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Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 1
A turma de Jesus
ENTREVISTA: RONALDO LIDÓRIO – A primeira missão da igreja é “desglorificar-se” para glorificar a Deus
ESPECIAL
PEDOFILIA
E PERDÃO
MISSÃO INTEGRAL
JESUS CRISTO, SENHOR
DE TUDO E DE TODOS
DA LINHA DE FRENTE
OS BRAÇOS
DE FÁBIO
2 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 3
Abertura
Caim e a neurocientista
do Alabama
É
impossível entender. Uma doutora em
genética pela Universidade de Harvard, 44
anos, casada, três filhos, só porque não foi
promovida ao cargo de professora titular
da Universidade do Alabama, abre a bolsa,
apanha uma arma e atira em seis de seus colegas,
matando três deles. A tragédia aconteceu durante uma
reunião de professores de biologia — a ciência da
vida — no dia 12 de fevereiro de 2010.
Nenhuma resposta, seja da psicologia, psiquiatria,
antropologia, sociologia e outras ciências, satisfaz
plenamente a sede de explicação que o acontecimento
exige. Outros dramas históricos e frequentes, como a
guerra, o terrorismo, o narcotráfico, a
opressão dos poderosos (palavra usada
no cântico de Maria) contra os mais
fracos, os terremotos e os tsunamis,
também ficam sem resposta adequada.
A não ser que se recorra à Bíblia,
à tradição judaico-cristã. Porém
exatamente os intelectuais oferecem
resistência à explicação teológica da
questão. E ela é formidável.
Imediatamente após a queda, o
Criador decretou: “Porei inimizade
entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). A guerra
entre Deus e o Maligno, entre o bem e o mal, entre os
seres humanos e a serpente foi deflagrada nesse dia e
continua até hoje.
Na página seguinte do livro de Gênesis, lê-se que
uma pessoa foi tomada de inveja por outra, que a
inveja levou à ira e esta, ao crime. O que aconteceu na
ocasião foi mais hediondo do que o crime cometido
no Alabama. O assassino e a vítima eram filhos do
mesmo pai e da mesma mãe. Trata-se de uma tragédia
dupla, pois a morte de Abel foi a estreia da morte e o
primeiro morto não morreu por causa de uma doença
ou de um acidente, mas por causa da violência de Caim
(Gn 4.1-8).
A maior parte das versões usa a palavra inimizade;
outras preferem a palavra hostilidade (BJ, TEB, EP),
e a Edição Pastoral Catequética emprega a palavra
ódio. Seja qual for a tradução, o embate foi declarado
(Gn 3.15) e inaugurado (Gn 4.8) logo no início da
história da humanidade.
O antagonismo entre os seres humanos e o que a
serpente significa acontece na superfície e no mais
íntimo de qualquer ser humano, em qualquer tempo
(a guerra entre o amor e o ódio, entre o escrúpulo e
o desejo maligno, entre a voz da
consciência e os reclames do mal,
entre a educação e o instinto, entre a
sensatez e a loucura, entre a carne e o
Espírito). Esse conflito é a principal
matéria da mídia. Está nos livros de
ficção e de história. É o dia-a-dia de
toda sociedade.
Nessa guerra, a serpente fere o
calcanhar do descendente da mulher
(é bom lembrar que os pés e as mãos
de Jesus foram perfurados pelos
cravos da crucificação, Sl 22.16) e o
descendente da mulher fere a cabeça da serpente (é bom
lembrar a promessa de que o Deus da paz esmagará
Satanás debaixo dos nossos pés, Rm 16.20).
Além de explicar o drama do fracasso e do
sofrimento humano, o decreto do Criador (“Porei
inimizade entre a serpente e a mulher”) é o primeiro
clarão da vitória de Jesus sobre a serpente, sobre as
potestades do ar, sobre a violência, sobre a opressão,
sobre a dor, sobre a doença, sobre a morte e seu irmão
gêmeo, o pecado. Na plenitude desse clarão veremos
a redenção de toda a criação — os novos céus e nova
terra!
Na plenitude dos
tempos, veremos a
redenção de toda a
criação — os novos
céus e nova terra
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 3
4 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
C
omeçamos o ano com os trágicos desabamentos
em Angra dos Reis e o segundo trimestre com os
trágicos desabamentos no Rio de Janeiro e em
Niterói. O que aconteceu com as casas construídas
sobre toneladas de lixo, no morro do Bumba,
em Niterói, nos leva ao final daquele longo sermão que Jesus
proferiu do alto do monte Chifres de Hatim, entre o mar da
Galileia e a cidade de Cafarnaum. Nessa ocasião, Jesus faz
referência a dois tremendos desabamentos.
O primeiro envolve a destruição de um imóvel construído
imprudentemente sem apoio algum. Trocando a palavra “terra”
por “lixão”, o texto relata exatamente o que aconteceu em
Niterói: “[Certo] homem construiu uma casa no lixão, sem
alicerce. Quando a água bateu contra aquela casa, ela caiu logo e
ficou totalmente destruída” (Lc 6.49, NTLH).
O segundo envolve a repentina destruição de um projeto de fé
e esperança construído sem o alicerce necessário. Jesus é a pedra
sobre a qual se constrói a fé e a conduta do crente. Sem esse
fundamento, mais cedo ou mais tarde, a casa desaba.
Se alguém construir o seu edifício religioso sobre a pedra e não
sobre a areia, a terra ou o lixão, mesmo que a água bata contra
essa casa, ela não se abalará nem desmoronará (Lc 6.46-49).
Se é difícil convencer um morador a não construir sua casa
sobre um lugar de risco, quanto mais convencer um pecador a
construir sua fé e sua conduta sobre a pessoa e o ensino de Jesus
Cristo! A possibilidade de acreditar no desmoronamento de uma
casa construída no lixão é difícil; a possibilidade de acreditar no
desmoronamento de uma esperança é muito mais.
É assim que Jesus termina o Sermão do Monte!
Elben César
Desabamentos
Carta ao leitor
ISSN 14153-3165
Revista Ultimato – Ano XLIII – Nº 324
Maio-Junho 2010
www.ultimato.com.br
Publicação evangélica destinada à evangelização
e edificação, não denominacional, Ultimato
relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos
com Escrituras. Visa contribuir para criar uma
mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os
acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende
associar a teoria com a prática, a fé com as obras,
a evangelização com a ação social, a oração com a
ação, a conversão com santidade de vida, o suor de
hoje com a glória por vir.
Circula em meses ímpares
Diretor de redação e jornalista responsável:
Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG
Arte: Liz Valente
Foto de capa: Mark Ford
Impressão: Plural
Tiragem: 35.000 exemplares
Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro
Carlinhos Veiga • Marcos Bontempo
Paul Freston • René Padilla
Ricardo Barbosa de Sousa • Ricardo Gondim
Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese
Valdir Steuernagel
Participam desta edição: Lissânder Dias • Philip
Greenwood • Ricardo Gouvêa • Rodolfo Amorim
Vittoria Andreas
Publicidade: anuncio@ultimato.com.br
Assinaturas e edições anteriores:
atendimento@ultimato.com.br
Reprodução permitida: Favor mencionar a
fonte. Os artigos não assinados são de autoria
da redação.
Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro
da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
Editora Ultimato
Telefone: (31) 3611-8500
Caixa Postal 43
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Administração: Klênia Fassoni • Daniela Cabral
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Editorial e Produção: Marcos Bontempo
Bernadete Ribeiro • Djanira Momesso César
Fernanda Brandão Lobato • Gláucia Siqueira
Paula Mendes • Paulo Alexandre Lobato
Finanças/Circulação: Emmanuel Bastos
Aline Melo • Cristina Pereira • Daniel César
Edson Ramos • Luís Carlos Gonçalves
Rodrigo Duarte • Solange dos Santos
Vendas: Lúcia Viana • Lívia Moraes
Lucinéa Campos • Romilda Oliveira
Sabrina Machado • Vanilda Costa
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Jamille Filgueiras • Juliani Lenz • Thales Moura Lima
fundada em 1968
4 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 5
6 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Pastorais
68.
“Eu era fariseu...”
O
testemunho de conversão de Paulo ganha
muito mais realce na Nova Tradução na
Linguagem de Hoje: “Eu era fariseu... Eu
era tão fanático, que persegui a Igreja”
(Fp 3.5-6).
Lembrar a sua militância dentro do partido religioso
e político dos fariseus foi um ato de extrema coragem
de Paulo. Jesus denunciou essa seita judaica com
grande veemência, principalmente num dos seus
últimos discursos. No capítulo 23 de Mateus, ele
os chama abertamente de hipócritas sete vezes. Os
fariseus explicam a lei de Moisés, mas “não fazem o que
ensinam” (v. 3). Amarram fardos pesados nas costas dos
outros, mas não os ajudam “nem ao menos com um
dedo a carregar esses fardos” (v. 4). Copiam e amarram
na testa e nos braços trechos das Sagradas Escrituras
só para serem notados pelos outros (v. 5). Adoram
ser tratados com respeito e chamados de mestres nos
espaços públicos (v. 7). Trancam a porta do reino do
céu, não entram “nem deixam que entrem os que estão
querendo entrar” (v. 13). Exploram as viúvas, roubam-
lhes os bens e, “para disfarçarem, fazem longas orações”
(v. 14). Atravessam os mares e viajam por todas as terras
fazendo proselitismo e, quando alguém se converte,
“tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do
inferno” do que eles mesmos (v. 15). Ensinam uma
porção de coisas inexatas, dão o dízimo até da erva-
doce, “mas não obedecem aos mandamentos mais
importantes da lei” (v. 23) e têm o vício de coar
mosquitos e engolir um camelo (v. 24). O pior de tudo
é que os fariseus fazem questão de lavar o copo e o
prato só por fora, deixando dentro deles as coisas que
“conseguiram pela violência e pela ganância” (v. 25). Ao
dizer que os fariseus eram “como túmulos pintados de
branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro
estão cheios de ossos e podridão” (v. 27), Jesus poderia
ter usado o dito popular “Por fora, bela viola; por
dentro, pão bolorento” ou o seu correspondente “Por
fora, muita farofa; por dentro, não tem miolo”.
Certamente, Paulo, nem mesmo antes da sua
conversão, tinha essas características próprias dos
fariseus. Porém viajava de cidade em cidade para
desconverter os cristãos. Ele mesmo conta ao rei
Agripa: “Durante muito tempo eu os castiguei em
todas as sinagogas e os forcei a negar a sua fé. Tinha
tanto ódio deles, que até fui a outras cidades para
persegui-los” (At 26.11).
Não é fácil mudar de vida. Não é fácil deixar de
lado estilos de vida herdados, ensinados, aprendidos,
experimentados, adotados, vivenciados e arraigados
por muitos anos. Também não é fácil livrar-se de
certas dependências, como a dependência do álcool,
da maconha, da cocaína, da pornografia. Não é
nada fácil mudar de comportamento, do ódio para o
amor, do egoísmo para o altruísmo, da soberba para a
humanidade, do pão-durismo para a mão aberta. Não
é nada fácil mudar de posição religiosa, do ceticismo
para a fé, da indiferença para o fervor, da ignorância
para as convicções, da irreverência para o temor do
Senhor.
Todavia, além do exemplo de Paulo, a história
bíblica e a história moderna estão cheias de mudanças
reais e definitivas. No último instante de vida, um
dos ladrões crucificados ao lado de Jesus deixou de
escarnecer do Senhor (Mt 27.44) e passou para o lado
dele (Lc 23.39-43). Paulo garante que muitos cristãos
de Corinto, na Grécia, o elo entre Roma, a capital de
império, e o Oriente, eram ex-adúlteros, ex-alcoolistas,
ex-assaltantes, ex-fofoqueiros, ex-homossexuais ativos e
passivos, ex-trapasseiros. Todos foram poderosamente
alcançados pela graça especial de Deus, lavados,
justificados e santificados em Cristo Jesus
(1Co 6.9-11).
Ainda há esperança para homens e mulheres de
qualquer lugar, de qualquer idade e de qualquer
situação. Muitos ainda podem vir a declarar como
Paulo: “Eu era fariseu... Eu era tão fanático, que
persegui a Igreja”.
JosepAltarriba
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 7
24 A turma de Jesus
26 Os porta-vozes
26 Os familiares
27 Os empolgados
28 Os acompanhantes
28 Os agradecidos
30 Os protetores
31 Os continuadores
32 Os redimidos
3 Abertura
4 Carta ao leitor
6 Pastorais
8 Cartas
12 Frases
14 Mais do que notícias
16 Nomes
17 Notícias
18 Números
38 De hoje em diante...
40 Altos papos
42 Meio ambiente e fé cristã
43 Caminhos da missão
44 Novos acordes
56 Vamos ler!
59 Deixem que elas mesmas falem
CAPA
SEÇÕES
Leia mais
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Sumário
ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia
de Jerusalém; BP – A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia
Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil; EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral -
Catequética; NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje;
TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas
não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista
e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova
Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
Especial
34 Cristo é mais!, Ricardo Quadros Gouvêa
36 Pedofilia e perdão
Da linha de frente
46 Os braços de Fábio, Bráulia Ribeiro
Missão integral
47 Jesus Cristo, Senhor de tudo
e de todos, René Padilla
Ética
48 Espiritualidade cristã e vida
intelectual: alguns modelos
históricos, Paul Freston
O caminho do coração
50 Coração compungido e contrito,
Ricardo Barbosa de Sousa
Reflexão
52 50 anos de crente: 1960-2010
(parte 2), Robinson Cavalcanti
54 Graça, Ricardo Gondim
Redescobrindo a Palavra de Deus
57 Chamados para expulsar
demônios: denúncia de morte,
anúncio de vida, Valdir Steuernagel
História
60 Flertando com o adversário: os
evangélicos e a teologia liberal,
Alderi Souza de Matos
Entrevista
62 A primeira missão da igreja é
“desglorificar-se” para glorificar a
Deus, Ronaldo Lidório
Ponto final
66 E que governe bem a própria casa,
Rubem Amorese
8 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Deus não está calado!
Deus não está calado! é uma das melhores matérias
de capa de Ultimato. É bom saber que Deus
continua levantando verdadeiros profetas, fiéis à
ortodoxia e de inquestionável lucidez intelectual.
Aproveito para citar o “quinto elemento”, o caçula
do grupo, também anglicano. Alister McGrath, ex-
ateu, seguidor de Lewis, biofísico e teólogo, é autor
de obras como O Delírio de Dawkins, Como Lidar com
a Dúvida, Uma Introdução à Espiritualidade Cristã e
outras. Vale a pena conhecer.
Antônio Márcio da Cunha,
Belo Horizonte, MG
A edição de março/abril é uma das melhores de
todos os tempos. A matéria de capa, Deus não está
calado!, é profunda e singular. Em 2007, morei na
Inglaterra e pude experimentar o que é viver em
um país pós-cristão. Também tive experiências
maravilhosas que enriqueceram meu ministério.
Visitei a casa e museu de John Wesley, estive na
igreja de Charles Spurgeon e, apesar de tudo, vi
que naquele país ainda há pessoas comprometidas
com o reino de Deus. Precisamos orar mais pela
Inglaterra e por toda a Europa.
Daniel Moda Júnior, Mogi Mirim, SP
Teologia da surpresa
A respeito do artigo Teologia da surpresa
(“Abertura”, março/abril de 2010), realmente é
uma surpresa terrível quando se perde, no meu
caso, uma filha querida, Adriana Francisca van
Sluys, que morreu em 31 de maio de 2009 no
acidente com o voo da Air France. Ao longo das
investigações, que tenho acompanhado de perto,
ficou claro que o airbus (e não o boeing, como
está escrito) falhou porque seu elevado grau de
automação, ou seja, a eletrônica, não deixou lugar
para a intervenção manual humana. Em condições
atmosféricas instáveis, a dependência da ciência
foi tão “soberana” que a dádiva de Deus, ou seja,
o raciocínio — que poderia ter evitado a tragédia
—, foi posta de lado. Assim como o profeta Isaías,
poderíamos repetir: “Faço tornar atrás os sábios,
cujo saber converto em loucura” (Is 44.25). Até
quando?
Martem van Sluys, Fortaleza, CE
Por que não sou de esquerda
Nenhum cristão precisa se declarar conservador
ou de esquerda. Para defender causas nobres,
basta ser cristão. Falar dos assassinatos dos
hitleristas-nazistas ou dos comunistas e tratá-los
como ciclo diabólico (o que de fato são), sem
mencionar os mesmos atos dos capitalistas, dos
ditadores militares latino-americanos, também é
diabólico.
Pedro Virgílio, Serrinha, BA
Mostrando um desconhecimento sociológico
gritante, Norma Braga restringe o pensamento
esquerdista ao malfadado stalinismo de viés
soviético. Não cita as variações existentes no
universo esquerdista, como o trabalhismo, a
social-democracia, o anarquismo, o socialismo
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Cartas
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 9
democrático etc. Para ela, o mundo é dividido de
forma dual. Ou se é fã do falido capitalismo laissez-
faire, ou se cultua o ineficiente regime estatizante
norte-coreano. No universo de Norma não há
uma Dinamarca, que historicamente une o que há
de melhor no capitalismo e no socialismo. Para
piorar, os argumentos bíblicos são sofríveis, não
merecendo sequer uma linha para refutá-los.
André de Oliveira, São Paulo, SP
O texto de Norma Braga chega a ser simplório.
Como ela não aponta os crimes e investidas contra
o projeto de Deus para a humanidade perpetrados
pelos regimes de direita, pelos conservadores de
sempre e pelo sistema capitalista, não dá para
discutir um mínimo denominador comum sobre
posições possíveis ao cristão no exercício de sua
cidadania e de opções no quadro político-partidário.
Da minha parte, tenho tranquilidade em dizer que,
graças a Deus, sou de esquerda, sem pretender
absolutizar minha posição. A rigor, cristãos de
direita e de esquerda são chamados pelo Pai
eterno a uma lealdade infinitamente superior e
distinta daquela que podemos assumir em relação
a partido, facção, ideário, afeição ou inclinação e
mesmo a qualquer grupo. No céu não haverá tais
distinções. Enquanto não chego lá, sendo brasileiro,
latino-americano, afrodescendente e com o
conhecimento e a trajetória de vida que tenho,
digo com todas as letras: sou cristão, de tradição
reformada e presbiteriana, e sou de esquerda. É
simples assim.
André Martins, Sobradinho, DF
Adorei o artigo de Norma Braga. Que venham outros
da lavra dela.
Eduardo Vaz, Nova Lima, MG
Norma Braga não soube expressar bem sua
consciência cristã. A origem dos termos direita e
esquerda remonta à Revolução Francesa, em que
os do clero (Primeiro Estado) e os da nobreza
(Segundo Estado) se sentavam à direita do rei
e eram favoráveis a todas as decisões que
eles mesmos tomavam. Os mais radicais, que
normalmente eram contra as decisões, ficaram
conhecidos como “os da esquerda”, pois se
sentavam à esquerda do rei — eram os membros
do Terceiro Estado (e não eram do clero nem da
nobreza). Assim, a esquerda geralmente implicava
apoio a uma mudança social com o intuito de criar
condições para uma sociedade mais igualitária,
apoiando a república e a secularização do Estado.
No Brasil, existe uma enorme parcela de nossos
patrícios que, há quinhentos anos, vive à margem da
sociedade. Porque, como em todo governo humano,
“o sistema trabalha a favor daqueles que detêm o
poder e a influência para mudá-lo” (Bell e Golden,
em Jesus Quer Salvar os Cristãos).
Paulo da Anunciação, Maringá, PR
Se o artigo de Norma Braga fosse Por que não
sou de algumas esquerdas, eu, honestamente,
permaneceria calado. Como não foi o caso, acho
difícil me segurar. Todas as vezes que o cristianismo
falou com voz política, falou grosso, pela boca
de reis, do clero e de governos que muitas vezes
esmagaram os mais pobres. Da mesma forma,
alguma possível esquizofrênica “esquerda única
cristã” faria as mesmas ou piores atrocidades, com
a mesma legitimidade, caso estivesse no poder. Ou
seja, não há lado bom quando se mistura Estado e
ideologia religiosa oficial. Por isso, também tenho
minhas dúvidas sobre a esquerda — mas ela dá um
banho na direita.
André Soares, Niterói, RJ
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10 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
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Carta aberta
Obrigado pela coragem e ternura de Ultimato.
Apoio integralmente a linha editorial da revista, sua
política de distribuição e seu quadro de articulistas.
Osmar Ludovico, Lauro de Freitas, BA
Aprecio a visão de reino de Ultimato. Ela não se
restringe a batistas, presbiterianos, metodistas ou
qualquer outra denominação. É triste ver o tempo
que a igreja perde com briguinhas por coisas
pequenas. Se esse esforço fosse gasto para amar
os não salvos, o cristianismo no Brasil seria mais
verdadeiro.
Fernanda Siqueira, Belo Horizonte, MG
A propósito da Carta aberta (também franca e
dolorida), digo apenas: prossigam! O preconceito
é um veneno terrível. Mas o evangelho de Jesus
Cristo vale a pena!
Antônio Carlos Santini,
Belo Horizonte, MG
A Carta aberta está bem pontuada, transparente e
participativa. Ministérios amplos e influenciadores,
como o de Ultimato, serão sempre objetos de
observação, participação, elogios e críticas. Há três
coisas a fazermos em relação às críticas. Primeiro,
não as jogarmos fora, pois mesmo aquelas feitas
sem motivação cristã, ou impulsionadas pelo desejo
do puro questionamento, podem conter alguma
verdade útil a nosso respeito. Portanto, o Senhor
pode transformá-las em sinais que guiam. Segundo,
não dormirmos com a crítica. É necessário avaliá-la
na presença Deus, com coração aberto — observar
sua consistência, conversar com amigos a respeito
e tomar atitudes necessárias. Porém, dormir com
ela pode gerar uma ansiedade crônica no coração,
que entristece e pode nos paralisar. Terceiro,
não nos tornarmos críticos. As pessoas mais
críticas que conheço foram muito criticadas no
passado. Ataques com críticas não apenas abatem
e destroem o alvo das mesmas, mas também têm o
potencial de criar os neocríticos, que, a partir dos
mecanismos de defesa sempre aguçados, vivem em
guerra e não descansam em Deus.
Ronaldo Lidório, Manaus, AM
Totalmente desnecessária a Carta aberta. Não
permitam que pessoas com boas ou más intenções
atrapalhem a grande obra de vocês. Não percam
o foco nem olhem para trás. Ultimato tem que ir
em frente, do jeito que ela sempre foi: coerente,
coerente e coerente. O Grande General de Ultimato
é Cristo!
Wilson de Oliveira Jr., Recife, PE
Foi bom terem publicado a Carta aberta, mas não
se preocupem com os críticos. A orientação que
sempre dou é: ouça as críticas e veja se alguma
coisa pega. Se não, esqueça-as; se pega em
algo, procure corrigir e corrigir-se. Nos casos
mencionados na Carta aberta, é evidente que,
em geral, as críticas vêm de gente fanática, ou
estreita, ou maldosa, ou invejosa, ou ignorante.
Devemos dar graças a Deus quando recebemos
críticas por sermos fiéis.
Odayr Olivetti, Águas da Prata, SP
Somos um rebanho (com ovelhas de todos os tipos)
ou uma tropa, em que é proibido pensar além dos
coronéis? Parabéns, Ultimato. Não se cale.
Daniela de Souza, Goiânia, GO
Assustei-me com a Carta aberta. É lamentável que
as pessoas tenham o trabalho de atirar pedras em
quem faz um trabalho sério e comprometido com o
Senhor! Continuem firmes. Vocês são sérios. Se há
Cartas
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 11
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erros, credite-se na conta da humanidade de cada
um de nós, sujeitos a isso. Mas não desanimem.
Vocês não apresentam uma revista espiritualizada,
como se fôssemos extraterrestres, mas espiritual
e dirigida ao mundo em que vivemos, à realidade
de nossas comunidades, que nem sempre são os
sonhos da igreja que Deus idealizou para nós. Os
autores são corajosos e talvez isso assuste alguns
leitores.
Nancy Dusilek, Rio de Janeiro, RJ
Minha sugestão é que Ultimato não dê importância
às críticas. Que siga sendo o que é. Que publique
o que acha que deve publicar, à luz da direção de
Deus. Só peço que pare de mentir para si mesma
e para todos nós, alegando ser um periódico
cristocêntrico e reformado, já que ficou claro que
nem uma nem outra afirmação é verdadeira. A
revista adota uma teologia plural, não reformada,
e abriga autores que não engrandecem a Jesus
Cristo — o que a impede de se caracterizar como
cristocêntrica.
Alex Meimaridis,
São João da Boa Vista, SP
Conheço a revista Ultimato desde o final da minha
adolescência. Assino porque é uma revista de
linha editorial equilibrada, não deprecia ninguém,
é honesta nas avaliações e busca ser caridosa
nas críticas. Porque é capaz de reconhecer que
há conhecimento e ciência além das Escrituras,
e que ciência e fé cristã não são inimigas nem
adversárias, ainda que existam pontos focais de
tensão. Porque não fica na mesmice e porque busca
estimular respostas a novas questões, rever as
antigas e reafirmá-las, se assim for considerado
correto. Porque tem sido um dos recursos para
minha santificação pessoal, desafio intelectual
e elaboração de ideias. Há críticas irritantes,
críticas pobres, críticas analfabetas e críticas
razoáveis e sensatas. Estas últimas são úteis no
conhecimento; as primeiras, para o exercício de
uma santa paciência; as segundas, para o exercício
da oração; as terceiras para o exercício da
reflexão sobre como alfabetizar biblicamente quem
não tem condições de o ser. Continuem buscando
acertar, mesmo que errando. Continuem a buscar
articulistas que sacudam visões envelhecidas e
inúteis e nos apontem caminhos para um evangelho
integral.
Eduardo Mundim, Belo Horizonte, MG
12 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
“Por meio do mecanismo da sedução, o Diabo tornou o automóvel um
objeto de desejo humano, pois o carro nos dá um onipotente sentimento
de liberdade: locomovo-me quando quero, para onde quero e com quem quero!
Jorge Wilheim, arquiteto e urbanista, ex-secretário estadual de Meio Ambiente
do Estado de São Paulo
“As armas nucleares são um perigo
para todo o mundo, mas são também
uma razão para que potências nucleares não
façam mais guerras entre si.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da
Ciência e Tecnologia
“Estamos pensando em ajudar pessoas
que serão ricas daqui a cem anos,
mas deixando de ajudar as pessoas pobres
que estão aqui agora. Este é, para mim, o
grande dilema ético: nós nos importamos
tanto com os ricos do futuro e tão pouco
com os pobres do presente.
Bjorn Lomborg, cientista político
dinamarquês
“Omonge não busca o paraíso pela “fuga
mundi”. A clausura não é tanto uma
questão física. É mais uma questão espiritual,
de silenciar o coração para ter foco na
espiritualidade.
Carlos Eduardo Uchôa, reitor do Colégio e
Faculdade São Bento
“Aúnica saída para Brasília seria chover
muito fogo e muito enxofre por lá.
Rene G. Santana, de Jundiaí, SP, em carta à
Folha de São Paulo
Na sala do conselho Sem princípios, os crentes perdem a vitalidade; “o que salva é ter muitos conselheiros” (Pv 11.14).
”
”
”
”
”
FRASES
José Carlos Barcellos — Vivemos
uma crise de valores na qual
bem e mal, salvação e perdição,
apresentam-se inextrincavelmente
misturados e confundidos.
Sônia Rodrigues — Pecar ocupa
tempo e dá trabalho.
Ariovaldo Ramos — Ética é isto: a
coerência entre o meio e o fim.
Ser ético, então, para a igreja, é ser
coerente na história, em meio à
sociedade, com a complexidade de
sua natureza e finalidade.
N. T. Wright — Santidade não é
simplesmente uma questão de
encontrar o caminho por onde
Deus quer que andemos. Também
não é obediência a regras arbitrárias
ou ultrapassadas. Santidade é
uma questão de transformação, a
começar pela mente.
Rikk Watts — O amor ao poder é a
maior tentação que enfrentamos.
Desenhar círculos para determinar
quem fica dentro e quem fica fora
é uma forma sutil de exercício do
poder.
Isidoro Mazzarolo — A preguiça é
sempre uma forma de agir que cria
dificuldades e acúmulos de peso
sobre o outro.
“Devemos procurar mais gente para indicar o caminho certo e menos gente
para mostrar o que está errado. Mais gente para investir em missões e
menos gente que gasta muito com gatos e cães.
Jeremias Pereira da Silva, pastor da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte”
Arquivopessoal
GermanLorca
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 13
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14 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Cartunista coloca veneno na imaginação
dos teenagers e se manda
F
oi na Folhateen, o
caderno semanal da
Folha de São Paulo
dedicado ao público teena-
ger — adolescentes entre
13 e 19 anos. Na última
página da edição de 15 de
fevereiro de 2010, estava
escrito, entre outras coisas:
“Afinal, pra que serve o
casamento? Antigamente
as pessoas se casavam por-
que estavam desesperadas
para fazer sexo com o seu
par. Mas hoje, segundo
sérios estudos, 99,63568%
dos jovens perdem a vir-
gindade antes do casamen-
to. Os outros 0,36432%
não quiseram dar de-
poimento. Concluímos,
então, que o matrimônio
perdeu todo o sentido. Se
casamento fosse bom, não
precisava de testemunhas.”
“Antes de cometer a
besteira de casar, conheça
o pai ou a mãe do seu
parceiro para saber como
ele vai ficar depois de con-
trair o matrimônio. Veja
o tamanho da pança do
sogro e onde foram parar
os seios da sogra. Digamos
que o casamento é uma
fábrica de monstros.”
“Se você pode ter inú-
meros parceiros, porque
diabos vai escolher ter um
só?”
“O casamento é uma
sociedade. Funciona co-
mo uma empresa. Tem um
contrato, com assinaturas,
rubricas, cláusulas, deveres,
obrigações e carimbos de
todas as cores. Quando
essa empresa quebra é
muito provável que seu
“sócio” vire seu arqui-
inimigo. Lembre-se de
que o casamento é que
nem submarino. Pode até
boiar, mas foi feito para
afundar.”
Quem assina o tex-
to, ilustrado com vários
desenhos, é o cartunista
gaúcho Adão Iturrusgarai,
de 45 anos. No final da
página, há uma nota: “Isto
é um texto de humor,
entendido?”
+DO QUE NOTíCIAS
O crime desse Adão
lembra o crime daquele
inimigo que, de noite,
enquanto todos dor-
miam, entrou na lavoura
alheia, semeou joio no
meio do trigo e se foi
(Mt 13.25). Depois de
semear veneno na ima-
ginação e na memória
de meninos e meninas, o
artista dá uma explicação
e se manda. E todos o
aplaudem, inclusive os
pais dos teenagers. Isso
faz parte do tal antago-
nismo entre a serpente e
os seres humanos.
(VejaCaimeaneurocientista
do Alabama, pág. 3.)
MichalZacharzewski
KrissSzkurlatowski
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 15
CNBB começa a
distribuir 1 milhão de
Bíblias no país
A
igreja nem sempre
erra. Costuma acer-
tar e tomar a diantei-
ra na solução de alguns
problemas.
Desde que foram
implantadas no Brasil, a
partir da segunda metade
do século 19, as igrejas
evangélicas de missão
eram contrárias ao fumo.
Antes de ser batizado nas
igrejas congregacionais
presbiterianas, metodistas e
batistas, o novo convertido
era encorajado a deixar de
fumar. Mais tarde, quando
chegaram os primeiros
pentecostais (Assembleia
de Deus e Congregação
Cristã do Brasil), a mesma
medida foi adotada.
Milhares de fumantes
brasileiros abandonaram o
vício (como era chamado).
Alguns tiveram dificuldade
e demoraram anos para se
livrar dos cigarros. Por causa
do ensino da igreja e do
exemplo dos pais, uma enor-
me quantidade de adolescen-
tes e jovens nunca se iniciou
no tabaco. E como há uma
relação entre a dependência
do fumo e a de substâncias
ilícitas, a vantagem foi maior
do que se esperava. De algu-
ma forma, esse comporta-
mento livrou muitas pessoas
do câncer, de outras doenças
e da morte, além de oxigenar
o ambiente.
O que o evangelho fez
e ainda faz, é feito hoje
pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) e pelo
Ministério da Saúde, por
meio de muitas leis, muita
propaganda e muitos gastos.
E também com bons resulta-
dos — cerca de 21 milhões
de brasileiros deixaram de
fumar nas últimas duas
décadas.
N
o dia 6 de março foi
lançado em Teresina,
no Piauí, o Projeto
Um Milhão de Bíblias,
desenvolvido pela Confe-
rência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB) em
parceria com a Comissão
para a Missão Continental
no Brasil. O objetivo da
companhia é levar a Palavra
de Deus a todos os brasilei-
ros que não têm condições
de comprar a Bíblia.
A doação de 1 milhão
de Bíblias não será feita
de qualquer jeito. Cada
diocese ou arquidiocese terá
de apresentar um projeto
de evangelização para ser
analisado por uma comissão
responsável. Se aprovado,
a diocese receberá quantas
Bíblias forem necessárias,
acompanhadas de outros
itens (uma Bíblia infantil,
um pequeno catecismo e
um livreto sobre a iniciação
à leitura da Bíblia).
É oportuno lembrar que
a evangelização do Brasil
começou com a introdução
da Bíblia no país por meio
dos chamados colportores
(distribuidores de Bíblia).
Provavelmente, a primeira
+DO QUE NOTíCIAS
remessa das Escrituras em
língua portuguesa ocorreu
em 1712, quase 150 anos
antes da chegada do primei-
ro missionário protestante.
Foram 150 exemplares do
Evangelho de Mateus, na
tradução de João Ferreira
de Almeida, impressos em
Amsterdã e publicados pela
Sociedade Promotora da Re-
ligião Cristã. Os Evangelhos
estavam a caminho de Goa,
colônia portuguesa encra-
vada no sul da Índia, mas o
navio holandês que os trans-
portava foi surpreendido
por uma esquadra francesa e
veio parar no Brasil.
A partir de 1818, a dis-
tribuição da Bíblia no Brasil
passou a ser feita efetiva-
mente por meio dos agentes
das duas sociedades bíblicas
existentes — a britânica e a
americana. Organizada em
1948, a Sociedade Bíblica
do Brasil, em menos de
60 anos (de 1948 a 2007),
colocou em circulação quase
70 milhões de Bíblias, mais
de 13 milhões de Novos
Testamentos, mais de 104
milhões de Porções Bíblicas
e quase 4 bilhões de Seleções
Bíblicas.
O que o Ministério da
Saúde faz hoje
as igrejas
evangélicas
já faziam
ontem
16 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Adília e Binho
Arquivopessoal
O “bebadozinho” de Itaguaí
P
arece que ninguém
sabe ao certo o
nome do pastor.
Chamam-no Binho. É pas-
tor Binho prá lá e pra cá.
E Binho não é o diminu-
tivo do seu nome, mas de
“bebinho”, uma corruptela
de bebadozinho. Como é
possível chamar um pastor
de 45 anos de um nome
que lembra o estado de
embriaguez de alguém que
bebe demais? A história,
porém, justifica o apelido
e traz sempre à lembrança
uma graça de Deus que
sua mãe não quer esquecer.
Jorcelino da Silva, o
Binho, é o sexto filho de
Adília da Silva. Nasceu em
Itaguaí, no Estado do Rio
de Janeiro, no dia 11 de
fevereiro de 1965. O bebê
parecia normal. Nos três
primeiros meses, seu peso
aumentava 200 gramas por
semana. Nos três seguin-
tes, baixou para 120 por
semana, como costuma
acontecer. Porém, quando
chegou a hora de sentar-
se no berço, apoiando-se
em algum encosto, o bebê
não conseguiu. A mãe
pensou que fosse preguiça
do moleque. Chegou o
décimo mês de vida e a
criança não se firmava, não
engatinhava nem ficava
de pé. Foi a partir daí que
a própria mãe passou a
chamá-lo carinhosamente
de “meu Bebinho”.
Adília levou o filho ao
médico. Ele constatou que
a criança havia nascido
com um tipo delicado de
paralisia e a encaminhou
para o Hospital Pediátrico
Menino Jesus, na Vila
Isabel, no Rio de Janeiro.
Apesar das responsabilida-
des domésticas e dos ou-
tros cinco filhos, a piedosa
mulher, dia sim, dia não,
tomava o trem, na época
conhecido como Cacare-
co, e chegava ao hospital
às oito horas da manhã.
A criança era levada para
dentro e fazia o tratamento
de fisioterapia disponível
na época. Adília perma-
necia do lado de fora. Ao
meio-dia, um atendente
levava-lhe um lanche e às
quatro da tarde ela pegava
o Cacareco de volta para
Itaguaí. Essa rotina durou
quatro anos e o querido
“Bebadozinho” começou a
andar. Para dar continui-
dade ao tratamento, a mãe
levava o garoto à praia para
caminhar, correr e brincar
na areia, o que fortalecia
cada vez mais os músculos
da perna. Nessa mesma
época, Adília adotou um
menino sem lar e lhe deu o
Nomes
nome de Moisés, porque o
tinha tirado não das águas,
mas da rua. Apesar de ter
se recuperado do problema
sem nenhuma sequela, o
apelido de Binho ficou.
Há 22 anos servindo
ao Senhor, primeiro como
evangelista (de 1991 a
2001) e depois como mi-
nistro ordenado, Jorcelino
Silva é hoje pastor da Igre-
ja Presbiteriana do Cal-
vário, em Sorocaba, São
Paulo. Casado com Léia
Simioni da Cunha e Silva,
sua colega no Instituto
Bíblico Eduardo Lane, em
Patrocínio, Minas Gerais,
e obreira da mesma igreja,
o pastor Binho é também
graduando em psicologia
pela Universidade Paulista.
Tal história pode ser
contada a propósito do
Dia das Mães, no segundo
domingo de maio.
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 17
Biografia de Marina
Silva terá 100 mil
exemplares
Será lançada em junho uma das
biografias com maior tiragem em
2010: Marina, que conta a história
da senadora Marina Silva (PV-AC).
Escrito pela jornalista evangélica
Marília de Camargo César, o livro
será publicado por uma editora
também evangélica (Mundo Cristão)
e terá uma tiragem inicial de 100 mil
exemplares.
A autora do livro disse à Folha de
São Paulo que “Marina chorou várias
vezes nas entrevistas”. Com formato
de livro-reportagem, Marina conta
a história da senadora desde a vida
no seringal, a luta pela saúde, o ingresso em movimentos militantes,
a carreira política e a luta em favor do meio ambiente. O prefácio
é do cineasta Fernando Meirelles, que define Marina como “boa
escutadora, [que] conhece e respeita o peso das palavras e as usa com
coerência, precisão e propósito”. Segundo Mark Carpenter, diretor
da editora Mundo Cristão, o livro vem sendo produzido há dois anos,
época em que o contrato foi assinado e quando a senadora ainda era
ministra do Meio Ambiente.
A trajetória de Marina não é marcada apenas pela luta política, mas
também pela debilidade física (foi vítima de hepatite, leishmaniose
e consequente contaminação com mercúrio) e por uma profunda
transformação espiritual (queria ser freira, mas se tornou evangélica da
Igreja Assembleia de Deus).
Um dos capítulos do livro traz o depoimento de Fábio Vaz, esposo
de Marina. Ele conta como ela deixou o ateísmo marxista e retornou
à fé cristã. “Ela chegou a me dizer que Deus não existia. Ela diz
hoje que, no fundo, acreditava em Deus, mas publicamente defendia
que a religião era a utopia do povo. Aquele discurso marxista era de
consenso. Todos aderiram a isso. A gente se converteu a essa visão;
era o que todos nós consumíamos”, afirma.
Em entrevista à revista TPM (13 de novembro de 2009), Marina
afirmou nunca ter sofrido preconceito por causa da cor, por ser
pobre ou por ter trabalhado como empregada doméstica. Mas por
ser evangélica, sim. “As pessoas têm uma visão preconcebida [...].
Preconceito é quando você generaliza uma coisa: se você é evangélico,
é conservador.”
NOTíCIAS
18 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
NÚMEROS NOTíCIAS
Marrocos intensifica
deportações de missionários
Uma onda de deportações tem atingido o trabalho
missionário no Marrocos. Segundo o missionário brasileiro
Estevão Ibrahim (pseudônimo), desde o fim de 2009 cerca
de sessenta missionários evangélicos foram deportados pelo
governo do Marrocos, sob a acusação de proselitismo. Em
um único dia, vinte pessoas foram mandadas de volta para
seus países de origem. É o caso de um missionário inglês
que estava há dezoito anos entre os marroquinos. Por falar o
árabe local e ensinar o árabe clássico, era considerado um dos
missionários mais respeitados. Até obreiros que cuidavam de
crianças órfãs tiveram de abandoná-las por serem obrigados a
deixar o país.
Estevão Ibrahim morou de 2003 a 2005 no Marrocos e
conta que, ao contrário das estatísticas mais otimistas que
estimam 10 mil crentes, o país conta com apenas cerca de
setecentos evangélicos. Isso porque as igrejas são, em sua
maioria, clandestinas, o que não permite fazer estimativas
exatas. “Creio que essa onda de deportações é um alerta
de Deus para os cristãos em Marrocos”, afirma. Outro
missionário brasileiro, que não quis revelar o nome, tem a
mesma opinião: “Deus está agindo e, ao vermos missionários
sendo expulsos, pode bem ser o caso de estarmos presenciando
uma nova realidade: a pequena igreja marroquina terá de
corajosamente assumir a sua responsabilidade dentro de
seu próprio país. Ao longo da história os planos de Deus
prevalecem, seja a que custo for. Mesmo a preço de cruz”.
Marrocos é uma monarquia e está localizado no extremo
noroeste da África, na fronteira com a Espanha. É um país
com 99% da população islâmica.
79.000
crianças de seis anos não
conseguiram passar do primeiro
para o segundo ano nas
escolas brasileiras em 2008
(a porcentagem é pequena: 3,5%
dos matriculados).
419.200.000
reais foi a arrecadação com
multas de trânsito em 2009
só na cidade de São Paulo, um
aumento de 25% sobre o ano
anterior.
34.000
brasileiros morrem por ano em
acidentes de trânsito (média
de uma morte para cada 260
veículos).
85.000.000
de habitantes da União Europeia
estão de braços dados com a
pobreza (uma família com ganhos
inferiores a 60% da renda média
do seu país é considerada pobre
na Europa).
40.000
toneladas de alimentos vão para
o lixo diariamente no Brasil.
273.000
casamentos foram celebrados na
França em 2007. No mesmo ano,
o número de divórcios foi quase
a metade: 135 mil. No Brasil,
também em 2007, houve 916 mil
casamentos e 152 mil divórcios.
Vista de mercado popular em Jemaa El Fna, Marrakech
revistaPovos
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 19
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20 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Evangélicos
ajudam 10º
município mais
pobre do Brasil
“Jesus Cristo, nosso
fundamento” — esse é o
lema estampado no barco da
Associação Pró-Ribeirinho. Pelas
águas dos rios que banham o
município de Portel, PA, no extremo norte do Brasil, equipes missionárias chegam a
dezenas de pequenas aldeias isoladas e levam literatura bíblica, oferecem atendimentos
médicos, desenvolvem projetos comunitários para geração de renda e investem na
alfabetização de adultos e no reforço escolar de crianças. Os beneficiários são os
chamados ribeirinhos, moradores tradicionais das margens dos rios. “Somos enviados
para que nos identifiquemos com as pessoas, pois Jesus Cristo se identificou conosco”,
diz o pastor Luiz Fernando Oliveira, presidente da associação.
Portel é o 10º município mais pobre do Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de analfabetismo chega a 44% e 78% da sua
população vive abaixo da linha de pobreza.
O projeto Pró-ribeirinho enviou sua primeira equipe em 1993. Graças a ele, dez igrejas
evangélicas já foram plantadas no município. A iniciativa tem o apoio da Aliança
Missionária da Suíça e da Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil (AICEB).
Uma das igrejas organizadas no município
de Portel pela Associação Pró-Ribeirinho
NOTíCIAS
APR
Cristãos
asiáticos buscam
aproximação com
brasileiros
A Sealink, rede de plantio de igrejas
para o sudeste asiático, e a Associação
de Missões Transculturais Brasileiras
(AMTB) vão promover uma consulta
missionária entre os dias 16 e 18 de
novembro, em São Paulo. Sete líderes do
sudeste asiático, especialistas em plantio
de igrejas, querem dialogar com pastores,
líderes de departamentos de missões,
professores, missionários e diretores de
agências missionárias. A ideia é construir
pontes de comunicação e de trabalho
entre as lideranças brasileira e asiática.
A expectativa da AMTB é que, a partir
desse encontro, surjam oportunidades
de trabalho missionário para a igreja
brasileira no sudeste asiático. Informações:
www.consultamissionaria.com.
Site explica como
as igrejas devem
tratar as crianças
O recém-lançado hotsite da Campanha
Latino-Americana pelos Bons Tratos da
Criança no Brasil traz um farto material
sobre como cristãos e igrejas devem tratar
as crianças. Entre os recursos disponíveis
é possível encontrar estudos bíblicos,
artigos, notícias, um guia metodológico
da campanha e um questionário para
as igrejas locais avaliarem como estão se
relacionando com as crianças. O endereço
é www.maosdadas.org/bonstratos.
A violência infantil é um problema
mundial. As Nações Unidas estimam que
de 133 a 275 milhões de crianças em
todo o mundo testemunham violência
doméstica anualmente. A Organização
Mundial de Saúde calculou, usando
dados nacionais limitados, que quase 53
mil crianças morreram em todo o mundo
em 2002 em decorrência de homicídios.
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 21
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22 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Brasileiro é eleito diretor
de divisão da Aliança
Batista MundialO pastor e professor Raimundo César Barreto foi eleito
em março deste ano diretor da Divisão de Liberdade e
Justiça da Aliança Batista Mundial (ABM, www.bwanet.org). Barreto é a primeira
pessoa a assumir o cargo. A divisão trata de questões de direitos humanos e liberdade
religiosa. A ABM mantém membresia em várias agências das Nações Unidas e Barreto
vai coordenar o relacionamento entre a ABM e essas agências. O líder batista graduou-
se no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife, PE, e é doutor em
ética social cristã pelo Seminário Teológico Princeton, em Nova Jersey, Estados Unidos.
Barreto foi pastor da Igreja Batista Esperança em Salvador, BA, e coordenador geral
para o Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. no Brasil. Os interessados em
conhecer o trabalho da ABM no campo dos direitos humanos podem escrever para
rbarreto@bwanet.org.
Arquivopessoal
NOTíCIAS
Pesquisa propõe oito
padrões de qualidade
para a igreja local
Quais os padrões de qualidade para o
crescimento de uma igreja local? Em busca de
respostas, os estudiosos Christian A. Schwarz
e Christoph Schalk fizeram, durante dez anos,
em conjunto com a Universidade de Würzburg,
na Alemanha, um levantamento em mais de
mil igrejas, em 32 países de cinco continentes.
O objetivo da pesquisa foi descobrir quais
os fatores e as razões que provocam ou não o
crescimento de igrejas.
Os dois estudiosos estabeleceram oito
padrões que, segundo eles, em essência, estão
presentes em todas as igrejas e dos quais
depende a saúde de cada uma: liderança
capacitadora, ministérios orientados pelos dons,
espiritualidade contagiante, estruturas eficazes,
culto inspirador, grupos pequenos holísticos
(células ou familiares), evangelização orientada
para as necessidades e relacionamentos
marcados pelo amor fraternal. Schwarz e Schalk
garantem que não estão apresentando mais
um modelo de crescimento de igreja, mas sim
oferecendo princípios que têm validade para
igrejas em todo o mundo e que não dependem
“de receitas prontas”.
O resultado dessa pesquisa está descrito
no livro O Desenvolvimento Natural da Igreja,
publicado pela Editora Esperança.
Consulta quer
repensar
caminhos da
Missão Integral
“De Lausanne à Cidade do Cabo
— Caminhos, Descaminhos e
Novos Desafios para a Missão
Integral no Brasil.” Este é o tema
da consulta anual da Fraternidade
Teológica Latino-Americana —
Brasil (FTL). O objetivo da
consulta é “fazer uma releitura
da caminhada da Teologia da
Missão Integral, visando construir
e renovar caminhos para a
reflexão teológica e ação pastoral”.
Haverá meditações bíblicas,
conferências, apresentação de
trabalhos acadêmicos, testemunhos,
debates e um festival de artes. O
evento será realizado na Catedral
Presbiteriana do Rio de Janeiro,
entre 3 e 5 de junho. Informações:
secretaria@ftl.org.br.
Além dos membros da
FTL-Brasil, estarão presentes na
consulta os brasileiros que irão
ao Congresso de Evangelização
Mundial Cidade do Cabo 2010,
organizado pelo Comitê Lausanne.
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 23
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24 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Capa
24 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 25
E
nquanto viveu aqui como Filho de Deus e
como Filho do homem, Jesus nunca esteve
sozinho, nem em seu nascimento, nem em
seu ministério, tampouco na sua morte e
ressurreição.
Ele estava cercado de anjos, desde o anúncio
da concepção dado à Maria — “Você ficará grávida e dará à
luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus” (Mt 1.23) — até
o anúncio da ressurreição, dado às mulheres que foram ao
túmulo para embalsamar o seu corpo — “Sei que vocês estão
procurando Jesus que foi crucificado [mas] ele não está aqui;
ressuscitou como havia dito” (Mt 28.5-6).
Ele estava cercado de pessoas prontas para servi-lo em
qualquer circunstância: Maria emprestou-lhe o ventre, o colo
e o seio; certo morador de um povoado próximo a Betfagé
emprestou-lhe uma jumenta e o seu jumentinho para a entrada
triunfal; outro proprietário emprestou-lhe uma grande sala
mobiliada e arrumada em Jerusalém para ele comer a Páscoa
com os discípulos; e mulheres da Galileia, curadas e perdoadas
por ele, davam-lhe assistência com seus bens. Até as crianças
o rodeavam e gritavam espontaneamente: “Viva o Filho de
Davi!” (Mt 21.15, BV).
Jesus estava cercado de pecadores, considerados, na época,
os piores de todos, como os publicanos e as prostitutas.
Pessoas de certo prestígio e de posses se aproximavam de
Jesus e lhe prestavam algum benefício. Entre elas está Joana,
mulher de Cuza, que era procurador de Herodes Antipas.
Outros dois são Nicodemos e José de Arimateia, ambos ricos,
conceituados e membros do Sinédrio. Inicialmente discípulos
A turma
de Jesus
ocultos de Jesus, eles saíram corajosamente do armário
quando solicitaram a Pilatos o corpo do Senhor e o
desceram da cruz para embalsamá-lo e dar-lhe sepultura.
A natureza também esteve ao lado de Jesus. Na
escuridão da noite em que ele nasceu, houve imensa
claridade, porque a luz gloriosa do Senhor brilhou nos
céus de Belém. Na claridade do dia em que ele morreu,
houve densas trevas sobre a face da terra, porque “o sol
parou de brilhar” do meio-dia às 3 horas da tarde. Para
tornar aquela tarde ainda mais sinistra, a terra tremeu e as
rochas se partiram.
É muito significativo que, depois de quase dois
milênios, o nome de Jesus não caiu no esquecimento e
suas palavras e milagres são continuamente lembrados
em todo o mundo. Havia tanto assunto sobre Jesus que
João temia que o mundo inteiro não seria suficiente
para caber todos os livros a serem escritos (Jo 21.25). O
fenômeno persiste até hoje: três dias antes do Natal de
2002, o Jornal do Brasil publicou um artigo de Deonísio
da Silva, professor da Universidade de São Carlos, o qual
mencionava que haviam sido publicados mais livros sobre
Jesus entre o final do segundo milênio e o alvorecer do
terceiro, do que em todos os séculos anteriores.
Porém, Jesus não é e nunca foi unanimidade. No
correr do tempo, ele tem sido o centro da atenção de
muitos e também o centro da repulsão para outros tantos.
Todavia, quando se anuncia o evangelho com autoridade,
coerência e convicção, muitos se convertem e fazem
questão de se chamar “a turma de Jesus”!
26 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
capa
A mãe de Jesus
Por escolha divina, Maria cedeu o ventre
para gerar, os seios para amamentar e
o colo para carregar e mimar o Verbo
feito carne. Quando todo o processo
começou, Maria ainda era solteira.
Engravidada misteriosamente por obra
do Espírito Santo, casou-se com um
homem que era carpinteiro. Por essa
participação na encarnação de Jesus, a
jovem quase perdeu o noivo (Mt 1.19).
O cântico de Maria é um dos
mais conhecidos e apreciados poemas
religiosos. Nele, ela reconhece tanto seu
demérito pessoal como a misericórdia
divina (Lc 1.46-55).
Maria foi uma mulher não apenas
muito favorecida (Lc 1.28) e bendita
(Lc 1.42). Foi, também, uma mulher
sofrida, principalmente por ter
assistido à cruel crucificação de seu
filho primogênito (Jo 19.25) e por ter
tido conhecimento dos maus-tratos
dispensados a ele, desde a madrugada
daquela sexta-feira (murros, bofetadas,
tapas, cusparadas, desrespeito,
irreverência etc.). Deve ter causado
intenso sofrimento em Maria o fato de
seus filhos nascidos de seu casamento
com José acharem que o meio-irmão era
megalomaníaco (Jo 7.1-5).
O salmista de Jesus
O rei Davi viveu aproximadamente
mil anos antes de Cristo e trezentos
anos antes do profeta Isaías. Desde
rapazinho tocava harpa muito bem.
Chegou a ser musicoterapeuta do
rei Saul. Era cantor e autor da maior
parte dos poemas que estão no livro
de Salmos. Ele é o salmista de Jesus
porque compôs um poema sobre
o sofrimento do Messias e outro
Os porta-vozes
Os familiares
O “padrasto” de Jesus
José era marido de Maria, “da qual
nasceu Jesus, que se chama o Cristo”
(Mt 1.16). Quando soube que a
noiva estava grávida, sem que tivesse
tido relação com ela, José “decidiu
romper o noivado, mas em segredo,
porque não queria desmoralizar
Maria publicamente” (Mt 1.19,BV).
Foi aí que Deus explicou a José o
que de fato estava acontecendo a
despeito de qualquer mistério. Então,
o carpinteiro casou-se com Maria e
passou a liderar todas as providências
para proteger a segurança da criança
nascida da esposa. José levou Maria
e o menino para o Egito, livrando o
“enteado” da violência de Herodes
(Mt 2.13). Morto Herodes, a
família voltou do Egito e se fixou
em Nazaré (Mt 2.19-23). Quando
Jesus completou 12 anos, José e
Maria foram com o filho a Jerusalém
para a festa da Páscoa (Lc 2.42). Em
Nazaré, Jesus era submisso tanto a
Maria como a José (Lc 2.51). Este
teria morrido nos anos seguintes,
provavelmente no início do ministério
de Jesus, depois do nascimento de
seus filhos e filhas (Mt 13.55-56).
Os irmãos de Jesus
A discreta informação de que José, ao
casar-se com Maria, “não a conheceu
na intimidade” (Mt 1.25, na Bíblia
Almeida Século 21), ou “não teve
relações com ela” (NTLH), ou que
Maria “permaneceu virgem” (BV)
até o nascimento de Jesus, faz uma
boa ligação com a informação de que
Jesus tinha irmãos e irmãs por parte
de mãe. Eles eram filhos de José e
Maria, e Jesus era filho só de Maria.
Maria teve do marido pelo menos
quatro rapazes — Tiago, José, Simão
e Judas — e duas moças (são no
mínimo duas, visto que a palavra está
no plural). Jesus era o unigênito de
Deus (Jo 3.16) e o primogênito de
Maria (Lc 2.7).
Muito estranhamente, os irmãos
de Jesus, todos mais jovens, não
criam nele (Jo 7.5). Os rapazes
queriam que o irmão fizesse algo
espetacular durante a festa em
Jerusalém para chamar a atenção
de todos. A boa notícia, todavia, é
que depois da ressurreição de Jesus
(não haveria acontecimento mais
sensacional), eles se converteram
(At 1.14).
sorteio da peça principal (22.18;
Jo19.23-24 ).
No Salmo 110, Davi menciona a
glória futura de Jesus: “Disse o Senhor
[o Pai] ao meu Senhor [o Filho]:
Assenta-te à minha direita, até que eu
ponha os teus inimigos debaixo dos teus
pés” (v. 1). Essa é a passagem do Antigo
Testamento mais citada no Novo.
Os profetas de Jesus
Por ter escrito a história de Jesus tendo
em vista os judeus, Mateus faz questão
de mostrar que os acontecimentos
se deram porque estavam escritos
em alguma passagem do Antigo
Testamento. Daí a expressão que
Mateus usa doze vezes: isso aconteceu
sobre a glória do Messias. Aqui cabe,
perfeitamente, a explicação de Pedro:
“Homens santos falaram da parte de
Deus movidos pelo Espírito Santo”
(2Pe 1.21).
No Salmo 22, Davi dá a impressão
que estava descrevendo ao vivo a
paixão de Jesus. Além de mencionar
a crucificação (22.12-21), o salmista
refere-se também aos detalhes da
distribuição da roupa de Jesus e do
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 27
Os anjos de Jesus
Anjos são pessoas. São seres vivos que
estão a serviço de Deus. Movem-se nos
céus e na terra. Sob o ponto de vista
humano, não é irreverência chamá-los de
extraterrestres.
Jesus esteve cercado de anjos, do
princípio ao fim, desde o nascimento até a
ascensão.
A participação do nascimento de Jesus
foi feita por um anjo: “Hoje vos nasceu, na
cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o
Senhor”. Em seguida, houve uma eclosão
de muitos outros anjos dando glória a
Deus por aquele evento (Lc 2.8-14).
Após o jejum de quarenta dias e a
tentação, “vieram anjos e o serviram”
(Mt 4.11). No auge da agonia do
Getsêmani “lhe apareceu um anjo do céu
que o confortava” (Lc 22.43). Se Jesus
quisesse, se Jesus pedisse, se a morte vicária
pudesse ser dispensada, “mais de doze
legiões de anjos” poderiam, se necessário,
impedir a prisão de Jesus (Mt 26.53).
Três dias depois, quem removeu a “grande
pedra” (Mt 27.60) para que Jesus saísse
vivo do túmulo foi um anjo que desceu
do céu (Mt 28.2). E dois anjos, em figura
humana, estavam com Jesus em sua
ascensão (At 1.10-11).
Os empolgados
Os magos de Jesus
Há uma grande diferença entre
astronomia e astrologia. Os homens
que vieram do Oriente para adorar e
presentear o recém-nascido Rei dos
judeus eram magos (palavra de origem
iraniana que indica originalmente os
observadores e estudiosos dos corpos
celestes). A seriedade dada ao nascimento
e à pessoa de Jesus mostra que os magos
eram astrônomos — e não astrólogos —,
pessoas acentuadamente religiosas e
devotas. Não se sabe ao certo se eles
vieram da Pérsia (atual Irã) ou da
Babilônia (atual Iraque). O que se sabe
é que eles viram alguma coisa diferente
no espaço que apontava para um evento
de grande importância na história da
humanidade — o nascimento de Jesus.
Muito bem informados a respeito do
recém-nascido, os magos trouxeram
ouro, incenso e mirra à criança e a
adoraram, para surpresa de Maria e José
(Mt 2.1-12). O gesto deles contrasta com
o gesto de Herodes e o presente deles
contrasta com a pobreza da manjedoura!
O culto prestado pelos magos ao
Rei dos judeus prenuncia o louvor
universal que será dado ao nome de Jesus
(Fp 2.10-11).
Os velhos de Jesus
Quando Jesus estava para nascer e
também logo após o seu nascimento,
havia ao seu redor mais velhos do que
jovens. Maria seria a única jovem. Nada
se sabe a respeito da idade de José.
Pensa-se que era bem mais velho do que
Maria.
Há quatro idosos na história do
nascimento de Jesus. São pessoas
notáveis quanto à piedade pessoal e
quanto ao envolvimento. Zacarias e
Isabel eram justos e viviam de forma
irrepreensível diante de Deus. Ambos
eram “avançados em dias” (Lc 1.6-7).
Deus abriu a madre de Isabel e ela deu
à luz João Batista, o precursor de Jesus,
apesar da idade e de ser estéril até então
(Lc 1.13).
Os outros velhos de Jesus são o
homem que tinha a certeza de ver o
Senhor antes de morrer e a viúva de 84
anos que “não deixava o templo, mas
adorava noite e dia em jejuns e orações”
(Lc 2.37). Simeão não somente viu o
recém-nascido de quarenta dias como o
pegou no colo (Lc 2.28). Ana, por sua
vez, também teve o privilégio de ver o
menino e de falar a respeito dele com
muita gente (Lc 1.36-38).
para que se cumprisse o que fora
dito pelo Senhor “por intermédio do
profeta”. Em seis dessas ocasiões, ele
não cita o nome do profeta; nas outras,
ele menciona duas vezes o nome de
Jeremias (2.17; 27.9) e quatro vezes
o nome de Isaías (3.3; 4.14; 8.17;
12.17).
Os mais citados dos profetas de
Jesus — aqueles que disseram alguma
coisa que pudesse se aplicar à pessoa e
ao ministério do Senhor — são Isaías,
Jeremias, Oseias, Miqueias, Zacarias e
Malaquias. O mais messiânico desses
seis é o profeta Isaías. Suas profecias
dizem respeito ao nascimento de
Jesus (Is 9.1-7), à sua cidade natal
(Mq 5.2), ao nome Emanuel (Is 7.14),
à morte dos inocentes (Jr 31.15), à
entrada triunfal (Zc 9.9), ao preço da
traição (Zc 11.12) e à paixão de Jesus
(Is 53.1-13).
O precursor de Jesus
O homem era estranho em tudo:
usava uma veste de pelos de camelo,
cingia-se com um cinturão de
couro e alimenta-se de gafanhotos
e mel silvestre. Seus sermões eram
acusativos ao extremo. Não tinha
papas na língua. Entretanto, “o povo
de Jerusalém, de todo o Vale do
Jordão e de cada região da Judeia saía
ao deserto para ouvir João pregar”
(Mt 3.5, BV).
João Batista era, ao mesmo
tempo, o cumprimento da profecia
de Isaías (Is 40.3) e a resposta
da oração de Zacarias, seu pai
(Lc 1.13). Seu ministério específico,
segundo a determinação do Senhor,
era convencer muitos pecadores a
voltarem para Deus, preparando,
assim, o povo para a chegada de Jesus
(Lc 1.16-17). Foi João Batista que
apresentou Jesus como “o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do
mundo” (Jo 1.29).
Embora o Senhor tenha afirmado
que “entre os nascidos de mulher
não surgiu ninguém maior do que
João Batista” (Mt 11.11), o precursor
de Jesus foi decapitado com pouco
mais de 30 anos a fim de satisfazer
os caprichos de uma mulher má e
sofisticada (Mt 14.6-8).
28 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
capa
Os apóstolos de Jesus
Certo dia ao amanhecer, depois de passar a noite orando a Deus no alto de
uma montanha, Jesus chamou seus discípulos e escolheu doze deles para serem
apóstolos. Dois se chamavam Simão: o Simão Pedro e o Simão Zelote. Dois se
chamavam Judas: o filho de Tiago e o filho de José Iscariotes. Dois se chamavam
Tiago: o filho de Zebedeu e o filho de Alfeu. Os outros seis são: André, João,
Filipe, Bartolomeu, Mateus e Tomé (Lc 6.12-16).
Jesus se dispôs a fazê-los capazes de exercer o ofício de apóstolo por meio
da convivência, do ensino, de correções e de estágios. Eles comiam e viajavam
juntos. Também enfrentavam, juntos, a oposição e as intempéries. O curso, por
assim dizer, durou cerca de três anos. Havia inveja, ciúmes e atritos entre eles.
Nem todos se tornaram notáveis. O que não se pode dizer de Pedro e André,
Tiago e João, Mateus e Tomé. Dois dos quatro Evangelhos, cinco das 21 epístolas
e o Apocalipse foram escritos por quatro dos doze apóstolos. Segundo a tradição,
Tomé foi missionário na Índia.
O trio de Jesus
Logo no início de seu ministério, Jesus encontrou-se numa das praias do mar
da Galileia com duas duplas de irmãos e pescadores. Ele viu, primeiro, Pedro e
André; depois, Tiago e João. Naquele mesmo dia, os quatro pescadores largaram
as redes e os barcos e tornaram-se seguidores e discípulos de Jesus (Mt 4.18-22).
Pouco mais tarde, os quatro foram escolhidos para serem apóstolos (Mt 10.1-4).
Não havia nenhum superapóstolo no grupo. No entanto, três deles
conviveram com o Senhor mais do que os outros, sempre por iniciativa do
próprio Jesus.
Jesus não deixou ninguém entrar com ele na casa de Jairo, senão o trio Pedro,
Tiago e João e os pais da menina que ele iria ressuscitar (Lc 8.51). Jesus não levou
ninguém para orar com ele no monte onde aconteceu a transfiguração, senão
o trio Pedro, Tiago e João (Lc 9.28). Jesus não solicitou a ajuda de ninguém na
agonia do Getsêmani, senão a do trio Pedro, Tiago e João (Mt 26.37).
As mantenedoras de Jesus
Embora nascido em Belém, na Judeia, Jesus foi criado em Nazaré, na Galileia.
Ali iniciou o seu ministério. Nessa mesma região, ele curou algumas mulheres
de espíritos malignos e de enfermidades. De Maria Madalena, por exemplo,
saíram sete demônios. Entre muitas mulheres da Galileia, os Evangelhos citam
Joana e Suzana (Lc 8.3), Maria (mãe de Tiago, o menor, e de José) e Salomé
(Mc 15. 40-41). Joana era esposa de Cuza, procurador do rei Herodes.
Movidas pela força da gratidão, essas mulheres não só acompanhavam Jesus
em suas viagens de aldeia em aldeia, como também lhe prestavam assistência com
suas posses (Lc 8.1-3).
Elas estavam em Jerusalém por ocasião da última semana de Jesus e assistiram
a sua crucificação. Duas dessas mantenedoras de Jesus — Maria Madalena
e Maria, mãe de Tiago e José — seguiram Nicodemos e José de Arimateia
para saber onde eles sepultariam o Senhor (Mc 15.47). E, no primeiro dia da
semana, essas duas senhoras e Salomé foram até lá para ungirem o corpo de Jesus
(Mc 16.1).
As perdoadas de
Jesus
Ao longo de sua caminhada, Jesus
encontrou-se com três mulheres
sem nome: a mulher samaritana,
a mulher adúltera e a mulher
pecadora. As três foram perdoadas
por ele. As três ficaram muito
agradecidas a ele.
A mulher samaritana não
parava com marido algum. Jesus
sabia que ela já tinha vivido com
cinco companheiros e que o
atual não era seu marido. Alguns
minutos de conversa, a mulher
descobriu que aquele estranho era
o Salvador do mundo e bebeu da
água viva que lhe fora oferecida
(Jo 4.1-30).
A mulher adúltera passou
o vexame de ser apanhada em
adultério e foi trazida à presença
de Jesus. Acusadores queriam
que o Senhor autorizasse o
apedrejamento dela, mas isso não
aconteceu. Jesus a perdoou e pediu
que ela não pecasse outras vezes
(Jo 8.1-11).
A mulher pecadora, por ter sido
perdoada por Jesus numa ocasião
anterior, muito emocionada,
irrompeu na casa de Simão, o
fariseu, e lavou os pés de Jesus
com suas lágrimas, enxugou-os
com seus cabelos e os ungiu com
óleo (Lc 7.36-50).
Os ressuscitados de
Jesus
O recado que Jesus mandou para
João Batista é explícito: “Ide
e anunciai a João o que estais
ouvindo e vendo: os cegos veem,
os coxos andam, os leprosos são
purificados, os surdos ouvem,
os mortos são ressuscitados, e
aos pobres está sendo pregado o
evangelho” (Mt 11.4-5).
Os acompanhantes Os
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 29
A essa altura, Jesus já havia ressuscitado
dois jovens, a filha de Jairo (Lc 8.40-56)
e o filho da viúva de Naim
(Lc 11.11-17). A ressurreição de Lázaro
ocorreria mais tarde (Jo 11.1-46).
É possível que Jesus tenha
ressuscitado outros mortos. Os
Evangelhos mencionam apenas essas
três ressurreições, talvez por uma
questão didática. Elas mostram o poder
de Jesus sobre a morte quando ela
acaba de ocorrer (caso da filha de Jairo)
e quando ela já provoca mau cheiro
(caso de Lázaro). No meio dos dois
extremos está o caso do filho da viúva.
O corpo do rapaz não está nem no leito
de morte, nem no túmulo — está entre
um e outro, a caminho do cemitério.
Os ressuscitados de Jesus mostram que
os mortos não sofrem discriminação
de gênero, faixa etária nem condição
social.
Os anfitriões de Jesus
A menos de três quilômetros de
Jerusalém, havia um povoado
chamado Betânia. Lá moravam três
irmãos: Maria, Marta e Lázaro. Não
se sabe ao certo se eram casados ou
solteiros. Provavelmente solteiros.
Apesar da diferença de temperamento
entre as duas irmãs, era de fato uma
família muito unida. Talvez tivessem
mais recursos do que muitos outros,
pois Maria teve dinheiro suficiente
para comprar um perfume que valia o
equivalente ao trabalho de quase um
ano inteiro de um trabalhador braçal
(Jo 12. 3-5).
Era também uma família muito
crente. Por ocasião da ressurreição de
Lázaro, Marta fez uma confissão de fé
que deixaria arrepiados os cabelos dos
saduceus: “Eu sei que ele [Lázaro] há
de ressurgir na ressurreição do último
dia” (Jo 11.24).
A essa altura, Jesus já tinha se
hospedado com aquela família, a
convite de Marta (Lc 10.38). Algum
tempo depois, na tarde do dia da
entrada triunfal em Jerusalém, Jesus
“saiu para Betânia com os doze”
(Mc 11.11), certamente para a casa de
seus costumeiros anfitriões.
agradecidos
30 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Os coveiros de Jesus
Ainda bem que não foram os
soldados de Caifás, nem os de Pilatos
que deram sepultura a Jesus. Não
foram os meio-irmãos de Jesus, nem
os apóstolos, tampouco as mulheres
da Galileia que colocaram o corpo
de Jesus num túmulo. Os coveiros de
Jesus não eram frios profissionais do
ramo.
Foram dois homens muito
importantes que tomaram a iniciativa
de tirar o corpo da cruz e sepultá-
lo, cumprindo, assim, a profecia de
Isaías, escrita setecentos anos antes:
“Morreu como um criminoso, mas
foi enterrado junto com os ricos”
(Is 53.9, BV). Os dois sepultadores
de Jesus eram discípulos até então
ocultos. Um deles chamava-se
Nicodemos, “mestre em Israel”
(Jo 3.10), e o outro chamava-se José,
da cidade de Arimateia, homem
correto e também rico, membro
do Sinédrio (Lc 23.51; Mt 27.57).
Foi esse último quem pediu ao
governador autorização para retirar
e sepultar o corpo do Senhor. Antes
de começar o sábado, o corpo
chicoteado, traspassado e cortado de
Jesus, embalsamado e envolto num
lençol novo de linho, estava deitado
sobre a lápide de um túmulo novo no
jardim da casa do coveiro-mor!
capa
A defensora de Jesus
Não foram somente Jesus e os
apóstolos que não dormiram
naquela noite de quinta para
sexta-feira. A primeira-dama pegou
no sono e logo teve um pesadelo
horrível. Ficou acordada a noite
inteira e sofreu muito. Ela sonhou
com Jesus ou, melhor, com a
inocência de Jesus. O pesadelo a
fez pensar nas consequências que
poderiam advir a quem se pusesse
contra ele. Aquele homem de trinta
e poucos anos poderia ser entregue
a seu marido, o governador romano,
para ser condenado ou solto. Ela
temia que Pilatos tomasse uma
decisão injusta.
Quando a primeira-dama
se levantou, o marido já estava
assentado no tribunal e Jesus
já estava na frente dele para ser
julgado. Mais do que depressa, ela
escreveu e mandou para Pilatos
o seguinte bilhete: “Livre-se de
qualquer culpa, de qualquer
cumplicidade, de qualquer
envolvimento com a morte deste
homem inocente, porque esta noite,
num sonho, eu sofri muito por
causa dele” (Mt 27.19).
Pilatos, porém, não atendeu ao
pedido da mulher e condenou Jesus
à morte.
O carregador de Jesus
Os soldados do exército romano
encarregados pelo governador de
conduzir Jesus ao Lugar da Caveira
e de formalizar ali a sua crucificação,
logo no início do trajeto, tomaram
uma providência inusitada,
movidos, provavelmente, mais pelas
circunstâncias do que pela caridade.
Eles obrigaram ou recrutaram certo
transeunte, que tinha acabado de
entrar na cidade proveniente do
campo, a carregar para Jesus a cruz
ou o travessão vertical dela, daquele
ponto em diante — a cruz inteira
pesaria cerca de treze a vinte quilos.
Os Evangelhos sinóticos explicam
que esse carregador da cruz de
Cristo era um africano de Cirene,
na época a mais importante cidade
da atual Líbia. Seu nome era Simão
e ele era pai de Alexandre e Rufo
(Mc 15.21).
Esse imprevisto trouxe grande
benefício para Simão, pois além
de carregar literalmente a cruz
de Cristo, muito provavelmente
foi aí que ele começou a carregar
também a cruz de Cristo no sentido
simbólico (Mc 8.34). Seu filho Rufo
era um dos proeminentes membros
da igreja em Roma e sua esposa
era tratada como mãe por Paulo
(Rm 16.13).
Os protetores
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 31
As testemunhas de
Jesus
A função da primeira leva de
discípulos era testemunhar tudo o
que tinham visto e ouvido da parte de
Jesus. Eles eram testemunhas oculares,
auditivas e palpáveis de Jesus Cristo.
A segunda leva e as demais seriam
testemunhas daquilo que ouvissem das
testemunhas anteriores e daquilo que
lessem nos Evangelhos.
A Grande Comissão consiste em
testemunhar: “Recebereis poder ao
descer sobre vós o Espírito Santo e
sereis minhas testemunhas” (At 1.8).
O substituto de Judas deveria ser uma
testemunha pessoal de Jesus, desde o
início até a ressurreição e a ascensão
dele (At 1.21-22). Os apóstolos
emprestavam força à sua pregação
com o argumento: “Nós somos
testemunhas destes fatos” (At 5.32)
ou “Nós somos testemunhas de tudo
o que ele fez na terra dos judeus e em
Jerusalém” (At 10.39).
Em sua segunda epístola, Pedro
lembra que ele não inventou coisa
alguma, mas foi testemunha ocular
da majestade de Jesus no monte
da transfiguração (2Pe 1.16).
Em Damasco, Paulo recebeu a
incumbência de ser ministro e
testemunha de Jesus (At 26.16).
Os missionários de
Jesus
A última ordem de Jesus não era
confusa. Os discípulos não deveriam
deixar Jerusalém até a descida do
Espírito e, depois disso, deveriam
viajar para o norte e para o sul, para
o leste e para o oeste, para as regiões
mais próximas e para as regiões
mais longínquas. Na
verdade, eles deveriam
chegar até o fim do
mundo (At 1.8). Não
se tratava, porém, de
viagens de passeio e
turismo. O propósito
das muitas e longas
viagens era encher a
terra do conhecimento
do Senhor (Is 11.9) e
espalhar para todas as
tribos, raças e nações as
boas novas da salvação
inteira, da morte
vicária e da ressurreição
de Jesus (Mt 28.19;
Mc 16.15; At 1.8).
A vontade de Jesus
foi feita. Os que
foram dispersos por
causa da tribulação
foram os primeiros missionários de
Jesus. Anunciaram a palavra na Judeia
e Samaria, na Fenícia e na ilha de
Chipre (At 8.1; 11.19). Os outros
missionários foram Filipe, Pedro,
João, Paulo, Barnabé, João Marcos,
Timóteo, Silas, Lucas, dentre outros.
O mais notável foi Saulo de Tarso, que
também foi o mais chicoteado, o mais
encarcerado e o mais ameaçado de
morte (2Co 11.23-27)!
Os mártires de Jesus
No relato dos Evangelhos não se
efetua nenhuma prisão, a não ser a de
João Batista. Diversas vezes tentaram
prender Jesus, mas sem sucesso.
Depois da ascensão de Jesus e da
descida do Espírito Santo, porém, a
situação é outra. Com o crescimento
territorial e numérico da igreja,
começa a era dos mártires.
Pedro e João são os primeiros a ser
presos (At 4.1-3). O mesmo acontece
com os demais apóstolos (At 5.18) e
com outros irmãos e outra vez com
Pedro (At 12.1). O primeiro a ser
linchado é o formidável Estêvão
(At 7.59). O segundo é Tiago, irmão
de João, um dos doze apóstolos
(At 12.1-2). O diácono é apedrejado
e o apóstolo é decapitado. Muitos são
perseguidos, maltratados e torturados
por sua fé. Quase todos os crentes
fogem para outras cidades ou regiões
a fim de escaparem de tudo isso
(At 8.1). João é exilado na ilha de
Patmos (Ap 1.9). E aquele que viajava
para prender e torturar homens e
mulheres (At 22.4; 26.10-11) acaba
se convertendo e passa a viajar agora
para anunciar Jesus.
Esses homens e mulheres são os
primeiros mártires de Jesus!
Os continuadores
32 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
capa
Os seguidores de Jesus
Seguidor é aquele que vai atrás
de alguém ou de alguma ideia.
O Apocalipse chama de “os
seguidores do Cordeiro” a multidão
de 144 mil pessoas “que tinham
o nome dele e o nome do Pai
dele escritos na testa delas” e que
“seguem o Cordeiro aonde ele vai”
(Ap 14.1-5, NTLH).
A vida cristã começa quando o
pecador ouve o evangelho, sente
algum interesse e se dispõe a seguir
a Jesus. Porque o novo caminho é
apertado e difícil e porque não é o
caminho das multidões, nem todos
os seguidores continuam. Nunca
passou pela cabeça de Jesus facilitar
a carreira cristã em benefício de um
número maior de conversões. Ao
contrário, certa ocasião ele virou-se
para a multidão e os discípulos que
estavam atrás dele e exclamou: “Se
alguém quiser acompanhar-me,
negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz e siga-me” (Mc 8.34).
Em outra oportunidade, Jesus
repetiu: “Quem ama o seu pai ou
a sua mãe mais do que a mim não
merece ser meu seguidor”
(Mt 10.37, NTLH).
Os redimidos
A família de Jesus
A família de Jesus é enorme. Está
espalhada no tempo e no espaço. Pode
ser uma adolescente negra, um jovem
germânico, uma mulher indígena,
um idoso aborígene. Pode ser um
ex-promíscuo, um ex-consumista,
um ex-incrédulo, uma ex-prostituta,
um ex-ladrão, um ex-pedófilo, um
ex-corruptor de menores, um ex-
traficante. Pode ser um sem-terra, um
fazendeiro rico, alguém da classe mais
alta, alguém da classe mais baixa, e
assim por diante — contanto que cada
um deles faça a vontade do Pai.
Foi o próprio Jesus quem definiu a
questão. Mesmo estando na presença
da mãe e dos meio-irmãos biológicos,
ele apontou com as mãos para os
discípulos e declarou em alto e bom
som: “Eis minha mãe e meus irmãos”.
E explicou por que: “Qualquer que
fizer a vontade de meu Pai celeste, esse
é meu irmão, irmã e mãe”
(Mt 12.46-50).
Jesus não forçou nada ao fazer essa
declaração surpreendente. Se a comida
dele era fazer a vontade do Pai
(Jo 4.34), todos que pensam e agem
do mesmo modo são, pois, seus
irmãos, irmãs e mães.
A igreja de Jesus
A rigor, ninguém em lugar algum
e em tempo algum pode usar o
pronome possessivo minha para
se referir à igreja. A igreja, em seu
sentido místico, é de Jesus Cristo.
As palavras ditas a Pedro devem ser
sempre lembradas: “Tu és Pedro, e
sobre esta pedra edificarei a minha
igreja” (Mt 16.18). É preciso
diferenciar as igrejas locais (a igreja
de Antioquia, a igreja de Cencreia,
a igreja dos tessalonicenses, as
igrejas na Galácia etc.) e as igrejas
denominacionais (igreja católica,
igreja reformada, igreja batista,
igreja pentecostal etc.) da Igreja
de Cristo ou Igreja de Deus (At
20.28; 1Co 15.9; 1Tm 3.15).
Esta é a única que é o corpo místico
de Cristo. Nela se congregam
apenas pecadores arrependidos e
perdoados, em qualquer lugar e em
qualquer tempo. Nas igrejas locais
e denominacionais há uma mistura
de joio e trigo, o que não acontece
na Igreja de Cristo. Jesus é a pedra
angular e o cabeça dessa Igreja,
tanto da que reúne os vivos (igreja
militante) como da que reúne os
mortos (igreja triunfante).
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 33
Anuncio
34 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Cristo é mais!
ESPECIAL Ricardo Quadros Gouvêa
H
á quem pense que o
problema de muitos
evangélicos hoje
seja o seu fanatismo
religioso, sua devoção
extravagante, sua religiosidade
exacerbada. Penso que há aqui um
engano, uma interpretação superficial
da questão. Até porque tal devoção
pode ser amor próprio disfarçado
(Cl 2.23), tal religiosidade pode
ser um culto ao próprio ventre
(Fp 3.19), e tal fanatismo pode ser
mera idolatria (Is 1.13-17).
O verdadeiro problema é
justamente o oposto disso. É o seu
menosprezo para com a pessoa de
Cristo. É a maneira reducionista
de muitos evangélicos perceberem
a Cristo. É a construção de uma
espiritualidade neo-pagã em que
a pessoa de Cristo é secundária
(onde deveria ser central),
instrumentalizada em um discurso
cujo centro é o consumo de bens
espirituais (Mt 6.24, 31-32). O
problema de muitos evangélicos
é não perceber o tamanho do
evangelho de Cristo e quem de fato
Cristo é.
Há no discurso evangélico uma
presença muito clara do nome de
Jesus, mas uma presença que beira
à magia, já que se trata de um uso
instrumental e ritualístico do nome
de Jesus, e que beira à idolatria
(pasmem! uma idolatria de Jesus!),
pois o nome de Jesus é apresentado
desvestido e desencarnado da pessoa
de Jesus Cristo, de seu ensino e
de seu significado teológico como
redentor da humanidade (Mt 7.21).
Quando a Bíblia nos ensina a orar
“em nome de Jesus Cristo” (1Co 5.4;
Ef 5.20), isso não é uma fórmula mágica
que carrega em si poder para realizar
milagres. A expressão significa que os
cristãos são representantes de Cristo na
terra, e por isso devem falar em nome de
Cristo, fazendo a oração que ele próprio
faria.
Jesus ficou reduzido a isso em
boa parte do discurso evangélico:
uma palavra mágica, um ícone, um
significante cujo significado se tornou
propositadamente difuso. Com isso,
foi-se esquecendo do verdadeiro Jesus
Cristo, o mestre a quem se deve seguir
(Mt 11.28-29; Cl 2.8), dos seus ensinos
de amor por palavras e atos, da sua
pregação sobre o desprendimento e
a humildade (Mt 6.25-34; Lc 22.26;
Jo 13.1-17), de seu esvaziamento no
serviço (Fp 2.5-8).
De fato, há muita extravagância
religiosa entre os evangélicos, que vai
das coreografias sem profundidade às
expressões faciais agônicas; dos discursos
inflamados sobre cura e poder à rigidez
moralista das propostas de conduta
cerceadoras da liberdade em nome de
um pudor muito distante daquilo que
a Bíblia indica (Mq 6.8; Cl 2.20-23);
do dogmatismo que faz de Cristo um
mero item doutrinário ao sectarismo
individualista que nos faz esquecer as
dimensões sócio-políticas da redenção
no aqui e agora.
Cristo é mais! O que Cristo pode
fazer pelos seres humanos é muito
mais do que está sendo muitas vezes
apresentado pelos evangélicos e aos
evangélicos. Não se limita aos benefícios
materiais e curas, mas a uma vida tão
plena de sentido e de senso de vocação
que os bens materiais e a saúde deixam
de ser primordiais.
Cristo é mais! Foi-se esquecendo
das dimensões mais profundas da
redenção que há em Cristo. Essa
redenção ficou reduzida à garantia
de uma vida feliz após a morte, à
esperança materialista de um céu
de recompensas luxuosas (devido a
interpretações literalistas dos símbolos
bíblicos: Ap 2.10; 21.11), esperança
que não indica nenhum desapego, mas
antes ressentimento e inveja em relação
aos ricos e poderosos. A redenção
em Cristo já não é percebida como
o resgate de uma vida diferenciada,
uma vez que dotada de sentido e valor
aqui e agora, na missão, no serviço, no
convívio amoroso e no desfrutar da
criação divina.
Cristo é mais! O individualismo da
modernidade nos fez crer que o dom
de Cristo se limita ao que pode fazer
por cada pessoa enquanto indivíduo,
deixando de lado as dimensões sociais
do evangelho, e tudo que ele significa
para a nação (Sl 33.12): um futuro
melhor para nossos filhos, uma cultura
calcada na integridade e na justiça,
no amor e na sabedoria, a construção
de uma sociedade que vive de acordo
com os valores do reino de Deus
(Mt 28.20). Em vez disso, vemos que
as preocupações éticas e a preparação
para a cidadania estão descartadas da
pregação e fora do ensino religioso nas
igrejas (Is 1.10-17).
Tampouco pode ser Cristo
reduzido a mero elemento do sistema
doutrinário, como se minha fé
incluísse, entre outras, doutrinas acerca
UltimatoImagem
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 35
da pessoa de Cristo e acerca de sua obra
de salvação.
Cristo é mais! Ele é o centro de
nossa fé. É nele que cremos, em sua vida
conosco, na sua presença (Mt 28.20;
Jo 14.16-18) e no seu pastoreio (Sl 23.1;
Jo 10.11). Ninguém deve se considerar
salvo em Cristo porque subscreve à
doutrina da salvação
pela graça mediante
a fé. Mera aceitação
de doutrinas é
obra meritória de
cunho intelectual
e ritualista
(Rm 3.20, 28).
Somos salvos
pela graça divina
mediante a fé
(Ef 2.8-10) na
possibilidade de
estarmos unidos
a Cristo em sua morte e em sua
ressurreição (Cl 2.12; 2Tm 2.11) —
uma realidade a ser vivenciada aqui e
agora!
Cristo é mais! A redenção em Cristo
não se limita ao perdão da culpa dos
pecados, à nossa justificação pela união
com Cristo em sua morte na cruz,
mas se estende à esperança da glória
(Ef 1.18; Cl 1.27), à santificação pela
presença de Cristo em nós
(Rm 6.22; Hb 12.14), que nos
torna seus discípulos e imitadores
(1Co11.1; 1Ts 1.6). A fé protestante
está centrada na vida do Cristo
ressurreto (1Co15.14, 19; Rm 6.5).
Não somos convidados a viver, em
Cristo, como penitentes! Antes, a uma
vida abundante (Jo10.10)! Nossa união
com Cristo nos leva a viver a sua vida,
nos eleva para perto de sua própria
estatura espiritual (Ef 4.13), promete
nos tornar coparticipantes da natureza
divina (2Pe1.4), e nos convida a viver
desde já possuídos pela glória de Deus
(2Co 3.18) e entusiasmados pelo
Espírito Santo (Ef 5.18).
Cristo
é mais! Na
verdade, é
muito mais do
que pensamos
ou podemos
imaginar. Temos
que esperar
sermos por ele
surpreendidos
(Ef 3.20), como
um leão que
não pode ser
adestrado, que
é bom, mas que não é domesticado
(como sugere C. S. Lewis acerca de
Aslam), como um tigre que subitamente
coloca suas patas dianteiras sobre nosso
peito exigindo-nos a nossa atenção para
seu poder e sua beleza (como sugere
Thomas Howard em Christ the Tiger).
Por mais que tentemos enlatar a Cristo,
condicioná-lo, fazê-lo nos servir, qual
gênio da lâmpada, ele nos escapará do
controle e nos surpreenderá, porque
Cristo é muito mais!
Lamento pelas multidões de cristãos
que se esqueceram, que se iludiram, que
se deixaram levar por pregações acerca
de Cristo e em nome de Cristo que o
reduziram a algo ridiculamente menor
do que ele de fato é, a um simulacro,
um instrumento religioso a serviço de
igrejas que são também simulacros de
igreja cristã, e que, por esta genuína
apostasia (Lc 18.8; 2Ts 2.3), deixam de
ser igreja de Cristo para serem igrejas do
anticristo, pois o anticristo nada mais é
que o simulacro de Cristo (Mt 24.24),
uma abominável desolação!
Lamento principalmente pela perda
do verdadeiro Jesus Cristo, que pode dar
sentido à vida, que pode curar a nação,
que pode resgatar a humanidade em
direção da sua própria glória, a glória
da vida do amor de Deus. Estamos
trocando a Cristo por simulacros,
pois, ao reduzi-lo a fórmulas mágicas,
eclesiásticas ou teológicas, ele se torna
menos do que ele é: a presença viva,
aqui e agora, da pessoa que me convida
a segui-lo, a encarnar o seu próprio
Espírito, e abraçar o projeto supremo de
viver, nele, a vida eterna e abundante de
Deus.
Ricardo Quadros Gouvêa é pastor da Igreja Presbiteriana
do Bairro do Limão, em São Paulo, professor de teologia
da Faculdade Unida de Vitória, ES, e do programa de
pós-graduação em ciências da religião da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
Há quem pense que o problema
de muitos evangélicos seja
o fanatismo ou a devoção
extravagante. Porém a devoção
pode ser amor próprio
disfarçado e o fanatismo pode
ser mera idolatria
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36 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Pedofilia e perdão
ESPECIAL
O
s escândalos acontecem
nos países mais prósperos
e cultos da Europa
(Alemanha, Áustria,
Espanha, Holanda, Irlanda,
Itália e Suíça) e na mais poderosa nação
do planeta (Estados Unidos). Atingem
também a Austrália. Destes, quatro são
países de maioria católica. O número de
crianças, adolescentes e jovens abusados
por padres é assustador. Só na Irlanda,
os dossiês publicados em 2009 apontam
mais de 15 mil vítimas. Na Holanda
são cerca de 1.100 casos presumíveis de
abuso sexual cometidos por membros do
clero na década de 1950.1
Na Alemanha
houve um “tsunami” de denúncias, nas
palavras de Elke Huemmeler, chefe da
força-tarefa criada para prevenir novos
casos. Nos Estados Unidos, o crime
foi cometido contra duzentas crianças
com deficiência auditiva por um único
padre durante 24 anos (1950-1974) e na
mesma instituição (St. John’s School).
No Brasil, sabe-se que três padres
da Diocese de Penedo, em Alagoas,
acabam de ser ouvidos pela Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI), no
Fórum da Justiça Estadual, em
Arapiraca, a 146 quilômetros
de Maceió, e reconhecidos
como pedófilos. O padre
mais novo tem 43 anos e o
mais idoso, 83. Os três foram
ordenados aos 25 anos. Seus
nomes ainda estão na mais
recente edição do Anuário
Católico do Brasil, mas consta
que teriam sido afastados
do exercício do sacerdócio.
Ainda em Alagoas, foram
encontradas em 2009, na
casa de um padre alemão,
1.300 fotos com cenas de
sexo explícito ou pornografia
infantil envolvendo meninos.
Centenas de artigos e
editoriais sobre o assunto estão
sendo publicados ao redor do
mundo, inclusive no Brasil.
A Igreja Católica Romana e
o próprio papa estão sendo
duramente fustigados.
A observação de Roseli
Fischmann, professora de pós-
graduação em educação da
USP, parece oportuna: “Copiando a má
prática humana na política, [autoridades
católicas] esperam a máxima visibilidade
dos méritos e a completa impunidade
dos erros”.2
A questão do celibato vem à tona
novamente. Alguns tentam defender
a Igreja Católica e outros a atacam
sem clemência. O jornalista João
Pereira Coutinho, da Folha de São
Paulo, esforça-se para minimizar as
coisas, lembrando que, das 210 mil
denúncias de abuso contra crianças
na Alemanha desde 1995, apenas 300
(0,2%) envolveram padres católicos.3
No entanto, ele esquece que essa
minoria é composta por pessoas que,
por serem ministras de Deus, têm muito
mais responsabilidade que as outras.
Já o editorial do dia 28 de março do
mesmo jornal diz que “há uma diferença
básica entre a compaixão pelo pecador,
de ordem essencialmente privada,
e o esforço, de ordem corporativa e
política, de preservar a instituição
[tradicionalmente voltada ao segredo e
à intransparência] dos escândalos que a
acometem”.
Embora seja contrário ao celibato
dos padres, o psicanalista Contardo
Calligaris não acredita que o fim
do celibato seria remédio contra a
pedofilia.4
Já o teólogo Hans Küng,
conhecido como o mentor dos
intelectuais católicos, diz que o celibato
“é a raiz de todos esses males”.5
O leigo
católico Antônio Carlos Ribeiro Fester,
autor de Justiça e Paz, endossa o texto de
Hans Küng e propõe que o celibato seja
optativo para os padres seculares.6
Seja
como for, a observação de Paulo deve
ser considerada: “Já que existe tanta
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 37
Anuncio
imoralidade sexual, cada homem deve
ter a sua própria esposa, e cada mulher, o
seu próprio marido” (1Co 7.2, NTLH).
Nem Jesus nem os apóstolos
instituíram o celibato obrigatório
para ministros religiosos. O que eles
propõem é a castidade para solteiros,
viúvos e casados, para padres e leigos,
para homens e mulheres. Nem todo
celibatário é casto. Há que se diferenciar
uma coisa e outra. É mais fácil ser
celibatário do que ser casto.
O voto de celibato e de castidade
e o próprio casamento, sozinhos, não
garantem a ausência de transgressões e
escândalos. Desde a queda, o homem
e a mulher têm uma forte índole
pecaminosa, não fazem o bem que
preferem, mas o mal que detestam,
porque o pecado habita neles, como
testemunha Paulo (Rm 7.15-16).
Ninguém, religioso ou leigo, pode
ser ingênuo: todos têm a mesma
potencialidade dupla (tanto para o certo
como para o errado). Jesus deixou claro
que é do interior do coração humano
que vem uma porção de coisas más,
e entre elas está a imoralidade sexual
e o adultério (Mc 7.20-23). Um dos
heróis do romancista russo Fiodor
Dostoievski diz que “há uma luta entre
Deus e o Diabo e seu palco é o coração
humano”. C. S. Lewis, o celebrado
autor de As Crônicas de Nárnia, avisa
que todos precisamos enxergar nossa
própria pecaminosidade, “além dos
atos pecaminosos em particular”. E o
filósofo alemão Immanuel Kant confessa:
“Somos um lenho torto do qual não se
podem tirar tábuas retas”. À vista desse
problema crônico, não é o celibato
nem o casamento que vai nos livrar da
pornografia, da infidelidade conjugal,
da prostituição, do homossexualismo
e da pedofilia. Só há um remédio,
aquele que Jesus sabiamente receitou:
negar-se a si mesmo, isto é, dizer não à
vontade pecaminosa todas as vezes que
ela se manifestar, como, por exemplo,
a vontade de abusar de uma criança
(Lc 9.23).
O bispo de Petrópolis, Dom Filippo
Santoro, tem uma palavra precisa e
aliviadora: “O momento presente,
marcado pela acirrada discussão sobre
a pedofilia, é uma grande ocasião de
purificação e conversão da Igreja para
poder comunicar com transparência
a todos o abraço da justiça e da
misericórdia de Deus, que é a razão
pela qual ela existe”. A corrupção
generalizada e escandalosa do clero
no século 15 provocou, na primeira
metade do século seguinte, a Reforma
Protestante e o Concílio de Trento. Os
escândalos, por serem insuportáveis,
muitas vezes precedem movimentos
bem-sucedidos e demorados de reforma
moral e religiosa.
Resta saber se há perdão para o
padre que mantém relações sexuais
com uma mulher com a qual não se
casou ou com uma pessoa do mesmo
sexo, ou que abusa da inocência de uma
criança. É claro que sim, desde que haja
transparência, arrependimento — do
tipo que João Batista exige (Lc 3.8) —,
confissão e propósitos renovados. O
mesmo pode acontecer com pastores
protestantes e leigos acusados de
escândalos sexuais ou outros quaisquer.
A Bíblia é um catálogo de pessoas
perdoadas, sobretudo nessa área. Basta
ler a história da prostituta Raabe,
do escândalo de Davi, da “mulher
surpreendida em adultério” (Jo 8.3),
da “mulher pecadora” (Lc 7.36-50),
do homem da igreja de Corinto que
se atreveu “a possuir a mulher de seu
próprio pai” (1Co 5.1; 2Co 2.5-11) e
dos ex-homossexuais passivos ou ativos
que foram transformados e perdoados
“pela invocação do Senhor nosso
Jesus e pelo Espírito de nosso Deus”
(1Co 6.11, BP).
O fato é que, se não houver
denúncia, se não houver disciplina e se
não houver arrependimento e mudança,
a pedofilia poderá tornar-se uma prática
tão “normal” quanto a prostituição, o
amor livre, o adultério, o lesbianismo e
o homossexualismo!
Notas
1. Estado de Minas, 21 de março de 2010, p. 22.
2. Folha de São Paulo, 29 de março de 2010, p. A-14.
3. Folha de São Paulo, 23 de março de 2010, p. E-8.
4. Folha de São Paulo, 1º de abril 2010, p. E-12.
5. Folha de São Paulo, 21 de março de 2010, p. 3
(caderno “Mais!”).
6. Folha de São Paulo, 31 de março de 2010, p. A-3.
38 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
A
partir de hoje, com a
ajuda de Deus, vou
pôr um ponto final em
meus desentendimentos
com todas as pessoas
com as quais convivo ou com
as quais me encontro. Chega de
briga, de discussões, de gritaria, de
grosseria, de palavrões, de agressões,
de antipatia. Estou cansado de
depender do outro para parar de
brigar. Vou tomar a iniciativa.
Não sou ingênuo. Estou ciente
de que será difícil. Porém não digo
mais que será impossível. Reconheço
que já avancei um pouco e quero dar
continuidade a esse pouco. A partir
daí, Deus me dará outras vitórias.
Sei que o relacionamento entre
duas ou mais pessoas é sempre
complicado por causa da nossa
herança adâmica. Lembro-me de
Abel e Caim, de Sara e Agar, de Jacó
e Esaú, de Raquel e Lia, de José e
seus irmãos, de Maria e Marta, de
Paulo e Barnabé e da membresia da
igreja de Corinto.
Estou ciente de que eu e meu
cônjuge, eu e meus filhos, eu e
meus vizinhos, eu e meus colegas
de trabalho, eu e meus irmãos na
fé — somos muito diferentes, o que
me leva a crer que o relacionamento
entre nós não será automático.
Vai exigir esforço, temperamento
controlado e autonegação
continuada. Eu e eles temos
temperamentos, históricos, ênfases,
experiências, reações, defeitos,
virtudes, capacidades e dons
diferentes.
Além disso, eu e eles somos —
pelo menos potencialmente —
invejosos, ciumentos, egoístas,
orgulhosos, impacientes, briguentos
e outras coisas mais. Para viver em
paz, preciso passar por cima de
tudo isso. Preciso andar a segunda
milha de que fala Jesus (Mt 5.41) e
perdoar setenta vezes sete, também
de acordo com Jesus (Mt 18.22).
Meu relacionamento no circuito
mais próximo e íntimo (no lar) e no
circuito mais amplo e público
(no trabalho e na igreja) vai
depender de certas virtudes claras.
Preciso conhecer e respeitar o
outro. Preciso amar e perdoar o
outro. Preciso tolerar o outro e
ter paciência com ele. Preciso ter
sabedoria e acerto para conviver
com o outro. Preciso de humildade
para não me encher de glória à custa
do esvaziamento da glória do outro.
Preciso repudiar a comparação,
a competição e a concorrência
com o outro. Preciso descolar da
memória qualquer lembrança
negativa — tanto recente, como
remota — do outro. Preciso pedir
desculpas e desculpar. Preciso
conversar, dialogar e desabafar com
o outro. Preciso evitar qualquer
oportunidade que possa gerar
aborrecimento com o outro. Preciso
interceder pelo outro.
De hoje em diante vai ser assim.
Que o Senhor me socorra! Amém.
Não quero brigar com ninguém!
DE HOJE EM DIANTE...
FranPriestley
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 39
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40 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 41
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42 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
realização das mãos ensanguentadas
de Caim, que edificou a primeira,
para nela habitar, depois de ter
matado o irmão, Abel, e se retirado da
presença do Senhor. Porém, o grande
construtor de cidades foi Ninrode,
neto de Cam, que era filho de Noé. É
o primeiro homem descrito na Bíblia
como poderoso e caçador. Edificou
várias cidades, entre elas Babel e
Nínive, cidades emblemáticas na
história bíblica.
No livro The Meaning of the City,
Jacques Ellul vê na edificação da
cidade um ato de rejeição da proteção
de Deus, pois quando o homem a
edifica ele rejeita a criação de Deus,
opondo-se ao jardim. Segundo Ellul,
em sua origem a cidade é lugar da
autoproteção do homem e ao mesmo
tempo uma tentativa de fugir da
maldição de Deus. Por isso, ela é
resultado da alienação de Deus, e
também elemento alienante para o
homem do resto da criação. O homem
refugiou-se na cidade para não ter de
H
á muitos anos, quando
Jacques Cousteau revelava
imagens da vida marinha,
ao mesmo tempo em que
mostrava preocupação
com a manutenção do equilíbrio
da ecologia e com a preservação das
espécies, ambientalismo e ecologia
eram assuntos para poucos. Parece
que a ficha começa a cair cada vez
mais para a maioria das pessoas. Ter
consciência ecológica e cuidado com
o planeta significa atentar-se para a
própria casa. Aliás, a expressão eco, tão
presente hoje em dia, vem do grego e
significa “casa”.
A Bíblia começa num jardim e
termina numa cidade. Há o jardim
do Éden em Gênesis e há a Nova
Jerusalém em Apocalipse. Ambos
— jardim e cidade santa — não têm
santuário, pois Deus mesmo é o seu
santuário e em ambos a vida se dá em
sua presença de forma ininterrupta,
plena e sem obstáculos. Vivemos
entre o jardim que passou e a cidade
celestial que virá. Perdemos o jardim
e dele sentimos saudade; moramos na
cidade e vemos com esperança a Nova
Jerusalém. Até a árvore da vida está
lá. O jardim foi feito por Deus e lá ele
colocou o homem, criado conforme
sua imagem e semelhança, para com
ele se relacionar e cuidar da criação.
A Nova Jerusalém desce do céu, da
parte de Deus, para se instalar entre os
homens.
Se o jardim é criação das mãos
bondosas de Deus, a cidade é
dizer: “O Senhor é a minha rocha, a
minha cidadela” (Sl 18.2). Na cidade
o homem enganosamente pensou que
não precisava mais do jardim.
A Nova Jerusalém é fruto da
graça de Deus que trouxe redenção
ao homem e a tantas das suas
realizações. É fruto final da busca
amorosa de Deus pelas cidades. É o
caso de Nínive, Jerusalém, Samaria.
Assim, a Nova Jerusalém é habitação
eterna do Criador com sua criatura,
a união dos propósitos divinos que
santificam os projetos humanos por
meio do Cordeiro. É cidade com alma
de jardim.
A redenção de Jesus Cristo abrange
toda a criação. Paulo deixa isso claro
em Romanos 8.19-22. Ser discípulo
de Jesus não é só voltar à comunhão
com Deus perdida no jardim — é
encher-se de esperança pela realização
da cidade santa trabalhando hoje para
que o jardim brote novamente no meio
da cidade. Isso é dar o devido valor e
dignidade àquilo que Deus criou. É ter
a mente de um cidadão e o coração de
um jardineiro.
LIVRO Jesus e a Terra, James Jones,
Ed. Ultimato
MÚSICA “Criatividade”, Silvestre Kuhlmann, 		
CD Alvíssaras!
SITE www.arocha.org
Fernando Oliveira mora em São Paulo, é pastor da Igreja Nova
Aliança há vinte anos e apresenta o programa Papo na Rede, no
portal www.koinoniaonline.com.br. fco@osite.com.br
No meio do jardim e da cidade,
o meio ambiente
Ser discípulo de
Jesus é trabalhar
hoje para que o jardim
brote novamente no
meio da cidade
MEIO AMBIENTE E fé cristã Fernando Oliveira
Se toda a poesia numa palavra
Eu ficaria com Jardim. Gerson Borges
A turma de Jesus e a conversão de Paulo dos fariseus à fé cristã
A turma de Jesus e a conversão de Paulo dos fariseus à fé cristã
A turma de Jesus e a conversão de Paulo dos fariseus à fé cristã
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A turma de Jesus e a conversão de Paulo dos fariseus à fé cristã

  • 1. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 1 A turma de Jesus ENTREVISTA: RONALDO LIDÓRIO – A primeira missão da igreja é “desglorificar-se” para glorificar a Deus ESPECIAL PEDOFILIA E PERDÃO MISSÃO INTEGRAL JESUS CRISTO, SENHOR DE TUDO E DE TODOS DA LINHA DE FRENTE OS BRAÇOS DE FÁBIO
  • 2. 2 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
  • 3. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 3 Abertura Caim e a neurocientista do Alabama É impossível entender. Uma doutora em genética pela Universidade de Harvard, 44 anos, casada, três filhos, só porque não foi promovida ao cargo de professora titular da Universidade do Alabama, abre a bolsa, apanha uma arma e atira em seis de seus colegas, matando três deles. A tragédia aconteceu durante uma reunião de professores de biologia — a ciência da vida — no dia 12 de fevereiro de 2010. Nenhuma resposta, seja da psicologia, psiquiatria, antropologia, sociologia e outras ciências, satisfaz plenamente a sede de explicação que o acontecimento exige. Outros dramas históricos e frequentes, como a guerra, o terrorismo, o narcotráfico, a opressão dos poderosos (palavra usada no cântico de Maria) contra os mais fracos, os terremotos e os tsunamis, também ficam sem resposta adequada. A não ser que se recorra à Bíblia, à tradição judaico-cristã. Porém exatamente os intelectuais oferecem resistência à explicação teológica da questão. E ela é formidável. Imediatamente após a queda, o Criador decretou: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). A guerra entre Deus e o Maligno, entre o bem e o mal, entre os seres humanos e a serpente foi deflagrada nesse dia e continua até hoje. Na página seguinte do livro de Gênesis, lê-se que uma pessoa foi tomada de inveja por outra, que a inveja levou à ira e esta, ao crime. O que aconteceu na ocasião foi mais hediondo do que o crime cometido no Alabama. O assassino e a vítima eram filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Trata-se de uma tragédia dupla, pois a morte de Abel foi a estreia da morte e o primeiro morto não morreu por causa de uma doença ou de um acidente, mas por causa da violência de Caim (Gn 4.1-8). A maior parte das versões usa a palavra inimizade; outras preferem a palavra hostilidade (BJ, TEB, EP), e a Edição Pastoral Catequética emprega a palavra ódio. Seja qual for a tradução, o embate foi declarado (Gn 3.15) e inaugurado (Gn 4.8) logo no início da história da humanidade. O antagonismo entre os seres humanos e o que a serpente significa acontece na superfície e no mais íntimo de qualquer ser humano, em qualquer tempo (a guerra entre o amor e o ódio, entre o escrúpulo e o desejo maligno, entre a voz da consciência e os reclames do mal, entre a educação e o instinto, entre a sensatez e a loucura, entre a carne e o Espírito). Esse conflito é a principal matéria da mídia. Está nos livros de ficção e de história. É o dia-a-dia de toda sociedade. Nessa guerra, a serpente fere o calcanhar do descendente da mulher (é bom lembrar que os pés e as mãos de Jesus foram perfurados pelos cravos da crucificação, Sl 22.16) e o descendente da mulher fere a cabeça da serpente (é bom lembrar a promessa de que o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos nossos pés, Rm 16.20). Além de explicar o drama do fracasso e do sofrimento humano, o decreto do Criador (“Porei inimizade entre a serpente e a mulher”) é o primeiro clarão da vitória de Jesus sobre a serpente, sobre as potestades do ar, sobre a violência, sobre a opressão, sobre a dor, sobre a doença, sobre a morte e seu irmão gêmeo, o pecado. Na plenitude desse clarão veremos a redenção de toda a criação — os novos céus e nova terra! Na plenitude dos tempos, veremos a redenção de toda a criação — os novos céus e nova terra Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 3
  • 4. 4 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 C omeçamos o ano com os trágicos desabamentos em Angra dos Reis e o segundo trimestre com os trágicos desabamentos no Rio de Janeiro e em Niterói. O que aconteceu com as casas construídas sobre toneladas de lixo, no morro do Bumba, em Niterói, nos leva ao final daquele longo sermão que Jesus proferiu do alto do monte Chifres de Hatim, entre o mar da Galileia e a cidade de Cafarnaum. Nessa ocasião, Jesus faz referência a dois tremendos desabamentos. O primeiro envolve a destruição de um imóvel construído imprudentemente sem apoio algum. Trocando a palavra “terra” por “lixão”, o texto relata exatamente o que aconteceu em Niterói: “[Certo] homem construiu uma casa no lixão, sem alicerce. Quando a água bateu contra aquela casa, ela caiu logo e ficou totalmente destruída” (Lc 6.49, NTLH). O segundo envolve a repentina destruição de um projeto de fé e esperança construído sem o alicerce necessário. Jesus é a pedra sobre a qual se constrói a fé e a conduta do crente. Sem esse fundamento, mais cedo ou mais tarde, a casa desaba. Se alguém construir o seu edifício religioso sobre a pedra e não sobre a areia, a terra ou o lixão, mesmo que a água bata contra essa casa, ela não se abalará nem desmoronará (Lc 6.46-49). Se é difícil convencer um morador a não construir sua casa sobre um lugar de risco, quanto mais convencer um pecador a construir sua fé e sua conduta sobre a pessoa e o ensino de Jesus Cristo! A possibilidade de acreditar no desmoronamento de uma casa construída no lixão é difícil; a possibilidade de acreditar no desmoronamento de uma esperança é muito mais. É assim que Jesus termina o Sermão do Monte! Elben César Desabamentos Carta ao leitor ISSN 14153-3165 Revista Ultimato – Ano XLIII – Nº 324 Maio-Junho 2010 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Foto de capa: Mark Ford Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlinhos Veiga • Marcos Bontempo Paul Freston • René Padilla Ricardo Barbosa de Sousa • Ricardo Gondim Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese Valdir Steuernagel Participam desta edição: Lissânder Dias • Philip Greenwood • Ricardo Gouvêa • Rodolfo Amorim Vittoria Andreas Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG Administração: Klênia Fassoni • Daniela Cabral Ivny Monteiro Editorial e Produção: Marcos Bontempo Bernadete Ribeiro • Djanira Momesso César Fernanda Brandão Lobato • Gláucia Siqueira Paula Mendes • Paulo Alexandre Lobato Finanças/Circulação: Emmanuel Bastos Aline Melo • Cristina Pereira • Daniel César Edson Ramos • Luís Carlos Gonçalves Rodrigo Duarte • Solange dos Santos Vendas: Lúcia Viana • Lívia Moraes Lucinéa Campos • Romilda Oliveira Sabrina Machado • Vanilda Costa Estagiários: Ariane Santos • Euniciléa Ferreira Jamille Filgueiras • Juliani Lenz • Thales Moura Lima fundada em 1968 4 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
  • 5. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 5
  • 6. 6 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Pastorais 68. “Eu era fariseu...” O testemunho de conversão de Paulo ganha muito mais realce na Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “Eu era fariseu... Eu era tão fanático, que persegui a Igreja” (Fp 3.5-6). Lembrar a sua militância dentro do partido religioso e político dos fariseus foi um ato de extrema coragem de Paulo. Jesus denunciou essa seita judaica com grande veemência, principalmente num dos seus últimos discursos. No capítulo 23 de Mateus, ele os chama abertamente de hipócritas sete vezes. Os fariseus explicam a lei de Moisés, mas “não fazem o que ensinam” (v. 3). Amarram fardos pesados nas costas dos outros, mas não os ajudam “nem ao menos com um dedo a carregar esses fardos” (v. 4). Copiam e amarram na testa e nos braços trechos das Sagradas Escrituras só para serem notados pelos outros (v. 5). Adoram ser tratados com respeito e chamados de mestres nos espaços públicos (v. 7). Trancam a porta do reino do céu, não entram “nem deixam que entrem os que estão querendo entrar” (v. 13). Exploram as viúvas, roubam- lhes os bens e, “para disfarçarem, fazem longas orações” (v. 14). Atravessam os mares e viajam por todas as terras fazendo proselitismo e, quando alguém se converte, “tornam essa pessoa duas vezes mais merecedora do inferno” do que eles mesmos (v. 15). Ensinam uma porção de coisas inexatas, dão o dízimo até da erva- doce, “mas não obedecem aos mandamentos mais importantes da lei” (v. 23) e têm o vício de coar mosquitos e engolir um camelo (v. 24). O pior de tudo é que os fariseus fazem questão de lavar o copo e o prato só por fora, deixando dentro deles as coisas que “conseguiram pela violência e pela ganância” (v. 25). Ao dizer que os fariseus eram “como túmulos pintados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos e podridão” (v. 27), Jesus poderia ter usado o dito popular “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento” ou o seu correspondente “Por fora, muita farofa; por dentro, não tem miolo”. Certamente, Paulo, nem mesmo antes da sua conversão, tinha essas características próprias dos fariseus. Porém viajava de cidade em cidade para desconverter os cristãos. Ele mesmo conta ao rei Agripa: “Durante muito tempo eu os castiguei em todas as sinagogas e os forcei a negar a sua fé. Tinha tanto ódio deles, que até fui a outras cidades para persegui-los” (At 26.11). Não é fácil mudar de vida. Não é fácil deixar de lado estilos de vida herdados, ensinados, aprendidos, experimentados, adotados, vivenciados e arraigados por muitos anos. Também não é fácil livrar-se de certas dependências, como a dependência do álcool, da maconha, da cocaína, da pornografia. Não é nada fácil mudar de comportamento, do ódio para o amor, do egoísmo para o altruísmo, da soberba para a humanidade, do pão-durismo para a mão aberta. Não é nada fácil mudar de posição religiosa, do ceticismo para a fé, da indiferença para o fervor, da ignorância para as convicções, da irreverência para o temor do Senhor. Todavia, além do exemplo de Paulo, a história bíblica e a história moderna estão cheias de mudanças reais e definitivas. No último instante de vida, um dos ladrões crucificados ao lado de Jesus deixou de escarnecer do Senhor (Mt 27.44) e passou para o lado dele (Lc 23.39-43). Paulo garante que muitos cristãos de Corinto, na Grécia, o elo entre Roma, a capital de império, e o Oriente, eram ex-adúlteros, ex-alcoolistas, ex-assaltantes, ex-fofoqueiros, ex-homossexuais ativos e passivos, ex-trapasseiros. Todos foram poderosamente alcançados pela graça especial de Deus, lavados, justificados e santificados em Cristo Jesus (1Co 6.9-11). Ainda há esperança para homens e mulheres de qualquer lugar, de qualquer idade e de qualquer situação. Muitos ainda podem vir a declarar como Paulo: “Eu era fariseu... Eu era tão fanático, que persegui a Igreja”. JosepAltarriba
  • 7. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 7 24 A turma de Jesus 26 Os porta-vozes 26 Os familiares 27 Os empolgados 28 Os acompanhantes 28 Os agradecidos 30 Os protetores 31 Os continuadores 32 Os redimidos 3 Abertura 4 Carta ao leitor 6 Pastorais 8 Cartas 12 Frases 14 Mais do que notícias 16 Nomes 17 Notícias 18 Números 38 De hoje em diante... 40 Altos papos 42 Meio ambiente e fé cristã 43 Caminhos da missão 44 Novos acordes 56 Vamos ler! 59 Deixem que elas mesmas falem CAPA SEÇÕES Leia mais www.ultimato.com.br Sumário ABREVIAÇÕES: AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP – A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional. Especial 34 Cristo é mais!, Ricardo Quadros Gouvêa 36 Pedofilia e perdão Da linha de frente 46 Os braços de Fábio, Bráulia Ribeiro Missão integral 47 Jesus Cristo, Senhor de tudo e de todos, René Padilla Ética 48 Espiritualidade cristã e vida intelectual: alguns modelos históricos, Paul Freston O caminho do coração 50 Coração compungido e contrito, Ricardo Barbosa de Sousa Reflexão 52 50 anos de crente: 1960-2010 (parte 2), Robinson Cavalcanti 54 Graça, Ricardo Gondim Redescobrindo a Palavra de Deus 57 Chamados para expulsar demônios: denúncia de morte, anúncio de vida, Valdir Steuernagel História 60 Flertando com o adversário: os evangélicos e a teologia liberal, Alderi Souza de Matos Entrevista 62 A primeira missão da igreja é “desglorificar-se” para glorificar a Deus, Ronaldo Lidório Ponto final 66 E que governe bem a própria casa, Rubem Amorese
  • 8. 8 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Deus não está calado! Deus não está calado! é uma das melhores matérias de capa de Ultimato. É bom saber que Deus continua levantando verdadeiros profetas, fiéis à ortodoxia e de inquestionável lucidez intelectual. Aproveito para citar o “quinto elemento”, o caçula do grupo, também anglicano. Alister McGrath, ex- ateu, seguidor de Lewis, biofísico e teólogo, é autor de obras como O Delírio de Dawkins, Como Lidar com a Dúvida, Uma Introdução à Espiritualidade Cristã e outras. Vale a pena conhecer. Antônio Márcio da Cunha, Belo Horizonte, MG A edição de março/abril é uma das melhores de todos os tempos. A matéria de capa, Deus não está calado!, é profunda e singular. Em 2007, morei na Inglaterra e pude experimentar o que é viver em um país pós-cristão. Também tive experiências maravilhosas que enriqueceram meu ministério. Visitei a casa e museu de John Wesley, estive na igreja de Charles Spurgeon e, apesar de tudo, vi que naquele país ainda há pessoas comprometidas com o reino de Deus. Precisamos orar mais pela Inglaterra e por toda a Europa. Daniel Moda Júnior, Mogi Mirim, SP Teologia da surpresa A respeito do artigo Teologia da surpresa (“Abertura”, março/abril de 2010), realmente é uma surpresa terrível quando se perde, no meu caso, uma filha querida, Adriana Francisca van Sluys, que morreu em 31 de maio de 2009 no acidente com o voo da Air France. Ao longo das investigações, que tenho acompanhado de perto, ficou claro que o airbus (e não o boeing, como está escrito) falhou porque seu elevado grau de automação, ou seja, a eletrônica, não deixou lugar para a intervenção manual humana. Em condições atmosféricas instáveis, a dependência da ciência foi tão “soberana” que a dádiva de Deus, ou seja, o raciocínio — que poderia ter evitado a tragédia —, foi posta de lado. Assim como o profeta Isaías, poderíamos repetir: “Faço tornar atrás os sábios, cujo saber converto em loucura” (Is 44.25). Até quando? Martem van Sluys, Fortaleza, CE Por que não sou de esquerda Nenhum cristão precisa se declarar conservador ou de esquerda. Para defender causas nobres, basta ser cristão. Falar dos assassinatos dos hitleristas-nazistas ou dos comunistas e tratá-los como ciclo diabólico (o que de fato são), sem mencionar os mesmos atos dos capitalistas, dos ditadores militares latino-americanos, também é diabólico. Pedro Virgílio, Serrinha, BA Mostrando um desconhecimento sociológico gritante, Norma Braga restringe o pensamento esquerdista ao malfadado stalinismo de viés soviético. Não cita as variações existentes no universo esquerdista, como o trabalhismo, a social-democracia, o anarquismo, o socialismo Anúncio Cartas
  • 9. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 9 democrático etc. Para ela, o mundo é dividido de forma dual. Ou se é fã do falido capitalismo laissez- faire, ou se cultua o ineficiente regime estatizante norte-coreano. No universo de Norma não há uma Dinamarca, que historicamente une o que há de melhor no capitalismo e no socialismo. Para piorar, os argumentos bíblicos são sofríveis, não merecendo sequer uma linha para refutá-los. André de Oliveira, São Paulo, SP O texto de Norma Braga chega a ser simplório. Como ela não aponta os crimes e investidas contra o projeto de Deus para a humanidade perpetrados pelos regimes de direita, pelos conservadores de sempre e pelo sistema capitalista, não dá para discutir um mínimo denominador comum sobre posições possíveis ao cristão no exercício de sua cidadania e de opções no quadro político-partidário. Da minha parte, tenho tranquilidade em dizer que, graças a Deus, sou de esquerda, sem pretender absolutizar minha posição. A rigor, cristãos de direita e de esquerda são chamados pelo Pai eterno a uma lealdade infinitamente superior e distinta daquela que podemos assumir em relação a partido, facção, ideário, afeição ou inclinação e mesmo a qualquer grupo. No céu não haverá tais distinções. Enquanto não chego lá, sendo brasileiro, latino-americano, afrodescendente e com o conhecimento e a trajetória de vida que tenho, digo com todas as letras: sou cristão, de tradição reformada e presbiteriana, e sou de esquerda. É simples assim. André Martins, Sobradinho, DF Adorei o artigo de Norma Braga. Que venham outros da lavra dela. Eduardo Vaz, Nova Lima, MG Norma Braga não soube expressar bem sua consciência cristã. A origem dos termos direita e esquerda remonta à Revolução Francesa, em que os do clero (Primeiro Estado) e os da nobreza (Segundo Estado) se sentavam à direita do rei e eram favoráveis a todas as decisões que eles mesmos tomavam. Os mais radicais, que normalmente eram contra as decisões, ficaram conhecidos como “os da esquerda”, pois se sentavam à esquerda do rei — eram os membros do Terceiro Estado (e não eram do clero nem da nobreza). Assim, a esquerda geralmente implicava apoio a uma mudança social com o intuito de criar condições para uma sociedade mais igualitária, apoiando a república e a secularização do Estado. No Brasil, existe uma enorme parcela de nossos patrícios que, há quinhentos anos, vive à margem da sociedade. Porque, como em todo governo humano, “o sistema trabalha a favor daqueles que detêm o poder e a influência para mudá-lo” (Bell e Golden, em Jesus Quer Salvar os Cristãos). Paulo da Anunciação, Maringá, PR Se o artigo de Norma Braga fosse Por que não sou de algumas esquerdas, eu, honestamente, permaneceria calado. Como não foi o caso, acho difícil me segurar. Todas as vezes que o cristianismo falou com voz política, falou grosso, pela boca de reis, do clero e de governos que muitas vezes esmagaram os mais pobres. Da mesma forma, alguma possível esquizofrênica “esquerda única cristã” faria as mesmas ou piores atrocidades, com a mesma legitimidade, caso estivesse no poder. Ou seja, não há lado bom quando se mistura Estado e ideologia religiosa oficial. Por isso, também tenho minhas dúvidas sobre a esquerda — mas ela dá um banho na direita. André Soares, Niterói, RJ Anúncio
  • 10. 10 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Anúncio Carta aberta Obrigado pela coragem e ternura de Ultimato. Apoio integralmente a linha editorial da revista, sua política de distribuição e seu quadro de articulistas. Osmar Ludovico, Lauro de Freitas, BA Aprecio a visão de reino de Ultimato. Ela não se restringe a batistas, presbiterianos, metodistas ou qualquer outra denominação. É triste ver o tempo que a igreja perde com briguinhas por coisas pequenas. Se esse esforço fosse gasto para amar os não salvos, o cristianismo no Brasil seria mais verdadeiro. Fernanda Siqueira, Belo Horizonte, MG A propósito da Carta aberta (também franca e dolorida), digo apenas: prossigam! O preconceito é um veneno terrível. Mas o evangelho de Jesus Cristo vale a pena! Antônio Carlos Santini, Belo Horizonte, MG A Carta aberta está bem pontuada, transparente e participativa. Ministérios amplos e influenciadores, como o de Ultimato, serão sempre objetos de observação, participação, elogios e críticas. Há três coisas a fazermos em relação às críticas. Primeiro, não as jogarmos fora, pois mesmo aquelas feitas sem motivação cristã, ou impulsionadas pelo desejo do puro questionamento, podem conter alguma verdade útil a nosso respeito. Portanto, o Senhor pode transformá-las em sinais que guiam. Segundo, não dormirmos com a crítica. É necessário avaliá-la na presença Deus, com coração aberto — observar sua consistência, conversar com amigos a respeito e tomar atitudes necessárias. Porém, dormir com ela pode gerar uma ansiedade crônica no coração, que entristece e pode nos paralisar. Terceiro, não nos tornarmos críticos. As pessoas mais críticas que conheço foram muito criticadas no passado. Ataques com críticas não apenas abatem e destroem o alvo das mesmas, mas também têm o potencial de criar os neocríticos, que, a partir dos mecanismos de defesa sempre aguçados, vivem em guerra e não descansam em Deus. Ronaldo Lidório, Manaus, AM Totalmente desnecessária a Carta aberta. Não permitam que pessoas com boas ou más intenções atrapalhem a grande obra de vocês. Não percam o foco nem olhem para trás. Ultimato tem que ir em frente, do jeito que ela sempre foi: coerente, coerente e coerente. O Grande General de Ultimato é Cristo! Wilson de Oliveira Jr., Recife, PE Foi bom terem publicado a Carta aberta, mas não se preocupem com os críticos. A orientação que sempre dou é: ouça as críticas e veja se alguma coisa pega. Se não, esqueça-as; se pega em algo, procure corrigir e corrigir-se. Nos casos mencionados na Carta aberta, é evidente que, em geral, as críticas vêm de gente fanática, ou estreita, ou maldosa, ou invejosa, ou ignorante. Devemos dar graças a Deus quando recebemos críticas por sermos fiéis. Odayr Olivetti, Águas da Prata, SP Somos um rebanho (com ovelhas de todos os tipos) ou uma tropa, em que é proibido pensar além dos coronéis? Parabéns, Ultimato. Não se cale. Daniela de Souza, Goiânia, GO Assustei-me com a Carta aberta. É lamentável que as pessoas tenham o trabalho de atirar pedras em quem faz um trabalho sério e comprometido com o Senhor! Continuem firmes. Vocês são sérios. Se há Cartas
  • 11. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 11 Anúncio Fale conosco Cartas à Redação • cartas@ultimato.com.br • Cartas à Redação, Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Inclua seu nome completo, endereço, e-mail e número de telefone. As cartas poderão ser editadas e usadas em mídia impressa e eletrônica. Economize Tempo Faça pela Internet Para assinaturas e livros, acesse www.ultimato.com.br Assinaturas • atendimento@ultimato.com.br • 31 3611-8500 • Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Edições Anteriores • atendimento@ultimato.com.br • www.ultimato.com.br erros, credite-se na conta da humanidade de cada um de nós, sujeitos a isso. Mas não desanimem. Vocês não apresentam uma revista espiritualizada, como se fôssemos extraterrestres, mas espiritual e dirigida ao mundo em que vivemos, à realidade de nossas comunidades, que nem sempre são os sonhos da igreja que Deus idealizou para nós. Os autores são corajosos e talvez isso assuste alguns leitores. Nancy Dusilek, Rio de Janeiro, RJ Minha sugestão é que Ultimato não dê importância às críticas. Que siga sendo o que é. Que publique o que acha que deve publicar, à luz da direção de Deus. Só peço que pare de mentir para si mesma e para todos nós, alegando ser um periódico cristocêntrico e reformado, já que ficou claro que nem uma nem outra afirmação é verdadeira. A revista adota uma teologia plural, não reformada, e abriga autores que não engrandecem a Jesus Cristo — o que a impede de se caracterizar como cristocêntrica. Alex Meimaridis, São João da Boa Vista, SP Conheço a revista Ultimato desde o final da minha adolescência. Assino porque é uma revista de linha editorial equilibrada, não deprecia ninguém, é honesta nas avaliações e busca ser caridosa nas críticas. Porque é capaz de reconhecer que há conhecimento e ciência além das Escrituras, e que ciência e fé cristã não são inimigas nem adversárias, ainda que existam pontos focais de tensão. Porque não fica na mesmice e porque busca estimular respostas a novas questões, rever as antigas e reafirmá-las, se assim for considerado correto. Porque tem sido um dos recursos para minha santificação pessoal, desafio intelectual e elaboração de ideias. Há críticas irritantes, críticas pobres, críticas analfabetas e críticas razoáveis e sensatas. Estas últimas são úteis no conhecimento; as primeiras, para o exercício de uma santa paciência; as segundas, para o exercício da oração; as terceiras para o exercício da reflexão sobre como alfabetizar biblicamente quem não tem condições de o ser. Continuem buscando acertar, mesmo que errando. Continuem a buscar articulistas que sacudam visões envelhecidas e inúteis e nos apontem caminhos para um evangelho integral. Eduardo Mundim, Belo Horizonte, MG
  • 12. 12 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 “Por meio do mecanismo da sedução, o Diabo tornou o automóvel um objeto de desejo humano, pois o carro nos dá um onipotente sentimento de liberdade: locomovo-me quando quero, para onde quero e com quem quero! Jorge Wilheim, arquiteto e urbanista, ex-secretário estadual de Meio Ambiente do Estado de São Paulo “As armas nucleares são um perigo para todo o mundo, mas são também uma razão para que potências nucleares não façam mais guerras entre si. Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Ciência e Tecnologia “Estamos pensando em ajudar pessoas que serão ricas daqui a cem anos, mas deixando de ajudar as pessoas pobres que estão aqui agora. Este é, para mim, o grande dilema ético: nós nos importamos tanto com os ricos do futuro e tão pouco com os pobres do presente. Bjorn Lomborg, cientista político dinamarquês “Omonge não busca o paraíso pela “fuga mundi”. A clausura não é tanto uma questão física. É mais uma questão espiritual, de silenciar o coração para ter foco na espiritualidade. Carlos Eduardo Uchôa, reitor do Colégio e Faculdade São Bento “Aúnica saída para Brasília seria chover muito fogo e muito enxofre por lá. Rene G. Santana, de Jundiaí, SP, em carta à Folha de São Paulo Na sala do conselho Sem princípios, os crentes perdem a vitalidade; “o que salva é ter muitos conselheiros” (Pv 11.14). ” ” ” ” ” FRASES José Carlos Barcellos — Vivemos uma crise de valores na qual bem e mal, salvação e perdição, apresentam-se inextrincavelmente misturados e confundidos. Sônia Rodrigues — Pecar ocupa tempo e dá trabalho. Ariovaldo Ramos — Ética é isto: a coerência entre o meio e o fim. Ser ético, então, para a igreja, é ser coerente na história, em meio à sociedade, com a complexidade de sua natureza e finalidade. N. T. Wright — Santidade não é simplesmente uma questão de encontrar o caminho por onde Deus quer que andemos. Também não é obediência a regras arbitrárias ou ultrapassadas. Santidade é uma questão de transformação, a começar pela mente. Rikk Watts — O amor ao poder é a maior tentação que enfrentamos. Desenhar círculos para determinar quem fica dentro e quem fica fora é uma forma sutil de exercício do poder. Isidoro Mazzarolo — A preguiça é sempre uma forma de agir que cria dificuldades e acúmulos de peso sobre o outro. “Devemos procurar mais gente para indicar o caminho certo e menos gente para mostrar o que está errado. Mais gente para investir em missões e menos gente que gasta muito com gatos e cães. Jeremias Pereira da Silva, pastor da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte” Arquivopessoal GermanLorca
  • 13. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 13 Anúncio
  • 14. 14 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Cartunista coloca veneno na imaginação dos teenagers e se manda F oi na Folhateen, o caderno semanal da Folha de São Paulo dedicado ao público teena- ger — adolescentes entre 13 e 19 anos. Na última página da edição de 15 de fevereiro de 2010, estava escrito, entre outras coisas: “Afinal, pra que serve o casamento? Antigamente as pessoas se casavam por- que estavam desesperadas para fazer sexo com o seu par. Mas hoje, segundo sérios estudos, 99,63568% dos jovens perdem a vir- gindade antes do casamen- to. Os outros 0,36432% não quiseram dar de- poimento. Concluímos, então, que o matrimônio perdeu todo o sentido. Se casamento fosse bom, não precisava de testemunhas.” “Antes de cometer a besteira de casar, conheça o pai ou a mãe do seu parceiro para saber como ele vai ficar depois de con- trair o matrimônio. Veja o tamanho da pança do sogro e onde foram parar os seios da sogra. Digamos que o casamento é uma fábrica de monstros.” “Se você pode ter inú- meros parceiros, porque diabos vai escolher ter um só?” “O casamento é uma sociedade. Funciona co- mo uma empresa. Tem um contrato, com assinaturas, rubricas, cláusulas, deveres, obrigações e carimbos de todas as cores. Quando essa empresa quebra é muito provável que seu “sócio” vire seu arqui- inimigo. Lembre-se de que o casamento é que nem submarino. Pode até boiar, mas foi feito para afundar.” Quem assina o tex- to, ilustrado com vários desenhos, é o cartunista gaúcho Adão Iturrusgarai, de 45 anos. No final da página, há uma nota: “Isto é um texto de humor, entendido?” +DO QUE NOTíCIAS O crime desse Adão lembra o crime daquele inimigo que, de noite, enquanto todos dor- miam, entrou na lavoura alheia, semeou joio no meio do trigo e se foi (Mt 13.25). Depois de semear veneno na ima- ginação e na memória de meninos e meninas, o artista dá uma explicação e se manda. E todos o aplaudem, inclusive os pais dos teenagers. Isso faz parte do tal antago- nismo entre a serpente e os seres humanos. (VejaCaimeaneurocientista do Alabama, pág. 3.) MichalZacharzewski KrissSzkurlatowski
  • 15. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 15 CNBB começa a distribuir 1 milhão de Bíblias no país A igreja nem sempre erra. Costuma acer- tar e tomar a diantei- ra na solução de alguns problemas. Desde que foram implantadas no Brasil, a partir da segunda metade do século 19, as igrejas evangélicas de missão eram contrárias ao fumo. Antes de ser batizado nas igrejas congregacionais presbiterianas, metodistas e batistas, o novo convertido era encorajado a deixar de fumar. Mais tarde, quando chegaram os primeiros pentecostais (Assembleia de Deus e Congregação Cristã do Brasil), a mesma medida foi adotada. Milhares de fumantes brasileiros abandonaram o vício (como era chamado). Alguns tiveram dificuldade e demoraram anos para se livrar dos cigarros. Por causa do ensino da igreja e do exemplo dos pais, uma enor- me quantidade de adolescen- tes e jovens nunca se iniciou no tabaco. E como há uma relação entre a dependência do fumo e a de substâncias ilícitas, a vantagem foi maior do que se esperava. De algu- ma forma, esse comporta- mento livrou muitas pessoas do câncer, de outras doenças e da morte, além de oxigenar o ambiente. O que o evangelho fez e ainda faz, é feito hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde, por meio de muitas leis, muita propaganda e muitos gastos. E também com bons resulta- dos — cerca de 21 milhões de brasileiros deixaram de fumar nas últimas duas décadas. N o dia 6 de março foi lançado em Teresina, no Piauí, o Projeto Um Milhão de Bíblias, desenvolvido pela Confe- rência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em parceria com a Comissão para a Missão Continental no Brasil. O objetivo da companhia é levar a Palavra de Deus a todos os brasilei- ros que não têm condições de comprar a Bíblia. A doação de 1 milhão de Bíblias não será feita de qualquer jeito. Cada diocese ou arquidiocese terá de apresentar um projeto de evangelização para ser analisado por uma comissão responsável. Se aprovado, a diocese receberá quantas Bíblias forem necessárias, acompanhadas de outros itens (uma Bíblia infantil, um pequeno catecismo e um livreto sobre a iniciação à leitura da Bíblia). É oportuno lembrar que a evangelização do Brasil começou com a introdução da Bíblia no país por meio dos chamados colportores (distribuidores de Bíblia). Provavelmente, a primeira +DO QUE NOTíCIAS remessa das Escrituras em língua portuguesa ocorreu em 1712, quase 150 anos antes da chegada do primei- ro missionário protestante. Foram 150 exemplares do Evangelho de Mateus, na tradução de João Ferreira de Almeida, impressos em Amsterdã e publicados pela Sociedade Promotora da Re- ligião Cristã. Os Evangelhos estavam a caminho de Goa, colônia portuguesa encra- vada no sul da Índia, mas o navio holandês que os trans- portava foi surpreendido por uma esquadra francesa e veio parar no Brasil. A partir de 1818, a dis- tribuição da Bíblia no Brasil passou a ser feita efetiva- mente por meio dos agentes das duas sociedades bíblicas existentes — a britânica e a americana. Organizada em 1948, a Sociedade Bíblica do Brasil, em menos de 60 anos (de 1948 a 2007), colocou em circulação quase 70 milhões de Bíblias, mais de 13 milhões de Novos Testamentos, mais de 104 milhões de Porções Bíblicas e quase 4 bilhões de Seleções Bíblicas. O que o Ministério da Saúde faz hoje as igrejas evangélicas já faziam ontem
  • 16. 16 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Adília e Binho Arquivopessoal O “bebadozinho” de Itaguaí P arece que ninguém sabe ao certo o nome do pastor. Chamam-no Binho. É pas- tor Binho prá lá e pra cá. E Binho não é o diminu- tivo do seu nome, mas de “bebinho”, uma corruptela de bebadozinho. Como é possível chamar um pastor de 45 anos de um nome que lembra o estado de embriaguez de alguém que bebe demais? A história, porém, justifica o apelido e traz sempre à lembrança uma graça de Deus que sua mãe não quer esquecer. Jorcelino da Silva, o Binho, é o sexto filho de Adília da Silva. Nasceu em Itaguaí, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 11 de fevereiro de 1965. O bebê parecia normal. Nos três primeiros meses, seu peso aumentava 200 gramas por semana. Nos três seguin- tes, baixou para 120 por semana, como costuma acontecer. Porém, quando chegou a hora de sentar- se no berço, apoiando-se em algum encosto, o bebê não conseguiu. A mãe pensou que fosse preguiça do moleque. Chegou o décimo mês de vida e a criança não se firmava, não engatinhava nem ficava de pé. Foi a partir daí que a própria mãe passou a chamá-lo carinhosamente de “meu Bebinho”. Adília levou o filho ao médico. Ele constatou que a criança havia nascido com um tipo delicado de paralisia e a encaminhou para o Hospital Pediátrico Menino Jesus, na Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Apesar das responsabilida- des domésticas e dos ou- tros cinco filhos, a piedosa mulher, dia sim, dia não, tomava o trem, na época conhecido como Cacare- co, e chegava ao hospital às oito horas da manhã. A criança era levada para dentro e fazia o tratamento de fisioterapia disponível na época. Adília perma- necia do lado de fora. Ao meio-dia, um atendente levava-lhe um lanche e às quatro da tarde ela pegava o Cacareco de volta para Itaguaí. Essa rotina durou quatro anos e o querido “Bebadozinho” começou a andar. Para dar continui- dade ao tratamento, a mãe levava o garoto à praia para caminhar, correr e brincar na areia, o que fortalecia cada vez mais os músculos da perna. Nessa mesma época, Adília adotou um menino sem lar e lhe deu o Nomes nome de Moisés, porque o tinha tirado não das águas, mas da rua. Apesar de ter se recuperado do problema sem nenhuma sequela, o apelido de Binho ficou. Há 22 anos servindo ao Senhor, primeiro como evangelista (de 1991 a 2001) e depois como mi- nistro ordenado, Jorcelino Silva é hoje pastor da Igre- ja Presbiteriana do Cal- vário, em Sorocaba, São Paulo. Casado com Léia Simioni da Cunha e Silva, sua colega no Instituto Bíblico Eduardo Lane, em Patrocínio, Minas Gerais, e obreira da mesma igreja, o pastor Binho é também graduando em psicologia pela Universidade Paulista. Tal história pode ser contada a propósito do Dia das Mães, no segundo domingo de maio.
  • 17. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 17 Biografia de Marina Silva terá 100 mil exemplares Será lançada em junho uma das biografias com maior tiragem em 2010: Marina, que conta a história da senadora Marina Silva (PV-AC). Escrito pela jornalista evangélica Marília de Camargo César, o livro será publicado por uma editora também evangélica (Mundo Cristão) e terá uma tiragem inicial de 100 mil exemplares. A autora do livro disse à Folha de São Paulo que “Marina chorou várias vezes nas entrevistas”. Com formato de livro-reportagem, Marina conta a história da senadora desde a vida no seringal, a luta pela saúde, o ingresso em movimentos militantes, a carreira política e a luta em favor do meio ambiente. O prefácio é do cineasta Fernando Meirelles, que define Marina como “boa escutadora, [que] conhece e respeita o peso das palavras e as usa com coerência, precisão e propósito”. Segundo Mark Carpenter, diretor da editora Mundo Cristão, o livro vem sendo produzido há dois anos, época em que o contrato foi assinado e quando a senadora ainda era ministra do Meio Ambiente. A trajetória de Marina não é marcada apenas pela luta política, mas também pela debilidade física (foi vítima de hepatite, leishmaniose e consequente contaminação com mercúrio) e por uma profunda transformação espiritual (queria ser freira, mas se tornou evangélica da Igreja Assembleia de Deus). Um dos capítulos do livro traz o depoimento de Fábio Vaz, esposo de Marina. Ele conta como ela deixou o ateísmo marxista e retornou à fé cristã. “Ela chegou a me dizer que Deus não existia. Ela diz hoje que, no fundo, acreditava em Deus, mas publicamente defendia que a religião era a utopia do povo. Aquele discurso marxista era de consenso. Todos aderiram a isso. A gente se converteu a essa visão; era o que todos nós consumíamos”, afirma. Em entrevista à revista TPM (13 de novembro de 2009), Marina afirmou nunca ter sofrido preconceito por causa da cor, por ser pobre ou por ter trabalhado como empregada doméstica. Mas por ser evangélica, sim. “As pessoas têm uma visão preconcebida [...]. Preconceito é quando você generaliza uma coisa: se você é evangélico, é conservador.” NOTíCIAS
  • 18. 18 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 NÚMEROS NOTíCIAS Marrocos intensifica deportações de missionários Uma onda de deportações tem atingido o trabalho missionário no Marrocos. Segundo o missionário brasileiro Estevão Ibrahim (pseudônimo), desde o fim de 2009 cerca de sessenta missionários evangélicos foram deportados pelo governo do Marrocos, sob a acusação de proselitismo. Em um único dia, vinte pessoas foram mandadas de volta para seus países de origem. É o caso de um missionário inglês que estava há dezoito anos entre os marroquinos. Por falar o árabe local e ensinar o árabe clássico, era considerado um dos missionários mais respeitados. Até obreiros que cuidavam de crianças órfãs tiveram de abandoná-las por serem obrigados a deixar o país. Estevão Ibrahim morou de 2003 a 2005 no Marrocos e conta que, ao contrário das estatísticas mais otimistas que estimam 10 mil crentes, o país conta com apenas cerca de setecentos evangélicos. Isso porque as igrejas são, em sua maioria, clandestinas, o que não permite fazer estimativas exatas. “Creio que essa onda de deportações é um alerta de Deus para os cristãos em Marrocos”, afirma. Outro missionário brasileiro, que não quis revelar o nome, tem a mesma opinião: “Deus está agindo e, ao vermos missionários sendo expulsos, pode bem ser o caso de estarmos presenciando uma nova realidade: a pequena igreja marroquina terá de corajosamente assumir a sua responsabilidade dentro de seu próprio país. Ao longo da história os planos de Deus prevalecem, seja a que custo for. Mesmo a preço de cruz”. Marrocos é uma monarquia e está localizado no extremo noroeste da África, na fronteira com a Espanha. É um país com 99% da população islâmica. 79.000 crianças de seis anos não conseguiram passar do primeiro para o segundo ano nas escolas brasileiras em 2008 (a porcentagem é pequena: 3,5% dos matriculados). 419.200.000 reais foi a arrecadação com multas de trânsito em 2009 só na cidade de São Paulo, um aumento de 25% sobre o ano anterior. 34.000 brasileiros morrem por ano em acidentes de trânsito (média de uma morte para cada 260 veículos). 85.000.000 de habitantes da União Europeia estão de braços dados com a pobreza (uma família com ganhos inferiores a 60% da renda média do seu país é considerada pobre na Europa). 40.000 toneladas de alimentos vão para o lixo diariamente no Brasil. 273.000 casamentos foram celebrados na França em 2007. No mesmo ano, o número de divórcios foi quase a metade: 135 mil. No Brasil, também em 2007, houve 916 mil casamentos e 152 mil divórcios. Vista de mercado popular em Jemaa El Fna, Marrakech revistaPovos
  • 19. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 19 Anúncio
  • 20. 20 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Evangélicos ajudam 10º município mais pobre do Brasil “Jesus Cristo, nosso fundamento” — esse é o lema estampado no barco da Associação Pró-Ribeirinho. Pelas águas dos rios que banham o município de Portel, PA, no extremo norte do Brasil, equipes missionárias chegam a dezenas de pequenas aldeias isoladas e levam literatura bíblica, oferecem atendimentos médicos, desenvolvem projetos comunitários para geração de renda e investem na alfabetização de adultos e no reforço escolar de crianças. Os beneficiários são os chamados ribeirinhos, moradores tradicionais das margens dos rios. “Somos enviados para que nos identifiquemos com as pessoas, pois Jesus Cristo se identificou conosco”, diz o pastor Luiz Fernando Oliveira, presidente da associação. Portel é o 10º município mais pobre do Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de analfabetismo chega a 44% e 78% da sua população vive abaixo da linha de pobreza. O projeto Pró-ribeirinho enviou sua primeira equipe em 1993. Graças a ele, dez igrejas evangélicas já foram plantadas no município. A iniciativa tem o apoio da Aliança Missionária da Suíça e da Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil (AICEB). Uma das igrejas organizadas no município de Portel pela Associação Pró-Ribeirinho NOTíCIAS APR Cristãos asiáticos buscam aproximação com brasileiros A Sealink, rede de plantio de igrejas para o sudeste asiático, e a Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) vão promover uma consulta missionária entre os dias 16 e 18 de novembro, em São Paulo. Sete líderes do sudeste asiático, especialistas em plantio de igrejas, querem dialogar com pastores, líderes de departamentos de missões, professores, missionários e diretores de agências missionárias. A ideia é construir pontes de comunicação e de trabalho entre as lideranças brasileira e asiática. A expectativa da AMTB é que, a partir desse encontro, surjam oportunidades de trabalho missionário para a igreja brasileira no sudeste asiático. Informações: www.consultamissionaria.com. Site explica como as igrejas devem tratar as crianças O recém-lançado hotsite da Campanha Latino-Americana pelos Bons Tratos da Criança no Brasil traz um farto material sobre como cristãos e igrejas devem tratar as crianças. Entre os recursos disponíveis é possível encontrar estudos bíblicos, artigos, notícias, um guia metodológico da campanha e um questionário para as igrejas locais avaliarem como estão se relacionando com as crianças. O endereço é www.maosdadas.org/bonstratos. A violência infantil é um problema mundial. As Nações Unidas estimam que de 133 a 275 milhões de crianças em todo o mundo testemunham violência doméstica anualmente. A Organização Mundial de Saúde calculou, usando dados nacionais limitados, que quase 53 mil crianças morreram em todo o mundo em 2002 em decorrência de homicídios.
  • 21. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 21 Anúncio
  • 22. 22 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Brasileiro é eleito diretor de divisão da Aliança Batista MundialO pastor e professor Raimundo César Barreto foi eleito em março deste ano diretor da Divisão de Liberdade e Justiça da Aliança Batista Mundial (ABM, www.bwanet.org). Barreto é a primeira pessoa a assumir o cargo. A divisão trata de questões de direitos humanos e liberdade religiosa. A ABM mantém membresia em várias agências das Nações Unidas e Barreto vai coordenar o relacionamento entre a ABM e essas agências. O líder batista graduou- se no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife, PE, e é doutor em ética social cristã pelo Seminário Teológico Princeton, em Nova Jersey, Estados Unidos. Barreto foi pastor da Igreja Batista Esperança em Salvador, BA, e coordenador geral para o Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. no Brasil. Os interessados em conhecer o trabalho da ABM no campo dos direitos humanos podem escrever para rbarreto@bwanet.org. Arquivopessoal NOTíCIAS Pesquisa propõe oito padrões de qualidade para a igreja local Quais os padrões de qualidade para o crescimento de uma igreja local? Em busca de respostas, os estudiosos Christian A. Schwarz e Christoph Schalk fizeram, durante dez anos, em conjunto com a Universidade de Würzburg, na Alemanha, um levantamento em mais de mil igrejas, em 32 países de cinco continentes. O objetivo da pesquisa foi descobrir quais os fatores e as razões que provocam ou não o crescimento de igrejas. Os dois estudiosos estabeleceram oito padrões que, segundo eles, em essência, estão presentes em todas as igrejas e dos quais depende a saúde de cada uma: liderança capacitadora, ministérios orientados pelos dons, espiritualidade contagiante, estruturas eficazes, culto inspirador, grupos pequenos holísticos (células ou familiares), evangelização orientada para as necessidades e relacionamentos marcados pelo amor fraternal. Schwarz e Schalk garantem que não estão apresentando mais um modelo de crescimento de igreja, mas sim oferecendo princípios que têm validade para igrejas em todo o mundo e que não dependem “de receitas prontas”. O resultado dessa pesquisa está descrito no livro O Desenvolvimento Natural da Igreja, publicado pela Editora Esperança. Consulta quer repensar caminhos da Missão Integral “De Lausanne à Cidade do Cabo — Caminhos, Descaminhos e Novos Desafios para a Missão Integral no Brasil.” Este é o tema da consulta anual da Fraternidade Teológica Latino-Americana — Brasil (FTL). O objetivo da consulta é “fazer uma releitura da caminhada da Teologia da Missão Integral, visando construir e renovar caminhos para a reflexão teológica e ação pastoral”. Haverá meditações bíblicas, conferências, apresentação de trabalhos acadêmicos, testemunhos, debates e um festival de artes. O evento será realizado na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, entre 3 e 5 de junho. Informações: secretaria@ftl.org.br. Além dos membros da FTL-Brasil, estarão presentes na consulta os brasileiros que irão ao Congresso de Evangelização Mundial Cidade do Cabo 2010, organizado pelo Comitê Lausanne.
  • 23. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 23 Anúncio
  • 24. 24 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Capa 24 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
  • 25. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 25 E nquanto viveu aqui como Filho de Deus e como Filho do homem, Jesus nunca esteve sozinho, nem em seu nascimento, nem em seu ministério, tampouco na sua morte e ressurreição. Ele estava cercado de anjos, desde o anúncio da concepção dado à Maria — “Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus” (Mt 1.23) — até o anúncio da ressurreição, dado às mulheres que foram ao túmulo para embalsamar o seu corpo — “Sei que vocês estão procurando Jesus que foi crucificado [mas] ele não está aqui; ressuscitou como havia dito” (Mt 28.5-6). Ele estava cercado de pessoas prontas para servi-lo em qualquer circunstância: Maria emprestou-lhe o ventre, o colo e o seio; certo morador de um povoado próximo a Betfagé emprestou-lhe uma jumenta e o seu jumentinho para a entrada triunfal; outro proprietário emprestou-lhe uma grande sala mobiliada e arrumada em Jerusalém para ele comer a Páscoa com os discípulos; e mulheres da Galileia, curadas e perdoadas por ele, davam-lhe assistência com seus bens. Até as crianças o rodeavam e gritavam espontaneamente: “Viva o Filho de Davi!” (Mt 21.15, BV). Jesus estava cercado de pecadores, considerados, na época, os piores de todos, como os publicanos e as prostitutas. Pessoas de certo prestígio e de posses se aproximavam de Jesus e lhe prestavam algum benefício. Entre elas está Joana, mulher de Cuza, que era procurador de Herodes Antipas. Outros dois são Nicodemos e José de Arimateia, ambos ricos, conceituados e membros do Sinédrio. Inicialmente discípulos A turma de Jesus ocultos de Jesus, eles saíram corajosamente do armário quando solicitaram a Pilatos o corpo do Senhor e o desceram da cruz para embalsamá-lo e dar-lhe sepultura. A natureza também esteve ao lado de Jesus. Na escuridão da noite em que ele nasceu, houve imensa claridade, porque a luz gloriosa do Senhor brilhou nos céus de Belém. Na claridade do dia em que ele morreu, houve densas trevas sobre a face da terra, porque “o sol parou de brilhar” do meio-dia às 3 horas da tarde. Para tornar aquela tarde ainda mais sinistra, a terra tremeu e as rochas se partiram. É muito significativo que, depois de quase dois milênios, o nome de Jesus não caiu no esquecimento e suas palavras e milagres são continuamente lembrados em todo o mundo. Havia tanto assunto sobre Jesus que João temia que o mundo inteiro não seria suficiente para caber todos os livros a serem escritos (Jo 21.25). O fenômeno persiste até hoje: três dias antes do Natal de 2002, o Jornal do Brasil publicou um artigo de Deonísio da Silva, professor da Universidade de São Carlos, o qual mencionava que haviam sido publicados mais livros sobre Jesus entre o final do segundo milênio e o alvorecer do terceiro, do que em todos os séculos anteriores. Porém, Jesus não é e nunca foi unanimidade. No correr do tempo, ele tem sido o centro da atenção de muitos e também o centro da repulsão para outros tantos. Todavia, quando se anuncia o evangelho com autoridade, coerência e convicção, muitos se convertem e fazem questão de se chamar “a turma de Jesus”!
  • 26. 26 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 capa A mãe de Jesus Por escolha divina, Maria cedeu o ventre para gerar, os seios para amamentar e o colo para carregar e mimar o Verbo feito carne. Quando todo o processo começou, Maria ainda era solteira. Engravidada misteriosamente por obra do Espírito Santo, casou-se com um homem que era carpinteiro. Por essa participação na encarnação de Jesus, a jovem quase perdeu o noivo (Mt 1.19). O cântico de Maria é um dos mais conhecidos e apreciados poemas religiosos. Nele, ela reconhece tanto seu demérito pessoal como a misericórdia divina (Lc 1.46-55). Maria foi uma mulher não apenas muito favorecida (Lc 1.28) e bendita (Lc 1.42). Foi, também, uma mulher sofrida, principalmente por ter assistido à cruel crucificação de seu filho primogênito (Jo 19.25) e por ter tido conhecimento dos maus-tratos dispensados a ele, desde a madrugada daquela sexta-feira (murros, bofetadas, tapas, cusparadas, desrespeito, irreverência etc.). Deve ter causado intenso sofrimento em Maria o fato de seus filhos nascidos de seu casamento com José acharem que o meio-irmão era megalomaníaco (Jo 7.1-5). O salmista de Jesus O rei Davi viveu aproximadamente mil anos antes de Cristo e trezentos anos antes do profeta Isaías. Desde rapazinho tocava harpa muito bem. Chegou a ser musicoterapeuta do rei Saul. Era cantor e autor da maior parte dos poemas que estão no livro de Salmos. Ele é o salmista de Jesus porque compôs um poema sobre o sofrimento do Messias e outro Os porta-vozes Os familiares O “padrasto” de Jesus José era marido de Maria, “da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo” (Mt 1.16). Quando soube que a noiva estava grávida, sem que tivesse tido relação com ela, José “decidiu romper o noivado, mas em segredo, porque não queria desmoralizar Maria publicamente” (Mt 1.19,BV). Foi aí que Deus explicou a José o que de fato estava acontecendo a despeito de qualquer mistério. Então, o carpinteiro casou-se com Maria e passou a liderar todas as providências para proteger a segurança da criança nascida da esposa. José levou Maria e o menino para o Egito, livrando o “enteado” da violência de Herodes (Mt 2.13). Morto Herodes, a família voltou do Egito e se fixou em Nazaré (Mt 2.19-23). Quando Jesus completou 12 anos, José e Maria foram com o filho a Jerusalém para a festa da Páscoa (Lc 2.42). Em Nazaré, Jesus era submisso tanto a Maria como a José (Lc 2.51). Este teria morrido nos anos seguintes, provavelmente no início do ministério de Jesus, depois do nascimento de seus filhos e filhas (Mt 13.55-56). Os irmãos de Jesus A discreta informação de que José, ao casar-se com Maria, “não a conheceu na intimidade” (Mt 1.25, na Bíblia Almeida Século 21), ou “não teve relações com ela” (NTLH), ou que Maria “permaneceu virgem” (BV) até o nascimento de Jesus, faz uma boa ligação com a informação de que Jesus tinha irmãos e irmãs por parte de mãe. Eles eram filhos de José e Maria, e Jesus era filho só de Maria. Maria teve do marido pelo menos quatro rapazes — Tiago, José, Simão e Judas — e duas moças (são no mínimo duas, visto que a palavra está no plural). Jesus era o unigênito de Deus (Jo 3.16) e o primogênito de Maria (Lc 2.7). Muito estranhamente, os irmãos de Jesus, todos mais jovens, não criam nele (Jo 7.5). Os rapazes queriam que o irmão fizesse algo espetacular durante a festa em Jerusalém para chamar a atenção de todos. A boa notícia, todavia, é que depois da ressurreição de Jesus (não haveria acontecimento mais sensacional), eles se converteram (At 1.14). sorteio da peça principal (22.18; Jo19.23-24 ). No Salmo 110, Davi menciona a glória futura de Jesus: “Disse o Senhor [o Pai] ao meu Senhor [o Filho]: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” (v. 1). Essa é a passagem do Antigo Testamento mais citada no Novo. Os profetas de Jesus Por ter escrito a história de Jesus tendo em vista os judeus, Mateus faz questão de mostrar que os acontecimentos se deram porque estavam escritos em alguma passagem do Antigo Testamento. Daí a expressão que Mateus usa doze vezes: isso aconteceu sobre a glória do Messias. Aqui cabe, perfeitamente, a explicação de Pedro: “Homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21). No Salmo 22, Davi dá a impressão que estava descrevendo ao vivo a paixão de Jesus. Além de mencionar a crucificação (22.12-21), o salmista refere-se também aos detalhes da distribuição da roupa de Jesus e do
  • 27. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 27 Os anjos de Jesus Anjos são pessoas. São seres vivos que estão a serviço de Deus. Movem-se nos céus e na terra. Sob o ponto de vista humano, não é irreverência chamá-los de extraterrestres. Jesus esteve cercado de anjos, do princípio ao fim, desde o nascimento até a ascensão. A participação do nascimento de Jesus foi feita por um anjo: “Hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Em seguida, houve uma eclosão de muitos outros anjos dando glória a Deus por aquele evento (Lc 2.8-14). Após o jejum de quarenta dias e a tentação, “vieram anjos e o serviram” (Mt 4.11). No auge da agonia do Getsêmani “lhe apareceu um anjo do céu que o confortava” (Lc 22.43). Se Jesus quisesse, se Jesus pedisse, se a morte vicária pudesse ser dispensada, “mais de doze legiões de anjos” poderiam, se necessário, impedir a prisão de Jesus (Mt 26.53). Três dias depois, quem removeu a “grande pedra” (Mt 27.60) para que Jesus saísse vivo do túmulo foi um anjo que desceu do céu (Mt 28.2). E dois anjos, em figura humana, estavam com Jesus em sua ascensão (At 1.10-11). Os empolgados Os magos de Jesus Há uma grande diferença entre astronomia e astrologia. Os homens que vieram do Oriente para adorar e presentear o recém-nascido Rei dos judeus eram magos (palavra de origem iraniana que indica originalmente os observadores e estudiosos dos corpos celestes). A seriedade dada ao nascimento e à pessoa de Jesus mostra que os magos eram astrônomos — e não astrólogos —, pessoas acentuadamente religiosas e devotas. Não se sabe ao certo se eles vieram da Pérsia (atual Irã) ou da Babilônia (atual Iraque). O que se sabe é que eles viram alguma coisa diferente no espaço que apontava para um evento de grande importância na história da humanidade — o nascimento de Jesus. Muito bem informados a respeito do recém-nascido, os magos trouxeram ouro, incenso e mirra à criança e a adoraram, para surpresa de Maria e José (Mt 2.1-12). O gesto deles contrasta com o gesto de Herodes e o presente deles contrasta com a pobreza da manjedoura! O culto prestado pelos magos ao Rei dos judeus prenuncia o louvor universal que será dado ao nome de Jesus (Fp 2.10-11). Os velhos de Jesus Quando Jesus estava para nascer e também logo após o seu nascimento, havia ao seu redor mais velhos do que jovens. Maria seria a única jovem. Nada se sabe a respeito da idade de José. Pensa-se que era bem mais velho do que Maria. Há quatro idosos na história do nascimento de Jesus. São pessoas notáveis quanto à piedade pessoal e quanto ao envolvimento. Zacarias e Isabel eram justos e viviam de forma irrepreensível diante de Deus. Ambos eram “avançados em dias” (Lc 1.6-7). Deus abriu a madre de Isabel e ela deu à luz João Batista, o precursor de Jesus, apesar da idade e de ser estéril até então (Lc 1.13). Os outros velhos de Jesus são o homem que tinha a certeza de ver o Senhor antes de morrer e a viúva de 84 anos que “não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações” (Lc 2.37). Simeão não somente viu o recém-nascido de quarenta dias como o pegou no colo (Lc 2.28). Ana, por sua vez, também teve o privilégio de ver o menino e de falar a respeito dele com muita gente (Lc 1.36-38). para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor “por intermédio do profeta”. Em seis dessas ocasiões, ele não cita o nome do profeta; nas outras, ele menciona duas vezes o nome de Jeremias (2.17; 27.9) e quatro vezes o nome de Isaías (3.3; 4.14; 8.17; 12.17). Os mais citados dos profetas de Jesus — aqueles que disseram alguma coisa que pudesse se aplicar à pessoa e ao ministério do Senhor — são Isaías, Jeremias, Oseias, Miqueias, Zacarias e Malaquias. O mais messiânico desses seis é o profeta Isaías. Suas profecias dizem respeito ao nascimento de Jesus (Is 9.1-7), à sua cidade natal (Mq 5.2), ao nome Emanuel (Is 7.14), à morte dos inocentes (Jr 31.15), à entrada triunfal (Zc 9.9), ao preço da traição (Zc 11.12) e à paixão de Jesus (Is 53.1-13). O precursor de Jesus O homem era estranho em tudo: usava uma veste de pelos de camelo, cingia-se com um cinturão de couro e alimenta-se de gafanhotos e mel silvestre. Seus sermões eram acusativos ao extremo. Não tinha papas na língua. Entretanto, “o povo de Jerusalém, de todo o Vale do Jordão e de cada região da Judeia saía ao deserto para ouvir João pregar” (Mt 3.5, BV). João Batista era, ao mesmo tempo, o cumprimento da profecia de Isaías (Is 40.3) e a resposta da oração de Zacarias, seu pai (Lc 1.13). Seu ministério específico, segundo a determinação do Senhor, era convencer muitos pecadores a voltarem para Deus, preparando, assim, o povo para a chegada de Jesus (Lc 1.16-17). Foi João Batista que apresentou Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Embora o Senhor tenha afirmado que “entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista” (Mt 11.11), o precursor de Jesus foi decapitado com pouco mais de 30 anos a fim de satisfazer os caprichos de uma mulher má e sofisticada (Mt 14.6-8).
  • 28. 28 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 capa Os apóstolos de Jesus Certo dia ao amanhecer, depois de passar a noite orando a Deus no alto de uma montanha, Jesus chamou seus discípulos e escolheu doze deles para serem apóstolos. Dois se chamavam Simão: o Simão Pedro e o Simão Zelote. Dois se chamavam Judas: o filho de Tiago e o filho de José Iscariotes. Dois se chamavam Tiago: o filho de Zebedeu e o filho de Alfeu. Os outros seis são: André, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus e Tomé (Lc 6.12-16). Jesus se dispôs a fazê-los capazes de exercer o ofício de apóstolo por meio da convivência, do ensino, de correções e de estágios. Eles comiam e viajavam juntos. Também enfrentavam, juntos, a oposição e as intempéries. O curso, por assim dizer, durou cerca de três anos. Havia inveja, ciúmes e atritos entre eles. Nem todos se tornaram notáveis. O que não se pode dizer de Pedro e André, Tiago e João, Mateus e Tomé. Dois dos quatro Evangelhos, cinco das 21 epístolas e o Apocalipse foram escritos por quatro dos doze apóstolos. Segundo a tradição, Tomé foi missionário na Índia. O trio de Jesus Logo no início de seu ministério, Jesus encontrou-se numa das praias do mar da Galileia com duas duplas de irmãos e pescadores. Ele viu, primeiro, Pedro e André; depois, Tiago e João. Naquele mesmo dia, os quatro pescadores largaram as redes e os barcos e tornaram-se seguidores e discípulos de Jesus (Mt 4.18-22). Pouco mais tarde, os quatro foram escolhidos para serem apóstolos (Mt 10.1-4). Não havia nenhum superapóstolo no grupo. No entanto, três deles conviveram com o Senhor mais do que os outros, sempre por iniciativa do próprio Jesus. Jesus não deixou ninguém entrar com ele na casa de Jairo, senão o trio Pedro, Tiago e João e os pais da menina que ele iria ressuscitar (Lc 8.51). Jesus não levou ninguém para orar com ele no monte onde aconteceu a transfiguração, senão o trio Pedro, Tiago e João (Lc 9.28). Jesus não solicitou a ajuda de ninguém na agonia do Getsêmani, senão a do trio Pedro, Tiago e João (Mt 26.37). As mantenedoras de Jesus Embora nascido em Belém, na Judeia, Jesus foi criado em Nazaré, na Galileia. Ali iniciou o seu ministério. Nessa mesma região, ele curou algumas mulheres de espíritos malignos e de enfermidades. De Maria Madalena, por exemplo, saíram sete demônios. Entre muitas mulheres da Galileia, os Evangelhos citam Joana e Suzana (Lc 8.3), Maria (mãe de Tiago, o menor, e de José) e Salomé (Mc 15. 40-41). Joana era esposa de Cuza, procurador do rei Herodes. Movidas pela força da gratidão, essas mulheres não só acompanhavam Jesus em suas viagens de aldeia em aldeia, como também lhe prestavam assistência com suas posses (Lc 8.1-3). Elas estavam em Jerusalém por ocasião da última semana de Jesus e assistiram a sua crucificação. Duas dessas mantenedoras de Jesus — Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e José — seguiram Nicodemos e José de Arimateia para saber onde eles sepultariam o Senhor (Mc 15.47). E, no primeiro dia da semana, essas duas senhoras e Salomé foram até lá para ungirem o corpo de Jesus (Mc 16.1). As perdoadas de Jesus Ao longo de sua caminhada, Jesus encontrou-se com três mulheres sem nome: a mulher samaritana, a mulher adúltera e a mulher pecadora. As três foram perdoadas por ele. As três ficaram muito agradecidas a ele. A mulher samaritana não parava com marido algum. Jesus sabia que ela já tinha vivido com cinco companheiros e que o atual não era seu marido. Alguns minutos de conversa, a mulher descobriu que aquele estranho era o Salvador do mundo e bebeu da água viva que lhe fora oferecida (Jo 4.1-30). A mulher adúltera passou o vexame de ser apanhada em adultério e foi trazida à presença de Jesus. Acusadores queriam que o Senhor autorizasse o apedrejamento dela, mas isso não aconteceu. Jesus a perdoou e pediu que ela não pecasse outras vezes (Jo 8.1-11). A mulher pecadora, por ter sido perdoada por Jesus numa ocasião anterior, muito emocionada, irrompeu na casa de Simão, o fariseu, e lavou os pés de Jesus com suas lágrimas, enxugou-os com seus cabelos e os ungiu com óleo (Lc 7.36-50). Os ressuscitados de Jesus O recado que Jesus mandou para João Batista é explícito: “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho” (Mt 11.4-5). Os acompanhantes Os
  • 29. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 29 A essa altura, Jesus já havia ressuscitado dois jovens, a filha de Jairo (Lc 8.40-56) e o filho da viúva de Naim (Lc 11.11-17). A ressurreição de Lázaro ocorreria mais tarde (Jo 11.1-46). É possível que Jesus tenha ressuscitado outros mortos. Os Evangelhos mencionam apenas essas três ressurreições, talvez por uma questão didática. Elas mostram o poder de Jesus sobre a morte quando ela acaba de ocorrer (caso da filha de Jairo) e quando ela já provoca mau cheiro (caso de Lázaro). No meio dos dois extremos está o caso do filho da viúva. O corpo do rapaz não está nem no leito de morte, nem no túmulo — está entre um e outro, a caminho do cemitério. Os ressuscitados de Jesus mostram que os mortos não sofrem discriminação de gênero, faixa etária nem condição social. Os anfitriões de Jesus A menos de três quilômetros de Jerusalém, havia um povoado chamado Betânia. Lá moravam três irmãos: Maria, Marta e Lázaro. Não se sabe ao certo se eram casados ou solteiros. Provavelmente solteiros. Apesar da diferença de temperamento entre as duas irmãs, era de fato uma família muito unida. Talvez tivessem mais recursos do que muitos outros, pois Maria teve dinheiro suficiente para comprar um perfume que valia o equivalente ao trabalho de quase um ano inteiro de um trabalhador braçal (Jo 12. 3-5). Era também uma família muito crente. Por ocasião da ressurreição de Lázaro, Marta fez uma confissão de fé que deixaria arrepiados os cabelos dos saduceus: “Eu sei que ele [Lázaro] há de ressurgir na ressurreição do último dia” (Jo 11.24). A essa altura, Jesus já tinha se hospedado com aquela família, a convite de Marta (Lc 10.38). Algum tempo depois, na tarde do dia da entrada triunfal em Jerusalém, Jesus “saiu para Betânia com os doze” (Mc 11.11), certamente para a casa de seus costumeiros anfitriões. agradecidos
  • 30. 30 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Os coveiros de Jesus Ainda bem que não foram os soldados de Caifás, nem os de Pilatos que deram sepultura a Jesus. Não foram os meio-irmãos de Jesus, nem os apóstolos, tampouco as mulheres da Galileia que colocaram o corpo de Jesus num túmulo. Os coveiros de Jesus não eram frios profissionais do ramo. Foram dois homens muito importantes que tomaram a iniciativa de tirar o corpo da cruz e sepultá- lo, cumprindo, assim, a profecia de Isaías, escrita setecentos anos antes: “Morreu como um criminoso, mas foi enterrado junto com os ricos” (Is 53.9, BV). Os dois sepultadores de Jesus eram discípulos até então ocultos. Um deles chamava-se Nicodemos, “mestre em Israel” (Jo 3.10), e o outro chamava-se José, da cidade de Arimateia, homem correto e também rico, membro do Sinédrio (Lc 23.51; Mt 27.57). Foi esse último quem pediu ao governador autorização para retirar e sepultar o corpo do Senhor. Antes de começar o sábado, o corpo chicoteado, traspassado e cortado de Jesus, embalsamado e envolto num lençol novo de linho, estava deitado sobre a lápide de um túmulo novo no jardim da casa do coveiro-mor! capa A defensora de Jesus Não foram somente Jesus e os apóstolos que não dormiram naquela noite de quinta para sexta-feira. A primeira-dama pegou no sono e logo teve um pesadelo horrível. Ficou acordada a noite inteira e sofreu muito. Ela sonhou com Jesus ou, melhor, com a inocência de Jesus. O pesadelo a fez pensar nas consequências que poderiam advir a quem se pusesse contra ele. Aquele homem de trinta e poucos anos poderia ser entregue a seu marido, o governador romano, para ser condenado ou solto. Ela temia que Pilatos tomasse uma decisão injusta. Quando a primeira-dama se levantou, o marido já estava assentado no tribunal e Jesus já estava na frente dele para ser julgado. Mais do que depressa, ela escreveu e mandou para Pilatos o seguinte bilhete: “Livre-se de qualquer culpa, de qualquer cumplicidade, de qualquer envolvimento com a morte deste homem inocente, porque esta noite, num sonho, eu sofri muito por causa dele” (Mt 27.19). Pilatos, porém, não atendeu ao pedido da mulher e condenou Jesus à morte. O carregador de Jesus Os soldados do exército romano encarregados pelo governador de conduzir Jesus ao Lugar da Caveira e de formalizar ali a sua crucificação, logo no início do trajeto, tomaram uma providência inusitada, movidos, provavelmente, mais pelas circunstâncias do que pela caridade. Eles obrigaram ou recrutaram certo transeunte, que tinha acabado de entrar na cidade proveniente do campo, a carregar para Jesus a cruz ou o travessão vertical dela, daquele ponto em diante — a cruz inteira pesaria cerca de treze a vinte quilos. Os Evangelhos sinóticos explicam que esse carregador da cruz de Cristo era um africano de Cirene, na época a mais importante cidade da atual Líbia. Seu nome era Simão e ele era pai de Alexandre e Rufo (Mc 15.21). Esse imprevisto trouxe grande benefício para Simão, pois além de carregar literalmente a cruz de Cristo, muito provavelmente foi aí que ele começou a carregar também a cruz de Cristo no sentido simbólico (Mc 8.34). Seu filho Rufo era um dos proeminentes membros da igreja em Roma e sua esposa era tratada como mãe por Paulo (Rm 16.13). Os protetores
  • 31. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 31 As testemunhas de Jesus A função da primeira leva de discípulos era testemunhar tudo o que tinham visto e ouvido da parte de Jesus. Eles eram testemunhas oculares, auditivas e palpáveis de Jesus Cristo. A segunda leva e as demais seriam testemunhas daquilo que ouvissem das testemunhas anteriores e daquilo que lessem nos Evangelhos. A Grande Comissão consiste em testemunhar: “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas” (At 1.8). O substituto de Judas deveria ser uma testemunha pessoal de Jesus, desde o início até a ressurreição e a ascensão dele (At 1.21-22). Os apóstolos emprestavam força à sua pregação com o argumento: “Nós somos testemunhas destes fatos” (At 5.32) ou “Nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém” (At 10.39). Em sua segunda epístola, Pedro lembra que ele não inventou coisa alguma, mas foi testemunha ocular da majestade de Jesus no monte da transfiguração (2Pe 1.16). Em Damasco, Paulo recebeu a incumbência de ser ministro e testemunha de Jesus (At 26.16). Os missionários de Jesus A última ordem de Jesus não era confusa. Os discípulos não deveriam deixar Jerusalém até a descida do Espírito e, depois disso, deveriam viajar para o norte e para o sul, para o leste e para o oeste, para as regiões mais próximas e para as regiões mais longínquas. Na verdade, eles deveriam chegar até o fim do mundo (At 1.8). Não se tratava, porém, de viagens de passeio e turismo. O propósito das muitas e longas viagens era encher a terra do conhecimento do Senhor (Is 11.9) e espalhar para todas as tribos, raças e nações as boas novas da salvação inteira, da morte vicária e da ressurreição de Jesus (Mt 28.19; Mc 16.15; At 1.8). A vontade de Jesus foi feita. Os que foram dispersos por causa da tribulação foram os primeiros missionários de Jesus. Anunciaram a palavra na Judeia e Samaria, na Fenícia e na ilha de Chipre (At 8.1; 11.19). Os outros missionários foram Filipe, Pedro, João, Paulo, Barnabé, João Marcos, Timóteo, Silas, Lucas, dentre outros. O mais notável foi Saulo de Tarso, que também foi o mais chicoteado, o mais encarcerado e o mais ameaçado de morte (2Co 11.23-27)! Os mártires de Jesus No relato dos Evangelhos não se efetua nenhuma prisão, a não ser a de João Batista. Diversas vezes tentaram prender Jesus, mas sem sucesso. Depois da ascensão de Jesus e da descida do Espírito Santo, porém, a situação é outra. Com o crescimento territorial e numérico da igreja, começa a era dos mártires. Pedro e João são os primeiros a ser presos (At 4.1-3). O mesmo acontece com os demais apóstolos (At 5.18) e com outros irmãos e outra vez com Pedro (At 12.1). O primeiro a ser linchado é o formidável Estêvão (At 7.59). O segundo é Tiago, irmão de João, um dos doze apóstolos (At 12.1-2). O diácono é apedrejado e o apóstolo é decapitado. Muitos são perseguidos, maltratados e torturados por sua fé. Quase todos os crentes fogem para outras cidades ou regiões a fim de escaparem de tudo isso (At 8.1). João é exilado na ilha de Patmos (Ap 1.9). E aquele que viajava para prender e torturar homens e mulheres (At 22.4; 26.10-11) acaba se convertendo e passa a viajar agora para anunciar Jesus. Esses homens e mulheres são os primeiros mártires de Jesus! Os continuadores
  • 32. 32 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 capa Os seguidores de Jesus Seguidor é aquele que vai atrás de alguém ou de alguma ideia. O Apocalipse chama de “os seguidores do Cordeiro” a multidão de 144 mil pessoas “que tinham o nome dele e o nome do Pai dele escritos na testa delas” e que “seguem o Cordeiro aonde ele vai” (Ap 14.1-5, NTLH). A vida cristã começa quando o pecador ouve o evangelho, sente algum interesse e se dispõe a seguir a Jesus. Porque o novo caminho é apertado e difícil e porque não é o caminho das multidões, nem todos os seguidores continuam. Nunca passou pela cabeça de Jesus facilitar a carreira cristã em benefício de um número maior de conversões. Ao contrário, certa ocasião ele virou-se para a multidão e os discípulos que estavam atrás dele e exclamou: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34). Em outra oportunidade, Jesus repetiu: “Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não merece ser meu seguidor” (Mt 10.37, NTLH). Os redimidos A família de Jesus A família de Jesus é enorme. Está espalhada no tempo e no espaço. Pode ser uma adolescente negra, um jovem germânico, uma mulher indígena, um idoso aborígene. Pode ser um ex-promíscuo, um ex-consumista, um ex-incrédulo, uma ex-prostituta, um ex-ladrão, um ex-pedófilo, um ex-corruptor de menores, um ex- traficante. Pode ser um sem-terra, um fazendeiro rico, alguém da classe mais alta, alguém da classe mais baixa, e assim por diante — contanto que cada um deles faça a vontade do Pai. Foi o próprio Jesus quem definiu a questão. Mesmo estando na presença da mãe e dos meio-irmãos biológicos, ele apontou com as mãos para os discípulos e declarou em alto e bom som: “Eis minha mãe e meus irmãos”. E explicou por que: “Qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12.46-50). Jesus não forçou nada ao fazer essa declaração surpreendente. Se a comida dele era fazer a vontade do Pai (Jo 4.34), todos que pensam e agem do mesmo modo são, pois, seus irmãos, irmãs e mães. A igreja de Jesus A rigor, ninguém em lugar algum e em tempo algum pode usar o pronome possessivo minha para se referir à igreja. A igreja, em seu sentido místico, é de Jesus Cristo. As palavras ditas a Pedro devem ser sempre lembradas: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16.18). É preciso diferenciar as igrejas locais (a igreja de Antioquia, a igreja de Cencreia, a igreja dos tessalonicenses, as igrejas na Galácia etc.) e as igrejas denominacionais (igreja católica, igreja reformada, igreja batista, igreja pentecostal etc.) da Igreja de Cristo ou Igreja de Deus (At 20.28; 1Co 15.9; 1Tm 3.15). Esta é a única que é o corpo místico de Cristo. Nela se congregam apenas pecadores arrependidos e perdoados, em qualquer lugar e em qualquer tempo. Nas igrejas locais e denominacionais há uma mistura de joio e trigo, o que não acontece na Igreja de Cristo. Jesus é a pedra angular e o cabeça dessa Igreja, tanto da que reúne os vivos (igreja militante) como da que reúne os mortos (igreja triunfante).
  • 33. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 33 Anuncio
  • 34. 34 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Cristo é mais! ESPECIAL Ricardo Quadros Gouvêa H á quem pense que o problema de muitos evangélicos hoje seja o seu fanatismo religioso, sua devoção extravagante, sua religiosidade exacerbada. Penso que há aqui um engano, uma interpretação superficial da questão. Até porque tal devoção pode ser amor próprio disfarçado (Cl 2.23), tal religiosidade pode ser um culto ao próprio ventre (Fp 3.19), e tal fanatismo pode ser mera idolatria (Is 1.13-17). O verdadeiro problema é justamente o oposto disso. É o seu menosprezo para com a pessoa de Cristo. É a maneira reducionista de muitos evangélicos perceberem a Cristo. É a construção de uma espiritualidade neo-pagã em que a pessoa de Cristo é secundária (onde deveria ser central), instrumentalizada em um discurso cujo centro é o consumo de bens espirituais (Mt 6.24, 31-32). O problema de muitos evangélicos é não perceber o tamanho do evangelho de Cristo e quem de fato Cristo é. Há no discurso evangélico uma presença muito clara do nome de Jesus, mas uma presença que beira à magia, já que se trata de um uso instrumental e ritualístico do nome de Jesus, e que beira à idolatria (pasmem! uma idolatria de Jesus!), pois o nome de Jesus é apresentado desvestido e desencarnado da pessoa de Jesus Cristo, de seu ensino e de seu significado teológico como redentor da humanidade (Mt 7.21). Quando a Bíblia nos ensina a orar “em nome de Jesus Cristo” (1Co 5.4; Ef 5.20), isso não é uma fórmula mágica que carrega em si poder para realizar milagres. A expressão significa que os cristãos são representantes de Cristo na terra, e por isso devem falar em nome de Cristo, fazendo a oração que ele próprio faria. Jesus ficou reduzido a isso em boa parte do discurso evangélico: uma palavra mágica, um ícone, um significante cujo significado se tornou propositadamente difuso. Com isso, foi-se esquecendo do verdadeiro Jesus Cristo, o mestre a quem se deve seguir (Mt 11.28-29; Cl 2.8), dos seus ensinos de amor por palavras e atos, da sua pregação sobre o desprendimento e a humildade (Mt 6.25-34; Lc 22.26; Jo 13.1-17), de seu esvaziamento no serviço (Fp 2.5-8). De fato, há muita extravagância religiosa entre os evangélicos, que vai das coreografias sem profundidade às expressões faciais agônicas; dos discursos inflamados sobre cura e poder à rigidez moralista das propostas de conduta cerceadoras da liberdade em nome de um pudor muito distante daquilo que a Bíblia indica (Mq 6.8; Cl 2.20-23); do dogmatismo que faz de Cristo um mero item doutrinário ao sectarismo individualista que nos faz esquecer as dimensões sócio-políticas da redenção no aqui e agora. Cristo é mais! O que Cristo pode fazer pelos seres humanos é muito mais do que está sendo muitas vezes apresentado pelos evangélicos e aos evangélicos. Não se limita aos benefícios materiais e curas, mas a uma vida tão plena de sentido e de senso de vocação que os bens materiais e a saúde deixam de ser primordiais. Cristo é mais! Foi-se esquecendo das dimensões mais profundas da redenção que há em Cristo. Essa redenção ficou reduzida à garantia de uma vida feliz após a morte, à esperança materialista de um céu de recompensas luxuosas (devido a interpretações literalistas dos símbolos bíblicos: Ap 2.10; 21.11), esperança que não indica nenhum desapego, mas antes ressentimento e inveja em relação aos ricos e poderosos. A redenção em Cristo já não é percebida como o resgate de uma vida diferenciada, uma vez que dotada de sentido e valor aqui e agora, na missão, no serviço, no convívio amoroso e no desfrutar da criação divina. Cristo é mais! O individualismo da modernidade nos fez crer que o dom de Cristo se limita ao que pode fazer por cada pessoa enquanto indivíduo, deixando de lado as dimensões sociais do evangelho, e tudo que ele significa para a nação (Sl 33.12): um futuro melhor para nossos filhos, uma cultura calcada na integridade e na justiça, no amor e na sabedoria, a construção de uma sociedade que vive de acordo com os valores do reino de Deus (Mt 28.20). Em vez disso, vemos que as preocupações éticas e a preparação para a cidadania estão descartadas da pregação e fora do ensino religioso nas igrejas (Is 1.10-17). Tampouco pode ser Cristo reduzido a mero elemento do sistema doutrinário, como se minha fé incluísse, entre outras, doutrinas acerca UltimatoImagem
  • 35. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 35 da pessoa de Cristo e acerca de sua obra de salvação. Cristo é mais! Ele é o centro de nossa fé. É nele que cremos, em sua vida conosco, na sua presença (Mt 28.20; Jo 14.16-18) e no seu pastoreio (Sl 23.1; Jo 10.11). Ninguém deve se considerar salvo em Cristo porque subscreve à doutrina da salvação pela graça mediante a fé. Mera aceitação de doutrinas é obra meritória de cunho intelectual e ritualista (Rm 3.20, 28). Somos salvos pela graça divina mediante a fé (Ef 2.8-10) na possibilidade de estarmos unidos a Cristo em sua morte e em sua ressurreição (Cl 2.12; 2Tm 2.11) — uma realidade a ser vivenciada aqui e agora! Cristo é mais! A redenção em Cristo não se limita ao perdão da culpa dos pecados, à nossa justificação pela união com Cristo em sua morte na cruz, mas se estende à esperança da glória (Ef 1.18; Cl 1.27), à santificação pela presença de Cristo em nós (Rm 6.22; Hb 12.14), que nos torna seus discípulos e imitadores (1Co11.1; 1Ts 1.6). A fé protestante está centrada na vida do Cristo ressurreto (1Co15.14, 19; Rm 6.5). Não somos convidados a viver, em Cristo, como penitentes! Antes, a uma vida abundante (Jo10.10)! Nossa união com Cristo nos leva a viver a sua vida, nos eleva para perto de sua própria estatura espiritual (Ef 4.13), promete nos tornar coparticipantes da natureza divina (2Pe1.4), e nos convida a viver desde já possuídos pela glória de Deus (2Co 3.18) e entusiasmados pelo Espírito Santo (Ef 5.18). Cristo é mais! Na verdade, é muito mais do que pensamos ou podemos imaginar. Temos que esperar sermos por ele surpreendidos (Ef 3.20), como um leão que não pode ser adestrado, que é bom, mas que não é domesticado (como sugere C. S. Lewis acerca de Aslam), como um tigre que subitamente coloca suas patas dianteiras sobre nosso peito exigindo-nos a nossa atenção para seu poder e sua beleza (como sugere Thomas Howard em Christ the Tiger). Por mais que tentemos enlatar a Cristo, condicioná-lo, fazê-lo nos servir, qual gênio da lâmpada, ele nos escapará do controle e nos surpreenderá, porque Cristo é muito mais! Lamento pelas multidões de cristãos que se esqueceram, que se iludiram, que se deixaram levar por pregações acerca de Cristo e em nome de Cristo que o reduziram a algo ridiculamente menor do que ele de fato é, a um simulacro, um instrumento religioso a serviço de igrejas que são também simulacros de igreja cristã, e que, por esta genuína apostasia (Lc 18.8; 2Ts 2.3), deixam de ser igreja de Cristo para serem igrejas do anticristo, pois o anticristo nada mais é que o simulacro de Cristo (Mt 24.24), uma abominável desolação! Lamento principalmente pela perda do verdadeiro Jesus Cristo, que pode dar sentido à vida, que pode curar a nação, que pode resgatar a humanidade em direção da sua própria glória, a glória da vida do amor de Deus. Estamos trocando a Cristo por simulacros, pois, ao reduzi-lo a fórmulas mágicas, eclesiásticas ou teológicas, ele se torna menos do que ele é: a presença viva, aqui e agora, da pessoa que me convida a segui-lo, a encarnar o seu próprio Espírito, e abraçar o projeto supremo de viver, nele, a vida eterna e abundante de Deus. Ricardo Quadros Gouvêa é pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro do Limão, em São Paulo, professor de teologia da Faculdade Unida de Vitória, ES, e do programa de pós-graduação em ciências da religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Há quem pense que o problema de muitos evangélicos seja o fanatismo ou a devoção extravagante. Porém a devoção pode ser amor próprio disfarçado e o fanatismo pode ser mera idolatria Anuncio
  • 36. 36 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 Pedofilia e perdão ESPECIAL O s escândalos acontecem nos países mais prósperos e cultos da Europa (Alemanha, Áustria, Espanha, Holanda, Irlanda, Itália e Suíça) e na mais poderosa nação do planeta (Estados Unidos). Atingem também a Austrália. Destes, quatro são países de maioria católica. O número de crianças, adolescentes e jovens abusados por padres é assustador. Só na Irlanda, os dossiês publicados em 2009 apontam mais de 15 mil vítimas. Na Holanda são cerca de 1.100 casos presumíveis de abuso sexual cometidos por membros do clero na década de 1950.1 Na Alemanha houve um “tsunami” de denúncias, nas palavras de Elke Huemmeler, chefe da força-tarefa criada para prevenir novos casos. Nos Estados Unidos, o crime foi cometido contra duzentas crianças com deficiência auditiva por um único padre durante 24 anos (1950-1974) e na mesma instituição (St. John’s School). No Brasil, sabe-se que três padres da Diocese de Penedo, em Alagoas, acabam de ser ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), no Fórum da Justiça Estadual, em Arapiraca, a 146 quilômetros de Maceió, e reconhecidos como pedófilos. O padre mais novo tem 43 anos e o mais idoso, 83. Os três foram ordenados aos 25 anos. Seus nomes ainda estão na mais recente edição do Anuário Católico do Brasil, mas consta que teriam sido afastados do exercício do sacerdócio. Ainda em Alagoas, foram encontradas em 2009, na casa de um padre alemão, 1.300 fotos com cenas de sexo explícito ou pornografia infantil envolvendo meninos. Centenas de artigos e editoriais sobre o assunto estão sendo publicados ao redor do mundo, inclusive no Brasil. A Igreja Católica Romana e o próprio papa estão sendo duramente fustigados. A observação de Roseli Fischmann, professora de pós- graduação em educação da USP, parece oportuna: “Copiando a má prática humana na política, [autoridades católicas] esperam a máxima visibilidade dos méritos e a completa impunidade dos erros”.2 A questão do celibato vem à tona novamente. Alguns tentam defender a Igreja Católica e outros a atacam sem clemência. O jornalista João Pereira Coutinho, da Folha de São Paulo, esforça-se para minimizar as coisas, lembrando que, das 210 mil denúncias de abuso contra crianças na Alemanha desde 1995, apenas 300 (0,2%) envolveram padres católicos.3 No entanto, ele esquece que essa minoria é composta por pessoas que, por serem ministras de Deus, têm muito mais responsabilidade que as outras. Já o editorial do dia 28 de março do mesmo jornal diz que “há uma diferença básica entre a compaixão pelo pecador, de ordem essencialmente privada, e o esforço, de ordem corporativa e política, de preservar a instituição [tradicionalmente voltada ao segredo e à intransparência] dos escândalos que a acometem”. Embora seja contrário ao celibato dos padres, o psicanalista Contardo Calligaris não acredita que o fim do celibato seria remédio contra a pedofilia.4 Já o teólogo Hans Küng, conhecido como o mentor dos intelectuais católicos, diz que o celibato “é a raiz de todos esses males”.5 O leigo católico Antônio Carlos Ribeiro Fester, autor de Justiça e Paz, endossa o texto de Hans Küng e propõe que o celibato seja optativo para os padres seculares.6 Seja como for, a observação de Paulo deve ser considerada: “Já que existe tanta
  • 37. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 37 Anuncio imoralidade sexual, cada homem deve ter a sua própria esposa, e cada mulher, o seu próprio marido” (1Co 7.2, NTLH). Nem Jesus nem os apóstolos instituíram o celibato obrigatório para ministros religiosos. O que eles propõem é a castidade para solteiros, viúvos e casados, para padres e leigos, para homens e mulheres. Nem todo celibatário é casto. Há que se diferenciar uma coisa e outra. É mais fácil ser celibatário do que ser casto. O voto de celibato e de castidade e o próprio casamento, sozinhos, não garantem a ausência de transgressões e escândalos. Desde a queda, o homem e a mulher têm uma forte índole pecaminosa, não fazem o bem que preferem, mas o mal que detestam, porque o pecado habita neles, como testemunha Paulo (Rm 7.15-16). Ninguém, religioso ou leigo, pode ser ingênuo: todos têm a mesma potencialidade dupla (tanto para o certo como para o errado). Jesus deixou claro que é do interior do coração humano que vem uma porção de coisas más, e entre elas está a imoralidade sexual e o adultério (Mc 7.20-23). Um dos heróis do romancista russo Fiodor Dostoievski diz que “há uma luta entre Deus e o Diabo e seu palco é o coração humano”. C. S. Lewis, o celebrado autor de As Crônicas de Nárnia, avisa que todos precisamos enxergar nossa própria pecaminosidade, “além dos atos pecaminosos em particular”. E o filósofo alemão Immanuel Kant confessa: “Somos um lenho torto do qual não se podem tirar tábuas retas”. À vista desse problema crônico, não é o celibato nem o casamento que vai nos livrar da pornografia, da infidelidade conjugal, da prostituição, do homossexualismo e da pedofilia. Só há um remédio, aquele que Jesus sabiamente receitou: negar-se a si mesmo, isto é, dizer não à vontade pecaminosa todas as vezes que ela se manifestar, como, por exemplo, a vontade de abusar de uma criança (Lc 9.23). O bispo de Petrópolis, Dom Filippo Santoro, tem uma palavra precisa e aliviadora: “O momento presente, marcado pela acirrada discussão sobre a pedofilia, é uma grande ocasião de purificação e conversão da Igreja para poder comunicar com transparência a todos o abraço da justiça e da misericórdia de Deus, que é a razão pela qual ela existe”. A corrupção generalizada e escandalosa do clero no século 15 provocou, na primeira metade do século seguinte, a Reforma Protestante e o Concílio de Trento. Os escândalos, por serem insuportáveis, muitas vezes precedem movimentos bem-sucedidos e demorados de reforma moral e religiosa. Resta saber se há perdão para o padre que mantém relações sexuais com uma mulher com a qual não se casou ou com uma pessoa do mesmo sexo, ou que abusa da inocência de uma criança. É claro que sim, desde que haja transparência, arrependimento — do tipo que João Batista exige (Lc 3.8) —, confissão e propósitos renovados. O mesmo pode acontecer com pastores protestantes e leigos acusados de escândalos sexuais ou outros quaisquer. A Bíblia é um catálogo de pessoas perdoadas, sobretudo nessa área. Basta ler a história da prostituta Raabe, do escândalo de Davi, da “mulher surpreendida em adultério” (Jo 8.3), da “mulher pecadora” (Lc 7.36-50), do homem da igreja de Corinto que se atreveu “a possuir a mulher de seu próprio pai” (1Co 5.1; 2Co 2.5-11) e dos ex-homossexuais passivos ou ativos que foram transformados e perdoados “pela invocação do Senhor nosso Jesus e pelo Espírito de nosso Deus” (1Co 6.11, BP). O fato é que, se não houver denúncia, se não houver disciplina e se não houver arrependimento e mudança, a pedofilia poderá tornar-se uma prática tão “normal” quanto a prostituição, o amor livre, o adultério, o lesbianismo e o homossexualismo! Notas 1. Estado de Minas, 21 de março de 2010, p. 22. 2. Folha de São Paulo, 29 de março de 2010, p. A-14. 3. Folha de São Paulo, 23 de março de 2010, p. E-8. 4. Folha de São Paulo, 1º de abril 2010, p. E-12. 5. Folha de São Paulo, 21 de março de 2010, p. 3 (caderno “Mais!”). 6. Folha de São Paulo, 31 de março de 2010, p. A-3.
  • 38. 38 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 A partir de hoje, com a ajuda de Deus, vou pôr um ponto final em meus desentendimentos com todas as pessoas com as quais convivo ou com as quais me encontro. Chega de briga, de discussões, de gritaria, de grosseria, de palavrões, de agressões, de antipatia. Estou cansado de depender do outro para parar de brigar. Vou tomar a iniciativa. Não sou ingênuo. Estou ciente de que será difícil. Porém não digo mais que será impossível. Reconheço que já avancei um pouco e quero dar continuidade a esse pouco. A partir daí, Deus me dará outras vitórias. Sei que o relacionamento entre duas ou mais pessoas é sempre complicado por causa da nossa herança adâmica. Lembro-me de Abel e Caim, de Sara e Agar, de Jacó e Esaú, de Raquel e Lia, de José e seus irmãos, de Maria e Marta, de Paulo e Barnabé e da membresia da igreja de Corinto. Estou ciente de que eu e meu cônjuge, eu e meus filhos, eu e meus vizinhos, eu e meus colegas de trabalho, eu e meus irmãos na fé — somos muito diferentes, o que me leva a crer que o relacionamento entre nós não será automático. Vai exigir esforço, temperamento controlado e autonegação continuada. Eu e eles temos temperamentos, históricos, ênfases, experiências, reações, defeitos, virtudes, capacidades e dons diferentes. Além disso, eu e eles somos — pelo menos potencialmente — invejosos, ciumentos, egoístas, orgulhosos, impacientes, briguentos e outras coisas mais. Para viver em paz, preciso passar por cima de tudo isso. Preciso andar a segunda milha de que fala Jesus (Mt 5.41) e perdoar setenta vezes sete, também de acordo com Jesus (Mt 18.22). Meu relacionamento no circuito mais próximo e íntimo (no lar) e no circuito mais amplo e público (no trabalho e na igreja) vai depender de certas virtudes claras. Preciso conhecer e respeitar o outro. Preciso amar e perdoar o outro. Preciso tolerar o outro e ter paciência com ele. Preciso ter sabedoria e acerto para conviver com o outro. Preciso de humildade para não me encher de glória à custa do esvaziamento da glória do outro. Preciso repudiar a comparação, a competição e a concorrência com o outro. Preciso descolar da memória qualquer lembrança negativa — tanto recente, como remota — do outro. Preciso pedir desculpas e desculpar. Preciso conversar, dialogar e desabafar com o outro. Preciso evitar qualquer oportunidade que possa gerar aborrecimento com o outro. Preciso interceder pelo outro. De hoje em diante vai ser assim. Que o Senhor me socorra! Amém. Não quero brigar com ninguém! DE HOJE EM DIANTE... FranPriestley
  • 39. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 39 Anúncio
  • 40. 40 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010
  • 41. Maio-Junho, 2010 I ULTIMATO 41 Anúncio
  • 42. 42 ULTIMATO I Maio-Junho, 2010 realização das mãos ensanguentadas de Caim, que edificou a primeira, para nela habitar, depois de ter matado o irmão, Abel, e se retirado da presença do Senhor. Porém, o grande construtor de cidades foi Ninrode, neto de Cam, que era filho de Noé. É o primeiro homem descrito na Bíblia como poderoso e caçador. Edificou várias cidades, entre elas Babel e Nínive, cidades emblemáticas na história bíblica. No livro The Meaning of the City, Jacques Ellul vê na edificação da cidade um ato de rejeição da proteção de Deus, pois quando o homem a edifica ele rejeita a criação de Deus, opondo-se ao jardim. Segundo Ellul, em sua origem a cidade é lugar da autoproteção do homem e ao mesmo tempo uma tentativa de fugir da maldição de Deus. Por isso, ela é resultado da alienação de Deus, e também elemento alienante para o homem do resto da criação. O homem refugiou-se na cidade para não ter de H á muitos anos, quando Jacques Cousteau revelava imagens da vida marinha, ao mesmo tempo em que mostrava preocupação com a manutenção do equilíbrio da ecologia e com a preservação das espécies, ambientalismo e ecologia eram assuntos para poucos. Parece que a ficha começa a cair cada vez mais para a maioria das pessoas. Ter consciência ecológica e cuidado com o planeta significa atentar-se para a própria casa. Aliás, a expressão eco, tão presente hoje em dia, vem do grego e significa “casa”. A Bíblia começa num jardim e termina numa cidade. Há o jardim do Éden em Gênesis e há a Nova Jerusalém em Apocalipse. Ambos — jardim e cidade santa — não têm santuário, pois Deus mesmo é o seu santuário e em ambos a vida se dá em sua presença de forma ininterrupta, plena e sem obstáculos. Vivemos entre o jardim que passou e a cidade celestial que virá. Perdemos o jardim e dele sentimos saudade; moramos na cidade e vemos com esperança a Nova Jerusalém. Até a árvore da vida está lá. O jardim foi feito por Deus e lá ele colocou o homem, criado conforme sua imagem e semelhança, para com ele se relacionar e cuidar da criação. A Nova Jerusalém desce do céu, da parte de Deus, para se instalar entre os homens. Se o jardim é criação das mãos bondosas de Deus, a cidade é dizer: “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela” (Sl 18.2). Na cidade o homem enganosamente pensou que não precisava mais do jardim. A Nova Jerusalém é fruto da graça de Deus que trouxe redenção ao homem e a tantas das suas realizações. É fruto final da busca amorosa de Deus pelas cidades. É o caso de Nínive, Jerusalém, Samaria. Assim, a Nova Jerusalém é habitação eterna do Criador com sua criatura, a união dos propósitos divinos que santificam os projetos humanos por meio do Cordeiro. É cidade com alma de jardim. A redenção de Jesus Cristo abrange toda a criação. Paulo deixa isso claro em Romanos 8.19-22. Ser discípulo de Jesus não é só voltar à comunhão com Deus perdida no jardim — é encher-se de esperança pela realização da cidade santa trabalhando hoje para que o jardim brote novamente no meio da cidade. Isso é dar o devido valor e dignidade àquilo que Deus criou. É ter a mente de um cidadão e o coração de um jardineiro. LIVRO Jesus e a Terra, James Jones, Ed. Ultimato MÚSICA “Criatividade”, Silvestre Kuhlmann, CD Alvíssaras! SITE www.arocha.org Fernando Oliveira mora em São Paulo, é pastor da Igreja Nova Aliança há vinte anos e apresenta o programa Papo na Rede, no portal www.koinoniaonline.com.br. fco@osite.com.br No meio do jardim e da cidade, o meio ambiente Ser discípulo de Jesus é trabalhar hoje para que o jardim brote novamente no meio da cidade MEIO AMBIENTE E fé cristã Fernando Oliveira Se toda a poesia numa palavra Eu ficaria com Jardim. Gerson Borges