no sentido que em que é importante que antes da tomada de decisões
  • 102. 102 as pessoas busquem informações. Quanto melhor a qualidade destas informações é mais provável que da mesma maneira as decisões sejam de melhor qua- lidade. Quando as informações não são completas ou são de difícil interpretação as decisões podem ser tomadas em suposições ou probabilidades. O con- trário, ou seja, o excesso de informações também dificulta uma tomada de decisão de qualidade. Se o indivíduo tiver condições de filtrar as informações, a chance de utilizar aquelas que são relevantes para a tomada de decisões pode contribuir para a qualidade das mesmas num processo decisório. Existem, ainda, indivíduos que possuem uma visão parcial do problema e tomam decisões de su- botimização das informações, o que também contri- bui para que decisões sejam tomadas sem uma base de análise adequada. A avaliação ocorre quando as informações re- cebidas pelo indivíduo são úteis para avaliar uma si- tuação, comparando-as com experiências e conheci- mentos prévios do indivíduo (Iida, 2005). Quando o indivíduo coleta estas informações e as processa é necessário que esta interpretação do seu significado componha um modelo cognitivo. Quanto mais fidedigno este modelo cognitivo es- tiver em relação à realidade, maior será o grau de acertos no que se refere à tomada de decisão. Além disso, o modelo mental servirá de base para prever a
  • 103. 103 evolução futura do ambiente, desta forma, o proces- so decisório deve se adaptar a dinâmica do trabalho. A seleção das opções é a última etapa do pro- cesso decisório. Uma vez escolhida uma opção, é im- portante descrevê-la minuciosamente e providenciar condições compatíveis para implementá-la. Para tal, há necessidade de definições de atribuições de res- ponsabilidades e provisão de recursos (Iida, 2005). 3.4 Modelos cognitivos A investigação dos níveis de marco teórico de referência, como o estudado anteriormente (sistema sensório-motor, percepção e processamento das in- formações) é sustentada pela psicologia cognitiva. Nos últimos 40 anos, o estudo dos processos cogni- tivos humanos tem proporcionado teorias explicati- vas e dados empíricos que nos permitem conhecer como as pessoas sentem, percebem e armazenam in- formações, e, por outro lado, como a recuperam e a utilizam para a tomada de decisões (CAÑAS, 2000). Os modelos cognitivos que serão propostos tentam explicar a interação de uma pessoa com um artefato. Em geral, este é o esquema de processa- mento de informações tal como hoje é utilizado em psicologia cognitiva.
  • 104. 104 O modelo ilustrado na Figura 21 considera que o ser humano possui um sistema cognitivo compos- to por sistemas sensoriais encarregados de extrair as informações do ambiente. Estas informações são analisadas pelos processos perceptivos e armazena- das pela memória, para poder ser recuperada e utili- zada anteriormente. Em ergonomia cognitiva este modelo de siste- ma cognitivo humano está presente de uma ou outra maneira, ou seja, em todas as investigações. Deve-se ressaltar que a investigação não está dirigida a por a prova hipóteses sobre o modelo cognitivo, e sim de tratar de utilizá-lo para explicar a interação entre uma pessoa e um artefato. Por isso, os modelos de ergono- mia cognitiva consideram ser fundamental conhecer
  • 105. 105 quais são as atividades que uma pessoa realiza, assim como estabelecer princípios baseados nos conheci- mentos da psicologia cognitiva que podem ser aplica- dos no desenho de interfaces (CAÑAS, 2000). Agora que estudamos sobre a sensação, percep- ção, memória, atenção, processamento das informa- ções e tomada de decisão, iremos analisar as figu- ras a seguir, as quais ilustram exemplos de modelos cognitivos explicativos (de Gagné e de Richard) para processos mentais. Verifica-se que as entradas ocorrem no sistema sensorial humano (visão, audição, tato, paladar, ol- fato, propriocepção, cinestesia), estes estímulos são processados cognitivamente e em seguida tem-se uma resposta, a qual pode ser um simples pensa- mento até uma resposta motora.