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Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 1
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
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BRÁULIARIBEIRO
QUANDO MORRE
UMA LÍNGUA...
S E T E M B R O – O U T U B R O 2 01 1 • A N O X L I V • N º 3 3 2
ESPECIAL:VIDAEMORTEDEJOHNSTOTT
O TEÓLOGO QUE SE ENVOLVEU COM AS GRANDES QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO MUNDO E DA IGREJA
Alegria,
alegria,
por favor!
2 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 3
O primeiro vira-casaca
do cristianismo
Abertura
D
os sete diáconos eleitos pela igreja em
Jerusalém pouco depois da descida do Espírito
Santo, o primeiro chamava-se Estêvão e o
último, Nicolau (At 6.5).
Estêvão morreu pouco depois da ordenação. Foi
jogado fora da cidade e apedrejado impiedosamente.
Lucas faz as melhores referências a ele: “um homem
muito abençoado por Deus e cheio de poder”, um
homem tão cheio de sabedoria que “ganhava todas as
discussões”, um “homem que fazia grandes maravilhas
e sinais entre o povo” (At 6.5-10).
Já Nicolau, segundo os patriarcas da igreja, teria
negado a fé cristã e fundado uma seita herética
conhecida como os nicolaítas, “um grupo de pessoas
que eram provavelmente dadas à idolatria e à
imoralidade”, como se pode ver nas cartas às igrejas de
Éfeso (Ap 2.6) e Pérgamo (Ap 2.14-15).
Se os pais da igreja estão corretos, Nicolau de
Antioquia era, com todo respeito, um vira-casaca
religioso. Muitos escritores dos cinco primeiros
séculos o acusam de ser o responsável pelo movimento
herético e moralmente nocivo que surgiu na antiga
Ásia Menor (hoje Turquia) em meados do primeiro
século. Porque favorecia a idolatria e a imoralidade,
como o vidente Balaão (cujo nome aparece 66 vezes
na Bíblia), os nicolaítas eram também chamados
de seguidores de Balaão (Ap 2.15) ou “balaanitas”
(em hebraico).
Nicolau deixou o paganismo e converteu-se ao
judaísmo (At 6.5). Depois, abandonou o judaísmo e
converteu-se ao cristianismo. Mais tarde, afastou-se
do cristianismo e tornou-se herético (caso se possa
confirmar a acusação que há contra ele). Mudou
três vezes de credo. Entrou na igreja militante e
dela se retirou. O mesmo aconteceu com Demas,
o cooperador de Paulo (Fm 24), que abandonou o
apóstolo e a fé por ter se apaixonado por este mundo
(2Tm 4.10).
Porém, antes de acontecer com Nicolau e com
Demas, aconteceu também com Judas Iscariotes,
que foi mais do que diácono e missionário. Judas
abandonou nada mais nada menos do que o ministério
apostólico (At 1.25).
De acordo com a tese de João — Judas, Nicolau,
Demas e muitos outros daquela época e de épocas
posteriores — “saíram de nosso meio, mas na realidade
não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos,
teriam permanecido conosco” (1Jo 2.19).
4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
N
ão só a Inglaterra, mas o mundo inteiro acaba de perder mais
um dos notáveis pregadores ingleses cujo prenome é John.
Trata-se de John Stott (1920–2011). Antes dele, em ordem
cronológica de trás para frente estão: John Wycliffe (1329–1384), o
pré-reformador; John Donne (1573–1631), considerado o nome mais
importante da chamada terceira Reforma; John Milton (1608–1674),
autor de Paraíso Perdido e Paraíso Recuperado; John Bunyan
(1628–1688), pregador e escritor puritano, autor de O Peregrino, o livro
mais lido depois da Bíblia; John Wesley (1703–1791), o metodista que
“descongelou” a Igreja Anglicana; e John Newton (1725–1807), escritor
de hinos sacros, inclusive Amazing grace (“Maravilhosa graça”). Na
seção “Especial”, o leitor vai encontrar textos sobre John Stott, um dos
pregadores mais cristocêntricos da história (p. 46).
O lembrete de Jorge Henrique Barro precisa ser levado a sério: “A
igreja é um centro de hospitalidade, de refúgio e abrigo, de misericórdia
e esperança, e também um sinal para indicar o caminho para o reino
de Deus” (p. 56). René Padilla acrescenta mais sobre o assunto: “Sem
desconhecer e minimizar as grandes diferenças de tempo e espaço entre
nós e Jesus, a igreja é chamada a continuar a missão do seu Senhor ao
longo da história até que ele volte” (p. 42).
Robinson Cavalcanti recorda que, “a princípio, as igrejas
congregacionais, presbiterianas, batistas, episcopais e evangélicas, aqui
no Brasil, partilhavam de uma herança e de uma teologia em comum,
um legado que, vindo da Reforma Protestante do Século 16, incluía
traços do puritanismo, pietismo, avivalismo e movimento missionário”
(p. 52).
Leonel quer saber se os pastores estão errados em pregar a teologia
da prosperidade e Rosângela quer ficar por dentro do fundamentalismo.
Ed René Kivitz responde a ambos (p. 38).
Conhecida no Brasil e no mundo por sua pregação contra a poluição
e o esgotamento do meio ambiente, Marina Silva escreve na seção “Meio
ambiente e fé cristã” que “é tempo de trabalhar para reverter tanto a
devastação das almas quanto a do planeta” (p. 36).
O que dizer sobre o direito de ser feliz? A felicidade existe? A
felicidade é mesmo possível? O que a felicidade não é? É possível que o
leitor encontre respostas para essas perguntas existenciais na matéria de
capa desta edição. Veja o artigo do missionário e missiólogo Ronaldo
Lidório, Louvarei ao Senhor “em todo o tempo” (p. 30). Façamos um sério
esforço para alcançar ou recuperar a felicidade — não nos bens seculares
nem nas circunstâncias favoráveis!
Elben César
Carta ao leitor
ISSN 1415-3165
Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 332
Setembro-Outubro 2011
www.ultimato.com.br
Publicação evangélica destinada à evangelização e
edificação, não denominacional, Ultimato relaciona
Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras.
Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e
estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma
perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a
prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação
social, a oração com a ação, a conversão com santidade
de vida, o suor de hoje com a glória por vir.
Circula em meses ímpares
Diretor de redação e jornalista responsável:
Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG
Arte: Liz Valente
Impressão: Plural
Tiragem: 35.000 exemplares
Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro
Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga
Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro
Marcos Bontempo • Marina Silva • Paul Freston
René Padilla • Ricardo Barbosa de Sousa
Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese
Valdir Steuernagel
Notícias: Lissânder Dias
Participam desta edição: Jonathan Simões
Juscelandia Caldeira • Lissânder Dias
Publicidade: anuncio@ultimato.com.br
Assinaturas e edições anteriores:
atendimento@ultimato.com.br
Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte.
Os artigos não assinados são de autoria da redação.
Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro
da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
Editora Ultimato
Telefone: (31) 3611-8500
Caixa Postal 43
36570-000 — Viçosa, MG
Administração/Marketing: Klênia Fassoni
Ana Cláudia Nunes • Ariane dos Santos
Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim
Luiza Pacheco
EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE:
Marcos Bontempo • Bernadete Ribeiro
Djanira Momesso César • Gláucia Siqueira
Lissânder Dias • Mariana Furst • Pabline Félix
FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos
Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira
Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez
Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte
Solange dos Santos
VENDAS: Lúcia Viana • Henife Oliveira
Lucinéia Campos • Marcela Pimentel • Romilda Oliveira
Tatiana Alves • Vanilda Costa
ESTAGIÁRIOS: Bruno Menezes • Jaklene Batista
Juliani Lenz • Raquel Bastos • Tércio Rodrigues
fundada em 1968
4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
O direito de ser feliz
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 5
6 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
76.
A
A igreja passou por um momento difícil
no início de sua história. Herodes Agripa I
(10 d.C.–44) governava a Judeia e a Samaria
e moveu uma grande perseguição contra
os cristãos: “prendeu alguns que pertenciam à igreja e
mandou matar à espada Tiago, irmão de João” (At 12.2).
Depois, prendeu também Pedro, com a intenção de fazer
com ele o que havia feito com Tiago.
Travava-se então de uma ferrenha batalha. De um
lado, o Estado; de outro, a Igreja. Era o poder político
contra o poder religioso, o poder das armas contra o da
oração, o poder da arrogância contra o da fé, o poder
temporal contra o eterno. Em última análise, era o velho
conflito entre a serpente e o descendente da mulher.
À esquerda ouvia-se a ingênua gritaria dos rebeldes:
“Façamos em pedaços as suas correntes, lancemos
de nós as suas algemas”. À direita, ouvia-se o riso do
Todo-poderoso: “Do seu trono nos céus o Senhor põe-se
a rir e caçoar deles” (Sl 2.3-4).
Herodes Agripa I era como o avô, Herodes, o Grande
(37–4 a.C.), que mandou matar os meninos de Belém
(Mt 2.16). Era também como o tio-avô, Herodes Antipas
(4 a.C.–39 d.C.), que mandou cortar a cabeça de João
Batista (Mt 14.9).
Porém, enquanto Pedro, preso com duas correntes e
entre dois soldados, passava a noite dormindo, muitos
cristãos estavam acordados orando fervorosamente
em favor dele. Ele estava tranquilo e a igreja agitada,
lançando mão de um recurso posto à disposição de
qualquer cristão, em qualquer situação, lugar e tempo.
Herodes Agripa I foi derrotado pela oração, pois, na
véspera do dia em que Pedro deveria ser morto, na calada
da noite, um anjo entrou no cárcere, provavelmente
na Fortaleza de Antônia, e colocou o apóstolo na rua.
Meio tonto, sem saber se era sonho ou realidade, Pedro
se dirige à casa de Maria, mãe de João Marcos, onde
a igreja reunida intercedia por ele. A porta da casa
estava trancada. Pedro esperava à porta. A empregada
de Maria viu que era o apóstolo e “ficou tão feliz que,
em vez de abrir a porta, voltou correndo para contar
que Pedro estava lá fora” (At 12.14). Ele continuou
a bater. Finalmente abriram a porta e Pedro entrou.
Entretanto, depois de contar toda a história, “saiu
dali e foi para outro lugar” (At 12.12), escondendo-se
temporariamente.
Seguindo a tradição da família, Herodes Agripa I,
por causa da estranha soltura de Pedro, mandou matar
os guardas da segurança máxima da prisão. Não se sabe
se todos os 16 foram mortos ou apenas os dois entre os
quais o apóstolo dormia (At 12.19).
Em nossa experiência pessoal, a oração de fato “torna
possível o impossível e fácil o difícil”?
Pastorais
O poderoso
Herodes Agripa I
é derrotado
pela oração
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 7
Alegria, alegria, por favor!
A alegria cristã
O que a felicidade não é
Jesus, a alegria desejada pelo homem
Gente feliz, Ariovaldo Ramos
Clamor pela alegria
Felicidade para Freud e Lewis
David Neff
Louvarei ao Senhor — “em todo o
tempo”, Ronaldo Lidório
3 Abertura
4 Carta ao leitor
6 Pastorais
8 Cartas
12 Frases
12 Números
14 Mais do que notícias
18 Notícias
36 Meio ambiente e fé cristã
37 De hoje em diante...
40 Caminhos da missão
43 Novos acordes
44 Altos papos
56 Cidade em foco
60 Vamos ler!
CAPA
SEÇÕES
Sumário
ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica;
BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino;
BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil; CT - Novo Testamento
(Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC -
Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto
Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada
dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na
Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da
Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação
foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da
Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão
Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional
O caminho do coração
32 Olhando firmemente para Jesus
Ricardo Barbosa de Sousa
Da linha de frente
34 Quando morre uma língua...
Bráulia Ribeiro
Cotidiano
38 O leitor pergunta, Ed René Kivitz
Casamento e família
39 Amigos: nossa nova família, Carlos “Catito”
Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
Missão integral
42 A missão de Jesus e a nossa missão
René Padilla
Especial
46 Vida e morte de John Stott
63 O cachorro imundo que salvou da morte
uma adolescente de 16 anos
64 Quando o medo de engordar supera
o medo de morrer
Ética
50 O Pai-Nosso e as bem-aventuranças
para hoje: o verdadeiro “dando é que
se recebe”, Paul Freston
Reflexão
52 O fim do Conselho Evangélico
Robinson Cavalcanti
Redescobrindo a Palavra de Deus
54 Testemunho que nutre, Valdir Steuernagel
História
58 Role model: a importância de um conceito
Alderi Souza de Matos
Ponto final
66 O poder do evangelho, Rubem Amorese
22
24
25
26
27
28
29
30
• artigos exclusivos
• boletins editoriais
• devocionais
• estudos bíblicos
• lançamentos
• novidades
• promoções
NeiNeves
Um ponto de encontro
www.ultimato.com.br
8 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Cartas
Assembleia de Deus — 100 anos
Muito interessante os artigos sobre o Centenário
da Assembleia de Deus (julho/agosto de 2011).
Faltou mencionar, e até mesmo destacar, a
participação de Frida Vingren ao lado dos
pioneiros. Frida abriu frentes de trabalho em
muitos lugares. Era responsável, no início da
obra no Rio de Janeiro, pela leitura devocional
nas aberturas dos cultos e pela execução dos
hinos — era organista e violonista. A Harpa Cristã
contém cerca de 23 hinos de sua autoria. Quando
Gunnar Vingren se ausentava da igreja, em visita
ao campo missionário, Frida o substituía pregando
e dirigindo os cultos e trabalhos oficiais. Ela
exerceu a direção oficial das reuniões realizadas
aos domingos na Casa de Detenção do Rio de
Janeiro. Era excelente pregadora e tinha um
grande carisma.
Regina Mello, Barra da Tijuca, RJ
— Por falta de espaço, Ultimato deixou de publicar
o texto A não-ordenação feminina na história
assembleiana, no qual Frida Vingren é citada. Para
ler o artigo, acesse: www.ultimato.com.br
Graças a Deus crescemos na graça e no
conhecimento nestes 100 anos de Assembleia
de Deus no Brasil. Fomos ensinados que apenas
nós éramos salvos; mas isso foi há quase 50
anos. Éramos discriminados como pessoas
possessas e inúmeras publicações nos expunham
ao ridículo. Nos anos 70, quando ainda estudava
na Universidade Federal de Pernambuco, eu era
discriminado por causa da minha fé. Na ocasião,
algumas vezes encontrei alento nos artigos de
Robinson Cavalcanti, que, então, liderava a
nossa ABU.
Clóvis Moura, Brasília, DF
Excelentes as matérias sobre os 100 anos das
Assembleias de Deus (julho/agosto de 2011) e
o texto Deus chama quem quer, quando quer e
como quer — principalmente a conclusão: “O certo
é que Deus é soberano e fala ‘muitas vezes e de
muitas maneiras’, até mesmo por meio de uma
jumenta”.
David Figueiredo, Guarapuava, PR
Muito mais do que recuperar marginais e
analfabetos, a Assembleia de Deus cooperou
preventivamente com a estabilidade do casamento
e com a educação de filhos; com o gerenciamento
de conflitos sociais, ao primar pelo ensino das
relações humanas pautado nos preceitos bíblicos;
com a proposta da redenção social por meio do
binômio trabalho e fé, ao promover esperança
para aqueles que se consideravam excluídos, e
muito mais. Enfim, não se pode resumir o que ela
realizou em poucas linhas.
Sérgio Sena, Campo Grande, MS
Cartas da prisão
PablineFelix
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 9
Ao ler Pérolas pentecostais (julho/agosto de
2011), os leitores escandinavos devem ter ficado
horrorizados com a informação de que a capital da
Finlândia foi mudada para a Dinamarca. Fez-me
lembrar o caso de um colega de trabalho que
procurava no mapa da Europa um país chamado
Austrália...
Ronald Brewer
— Helsinque é capital da Finlândia e não da
Dinamarca, como foi publicado.
Os artigos de capa da edição julho/agosto de 2011
foram relevantes. Contudo, na comparação entre
os pioneiros da Assembleia de Deus e o da Igreja
Presbiteriana, percebe-se uma ponta de ciúmes.
Há algumas semelhanças curiosas. Porém, a
diferença fundamental está no resultado. Porque a
plenitude do Espírito Santo, ao atuar na vida dos
que dão lugar a ela, fez (e faz) a diferença. Se o
pioneiro da Igreja Presbiteriana tivesse crido na
mensagem do evangelho pleno, com certeza o
resultado teria sido bem mais expressivo.
Moizes Gomes, Iporá, GO
— Ashbel Green Simonton, o pioneiro da Igreja
Presbiteriana, buscava a plenitude do Espírito
Santo e pregava sobre ele. No dia 20 de janeiro
de 1861, ele registrou em seu diário: “Mais do que
qualquer coisa, preciso do batismo do Espírito
Santo. Se agora enquanto espero, na iminência
de começar o meu trabalho ativo de pregação do
Evangelho de Cristo, pudesse receber o dom do
Espírito para habilitar-me para o trabalho, como
ficaria feliz” (O Diário de Simonton, p. 145). Em seu
sermão “O Consolador”, Simonton diz: “O Espírito
Santo auxilia os fiéis nas dificuldades, nos apertos
e nos perigos em que se acham. Saem vencedores
dessas coisas, porque Jesus envia-lhes o poderoso
auxílio do Espírito” (Mochila nas Costas e Diário na
Mão, p. 150).
Geladeira estragada
Lamentável o comentário do assembleiano
que chamou de geladeira a igreja do amigo
presbiteriano (“Carta ao leitor”, julho/agosto de
2011). Mesmo sem maldade, é desnecessário.
Sou assembleiano e só uma coisa justifica
tal comportamento: falta de conhecimento da
denominação irmã.
Marcos Malheiros, Campinas, SP
Questão homossexual
É ótimo e oportuno o texto Evitar a promiscuidade
na relação gay é bom, mas não é suficiente
(“Mais que notícias”, julho/agosto de 2011). Ando
preocupado com os pronunciamentos que tenho
lido de alguns líderes evangélicos sobre a questão
homossexual. Já vi de tudo, desde defesas
apaixonadas aos “perseguidos homossexuais”,
passando por teses capengas e escandalosas de
que o importante é que exista amor, a defensores
ferrenhos de “igrejas para gays”. Não sei se o atual
momento de defesa de direitos dos homossexuais
motivou o surgimento de vozes antes insuspeitas,
mas algumas opiniões têm causado perplexidade.
Washington Barbosa, Duque de Caxias, RJ
Que Ultimato continue mantendo de forma
correta e bíblica sua posição em relação ao
homossexualismo, apesar das críticas.
Roniltom de Campos, Várzea Paulista, SP
Por que os líderes evangélicos não levantam a
bandeira, tão enfaticamente quanto o fazem em
relação à questão da homofobia, contra o estado
de miséria social e econômica em que vivem
milhares de brasileiros? Contra a concentração
aviltante de renda, que caracteriza o Brasil como
um dos países mais desiguais do mundo? Contra
a corrupção econômica e política presente em
nosso contexto? Ou mesmo contra a degradação
ambiental tão acelerada atualmente?
André Martins, Campina Grande, PB
Ordenação feminina
Agradeço a vocês pela coragem em publicar a
entrevista tão necessária, bíblica e sensata de
Waldyr Carvalho Luz sobre a ordenação feminina
(março/abril de 2011). Há meses venho tentando
10 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Cartas
estudar a posição igualitarista. Entretanto, o que
achei foi argumentação sociológica e não bíblica.
Mariana Duarte, Governador Valadares, MG
Uma das poucas críticas que faço a Ultimato é
em relação à entrevista com Waldyr Carvalho
Luz sobre a ordenação feminina. A maioria das
perguntas foi do tipo: “Por que você acha que
está tão correto e os opositores tão enganados?”.
Quando o assunto é controverso, o papel do
entrevistador é “apertar” o entrevistado, a fim de
que ele forneça os argumentos mais profundos.
Infelizmente isso não ocorreu, o que empobreceu
a entrevista.
Luciano dos Santos, São Carlos, SP
Cartas da prisão
Muito obrigado pelas revistas e pelo livro Por
Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?. Estou
crescendo cada vez mais com essas leituras
e suportando melhor a situação em que me
encontro.
Glauco Machado, Balbinos, SP
Agradeço Ultimato por se lembrar de nós
presidiários, pois também somos criaturas de
Deus, evangélicos e tivemos um encontro com
Jesus. Portanto, além de criaturas, somos filhos
de Deus e co-herdeiros com Cristo. Deus me
tocou dentro do presídio, quebrando o meu ego,
jogando por terra o meu orgulho. Não foi fácil
tomar a atitude de confessar Jesus como meu
único e suficiente Salvador, pois o crime era a
minha vida. Porém, entreguei-me a Cristo, fui e
estou sendo transformado a cada dia.
Sérgio Lima, Flórida Paulista, SP
Sou servo do Senhor Jesus. Estou em uma
penitenciária, um lugar cheio de dificuldades.
Contamos com a força do povo de Deus que
está do lado de fora. Só há pessoas com
semblante fechado onde estamos. Porém,
quando elas olham para os servos do Deus
Altíssimo, veem pessoas felizes que se
encontram nas mesmas condições que elas.
Adriano de Andrade, Casa Branca, SP
— Nas últimas semanas, Ultimato recebeu 23
cartas de presidiários. O ministério que vários
irmãos desenvolvem entre eles, e o deles
próprios com os companheiros de prisão, é
maravilhoso. Lembremo-nos de que Onésimo,
ex-escravo de Filemon, converteu-se na cadeia,
por influência de Paulo (Veja O e-mail de
Filemon, na pág.)
88 anos
Peço o cancelamento da minha assinatura, pois,
por motivo justo de enfermidade, aos 88 anos
de idade, estou limitada em muitas atividades.
Agradeço a Deus as publicações de Ultimato, que
muito me auxiliaram.
Walkíria da Guia, Nilópolis, RJ
Diversidade
Leio Ultimato desde quando entrei na faculdade,
em 2006. Nunca me decepcionei com a revista
e sempre tinha vontade de escrever quando via
alguém a criticando. Porém, nunca o fiz, pois
percebi que ela não precisava de defensores.
Daniela Nogueira, Belo Horizonte, MG
Ultimato tem sido para mim uma fonte de
aprendizado, crescimento e também uma
oportunidade de divulgar a Palavra de Deus. É
uma revista de leitura prazerosa, que apresenta
assuntos atuais que me levam a refletir e
questionar a trajetória do cristianismo como agente
transformador em um mundo global e secularizado.
Erika Herzog, Camaragibe, PE
Ricardo Gondim
Senti falta da coluna de Ricardo Gondim na edição
de julho/agosto de 2011. Se ele sair da equipe de
colunistas, vou lamentar muito. Entretanto, não
lamentarei menos do que tenho lamentado pelo seu
envolvimento com o teísmo aberto. Apesar desse
envolvimento, gosto de suas palavras, com as
devidas reservas. Aprendi a admirar esse aspecto
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 11
Fale conosco
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Cartas 332de Ultimato: a diversidade. Não a vejo como um
compêndio teológico, mas como um cardápio da
diversidade evangélica brasileira.
Alexander Boechat, Cataguases, MG
É uma pena que Ultimato tenha cortado a
participação de Ricardo Gondim na revista.
Ele era o escritor mais instigante. Talvez a
intenção seja deixá-la mais homogênea, o que
é compreensível. Lamento, pois fica acentuada
a tendência de reafirmar as mesmas verdades,
sem abertura para provocações que nos façam
refletir sobre novas percepções sobre a fé. É
interessante notar que não conseguimos lidar
com diferenças quanto às questões sexuais.
Mesmo que se argumente que há muito no
pensamento de Gondim que não mais se encaixe
na ortodoxia reformada, a gota d’água é o fato
de ele defender a união civil homossexual. Não
vou agir como a revista: continuo assinando-a,
embora folheie as páginas com menos interesse.
Henrique Ziller, Brasília, DF
Erramos
A notícia O que os missionários fazem nas férias?
(julho/agosto de 2011) refere-se ao Fórum para o
Cuidado Integral de Missionários, que aconteceu
em março, e não à 6ª Consulta do Cuidado
Integral do Missionário, ocorrida em maio, como
publicamos.
John Stott
Conheci John Stott ao ler o livro A Cruz de Cristo, em
1997. Desde então, mesmo sem ele saber, se tornou
um companheiro de jornada... Seus livros foram
leituras obrigatórias. O seu testemunho bem como
sua influência em Lausanne fizeram com que nele eu
pudesse contemplar um dos grandes instrumentos
de Deus na vida da Igreja, na transição do Século 20
para o 21. As lágrimas de agradecimento a Deus por
sua vida se misturam às de tristeza por sua partida.
Klaus Friese, São Francisco do Sul, SC
John Stott foi um mestre inesquecível da Palavra
de Deus. Conseguia expô-la de maneira profunda e
relevante e despertava em nós a sede por ela e pelo
conhecimento do Senhor. Ele também me marcou
pela sua acessibilidade. A primeira vez em que fui
procurá-lo para uma breve conversa pessoal, fiquei
impressionada ao ver que sabia meu nome e quando
me disse que estava orando por mim (isso foi antes
de ir à Angola). Uma vez recebi uma carta dele
assinada “Tio Juan”. Continuarei lendo seus livros
para aprender mais. Louvo a Deus pela vida desse
servo fiel.
Antonia van der Meer, Viçosa, MG
Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/memorial-
john-stott/stott
12 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
“B oa hinódia, além de conter boa teologia,
produz boa doxologia.
Cliff Barrows, diretor musical das campanhas
evangelísticas de Billy Graham
FRASES
“Temos a mania de criticar
católicos pela religiosidade
oca e vazia sem perceber que somos
também sujeitos a tradições e práticas
que não têm substância espiritual.
Russell Shedd, autor do comentário da
Bíblia Shedd
“Os perdidos precisam de salvação, os salvos
precisam de santificação, os santos precisam
tornar efetiva em suas vidas a esperança da glória
em Cristo.
João Falcão Sobrinho, pastor batista
“Não é preciso fazer essa
escolha (criacionismo ou
evolucionismo), fé e ciência podem
coexistir perfeitamente nas relações
humanas. Não preciso justificar
cientificamente a minha fé. E não
preciso de uma fé para negar a ciência. Acredito
que Deus criou todas as coisas e isso me basta.
Marina Silva, candidata não-eleita à
presidência da República
“D eus não responde às nossas perguntas e
nem resolve os nossos problemas com um
“estalar de dedos”. Ele não é feiticeiro; não é um
místico; não é um mágico que simplesmente diz:
“Abracadabra”. O nosso Deus caminha conosco nos
altos e baixos. Ele diz:“Não temas, crê somente. Eu
estou contigo!”.
Renato Luiz Becker, pastor luterano em
Joinville, SC
“O O missionário, como pessoa, é o primeiro
destinatário da missão. Ele não nasce
convertido, mas precisa se converter todos os dias.
Se ele não se converter, não poderá converter os
outros.
Sávio Corinaldesi, da Pontifícia União Missionária
“É fácil pedir perdão aos
africanos e aos índios por
pecados que supostamente nossos
ancestrais cometeram. O difícil é
pedir perdão às pessoas que ofendemos hoje.
Isaltino Gomes Coelho Filho, pastor batista
“N ão podemos confundir
carisma (revestimento
pessoal com uma graça especial
vinda do Espírito Santo) com
personalismo ou personalidade
autoexaltada, muitas vezes usada
para formar grupos facciosos dentro de uma
comunidade de fé.
Oséias Silva dos Santos, pastor da Primeira Igreja
Batista de Teixeira de Freitas, BA
“A união sexual é tão séria, tão envolvente,
tão comprometedora, tão exclusiva, tão
boa, que Deus a reservou para o casamento.
Éber César, pastor da Igreja Presbiteriana do
Bairro Imperial de São Cristóvão, RJ
“Q uando a fé diminui, aumenta a
superstição.
Gary Thomas, pároco em Saratoga, Califórnia
”
”
”
”
””
”
”
”
”
NÚMEROS
2.760
dólares foi o valor da multa imposta
ao argeliano evangélico Siaghi
Krimo por ter oferecido um CD
cristão a um vizinho muçulmano, em
Oram, a 470 quilômetros de Argel.
Além da multa, Krimo foi condenado
a cinco anos de prisão
90%
dos habitantes do Sudão do Sul, o
país mais pobre do mundo, vive com
menos de um dólar por dia
28.500.000
cristãos vivem na Indonésia, o país
mais muçulmano do mundo (86% da
população). Os católicos constituem
3% da população e os protestantes
6%
570
cristãos foram assassinados em
episódios de violência religiosa ou
política no Iraque desde 2002
500.000.000
de pessoas professam o ateísmo
no mundo hoje (o número pode
ser bem maior — 750 milhões). Se
fosse uma religião, seria a quarta
maior, logo após o hinduísmo (900
milhões), o islamismo (1,2 bilhão) e
o cristianismo (2 bilhões)
2.500.000
páginas da internet em 2010
continham referências a um
provável fim do mundo em
dezembro de 2012
ArquivoPessoal
ArquivoPessoal
www.isaltino.com.brPIBATEF
AssociaçãoEvangelísticaBillyGraham.
Usadocompermissão.
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 13
14 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
O bestseller mais comprado
e mais negligenciado
D
ois homens
cristãos, mas de igre-
jas diferentes, falam
coisas semelhantes a respeito
da Bíblia. Simon Kistemaker,
protestante, é professor
emérito de Novo Testamento
do Reformed Theological
Seminary (campus de Jack-
son, Mississipi, e de Orlando,
Flórida) e Orlando Brandes,
católico, é arcebispo de
Londrina.
Kistemaker — Em muitos
lares, a Bíblia acumula poeira
e é um livro esquecido.
Brandes — A Bíblia
ultimamente serve apenas
de enfeite na maioria das
residências.
Kistemaker — A Bíblia
continua a ocupar o topo da
lista de bestsellers em todo o
mundo. Mas ao mesmo tem-
po ela continua a ser o livro
mais negligenciado na vida
daqueles que possuem um
exemplar. O desejo de possuí-
-la não se compara ao desejo
de conhecer a sua mensagem.
Brandes — Estamos muito
afastados da Bíblia e até sofre-
mos de um certo analfabetis-
mo bíblico.
Kistemarker — Durante o
reinado de Josias, rei de Judá,
o sumo sacerdote descobriu
o Livro da Lei no templo do
Senhor. Num canto esque-
cido do prédio, a Palavra de
Deus tinha estado escondida
da vista, fora esquecida e,
consequentemente, não exer-
cia influência alguma sobre
o povo.
Brandes — Nosso povo,
desde a catequese, tem um
catecismo e não tem acesso
à Bíblia. Em casa, nós não
aprendemos com os nossos
pais a abrir as Escrituras
(…). Sabemos abrir a inter-
net, sabemos abrir o compu-
tador, abrir o celular, mas o
povão ainda não sabe abrir a
Bíblia, não sabe interpretar
a Palavra e tem dificuldade,
claro, de vivenciá-la.
Kistemaker — Quando
as Escrituras foram desco-
bertas, o rei Josias mudou
literalmente o curso da
história. Ele leu a Palavra de
Deus ao povo e pediu que
os adoradores prometes-
sem renovada obediência à
aliança que Deus fizera com
eles, desviando assim a ira e
o juízo de Deus.
Brandes — Aqui em
Londrina, graças a Deus,
estamos incentivando muito
e fazendo muitos exercícios
de “leitura orante”. O povo
está entusiasmado porque
+DO QUE NOTíCIAS
vai descobrindo esse tesouro
que é a Palavra de Deus.
Kistemaker — Devemos
ler a Palavra de Deus juntos
como família e meditar no
seu significado. Ao man-
termos o culto doméstico
diário, seremos capazes de
edificar famílias fortes que
amem o Senhor.
Brandes — Temos mais
ou menos 3 mil grupos bíbli-
cos de reflexão nas casas e ali
a Bíblia tem prioridade.
Kistemaker — Precisamos
encorajar uns aos outros a
decorar porções das Escritu-
ras, de modo que tornemos a
Palavra de Deus relevante em
nossas vidas.
Brandes — Devemos
amar mais as Escrituras, dar à
Bíblia a importância e a pri-
mazia que ela tem em nossa
vida e a gente entrar definiti-
vamente nesse santuário que
é a Palavra de Deus, tanto no
Antigo Testamento como no
Novo Testamento.
Kistemaker — Em nossos
cultos de adoração, a Bíblia
deve assumir a centralidade
e nossos pastores devem
ensinar fielmente a Bíblia
por inteiro e todas as suas
doutrinas.
Brandes — Estamos sem-
pre incentivando cursos bí-
blicos e diversas paróquias já
têm seu curso bíblico. Temos
a experiência de sacerdotes
que se reúnem para preparar
a sua homilia dominical em
grupo e isso é uma grande
esperança.
Kistemaker — Ao ler,
aprender e conhecer a Bíblia
temos comunhão com Deus
e o ouvimos falar conosco.
Por esta Palavra, ele nos
instrui sobre como viver para
ele. E quando, em oração,
lhe dedicamos nossa vida,
inúmeras bênçãos descem
sobre nós.
Brandes — O grande ob-
jetivo da mobilização bíblica
[que estamos promovendo] é
as pessoas se reencontrarem
com Jesus Cristo. E uma
pessoa que se reencontra com
Jesus, que é fascinada por
ele, é claro que vai se tornar
cada vez mais participante da
igreja e muito mais missioná-
ria. Sem a Bíblia o missio-
nário é fraco. Assim, toda a
Igreja Católica vai ter uma
sacudidela, uma comoção,
uma mexida grande a partir
das Sagradas Escrituras.
Fontes: Comentário do Novo Testa-
mento — Atos, vol. 2 (Editora Cultura
Cristã), Folha de Londrina, 6/05/2010.
Dom Brandes: em muitos lares
a Bíblia serve apenas de enfeite
Kistemaker: em muitos lares,
a Bíblia acumula poeira
SimonKistemaker
Arquivopessoal
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 15
+DO QUE NOTíCIAS
E
m sua oração
a Maria, na
capelinha das
aparições marianas,
em Fátima, Portugal,
no dia 12 de maio
de 2010, Bento 16
parece conceder à
mãe de Jesus um
atributo (a onisciência)
que pertence
exclusivamente a Deus:
“Mãe amabilíssima,
vós conheceis cada
um pelo seu nome,
com o seu rosto e
a sua história, e a
todos quereis com a
benevolência maternal,
que brota do próprio
coração de Deus
Amor. A todos confio
e consagro a vós, Maria
Santíssima, mãe de
Deus e nossa mãe”
(Boletim Mensal da
CNBB, abril/maio de
2010, p. 54).
Quanto à maneira
católica de chamar
Maria de mãe de
Deus, é importante
ler a explicação de
Francisco de Assis B.
Bezerra, postulante
marista e pedagogo em
Londrina, publicada na
revista Mundo Jovem
E
m seu livro
Meditações Cristãs,
publicado há 68
anos, Alfredo Borges
Teixeira, que foi professor
do Seminário Teológico
da Igreja Presbiteriana
Independente, escreve
coisas surpreendentemente
atuais, como se pode ver
logo abaixo. O livro é uma
versão devocional de sua
Dogmática Evangélica,
o primeiro
compêndio de
teologia escrito
por um autor
brasileiro.
De igreja em igreja
Quando os cristãos
se apoiarem na igreja
invisível, no lugar da
igreja visível, tornar-se-á
desnecessário “o expediente
improfícuo de se mudarem
os crentes de uma igreja para
outra em busca de perfeições
que não encontram na sua.
Em vez disso, sabendo que as
imperfeições são inevitáveis no
cristianismo organizado, serão
levados antes a reconhecer
e combater seus próprios
defeitos e, em vez de se
afastarem dos irmãos faltosos,
ajudá-los fraternalmente a
corrigirem-se”.
A mãe do
Verbo que se
fez carne
Alfredo Borges
Teixeira em 1943
(maio de 2011, p. 19):
“Vale salientar e
esclarecer que Maria
não é Mãe de Deus em
sentido restrito, porque
uma criatura não pode
ser mãe do Criador.
Podemos dizer que
ela é a ‘mãe do Filho
de Deus encarnado’,
compreendendo a
maternidade de Maria
no horizonte da
teologia trinitária”.
A posição
protestante tenta
equilibrar a posição
de Maria: “É inegável
o papel singular e
importantíssimo de
Maria na história
da salvação. É
perfeitamente possível
apresentá-la como
modelo de fé e
obediência a Deus e
sua soberana vontade,
assim como Abraão
e outros. Todavia seu
culto e sua intercessão
não encontram
respaldo na Escritura
nem na teologia do
Novo Testamento”
(Luiz Fernando dos
Santos, pastor da
Igreja Presbiteriana de
Itapira, SP).
O pastor piedoso e o
pastor vaidoso
“Quando o pastor é
piedoso, humilde e
consagrado e, agindo com
simplicidade e modéstia,
busca unicamente a glória
de Cristo e o bem das almas
confiadas aos seus cuidados,
o seu trabalho resulta
nas virtudes religiosas e
morais do rebanho, que
são coisas preciosas
e imperecíveis
[ouro, prata e
pedras preciosas],
porém se o
ministro, embora
pregando a
Cristo, é vaidoso
e busca também
a própria glória,
ainda que reúna em torno
da sua eloquência grandes
auditórios e, conseguindo
vastos recursos financeiros,
possa realizar, na estrutura
social da igreja, obras que
o façam famoso — tais
obras de natureza secular,
e sem real consagração ao
Senhor — são o material
combustível da figura
apostólica [madeira, feno e
palha]”.
(Comentário de Alfredo
Borges do trecho de
1 Coríntios 3.10-15)
16 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Dois mil
anos
depois do
batismo
de João
Batista
+DO QUE NOTíCIAS
Missões
à míngua
Se o ser humano
pode, por que
Jesus não pode?
O
pastor João Marcos
Barreto Soares,
diretor executivo
de Missões Mundiais
da Convenção Batista
Brasileira, está incomodado
porque cada membro da
denominação ofereceu em
média apenas o equivalente
a 66 centavos de real
por semana para a obra
missionária na coleta de
2009. Porém, o valor deve
ser bem menor em outras
denominações brasileiras.
Um levantamento
realizado nos Estados
Unidos revela quanto as
denominações separam
para missões, de cada dólar
doado. A Aliança Cristã
Missionária é a que reserva
mais, 11 centavos de dólar.
Segundo uma nova pesquisa
da Empty Tomb, Inc., entre
1916 e 1927 cerca de 7,9%
das contribuições das igrejas
eram destinadas a missões
internacionais; hoje esse
valor é de 2,1%.
O montante da coleta
para evangelização levantado
em todas as paróquias
católicas do Brasil em 2009
chegou a mais de 2,7 milhões
de reais. O montante é
muito alto, mas se dividido
por 100 milhões de católicos
(o número é bem maior), a
contribuição per capita não
chega a 3 centavos de real.
S
e João Batista
fosse pregar o
arrependimento
às multidões e batizar
os convertidos no rio
Jordão — não no tempo
de Jesus (ano 30 da era
cristã) — mas nos últimos
40 anos, seus discípulos
correriam o risco de morrer
ou de ficar mutilados. Por
uma única razão: desde
1970 até há poucos meses
havia cerca de 40 minas
terrestres exatamente
no lugar tradicional do
batismo de Jesus, perto
de Jericó. Outras minas
serão localizadas e retiradas
para proteger a vida dos
turistas, que chegam em
número cada vez maior (60
mil em 2010 e 44 mil nos
primeiros quatro meses de
2011). Só no ano passado
foram retiradas cerca de
8 mil minas no vale do
rio Jordão. A situação
é tão séria que antigos
monastérios estão rodeados
de placas com a indicação:
“Perigo! Minas!”.
S
e um robô
feito por mãos
humanas pode
descer 4 mil metros de
profundidade, achar e
trazer as caixas pretas e
alguns corpos de dentro
do mar — por que Jesus
não pode repreender o
vento e a violência das
águas (Lc 8.24)?
Se o alemão Georg
Friedrich Händel pôde
compor o oratório O
Messias em duas semanas,
combinando solos de
soprano, contralto, tenor e
baixo com coro e orquestra
— por que Jesus não pode
transformar 480 litros de
água em vinho da melhor
qualidade (Jo 2.9)?
Se o cirurgião pode
retirar o coração do peito
de uma pessoa, fazer nele o
que for necessário e colocá-
lo de novo em seu lugar
— por que Jesus não pode
fazer o coração de uma
menina de dez anos voltar a
bater (Lc 8.55)?
Se uma pessoa pode ver,
ouvir e falar com outra
pessoa do outro lado do
mundo — por que Jesus
não pode falar com seu
amigo Lázaro do outro
lado da pedra que tampa o
túmulo (Jo 11.43)?
Se com um aparelhinho
de 250 gramas eu posso
fotografar, filmar, gravar,
enviar e receber mensagens,
assistir a um programa
de rádio ou televisão, ler
jornais e livros, armazenar
nomes e endereços, agendar
compromissos e ver filmes,
acessar a internet e ainda me
distrair com algum jogo —
por que Jesus não pode fazer
um mudo falar, um surdo
ouvir e um cego ver?
Se os cientistas dizem que
a Terra nasceu há 4,5 bilhões
de anos e sua superfície se
solidificou em torno de 3,9
bilhões de anos — por que
Jesus não pode estar além do
espaço e do tempo?
Se os geneticistas
garantem que as esponjas
(formas de vida multicelular
mais antigas que
conhecemos) podem ter
entre 18 e 30 mil genes —
por que Jesus não pode viver
outra vez?
Diante desse estranho
quadro, seria bem melhor
jogar a incredulidade no lixo
e retirar da lata do lixo a fé
que outrora tínhamos!
MarkDemel
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 17
18 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
NOTíCIAS
Pesquisa revela
o que pensam
os líderes
evangélicos de
166 países
O fórum sobre Religião e Vida Pública
do Pew Research Center — um
instituto de pesquisas norte-americano
— conduziu uma extensa pesquisa de
opinião com 2.196 líderes evangélicos
de 166 países durante o Congresso
Lausanne 3, em outubro de 2010, na
Cidade do Cabo, África do Sul. Os
resultados foram divulgados em julho
deste ano e ganharam repercussão em
agências internacionais de notícias como
Reuters e CNN. No Brasil, a revista
Época dedicou um espaço com texto e
gráficos para o que chamou de “credo
dos evangélicos”.
por Lissânder Dias
A pesquisa mostrou que, no geral,
a opinião dos líderes é conservadora
no que diz respeito às crenças
fundamentais. Dos entrevistados,
96% acreditam que o Cristianismo
é a única e verdadeira fé que conduz
à vida eterna. Quase todos (98%)
afirmam que a Bíblia é a Palavra de
Deus. No entanto, há divergências
entre aqueles que dizem que a Bíblia
deve ser lida literalmente (50%)
e aqueles que não pensam assim
(48%).
Os entrevistados também possuem
visões tradicionais sobre questões
familiares e sociais. Por exemplo,
mais de nove em cada dez dizem
que o aborto é geralmente errado
(45%) ou sempre errado (51%).
Cerca de oito em cada dez pensam
que a sociedade deve desencorajar
a homossexualidade (84%) e que
os homens devem servir como
líderes espirituais no casamento e
na família (79%). Com relação à
homossexualidade, os líderes da
América do Sul e Central se dizem
mais liberais: 51% aceitam a prática,
enquanto que 87% dos líderes norte-
americanos a desencorajam.
Outro dado interessante está
relacionado às experiências religiosas:
76% afirmam já ter experimentado
ou testemunhado alguma cura
divina, enquanto que 57% dizem já
ter praticado oou testemunhado o
exorcismo.
Os líderes das regiões mais
pobres (como América Latina,
África e Oriente Médio) são mais
otimistas (71%) quanto ao futuro
do Cristianismo nos próximos cinco
anos do que os das regiões mais
ricas (44%), como Estados Unidos e
Europa. Em termos de evangelização,
os “sem-religião” (73%) são vistos
com mais prioridade do que os
muçulmanos (59%).
Ministérios com
famílias fundam
aliança
Ministérios e
organizações
evangélicas
que trabalham
com ênfase
na família
se reuniram
no dia 12 de
julho em São Paulo e aprovaram a
formação de uma aliança que tem
como objetivo principal estimular
a formação e o fortalecimento de
Antropólogos
cristãos
disponibilizam
conteúdo virtual
O Instituto Antropos — fundado por
missiólogos e antropólogos cristãos,
entre eles o missionário Ronaldo
Lidório — criou um espaço virtual
para disponibilização de vasto material
de estudo (livros, e-books, cursos,
palestras em áudio e vídeo). Além do
conteúdo à venda (a renda é destinada
ao sustento do Instituto), há um bom
acervo gratuito.
Segundo Lidório, “a intenção
do instituto é prover um bom
acervo para a pesquisa, edificação e
capacitação missionária. Vários outros
materiais estão sendo preparados e
trabalhos voltados para casais e
famílias dentro das igrejas locais.
Outra meta, mais imediata, é a reali-
zação de um congresso nacional em
outubro de 2012.
Pelo menos 19 ministérios estão
sendo convidados para integrar a
aliança. As pessoas do grupo poderão
se envolver de três maneiras: como
membros, apoiadores ou parceiros.
“Esta aliança funcionará como uma
espécie de confraria, sem personali-
dade jurídica nem muita burocracia,
reunindo anualmente”— disse o
psicólogo Carlos “Catito” Grzybo-
wski, do EIRENE do Brasil. Outras
organizações presentes na reunião de
fundação da aliança foram: Ministé-
rio Oikos, Ministério Fortalecendo
Famílias e Ministério Lar Cristão.
O nome oficial da confraria será
Aliança de Organizações Cristãs
Pró-Família ou Aliança Pró-Família
(APF). A próxima reunião da APF
será no dia 20 de setembro.
IwanBeijes
serão veiculados neste espaço nos
próximos meses”. O foco do trabalho
do Instituto Antropos é a pesquisa
sociocultural e a missiologia aplicada.
O site do Instituto é http://instituto.
antropos.com.br.
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 19
20 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
NOTíCIAS
Aliança
Evangélica
prepara fórum
sobre unidade,
identidade e
missão
De 24 a 26 de novembro acontece o
1º Fórum da Aliança Cristã Evangélica
Brasileira (ACEB), em Brasília, DF.
O evento terá como tema “Unidade,
Identidade, Missão”. A Aliança foi criada
em 30 de novembro com o objetivo
de buscar a unidade entre evangélicos
brasileiros para o cumprimento da
missão de Deus. “A Aliança vem
tomando jeito e forma”— diz Valdir
Steuernagel, um dos líderes. “Estamos
no processo de formar a membresia
e gostaríamos de convidar as igrejas
e instituições a se inscreverem como
membros na mesma.”
vai reunir mais
de mil pessoas
Até julho mais de mil pessoas já
haviam feito suas inscrições para o
6º Congresso Brasileiro de Missões
(CBM). O tradicional evento é o
mais importante da igreja evangélica
brasileira na área de missões e vai
reunir missionários, pensadores
Estudo indica
que somos
naturalmente
religiosos
O projeto Cognição, Religião e
Teologia (CRT) da Universidade de
Oxford, financiado pela Fundação John
Templeton, traz interessantes conclusões
sobre a hipótese de a religião ser inerente
ao ser humano. O estudo, extenso e
complexo, foi iniciado em 2007 e durou
3 anos. Ele nos oferece evidências mais
claras de que:
•	 Crianças e adultos (mesmo aqueles
com educação científica avançada)
têm a tendência de ver o mundo
natural como tendo função e
propósito.
•	 Na primeira infância, temos a
tendência natural de atribuir super
propriedades a outros humanos
e deuses, incluindo super
conhecimento, super percepção e
imortalidade.
•	 De fato, demora mais para
a criança aprender sobre as
limitações humanas do que sobre
as super habilidades divinas.
Crianças geralmente inventam
amigos invisíveis e, em muitos
casos, estes se parecem mais com
Deus do que com amigos visíveis.
•	 A ideia de que alguma parte
de nós (nossa mente, alma ou
espírito) não precisa de um corpo
físico, e que continua existindo
após a morte, pode ser algo
altamente intuitivo.
•	 Adolescentes e jovens podem
achar mais fácil lembrar e usar
ideias religiosas do que adultos.
•	 Crenças e práticas religiosas
A Aliança tem considerado em
sua pauta a agenda do Movimento
Lausanne para a Evangelização
Mundial. Por isso, na ocasião do
1º Fórum será lançado em português
o documento “Compromisso da
Cidade do Cabo”, redigido a partir
do Congresso Lausanne 3, realizado
em outubro de 2010, na África do
Sul. “Este documento está indicando
muito a agenda do movimento para
os próximos anos”, diz Steuernagel.
e líderes evangélicos nacionais e
internacionais para discutir e refletir
sobre temas contemporâneos como:
globalização, pós-modernidade, crise
financeira global, crise ambiental,
perseguição religiosa, povos não-
alcançados e doenças mundiais, como
a AIDS. Haverá preleções, oficinas,
momentos de louvor e intercessão e
relatos de experiências missionárias.
O tema é “A Missão Transformadora
para a Realidade Mundial”.
A expectativa da coordenação é ter,
pelo menos, 1.200 participantes e 80
estandes de agências missionárias e
editoras evangélicas. As inscrições vão
até 2 de outubro.
O 6º CBM vai acontecer de 10
a 14 de outubro, em Caldas Novas,
GO, e é realizado pela Associação
de Missões Transculturais Brasileiras
e pela Associação dos Professores
de Missões do Brasil, com apoio da
Comissão de Missões da Aliança
Evangélica Mundial e do Comibam
Internacional.
podem persistir em parte porque
nos tornam mais cooperativos e
generosos com os outros.
Para analisar os resultados desse
estudo, doze filósofos de várias partes
do mundo se reuniram em Oxford
em intensivas conferências. Eles
concordaram que a nova pesquisa
demonstra que as tendências religiosas
fazem parte das mais básicas formas
do funcionamento da mente humana.
No entanto, também afirmaram
que o “ateísmo é uma resposta tão
sofisticada a este fato quanto a
teologia”. Diante de um processo
crescente de secularização, uma
conclusão dos estudiosos torna-se
muito importante: “A religião não
pode ser descartada apenas como a
preocupação particular de alguns.
Respostas religiosas para o mundo,
certas ou erradas, são parte do que é
ser humano”.
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 21
22 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Alegria,
alegria,
por favor!
A
felicidade é um conceito — e uma aspiração
— tão antigo como a história da humanidade.
O clamor é geral: alegria, alegria, por favor!
Esta é a angústia existencial básica. Porém, a despeito
da busca frenética, tudo indica que não somos mais
alegres (ou felizes) hoje. O assunto é mais complexo
do que parece. Não é fácil definir o que é a felicidade,
identificar suas causas e, muito menos, descobrir o
“segredo da felicidade”.
A felicidade seria a paz contemplativa ou a alegria
ruidosa? Algo que nos acontece por acaso ou algo a
ser buscado? Fruto de virtudes e contemplação ou da
fruição do sofisticado cardápio de prazeres à disposição?
FernandoWeberich
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 23
Algo que se relaciona à supressão ou contenção dos desejos e
das aspirações? Algo a ser desfrutado apenas depois desta vida?
Um direito da humanidade ou sorte e destino de alguns?
Uma recompensa ou um presente? Resultado do mapeamento
genético ou do equilíbrio bioquímico? Induzida ou natural?
A felicidade tem sido cantada por poetas, literatos e
músicos. E também dissecada por biólogos, neurologistas,
psicólogos e economistas. Já em 1780, o filósofo Jeremy
Bentham inventou o “cálculo felicífico”, uma fórmula
matemática que tentava medir, sem muito sucesso, a
felicidade resultante de uma ação qualquer. China e Reino
Unido anunciaram neste ano a intenção de medir o grau de
felicidade de seus habitantes.
A despeito dos avanços na compreensão dos aspectos
fisiológicos e genéticos da felicidade e das ferramentas
científicas para analisá-la, muita coisa continua em aberto,
pois a felicidade possui dimensões relacionadas ao significado
da vida. Não é incomum a sensação de que quanto mais se
pensa ou se sistematiza a felicidade mais distante ela fica. O
inglês Stuart Mill, que passou boa parte de sua vida estudando
o tema, descobriu a certa altura que quando um homem se
pergunta se é feliz ele deixa de sê-lo.
O cristianismo explica a busca por felicidade como a
aspiração da humanidade pela eternidade. Alienado de Deus,
o homem procura a felicidade perdida. A esperança cristã é o
caminho do reencontro.
A partir de dentro
“... não pense que estou infeliz. Afinal,
o que a felicidade e a infelicidade
significam? Elas dependem muito
pouco das circunstâncias e muito
mais do que se passa dentro de nós!”
Dietrich Bonhoeffer, Cartas Inspirativas (à sua
noiva, antes de ser executado, em abril de
1945)
Adoração, alegria e gratidão
“A genuína adoração nasce de uma
boca cheia de riso (Sl 126.1-3),
contaminada pelo coração grato.
Tenha ela o perfume das flores da
alegria ou o aroma do incenso da
dor, estará dizendo que tudo o que
ele é e faz é bom. Cheiro suave ao
Senhor.”
Rubem Amorese
24 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
O
povo de Deus é alegre por definição. O cristão
é alguém que foi encontrado por aquele que é
feliz e recuperou a sua posição como filho. Para
os cristãos, a alegria não é só uma opção de vida. É uma
ordem de Deus ao seu povo; é um bom testemunho; é pré-
evangelização; é coerência.
O mandamento da alegria está espalhado nas Escrituras
Sagradas: nos livros da lei (Dt 16.11), nos Salmos
(Sl 32.11), nos profetas (Zc 9.9), nos Evangelhos (Lc 10.20),
nas Epístolas (Fp 4.4) e no Apocalipse (Ap 19.7). A alegria
é também fruto do Espírito (Gl 5.22), é consequência do
perdão e da salvação (Lc 10.20), é promessa a ser totalmente
contemplada no futuro (Hb 11.39-40), é combustível e
celebração da missão (Sl 126.6; Lc 15.7).
Certamente, algumas vezes terá de ser uma alegria
disciplinada, baseada em promessas e em exercícios de fé.
A despeito de ser — por natureza — feliz, cabe ao cristão
desenvolver esta alegria. Isto pode ser feito por meio do
exercício de um espírito grato (aqueles que julgam que a
vida lhes deve alguma coisa são incapazes de ser felizes),
A alegria cristã
pela lembrança constante das promessas do Senhor, pelo
encontro amoroso com os irmãos e irmãs, pela contemplação
da Criação, pela memória de Cristo e de sua beleza, pela
comunhão diária com Deus por meio da oração e da
leitura bíblica, pela vivência do discipulado cristão, pelo
“enchimento” do Espírito.
Por causa do pecado, da depravação humana, da ordem
política e social injusta, da incredulidade, da atuação satânica,
do orgulho humano, da fome e da miséria, das vicissitudes
naturais da vida, da enfermidade e da morte, da rejeição do
evangelho — nem todo tempo é tempo de alegria. A Bíblia
ressalta esta verdade: “[Há] tempo de chorar, e tempo de rir;
tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria” (Ec 3.4).
Além disto, somos ainda seres incompletos, ambíguos,
divididos. Um dos efeitos da queda é que nossas emoções
nem sempre acompanham nossas certezas. A variação
de humor que não dominamos continuará a ser nossa
companheira até o final da vida. A plenitude da alegria não
é para agora. A garantia de bem-estar permanente não é uma
promessa cristã.
A diferença
“É possível que você veja duas pessoas
levando exatamente a mesma sorte de vida,
diante das mesmíssimas condições, sendo,
contudo, muito diferentes. Uma é amarga
e queixosa; outra é calma, tranquila, feliz
e sossegada. A diferença não está nas
condições nem naquilo que lhes sucede. É
algo que está nelas: a diferença consiste nas
duas pessoas propriamente ditas...”.
Lloyd-Jones, Mensagens para Hoje
FernandoWeberich
24 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 25
E
stabilidade emocional
é uma conquista, um
patrimônio sem medida.
Esse estado de espírito elimina
o entra-e-sai da tristeza e da
alegria, do temor e da coragem, da
depressão e da euforia, da dúvida e
da certeza. Diminui as desgastantes
variações de ânimo. A genuína
estabilidade emocional não depende
necessariamente das pessoas ao
nosso redor nem de circunstâncias
favoráveis. Ela suporta os
imprevistos, a dor, o sofrimento
e a distância. Ela se dá a despeito
de tudo e de todos. De outra
forma, não poderia ser chamada de
estabilidade emocional.
O cristão que põe o Senhor à
sua frente dia após dia, momento
após momento, além de não ser
facilmente abalado, experimenta
uma alegria preciosa e curiosa.
Essa é a experiência do salmista:
“[Porque sempre tenho o Senhor
A
ideia errônea do que é a verdadeira
felicidade pode vir a ser a principal
causa da infelicidade. Convém
apontar o que a felicidade não é:
•	 A felicidade não tem ligação com a ausência
de embaraços, dificuldades, imprevistos,
oposição ou embates. Antes, a presença
destas coisas exercita e valoriza a vida. Muitas
vezes quebram a rotina e servem de degraus
para que alcancemos posições mais altas.
•	 A felicidade não depende de circunstâncias
favoráveis. Se fosse circunstancial, ela seria
instável, transitória, incerta. Ela não se apoia
em fatores que nem sempre estão sob o
controle humano.
•	 A felicidade não é resultado da satisfação de
todo desejo do coração. Os nossos desejos
frequentemente são contraditórios e surgem
de fontes opostas entre si. Qualquer pessoa
descobre que a não satisfação de certos
desejos, conquanto fortes e audaciosos,
resulta em extraordinária felicidade.
•	 A felicidade não significa uma aceitação
silenciosa e compulsória das dificuldades
existentes, como se fossem determinadas
por Deus. A resignação é virtude cristã e
preciosa, mas não deve ser confundida com a
indisposição para a luta ou com o medo, com
a covardia ou a falta de fé.
•	 A felicidade nunca acontece em uma sala
fechada em cuja porta, do lado de fora, uma
tabuleta avisa: “Não entre sem ser chamado”.
A felicidade não depende do isolamento,
do silêncio, de calmarias, de acessórios
e assessores, da ginástica do chamado
“pensamento positivo”, da repetição
mecânica de orações e de frases otimistas, de
mentiras inteligentes e bem elaboradas. Ao
contrário, a felicidade tem de conviver com a
maldade, com o sofrimento, com a inimizade
alheia, com a morte, com a realidade
presente e histórica.
O que a
felicidade
não é
Alegria de águas
profundas
diante de mim], o meu coração se
alegra e no íntimo exulto” (Sl 16.9).
Trata-se de uma alegria de águas
profundas, nascida e preservada no
âmago, no centro, na parte mais
íntima do ser, na alma. Uma alegria,
digamos, espiritual. Uma alegria
interior e não facial. É a alegria
teimosa — que nunca vai embora,
que ninguém pode arrancar, que
ladrão algum pode roubar — da
qual falou Jesus (Jo 16.22).
A mais famosa afirmação de
estabilidade emocional foi feita pelo
profeta Habacuque. Em tempos
absurdamente difíceis, ele declarou:
“Ainda assim eu exultarei no Senhor
e me alegrarei no Deus da minha
salvação” (Hc 3.18). É muito pobre
a alegria que, ao primeiro susto,
bate as asas. O cristão bem treinado
e exercitado na alegria pode fazer
a mesma declaração que Paulo fez:
“Aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação” (Fp 4.12).
KamilPorembinski
26 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
A
tradução mais literal para o título original da
famosa composição de Bach “Jesus, alegria dos
homens” (Jesus, joy of man’s desiring) seria “Jesus,
a alegria que os homens desejam”. Dois trechos para coral1
indicam a força com que o compositor considerava Jesus
como a resposta aos anseios de felicidade do homem:
Bem-aventurado sou, porque tenho Jesus.
Oh, quão firmemente eu o seguro,
Para que traga refrigério ao meu coração,
Quando estou triste e abatido.
Eu tenho Jesus, que me ama e se confia a mim.
Ah! Por isso não o deixarei,
Mesmo que meu coração se quebre.
Jesus continua sendo minha alegria,
O conforto e a seiva do meu coração
Jesus refreia a minha tristeza,
Ele é a força da minha vida
É o deleite e o sol dos meus olhos,
O tesouro e a grande felicidade da minha alma,
Por isso, eu não deixarei ir Jesus
Do meu coração e da minha presença.
A redescoberta de que Jesus é a fonte de alegria fará de
nós cristãos muito mais felizes e trará renovação na vida e no
testemunho da Igreja. Esta reflexão não é nova. A resposta à
primeira pergunta — Qual é o fim principal do homem? —
do Catecismo de Westminster (1648) traz esta indicação: “O
fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para
sempre”.
Jonathan Edwards, no início do século 18, dizia que a
razão de nossa existência é glorificar a Deus à medida que nos
deliciamos nele. Só glorificamos a Deus se somos realmente
felizes.
Na introdução de seu livro Ser É o Bastante, sobre as bem-
aventuranças, Carlos Queiroz diz: “A felicidade do discípulo
consiste primeiramente no reencontro harmonioso com o Ser
que é Feliz. [...] Fora da vocação humana, fora da filiação em
Deus, qualquer ser humano viverá — ou melhor, morrerá —
em demasiada tristeza”.
“A salvação não significa apenas perdão de pecados, mas,
acima de tudo, comunhão com Jesus. Se essa comunhão não
for plenamente prazerosa, não haverá grande salvação”, é o
que afirma John Piper, no capítulo “A alegria indestrutível”,
do livro Um Homem Chamado Jesus Cristo.
Jesus nunca foi triste. Um texto pouco conhecido das
Escrituras revela Jesus alegre no início do mundo criado:
“Eu estava ao seu lado, e era o seu arquiteto; dia após dia
eu era o seu prazer e me alegrava continuamente com a sua
presença” (Pv 8.30). Em Hebreus 1.8 e 9, Deus diz ao Filho:
“Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o teu
Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te
com óleo de alegria”. No Salmo messiânico (16.8, 11) Cristo
declara: “Eu sempre via o Senhor diante de mim. Porque ele
está à minha direita, não serei abalado. Por isso o meu coração
está alegre e a minha língua exulta [...] e me encherás de
alegria na tua presença”.
Embora Jesus tenha experimentado tristeza — uma das
ocasiões foi no Getsêmani, quando declarou aos discípulos:
“A minha alma está profundamente triste, numa tristeza
mortal” (Mt 26.38) —, ele é alegre por natureza. Ele chorou,
sofreu fome, cansaço, abandono, morte, mas foi sustentado
por uma alegria indestrutível. Foi “pela alegria que lhe estava
proposta, [que] ele suportou a cruz, desprezando a vergonha,
e assentou-se à direita de Deus” (Hb 12.2).
Em suas palavras de despedida — em um momento
de muita tristeza — Jesus promete aos discípulos: “Tenho
lhes dito estas palavras para que minha alegria esteja em
vocês e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15.11; 17.13).
Cristo comunica aos filhos de Deus a sua alegria por meio
do Espírito Santo. Se Cristo fosse indiferente ou triste, a
eternidade não passaria de um longo suspiro. Porém não é
assim. As palavras de boas vindas que Jesus tem preparado
para os seus são estas: “Muito bom, servo bom e fiel! [...]
Venha e participe da alegria do seu senhor” (Mt 25.21).
Oxalá Deus nos despertasse de nossa apatia, indiferença,
tristeza ou de nossa “euforia mundana” e imprimisse com
cores vivas e de forma constante a alegria de Cristo em nós!
— uma oração a ser feita por cada cristão e pela Igreja. Isto
nos levaria a apropriarmo-nos da promessa de Jesus: “Eu vim
para que tenham vida e vida em abundância” (Jo 10.10). As
pessoas que ainda não se aproximaram de Cristo — carentes
que estão de alegria — se sentiriam atraídas à fonte de alegria
por meio de nós.
Nota
1. Coral nº 10 e n° 6 da Cantata BWV 147.
Fonte: http://missoeseadoracao.net/2008/02/jesus-alegria-dos-homens-por-j-s-bach.html
Jesus, a alegria desejada pelo homem
A tirania da felicidade
P ara Pascal Bruckner, romancista francês e autor
do livro A Euforia Perpétua, a felicidade hoje
se tornou uma tirania, “as pessoas vivem obcecadas
em conquistá-la, como a uma propriedade. Já que as
pessoas correm a vida inteira atrás dela, a felicidade
vira uma inquietação permanente”, passa a fazer
parte do território da angústia.
Eliane Brum, escritora e jornalista, alerta:
“Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que
a felicidade é uma espécie de direito. Existe a crença
que a felicidade é um imperativo, que é possível viver
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 27
T
odo ser humano quer
ser feliz, pois todos
sabemos que não somos
o que deveríamos ser e que não
vivemos no ambiente onde
deveríamos viver. Somos marcados
pela maldade e vivemos em um
ambiente de sofrimento. Somos
infelizes.
Sabemos disso por causa do
testemunho que Deus dá de sua
existência. Ele nos dá condições de
vida e enche o nosso coração com a
noção de significado e completude,
permitindo que tenhamos
momentos em que essas realidades
estejam presentes em nossa
experiência de vida (At 14.17).
O testemunho de sua existência,
além de chamar-nos a atenção para
a probabilidade da transcendência,
nos faz perceber o quão distantes
estamos da abundância que, por
vezes, de modo aparentemente
aleatório experimentamos.
Deus nos empresta a sua
bondade para que a maldade não
seja o único conteúdo a dar o
tom de nossa existência (Tg 1.17)
— o que nos dá uma noção da
possibilidade da vida abundante,
porque nos lega ordem moral.
Gente felizAriovaldo Ramos
sem sofrer, que as dores inerentes a toda vida são uma
anomalia”. Isto torna os joven incapacitados para lidar
com a frustração.
A teologia da prosperidade igualmente apresenta
o bem-estar como um imperativo e — pior — um
imperativo decorrente da fé. No entanto, está muito claro,
de acordo com Lloyd Jones, em seu livro Mensagem para
Hoje, que “não há parte alguma da vida cristã isenta de
perigos. Face ao ensino do Novo Testamento, nada é tão
falso como dar a impressão de que no instante em que
você crê e se converte, acabam-se todas as dificuldades”.
AbelMolina
Jesus veio para que tivéssemos
vida abundante (Jo 10.10). Ter
vida abundante é ser salvo. Vida
abundante é vida plena de bondade
e capaz de não sofrer a realidade de
sofrimento que nos cerca, é vida
feliz.
Ser salvo é ser feliz. Felicidade,
como um conjunto de circunstâncias
prévias para que alguém seja feliz,
não existe na Escritura. O que existe
é gente feliz. Ser feliz é pessoal.
Gente feliz, entretanto, afeta o
ambiente para que este seja ambiente
de felicidade (Mt 5.13-16).
Felicidade, portanto, não é
algo que se encontra, mas que se
produz no ambiente para o bem de
todos. Ainda que o ambiente não
seja suficiente para fazer alguém
feliz, é papel de todo o que é feliz
reproduzir no ambiente as condições
que demonstrem a possibilidade de
cada ser humano ser feliz (Mt 5.16).
Toda a Escritura revela Cristo
como o portador da vida abundante.
A escritura que o revela descreve o
que é gente feliz. A chave para viver
essa vida é sempre o Cristo. Porque
todo aquele que invocá-lo será
salvo (Jl 2.32). Ser salvo é ser feliz e
produzir felicidade!
Morrer aos poucos
“A alegria faz bem à saúde;
estar sempre triste é morrer aos
poucos.”
Provérbios 17.22
Pleno e eterno prazer
“Tu me farás conhecer a vereda
da vida, a alegria plena da tua
presença, eterno prazer à tua
direita.”
Salmos 16.11
28 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Clamor pela alegria
Ó
Deus, estou confuso, desnorteado, inseguro,
perturbado, triste. Pensei que esta crise iria acabar
logo e ela não acabou. Sinto-me preso em uma
cela sem janelas. Não vejo o sol há muitos dias. Só vejo som-
bras. A escuridão me rodeia. Não enxergo o que há de bom
nesta vida.
Minha memória está contra mim. Não consigo me
lembrar dos acontecimentos bons do passado. Por outro
lado, minha mente está catalogando todas as lembranças, até
pormenores desagradáveis, de acontecimentos maus.
Vejo sofrimento em toda parte, até onde ele não existe.
Os maus sofrem e os bons também. Antes era assim, agora é
assim e amanhã será assim.
Ando preocupado demais com meus familiares. Estou
com medo de um adoecer, do casamento de outro se acabar.
Imagino — alarmista — acidentes de trânsito ou acidentes
morais envolvendo algum querido. Estou sensível demais.
Meu amor por meus familiares anda estranho. É um amor
nervoso, cheio de apreensões e esquisitices.
Tenho dificuldade de ler a Bíblia e de orar. A comunhão
contigo, outrora fácil, está agora difícil. Aquela sensação de
que tu me abençoavas dia após dia praticamente acabou. Es-
tou vivendo pela fé e não por emoções. Minhas certezas estão
em queda. Ainda me resta um pouco de bom senso, que estou
segurando com ambas as mãos para que não se perca. Com
esse resto de bom senso, estou lidando com minhas culpas.
Estou resistindo, estou clamando, estou esperando.
Ó Deus, perdoa-me por me encontrar desse jeito. No mo-
mento, eu não sou eu. Sou outro. Sou um estranho até para
mim mesmo. Sem dúvida, estou doente. Preciso de tratamen-
to. Tem misericórdia de mim, Senhor! Cura-me totalmente.
Torna a dar-me alegria, estabilidade emocional, segurança
pessoal. Livra-me desta dor apertada no peito, de quem está
assustado e medroso. Aumenta as minhas certezas e a minha
fé. Aumenta a minha esperança de cura e a minha esperança
de novos céus e nova terra, onde não haverá tristeza nem dor,
nem guerras, nem mortes. Socorre-me nesta hora, ó meu
Senhor. Peço-te este livramento em nome de Jesus! Amém.
ElioRocha
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 29
A
mesma pessoa que escreveu: “Em paz me deito
e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu
me fazes repousar seguro” (Sl 4.8) também
declarou: “Estou cansado de tanto gemer; todas as noites
faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago”
(Sl 6.6). Ao registrar estes dois estados de alma, Davi
expressou o que acontece com todos nós: as inevitáveis
variações de ânimo.
Em uma conversa fictícia descrita em Cartas de Um
Diabo a Seu Aprendiz, de C. S. Lewis, o “demônio-mor”
explica ao seu sobrinho aprendiz que estas oscilações
seriam uma boa porta de entrada para a tentação, e assim
descreve a natureza humana: “A maior aproximação a que
A
mbos [Freud e Lewis]
sofriam de depressão
clínica. Antes de se
tornar cristão, em seu diário e
cartas, Lewis parece irritável, pes-
simista, obscuro e sem esperança.
Diz que seu ateísmo baseava-se
na sua “visão muito pessimista
da existência”. Depois da sua
conversão, passou a dizer que a
alegria se tornara a história central
de sua vida.Seus amigos passaram
a considerá-lo uma pessoa ani-
mada e sociável. Ele havia sido
surpreendido pela alegria no re-
lacionamento recém-estabelecido
com o Criador. Lewis afirma que
Deus não nos pode dar “felicidade
alguma além de si mesmo, pois
ela não existe fora dele”. A nova
fé ajudou-o a superar a depressão.
A pesquisa médica recente lançou
bastante luz sobre os aspectos
positivos da fé no tratamento da
depressão.
Freud, por sua vez, quando jo-
vem, usou cocaína durante algum
tempo como forma de melhorar o
eles chegam da constância vem a ser a ondulação — a volta
repetida a um certo nível do qual eles caem repetidas vezes
como numa série de depressões e cristas [...] ondulação que
se manifesta em todos os departamentos humanos — no
interesse que dispensa ao trabalho, nas afeições para com
os amigos, nos apetites fisiológicos, tudo nos homens oscila
para cima e para baixo”.
A advertência de Eugene Peterson em A Oração que Deus
Ouve — “Os sentimentos são o flagelo da oração. Orar
com base nos sentimentos é estar à mercê de glândulas,
tempo e digestão” — e a sugestão de uma saudável
displicência para com os nossos sentimentos no âmbito da
oração podem servir a todas as áreas da vida.
Oscilações inevitáveis
Felicidade para
Freud e Lewis
David Neff
Um dever cristão
“Há grande bem em suportar
pacientemente o sofrimento: não sei
da existência de nenhuma virtude na
tristeza em si... É um dever cristão todos
serem tão felizes quando puderem.”
C. S. Lewis em carta a Sheldon Vanauken,
quando este perdeu a esposa. Cartas
Inspirativas
“Alegrai-vos no Senhor, outra vez digo:
alegrai-vos.”
Filipenses 4.4
ânimo. Ele relacionava a felicidade
ao prazer, e para ele a maior fonte
de prazer era a satisfação instintiva,
o prazer sexual. E como isso só
ocorre de vez em quando, ele con-
clui que está descartada qualquer
chance de felicidade.
Lewis divide a felicidade em
várias categorias, mas diz que todas
elas vêm da mesma fonte. Ele
mostrava-se capaz de apreciar os
pequenos prazeres da vida, como
assistir ao pôr-do-sol, ouvir uma
boa música ou tomar um banho
quente. E dizia que metade de toda
a felicidade vem das amizades. Já
Freud parecia ter uma capacidade
limitada de apreciar pequenos pra-
zeres. E suas cartas não expressam
muita felicidade. Certamente ele
experimentou alegria em estar com
os filhos e a família, mas a grande
maioria dos seus escritos indica
que ele não considerava a vida uma
experiência particularmente feliz.
Nota
NEFF, David. Dois Gigantes Intelectuais
frente a frente; entrevista com Armand Nicholi.
Ultimato. set./out. 2005. ed. 296. p. 38.
Egocentrismo e infelicidade
“O cristianismo aumenta extraordinariamente
o âmbito e área de nossa vida. Ele nos tira
do egocentrismo e nos leva ao altruísmo.
A conversão nos tira da introversão para a
extroversão. (...) Não seja hipersensível à
crítica, nem faça uma idéia exagerada de
sua importância pessoal. Este é o segredo
da infelicidade de muitos. Muita gente
egocêntrica é vítima desta terrível doença
mental.”
Billy Graham, em O Segredo da Felicidade
30 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
Louvarei ao Senhor — “em todo o
Ronaldo Lidório
E
nganoso é o nosso coração. Não é raro observar
que, por vezes, mesmo tendo muito mais do que
precisamos, permanecemos descontentes pelo que
julgamos nos faltar. Outras vezes, mesmo tendo pouquíssimo,
o pouco que temos se mostra suficiente para encher o coração
de louvor e agradecimento a Deus.
Isto nos leva a uma percepção bíblica de que o louvor a
Deus não é definido pelas circunstâncias da existência, mas
pela atitude do coração; e que nosso coração, essencialmen-
te enganoso, é também ensinável, e deve aprender a louvar
a Deus dentro de uma proposta bíblica radical — “todo o
tempo”.
O Salmo 34 é um convite ao louvor e à maturidade espi-
ritual. Nele o salmista manifesta o compromisso de louvar ao
Senhor em “todo o tempo”(v.1). Louvar ao Senhor ao receber
o que tanto desejou, ou ao ser surpreendido por uma ótima
notícia, é uma resposta natural dos sentidos, e não exige
nada especial do nosso coração. A proposta bíblica, porém, é
louvar a Deus em “todo o tempo”: no dia bom e também no
dia mau; em plena saúde e nos dias de enfermidade; quando
aplaudido ou criticado; ao receber uma resposta positiva do
Senhor ou quando ele nos fecha um caminho que intensa-
mente desejávamos seguir.
Louvar a Deus em “todo o tempo” implica reconhecer
que todos os planos do Pai são planos de amor. Que todas as
coisas, de fato, cooperam de alguma forma, que pouco com-
preendemos, para o bem dos que sinceramente amam a Deus,
e isto nos basta.
Louvar a Deus em “todo o tempo” implica também
reconhecer que as circunstâncias da vida, mesmo as mais
complexas e difíceis, possuem algum motivo de gratidão.
Neste salmo não encontramos um cenário de perfeição
que nos leva naturalmente ao louvor, mas um louvor que
é proferido na realidade por uma vida que possui desafios
constantes. Os versos 4, 5 e 6 nos falam sobre temores,
angústias e prisões. O verso 8 nos leva, entretanto, ao
reconhecimento de que, além das cores que pintam o
presente cenário da existência, Deus é bom. Somos con-
duzidos não apenas a compreender a sua bondade, mas a
experimentá-la: “provai e vede que o Senhor é bom!”.
Deus não é apresentado como aquele que realiza atos
de bondade, mas como aquele que é bom em sua essên-
cia. É da natureza de Deus ser bom. Alguns passam por
angústias e tornam-se murmuradores. Outros passam por
tragédias e reconhecem a bondade do Senhor. A diferença
parece estar na atitude do coração.
Em seu edificante livro O Discípulo Radical, John Stott
nos apresenta oito características de um discípulo: incon-
formismo, semelhança com Cristo, maturidade, cuidado
com a criação, simplicidade, equilíbrio, dependência e
morte. Em todas elas ele destaca a atitude do coração, e
a diferença entre o que meramente conhecemos e aquilo
que abraçamos como valor e prática de vida. O louvor a
Deus não é simples assunto de exposição ou tão somente
artigo de fé. Ele deve ser praticado, e praticado “todo o
tempo”.
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 31
tempo”
É certo também perceber que o louvor a Deus combate a
ansiedade da alma. Depressões, ansiedades, fobias e temores
são as enfermidades do século. Neste salmo vemos que, ao
praticar o louvor, pacificamos nossos corações. No verso 1 ele
nos fala sobre a alegria, no 2, sobre a libertação dos temores
e, no 5, sobre a libertação das angústias. Louvar a Deus alegra
o coração do Pai e também apazigua a nossa alma, uma vez
que nos conduz a reconhecer que nossas vidas estão nas mãos
daquele que, em todas as coisas, é bom.
A declaração de louvor, lançada intencionalmente no
futuro (“louvarei ao Senhor), é sem dúvida uma afirmação
de fé para caminharmos com Deus, pois não conhecemos
o amanhã. Não sabemos o que nos aguarda, se a alegria
inesperada ou a tragédia mais temida. Diante deste cenário de
fluida incerteza o salmista faz um compromisso e o declara:
“amanhã... eu o louvarei”.
O que pode parecer uma incoerência perante a inconstân-
cia da vida é, na verdade, uma afirmação de conhecimento
e confiança. Não conhecemos o amanhã, mas conhecemos
o Deus que controla o amanhã. Não sabemos se alegrias ou
tragédias virão, mas estamos certos que nenhuma tragédia
é maior que a sua bondade. Não conseguimos desvendar
os mistérios da vida, mas sabemos que os planos do Pai são
planos de amor. Desta forma, louvar a Deus é certamente um
exercício de fe que apazigua as ansiedades da alma e nos dá
paz. No amanhã — que desconheço — eu o louvarei.
Em 1873 um navio francês, o Ville de Havre, seguia da
costa leste americana para a Europa. Entre os passageiros
A
lguns economistas têm se
deparado com o fato de que
os países que enriqueceram
nos últimos anos não aumentaram seu
grau de felicidade em igual proporção.
Darrin McMahon, autor do livro
Felicidade — uma História, relacionou
isto ao modo como os seres humanos
se adaptam aos prazeres: “É algo que
todo pai já observou nos seus filhos:
logo que recebem um brinquedo
novo, ficam contentíssimos, mas
depois o entusiasmo esfria. Psicólogos
chamam isto de ‘roleta hedônica’. Os
filósofos — incluindo Adam Smith, o
arquiteto intelectual do capitalismo —
Riqueza e felicidade
encontravam-se a senhora Spafford — esposa de um cristão
piedoso, jovem advogado de Chicago — e seus quatro
filhos. Nesta viagem o navio sofre um acidente e vem a
naufragar, morrendo quase todos os tripulantes. Dias de
desespero se seguem com a ausência de notícias para as
famílias dos desaparecidos em alto mar. Finalmente o senhor
Spafford recebe um telegrama comunicando que sua esposa
foi encontrada ainda com vida, mas estava só. A mensagem
sobre a perda de seus quatro filhos lhe aflige a alma. Ele cho-
ra e lamenta. Depois senta-se e escreve a letra de um hino
que se tornaria conhecido em todo o mundo: “It is well with
my soul” (Está bem a minha alma), conhecido como “Sou
feliz com Jesus”. Assim, ele diz:
Se paz a mais doce me deres gozar
Se dor a mais forte sofrer
Oh, seja o que for, tu me fazes saber
Que feliz com Jesus sempre sou
O louvor a Deus não é definido pelos marcadores da
nossa história, mas pela bondade do Senhor que vai além
das linhas do horizonte do entendimento da vida.
Louvar a Deus é reconhecer que a sua bondade será
sempre maior do que qualquer acontecimento que possa se
abater sobre nossos dias. É cantar a sua bondade nos dias de
luz e alegria, e não deixar de fazê-lo nos dias de forte neblina
e cores escuras. Sua bondade é maior que a vida.
Um dia, em luz plena e eterna, cantaremos a sua bondade
em “todo o tempo”. Não precisaremos de fatos da vida para
fazê-lo. A sua presença nos bastará.
sempre souberam que o dinheiro não
compra a felicidade”.
O escritor francês Pascal Bruckner,
autor do livro A Euforia Perpétua,
acrescenta: “Produto interno bruto
alto não é sinônimo de povo feliz.
A França, um dos países mais ricos
do mundo, é também onde se
consome uma grande quantidade de
antidepressivos”.
Ainda assim, uma pesquisa
realizada pela FIESP em 2010 indicou
que 64% dos homens brasileiros
escolheram “ter dinheiro” como um
dos fatores mais importantes para se
sentir feliz.
32 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
sempre nutri grande admiração é
John Stott, que há pouco tempo
deixou este “corpo corruptível” para
receber “o corpo glorificado”. Ele, com
seus sermões, livros e dedicação, me
estimulou a amar a Bíblia, a igreja e o
Salvador.
A vida moderna, com suas múltiplas
ofertas, intensifica o individualismo
e acaba por produzir uma forma de
ruptura entre a realidade interna e
externa. Por outro lado, a revelação
de Deus como Trindade, que tem a
comunhão e a interdependência de um
no ser do outro, forma a base da vida e
da espiritualidade cristã. A consciência
de que fomos criados por Deus e para
Deus estabelece o eixo para vivermos
de forma centrada.
Existe um centro na vida: Jesus
Cristo. Ele é o princípio e o fim.
Aquele por meio de quem tudo existe e
para quem todas as coisas convergem.
Diante dele se dobrarão todos os
joelhos no céu, na terra e debaixo da
terra, e toda língua o confessará como
Senhor e Deus. Ele é o que se encontra
assentado no trono, em torno do qual
nós nos colocamos em adoração e
obediência.
Precisamos de testemunhas. Nuvens
de testemunhas. Precisamos de pessoas
que nos ajudem a desembaraçar os nós
do pecado e de tudo o que nos impede
de caminhar em direção a Cristo. A
vida moderna segue nos oferecendo
muitas distrações. Manter os olhos
fixos em Jesus nos possibilita viver de
forma íntegra e centrada.
Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana
do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos,
em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do
Coração.
Tenho pensado nas testemunhas que
têm me ajudado a não perder o foco.
Confesso que, às vezes, olho a minha
volta e encontro muita gente que me
incentiva com métodos, estratégias,
técnicas, programas; no entanto, são
poucos os que me ajudam a manter
meus olhos focados em Jesus.
Algumas destas testemunhas
viveram séculos atrás. Agostinho é uma
testemunha fiel que sempre me ajuda
a olhar com honestidade para o meu
pecado e para a bondade de Deus.
Ler as Confissões mantém meus olhos
voltados para Jesus. Outra testemunha
pela qual tenho grande apreço é
Gregório Magno, que viveu no século 6.
Sua obra Regra Pastoral tem me ajudado
a manter o foco do ministério pastoral
e evitado que me entregue às seduções
dos atalhos.
Os movimentos mendicantes do
século 13 me ajudam a reconhecer o
valor da simplicidade. Os reformadores
me inspiram tanto na devoção como
no estudo cuidadoso e reverente das
Escrituras. Ao longo de minha vida
algumas testemunhas fiéis e verdadeiras
me ajudaram a manter meus olhos fixos
em Jesus. Várias delas seguem ao meu
lado, anonimamente, insistindo para
que jamais perca Jesus de vista.
Uma testemunha que teve grande
influência em minha vida e pela qual
O CAMINHO DO CORAçãO Ricardo Barbosa
Todos os homens e
mulheres que viveram
vidas focadas tornaram-
se uma “nuvem de
testemunhas”
U
ma característica de
viver em uma cultura
que oferece tantas
possibilidades é perder
o foco, não saber o que
realmente importa. Vivemos de forma
dispersa, seduzidos por uma infinidade
de ofertas, criando uma ciranda de
opções que mudam constantemente
nosso olhar de direção.
A perda da objetividade nos conduz
a uma dificuldade na integração das
diferentes realidades da vida. Somos
seres distraídos, ansiosos e inquietos.
A obsessão pela autorrealização, pela
autossegurança e pela autoimagem surge
da necessidade de dar nitidez a um
cenário desfocado.
Temos a tendência de pensar que
nossos problemas são externos. Porém,
se não temos um foco internamente
seguiremos à deriva. Como diz o velho
ditado: “Quando o piloto não sabe o
destino do seu barco, qualquer vento
sopra a favor”. As distrações externas
apenas refletem a falta de integração
interna.
Na carta aos Hebreus, o autor dedica
todo o capítulo 11 para descrever, em
curtas biografias, a vida de homens e
mulheres que viveram vidas focadas.
Apesar das inúmeras possibilidades e
pressões, mantiveram seus olhos fixos em
promessas divinas ainda não cumpridas.
Viveram e morreram por elas.
O autor entra no capítulo 12 com um
relato e um apelo. Todo aquele elenco
de homens e mulheres que viveram
vidas focadas tornou-se uma “nuvem de
testemunhas”, ajudando e encorajando
outros homens e mulheres a viverem
da mesma forma. O que eles fizeram?
Mantiveram seus olhos fixos em Jesus.
Olhando firmemente para Jesus
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 33
34 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
de missão, que reduziu o evangelho
a quatro leis e a ação missionária à
pregação unilateral; a da conceituação
dos povos indígenas, que os limitou a
uma idealização folclorizada e inumana;
a do comercialismo religioso e da
pressão para se obter uma cristianização
imediata e superficial do povo, sem
se considerar a preservação de seu
patrimônio linguístico.
Recentemente visitei um pequeno
país-ilha do Pacífico onde fui verificar
“o pulso” de duas línguas nos estertores
da agonia. O quadro não muda muito;
na África, Ásia, Amazônia e Pacífico
línguas morrem porque deixam de ser
funcionais. Ninguém mata uma língua,
ela morre por falta de uso.
O pequeno país chamado Palau tem
dois outros idiomas além dos oficiais,
inglês e palauan. Eles são falados
por uma população muito pequena
que povoa quatro ilhas distantes do
arquipélago principal do país. Com
eles se fala da flora e fauna marinha, do
mundo místico de azul e espuma, das
comidas que não são mais cozinhadas e
das tecnologias raramente usadas hoje.
Os que ainda falam a língua se
entristecem ao ver os jovens serem
educados em palauan e inglês, optando
por não falar mais o idioma. O povo
de Tobi, a menor das ilhas, considera
como certa a morte da identidade Tobi;
entristece-se, mas não tem como lutar
A
cada 14 dias morre uma
língua na Terra — grita
o repórter em tom
apocalíptico. Como
linguista, acompanho há
anos a tragédia da morte das línguas no
mundo, e celebro este despertar tardio
da mídia mundial para o problema.
Saber que línguas estão desaparecendo
deveria causar uma sensação de desespero
e angústia pelo patrimônio humano de
conhecimento, sabedoria e percepção
única da realidade que morre com elas.
A língua é uma codificação verbal da
cultura. Esta, por sua vez, é o conjunto
de conhecimentos adquiridos por um
povo sobre todas as áreas da vida. Com
a morte de uma língua, nossa condição
humana se esvazia: a inteligência coletiva
empobrece e enciclopédias inteiras de
etnociência morrem com ela.
O pragmatismo da cultura evangélica
recente nos influencia a ver as línguas
como barreiras para o cumprimento
da Grande Comissão. Uma língua
morta passa a significar menos uma a
ser duramente aprendida, menos uma
a isolar populações e evitar a entrada
do evangelho. Nada mais errado de
se pensar. O desaparecimento de uma
cultura significa o desaparecimento de
uma percepção peculiar de Deus e de
suas revelações, que, uma vez assimiladas
pelo Corpo de Cristo, certamente nos
aproximariam mais dele. Cada vez que
uma língua deixa de ser falada na Terra,
ficamos espiritualmente mais pobres e
limitados.
No entanto, para se chegar ao ideal
de transpolinização conceitual, chamado
por Paulo de “mistério” (Ef 3.3-10),
é necessário cruzar muitas barreiras,
para além da língua: a do conceito
contra o inexorável. Não há mais espaço,
no mundo em que vivem, para se ser
Tobi. A língua tornou-se irrelevante no
cenário sócioeconômico do arquipélago.
O canto do povo que se vai é triste
e seu clamor se perde na imensidão do
oceano. Entretanto, na minha recente
amizade com ele, ganhei esperança.
Jovens católicos ativos compõem hinos
de louvor em sua língua materna.
Cânticos ricos em significado ressoam na
paróquia aos domingos. A leitura bíblica
da liturgia é feita em sonsorol e tobi.
Nosso ser coletivo não é diferente do
individual. Línguas morrem por falta de
autoestima, porque se veem de repente
sozinhas e sem valor. “Ninguém me
utiliza, ninguém me estuda, ninguém
precisa de mim.” Morrem por falta de
amor.
Como missionária da missão
holística, espero que, ao se traduzir a
Bíblia, traduza-se também viabilidade
econômica, escolarização, documentação
do patrimônio cultural. Espero que o
quadro atual de morte seja revertido, e
que, uma vez amadas por Deus, as duas
línguas ouvidas nas ilhas distantes de
Sonsorol e Tobi voltem à vida.
Àqueles que de forma cruel e
superficial julgam a missão cristã
classificando-a de assassina de culturas,
pergunto: Existe outra maneira de se
encontrar o amor sem que seja através
do amor? Missiono sim — o que para
mim é a única forma prática para se
amar o coletivo — ressuscitando línguas
que para Deus têm ainda muito a dizer.
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta
anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua
família e está envolvida em projetos internacionais de
desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical.
braulia_ribeiro@yahoo.com
Quando morre uma língua...
Bráulia RibeiroDA LINHA DE FRENTE
Cada vez que uma
língua deixa de ser
falada na Terra, ficamos
espiritualmente mais
pobres e limitados
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 35
36 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
A solução pela raiz
MEIO AMBIENTE E fé cristã Marina Silva
O profeta faz uma analogia entre os
processos biológicos de renovação das
plantas e a oportunidade de resgate que
Deus oferece à Criação como um todo.
Embora Isaías tenha vivido quase
oito séculos antes de Cristo, o capítulo
é oportuno também para ilustrar
as consequências da queda na parte
natural da Criação, igualmente carente
de resgate e restauração.
Os recursos naturais do planeta já
foram degradados a ponto de gerar um
déficit quase irrecuperável. Estamos “no
vermelho” em 30%, com a capacidade
de reposição por meios naturais
esgotada. É como se avançássemos em
30% do valor de nossos rendimentos
mensais no uso do cheque especial.
Essa é uma situação em que a árvore já
foi cortada, o tronco está morrendo e
só a misericórdia de Deus pode oferecer
nova oportunidade — um renovo para
os seres humanos e para os processos
orgânicos e mecânicos do planeta.
Lembremo-nos da exploração de
petróleo sem os cuidados ambientais,
no Golfo do México; dos desastres
com energia nuclear em Chernobyl
e no Japão; da destruição de rios,
como o Tietê; da desertificação em
muitas áreas, pela ausência de chuvas
derivada da retirada das árvores.
Pensemos na atmosfera irrespirável
pelas emissões resultantes dos processos
de transformação industrial. A lista é
infindável e atinge a todos os sistemas
existentes no planeta. Como restaurar
o que destruímos? Como caminhar em
direção às promessas de Isaías 11.6-9?
Responderemos a essas perguntas
quando formos capazes de fazê-las
sinceramente. Veremos o que é possível
conseguir quando nos dispusermos
A
s circunstâncias
históricas no capítulo
11 do livro do profeta
Isaías mostram-
nos que aquela era
uma época de degradação social
e espiritual; um mundo à beira
do abismo em todos os aspectos.
Uma árvore cortada é a imagem
metafórica usada pelo profeta para
expressar a desoladora devastação
daquele tempo. Porém, nessa mesma
árvore cortada, pela misericórdia
de Deus, havia a possibilidade
de prosperar um pequeno broto,
originado na força de suas raízes. Era
a raiz de Jessé, um menino que traria
renovo para o mundo degradado.
ao resgate, à restauração de nossa vida
espiritual de foma integral com Deus e
à restauração de tudo o que ele criou,
da forma como criou e da maneira
como, a cada ato criativo, certificava-se
de que tudo tinha ficado muito bom
(Gn 1.3-31). Deus resgatou e restaurou
não só no plano espiritual, mas
também no campo físico — duro e
extenuante —, tornando-se homem,
deixando a condição de Verbo glorioso
e fazendo-se carne, como profetizou
Isaías.
É tempo de trabalhar para reverter
tanto a devastação das almas quanto
a do planeta. É preciso sair do
vermelho. Dispormo-nos ao trabalho,
a exemplo do que fez Jesus. Uma
grande oportunidade para nós —
não só como brasileiros, mas como
cidadãos do planeta — é a Rio+20
— Conferência das Nações Unidas
em Desenvolvimento Sustentável,
que será realizada em junho de 2012.
Haverá, na ocasião, a oportunidade
de pensarmos e propormos soluções
para os temas econômicos, sociais
e de governança. Alguns deles são:
como produzir respeitando os ciclos
de reposição da natureza; como
organizar politicamente nossa vida
na casa comum que Deus nos deu;
como cuidar dos órfãos e das viúvas,
que na Bíblia representam todos
os desvalidos. Estes são temas com
potencialidade fundante de toda uma
nova civilização, de acordo com o
estado de coisas em plenitude que Deus
reafirma como parte de sua essência em
1 Coríntios 10.26.
Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.
É tempo de trabalhar para reverter
tanto a devastação das almas
quanto a do planeta
JonSullivan
Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 37
Não quero ser indeciso
S
ei que às vezes não
estou suficientemente
maduro para tomar
uma decisão, pois
não conheço bem os
dois lados que chamam a minha
atenção, que acenam para mim,
que tentam me atrair. Porém,
na maioria das vezes, a minha
indecisão não é sinônimo de
prudência. Ela existe por causa do
medo, da tradição, do comodismo,
da correnteza em sentido contrário,
do engano, do acanhamento, da
opinião pública, da preguiça.
A história do filho pródigo,
na parábola de Jesus, sempre
me impressionou. O evangelho
registra que, em uma terra distante,
o rapaz reconheceu seu erro e
tomou a decisão de voltar para
casa. O versículo seguinte mostra
que a decisão era para valer, pois
“levantando-se, foi para seu pai”
(Lc 15.20). Encanta-me a decisão
tomada por Zaqueu logo após a
conversa que Jesus teve com ele.
Como o filho pródigo, o coletor de
impostos se levantou e disse a Jesus:
“Senhor, de agora em diante eu darei
a metade da minha riqueza aos
pobres” (Lc 19.8).
Confesso que tenho uma ponta
de inveja quando leio o discurso
de Josué perante o povo indeciso
quanto à escolha do caminho a
seguir: “Quanto a mim, ouçam
bem: Eu e a minha casa serviremos
ao Senhor” (Js 24.15).
Para que haja alguma
mudança, para iniciar qualquer
DE HOJE EM DIANTE...
empreendimento, não posso
ser indeciso. Exemplos não me
faltam. A Bíblia me encoraja
quando diz que Salomão
resolveu edificar a casa ao nome
do Senhor (2Cr 2.1), que Joás
resolveu restaurar o mesmo
templo (2Cr 24.4), que Daniel
resolveu não contaminar-se
com as iguarias da mesa de
Nabucodonosor (Dn 1.8), que
Paulo resolveu ir a Jerusalém, onde
o esperavam sofrimentos e prisões
(At 19.21).
Os heróis da fé são pessoas
que não ficam paradas, deixando
o tempo e as oportunidades
passarem por conta da eterna
indecisão. Por misericórdia,
não quero mais atrasar o que
é necessário, o que é certo, o
que é bom para mim e para os
outros, inclusive para minha
família. Não quero ser culpado
de alguma dor, infelicidade ou
tragédia por falta de decisão da
minha parte. Abraão não ficou a
vida inteira decidindo se sairia
ou não de Ur dos caldeus e se
ofereceria ou não seu único
e amado filho em sacrifício
ao Senhor. Pela fé, fez ambas
as coisas sem perder tempo
(Hb 11.8, 17). Entre dois
caminhos opostos a tomar,
Moisés fez logo a sua escolha:
abandonar a casa de Faraó, os
prazeres transitórios do pecado
e os tesouros do Egito, para ser
maltratado junto com o povo de
Deus (Hb 11.24-26).
Quero ter a firmeza de
Paulo quando escreveu a Tito:
“Resolvi passar o inverno lá [em
Nicópolis]” (Tt 3.12). De hoje
em diante, com o auxílio de
Deus, será assim comigo.
LizValente
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  • 2. 2 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
  • 3. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 3 O primeiro vira-casaca do cristianismo Abertura D os sete diáconos eleitos pela igreja em Jerusalém pouco depois da descida do Espírito Santo, o primeiro chamava-se Estêvão e o último, Nicolau (At 6.5). Estêvão morreu pouco depois da ordenação. Foi jogado fora da cidade e apedrejado impiedosamente. Lucas faz as melhores referências a ele: “um homem muito abençoado por Deus e cheio de poder”, um homem tão cheio de sabedoria que “ganhava todas as discussões”, um “homem que fazia grandes maravilhas e sinais entre o povo” (At 6.5-10). Já Nicolau, segundo os patriarcas da igreja, teria negado a fé cristã e fundado uma seita herética conhecida como os nicolaítas, “um grupo de pessoas que eram provavelmente dadas à idolatria e à imoralidade”, como se pode ver nas cartas às igrejas de Éfeso (Ap 2.6) e Pérgamo (Ap 2.14-15). Se os pais da igreja estão corretos, Nicolau de Antioquia era, com todo respeito, um vira-casaca religioso. Muitos escritores dos cinco primeiros séculos o acusam de ser o responsável pelo movimento herético e moralmente nocivo que surgiu na antiga Ásia Menor (hoje Turquia) em meados do primeiro século. Porque favorecia a idolatria e a imoralidade, como o vidente Balaão (cujo nome aparece 66 vezes na Bíblia), os nicolaítas eram também chamados de seguidores de Balaão (Ap 2.15) ou “balaanitas” (em hebraico). Nicolau deixou o paganismo e converteu-se ao judaísmo (At 6.5). Depois, abandonou o judaísmo e converteu-se ao cristianismo. Mais tarde, afastou-se do cristianismo e tornou-se herético (caso se possa confirmar a acusação que há contra ele). Mudou três vezes de credo. Entrou na igreja militante e dela se retirou. O mesmo aconteceu com Demas, o cooperador de Paulo (Fm 24), que abandonou o apóstolo e a fé por ter se apaixonado por este mundo (2Tm 4.10). Porém, antes de acontecer com Nicolau e com Demas, aconteceu também com Judas Iscariotes, que foi mais do que diácono e missionário. Judas abandonou nada mais nada menos do que o ministério apostólico (At 1.25). De acordo com a tese de João — Judas, Nicolau, Demas e muitos outros daquela época e de épocas posteriores — “saíram de nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco” (1Jo 2.19).
  • 4. 4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 N ão só a Inglaterra, mas o mundo inteiro acaba de perder mais um dos notáveis pregadores ingleses cujo prenome é John. Trata-se de John Stott (1920–2011). Antes dele, em ordem cronológica de trás para frente estão: John Wycliffe (1329–1384), o pré-reformador; John Donne (1573–1631), considerado o nome mais importante da chamada terceira Reforma; John Milton (1608–1674), autor de Paraíso Perdido e Paraíso Recuperado; John Bunyan (1628–1688), pregador e escritor puritano, autor de O Peregrino, o livro mais lido depois da Bíblia; John Wesley (1703–1791), o metodista que “descongelou” a Igreja Anglicana; e John Newton (1725–1807), escritor de hinos sacros, inclusive Amazing grace (“Maravilhosa graça”). Na seção “Especial”, o leitor vai encontrar textos sobre John Stott, um dos pregadores mais cristocêntricos da história (p. 46). O lembrete de Jorge Henrique Barro precisa ser levado a sério: “A igreja é um centro de hospitalidade, de refúgio e abrigo, de misericórdia e esperança, e também um sinal para indicar o caminho para o reino de Deus” (p. 56). René Padilla acrescenta mais sobre o assunto: “Sem desconhecer e minimizar as grandes diferenças de tempo e espaço entre nós e Jesus, a igreja é chamada a continuar a missão do seu Senhor ao longo da história até que ele volte” (p. 42). Robinson Cavalcanti recorda que, “a princípio, as igrejas congregacionais, presbiterianas, batistas, episcopais e evangélicas, aqui no Brasil, partilhavam de uma herança e de uma teologia em comum, um legado que, vindo da Reforma Protestante do Século 16, incluía traços do puritanismo, pietismo, avivalismo e movimento missionário” (p. 52). Leonel quer saber se os pastores estão errados em pregar a teologia da prosperidade e Rosângela quer ficar por dentro do fundamentalismo. Ed René Kivitz responde a ambos (p. 38). Conhecida no Brasil e no mundo por sua pregação contra a poluição e o esgotamento do meio ambiente, Marina Silva escreve na seção “Meio ambiente e fé cristã” que “é tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta” (p. 36). O que dizer sobre o direito de ser feliz? A felicidade existe? A felicidade é mesmo possível? O que a felicidade não é? É possível que o leitor encontre respostas para essas perguntas existenciais na matéria de capa desta edição. Veja o artigo do missionário e missiólogo Ronaldo Lidório, Louvarei ao Senhor “em todo o tempo” (p. 30). Façamos um sério esforço para alcançar ou recuperar a felicidade — não nos bens seculares nem nas circunstâncias favoráveis! Elben César Carta ao leitor ISSN 1415-3165 Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 332 Setembro-Outubro 2011 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro Marcos Bontempo • Marina Silva • Paul Freston René Padilla • Ricardo Barbosa de Sousa Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese Valdir Steuernagel Notícias: Lissânder Dias Participam desta edição: Jonathan Simões Juscelandia Caldeira • Lissânder Dias Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG Administração/Marketing: Klênia Fassoni Ana Cláudia Nunes • Ariane dos Santos Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim Luiza Pacheco EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE: Marcos Bontempo • Bernadete Ribeiro Djanira Momesso César • Gláucia Siqueira Lissânder Dias • Mariana Furst • Pabline Félix FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte Solange dos Santos VENDAS: Lúcia Viana • Henife Oliveira Lucinéia Campos • Marcela Pimentel • Romilda Oliveira Tatiana Alves • Vanilda Costa ESTAGIÁRIOS: Bruno Menezes • Jaklene Batista Juliani Lenz • Raquel Bastos • Tércio Rodrigues fundada em 1968 4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 O direito de ser feliz
  • 6. 6 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 76. A A igreja passou por um momento difícil no início de sua história. Herodes Agripa I (10 d.C.–44) governava a Judeia e a Samaria e moveu uma grande perseguição contra os cristãos: “prendeu alguns que pertenciam à igreja e mandou matar à espada Tiago, irmão de João” (At 12.2). Depois, prendeu também Pedro, com a intenção de fazer com ele o que havia feito com Tiago. Travava-se então de uma ferrenha batalha. De um lado, o Estado; de outro, a Igreja. Era o poder político contra o poder religioso, o poder das armas contra o da oração, o poder da arrogância contra o da fé, o poder temporal contra o eterno. Em última análise, era o velho conflito entre a serpente e o descendente da mulher. À esquerda ouvia-se a ingênua gritaria dos rebeldes: “Façamos em pedaços as suas correntes, lancemos de nós as suas algemas”. À direita, ouvia-se o riso do Todo-poderoso: “Do seu trono nos céus o Senhor põe-se a rir e caçoar deles” (Sl 2.3-4). Herodes Agripa I era como o avô, Herodes, o Grande (37–4 a.C.), que mandou matar os meninos de Belém (Mt 2.16). Era também como o tio-avô, Herodes Antipas (4 a.C.–39 d.C.), que mandou cortar a cabeça de João Batista (Mt 14.9). Porém, enquanto Pedro, preso com duas correntes e entre dois soldados, passava a noite dormindo, muitos cristãos estavam acordados orando fervorosamente em favor dele. Ele estava tranquilo e a igreja agitada, lançando mão de um recurso posto à disposição de qualquer cristão, em qualquer situação, lugar e tempo. Herodes Agripa I foi derrotado pela oração, pois, na véspera do dia em que Pedro deveria ser morto, na calada da noite, um anjo entrou no cárcere, provavelmente na Fortaleza de Antônia, e colocou o apóstolo na rua. Meio tonto, sem saber se era sonho ou realidade, Pedro se dirige à casa de Maria, mãe de João Marcos, onde a igreja reunida intercedia por ele. A porta da casa estava trancada. Pedro esperava à porta. A empregada de Maria viu que era o apóstolo e “ficou tão feliz que, em vez de abrir a porta, voltou correndo para contar que Pedro estava lá fora” (At 12.14). Ele continuou a bater. Finalmente abriram a porta e Pedro entrou. Entretanto, depois de contar toda a história, “saiu dali e foi para outro lugar” (At 12.12), escondendo-se temporariamente. Seguindo a tradição da família, Herodes Agripa I, por causa da estranha soltura de Pedro, mandou matar os guardas da segurança máxima da prisão. Não se sabe se todos os 16 foram mortos ou apenas os dois entre os quais o apóstolo dormia (At 12.19). Em nossa experiência pessoal, a oração de fato “torna possível o impossível e fácil o difícil”? Pastorais O poderoso Herodes Agripa I é derrotado pela oração
  • 7. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 7 Alegria, alegria, por favor! A alegria cristã O que a felicidade não é Jesus, a alegria desejada pelo homem Gente feliz, Ariovaldo Ramos Clamor pela alegria Felicidade para Freud e Lewis David Neff Louvarei ao Senhor — “em todo o tempo”, Ronaldo Lidório 3 Abertura 4 Carta ao leitor 6 Pastorais 8 Cartas 12 Frases 12 Números 14 Mais do que notícias 18 Notícias 36 Meio ambiente e fé cristã 37 De hoje em diante... 40 Caminhos da missão 43 Novos acordes 44 Altos papos 56 Cidade em foco 60 Vamos ler! CAPA SEÇÕES Sumário ABREVIAÇÕES: AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT - Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional O caminho do coração 32 Olhando firmemente para Jesus Ricardo Barbosa de Sousa Da linha de frente 34 Quando morre uma língua... Bráulia Ribeiro Cotidiano 38 O leitor pergunta, Ed René Kivitz Casamento e família 39 Amigos: nossa nova família, Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski Missão integral 42 A missão de Jesus e a nossa missão René Padilla Especial 46 Vida e morte de John Stott 63 O cachorro imundo que salvou da morte uma adolescente de 16 anos 64 Quando o medo de engordar supera o medo de morrer Ética 50 O Pai-Nosso e as bem-aventuranças para hoje: o verdadeiro “dando é que se recebe”, Paul Freston Reflexão 52 O fim do Conselho Evangélico Robinson Cavalcanti Redescobrindo a Palavra de Deus 54 Testemunho que nutre, Valdir Steuernagel História 58 Role model: a importância de um conceito Alderi Souza de Matos Ponto final 66 O poder do evangelho, Rubem Amorese 22 24 25 26 27 28 29 30 • artigos exclusivos • boletins editoriais • devocionais • estudos bíblicos • lançamentos • novidades • promoções NeiNeves Um ponto de encontro www.ultimato.com.br
  • 8. 8 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 Cartas Assembleia de Deus — 100 anos Muito interessante os artigos sobre o Centenário da Assembleia de Deus (julho/agosto de 2011). Faltou mencionar, e até mesmo destacar, a participação de Frida Vingren ao lado dos pioneiros. Frida abriu frentes de trabalho em muitos lugares. Era responsável, no início da obra no Rio de Janeiro, pela leitura devocional nas aberturas dos cultos e pela execução dos hinos — era organista e violonista. A Harpa Cristã contém cerca de 23 hinos de sua autoria. Quando Gunnar Vingren se ausentava da igreja, em visita ao campo missionário, Frida o substituía pregando e dirigindo os cultos e trabalhos oficiais. Ela exerceu a direção oficial das reuniões realizadas aos domingos na Casa de Detenção do Rio de Janeiro. Era excelente pregadora e tinha um grande carisma. Regina Mello, Barra da Tijuca, RJ — Por falta de espaço, Ultimato deixou de publicar o texto A não-ordenação feminina na história assembleiana, no qual Frida Vingren é citada. Para ler o artigo, acesse: www.ultimato.com.br Graças a Deus crescemos na graça e no conhecimento nestes 100 anos de Assembleia de Deus no Brasil. Fomos ensinados que apenas nós éramos salvos; mas isso foi há quase 50 anos. Éramos discriminados como pessoas possessas e inúmeras publicações nos expunham ao ridículo. Nos anos 70, quando ainda estudava na Universidade Federal de Pernambuco, eu era discriminado por causa da minha fé. Na ocasião, algumas vezes encontrei alento nos artigos de Robinson Cavalcanti, que, então, liderava a nossa ABU. Clóvis Moura, Brasília, DF Excelentes as matérias sobre os 100 anos das Assembleias de Deus (julho/agosto de 2011) e o texto Deus chama quem quer, quando quer e como quer — principalmente a conclusão: “O certo é que Deus é soberano e fala ‘muitas vezes e de muitas maneiras’, até mesmo por meio de uma jumenta”. David Figueiredo, Guarapuava, PR Muito mais do que recuperar marginais e analfabetos, a Assembleia de Deus cooperou preventivamente com a estabilidade do casamento e com a educação de filhos; com o gerenciamento de conflitos sociais, ao primar pelo ensino das relações humanas pautado nos preceitos bíblicos; com a proposta da redenção social por meio do binômio trabalho e fé, ao promover esperança para aqueles que se consideravam excluídos, e muito mais. Enfim, não se pode resumir o que ela realizou em poucas linhas. Sérgio Sena, Campo Grande, MS Cartas da prisão PablineFelix
  • 9. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 9 Ao ler Pérolas pentecostais (julho/agosto de 2011), os leitores escandinavos devem ter ficado horrorizados com a informação de que a capital da Finlândia foi mudada para a Dinamarca. Fez-me lembrar o caso de um colega de trabalho que procurava no mapa da Europa um país chamado Austrália... Ronald Brewer — Helsinque é capital da Finlândia e não da Dinamarca, como foi publicado. Os artigos de capa da edição julho/agosto de 2011 foram relevantes. Contudo, na comparação entre os pioneiros da Assembleia de Deus e o da Igreja Presbiteriana, percebe-se uma ponta de ciúmes. Há algumas semelhanças curiosas. Porém, a diferença fundamental está no resultado. Porque a plenitude do Espírito Santo, ao atuar na vida dos que dão lugar a ela, fez (e faz) a diferença. Se o pioneiro da Igreja Presbiteriana tivesse crido na mensagem do evangelho pleno, com certeza o resultado teria sido bem mais expressivo. Moizes Gomes, Iporá, GO — Ashbel Green Simonton, o pioneiro da Igreja Presbiteriana, buscava a plenitude do Espírito Santo e pregava sobre ele. No dia 20 de janeiro de 1861, ele registrou em seu diário: “Mais do que qualquer coisa, preciso do batismo do Espírito Santo. Se agora enquanto espero, na iminência de começar o meu trabalho ativo de pregação do Evangelho de Cristo, pudesse receber o dom do Espírito para habilitar-me para o trabalho, como ficaria feliz” (O Diário de Simonton, p. 145). Em seu sermão “O Consolador”, Simonton diz: “O Espírito Santo auxilia os fiéis nas dificuldades, nos apertos e nos perigos em que se acham. Saem vencedores dessas coisas, porque Jesus envia-lhes o poderoso auxílio do Espírito” (Mochila nas Costas e Diário na Mão, p. 150). Geladeira estragada Lamentável o comentário do assembleiano que chamou de geladeira a igreja do amigo presbiteriano (“Carta ao leitor”, julho/agosto de 2011). Mesmo sem maldade, é desnecessário. Sou assembleiano e só uma coisa justifica tal comportamento: falta de conhecimento da denominação irmã. Marcos Malheiros, Campinas, SP Questão homossexual É ótimo e oportuno o texto Evitar a promiscuidade na relação gay é bom, mas não é suficiente (“Mais que notícias”, julho/agosto de 2011). Ando preocupado com os pronunciamentos que tenho lido de alguns líderes evangélicos sobre a questão homossexual. Já vi de tudo, desde defesas apaixonadas aos “perseguidos homossexuais”, passando por teses capengas e escandalosas de que o importante é que exista amor, a defensores ferrenhos de “igrejas para gays”. Não sei se o atual momento de defesa de direitos dos homossexuais motivou o surgimento de vozes antes insuspeitas, mas algumas opiniões têm causado perplexidade. Washington Barbosa, Duque de Caxias, RJ Que Ultimato continue mantendo de forma correta e bíblica sua posição em relação ao homossexualismo, apesar das críticas. Roniltom de Campos, Várzea Paulista, SP Por que os líderes evangélicos não levantam a bandeira, tão enfaticamente quanto o fazem em relação à questão da homofobia, contra o estado de miséria social e econômica em que vivem milhares de brasileiros? Contra a concentração aviltante de renda, que caracteriza o Brasil como um dos países mais desiguais do mundo? Contra a corrupção econômica e política presente em nosso contexto? Ou mesmo contra a degradação ambiental tão acelerada atualmente? André Martins, Campina Grande, PB Ordenação feminina Agradeço a vocês pela coragem em publicar a entrevista tão necessária, bíblica e sensata de Waldyr Carvalho Luz sobre a ordenação feminina (março/abril de 2011). Há meses venho tentando
  • 10. 10 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 Cartas estudar a posição igualitarista. Entretanto, o que achei foi argumentação sociológica e não bíblica. Mariana Duarte, Governador Valadares, MG Uma das poucas críticas que faço a Ultimato é em relação à entrevista com Waldyr Carvalho Luz sobre a ordenação feminina. A maioria das perguntas foi do tipo: “Por que você acha que está tão correto e os opositores tão enganados?”. Quando o assunto é controverso, o papel do entrevistador é “apertar” o entrevistado, a fim de que ele forneça os argumentos mais profundos. Infelizmente isso não ocorreu, o que empobreceu a entrevista. Luciano dos Santos, São Carlos, SP Cartas da prisão Muito obrigado pelas revistas e pelo livro Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?. Estou crescendo cada vez mais com essas leituras e suportando melhor a situação em que me encontro. Glauco Machado, Balbinos, SP Agradeço Ultimato por se lembrar de nós presidiários, pois também somos criaturas de Deus, evangélicos e tivemos um encontro com Jesus. Portanto, além de criaturas, somos filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo. Deus me tocou dentro do presídio, quebrando o meu ego, jogando por terra o meu orgulho. Não foi fácil tomar a atitude de confessar Jesus como meu único e suficiente Salvador, pois o crime era a minha vida. Porém, entreguei-me a Cristo, fui e estou sendo transformado a cada dia. Sérgio Lima, Flórida Paulista, SP Sou servo do Senhor Jesus. Estou em uma penitenciária, um lugar cheio de dificuldades. Contamos com a força do povo de Deus que está do lado de fora. Só há pessoas com semblante fechado onde estamos. Porém, quando elas olham para os servos do Deus Altíssimo, veem pessoas felizes que se encontram nas mesmas condições que elas. Adriano de Andrade, Casa Branca, SP — Nas últimas semanas, Ultimato recebeu 23 cartas de presidiários. O ministério que vários irmãos desenvolvem entre eles, e o deles próprios com os companheiros de prisão, é maravilhoso. Lembremo-nos de que Onésimo, ex-escravo de Filemon, converteu-se na cadeia, por influência de Paulo (Veja O e-mail de Filemon, na pág.) 88 anos Peço o cancelamento da minha assinatura, pois, por motivo justo de enfermidade, aos 88 anos de idade, estou limitada em muitas atividades. Agradeço a Deus as publicações de Ultimato, que muito me auxiliaram. Walkíria da Guia, Nilópolis, RJ Diversidade Leio Ultimato desde quando entrei na faculdade, em 2006. Nunca me decepcionei com a revista e sempre tinha vontade de escrever quando via alguém a criticando. Porém, nunca o fiz, pois percebi que ela não precisava de defensores. Daniela Nogueira, Belo Horizonte, MG Ultimato tem sido para mim uma fonte de aprendizado, crescimento e também uma oportunidade de divulgar a Palavra de Deus. É uma revista de leitura prazerosa, que apresenta assuntos atuais que me levam a refletir e questionar a trajetória do cristianismo como agente transformador em um mundo global e secularizado. Erika Herzog, Camaragibe, PE Ricardo Gondim Senti falta da coluna de Ricardo Gondim na edição de julho/agosto de 2011. Se ele sair da equipe de colunistas, vou lamentar muito. Entretanto, não lamentarei menos do que tenho lamentado pelo seu envolvimento com o teísmo aberto. Apesar desse envolvimento, gosto de suas palavras, com as devidas reservas. Aprendi a admirar esse aspecto
  • 11. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 11 Fale conosco Cartas à Redação • cartas@ultimato.com.br • Cartas à Redação, Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Inclua seu nome completo, endereço, e-mail e número de telefone. As cartas poderão ser editadas e usadas em mídia impressa e eletrônica. Economize Tempo. Faça pela Internet Para assinaturas e livros acesse www.ultimato.com.br Assinaturas • atendimento@ultimato.com.br • 31 3611-8500 • Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Edições Anteriores • atendimento@ultimato.com.br • www.ultimato.com.br Cartas 332de Ultimato: a diversidade. Não a vejo como um compêndio teológico, mas como um cardápio da diversidade evangélica brasileira. Alexander Boechat, Cataguases, MG É uma pena que Ultimato tenha cortado a participação de Ricardo Gondim na revista. Ele era o escritor mais instigante. Talvez a intenção seja deixá-la mais homogênea, o que é compreensível. Lamento, pois fica acentuada a tendência de reafirmar as mesmas verdades, sem abertura para provocações que nos façam refletir sobre novas percepções sobre a fé. É interessante notar que não conseguimos lidar com diferenças quanto às questões sexuais. Mesmo que se argumente que há muito no pensamento de Gondim que não mais se encaixe na ortodoxia reformada, a gota d’água é o fato de ele defender a união civil homossexual. Não vou agir como a revista: continuo assinando-a, embora folheie as páginas com menos interesse. Henrique Ziller, Brasília, DF Erramos A notícia O que os missionários fazem nas férias? (julho/agosto de 2011) refere-se ao Fórum para o Cuidado Integral de Missionários, que aconteceu em março, e não à 6ª Consulta do Cuidado Integral do Missionário, ocorrida em maio, como publicamos. John Stott Conheci John Stott ao ler o livro A Cruz de Cristo, em 1997. Desde então, mesmo sem ele saber, se tornou um companheiro de jornada... Seus livros foram leituras obrigatórias. O seu testemunho bem como sua influência em Lausanne fizeram com que nele eu pudesse contemplar um dos grandes instrumentos de Deus na vida da Igreja, na transição do Século 20 para o 21. As lágrimas de agradecimento a Deus por sua vida se misturam às de tristeza por sua partida. Klaus Friese, São Francisco do Sul, SC John Stott foi um mestre inesquecível da Palavra de Deus. Conseguia expô-la de maneira profunda e relevante e despertava em nós a sede por ela e pelo conhecimento do Senhor. Ele também me marcou pela sua acessibilidade. A primeira vez em que fui procurá-lo para uma breve conversa pessoal, fiquei impressionada ao ver que sabia meu nome e quando me disse que estava orando por mim (isso foi antes de ir à Angola). Uma vez recebi uma carta dele assinada “Tio Juan”. Continuarei lendo seus livros para aprender mais. Louvo a Deus pela vida desse servo fiel. Antonia van der Meer, Viçosa, MG Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/memorial- john-stott/stott
  • 12. 12 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 “B oa hinódia, além de conter boa teologia, produz boa doxologia. Cliff Barrows, diretor musical das campanhas evangelísticas de Billy Graham FRASES “Temos a mania de criticar católicos pela religiosidade oca e vazia sem perceber que somos também sujeitos a tradições e práticas que não têm substância espiritual. Russell Shedd, autor do comentário da Bíblia Shedd “Os perdidos precisam de salvação, os salvos precisam de santificação, os santos precisam tornar efetiva em suas vidas a esperança da glória em Cristo. João Falcão Sobrinho, pastor batista “Não é preciso fazer essa escolha (criacionismo ou evolucionismo), fé e ciência podem coexistir perfeitamente nas relações humanas. Não preciso justificar cientificamente a minha fé. E não preciso de uma fé para negar a ciência. Acredito que Deus criou todas as coisas e isso me basta. Marina Silva, candidata não-eleita à presidência da República “D eus não responde às nossas perguntas e nem resolve os nossos problemas com um “estalar de dedos”. Ele não é feiticeiro; não é um místico; não é um mágico que simplesmente diz: “Abracadabra”. O nosso Deus caminha conosco nos altos e baixos. Ele diz:“Não temas, crê somente. Eu estou contigo!”. Renato Luiz Becker, pastor luterano em Joinville, SC “O O missionário, como pessoa, é o primeiro destinatário da missão. Ele não nasce convertido, mas precisa se converter todos os dias. Se ele não se converter, não poderá converter os outros. Sávio Corinaldesi, da Pontifícia União Missionária “É fácil pedir perdão aos africanos e aos índios por pecados que supostamente nossos ancestrais cometeram. O difícil é pedir perdão às pessoas que ofendemos hoje. Isaltino Gomes Coelho Filho, pastor batista “N ão podemos confundir carisma (revestimento pessoal com uma graça especial vinda do Espírito Santo) com personalismo ou personalidade autoexaltada, muitas vezes usada para formar grupos facciosos dentro de uma comunidade de fé. Oséias Silva dos Santos, pastor da Primeira Igreja Batista de Teixeira de Freitas, BA “A união sexual é tão séria, tão envolvente, tão comprometedora, tão exclusiva, tão boa, que Deus a reservou para o casamento. Éber César, pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro Imperial de São Cristóvão, RJ “Q uando a fé diminui, aumenta a superstição. Gary Thomas, pároco em Saratoga, Califórnia ” ” ” ” ”” ” ” ” ” NÚMEROS 2.760 dólares foi o valor da multa imposta ao argeliano evangélico Siaghi Krimo por ter oferecido um CD cristão a um vizinho muçulmano, em Oram, a 470 quilômetros de Argel. Além da multa, Krimo foi condenado a cinco anos de prisão 90% dos habitantes do Sudão do Sul, o país mais pobre do mundo, vive com menos de um dólar por dia 28.500.000 cristãos vivem na Indonésia, o país mais muçulmano do mundo (86% da população). Os católicos constituem 3% da população e os protestantes 6% 570 cristãos foram assassinados em episódios de violência religiosa ou política no Iraque desde 2002 500.000.000 de pessoas professam o ateísmo no mundo hoje (o número pode ser bem maior — 750 milhões). Se fosse uma religião, seria a quarta maior, logo após o hinduísmo (900 milhões), o islamismo (1,2 bilhão) e o cristianismo (2 bilhões) 2.500.000 páginas da internet em 2010 continham referências a um provável fim do mundo em dezembro de 2012 ArquivoPessoal ArquivoPessoal www.isaltino.com.brPIBATEF AssociaçãoEvangelísticaBillyGraham. Usadocompermissão.
  • 14. 14 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 O bestseller mais comprado e mais negligenciado D ois homens cristãos, mas de igre- jas diferentes, falam coisas semelhantes a respeito da Bíblia. Simon Kistemaker, protestante, é professor emérito de Novo Testamento do Reformed Theological Seminary (campus de Jack- son, Mississipi, e de Orlando, Flórida) e Orlando Brandes, católico, é arcebispo de Londrina. Kistemaker — Em muitos lares, a Bíblia acumula poeira e é um livro esquecido. Brandes — A Bíblia ultimamente serve apenas de enfeite na maioria das residências. Kistemaker — A Bíblia continua a ocupar o topo da lista de bestsellers em todo o mundo. Mas ao mesmo tem- po ela continua a ser o livro mais negligenciado na vida daqueles que possuem um exemplar. O desejo de possuí- -la não se compara ao desejo de conhecer a sua mensagem. Brandes — Estamos muito afastados da Bíblia e até sofre- mos de um certo analfabetis- mo bíblico. Kistemarker — Durante o reinado de Josias, rei de Judá, o sumo sacerdote descobriu o Livro da Lei no templo do Senhor. Num canto esque- cido do prédio, a Palavra de Deus tinha estado escondida da vista, fora esquecida e, consequentemente, não exer- cia influência alguma sobre o povo. Brandes — Nosso povo, desde a catequese, tem um catecismo e não tem acesso à Bíblia. Em casa, nós não aprendemos com os nossos pais a abrir as Escrituras (…). Sabemos abrir a inter- net, sabemos abrir o compu- tador, abrir o celular, mas o povão ainda não sabe abrir a Bíblia, não sabe interpretar a Palavra e tem dificuldade, claro, de vivenciá-la. Kistemaker — Quando as Escrituras foram desco- bertas, o rei Josias mudou literalmente o curso da história. Ele leu a Palavra de Deus ao povo e pediu que os adoradores prometes- sem renovada obediência à aliança que Deus fizera com eles, desviando assim a ira e o juízo de Deus. Brandes — Aqui em Londrina, graças a Deus, estamos incentivando muito e fazendo muitos exercícios de “leitura orante”. O povo está entusiasmado porque +DO QUE NOTíCIAS vai descobrindo esse tesouro que é a Palavra de Deus. Kistemaker — Devemos ler a Palavra de Deus juntos como família e meditar no seu significado. Ao man- termos o culto doméstico diário, seremos capazes de edificar famílias fortes que amem o Senhor. Brandes — Temos mais ou menos 3 mil grupos bíbli- cos de reflexão nas casas e ali a Bíblia tem prioridade. Kistemaker — Precisamos encorajar uns aos outros a decorar porções das Escritu- ras, de modo que tornemos a Palavra de Deus relevante em nossas vidas. Brandes — Devemos amar mais as Escrituras, dar à Bíblia a importância e a pri- mazia que ela tem em nossa vida e a gente entrar definiti- vamente nesse santuário que é a Palavra de Deus, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Kistemaker — Em nossos cultos de adoração, a Bíblia deve assumir a centralidade e nossos pastores devem ensinar fielmente a Bíblia por inteiro e todas as suas doutrinas. Brandes — Estamos sem- pre incentivando cursos bí- blicos e diversas paróquias já têm seu curso bíblico. Temos a experiência de sacerdotes que se reúnem para preparar a sua homilia dominical em grupo e isso é uma grande esperança. Kistemaker — Ao ler, aprender e conhecer a Bíblia temos comunhão com Deus e o ouvimos falar conosco. Por esta Palavra, ele nos instrui sobre como viver para ele. E quando, em oração, lhe dedicamos nossa vida, inúmeras bênçãos descem sobre nós. Brandes — O grande ob- jetivo da mobilização bíblica [que estamos promovendo] é as pessoas se reencontrarem com Jesus Cristo. E uma pessoa que se reencontra com Jesus, que é fascinada por ele, é claro que vai se tornar cada vez mais participante da igreja e muito mais missioná- ria. Sem a Bíblia o missio- nário é fraco. Assim, toda a Igreja Católica vai ter uma sacudidela, uma comoção, uma mexida grande a partir das Sagradas Escrituras. Fontes: Comentário do Novo Testa- mento — Atos, vol. 2 (Editora Cultura Cristã), Folha de Londrina, 6/05/2010. Dom Brandes: em muitos lares a Bíblia serve apenas de enfeite Kistemaker: em muitos lares, a Bíblia acumula poeira SimonKistemaker Arquivopessoal
  • 15. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 15 +DO QUE NOTíCIAS E m sua oração a Maria, na capelinha das aparições marianas, em Fátima, Portugal, no dia 12 de maio de 2010, Bento 16 parece conceder à mãe de Jesus um atributo (a onisciência) que pertence exclusivamente a Deus: “Mãe amabilíssima, vós conheceis cada um pelo seu nome, com o seu rosto e a sua história, e a todos quereis com a benevolência maternal, que brota do próprio coração de Deus Amor. A todos confio e consagro a vós, Maria Santíssima, mãe de Deus e nossa mãe” (Boletim Mensal da CNBB, abril/maio de 2010, p. 54). Quanto à maneira católica de chamar Maria de mãe de Deus, é importante ler a explicação de Francisco de Assis B. Bezerra, postulante marista e pedagogo em Londrina, publicada na revista Mundo Jovem E m seu livro Meditações Cristãs, publicado há 68 anos, Alfredo Borges Teixeira, que foi professor do Seminário Teológico da Igreja Presbiteriana Independente, escreve coisas surpreendentemente atuais, como se pode ver logo abaixo. O livro é uma versão devocional de sua Dogmática Evangélica, o primeiro compêndio de teologia escrito por um autor brasileiro. De igreja em igreja Quando os cristãos se apoiarem na igreja invisível, no lugar da igreja visível, tornar-se-á desnecessário “o expediente improfícuo de se mudarem os crentes de uma igreja para outra em busca de perfeições que não encontram na sua. Em vez disso, sabendo que as imperfeições são inevitáveis no cristianismo organizado, serão levados antes a reconhecer e combater seus próprios defeitos e, em vez de se afastarem dos irmãos faltosos, ajudá-los fraternalmente a corrigirem-se”. A mãe do Verbo que se fez carne Alfredo Borges Teixeira em 1943 (maio de 2011, p. 19): “Vale salientar e esclarecer que Maria não é Mãe de Deus em sentido restrito, porque uma criatura não pode ser mãe do Criador. Podemos dizer que ela é a ‘mãe do Filho de Deus encarnado’, compreendendo a maternidade de Maria no horizonte da teologia trinitária”. A posição protestante tenta equilibrar a posição de Maria: “É inegável o papel singular e importantíssimo de Maria na história da salvação. É perfeitamente possível apresentá-la como modelo de fé e obediência a Deus e sua soberana vontade, assim como Abraão e outros. Todavia seu culto e sua intercessão não encontram respaldo na Escritura nem na teologia do Novo Testamento” (Luiz Fernando dos Santos, pastor da Igreja Presbiteriana de Itapira, SP). O pastor piedoso e o pastor vaidoso “Quando o pastor é piedoso, humilde e consagrado e, agindo com simplicidade e modéstia, busca unicamente a glória de Cristo e o bem das almas confiadas aos seus cuidados, o seu trabalho resulta nas virtudes religiosas e morais do rebanho, que são coisas preciosas e imperecíveis [ouro, prata e pedras preciosas], porém se o ministro, embora pregando a Cristo, é vaidoso e busca também a própria glória, ainda que reúna em torno da sua eloquência grandes auditórios e, conseguindo vastos recursos financeiros, possa realizar, na estrutura social da igreja, obras que o façam famoso — tais obras de natureza secular, e sem real consagração ao Senhor — são o material combustível da figura apostólica [madeira, feno e palha]”. (Comentário de Alfredo Borges do trecho de 1 Coríntios 3.10-15)
  • 16. 16 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 Dois mil anos depois do batismo de João Batista +DO QUE NOTíCIAS Missões à míngua Se o ser humano pode, por que Jesus não pode? O pastor João Marcos Barreto Soares, diretor executivo de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira, está incomodado porque cada membro da denominação ofereceu em média apenas o equivalente a 66 centavos de real por semana para a obra missionária na coleta de 2009. Porém, o valor deve ser bem menor em outras denominações brasileiras. Um levantamento realizado nos Estados Unidos revela quanto as denominações separam para missões, de cada dólar doado. A Aliança Cristã Missionária é a que reserva mais, 11 centavos de dólar. Segundo uma nova pesquisa da Empty Tomb, Inc., entre 1916 e 1927 cerca de 7,9% das contribuições das igrejas eram destinadas a missões internacionais; hoje esse valor é de 2,1%. O montante da coleta para evangelização levantado em todas as paróquias católicas do Brasil em 2009 chegou a mais de 2,7 milhões de reais. O montante é muito alto, mas se dividido por 100 milhões de católicos (o número é bem maior), a contribuição per capita não chega a 3 centavos de real. S e João Batista fosse pregar o arrependimento às multidões e batizar os convertidos no rio Jordão — não no tempo de Jesus (ano 30 da era cristã) — mas nos últimos 40 anos, seus discípulos correriam o risco de morrer ou de ficar mutilados. Por uma única razão: desde 1970 até há poucos meses havia cerca de 40 minas terrestres exatamente no lugar tradicional do batismo de Jesus, perto de Jericó. Outras minas serão localizadas e retiradas para proteger a vida dos turistas, que chegam em número cada vez maior (60 mil em 2010 e 44 mil nos primeiros quatro meses de 2011). Só no ano passado foram retiradas cerca de 8 mil minas no vale do rio Jordão. A situação é tão séria que antigos monastérios estão rodeados de placas com a indicação: “Perigo! Minas!”. S e um robô feito por mãos humanas pode descer 4 mil metros de profundidade, achar e trazer as caixas pretas e alguns corpos de dentro do mar — por que Jesus não pode repreender o vento e a violência das águas (Lc 8.24)? Se o alemão Georg Friedrich Händel pôde compor o oratório O Messias em duas semanas, combinando solos de soprano, contralto, tenor e baixo com coro e orquestra — por que Jesus não pode transformar 480 litros de água em vinho da melhor qualidade (Jo 2.9)? Se o cirurgião pode retirar o coração do peito de uma pessoa, fazer nele o que for necessário e colocá- lo de novo em seu lugar — por que Jesus não pode fazer o coração de uma menina de dez anos voltar a bater (Lc 8.55)? Se uma pessoa pode ver, ouvir e falar com outra pessoa do outro lado do mundo — por que Jesus não pode falar com seu amigo Lázaro do outro lado da pedra que tampa o túmulo (Jo 11.43)? Se com um aparelhinho de 250 gramas eu posso fotografar, filmar, gravar, enviar e receber mensagens, assistir a um programa de rádio ou televisão, ler jornais e livros, armazenar nomes e endereços, agendar compromissos e ver filmes, acessar a internet e ainda me distrair com algum jogo — por que Jesus não pode fazer um mudo falar, um surdo ouvir e um cego ver? Se os cientistas dizem que a Terra nasceu há 4,5 bilhões de anos e sua superfície se solidificou em torno de 3,9 bilhões de anos — por que Jesus não pode estar além do espaço e do tempo? Se os geneticistas garantem que as esponjas (formas de vida multicelular mais antigas que conhecemos) podem ter entre 18 e 30 mil genes — por que Jesus não pode viver outra vez? Diante desse estranho quadro, seria bem melhor jogar a incredulidade no lixo e retirar da lata do lixo a fé que outrora tínhamos! MarkDemel
  • 18. 18 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 NOTíCIAS Pesquisa revela o que pensam os líderes evangélicos de 166 países O fórum sobre Religião e Vida Pública do Pew Research Center — um instituto de pesquisas norte-americano — conduziu uma extensa pesquisa de opinião com 2.196 líderes evangélicos de 166 países durante o Congresso Lausanne 3, em outubro de 2010, na Cidade do Cabo, África do Sul. Os resultados foram divulgados em julho deste ano e ganharam repercussão em agências internacionais de notícias como Reuters e CNN. No Brasil, a revista Época dedicou um espaço com texto e gráficos para o que chamou de “credo dos evangélicos”. por Lissânder Dias A pesquisa mostrou que, no geral, a opinião dos líderes é conservadora no que diz respeito às crenças fundamentais. Dos entrevistados, 96% acreditam que o Cristianismo é a única e verdadeira fé que conduz à vida eterna. Quase todos (98%) afirmam que a Bíblia é a Palavra de Deus. No entanto, há divergências entre aqueles que dizem que a Bíblia deve ser lida literalmente (50%) e aqueles que não pensam assim (48%). Os entrevistados também possuem visões tradicionais sobre questões familiares e sociais. Por exemplo, mais de nove em cada dez dizem que o aborto é geralmente errado (45%) ou sempre errado (51%). Cerca de oito em cada dez pensam que a sociedade deve desencorajar a homossexualidade (84%) e que os homens devem servir como líderes espirituais no casamento e na família (79%). Com relação à homossexualidade, os líderes da América do Sul e Central se dizem mais liberais: 51% aceitam a prática, enquanto que 87% dos líderes norte- americanos a desencorajam. Outro dado interessante está relacionado às experiências religiosas: 76% afirmam já ter experimentado ou testemunhado alguma cura divina, enquanto que 57% dizem já ter praticado oou testemunhado o exorcismo. Os líderes das regiões mais pobres (como América Latina, África e Oriente Médio) são mais otimistas (71%) quanto ao futuro do Cristianismo nos próximos cinco anos do que os das regiões mais ricas (44%), como Estados Unidos e Europa. Em termos de evangelização, os “sem-religião” (73%) são vistos com mais prioridade do que os muçulmanos (59%). Ministérios com famílias fundam aliança Ministérios e organizações evangélicas que trabalham com ênfase na família se reuniram no dia 12 de julho em São Paulo e aprovaram a formação de uma aliança que tem como objetivo principal estimular a formação e o fortalecimento de Antropólogos cristãos disponibilizam conteúdo virtual O Instituto Antropos — fundado por missiólogos e antropólogos cristãos, entre eles o missionário Ronaldo Lidório — criou um espaço virtual para disponibilização de vasto material de estudo (livros, e-books, cursos, palestras em áudio e vídeo). Além do conteúdo à venda (a renda é destinada ao sustento do Instituto), há um bom acervo gratuito. Segundo Lidório, “a intenção do instituto é prover um bom acervo para a pesquisa, edificação e capacitação missionária. Vários outros materiais estão sendo preparados e trabalhos voltados para casais e famílias dentro das igrejas locais. Outra meta, mais imediata, é a reali- zação de um congresso nacional em outubro de 2012. Pelo menos 19 ministérios estão sendo convidados para integrar a aliança. As pessoas do grupo poderão se envolver de três maneiras: como membros, apoiadores ou parceiros. “Esta aliança funcionará como uma espécie de confraria, sem personali- dade jurídica nem muita burocracia, reunindo anualmente”— disse o psicólogo Carlos “Catito” Grzybo- wski, do EIRENE do Brasil. Outras organizações presentes na reunião de fundação da aliança foram: Ministé- rio Oikos, Ministério Fortalecendo Famílias e Ministério Lar Cristão. O nome oficial da confraria será Aliança de Organizações Cristãs Pró-Família ou Aliança Pró-Família (APF). A próxima reunião da APF será no dia 20 de setembro. IwanBeijes serão veiculados neste espaço nos próximos meses”. O foco do trabalho do Instituto Antropos é a pesquisa sociocultural e a missiologia aplicada. O site do Instituto é http://instituto. antropos.com.br.
  • 20. 20 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 NOTíCIAS Aliança Evangélica prepara fórum sobre unidade, identidade e missão De 24 a 26 de novembro acontece o 1º Fórum da Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB), em Brasília, DF. O evento terá como tema “Unidade, Identidade, Missão”. A Aliança foi criada em 30 de novembro com o objetivo de buscar a unidade entre evangélicos brasileiros para o cumprimento da missão de Deus. “A Aliança vem tomando jeito e forma”— diz Valdir Steuernagel, um dos líderes. “Estamos no processo de formar a membresia e gostaríamos de convidar as igrejas e instituições a se inscreverem como membros na mesma.” vai reunir mais de mil pessoas Até julho mais de mil pessoas já haviam feito suas inscrições para o 6º Congresso Brasileiro de Missões (CBM). O tradicional evento é o mais importante da igreja evangélica brasileira na área de missões e vai reunir missionários, pensadores Estudo indica que somos naturalmente religiosos O projeto Cognição, Religião e Teologia (CRT) da Universidade de Oxford, financiado pela Fundação John Templeton, traz interessantes conclusões sobre a hipótese de a religião ser inerente ao ser humano. O estudo, extenso e complexo, foi iniciado em 2007 e durou 3 anos. Ele nos oferece evidências mais claras de que: • Crianças e adultos (mesmo aqueles com educação científica avançada) têm a tendência de ver o mundo natural como tendo função e propósito. • Na primeira infância, temos a tendência natural de atribuir super propriedades a outros humanos e deuses, incluindo super conhecimento, super percepção e imortalidade. • De fato, demora mais para a criança aprender sobre as limitações humanas do que sobre as super habilidades divinas. Crianças geralmente inventam amigos invisíveis e, em muitos casos, estes se parecem mais com Deus do que com amigos visíveis. • A ideia de que alguma parte de nós (nossa mente, alma ou espírito) não precisa de um corpo físico, e que continua existindo após a morte, pode ser algo altamente intuitivo. • Adolescentes e jovens podem achar mais fácil lembrar e usar ideias religiosas do que adultos. • Crenças e práticas religiosas A Aliança tem considerado em sua pauta a agenda do Movimento Lausanne para a Evangelização Mundial. Por isso, na ocasião do 1º Fórum será lançado em português o documento “Compromisso da Cidade do Cabo”, redigido a partir do Congresso Lausanne 3, realizado em outubro de 2010, na África do Sul. “Este documento está indicando muito a agenda do movimento para os próximos anos”, diz Steuernagel. e líderes evangélicos nacionais e internacionais para discutir e refletir sobre temas contemporâneos como: globalização, pós-modernidade, crise financeira global, crise ambiental, perseguição religiosa, povos não- alcançados e doenças mundiais, como a AIDS. Haverá preleções, oficinas, momentos de louvor e intercessão e relatos de experiências missionárias. O tema é “A Missão Transformadora para a Realidade Mundial”. A expectativa da coordenação é ter, pelo menos, 1.200 participantes e 80 estandes de agências missionárias e editoras evangélicas. As inscrições vão até 2 de outubro. O 6º CBM vai acontecer de 10 a 14 de outubro, em Caldas Novas, GO, e é realizado pela Associação de Missões Transculturais Brasileiras e pela Associação dos Professores de Missões do Brasil, com apoio da Comissão de Missões da Aliança Evangélica Mundial e do Comibam Internacional. podem persistir em parte porque nos tornam mais cooperativos e generosos com os outros. Para analisar os resultados desse estudo, doze filósofos de várias partes do mundo se reuniram em Oxford em intensivas conferências. Eles concordaram que a nova pesquisa demonstra que as tendências religiosas fazem parte das mais básicas formas do funcionamento da mente humana. No entanto, também afirmaram que o “ateísmo é uma resposta tão sofisticada a este fato quanto a teologia”. Diante de um processo crescente de secularização, uma conclusão dos estudiosos torna-se muito importante: “A religião não pode ser descartada apenas como a preocupação particular de alguns. Respostas religiosas para o mundo, certas ou erradas, são parte do que é ser humano”.
  • 22. 22 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 Alegria, alegria, por favor! A felicidade é um conceito — e uma aspiração — tão antigo como a história da humanidade. O clamor é geral: alegria, alegria, por favor! Esta é a angústia existencial básica. Porém, a despeito da busca frenética, tudo indica que não somos mais alegres (ou felizes) hoje. O assunto é mais complexo do que parece. Não é fácil definir o que é a felicidade, identificar suas causas e, muito menos, descobrir o “segredo da felicidade”. A felicidade seria a paz contemplativa ou a alegria ruidosa? Algo que nos acontece por acaso ou algo a ser buscado? Fruto de virtudes e contemplação ou da fruição do sofisticado cardápio de prazeres à disposição? FernandoWeberich
  • 23. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 23 Algo que se relaciona à supressão ou contenção dos desejos e das aspirações? Algo a ser desfrutado apenas depois desta vida? Um direito da humanidade ou sorte e destino de alguns? Uma recompensa ou um presente? Resultado do mapeamento genético ou do equilíbrio bioquímico? Induzida ou natural? A felicidade tem sido cantada por poetas, literatos e músicos. E também dissecada por biólogos, neurologistas, psicólogos e economistas. Já em 1780, o filósofo Jeremy Bentham inventou o “cálculo felicífico”, uma fórmula matemática que tentava medir, sem muito sucesso, a felicidade resultante de uma ação qualquer. China e Reino Unido anunciaram neste ano a intenção de medir o grau de felicidade de seus habitantes. A despeito dos avanços na compreensão dos aspectos fisiológicos e genéticos da felicidade e das ferramentas científicas para analisá-la, muita coisa continua em aberto, pois a felicidade possui dimensões relacionadas ao significado da vida. Não é incomum a sensação de que quanto mais se pensa ou se sistematiza a felicidade mais distante ela fica. O inglês Stuart Mill, que passou boa parte de sua vida estudando o tema, descobriu a certa altura que quando um homem se pergunta se é feliz ele deixa de sê-lo. O cristianismo explica a busca por felicidade como a aspiração da humanidade pela eternidade. Alienado de Deus, o homem procura a felicidade perdida. A esperança cristã é o caminho do reencontro. A partir de dentro “... não pense que estou infeliz. Afinal, o que a felicidade e a infelicidade significam? Elas dependem muito pouco das circunstâncias e muito mais do que se passa dentro de nós!” Dietrich Bonhoeffer, Cartas Inspirativas (à sua noiva, antes de ser executado, em abril de 1945) Adoração, alegria e gratidão “A genuína adoração nasce de uma boca cheia de riso (Sl 126.1-3), contaminada pelo coração grato. Tenha ela o perfume das flores da alegria ou o aroma do incenso da dor, estará dizendo que tudo o que ele é e faz é bom. Cheiro suave ao Senhor.” Rubem Amorese
  • 24. 24 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 O povo de Deus é alegre por definição. O cristão é alguém que foi encontrado por aquele que é feliz e recuperou a sua posição como filho. Para os cristãos, a alegria não é só uma opção de vida. É uma ordem de Deus ao seu povo; é um bom testemunho; é pré- evangelização; é coerência. O mandamento da alegria está espalhado nas Escrituras Sagradas: nos livros da lei (Dt 16.11), nos Salmos (Sl 32.11), nos profetas (Zc 9.9), nos Evangelhos (Lc 10.20), nas Epístolas (Fp 4.4) e no Apocalipse (Ap 19.7). A alegria é também fruto do Espírito (Gl 5.22), é consequência do perdão e da salvação (Lc 10.20), é promessa a ser totalmente contemplada no futuro (Hb 11.39-40), é combustível e celebração da missão (Sl 126.6; Lc 15.7). Certamente, algumas vezes terá de ser uma alegria disciplinada, baseada em promessas e em exercícios de fé. A despeito de ser — por natureza — feliz, cabe ao cristão desenvolver esta alegria. Isto pode ser feito por meio do exercício de um espírito grato (aqueles que julgam que a vida lhes deve alguma coisa são incapazes de ser felizes), A alegria cristã pela lembrança constante das promessas do Senhor, pelo encontro amoroso com os irmãos e irmãs, pela contemplação da Criação, pela memória de Cristo e de sua beleza, pela comunhão diária com Deus por meio da oração e da leitura bíblica, pela vivência do discipulado cristão, pelo “enchimento” do Espírito. Por causa do pecado, da depravação humana, da ordem política e social injusta, da incredulidade, da atuação satânica, do orgulho humano, da fome e da miséria, das vicissitudes naturais da vida, da enfermidade e da morte, da rejeição do evangelho — nem todo tempo é tempo de alegria. A Bíblia ressalta esta verdade: “[Há] tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar de alegria” (Ec 3.4). Além disto, somos ainda seres incompletos, ambíguos, divididos. Um dos efeitos da queda é que nossas emoções nem sempre acompanham nossas certezas. A variação de humor que não dominamos continuará a ser nossa companheira até o final da vida. A plenitude da alegria não é para agora. A garantia de bem-estar permanente não é uma promessa cristã. A diferença “É possível que você veja duas pessoas levando exatamente a mesma sorte de vida, diante das mesmíssimas condições, sendo, contudo, muito diferentes. Uma é amarga e queixosa; outra é calma, tranquila, feliz e sossegada. A diferença não está nas condições nem naquilo que lhes sucede. É algo que está nelas: a diferença consiste nas duas pessoas propriamente ditas...”. Lloyd-Jones, Mensagens para Hoje FernandoWeberich 24 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011
  • 25. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 25 E stabilidade emocional é uma conquista, um patrimônio sem medida. Esse estado de espírito elimina o entra-e-sai da tristeza e da alegria, do temor e da coragem, da depressão e da euforia, da dúvida e da certeza. Diminui as desgastantes variações de ânimo. A genuína estabilidade emocional não depende necessariamente das pessoas ao nosso redor nem de circunstâncias favoráveis. Ela suporta os imprevistos, a dor, o sofrimento e a distância. Ela se dá a despeito de tudo e de todos. De outra forma, não poderia ser chamada de estabilidade emocional. O cristão que põe o Senhor à sua frente dia após dia, momento após momento, além de não ser facilmente abalado, experimenta uma alegria preciosa e curiosa. Essa é a experiência do salmista: “[Porque sempre tenho o Senhor A ideia errônea do que é a verdadeira felicidade pode vir a ser a principal causa da infelicidade. Convém apontar o que a felicidade não é: • A felicidade não tem ligação com a ausência de embaraços, dificuldades, imprevistos, oposição ou embates. Antes, a presença destas coisas exercita e valoriza a vida. Muitas vezes quebram a rotina e servem de degraus para que alcancemos posições mais altas. • A felicidade não depende de circunstâncias favoráveis. Se fosse circunstancial, ela seria instável, transitória, incerta. Ela não se apoia em fatores que nem sempre estão sob o controle humano. • A felicidade não é resultado da satisfação de todo desejo do coração. Os nossos desejos frequentemente são contraditórios e surgem de fontes opostas entre si. Qualquer pessoa descobre que a não satisfação de certos desejos, conquanto fortes e audaciosos, resulta em extraordinária felicidade. • A felicidade não significa uma aceitação silenciosa e compulsória das dificuldades existentes, como se fossem determinadas por Deus. A resignação é virtude cristã e preciosa, mas não deve ser confundida com a indisposição para a luta ou com o medo, com a covardia ou a falta de fé. • A felicidade nunca acontece em uma sala fechada em cuja porta, do lado de fora, uma tabuleta avisa: “Não entre sem ser chamado”. A felicidade não depende do isolamento, do silêncio, de calmarias, de acessórios e assessores, da ginástica do chamado “pensamento positivo”, da repetição mecânica de orações e de frases otimistas, de mentiras inteligentes e bem elaboradas. Ao contrário, a felicidade tem de conviver com a maldade, com o sofrimento, com a inimizade alheia, com a morte, com a realidade presente e histórica. O que a felicidade não é Alegria de águas profundas diante de mim], o meu coração se alegra e no íntimo exulto” (Sl 16.9). Trata-se de uma alegria de águas profundas, nascida e preservada no âmago, no centro, na parte mais íntima do ser, na alma. Uma alegria, digamos, espiritual. Uma alegria interior e não facial. É a alegria teimosa — que nunca vai embora, que ninguém pode arrancar, que ladrão algum pode roubar — da qual falou Jesus (Jo 16.22). A mais famosa afirmação de estabilidade emocional foi feita pelo profeta Habacuque. Em tempos absurdamente difíceis, ele declarou: “Ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação” (Hc 3.18). É muito pobre a alegria que, ao primeiro susto, bate as asas. O cristão bem treinado e exercitado na alegria pode fazer a mesma declaração que Paulo fez: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4.12). KamilPorembinski
  • 26. 26 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 A tradução mais literal para o título original da famosa composição de Bach “Jesus, alegria dos homens” (Jesus, joy of man’s desiring) seria “Jesus, a alegria que os homens desejam”. Dois trechos para coral1 indicam a força com que o compositor considerava Jesus como a resposta aos anseios de felicidade do homem: Bem-aventurado sou, porque tenho Jesus. Oh, quão firmemente eu o seguro, Para que traga refrigério ao meu coração, Quando estou triste e abatido. Eu tenho Jesus, que me ama e se confia a mim. Ah! Por isso não o deixarei, Mesmo que meu coração se quebre. Jesus continua sendo minha alegria, O conforto e a seiva do meu coração Jesus refreia a minha tristeza, Ele é a força da minha vida É o deleite e o sol dos meus olhos, O tesouro e a grande felicidade da minha alma, Por isso, eu não deixarei ir Jesus Do meu coração e da minha presença. A redescoberta de que Jesus é a fonte de alegria fará de nós cristãos muito mais felizes e trará renovação na vida e no testemunho da Igreja. Esta reflexão não é nova. A resposta à primeira pergunta — Qual é o fim principal do homem? — do Catecismo de Westminster (1648) traz esta indicação: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Jonathan Edwards, no início do século 18, dizia que a razão de nossa existência é glorificar a Deus à medida que nos deliciamos nele. Só glorificamos a Deus se somos realmente felizes. Na introdução de seu livro Ser É o Bastante, sobre as bem- aventuranças, Carlos Queiroz diz: “A felicidade do discípulo consiste primeiramente no reencontro harmonioso com o Ser que é Feliz. [...] Fora da vocação humana, fora da filiação em Deus, qualquer ser humano viverá — ou melhor, morrerá — em demasiada tristeza”. “A salvação não significa apenas perdão de pecados, mas, acima de tudo, comunhão com Jesus. Se essa comunhão não for plenamente prazerosa, não haverá grande salvação”, é o que afirma John Piper, no capítulo “A alegria indestrutível”, do livro Um Homem Chamado Jesus Cristo. Jesus nunca foi triste. Um texto pouco conhecido das Escrituras revela Jesus alegre no início do mundo criado: “Eu estava ao seu lado, e era o seu arquiteto; dia após dia eu era o seu prazer e me alegrava continuamente com a sua presença” (Pv 8.30). Em Hebreus 1.8 e 9, Deus diz ao Filho: “Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de alegria”. No Salmo messiânico (16.8, 11) Cristo declara: “Eu sempre via o Senhor diante de mim. Porque ele está à minha direita, não serei abalado. Por isso o meu coração está alegre e a minha língua exulta [...] e me encherás de alegria na tua presença”. Embora Jesus tenha experimentado tristeza — uma das ocasiões foi no Getsêmani, quando declarou aos discípulos: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal” (Mt 26.38) —, ele é alegre por natureza. Ele chorou, sofreu fome, cansaço, abandono, morte, mas foi sustentado por uma alegria indestrutível. Foi “pela alegria que lhe estava proposta, [que] ele suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita de Deus” (Hb 12.2). Em suas palavras de despedida — em um momento de muita tristeza — Jesus promete aos discípulos: “Tenho lhes dito estas palavras para que minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15.11; 17.13). Cristo comunica aos filhos de Deus a sua alegria por meio do Espírito Santo. Se Cristo fosse indiferente ou triste, a eternidade não passaria de um longo suspiro. Porém não é assim. As palavras de boas vindas que Jesus tem preparado para os seus são estas: “Muito bom, servo bom e fiel! [...] Venha e participe da alegria do seu senhor” (Mt 25.21). Oxalá Deus nos despertasse de nossa apatia, indiferença, tristeza ou de nossa “euforia mundana” e imprimisse com cores vivas e de forma constante a alegria de Cristo em nós! — uma oração a ser feita por cada cristão e pela Igreja. Isto nos levaria a apropriarmo-nos da promessa de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância” (Jo 10.10). As pessoas que ainda não se aproximaram de Cristo — carentes que estão de alegria — se sentiriam atraídas à fonte de alegria por meio de nós. Nota 1. Coral nº 10 e n° 6 da Cantata BWV 147. Fonte: http://missoeseadoracao.net/2008/02/jesus-alegria-dos-homens-por-j-s-bach.html Jesus, a alegria desejada pelo homem A tirania da felicidade P ara Pascal Bruckner, romancista francês e autor do livro A Euforia Perpétua, a felicidade hoje se tornou uma tirania, “as pessoas vivem obcecadas em conquistá-la, como a uma propriedade. Já que as pessoas correm a vida inteira atrás dela, a felicidade vira uma inquietação permanente”, passa a fazer parte do território da angústia. Eliane Brum, escritora e jornalista, alerta: “Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. Existe a crença que a felicidade é um imperativo, que é possível viver
  • 27. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 27 T odo ser humano quer ser feliz, pois todos sabemos que não somos o que deveríamos ser e que não vivemos no ambiente onde deveríamos viver. Somos marcados pela maldade e vivemos em um ambiente de sofrimento. Somos infelizes. Sabemos disso por causa do testemunho que Deus dá de sua existência. Ele nos dá condições de vida e enche o nosso coração com a noção de significado e completude, permitindo que tenhamos momentos em que essas realidades estejam presentes em nossa experiência de vida (At 14.17). O testemunho de sua existência, além de chamar-nos a atenção para a probabilidade da transcendência, nos faz perceber o quão distantes estamos da abundância que, por vezes, de modo aparentemente aleatório experimentamos. Deus nos empresta a sua bondade para que a maldade não seja o único conteúdo a dar o tom de nossa existência (Tg 1.17) — o que nos dá uma noção da possibilidade da vida abundante, porque nos lega ordem moral. Gente felizAriovaldo Ramos sem sofrer, que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia”. Isto torna os joven incapacitados para lidar com a frustração. A teologia da prosperidade igualmente apresenta o bem-estar como um imperativo e — pior — um imperativo decorrente da fé. No entanto, está muito claro, de acordo com Lloyd Jones, em seu livro Mensagem para Hoje, que “não há parte alguma da vida cristã isenta de perigos. Face ao ensino do Novo Testamento, nada é tão falso como dar a impressão de que no instante em que você crê e se converte, acabam-se todas as dificuldades”. AbelMolina Jesus veio para que tivéssemos vida abundante (Jo 10.10). Ter vida abundante é ser salvo. Vida abundante é vida plena de bondade e capaz de não sofrer a realidade de sofrimento que nos cerca, é vida feliz. Ser salvo é ser feliz. Felicidade, como um conjunto de circunstâncias prévias para que alguém seja feliz, não existe na Escritura. O que existe é gente feliz. Ser feliz é pessoal. Gente feliz, entretanto, afeta o ambiente para que este seja ambiente de felicidade (Mt 5.13-16). Felicidade, portanto, não é algo que se encontra, mas que se produz no ambiente para o bem de todos. Ainda que o ambiente não seja suficiente para fazer alguém feliz, é papel de todo o que é feliz reproduzir no ambiente as condições que demonstrem a possibilidade de cada ser humano ser feliz (Mt 5.16). Toda a Escritura revela Cristo como o portador da vida abundante. A escritura que o revela descreve o que é gente feliz. A chave para viver essa vida é sempre o Cristo. Porque todo aquele que invocá-lo será salvo (Jl 2.32). Ser salvo é ser feliz e produzir felicidade! Morrer aos poucos “A alegria faz bem à saúde; estar sempre triste é morrer aos poucos.” Provérbios 17.22 Pleno e eterno prazer “Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita.” Salmos 16.11
  • 28. 28 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 Clamor pela alegria Ó Deus, estou confuso, desnorteado, inseguro, perturbado, triste. Pensei que esta crise iria acabar logo e ela não acabou. Sinto-me preso em uma cela sem janelas. Não vejo o sol há muitos dias. Só vejo som- bras. A escuridão me rodeia. Não enxergo o que há de bom nesta vida. Minha memória está contra mim. Não consigo me lembrar dos acontecimentos bons do passado. Por outro lado, minha mente está catalogando todas as lembranças, até pormenores desagradáveis, de acontecimentos maus. Vejo sofrimento em toda parte, até onde ele não existe. Os maus sofrem e os bons também. Antes era assim, agora é assim e amanhã será assim. Ando preocupado demais com meus familiares. Estou com medo de um adoecer, do casamento de outro se acabar. Imagino — alarmista — acidentes de trânsito ou acidentes morais envolvendo algum querido. Estou sensível demais. Meu amor por meus familiares anda estranho. É um amor nervoso, cheio de apreensões e esquisitices. Tenho dificuldade de ler a Bíblia e de orar. A comunhão contigo, outrora fácil, está agora difícil. Aquela sensação de que tu me abençoavas dia após dia praticamente acabou. Es- tou vivendo pela fé e não por emoções. Minhas certezas estão em queda. Ainda me resta um pouco de bom senso, que estou segurando com ambas as mãos para que não se perca. Com esse resto de bom senso, estou lidando com minhas culpas. Estou resistindo, estou clamando, estou esperando. Ó Deus, perdoa-me por me encontrar desse jeito. No mo- mento, eu não sou eu. Sou outro. Sou um estranho até para mim mesmo. Sem dúvida, estou doente. Preciso de tratamen- to. Tem misericórdia de mim, Senhor! Cura-me totalmente. Torna a dar-me alegria, estabilidade emocional, segurança pessoal. Livra-me desta dor apertada no peito, de quem está assustado e medroso. Aumenta as minhas certezas e a minha fé. Aumenta a minha esperança de cura e a minha esperança de novos céus e nova terra, onde não haverá tristeza nem dor, nem guerras, nem mortes. Socorre-me nesta hora, ó meu Senhor. Peço-te este livramento em nome de Jesus! Amém. ElioRocha
  • 29. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 29 A mesma pessoa que escreveu: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8) também declarou: “Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago” (Sl 6.6). Ao registrar estes dois estados de alma, Davi expressou o que acontece com todos nós: as inevitáveis variações de ânimo. Em uma conversa fictícia descrita em Cartas de Um Diabo a Seu Aprendiz, de C. S. Lewis, o “demônio-mor” explica ao seu sobrinho aprendiz que estas oscilações seriam uma boa porta de entrada para a tentação, e assim descreve a natureza humana: “A maior aproximação a que A mbos [Freud e Lewis] sofriam de depressão clínica. Antes de se tornar cristão, em seu diário e cartas, Lewis parece irritável, pes- simista, obscuro e sem esperança. Diz que seu ateísmo baseava-se na sua “visão muito pessimista da existência”. Depois da sua conversão, passou a dizer que a alegria se tornara a história central de sua vida.Seus amigos passaram a considerá-lo uma pessoa ani- mada e sociável. Ele havia sido surpreendido pela alegria no re- lacionamento recém-estabelecido com o Criador. Lewis afirma que Deus não nos pode dar “felicidade alguma além de si mesmo, pois ela não existe fora dele”. A nova fé ajudou-o a superar a depressão. A pesquisa médica recente lançou bastante luz sobre os aspectos positivos da fé no tratamento da depressão. Freud, por sua vez, quando jo- vem, usou cocaína durante algum tempo como forma de melhorar o eles chegam da constância vem a ser a ondulação — a volta repetida a um certo nível do qual eles caem repetidas vezes como numa série de depressões e cristas [...] ondulação que se manifesta em todos os departamentos humanos — no interesse que dispensa ao trabalho, nas afeições para com os amigos, nos apetites fisiológicos, tudo nos homens oscila para cima e para baixo”. A advertência de Eugene Peterson em A Oração que Deus Ouve — “Os sentimentos são o flagelo da oração. Orar com base nos sentimentos é estar à mercê de glândulas, tempo e digestão” — e a sugestão de uma saudável displicência para com os nossos sentimentos no âmbito da oração podem servir a todas as áreas da vida. Oscilações inevitáveis Felicidade para Freud e Lewis David Neff Um dever cristão “Há grande bem em suportar pacientemente o sofrimento: não sei da existência de nenhuma virtude na tristeza em si... É um dever cristão todos serem tão felizes quando puderem.” C. S. Lewis em carta a Sheldon Vanauken, quando este perdeu a esposa. Cartas Inspirativas “Alegrai-vos no Senhor, outra vez digo: alegrai-vos.” Filipenses 4.4 ânimo. Ele relacionava a felicidade ao prazer, e para ele a maior fonte de prazer era a satisfação instintiva, o prazer sexual. E como isso só ocorre de vez em quando, ele con- clui que está descartada qualquer chance de felicidade. Lewis divide a felicidade em várias categorias, mas diz que todas elas vêm da mesma fonte. Ele mostrava-se capaz de apreciar os pequenos prazeres da vida, como assistir ao pôr-do-sol, ouvir uma boa música ou tomar um banho quente. E dizia que metade de toda a felicidade vem das amizades. Já Freud parecia ter uma capacidade limitada de apreciar pequenos pra- zeres. E suas cartas não expressam muita felicidade. Certamente ele experimentou alegria em estar com os filhos e a família, mas a grande maioria dos seus escritos indica que ele não considerava a vida uma experiência particularmente feliz. Nota NEFF, David. Dois Gigantes Intelectuais frente a frente; entrevista com Armand Nicholi. Ultimato. set./out. 2005. ed. 296. p. 38. Egocentrismo e infelicidade “O cristianismo aumenta extraordinariamente o âmbito e área de nossa vida. Ele nos tira do egocentrismo e nos leva ao altruísmo. A conversão nos tira da introversão para a extroversão. (...) Não seja hipersensível à crítica, nem faça uma idéia exagerada de sua importância pessoal. Este é o segredo da infelicidade de muitos. Muita gente egocêntrica é vítima desta terrível doença mental.” Billy Graham, em O Segredo da Felicidade
  • 30. 30 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 Louvarei ao Senhor — “em todo o Ronaldo Lidório E nganoso é o nosso coração. Não é raro observar que, por vezes, mesmo tendo muito mais do que precisamos, permanecemos descontentes pelo que julgamos nos faltar. Outras vezes, mesmo tendo pouquíssimo, o pouco que temos se mostra suficiente para encher o coração de louvor e agradecimento a Deus. Isto nos leva a uma percepção bíblica de que o louvor a Deus não é definido pelas circunstâncias da existência, mas pela atitude do coração; e que nosso coração, essencialmen- te enganoso, é também ensinável, e deve aprender a louvar a Deus dentro de uma proposta bíblica radical — “todo o tempo”. O Salmo 34 é um convite ao louvor e à maturidade espi- ritual. Nele o salmista manifesta o compromisso de louvar ao Senhor em “todo o tempo”(v.1). Louvar ao Senhor ao receber o que tanto desejou, ou ao ser surpreendido por uma ótima notícia, é uma resposta natural dos sentidos, e não exige nada especial do nosso coração. A proposta bíblica, porém, é louvar a Deus em “todo o tempo”: no dia bom e também no dia mau; em plena saúde e nos dias de enfermidade; quando aplaudido ou criticado; ao receber uma resposta positiva do Senhor ou quando ele nos fecha um caminho que intensa- mente desejávamos seguir. Louvar a Deus em “todo o tempo” implica reconhecer que todos os planos do Pai são planos de amor. Que todas as coisas, de fato, cooperam de alguma forma, que pouco com- preendemos, para o bem dos que sinceramente amam a Deus, e isto nos basta. Louvar a Deus em “todo o tempo” implica também reconhecer que as circunstâncias da vida, mesmo as mais complexas e difíceis, possuem algum motivo de gratidão. Neste salmo não encontramos um cenário de perfeição que nos leva naturalmente ao louvor, mas um louvor que é proferido na realidade por uma vida que possui desafios constantes. Os versos 4, 5 e 6 nos falam sobre temores, angústias e prisões. O verso 8 nos leva, entretanto, ao reconhecimento de que, além das cores que pintam o presente cenário da existência, Deus é bom. Somos con- duzidos não apenas a compreender a sua bondade, mas a experimentá-la: “provai e vede que o Senhor é bom!”. Deus não é apresentado como aquele que realiza atos de bondade, mas como aquele que é bom em sua essên- cia. É da natureza de Deus ser bom. Alguns passam por angústias e tornam-se murmuradores. Outros passam por tragédias e reconhecem a bondade do Senhor. A diferença parece estar na atitude do coração. Em seu edificante livro O Discípulo Radical, John Stott nos apresenta oito características de um discípulo: incon- formismo, semelhança com Cristo, maturidade, cuidado com a criação, simplicidade, equilíbrio, dependência e morte. Em todas elas ele destaca a atitude do coração, e a diferença entre o que meramente conhecemos e aquilo que abraçamos como valor e prática de vida. O louvor a Deus não é simples assunto de exposição ou tão somente artigo de fé. Ele deve ser praticado, e praticado “todo o tempo”.
  • 31. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 31 tempo” É certo também perceber que o louvor a Deus combate a ansiedade da alma. Depressões, ansiedades, fobias e temores são as enfermidades do século. Neste salmo vemos que, ao praticar o louvor, pacificamos nossos corações. No verso 1 ele nos fala sobre a alegria, no 2, sobre a libertação dos temores e, no 5, sobre a libertação das angústias. Louvar a Deus alegra o coração do Pai e também apazigua a nossa alma, uma vez que nos conduz a reconhecer que nossas vidas estão nas mãos daquele que, em todas as coisas, é bom. A declaração de louvor, lançada intencionalmente no futuro (“louvarei ao Senhor), é sem dúvida uma afirmação de fé para caminharmos com Deus, pois não conhecemos o amanhã. Não sabemos o que nos aguarda, se a alegria inesperada ou a tragédia mais temida. Diante deste cenário de fluida incerteza o salmista faz um compromisso e o declara: “amanhã... eu o louvarei”. O que pode parecer uma incoerência perante a inconstân- cia da vida é, na verdade, uma afirmação de conhecimento e confiança. Não conhecemos o amanhã, mas conhecemos o Deus que controla o amanhã. Não sabemos se alegrias ou tragédias virão, mas estamos certos que nenhuma tragédia é maior que a sua bondade. Não conseguimos desvendar os mistérios da vida, mas sabemos que os planos do Pai são planos de amor. Desta forma, louvar a Deus é certamente um exercício de fe que apazigua as ansiedades da alma e nos dá paz. No amanhã — que desconheço — eu o louvarei. Em 1873 um navio francês, o Ville de Havre, seguia da costa leste americana para a Europa. Entre os passageiros A lguns economistas têm se deparado com o fato de que os países que enriqueceram nos últimos anos não aumentaram seu grau de felicidade em igual proporção. Darrin McMahon, autor do livro Felicidade — uma História, relacionou isto ao modo como os seres humanos se adaptam aos prazeres: “É algo que todo pai já observou nos seus filhos: logo que recebem um brinquedo novo, ficam contentíssimos, mas depois o entusiasmo esfria. Psicólogos chamam isto de ‘roleta hedônica’. Os filósofos — incluindo Adam Smith, o arquiteto intelectual do capitalismo — Riqueza e felicidade encontravam-se a senhora Spafford — esposa de um cristão piedoso, jovem advogado de Chicago — e seus quatro filhos. Nesta viagem o navio sofre um acidente e vem a naufragar, morrendo quase todos os tripulantes. Dias de desespero se seguem com a ausência de notícias para as famílias dos desaparecidos em alto mar. Finalmente o senhor Spafford recebe um telegrama comunicando que sua esposa foi encontrada ainda com vida, mas estava só. A mensagem sobre a perda de seus quatro filhos lhe aflige a alma. Ele cho- ra e lamenta. Depois senta-se e escreve a letra de um hino que se tornaria conhecido em todo o mundo: “It is well with my soul” (Está bem a minha alma), conhecido como “Sou feliz com Jesus”. Assim, ele diz: Se paz a mais doce me deres gozar Se dor a mais forte sofrer Oh, seja o que for, tu me fazes saber Que feliz com Jesus sempre sou O louvor a Deus não é definido pelos marcadores da nossa história, mas pela bondade do Senhor que vai além das linhas do horizonte do entendimento da vida. Louvar a Deus é reconhecer que a sua bondade será sempre maior do que qualquer acontecimento que possa se abater sobre nossos dias. É cantar a sua bondade nos dias de luz e alegria, e não deixar de fazê-lo nos dias de forte neblina e cores escuras. Sua bondade é maior que a vida. Um dia, em luz plena e eterna, cantaremos a sua bondade em “todo o tempo”. Não precisaremos de fatos da vida para fazê-lo. A sua presença nos bastará. sempre souberam que o dinheiro não compra a felicidade”. O escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua, acrescenta: “Produto interno bruto alto não é sinônimo de povo feliz. A França, um dos países mais ricos do mundo, é também onde se consome uma grande quantidade de antidepressivos”. Ainda assim, uma pesquisa realizada pela FIESP em 2010 indicou que 64% dos homens brasileiros escolheram “ter dinheiro” como um dos fatores mais importantes para se sentir feliz.
  • 32. 32 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 sempre nutri grande admiração é John Stott, que há pouco tempo deixou este “corpo corruptível” para receber “o corpo glorificado”. Ele, com seus sermões, livros e dedicação, me estimulou a amar a Bíblia, a igreja e o Salvador. A vida moderna, com suas múltiplas ofertas, intensifica o individualismo e acaba por produzir uma forma de ruptura entre a realidade interna e externa. Por outro lado, a revelação de Deus como Trindade, que tem a comunhão e a interdependência de um no ser do outro, forma a base da vida e da espiritualidade cristã. A consciência de que fomos criados por Deus e para Deus estabelece o eixo para vivermos de forma centrada. Existe um centro na vida: Jesus Cristo. Ele é o princípio e o fim. Aquele por meio de quem tudo existe e para quem todas as coisas convergem. Diante dele se dobrarão todos os joelhos no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua o confessará como Senhor e Deus. Ele é o que se encontra assentado no trono, em torno do qual nós nos colocamos em adoração e obediência. Precisamos de testemunhas. Nuvens de testemunhas. Precisamos de pessoas que nos ajudem a desembaraçar os nós do pecado e de tudo o que nos impede de caminhar em direção a Cristo. A vida moderna segue nos oferecendo muitas distrações. Manter os olhos fixos em Jesus nos possibilita viver de forma íntegra e centrada. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração. Tenho pensado nas testemunhas que têm me ajudado a não perder o foco. Confesso que, às vezes, olho a minha volta e encontro muita gente que me incentiva com métodos, estratégias, técnicas, programas; no entanto, são poucos os que me ajudam a manter meus olhos focados em Jesus. Algumas destas testemunhas viveram séculos atrás. Agostinho é uma testemunha fiel que sempre me ajuda a olhar com honestidade para o meu pecado e para a bondade de Deus. Ler as Confissões mantém meus olhos voltados para Jesus. Outra testemunha pela qual tenho grande apreço é Gregório Magno, que viveu no século 6. Sua obra Regra Pastoral tem me ajudado a manter o foco do ministério pastoral e evitado que me entregue às seduções dos atalhos. Os movimentos mendicantes do século 13 me ajudam a reconhecer o valor da simplicidade. Os reformadores me inspiram tanto na devoção como no estudo cuidadoso e reverente das Escrituras. Ao longo de minha vida algumas testemunhas fiéis e verdadeiras me ajudaram a manter meus olhos fixos em Jesus. Várias delas seguem ao meu lado, anonimamente, insistindo para que jamais perca Jesus de vista. Uma testemunha que teve grande influência em minha vida e pela qual O CAMINHO DO CORAçãO Ricardo Barbosa Todos os homens e mulheres que viveram vidas focadas tornaram- se uma “nuvem de testemunhas” U ma característica de viver em uma cultura que oferece tantas possibilidades é perder o foco, não saber o que realmente importa. Vivemos de forma dispersa, seduzidos por uma infinidade de ofertas, criando uma ciranda de opções que mudam constantemente nosso olhar de direção. A perda da objetividade nos conduz a uma dificuldade na integração das diferentes realidades da vida. Somos seres distraídos, ansiosos e inquietos. A obsessão pela autorrealização, pela autossegurança e pela autoimagem surge da necessidade de dar nitidez a um cenário desfocado. Temos a tendência de pensar que nossos problemas são externos. Porém, se não temos um foco internamente seguiremos à deriva. Como diz o velho ditado: “Quando o piloto não sabe o destino do seu barco, qualquer vento sopra a favor”. As distrações externas apenas refletem a falta de integração interna. Na carta aos Hebreus, o autor dedica todo o capítulo 11 para descrever, em curtas biografias, a vida de homens e mulheres que viveram vidas focadas. Apesar das inúmeras possibilidades e pressões, mantiveram seus olhos fixos em promessas divinas ainda não cumpridas. Viveram e morreram por elas. O autor entra no capítulo 12 com um relato e um apelo. Todo aquele elenco de homens e mulheres que viveram vidas focadas tornou-se uma “nuvem de testemunhas”, ajudando e encorajando outros homens e mulheres a viverem da mesma forma. O que eles fizeram? Mantiveram seus olhos fixos em Jesus. Olhando firmemente para Jesus
  • 34. 34 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 de missão, que reduziu o evangelho a quatro leis e a ação missionária à pregação unilateral; a da conceituação dos povos indígenas, que os limitou a uma idealização folclorizada e inumana; a do comercialismo religioso e da pressão para se obter uma cristianização imediata e superficial do povo, sem se considerar a preservação de seu patrimônio linguístico. Recentemente visitei um pequeno país-ilha do Pacífico onde fui verificar “o pulso” de duas línguas nos estertores da agonia. O quadro não muda muito; na África, Ásia, Amazônia e Pacífico línguas morrem porque deixam de ser funcionais. Ninguém mata uma língua, ela morre por falta de uso. O pequeno país chamado Palau tem dois outros idiomas além dos oficiais, inglês e palauan. Eles são falados por uma população muito pequena que povoa quatro ilhas distantes do arquipélago principal do país. Com eles se fala da flora e fauna marinha, do mundo místico de azul e espuma, das comidas que não são mais cozinhadas e das tecnologias raramente usadas hoje. Os que ainda falam a língua se entristecem ao ver os jovens serem educados em palauan e inglês, optando por não falar mais o idioma. O povo de Tobi, a menor das ilhas, considera como certa a morte da identidade Tobi; entristece-se, mas não tem como lutar A cada 14 dias morre uma língua na Terra — grita o repórter em tom apocalíptico. Como linguista, acompanho há anos a tragédia da morte das línguas no mundo, e celebro este despertar tardio da mídia mundial para o problema. Saber que línguas estão desaparecendo deveria causar uma sensação de desespero e angústia pelo patrimônio humano de conhecimento, sabedoria e percepção única da realidade que morre com elas. A língua é uma codificação verbal da cultura. Esta, por sua vez, é o conjunto de conhecimentos adquiridos por um povo sobre todas as áreas da vida. Com a morte de uma língua, nossa condição humana se esvazia: a inteligência coletiva empobrece e enciclopédias inteiras de etnociência morrem com ela. O pragmatismo da cultura evangélica recente nos influencia a ver as línguas como barreiras para o cumprimento da Grande Comissão. Uma língua morta passa a significar menos uma a ser duramente aprendida, menos uma a isolar populações e evitar a entrada do evangelho. Nada mais errado de se pensar. O desaparecimento de uma cultura significa o desaparecimento de uma percepção peculiar de Deus e de suas revelações, que, uma vez assimiladas pelo Corpo de Cristo, certamente nos aproximariam mais dele. Cada vez que uma língua deixa de ser falada na Terra, ficamos espiritualmente mais pobres e limitados. No entanto, para se chegar ao ideal de transpolinização conceitual, chamado por Paulo de “mistério” (Ef 3.3-10), é necessário cruzar muitas barreiras, para além da língua: a do conceito contra o inexorável. Não há mais espaço, no mundo em que vivem, para se ser Tobi. A língua tornou-se irrelevante no cenário sócioeconômico do arquipélago. O canto do povo que se vai é triste e seu clamor se perde na imensidão do oceano. Entretanto, na minha recente amizade com ele, ganhei esperança. Jovens católicos ativos compõem hinos de louvor em sua língua materna. Cânticos ricos em significado ressoam na paróquia aos domingos. A leitura bíblica da liturgia é feita em sonsorol e tobi. Nosso ser coletivo não é diferente do individual. Línguas morrem por falta de autoestima, porque se veem de repente sozinhas e sem valor. “Ninguém me utiliza, ninguém me estuda, ninguém precisa de mim.” Morrem por falta de amor. Como missionária da missão holística, espero que, ao se traduzir a Bíblia, traduza-se também viabilidade econômica, escolarização, documentação do patrimônio cultural. Espero que o quadro atual de morte seja revertido, e que, uma vez amadas por Deus, as duas línguas ouvidas nas ilhas distantes de Sonsorol e Tobi voltem à vida. Àqueles que de forma cruel e superficial julgam a missão cristã classificando-a de assassina de culturas, pergunto: Existe outra maneira de se encontrar o amor sem que seja através do amor? Missiono sim — o que para mim é a única forma prática para se amar o coletivo — ressuscitando línguas que para Deus têm ainda muito a dizer. Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical. braulia_ribeiro@yahoo.com Quando morre uma língua... Bráulia RibeiroDA LINHA DE FRENTE Cada vez que uma língua deixa de ser falada na Terra, ficamos espiritualmente mais pobres e limitados
  • 36. 36 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2011 A solução pela raiz MEIO AMBIENTE E fé cristã Marina Silva O profeta faz uma analogia entre os processos biológicos de renovação das plantas e a oportunidade de resgate que Deus oferece à Criação como um todo. Embora Isaías tenha vivido quase oito séculos antes de Cristo, o capítulo é oportuno também para ilustrar as consequências da queda na parte natural da Criação, igualmente carente de resgate e restauração. Os recursos naturais do planeta já foram degradados a ponto de gerar um déficit quase irrecuperável. Estamos “no vermelho” em 30%, com a capacidade de reposição por meios naturais esgotada. É como se avançássemos em 30% do valor de nossos rendimentos mensais no uso do cheque especial. Essa é uma situação em que a árvore já foi cortada, o tronco está morrendo e só a misericórdia de Deus pode oferecer nova oportunidade — um renovo para os seres humanos e para os processos orgânicos e mecânicos do planeta. Lembremo-nos da exploração de petróleo sem os cuidados ambientais, no Golfo do México; dos desastres com energia nuclear em Chernobyl e no Japão; da destruição de rios, como o Tietê; da desertificação em muitas áreas, pela ausência de chuvas derivada da retirada das árvores. Pensemos na atmosfera irrespirável pelas emissões resultantes dos processos de transformação industrial. A lista é infindável e atinge a todos os sistemas existentes no planeta. Como restaurar o que destruímos? Como caminhar em direção às promessas de Isaías 11.6-9? Responderemos a essas perguntas quando formos capazes de fazê-las sinceramente. Veremos o que é possível conseguir quando nos dispusermos A s circunstâncias históricas no capítulo 11 do livro do profeta Isaías mostram- nos que aquela era uma época de degradação social e espiritual; um mundo à beira do abismo em todos os aspectos. Uma árvore cortada é a imagem metafórica usada pelo profeta para expressar a desoladora devastação daquele tempo. Porém, nessa mesma árvore cortada, pela misericórdia de Deus, havia a possibilidade de prosperar um pequeno broto, originado na força de suas raízes. Era a raiz de Jessé, um menino que traria renovo para o mundo degradado. ao resgate, à restauração de nossa vida espiritual de foma integral com Deus e à restauração de tudo o que ele criou, da forma como criou e da maneira como, a cada ato criativo, certificava-se de que tudo tinha ficado muito bom (Gn 1.3-31). Deus resgatou e restaurou não só no plano espiritual, mas também no campo físico — duro e extenuante —, tornando-se homem, deixando a condição de Verbo glorioso e fazendo-se carne, como profetizou Isaías. É tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta. É preciso sair do vermelho. Dispormo-nos ao trabalho, a exemplo do que fez Jesus. Uma grande oportunidade para nós — não só como brasileiros, mas como cidadãos do planeta — é a Rio+20 — Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável, que será realizada em junho de 2012. Haverá, na ocasião, a oportunidade de pensarmos e propormos soluções para os temas econômicos, sociais e de governança. Alguns deles são: como produzir respeitando os ciclos de reposição da natureza; como organizar politicamente nossa vida na casa comum que Deus nos deu; como cuidar dos órfãos e das viúvas, que na Bíblia representam todos os desvalidos. Estes são temas com potencialidade fundante de toda uma nova civilização, de acordo com o estado de coisas em plenitude que Deus reafirma como parte de sua essência em 1 Coríntios 10.26. Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC. É tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta JonSullivan
  • 37. Setembro-Outubro, 2011 I ULTIMATO 37 Não quero ser indeciso S ei que às vezes não estou suficientemente maduro para tomar uma decisão, pois não conheço bem os dois lados que chamam a minha atenção, que acenam para mim, que tentam me atrair. Porém, na maioria das vezes, a minha indecisão não é sinônimo de prudência. Ela existe por causa do medo, da tradição, do comodismo, da correnteza em sentido contrário, do engano, do acanhamento, da opinião pública, da preguiça. A história do filho pródigo, na parábola de Jesus, sempre me impressionou. O evangelho registra que, em uma terra distante, o rapaz reconheceu seu erro e tomou a decisão de voltar para casa. O versículo seguinte mostra que a decisão era para valer, pois “levantando-se, foi para seu pai” (Lc 15.20). Encanta-me a decisão tomada por Zaqueu logo após a conversa que Jesus teve com ele. Como o filho pródigo, o coletor de impostos se levantou e disse a Jesus: “Senhor, de agora em diante eu darei a metade da minha riqueza aos pobres” (Lc 19.8). Confesso que tenho uma ponta de inveja quando leio o discurso de Josué perante o povo indeciso quanto à escolha do caminho a seguir: “Quanto a mim, ouçam bem: Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15). Para que haja alguma mudança, para iniciar qualquer DE HOJE EM DIANTE... empreendimento, não posso ser indeciso. Exemplos não me faltam. A Bíblia me encoraja quando diz que Salomão resolveu edificar a casa ao nome do Senhor (2Cr 2.1), que Joás resolveu restaurar o mesmo templo (2Cr 24.4), que Daniel resolveu não contaminar-se com as iguarias da mesa de Nabucodonosor (Dn 1.8), que Paulo resolveu ir a Jerusalém, onde o esperavam sofrimentos e prisões (At 19.21). Os heróis da fé são pessoas que não ficam paradas, deixando o tempo e as oportunidades passarem por conta da eterna indecisão. Por misericórdia, não quero mais atrasar o que é necessário, o que é certo, o que é bom para mim e para os outros, inclusive para minha família. Não quero ser culpado de alguma dor, infelicidade ou tragédia por falta de decisão da minha parte. Abraão não ficou a vida inteira decidindo se sairia ou não de Ur dos caldeus e se ofereceria ou não seu único e amado filho em sacrifício ao Senhor. Pela fé, fez ambas as coisas sem perder tempo (Hb 11.8, 17). Entre dois caminhos opostos a tomar, Moisés fez logo a sua escolha: abandonar a casa de Faraó, os prazeres transitórios do pecado e os tesouros do Egito, para ser maltratado junto com o povo de Deus (Hb 11.24-26). Quero ter a firmeza de Paulo quando escreveu a Tito: “Resolvi passar o inverno lá [em Nicópolis]” (Tt 3.12). De hoje em diante, com o auxílio de Deus, será assim comigo. LizValente