2. Psicanálise é uma teoria da mente humana e uma prática
terapêutica.
Foi fundada por Sigmund Freud entre 1885 e 1939 e continua
sendo desenvolvida por psicanalistas ao redor do mundo.
Segundo Freud, nossa personalidade se desenvolve durante a
infância e é moldada pelas cinco fases, que ele chamou de teoria
do desenvolvimento psicossexual.
3.
4. A psicoterapia psicanalítica com crianças é feita por meio
do mesmo método do trabalho com adultos – a
interpretação, e se utiliza das mesmas técnicas: setting,
atenção flutuante, associação livre, manejo da
transferência e resistência; porém acrescentando uma
nova e fundamental técnica para que seja viável o
trabalho analítico com a criança – a do brincar.
(Chahine 2011, p.33)
5. Para Melanie Klein, “A criança expressa suas fantasias,
seus desejos e experiências reais numa forma
simbólica através do brincar e dos jogos”. É através do
brincar que a criança se torna possível a criança
expressar também seus conflitos, angústias e
ansiedades, sendo por essa via que se pode ter acesso
ao seu mundo interno (CAMPOS E FIOCHO, 2011).
PROCESSO TERAPÊUTICO INFANTIL
6. Klein desenvolveu essa técnica do brincar a partir de pressupostos
colocados por Freud e no decorrer de sua investigação e trabalho com
crianças percebeu que era possível considerar o brincar da criança
como se fosse a associação livre feita por um adulto.
O brincar caracteriza-se dessa forma, pois a criança ainda não possui
uma verbalização necessária para que possa trazer esses conteúdos
através da fala, sendo a interpretação do brincar a ponte para que
haja uma comunicação mais significativa
(SIMON E YAMAMOTO, 2012, p. 15).
7. Melanie Klein lança mão da ludoterapia quando começa a
fazer análise em criança, e se depara com a necessidade
de uma nova técnica, já que a criança ainda não
apresentava a verbalização necessária para fazer a
associação livre por meio de palavras.
Klein, inspirada nas observações de Freud, notou que o
brincar da criança poderia representar simbolicamente
as ansiedades e fantasias, desenvolvendo assim essa
nova técnica que abriu o caminho para o conteúdo
inconsciente da criança, suas ansiedades, fantasias,
relações objetais e conseguindo estabelecer uma relação
transferencial, tendo um acesso ainda mais profundo ao
mundo interno infantil do que se poderia chegar em relação
ao adulto (SEGAL, 1975).
8. O PAPEL E AS CONDIÇÕES ESSENCIAIS PARA O PSICOTERAPEUTA INFANTIL
Condições de perspectiva pessoal: É importante que o psicoterapeuta se submeta a tratamento
pessoal, de análise ou psicoterapia, para averiguar se ele está tranquilo com seus aspectos infantis e
adolescentes a fim de que não seja surpreendido durante as sessões com seus pacientes; É de
extrema importância que goste de estar com crianças, que os respeite e leve a sério, comunicando-
se de uma forma que seja acessível, sem ser infantilizado; Estar disponível emocional, interna e
temporalmente para estar de fato com seus pacientes de uma forma completa;
Condições de perspectiva da preparação teórica- O psicoterapeuta deve ter uma formação
específica que garanta conhecimento aprofundado a respeito do mundo infantil, o desenvolvimento
emocional e psicossexual, formação da personalidade, daquilo que se espera ou não de cada etapa
do desenvolvimento infantil e da psicopatologia da infância; Tenha domínio das teorias de uma forma
que lhe dê segurança para que possa agir de uma forma natural e espontânea (MEIRA 2009).
9. O PAPEL E AS CONDIÇÕES ESSENCIAIS PARA O PSICOTERAPEUTA INFANTIL
Condições de perspectiva de atuação- O terapeuta deve ser criativo para buscar recursos,
técnicas tanto física, emocional e mental para lidar com as crianças; Ter um olhar mais profundo pra
enxergar além das brincadeiras; Compreender as formas de linguagem, tanto verbal, não-verbal,
paralelas ou o uso de palavras; Estar atualizado quanto as novidades presentes no mundo infantil e
jovem, para que possa compreender o significado que os mesmos tem para o paciente; Ser
tolerante com os ataques agressivos do paciente, pois alguns pacientes podem apresentar
características de hostilidade; Preparar um ambiente onde a criança não se sinta confortável e livre;
Prever uma participação mais direta e ativa dos pais em relação a psicoterapia dentro e fora do
setting terapêutico, respeitando o sigilo e espaço da criança (MEIRA 2009).
10. AS ETAPAS DO PROCESSO
PSICOTERÁPICO INFANTIL
Período de Avaliação Antes de se iniciar de fato a psicoterapia infantil é necessário que
haja um período de avaliação onde se será possível compreender os dados globais do
paciente, elementos que fazem parte do seu funcionamento como: organização da
família, rotina, valores, funcionamento psíquico fase de desenvolvimento cognitivo em
que se encontra, os mecanismos de defesa, a investigação acerca da queixa que trouxe
aquela criança até ali, entre outros fatores. (CASTRO, CAMPEZANATTO E SARAIVA, 2009)
11. AS ETAPAS DO PROCESSO PSICOTERÁPICO INFANTIL
Fase Inicial Fase Intermediária Fase Final
É caracterizada principalmente pela
construção do vínculo de confiança
e da aliança de trabalho, também
sendo um forte ponto dessa fase o
planejamento da psicoterapia
envolvendo a indicação, os
objetivos, e os recursos do paciente
também considerando as
necessidades e as possibilidades
apresentadas durante a avaliação.
Período entre a consolidação da
aliança terapêutica até quando se
surge uma séria proposta de
termino de terapia entre o
paciente e terapeuta. Fase mais
longa do processo, é nele que a
essência do tratamento ocorre,
visando-se analisar, explorar e
resolver os sintomas e
dificuldades emocionais do
paciente, quando não há a
interrupção do processo
terapêutico ocorrendo a
possibilidade a emergir
conteúdos e conflitos que
poderão se tornar o foco da
psicoterapia.
A partir do momento em que faz
menção ao término até a última
sessão combinada, essa iniciativa
pode vir tanto do paciente, quanto
dos pais ou também do terapeuta,
fase que poderá influenciar na forma
com que se concluem várias outras
coisas na vida da criança, buscando-
se agir de forma que a criança possa
examinar suas condições reais para o
termino, trabalhar o luto pelo
termino do relacionamento
terapêutico e identificar os ganhos
obtidos durante o processo e ainda
vendo as situações que merecem
atenção terapêutica. (GONÇALVES, 2009). .
13. Nicolau é um menino de oito anos, que cursa a terceira série do ensino fundamental.
No discurso de sua mãe Rose, Nicolau é muito nervoso, chora por qualquer motivo, não pode
ser contrariado e rói as unhas dos pés e das mãos até sangrar.
Rose relata que a gravidez de Nicolau foi complicada, pois ela sangrava muito. Conta que o filho
sofreu um acidente com um ventilador em casa.
O ventilador pegou fogo em seu quarto, ocasionando uma queimadura em seus pés. Ressalta,
porém, que antes deste incidente, ele já era medroso; tinha vários medos, principalmente de
ficar sozinho, em qualquer parte da casa.
Além disso, Nicolau não fazia nada sozinho, não assistia à televisão, não ficava no quarto e
sempre solicitava ter alguém junto a ele em quase todos os momentos.
Estudo de Caso
14. No momento atual, fica sozinho à tarde por duas horas, mas a avó tem que “fugir do trabalho
para espiá-lo".
A mãe relata que, certo dia, Nicolau gritou muito por socorro em casa, e tiveram que chamá-
la em seu trabalho. Não era nada grave e, sim, o medo de ele ficar sozinho.
Seu pai, Ronaldo, reside em outra cidade.
No discurso de Rose (mãe), este pai não se faz presente na vida do filho, chegando a ficar um
ano sem ver o menino.
Quando diz que vai buscá-lo, o filho se arruma, fica esperando, e o pai não aparece.
A separação do casal aconteceu quando Nicolau tinha dois anos e foi um pouco conturbada,
pois eles brigavam muito.
Nessa época, uma das irmãs de Nicolau já tinha nascido e frequentava uma creche.
Estudo de Caso
15. A menina, irmão de Ronaldo, voltava para casa “assada". Nessa ocasião, Rose descobriu
que o dono da creche abusava da menina e o denunciou a polícia.
Este momento foi muito difícil para Nicolau, que viu a tristeza e o desespero da família.
No discurso da avó Catharina, aparecem questões que nos ajudam no desenrolar do caso.
A avó, que em alguns atendimentos “invadiu" a sala, demonstra preocupação e, muitas
vezes, desespero. Catharina diz ver Nicolau como seu filho.
Segundo ela, Rose brigava muito com ele quando ele era mais novo e, por esse motivo,
elas decidiram que ele iria morar com ela, com a condição de que seria definitivo.
Uma cortina divide o quarto que Nicolau compartilha com a avó.
Estudo de Caso
16. Estudo de Caso
Catharina relata alguns medos em relação a Nicolau: não gosta que ele tenha amigos, nem
que ele saia de casa.
Conta que, quando Nicolau era pequeno, todas as atenções eram voltadas a ele; “a gente
não deixava nem ele cair".
Depois, vieram os acontecimentos: “a chegada das duas irmãs, a separação de seus pais,
ele indo morar comigo, o meu namorado". Catharina diz não namorar em casa por respeito
a Nicolau.
17. Com relação ao pai de Nicolau, o discurso da avó se mostra semelhante ao de Rose. Catharina, a
avó, afirma que Nicolau “é louco pelo pai", mas este não quer saber dele.
Atualmente, o pai está com outra família e com um filho pequeno.
Observamos que a demanda por atendimento traduzia-se na queixa de manifestações de angústia
juntamente com o nó aparente no qual a trama familiar se encontrava.
A função materna, evidentemente, é ocupada pela avó.
A sua mãe cria e cuida de suas duas irmãs, mas não de Nicolau.
O nó que os une e que se faz ecoar nos sintomas de Nicolau vem anunciar que algo não está bem.
Através do tratamento, teremos a possibilidade de estremecer esses lugares, para que surjam
questionamentos passíveis de mudança.
Estudo de Caso
18. • A criança foi encaminhada para atendimento na clínica-escola de uma Universidade da região
metropolitana do sul do país.
• O caso foi delimitado com base nos motivos de encaminhamento, que se constituíram por
manifestações de angústia, medos e situações associadas a comportamentos fóbicos.
• Foram realizados vinte e um atendimentos, com frequência semanal, com duração da sessão de
aproximadamente 45 minutos.
PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS
19. • Foi utilizado a psicoterapia de orientação psicanalítica, com entrevistas não estruturadas com
pais e/ou responsáveis (quando necessário).
• Teste Projetivo de Fábulas
Este foi aplicado como forma de sistematizar as principais representações infantis acerca de
situações conflitivas da infância, especialmente daquelas ligadas às figuras parentais, sendo que o
objetivo principal foi o de utilizá-lo como um dispositivo clínico.
PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS
20. • Ao direcionarmos nossa atenção para os atendimentos de orientação psicanalítica infantil, nos
remetemos à descoberta da análise infantil propriamente dita que só aconteceu com o caso do
Pequeno Hans, no qual Freud tornou este o caso modelo da psicanálise de crianças.
• A psicoterapia de orientação psicanalítica infantil segue o pressuposto de que o psicoterapeuta
não é um educador, não julga nem aconselha. O trabalho dele é principalmente observar a
criança, colocar em palavras suas angústias, o que ela sente, seus conflitos. Seu papel é
apresentar-se como um profissional neutro, à escuta do sofrimento da criança. É a análise da
transferência (Dolto, 1996).
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA INFANTIL
21. • Isto é, a relação transferencial aparece pelos desdobramentos da psicoterapia de orientação
psicanalítica nas crianças, já que a fala livre não é a única ferramenta para a psicoterapia nesses
casos, e muitas vezes nem a principal, como por exemplo a com adultos.
• Na psicoterapia de crianças, estamos diante de diferentes transferências, ou seja, da
transferência do terapeuta, dos pais e da criança. Os pais, com seus afetos, suas emoções e seus
conflitos, fazem parte do sintoma da criança; sendo assim, fazem parte também do tratamento.
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA INFANTIL
22. • Portanto, ao tocarmos nos sintomas da criança, nos arriscamos a tocar no que
alimentava ou diminuía a ansiedade do adulto.
• Por isso a importância de percebermos através do terapeuta, da criança e dos pais a
transferência no tratamento infantil, para ajudar a criança a sair de um certo jogo de
equívocos (Mannoni, 1999).
• É preciso estarmos atentos para a questão referente à queixa da criança que se
configura na psicoterapia de orientação psicanalítica, e que não é (e não será)
necessariamente a mesma da queixa dos pais.
• No entanto, não podemos dedicar menos atenção à fala deles. Muito pelo contrário;
escutar os pais faz parte do tratamento.
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA INFANTIL
23. • Escutá-los para identificar em que lugar a criança encontra-se situada no desejo deles, no
discurso que eles mantêm em relação ao seu filho.
• É nesse momento em que a psicoterapia da criança pode se tornar inquietante para os pais.
• Quando algo começa a afeta-los na psicoterapia, pode ser que retirem a criança do tratamento.
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA INFANTIL
24. • O terapeuta deverá introduzir através da sua espera e não demanda, o confronto da criança
com um adulto que não é imperativo, que não ocupa a posição de mestre, que não lhe dá
orientações do que deve ou não fazer, não lhe ensina e nem lhe peça nada.
• Isso aparece como efeito apaziguador para a criança, pois ela se depara, então, com um Outro
que deseja nada especial, apenas que ela siga suas questões com fins de desvelar o desejo que
a leva para a retomada da construção do desenvolvimento.
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA INFANTIL
25. • Sendo assim, na clínica com crianças, o terapeuta deve ter a disponibilidade de ouvi-la,
como também a sua família, pois, se não se escuta a demanda trazida pelos pais, a
análise da criança não se torna possível. A escuta analítica dos pais destaca o nó que os
une à criança através do sintoma da mesma. Isto quer dizer que a questão que estava
antes alienada, retorna para o sujeito que a traz. A estrutura que sustentava os lugares
distribuídos de determinada maneira se desmontam. Desmontar a estrutura que se
apresentou, destacando o enodamento que une os pais e a criança sintomaticamente,
fará com que cada um remeta-se às suas próprias questões (Faria, 1998).
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA INFANTIL
26. • A técnica deste teste é projetiva aperceptiva (interpretação subjetiva da percepção), facilitando
a projeção e a manifestação do material inconsciente. Neste teste, o sujeito faz uso da projeção,
sendo possível avaliar as áreas da personalidade. É um instrumento qualitativo, com referencial
teórico freudiano (Cunha & Nunes, 1993).
• Os testes projetivos, que têm como finalidade uma avaliação psicodinâmica da personalidade,
são muito usados pelos psicólogos, com a expectativa de revelar a personalidade inconsciente
de seus pacientes. Com isso, as motivações pessoais, os conflitos, as experiências de vida do
paciente surgem através da projeção.
TESTE DAS FÁBULAS
27. “Eu vou te contar estórias e enquanto eu conto, você vai acompanhando no desenho que vou te
mostrar. Ao final dessa estória eu vou te fazer uma pergunta para que você me diga como termina
a estória. Depois, vou fazer algumas perguntas para clarear as dúvidas que tenham ficado para
mim. Enquanto você fala eu vou anotando o que diz. Não se preocupe com isso. Eu vou controlar
o tempo, mas não se preocupe, isto fica por minha conta.” Não existem respostas certas ou
erradas, não avalia a inteligência, é um teste de imaginação (para adolescentes ou adultos).
TESTE DAS FÁBULAS
28. “Um papai e uma mamãe pássaros e seu filhote passarinho estão dormindo num ninho,
no galho. De repente começa a soprar um vento muito forte que sacode a árvore e o
ninho cai no chão. Os três passarinhos acordam num instante e o passarinho papai voa
rapidamente para uma árvore, enquanto a mamãe voa para outra árvore. O que vai fazer
o filhote passarinho? Ele já sabe voar um pouco...”
Fábula sobre relação materna
Avalia: relação dependência X independência
Sentimentos: desamparo, abandono, rejeição, medo, tristeza, solidão, morte
Que mecanismo de defesa utiliza? Regressão?
EXEMPLO
29. • Forma Verbal;
• Forma pictórica (representadas por imagens);
• Pode ser usada após técnicas gráficas e medidas intelectuais;
• Deve ser aplicado antes do CAT caso este esteja no planejamento também;
• Crianças a partir da idade escolar (indicado para crianças de 4 a 13 anos);
• Aplicação individual ou coletiva;
ESTRUTURA DO TESTE
30. • O uso da projeção das fabulas é de forma sintética o uso das defesas frente à ansiedade
permitindo a avaliação das áreas patológicas e sadias da personalidade.
• O Teste das Fábulas, aplicado individualmente, é adequado para detectar crises situacionais e
de desenvolvimento, conflito neurótico, transtorno neurótico e psicótico.
• É útil, também, como recurso psicodiagnóstico e terapêutico.
• É recomendado em casos de diferentes tipos de transtornos mentais.
• Em aplicações coletivas pode ser utilizado como instrumento de triagem de conflitos
emocionais em crianças, adolescentes e adultos.
DESCRIÇÃO
31. • A análise das respostas vai permitir identificar casos com probabilidade de terem problemas.
• A forma de administração, com finalidade psicodiagnóstica, é individual.
• O tempo de administração médio é de 15 minutos.
• O Teste das Fábulas não serve como técnica introdutória, pois, pode-se obter respostas muito
ansiosas e imaturas.
• Em crianças usa-se após uma técnica gráfica.
• Se na bateria de teste inclui o CAT, não é recomendado aplicá-lo antes das Fábulas, porque o
CAT impõe um desgaste afetivo maior.
DESCRIÇÃO
32. • A partir do levantamento dos resultados do Teste Projetivo das Fábulas, o que podemos
observar é que a criança está em uma situação em que seu estado emocional manifesta-se de
forma depressiva e triste se sobressaindo também à manifestação de medo não possam ser
bem expressadas em relação aos pais, que ilustram as histórias. No entanto, nas respostas da
criança, fica evidente um empobrecimento simbólico, pois ele responde sem conseguir deslizar
muito entre seus significantes, mantendo-se colado a um discurso que pouco deixa escapar.
Mas neste pouco que deixa escapar, abre-se o caminho para uma possível intervenção nessa
rede familiar que se mostra entrelaçada as fantasias que se manifestam sob forma de angústia
na criança.
RESULTADOS DO TESTE DE FÁBULAS
33. Síntese das Sessões
Nas primeiras sessões de Nicolau, fica evidente a impossibilidade do menino de se
desgrudar das figuras cuidadoras, principalmente da avó.
Temos o relato em conversa particular, solicitada pela avó, onde ela relata que ele
não sabe ler nem escrever, e que a professora o passou de ano por pena.
O diretor da escola pediu um exame neurológico, pois além das dificuldades na
escola, Nicolau demonstra desatenção e sonolência em aula.
Ao relatar sua relação com Nicolau, fica muito evidente qual o lugar que ela ocupa
em sua vida. Ela não quer que ele tenha amigos, não o deixa sair de casa, ela o quer
só para ela.
34. Síntese das Sessões
No decorrer dos primeiros atendimentos, Nicolau demostra colagem em relação aos brinquedos.
Exemplo: Não consegue montar uma casa, diferente da figura da caixa.
Porém, aos poucos, começa a inventar brincadeiras, inserindo nessas brincadeiras regras e leis,
criadas por ele.
No atendimento, Nicolau demonstra desejo em certas atividades da escola: esportes e aulas extras
Nas sessões seguintes, ele precisa da confirmação que vai ter alguém o esperando em casa quando
ele voltar.
A avó, marca presença nas sessões, dando alguns recados, querendo conversar, ou simplesmente
invadindo a sala, dizendo-se desesperada. Dentro os recados, fala da escola, porém demostra
resistência em fornecer o telefone da escola. E quando solicito o contato do pai, a mesma
resistência aparece, justificando que ele sempre muda o número.
35. Síntese das Sessões
Sem saber, neste momento introduzo o pai nessa relação patológica, na qual Nicolau se
encontra. Ao nomear o pai em sessão, fica claro que ele é importante para a vida do
menino, que é preciso saber sua posição, seu discurso e sua presença na trama familiar.
Em conversa separada com Catharina, algumas fantasias inconscientes da avó se
revelam, demonstrando um pouco mais a relação que ela possui com Nicolau.
Relata que Nicolau está feliz, e que foi visitar o pai, pois era aniversário de Ronaldo, e ela
entrou em contato pedindo que o filho passasse o final de semana com ele. Na sessão
seguinte, Nicolau estava muito feliz.
Diz que Rose, a mãe é muito irritada e não tem paciência. “Mesmo ela sendo uma ótima
filha, como mãe ela deixa a desejar”
36. Síntese das Sessões
O discurso de Catharina em relação a Nicolau revela-se mais patológico no sentido de ele
não estar no lugar de neto, ou mesmo de filho, mas de um marido, homem, amante. Seu
desejo demonstrado de forma impositiva, visa ao homem ideal, parceiro e companheiro.
“... Ele é minha vida” Catharina assume ter muitos medos e, se culpa pelo o que o neto
está passando.
Na semana seguinte, em semana separada com Rose, ela demonstra, neste momento
conseguir ocupar o lugar materno, fazendo-se mais presente na vida do filho.
No decorrer das sessões, Nicolau, vai conseguindo, de sua forma, ir se autorizando e se
desprendendo, lidando com regras e leis, inventando jogos, lidando com a perda, tendo
a possibilidade de ter voz.
37. Síntese das Sessões
Nicolau, passa as férias com seu pai e fica mais que o tempo previsto.
Na penúltima sessão, em conversa com Nicolau sobre o término do tratamento, é
ressaltado seus avanços e Nicolau concorda. Ele diz que gosta de ir às sessões e que
muitas coisas mudaram, para melhor.
Segundo Catharina, ele melhorou muito mesmo, não está mais roendo as unhas, está
bem na escola, está menos agressivo, menos ansioso, e pediu que queria continuar em
terapia. A orientação foi que algumas questões eles teriam que resolver.
Importante que eles estabelecessem laços, nos quais a autoridade fosse bem definida e
exercida, e que certas questões deveriam ser trabalhadas por ela, ressaltando a
necessidade de um tratamento psicológico para a avó. Ao receber esta orientação, a avó
concordou.
38. Discussão do caso clínico
• No decorres dos atendimentos clínicos, foram se desenrolando os nós que Nicolau se encontrava e
também as pessoas que o rodeavam.
• O que aparece como manifestação de angústia em Nicolau apresenta-se como uma tentativa de
denunciar o Outro (função materna exercida pela avó) pelo medo aterrorizante de ficar sozinho.
• Os medos manifestados, de ficar sozinho em qualquer parte da casa, a agressividade, roer as unhas até
sangrar, possuem relação com as fantasias inconscientes de Catharina.
• Através do tratamento e do Teste Projetivo de Fábulas que a representação de Nicolau de suas figuras
parentais era de insegurança e fragilidade. A representação da função materna (exercida pela avó) era de
uma figura sufocante de desejo.
• O pai, apresenta-se como falho em sua função de agente da castração simbólico.
39. • O sintoma de Nicolau se enlaça na dinâmica parental em que ele se encontra, ocupando a
posição de objeto de desejo do Outro. Ele veio substituir o marido “perdido” de Catharina.
• A demanda inicial deixa em aberto a possibilidade de Nicolau não se separar nem se
deslocar da posição na qual se encontrava. Na queixa inicial apresentada, nos deparamos
com um menino que estava amarrado a relação narcísica da avó.
• A entrada da função paterna foi essencial para o desenrolar do tratamento, mostrando
possibilidades a Nicolau, não só de desejo, mas de sustentação do mesmo, podendo ele sair
da posição de objeto (mesmo com a resistência da avó), para ser o sujeito desejante.
Discussão do caso clínico
40. Considerações Finais
• Nicolau veio substituir o marido “perdido" de Catharina, e novamente o significante “perda" aparece
entrelaçado na trama dessa família. Rose “dá o filho de presente" para a mãe superar sua perda. A questão
trazida para os atendimentos pela avó e pela mãe de Nicolau apresenta seu lado opaco relacionado ao
inconsciente dessas mulheres, ligados à implicação no sintoma do menino. Ao mesmo tempo, ele procura
responder à demanda que lhe é solicitada, através de seus sintomas, construindo por meio dessa
fantasmática, uma neurose infantil (Zornig, 2008).
• No caso do Nicolau, através do tratamento, se fez valer a função terceira na relação mortífera entre avó e
neto. Com isso, pode-se questionar a posição em que se encontravam os sujeitos na trama familiar e como
o sintoma e as manifestações de angústia sustentavam os lugares. A entrada da função paterna foi
essencial para o desenrolar do tratamento, mostrando possibilidades a Nicolau, não só de desejo, mas de
sustentação do mesmo, podendo ele sair da posição de objeto (mesmo com a resistência da avó) para a de
sujeito desejante.
41. Gratidão!
“Quando, através da análise, chegamos aos
conflitos mais profundos de onde surgem o
ódio e a ansiedade, também encontramos lá
o amor.” Melanie Klein
Gabriel – Joice – Solange - Vera