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Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 1
de
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
“BUSQUEM O SENHOR ENQUANTO É POSSÍVEL ACHÁ-LO”
ENTREVISTA: ODAYR OLIVETTI — Fundamentalistas e modernistas
PAUL FRESTON
AÇÃO SOCIAL CRISTÃ:
REALISMO E ESPIRITUALIDADE
LEONARDO BOFF
ONDE ESTÁ A VERDADEIRA
CRISE DA IGREJA
RUBEM AMORESE
O LIVRO DE ELI
Coração,
Juventude
e fé Quem são, o que pensam e o que
fazem os jovens evangélicos
www.ultimato.com.br SETEMBRO-OUTUBRO 2010 • ANO XLIII • Nº 326
2 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Anúncio
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 3
J
udas, o único dos doze apóstolos que não
era galileu, pois havia nascido em Queriote,
no sul da Judeia, “era quem tomava conta
da bolsa de dinheiro”. João registra essa
informação duas vezes (Jo 12.6; 13.29).
Poderia ser uma pequena e bonita caixa de madeira
ou uma modesta sacolinha de pano de saco ou de
linho. Nela colocavam-se as contribuições em dinheiro
ofertadas pelas piedosas e agradecidas mulheres da
Galileia (Lc 8.1-3) e outras eventuais receitas. Essas
ofertas ajudavam Jesus e os apóstolos em seu ministério
itinerante. Por causa da fraqueza pelo dinheiro, Judas era
a pessoa menos indicada para exercer tal função.
Não se deve pensar que o primeiro assalto à sacolinha
seria o furto de alguns ou de todos os trezentos denários
do perfume de Maria. João diz que Judas “costumava
tirar o que nela [na sacolinha] era colocado” (Jo 12.6,
NVI). A paráfrase da Bíblia Viva é mais contundente:
“[Ele] muitas vezes furtava dinheiro de lá”.
Jesus sabia que Judas era ladrão, mas nunca revelou
isso a qualquer pessoa. Poucas horas antes de ser traído,
Jesus mostrou quem o haveria de trair, dando a Judas
um pedaço de pão passado no molho (Jo 13.26). João e
os demais discípulos só ficaram sabendo que o Iscariotes
retirava o dinheiro sagrado da sacolinha sagrada algum
tempo depois de um vexame que ele causou em Betânia.
Em menos de uma semana, Judas participou de dois
jantares na companhia de Jesus e de outras pessoas. Não
se comportou bem em nenhum dos dois. Escondeu a
verdadeira identidade tanto na casa acolhedora de Maria,
Marta e Lázaro, como na grande sala mobiliada no andar
de cima de uma casa em Jerusalém. Na primeira ocasião,
escondeu que era ladrão e se apresentou como alguém
preocupado com o sofrimento humano. Na segunda,
escondeu o acordo já feito com os chefes dos sacerdotes
e perguntou cinicamente a Jesus: “Mestre, serei eu [o
traidor]?” (Mt 26.25). Ele foi descendo de graça em
graça e escancarando as portas para o mal de tal modo
que ficou endiabrado. João faz duas declarações sérias a
esse respeito. Primeiro, diz que “o Diabo já havia posto
na cabeça de Judas, filho de Simão Iscariotes, a ideia de
trair Jesus” (Jo 13.2, NTLH). Pouco depois, registra que,
“assim que Judas recebeu o pão [não o da Santa Ceia,
mas o que havia sido passado no molho], Satanás entrou
nele” (Jo 13.27, NTLH). Anteriormente, o tentador pôs
a ideia dentro de Judas; agora, ele mesmo se põe dentro
do apóstolo traidor. O ex-discípulo, ex-apóstolo e ex-
tesoureiro não tem mais controle de nada.
Desde quando a ideia macabra, o projeto ou o plano
macabro estava na cabeça de Judas? Desde quando ele
ficou sabendo que os chefes dos sacerdotes estavam
fazendo planos para matar Jesus logo após a ressurreição
de Lázaro (Jo 11.53)? Desde o fracasso de sua proposta
de vender o perfume de trezentos denários?
Antes de Judas se retirar da sala espaçosa e
aconchegante para se encontrar com os guardas do
Sinédrio e levá-los a Jesus no Getsêmani, o Senhor
declarou: “Vocês todos estão limpos”, e em seguida
completou: “Todos menos um” (Jo 13.10, NTLH).
Judas ouviu isso.
Não era preciso explicar nada, mas João achou por
bem acrescentar: “Jesus sabia quem era o traidor. Foi por
isso que disse: ‘Todos menos um’” (Jo 13.11, NTLH).
No dia seguinte, o homem com a sacolinha vazia
estava dependurado à beira de um precipício numa corda
amarrada pelo pescoço. Uma corda tão ordinária que não
aguentou o peso do suicida e se partiu.
É melhor tomar todo cuidado com a tentação do
dinheiro, sobretudo com a sacolinha sagrada na qual se
lança dinheiro sagrado!
Judase a sacolinha
Abertura
4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
L
ogo depois da ascensão de Jesus e da descida do Espírito Santo,
Pedro e João passaram uma noite atrás das grades. Quando foram
soltos na manhã seguinte, houve alegria da parte da igreja e todos
juntos adoraram a Deus, dizendo:
“Senhor, tu és o Criador do céu, da terra, do mar e de tudo o
que existe neles!” (At 4.24, NTLH).
Trata-se de uma confissão de fé básica e natural, espontânea e sincera,
ardente e cristalina, pessoal e coletiva, antiga e atual. Por causa de alguns
cientistas céticos, da teoria da evolução, de alguns escândalos religiosos de
ontem e de hoje, parte da juventude não consegue fazer com honestidade a
mesma confissão de que Deus é o criador e o sustentador do universo. Porém
não devemos cair nem na generalização nem no pessimismo.
A pesquisa “Juventude Evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos”,*
realizada pela Editora Ultimato, em julho deste ano, com 1960 jovens de
idade entre 13 e 34 anos, mostra que 97% deles têm condições de repetir a
confissão de dois mil anos atrás: “Senhor, tu és o Criador do céu, da terra,
do mar e de tudo o que existe neles!” Deve-se ressaltar que a maior parte
é formada por universitários expostos continuamente ao secularismo e à
negação de Deus.
O retrato da juventude evangélica fruto da citada pesquisa é o tema
da matéria de capa desta edição. Muitas e curiosas perguntas foram feitas
a esses 1960 jovens brasileiros. As respostas foram também curiosas. Por
exemplo, 64% nunca mudaram de denominação, 73% estão satisfeitos com
seus pastores e com as mensagens que eles pregam, 86% concordam que a
conduta cristã não apoia o sexo antes do casamento e menos de 1% se deixa
influenciar pelo ocultismo.
O resultado da pesquisa sugere um esforço no sentido de mesclar o
tradicional com o pentecostal (não com o neopentecostal). As respostas são
também criativas: “quero ser tradicional com toque pentecostal”; “busco o
equilíbrio entre a tradição e o avivamento”; “abraço a doutrina reformada e a
liturgia renovada”; “sou meio a meio, não estou nem apegado à tradição nem
pegando fogo”; “quero ser sensível ao Espírito e usar a mente que Deus nos
deu”; “sou calvinista com dons do Espírito”.
Que a matéria Coração, juventude e fé (a partir da pág. 20) corrija alguns
mal-entendidos e encoraje os jovens a dar vários outros passos para a frente.
Os menos de 120 jovens (6%) que afirmaram não acreditar ou não saber que
Jesus é 100% Deus e 100% homem precisam se convencer desta verdade!
Elben César
Nota
* Fruto de um esforço conjunto que durou quase um ano. Clemir Fernandes, Flávio Conrado e Patrick Timmer
apoiaram na metodologia e análise dos dados.
Carta ao leitor
ISSN 1415-3165
Revista Ultimato – Ano XLIII – Nº 326
Setembro-Outubro 2010
www.ultimato.com.br
Publicação evangélica destinada à evangelização e
edificação, não denominacional, Ultimato relaciona
Escritura com Escritura e acontecimentos com
Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade
bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos
sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria
com a prática, a fé com as obras, a evangelização com
a ação social, a oração com a ação, a conversão com
santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir.
Circula em meses ímpares
Diretor de redação e jornalista responsável:
Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG
Arte: Liz Valente
Impressão: Plural
Tiragem: 35.000 exemplares
Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro
Carlinhos Veiga • Marcos Bontempo
Paul Freston • René Padilla
Ricardo Barbosa de Sousa • Ricardo Gondim
Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese
Valdir Steuernagel
Notícias: Lissânder Dias
Participam desta edição: Edleia Rodrigues
Jan Greenwood • Reinaldo Percinoto Jr.
Publicidade: anuncio@ultimato.com.br
Assinaturas e edições anteriores:
atendimento@ultimato.com.br
Reprodução permitida: Favor mencionar a
fonte. Os artigos não assinados são de autoria
da redação.
Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro
da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
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Editorial e Produção: Marcos Bontempo
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Daniel César • Edson Ramos • Luís Carlos Gonçalves
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Vendas: Lúcia Viana • Lucinéa Campos
Romilda Oliveira • Sabrina Machado
Tatiana Alves • Vanilda Costa
Estagiários: Ariane Santos • Euniciléa Ferreira
Juliani Lenz • Thales Moura Lima
fundada em 1968
4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Tênis
no pé
e fé
na cabeça!
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 5
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6 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
MS
70.
O resultado final
O
resultado parcial de alguma doença não
é a última palavra. Muitas coisas podem
ainda acontecer, para aliviar ou agravar o
problema. Coisas previsíveis ou não. Nem
sempre é fácil esperar o resultado final de
uma situação difícil. Não adianta esperar o melhor ou
o pior. Sempre há surpresas a caminho, boas ou más.
Ao receber o recado de Maria e Marta de que seu
amigo Lázaro estava doente, Jesus simplesmente disse:
“O resultado final dessa doença não será a morte de
Lázaro. Isso está acontecendo para que Deus revele o
seu poder glorioso; e assim, por causa dessa doença,
a natureza divina do Filho de Deus será revelada”
(Jo 11.4, NTLH).
Jesus estava muito longe de Betânia, onde Lázaro
ficava cada vez pior. Porém, ele não teve pressa. Ao
chegar à pequena vila a apenas três quilômetros de
Jerusalém, o amigo já havia morrido e sido sepultado
e já cheirava mal. De acordo com o pronunciamento
de Jesus, o resultado final da doença de Lázaro não
poderia ser o túmulo nem a decomposição do corpo.
Qual seria? Valeria a pena esperar mais um pouco?
O resultado final não era aquela tragédia. O fôlego
de vida voltaria ao defunto e a decomposição do corpo
seria revertida. No entanto, isso não era tudo nem o
principal. Jesus havia deixado claro que aquele processo
de doença e morte desembocaria na glória de Deus e
também na revelação inequívoca da natureza divina
dele mesmo.
A história da formidável ressurreição de Lázaro
precisa ser lida dentro do contexto. No capítulo
anterior, os opositores de Jesus tiveram o atrevimento
de lhe dizer: “Você, que é apenas um ser humano,
está se fazendo de Deus (Jo 10.33, NTLH). Eles
ainda não acreditavam nas duas naturezas de Cristo
— a humana e a divina. Jesus se proclamava tanto
Filho do Homem como Filho de Deus. Ele era e é
completamente homem e completamente Deus. Ser
cristão é abraçar ambas as verdades — a divindade e a
humanidade de Jesus. Ao chorar com Maria e Marta,
o Senhor mostrou que o Verbo tinha se feito carne. Ao
parar diante do túmulo de seu amigo e ao gritar para o
morto: “Lázaro, venha para fora!”, o Senhor mostrou
que ele e o Pai são uma só pessoa (Jo 14.9). O que
aconteceu em Betânia foi uma impossível marcha à ré:
a morte somatopsíquica, o sepultamento e o processo
da decomposição voltaram atrás. E a natureza divina
de Jesus veio à tona com tanta força que os opositores
de sempre tomaram a decisão de acabar com a vida
de Jesus e também com a de Lázaro, testemunha viva
do poder de Deus e da divindade de Jesus (Jo 11.53;
12.10).
Em caso de doença e em qualquer outro quadro
de confusão, provação, tentação e medo, devemos
aguardar não o resultado em processo, mas o resultado
final. Nesta vida ou na vida futura, lembrando sempre
que “tudo concorre para o bem dos que amam a
Deus” (Rm 8.28)!
Pastorais
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 7
20 Coração, juventude e fé: quem são, 	
o que pensam e o que fazem os
jovens evangélicos
22 Um retrato da juventude evangélica:
crenças, valores, atitudes e sonhos
30 De gerações e emblemas
Reinaldo Percinoto Jr.
32 Para não virar a cabeça
3 Abertura
4 Carta ao leitor
6 Pastorais
8 Cartas
12 Frases
14 Mais do que notícias
16 Notícias
19 Números
19 Nomes
32 Altos papos
38 De hoje em diante...
40 Deixem que elas mesmas falem
43 Caminhos da missão
44 Novos acordes
58 Vamos ler!
CAPA
SEÇÕES
Leia mais
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Sumário
ABREVIAÇÕES:
AS21 – Almeida Século 21; BH – Bíblia Hebraica; BJ – A Bíblia de
Jerusalém; BP – A Bíblia do Peregrino; BV – A Bíblia Viva; CNBB –
Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT – Novo
Testamento (Comunidade de Taizé); EP – Edição Pastoral; EPC – Edição
Pastoral-Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ – King
James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH – Nova
Tradução na Linguagem de Hoje; TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia. As
referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição
Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão
Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
Especial
34 Onde está a verdadeira crise da
igreja, Leonardo Boff
36 Líderes evangélicos comentam
artigo de Leonardo Boff
Da linha de frente
46 O povo sou eu, Bráulia Ribeiro
Missão integral
47 Como fazer discípulos de Cristo?
René Padilla
Ética
48 Ação social cristã: realismo e
espiritualidade, Paul Freston
O caminho do coração
50 Participando do mundo de Deus por
meio da oração
Ricardo Barbosa de Sousa
Reflexão
52 PT: o partido que nunca foi governo
Robinson Cavalcanti
54 Ufanismos, messianismos e outras
mentiras, Ricardo Gondim
Redescobrindo a Palavra de Deus
56 O abraço de Deus: testemunho em
vida, palavra, ação e sinal
Valdir Steuernagel
História
60 Creio na comunhão dos santos: a
relevância primordial da igreja
Alderi Souza de Matos
Entrevista
62 Odayr Olivetti: Fundamentalistas e
modernistas
Ponto final
66 O livro de Eli, Rubem Amorese
8 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Abraçando e reabraçando a
santidade do corpo e da mente
Excelente o texto do teólogo alemão Wolfhart
Pannenberg (“Capa”, julho/agosto de 2010).
As igrejas não pregam mais sobre a união
indissolúvel do casamento, de acordo com o
ensino de Jesus. Certo pastor mencionou a
emenda constitucional que facilita o divórcio
como uma vitória! Minha denominação
(Assembleia de Deus) é antiga e os nossos
antepassados não eram assim. Onde vamos
parar? Estão afrouxando mesmo. Ainda bem
que há algumas exceções — tenho 48 anos e já
comemorei as bodas de prata.
José Duarte, Sorocaba, SP
Anúncio
Cartas
Parabéns pelo excelente conteúdo da edição de
julho/agosto de 2010. A questão da sexualidade
foi bem abordada e de maneira bíblica.
Reproduziremos alguns textos na revista Novas
de Alegria (órgão oficial da Convenção das
Assembleias de Deus de Portugal).
Ana Ramalho, Lisboa, Portugal
Como resguardar a criança do sexo precoce,
da pornografia e da homossexualidade se na
televisão, em pleno dia, enquanto meu filho
de 12 anos assiste a desenhos, aparecem
nas propagandas mulheres fazendo gestos
sensuais? Como, se a melhor amiga de minha
filha conta para ela que gosta de meninas, e
minha filha me conta isso como se fosse a
coisa mais natural? Como, se um pai aprisiona
a filha, abusa dela, vive com ela e a torna mãe
de sete filhos-netos? Como, se, por ser órfã,
você é levada para um orfanato e, ao receber
a visita do tio, ele a leva para um lugar à parte,
a aperta e tenta beijá-la à força (aconteceu
comigo, mas, graças a Deus, não passou
disso)? Como, se o pai ou a mãe resolve se
separar do cônjuge por descobrir que gosta
mesmo é de uma pessoa do mesmo sexo?
Como, se meu filho de 17 anos é chamado
de gay por ainda não ter namorada?
J. S. (brasileira, casada, quatro
filhos), Holanda
John Stott e o inferno
Ao ler a edição de março/abril de 2010
encontrei uma afirmação de John Stott que
me pareceu incompleta. Ele afirma que
acredita no inferno, mas como ele acredita?
Até onde sei, ele é aniquilacionista.
Humberto Ramos, Cuiabá, MT
— A resposta está no livro A Missão Cristã no
Mundo Moderno, de John Stott: “Podemos,
e penso que devemos, preservar certo
agnosticismo reverente e humilde acerca da
exata natureza do inferno, assim como da
exata natureza do céu. Ambos estão além
da nossa compreensão. Porém, devemos
saber de forma evidente e clara que o inferno
é uma realidade terrível e eterna. Não é
dogmatismo ver certa inconveniência em
falar a respeito da realidade do inferno; é
volubilidade e frivolidade. Como podemos
pensar no inferno sem lágrimas?” (p. 135).
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 9
De hoje em diante
Parabéns pela seção “De hoje em diante”. O
assunto é sempre interessante e é abordado
de forma simples, o que nos leva a mudar de
postura diante de situações cotidianas da vida.
Vale a pena, de hoje em diante, não deixar de
ler!
Patrícia Victor, Rio de Janeiro, RJ
Deus só fala inglês?
É verdade que Deus não está calado (“Capa”,
março/abril de 2010). Mas será que ele só fala
em inglês? Será que não há no Brasil quatro
homens ou mulheres cristãos da estirpe do
quarteto inglês (Stott, Wright, Lewis e Packer)?
Sugiro uma matéria semelhante, mas com
líderes nacionais. Seria uma radiografia do
evangelicalismo brasileiro.
Pedro da Silva, Fortaleza, CE
— Algumas das vozes brasileiras escrevem há
muitos anos na revista Ultimato: Alderi Matos,
Rubem Amorese, Bráulia Ribeiro, Carlinhos
Veiga, Ricardo Gondim, Ricardo Barbosa,
Robinson Cavalcanti, Valdir Stuernagel. O
leitor encontrará nesta edição outras vozes
em Líderes evangélicos comentam artigo de
Leonardo Boff (pág. 36).
Os riscos da omissão
Geralmente começo a leitura de Ultimato pelas
“Cartas”. Elas fornecem informações sobre a
revista, os articulistas e as reflexões dos leitores
sobre os assuntos abordados. Tento perceber o
perfil geral do conteúdo da revista e da cultura
média dos leitores. Não me sinto entre os que
só enviam críticas, mas raramente escrevo
com uma palavra de estímulo e gratidão por
Ultimato estar cumprindo o dever de cativar-
me como assinante por tantos anos. Em razão
disso, talvez avultem as cartas com críticas
(nem sempre justas), que podem passar a falsa
ideia de que há uma rejeição, se não unânime
(os omissos não são contados), pelo menos
significativa. Eu, que apoio a linha editorial da
revista e amo seus articulistas, tentarei não ser
mais omisso.
Ernesto Muzzi, Brasília, DF
Prazer intelectual e espiritual
Tendo por propósito o crescimento espiritual
do leitor, Ultimato prima pela excelência em
todos os aspectos. Tornou-se, para mim,
leitura obrigatória, que me proporciona prazer
intelectual e alimento espiritual.
Maria Antonieta da Silva, Rio de Janeiro, RJ
Inquisição protestante
Sou assinante de Ultimato há muitos anos.
Nasci na Igreja Metodista e tenho 75 anos.
Acabei de chegar da Espanha, onde ouvi
uma conferência sobre a Inquisição calvinista.
Afirmaram que ela foi mais cruel que a
Inquisição católica. Achei muitos artigos sobre o
assunto na internet e, como nunca tinha ouvido
nada a respeito, gostaria de saber um pouco
mais.
Umberto de Almeida, Campinas, SP
— A chamada Inquisição calvinista ou
Inquisição protestante é uma ficção que não
tem fundamento histórico. Os pesquisadores
sérios, sejam eles protestantes ou católicos,
nada dizem a esse respeito. Certamente
houve atos de intolerância de protestantes
contra católicos durante o período da Reforma,
geralmente de forma pontual, circunstancial,
e não-sistemática. Nunca houve no âmbito
protestante nada parecido com a Inquisição ou
Santo Ofício, formalmente instituída pelo papa
Gregório IX na década de 1230 para julgar
e condenar pessoas suspeitas de heresia, a
começar dos cátaros e dos valdenses. Ao longo
dos séculos, até sua extinção no século 19, a
Inquisição perseguiu também um grande número
de judeus, protestantes e pessoas acusadas
de bruxaria. É irônico que a conferência
aludida pelo leitor tenha sido proferida na
Espanha, onde existiu a mais violenta sucursal
da Inquisição, autorizada pelo papa Sisto IV
em 1478 e liderada inicialmente pelo célebre
inquisidor Tomás de Torquemada. Nos
procedimentos inquisitoriais presumia-se a culpa
dos acusados, não havia ampla oportunidade
de defesa e as confissões podiam ser obtidas
mediante tortura. Uma vez condenado à morte,
o réu era entregue às autoridades civis para
ser executado. Na cidade de Genebra pode
ter havido o uso ocasional de procedimentos
inquisitoriais, mas somente se conhece um
caso de execução por motivo religioso, o de
Miguel Serveto, que curiosamente havia sido
condenado anteriormente pela Inquisição.
Outros indivíduos executados na época o
foram por crimes diversos contra o Estado, sem
participação da igreja reformada.
Resposta do historiador Alderi Souza de Matos
Amém
Tornei-me leitor da revista de forma inusitada.
Certo dia, ouvi uma missionária falar durante
uma oração que Deus me enviaria algo e que
não era pra eu entender — apenas aceitar,
pois certamente faria diferença em minha
vida. Não sou convertido, porém, como vejo
outros fazendo, eu disse “amém”! No dia
seguinte, percebi que em minha mesa havia
uma correspondência (sou responsável pela
segurança em um presídio e uma de minhas
atribuições é verificá-las) que tinha apenas o
remetente. Abri e vi que era a revista Ultimato.
Recebi-a como uma grande benção e me tornei
10 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
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Cartas
assinante. Ela é uma dádiva proveniente da
graça do nosso Senhor e sua leitura está
sendo como um estudo bíblico, uma orientação
espiritual em direção a Deus.
Fábio Lopes, Campo Grande, MS
Sugestões e mais sugestões
Cansei de mandar sugestões de reportagem,
mas ninguém da revista dá atenção. Entretanto,
segue mais uma: Paulo Roland lançou o livro
Os Nazistas e o Ocultismo, acusando Hitler de
ter feito um pacto com poderes sobrenaturais
durante a juventude. Se não prestarem atenção
desta vez, direi ao mundo que vocês não estão
nem aí para os leitores...
Túllio Carvalho, Belo Horizonte, MG
— Muitas sugestões de leitores são boas, mas,
se todas fossem aproveitadas, “nem mesmo
no mundo inteiro haveria espaço suficiente
para [as páginas a mais] que seriam escritas”
(Jo 21.25).
Cartas da prisão
Nasci em lar evangélico e desde criança
aprendi o que é certo e o que é errado. Éramos
oito irmãos. Uma de minhas irmãs foi morta a
facadas pelo marido por causa de ciúmes. A
certa altura da vida, me desviei do evangelho,
pratiquei muitos crimes e tive muitas mulheres
e filhos. Cumpro pena de 23 anos de cadeia na
penitenciária de Álvaro de Carvalho. A edição
de março/abril de 2010 publicou minha carta
na qual escrevi que estava sozinho no mundo
e adoraria receber cartas. Mesmo com o CEP
errado, as cartas não param de chegar. Até
meu pai voltou a me escrever!
Moisés de Carvalho (Rodovia Mameli
Barreto, Km 36 R3, Cela 319.
CEP 17410-000, Álvaro de Carvalho, SP)
Nasci em maio de 1976 e renasci em Cristo
em abril de 2008 — 34 anos de vida e dois
de cristão. Estou pagando por muitos erros
que cometi quando estava no engano. Porém,
o Senhor me resgatou e me libertou. Antes
de minha conversão, estava tão cansado
e oprimido que pensei em tirar minha vida.
Então Deus me alcançou e arrancou de
dentro de mim o rancor, o ódio e a depressão.
Ajoelhei-me diante dele e chorei muito. Foi
uma transformação incrível. O fardo que eu
carregava desde os 15 anos, quando fui
preso pela primeira vez, desapareceu.
Abandonei a vida pregressa e fui atrás de
Jesus. Foi um preso quem me falou de Cristo.
Hoje estou na Penitenciária de Balbinos e
prego a Palavra de Deus aos meus colegas.
Quero que me enviem Ultimato, pois ela me
ajuda a entender a Bíblia. Outras revistas e
livros também são bem-vindos.
Cristian Rocha (Penitenciária de
Balbinos, Raio 6, Cela 8, Caixa Postal 01.
CEP 16640-000, Balbinos, SP)
Somos uma igreja interdenominacional que
se reúne no Presídio Evaristo de Morais.
Contamos com dez celas evangélicas,
totalizando seiscentos membros. Temos
uma minibiblioteca, onde exercitamos a
leitura. Gostaríamos de solicitar mais Bíblias,
revistas, livros e folhetos, para nosso uso e
para evangelizar outros detentos.
Pastor Rogério Caldeira (Congregação
Evangélica Evaristo de Morais — Rua
Bartolomeu de Gusmão, 1.100, São
Cristóvão. CEP 20941-160, Rio de
Janeiro, RJ)
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 11
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O inimigo tirou tudo de mim: liberdade, caráter,
família, sonhos e até a vontade de viver. Hoje,
porém, sou lavado e liberto pelo poder do
Espírito Santo. Jesus Cristo mudou minha vida e
“a vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no
Filho de Deus, que me amou e se entregou por
mim” (Gl 2.20). Já passei doze anos de minha
vida cumprindo pena.
Alex Sander da Silva (Penitenciária de Casa
Branca, Raio 2, Cela 112, Caixa Postal 19.
CEP 13700-970, Casa Branca, SP)
Quando me casei, estava com 21 anos e tinha
sonhos como qualquer outro jovem. Dois anos
depois, me tornei motorista de caminhão.
Trabalhei algum tempo sem habilitação, à noite,
carregando cana. Ganhava bem e tinha uma
vida estável com minha esposa e meu filho.
Porém, comecei a me envolver com usuários de
cocaína e me tornei dependente. O dinheiro já
não era suficiente e fiquei cheio de dívidas. Caí
no fundo do abismo e parti para o crime. Entrei
numa padaria, dei voz de assalto e consegui
70 reais — o suficiente para acabar nas mãos
da polícia. Depois de outras complicações, fui
parar na penitenciária. Porém, graças a Deus,
conheci alguns presos cristãos no mesmo raio
em que eu estava e comecei a frequentar os
cultos. Conheci o amor de Deus e converti-me.
Devo ser solto em breve e quero voltar para o
meu caminhão, minha esposa e meu filho, mas
agora com um diferencial: estar na presença do
Senhor. Tenho 26 anos.
Luiz Fernando Germano, Guareí, SP
Edimburgo 2010
Participei do Congresso Edimburgo 2010 como
representante da Fraternidade Teológica,
celebrando 100 anos desde o famoso congresso
missionário. Por ser um congresso ecumênico,
não sabia bem o que esperar. Porém, fiquei
favoravelmente impressionada. A maioria é gente
que crê em Jesus e nas Escrituras e que dá valor à
obra missionária. E gente de toda a parte! Fizemos
novas amizades e o mais gostoso era o louvor
multicultural.
Antonia Leonora van der Meer, Viçosa, MG
Maria e José
Os pontos de vista de Edilson Cunha (que supõe o
papel soteriológico de Maria) e de Wigbert Weber
(que nega a José o direito de ser pai e de ter uma
vida conjugal plena), colocados na seção “Cartas”
(julho/agosto de 2010), são, em minha opinião,
efeitos de fenômenos psicológicos e sociológicos
que se multiplicaram nas multidões e se
solidificaram em indivíduos no decorrer da história
da igreja. Busco explicar isso em minha monografia
intitulada “Um Deus em quatro pessoas: a força
popular do Marianismo”.
Marcos Antonio Ferreira, Campos dos
Goytacazes, RJ
Preconceito é crime
Existe preconceito religioso no país e preconceito
é crime. Nosso país é laico, tem liberdade de
expressão e de religião. Por isso, certos fatos me
incomodam: até hoje não sei qual é a religião do
goleiro Bruno ou de Suzane von Richthofen, mas
digo com toda certeza: se fossem evangélicos,
eu teria sabido na hora em que a notícia saiu na
mídia. Por que só os transgressores que se dizem
evangélicos têm sua religião publicada? Para
macular o evangelho? Nunca vi notícias assim:
“católico mata pai”; “espírita estupra e mata”;
“macumbeiro rouba carro”; “ateu arromba loja”.
Isso mostra a mente pequena de alguns jornalistas
que, de certo modo, colocam os evangélicos como
pessoas santas, já que não lhes permite o erro.
Vamos lutar contra o preconceito religioso!
Maria Aliete Paiva, Natal, RN
12 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
“Há muita gente que não sabe o que
quer da vida porque não presta atenção
ao que o Senhor Deus lhe diz.Vive a esmo,
embora Deus lhe tenha dado uma direção.
Israel Belo de Azevedo, pastor da Igreja Batista
Itacuruçá, no Rio de Janeiro
“T omar sua cruz significa empenhar-se
em vencer o pecado que obstaculiza
o caminho em direção a Deus, acolher
diariamente a vontade do Senhor, intensificar
sua fé, especialmente diante dos problemas, das
dificuldades, do sofrimento.
Papa Bento XVI
“Do lado de fora das igrejas tradicionais existe um contingente
imenso de pessoas que, com a mesma intensidade com que
busca a Deus, rejeita a incoerência, a hipocrisia e os desmandos das
estruturas do poder eclesiástico.
Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo
FRASES
”
“Anatureza é o templo de Deus. A
motivação para cuidar dela é muito
mais do que garantir a vida para as futuras
gerações. É um ato de adoração.
Rikk Watts, assembleiano, professor do Regent
College, no Canadá
“ABíblia tem autoridade formativa e
normativa em relação à Igreja. A Igreja
elege o seu cânon, mas não o forma. A Bíblia
é a Palavra de Deus e não a Palavra da Igreja.
É por esta e outras razões que a Bíblia corrige
as superstições e os erros da própria Igreja.
Guilhermino Cunha, pastor da Catedral
Presbiteriana do Rio de Janeiro
“Consumir-se na paixão
pode ser rápido, mas
reinventar o mundo a dois é
uma tarefa de fôlego.
Contardo Calligaris, psicanalista”
”
”
”
”
Arquivopessoal
AdrianaFranciosi
Arquivopessoal
“Abeleza da morte é que ela nos desnuda completamente. A morte
obriga a pessoa a ser ela mesma, a se aceitar como é. Já vi
muitos religiosos aflitos diante da morte porque a espiritualidade deles
era pregada, mas não era vivida.
Franklin Santana Santos, geriatra”
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 13
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14 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
A
longa reportagem
de capa da revista
Época intitulada
“Os novos evangélicos”
(9 de agosto de 2010) passa
a impressão de que a igreja
evangélica brasileira está
com labirintite. Ela está
tonta há algum tempo,
quase caindo para os lados.
Não está bêbada nem de
álcool nem do Espírito
Santo. A igreja está con-
fusa, aturdida, sem saber
com certeza o que abraçar
e o que desabraçar, o que
manter e o que descartar. A
confusão aumenta porque
os impacientes querem
mudar tudo e os tímidos,
nada. De uma coisa, não
todos, mas alguns estão
absolutamente certos —
aquilo que nos últimos
anos foi entrando pelas
frestas da igreja precisa
sair. A dificuldade é fazer o
inventário das “raposinhas”
que entraram na vinha
do Senhor e fizeram os
estragos que todos devem
estar enxergando (Ct 2.15).
Todavia, não podemos usar
+DO QUE NOTíCIAS
Labirintite evangélica
isso como desculpa, pois
algumas dessas “raposinhas”
são bem visíveis. Daí o sub-
título da matéria de capa da
Época: “Um movimento de
fiéis critica o consumismo,
a corrupção e os dogmas
das igrejas — e propõe uma
nova reforma protestante”.
Parece que o tumor está
sendo espremido. Ricardo
Agreste, presbiteriano, um
dos entrevistados da Época,
explica que “o grande
problema dos evangélicos
brasileiros não é de inteli-
gência; é de ética e hones-
tidade”. Ed René Kivitz,
batista, outro entrevistado,
diz que “as pessoas não
querem dogmas, elas que-
rem honestidade”. Pelo que
se vê, as “raposinhas” não
são tão pequenas quanto se
pensa. Soberba, profanação,
desonestidade, hipocrisia,
ciúme, inveja, ambição
(tanto pelo poder eclesiás-
tico como pelo vil metal)
— nunca foram raposas de
pequeno porte!
Com problemas de
tontura, certo homem pro-
curou o médico e recebeu
o diagnóstico de labirintite.
Ele saiu do consultório com
duas receitas. Na primeira,
havia uma lista de remédios
de uso contínuo. Na segun-
da, o médico escreveu: “Na
crise: Vertix e Betaserc”.
Sem dúvida, a igreja
evangélica brasileira precisa
de um remédio de uso con-
tínuo para curar sua labi-
rintite. Porém, enquanto a
cura não ocorre, ela precisa
de outros medicamentos
para se livrar da horrível
zonzeira do momento.
Uma onda de humil-
dade, de convicção do pe-
cado, de arrependimento,
de confissão, de conversão
talvez seja de uso contínuo.
O mesmo se pode dizer
de outras providências. O
que os evangélicos e outros
cristãos podem fazer para
aliviar a tontura presente?
Há uma resposta não-
sofisticada, não-acadêmica,
não-complexa, não-duvido-
sa diante da igreja. Ela não
está distante, não é difícil e
não mexe com os dogmas
denominacionais nem
pessoais. A resposta que se
impõe vale-se da herança
comum de todo aquele
que professa o cristianis-
mo, ou seja, evangélicos e
católicos, tanto no Brasil
como em outra cultura.
Se a maioria dos
protestantes brasileiros,
históricos e pentecostais,
e ainda os neopentecostais
(chamados também de
pseudopentecostais), se
deixarem impressionar
outra vez (ou pela primeira
vez, caso não tenha havido
a primeira) pela pessoa,
pelo ensino, pela morte
vicária, pela ressurreição,
pela soberania e pela
consumação da vitória de
Jesus sobre tudo e sobre
todos — a crise de tontura
acabará. E os remédios de
uso contínuo produzirão a
cura da labirintite evan-
gélica!
O bispo anglicano
Kenneth Cragg gosta de
lembrar: “Onde estiver
encoberta a beleza da cruz,
ela deve ser desvendada”.
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 15
A
qui está uma
constatação, de
um dos editoriais
da Folha de São Paulo
(22 de julho de 2010),
que merece atenção:
“A grande maioria dos
ocidentais não chegou
ao ponto de negar a
existência de Deus — e
dificilmente chegará —,
mas relegou o sagrado a
uma espécie de limbo”.
Para enfrentar o
desafio da crescente
secularização, os
cristãos inventaram a
reevangelização (nome
mais usado pelos
missiólogos protestantes)
ou a nova evangelização
(nome mais usado no
meio católico). Volta-se
à estaca zero. É preciso
falar outra vez sobre
Jesus Cristo com aqueles
que foram evangelizados
primeiramente pelo
apóstolo Paulo e seus
companheiros, a partir
da Ásia Menor, Grécia
e Itália, nos primórdios
do cristianismo. O
continente europeu,
centro de missões
mundiais por muitos
séculos, agora é o alvo de
missões.
Parece que a matéria
da Folha de São Paulo foi
menos alarmante que a
carta que o papa enviou
aos bispos de todo o
+DO QUE NOTíCIAS
O inventor do
pós-cristianismo
mundo em março de
2009. No documento,
Bento 16 fala sobre o
risco de desaparecimento
de Deus no mundo.
A secularização
teria começado com o
filósofo alemão Friedrich
Nietzsche em meados
do século 19. O francês
Michel Onfray, autor
de uma obra sobre
Nietzsche, diz que ele é
o “inventor do pós-
cristianismo [por ter
sido] o primeiro a propor
um pensamento vivo
e concreto para viver e
agir em um mundo sem
Deus”.
Apesar de Nietzsche
(1844-1900) e dos ateus
radicais de hoje (Richard
Dawkins, Christopher
Hitchens, Sam Harris),
que dizem que a religião
é uma ilusão que precisa
ser erradicada, não há
muito a temer, porque a
Igreja é de Jesus Cristo
e nada pode prevalecer
contra ela (Mt 16.18).
Além do mais, qualquer
movimento coletivo
ou não, organizado ou
não, tem sido e sempre
será insignificante para
derrubar a fé em Deus
e a soberania dele sobre
tudo e todos. O Salmo
Segundo precisa ser lido
mais vezes e com mais
atenção!
O
“super-homem”
inventado na
Alemanha no
início do século 20 é de
fato formidável. Ele é ca-
paz de gastar mais de um
trilhão de dólares com
operações militares e
outro trilhão com o com-
bate ao consumo e tráfico
de drogas (os números
dizem respeito a um só
país). Esses dois trilhões
de dólares (o equivalente
a 3,6 trilhões de reais)
foram gastos pelos Esta-
N
a manhã de
25 de junho
de 2010, os
funcionários da prefeitu-
ra de Gori, na Geórgia,
uma das repúblicas
que faziam parte da
antiga União Soviética,
derrubaram, sem aviso
prévio, uma das últimas
estátuas de Joseph Stalin,
localizada na principal
praça da cidade onde ele
nasceu, em 1879. A está-
tua de Stalin era quatro
vezes e meia menor que
a colossal estátua que
Nabucodonosor mandou
uper-homem,
mas incapaz
Mais uma
estátua cai
dos Unidos na “Guerra ao
terror” (desde setembro
de 2001) e na “Guerra às
drogas” (desde 1970). E os
dois problemas ainda não
foram resolvidos. Nem
serão. Porque por trás
de tudo há um conjunto
enorme e complexo de
interesses escusos. A única
esperança está na promessa
de novos céus e nova terra
— a revolução escatológica
que transformará espadas
em arados e lanças em
foices (Is 2.4).
construir na Babilônia
na época do profeta
Daniel, na primeira me-
tade do século 6 antes
de Cristo (27 metros de
altura e 2,7 de largu-
ra). A lista de torres e
estátuas abandonadas
(como a torre de Babel)
ou derrubadas depois de
um efêmero período de
glória é enorme. E faz
pensar!
A estátua de Stalin
em Gori foi erguida um
ano antes de sua morte,
aos 74 anos, e ficou de
pé por 58 anos.
16 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
NOTíCIAS
Pesquisa revela luta
de missionários
contra pecados
sexuais
“Sinto-me derrotado na tentativa de viver
uma vida sexualmente pura.” “Eu luto contra
a pornografia, fantasia e/ou masturbação.”
Estas são algumas das oitenta questões sobre
pureza sexual apresentadas pelo pastor Paul
Sinclair a 617 missionários evangélicos norte-
americanos e canadenses, do sexo masculino,
obreiros de cinco agências missionárias
transculturais. A pesquisa revelou que mais de
35% dos entrevistados admitem ou tendem a
admitir que sofrem derrotas na área de pureza
sexual; 56% afirmaram que foram expostos a
pornografia ainda crianças; 36% fazem uso de
comportamentos sexuais impuros para aliviar o
estresse.
O questionário fez parte da tese de doutorado
em ministério de Paul Sinclair pela Columbia
Biblical Seminary and School of Missions da
Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
Ele, que foi missionário em Mali, na África,
durante nove anos, afirma que os pecados sexuais
são um problema real entre os missionários
que saíram de seus países de origem. “Muitos
vivem uma vida sexual desconectada dos outros
papéis que assumem em seus ministérios e
famílias. Com isso, o pecado sexual se torna uma
válvula de escape para sentimentos negativos
como solidão e situações de forte estresse”.
Para Sinclair, o caminho da restauração passa
pela construção de uma intimidade verdadeira
e integrada. Para isso, é preciso confiar na
graça de Deus, ser honesto consigo mesmo,
ter companheiros de cura e colocar em prática
disciplinas espirituais como oração, leitura e
meditação bíblicas, jejum, solitude e silêncio.
Sociólogo
desvenda
início das
Assembleias de
Deus
Com um olhar sociológico, mas, ao
mesmo tempo, com a experiência
de quem integra há décadas uma
comunidade pentecostal, Gedeon
Alencar, doutorando em ciências
da religião pela PUC, lança
o livro Assembleia de Deus —
origem, implantação e militância
(1911-1946), pela Arte Editorial.
Comparando registros históricos
e conceitos sociológicos, Alencar
resgata os primórdios da maior
denominação evangélica brasileira
(32%, PUC/2003), com suas fortes
ações evangelísticas, mas também
com seus naturais conflitos de
liderança, que moldaram o rosto
atual da denominação. No capítulo
3, o livro trata da institucionalização
da igreja, revelando o embate
ocorrido entre a Assembleia de Deus
norte-americana e a brasileira (de
origem sueca).
A Assembleia de Deus no Brasil
teve início em Belém do Pará, no
dia 11 de junho de 1911. Para
comemorar os cem anos, a igreja
planeja para 2011 uma série de
eventos e projetos na cidade, entre
eles um culto no estádio de futebol
Mangueirão e a inauguração do
Centro Histórico Nacional da
Assembleia de Deus no Brasil.
DimitriCastrique
Por Lissânder Dias
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 17
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18 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
NOTíCIAS
Comitê de
Evangelização
abre diálogo
global pela
internet
O Comitê Lausanne para Evangelização
Mundial abriu um espaço na
internet para diálogos sobre os
principais desafios da missão cristã
contemporânea. Todos podem
participar. Chama-se Conversa
Global Lausanne (CGL), e o site é
www.conversation.lausanne.org.
A ferramenta, com tecnologia
semelhante à das redes socais, enfatiza
reflexões sobre as questões atuais e o
papel da Igreja no mundo. Já é possível
iniciar conversas em, pelo menos, oito
idiomas, inclusive o português.
O diálogo global está sendo
considerado um importante recurso
para o 3º Congresso Lausanne sobre
Evangelização Mundial Cape Town
2010 (Lausanne III), na África do
Sul. Durante o congresso, vídeos de
cada sessão serão divulgados dentro da
CGL, permitindo que cristãos de todo
o mundo comentem ou respondam, o
que, consequentemente, irá influenciar
o evento. O congresso, que será
realizado em colaboração com a Aliança
Evangélica Mundial, reunirá 4 mil
líderes de mais de duzentos países, de
16 a 25 de outubro de 2010. Cerca de
noventa brasileiros estarão presentes.
JocumBrasil
Jocum
completa 50
anos e traz
fundadores ao
Brasil
A missão internacional e
interdenominacional Jovens
com uma Missão (Jocum)
está completando 50 anos de
existência. Com uma forte ênfase
em evangelismo e treinamento
missionário de jovens, a Jocum ficou
conhecida por sua disposição em
abrir frentes de trabalho ao redor do
mundo.
O trabalho começou em 1960
com o jovem casal norte-americano
Loren e Darlene Cunningham,
em um hotel desativado nos Alpes
Suíços. Hoje, a missão está presente
em mais de 175 países, com mil
bases de trabalho e quase 17 mil
obreiros em tempo integral. No
Brasil, a Jocum começou em 1975 e
conta com o segundo maior número
de obreiros no mundo (1.300),
conhecidos aqui como jocumeiros.
Entre as áreas de atuação, estão
evangelismo, saúde, educação,
tradução da Bíblia e cuidado de
crianças em situação de risco.
O casal fundador da Jocum esteve
no Brasil em agosto e participou das
comemorações do Jubileu de Ouro
em Curitiba, PR, e Recife, PE.
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 19
Jander Magalhães de Castro
em Cuba (esquerda)
Arquivopessoal
Jander Magalhães de
Castro e o Projeto Cuba
E
m janeiro de 2005, sem falar
espanhol e sem conhecer nin-
guém, um brasileiro de Ipane-
ma, MG, desembarcou em Havana.
No dia seguinte, pegou outro avião
para Holguín, capital da província
de mesmo nome, a 780 quilômetros
do outro lado da ilha, onde ficou
por treze dias. Em abril de 2010, ele
voltou a Cuba pela oitava vez.
Jander Magalhães de Castro, 47
anos, é casado e tem três filhos. Mora
em Viçosa, MG, e não é empresário
nem turista. Também não é missio-
nário. Porém, tem ardor missionário
e, por isso, tem favorecido o anúncio
do evangelho na ilha descoberta
por Cristóvão Colombo há mais de
quinhentos anos (em 1492). Graças
a essas viagens e aos muitos conta-
tos no Brasil, Jander tem realizado
um trabalho discreto e abençoado.
O Projeto Cuba,¹ fundado por ele
logo após a primeira viagem, reforça
o salário de 350 pastores e obreiros
cubanos, ajuda 62 idosos e apoia
três ministérios de evangelização de
crianças. Como se não bastasse, o
projeto já comprou e doou cinquenta
bicicletas e vinte cavalos para facilitar
a locomoção dos obreiros nativos
tanto na zona urbana como na zona
rural. De vez em quando, provê
recursos para construções de templos.
Tudo com dinheiro brasileiro, doado
por igrejas e parceiros, principalmente
das Assembleias de Deus.
Jander, coordenador do Projeto
Cuba, foi batizado aos 13 anos e
ordenado ao ministério aos 21. Foi
aluno da Escola de Educação Teológi-
ca das Assembleias de Deus (EETAD)
por quatro anos e bacharelou-se em
teologia pela Faculdade Teológica
Sul Americana, em Londrina, PR. A
esposa, Eunice Teodoro de Almeida,
secretária do Projeto Cuba, é também
formada pela EETAD. Durante dez
anos, Jander foi pastor auxiliar da As-
sembleia de Deus de Ipanema, MG,
e, desde que se mudou para Viçosa,
é coordenador e monitor do Núcleo
Teológico nº 1122 da EETAD, pre-
gador itinerante e palestrante na área
de missões. Além disso, ajuda projetos
semelhantes aos de Cuba em outros
dois países (Paraguai e Guiné Bissau).
O casal tem três filhos: o advoga-
do Raphael Felipe, a farmacêutica
Fernanda Gabriela e o estudante de
medicina Gustavo Henrique.
Jander Magalhães de Castro é um
dos milhões de brasileiros que apoiam
e desejam o fim do bloqueio econô-
mico imposto a Cuba pelos Estados
Unidos.
Nota
1. Um dos ministérios da Visão de
Evangelização Mundial
(VEM-Brasil).
Nomes NÚMEROS
178
Estados têm relações diplomáticas
plenas com o Vaticano.
80
anos é a expectativa de vida dos
países desenvolvidos. Em alguns
casos, a expectativa sobe para 85
anos.
470.000
pessoas acusadas de algum crime
estão atrás das grades no Brasil.
Quase metade desse total são presos
provisórios, muitos aguardando
julgamento há anos.
650.000
judeus seguem a vertente mais
conservadora do judaísmo e rejeitam
vários hábitos da vida moderna.
Esses judeus ultraortodoxos
representam 10% da população de
Israel.
250.000.000
de nascimentos foram evitados na
China entre 1979 e 2000, graças à
política chinesa do filho único.
1.200.000
pessoas são estupradas a cada ano
na África do Sul (um estupro a cada
30 segundos). O país é recordista em
crimes sexuais, com 75,6 estupros
por grupo de 100 mil habitantes.
4.000.000
de brasileiros têm uma relação
patológica com o jogo. São jogadores
compulsivos que perdem quase tudo,
mas não reconhecem o vício.
536.000
mulheres morrem a cada ano por
causa de problemas relacionados à
gravidez.
20 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Capa
Coração,
Juventude
e fé Quem são, o que pensam e o que
fazem os jovens evangélicos
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 21
“Juventudes”
é um termo cunhado para
expressar que as pessoas
entre 15 e 24 anos (critério
da ONU), ou entre 14 e 30
anos, faixa etária usada
pelo Conselho Nacional de
Juventude (CONJUVE),
apesar de fazerem parte
do grupo “juventude”,
não apresentam muitas
características comuns a
todos. Elas vivem realidades
diferentes e se apresentam
em subgrupos. O mesmo
acontece com os evangélicos:
as juventudes são muitas e
diversas!
No início do Ano
Internacional da Juventude
(agosto de 2010 a agosto de
2011) lançado pela ONU, e
um ano depois do Ano das
Juventudes na Ultimato,
dedicamos a matéria de capa
desta edição aos jovens.
Os textos e as análises
da pesquisa “Juventude
Evangélica: crenças,
valores, atitudes e sonhos”
são da autoria de Daniela
Cabral (25), Paula Mendes
(28), Lucas Rolim (23) e
Klênia Fassoni (49), exceto
quando o nome do autor é
mencionado.
Bios
Bernardo, 17, mora
em Brasília e é candidato
à universidade. Há quatro
anos dirige uma célula de
adolescentes da Comunidade
Sara Nossa Terra e participa da
equipe de louvor.
Lucas, 28,presbiteriano, éprocurador federal no
interior de São Paulo
e líder em igrejalocal.
Eude, 32, formada em
ciências da religião e
psicologia, é paraense,
mas mora no Amapá.
É muito envolvida com
a igreja local e com
missões.
Heide, 24, cursa
engenharia civil na
Universidade Federal
de Viçosa. Mora em
alojamento estudantil e
parte de seu sustento
vem da bolsa de
atividades para alunos
carentes. Participa das
atividades da mocidade
da sua igreja.
Márcia, 22, é estudante de dança
na UFRJ e mora na Barra da Tijuca,
no Rio de Janeiro. De família de classe
média, frequenta a Assembleia de Deus
e participa do ministério de coreografia.
Nos fins de semana, frequenta bailes
funks de Cristo. Sua igreja promove
festas depois do culto de domingo
à noite, com jogos de luz, hinos
remixados e DJs.
Rodrigo, 32, é
casado, tem um filho
e mora no Rio de
Janeiro. Formado em
publicidade, é diretor
executivo da Base,
missão formada por
nove casais jovens
que auxiliam outras
missões.
Solange, 23, mora em um sítio na zona
rural de Paula Cândido, MG, e estudou até
a oitava série. Ela, os pais e os sete irmãos
frequentam a Assembleia de Deus e vão a
todos os cultos, de charrete ou a pé. Trabalha
na mocidade, no círculo de oração, no
evangelismo e na ministração de hinos da
Harpa Cristã. Segue fielmente os costumes da
igreja. Sonha em fazer medicina.
Eric (ou Peruca),
26, casado, de origem
metodista wesleyana,
nunca se desviou do
evangelho. É um dos
líderes da Missão
Avalanche em Vitória,
ES. É missionário
biocupacional: trabalha
como tatuador e
evangeliza jovens
underground.
Marlene, 24, mora em
Riacho Fundo, região satélite
de Brasília. Engravidou aos
19 anos e parou de estudar.
Trabalha como doméstica,
gosta de ajudar no louvor
e dar aulas na escola
dominical.
Moysés, 17, é negro e mora
numa república. Natural de Bom
Jesus do Itabapoana, RJ, sonha com
uma vaga no curso de direito em uma
universidade federal. Violinista nato
e sempre de bom humor, é membro
ativo da Mocidade Presbiteriana de
Viçosa.
Franqueline, 29,
é assistente social e
mora em Maceió, AL.
Além do seu trabalho,
é articuladora da Rede
Fale em Alagoas e
envolvida na igreja
Batista onde congrega.
Ronilso, 32, negro, é casado
e congrega na Comunidade S8.
Mora no Rio de Janeiro e está
desempregado. Atua na RENAS
Jovem, na igreja local e na escola
de missões urbanas Verbalizando
Cristo. Acaba de ganhar uma bolsa
para estudar teologia na PUC.
Mateus, 23, é formado emcomunicação e saiu de Belo Horizontepara morar em Alto Paraíso, GO, onde,com outros amigos e com a orientaçãoda Igreja Caverna de Adulão, evangelizahippies.
Francelise, 28, moraem Florianópolis, SC.É enfermeira e trabalhanum hospital infantil.Formada em missãointegral pelo CentroEvangélico de Missões,frequenta a igreja Batistae é voluntária numaONG cristã que trabalhacom desenvolvimentocomunitário.
Jaison, índio Guarani, é
casado com uma moça Kaiwá
e assumiu há pouco tempo
o Seminário Bíblico Indígena
Kaiwá, organização ligada à
Missão Kaiwá, em Dourados, MS. Leidy, 28, frequenta a Igreja
Cristã Evangélica de Ananindeua,
PA, é agrônoma e mestranda
da Federal Rural da Amazônia,
em Belém do Pará. Desde a
adolescência, é muito envolvida
com o trabalho missionário e a
igreja local.
22 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
13-15 anos
16-20 anos
21-25 anos
26-30 anos
31-34 anos12%
33%
38%
13%
4%
idade
Capa
Um retrato da
juventude
	 evangélica
	 crenças, valores,
		 	 atitudes e sonhos
m 1968, o então jornal Ultimato,
noticiando o aniversário de 17 anos
da Mocidade Para Cristo, divulgou
alguns dados da entrevista feita pela
revista Manchete com estudantes universitários para
reforçar “o já conhecido declínio da religião entre os
jovens: três em cinco universitários reconhecem que
são menos religiosos que seus pais, 40% declaram
pertencer à religião apenas por tradição e 69% deles
julgam que a humanidade se afasta cada vez mais das
ideias de Cristo”.
sexo
50,4%
49,6%
Trabalha por conta própria
(freelancer)
Trabalha sem remuneração
emprego
Faz estágio remuneradoNão trabalha
Outra situação
9%
19%
51%
7%
12%
3%
Está empregado
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 23
13%
34%
2%
11%
37%
Classe média
(6-10 salários-mínimos)
Classe média alta
(11-20 salários-mínimos)
Classe média baixa
(3-5 salários-mínimos)
Não sabe
Classe baixa (até 2
salários-mínimos)
classesocial
Uma recente reportagem da revista
Época (Jovens redescobrem a fé) cita
dados da Fundação Getúlio Vargas
para mostrar o atual fervor religioso
dos jovens. Mais de 90% dos jovens
brasileiros entre 20 e 24 anos declaram
ter alguma crença. Em comparação
com as outras faixas etárias pesquisadas,
o número é o mais alto de todos. Dos
jovens entre 20 e 24 anos, 14,16%
se declararam evangélicos, 73,5%
afirmaram que são católicos, 2,96%
creem em outras religiões e 9,38% se
definem como sem-religião.
Os dados obtidos pelo Instituto
alemão Berelsmann Stifung, a partir de
pesquisa feita em 21 países, coloca o
jovem brasileiro como o terceiro mais
religioso do mundo, perdendo para
os nigerianos e guatemaltecos. Entre
os jovens brasileiros, 95% se dizem
religiosos e 65% afirmam que são
profundamente religiosos.
Mas quem são, o que pensam e
o que fazem esses jovens religiosos?
E os jovens evangélicos? A pesquisa
“Juventude Evangélica: crenças,
valores, atitudes e sonhos”,* feita
pela Editora Ultimato em julho
de 2010, responde parcialmente a
essas perguntas. Os resultados não
podem ser generalizados. O que se
tem é o retrato parcial de uma das
juventudes evangélicas: jovens direta
ou indiretamente ligados à editora. A
esse viés se juntam a metodologia usada
para a pesquisa (internet) e — derivado
de sua ligação com Ultimato — o
fato de se concentrarem nas igrejas
históricas (apenas 19% são de igrejas
pentecostais). Para exemplificar os
contrastes entre essa amostra e a
juventude em geral: entre os que
responderam a pesquisa, a quantidade
de jovens que estão cursando ou que
já concluíram algum curso superior é
de mais de 80% — uma taxa inversa
a da população brasileira total. (veja o
quadro Passando a perna nas estatísticas.)
Com isso em mente, é possível
obter muitas informações e conclusões
interessantes e surpreendentes!
A pesquisa
O questionário foi preenchido por
1960 jovens entre 13 e 34 anos. Todos
os estados foram representados, sendo
que os de maior representatividade
foram São Paulo (20%), Rio de Janeiro
(19%) e Minas Gerais (13%). Os
gráficos destas páginas descrevem o
perfil desses jovens.
Ao todo, 61% deles moram com
os pais — quase a mesma porcentagem
de jovens solteiros (68%). Dos motivos
para a permanência na casa dos pais,
22% alegam não ter dinheiro para se
sustentar sozinhos e 17% alegam ter
um bom relacionamento com os pais
e gostar da companhia deles. Entre
os outros motivos alegados, alguns
disseram não sair de casa porque
ainda não casaram e alguns disseram
que não podem sair porque apoiam a
família financeira ou emocionalmente.
Parece que eles estão cumprindo à
risca a ordem: Deixará o homem a sua
família...
relacionamento
Casado(a) apenas no civil
União estável / mora junto
Separado(a) / divorciado(a)
Casado(a) no civil eno religioso
Solteiro
1%
72%
22%
1%
1%
filhos
Tem 1
Tem 3 ou mais
Tem 2
0%
2%
7%
84%
4%
Não tem, mas pretende ter
Não tem e não pretende ter
moradia
22%
30%
37% 11% Mora com os pais e não temnenhuma vontade de sair
Mora com os pais e tempouca vontade de sair
Mora com os pais, mas temmuita vontade de sair
Não mora com os pais
Cursando
pós-graduação
Ensino médio
incompleto
Ensino fundamental
completo
Ensino fundamental
incompleto
Ensino superior
incompleto
Ensino superior
completo
Ensino médio
incompleto
13%
27%
38%
8%
4%
1%
1%
escolaridade
denominação
19%
60%
21%
Tradicional
Pentecostal
Outra
regiões
4%
20%
10%
54%
9%
1% não respondeu
24 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Sem
botox
nem
lipo
2009
foi o Ano das Juventudes na
Editora Ultimato. Por meio
do oferecimento de assinaturas a 9 reais
e 90 centavos, em menos de um ano
quase 3 mil jovens se tornaram leitores da
revista Ultimato. Hoje, são cerca de 2 mil
assinantes com até 29 anos. A biografia de
Simonton — Mochila nas Costas e Diário na
Mão —, lançada no 150º aniversário de sua
chegada ao Brasil, teve o título e linguagem
definidos por jovens. A Arte e a Bíblia,
de Francis Schaeffer, lançado em 2010,
também tem o objetivo de se aproximar
desse público. A editora apoiou vários
eventos destinados às juventudes e a revista
Ultimato ganhou a seção “Altos papos”,
feita para jovens e por jovens. Muitos artigos
escritos por jovens foram publicados no site
e no blog da editora, além de ingressarmos
em espaços bastante procurados pelos
jovens, como twitter, orkut e youtube.
A partir de agora, há um site
dedicado aos jovens (www.ultimato.
com.br/sites/jovem). Nele há espaço
para compartilharem trabalhos artísticos
e textos que produzem, como o do
historiador recém-formado Flávio Amaral,
de Natal, RN, abeuense, presbiteriano,
que estudou o franciscanismo, e o das
estudantes de comunicação Pabline
Félix e Ana Cláudia, de Belo Horizonte,
da Caverna de Adulão e da Batista
Getsêmani, respectivamente, que fizeram
um “álbum de família” com fotos e
versículos bíblicos de cristãos de todos os
“tipos”.
Certa jovem, leitora de Ultimato
há muitos anos por meio da assinatura
dos pais, escreveu a propósito das ações
voltadas para os jovens: “Que Ultimato
continue rejuvenescendo naturalmente,
sem botox nem lipo!”.
PhilippeRamakers
Capa
Sobre ser jovem
As respostas às perguntas sobre a melhor
e a pior coisa em ser jovem têm forte
ênfase no futuro, como era de se esperar.
A maioria respondeu que a melhor coisa
em ser jovem é ter um futuro cheio de
diversas possibilidades (65%). Quanto
à pior coisa, 35% concordam que é
a preocupação com o futuro e 32%
acham que é a insegurança ou medo de
tomar decisões. Apenas 2% acham que é
não ter emprego e 3% que é o controle
dos pais.
Entre as três atividades que mais
ocupam os jovens nos fins de semana
estão: ir à igreja (85%), navegar na
internet (48%) e sair com os amigos
(47%). As três atividades de um fim
de semana ideal são: ir à igreja (91%),
sair com os amigos (63%) e sair com
o namorado (44%). As atividades de
lazer estão mais restritas à televisão e
à internet. A comparação entre o que
é considerado ideal e o que eles de
fato fizeram no último fim de semana
revela um pouco de suas ambiguidades.
Nem todas as atividades consideradas
ideais estão entre as atividades
realizadas. As maiores discrepâncias
são: apenas 9% acham que navegar
na internet é uma atividade ideal, mas
quase 40% fizeram isso no fim de
semana; apenas 4% acham que assistir
televisão é uma atividade ideal, mas
28% disseram ter feito isso no fim
semana; e 44% disseram que sair com
o/a namorado/a é uma atividade ideal,
mas apenas 19% disseram ter feito isso
no fim de semana.
Sobre militâncias
O gráfico abaixo resume a participação
dos jovens em diversas instâncias. A
maior participação se dá em grupos
e movimentos jovens vinculados
a igrejas: cerca de 79% dos jovens
participam, 14% não participam,
mas gostariam de participar, e apenas
4% não gostariam de participar. A
maior rejeição se dá com relação à
participação em partidos políticos:
72% dos jovens não participam e não
gostariam de participar. Os dados
sobre a participação em movimentos
ambientalistas, voluntários em ONGs
e em trabalhos comunitários colocam
em evidência o potencial mobilizador
das organizações sociais para tantos
jovens com predisposição de serem
voluntários. Estranha-se a porcentagem
de 29% para os que não participam e
não desejam participar de movimentos
ambientalistas, já que esta é uma opção
tão em voga atualmente. A participação
(32%) somada à predisposição para
participar em movimentos estudantis
(28%) é um dado surpreendentemente
alto.
Segundo os jovens, os três principais
problemas do Brasil são a distância
de Deus (44%), a desigualdade social
(13%) e a má administração pública
(12%). Houve grande concentração
em uma resposta religiosa, enquanto
problemas mais estruturantes tiveram
um índice relativamente baixo.
Sobre personalidades
Os entrevistados foram solicitados a
citar o nome de uma pessoa, conhecida
do público geral, brasileira ou não, que
eles admirassem. As respostas citam
principalmente personalidades ligadas
à política, esporte, artes e literatura.
militância
Grupo ou movimento jovem na igreja
Movimento estudantil
Trabalho comunitário
Voluntário em ONG
Movimento ambientalista
Partido político
Participa Não, mas gostaria Não e não gostaria NR
79 14
%
32 28
25 49
23 57
9 57
4 4
4
4
6
3
3
20 72
29
16
20
37
4
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 25
“
A chance de um brasileiro, entre os 20% mais pobres,
de mãe com menos de 25 anos atingir o último ano
do Ensino Superior é menor do que as chances de um
brasileiro morrer por conta de um raio (1,3 em 10 mil e 1,9
pessoas em 10 mil, respectivamente).”
Ainda que não tão drásticos, os dados recentemente
divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral de que um
em cada cinco brasileiros (27 milhões) não foi à escola
ou é analfabeto, e de que o país tem ainda mais eleitores
analfabetos do que formados numa faculdade têm que nos
chocar.
Dos jovens que responderam à pesquisa “Juventude
Evangélica”, realizada pela editora Ultimato, mais de 80%
são universitários ou já concluíram seus cursos. Um retrato
inverso ao da sociedade brasileira.
No entanto, é tremendamente inspirador tomar
conhecimento de resultados que passam a perna nas
estatísticas. Contra todas as probabilidades, coisas incríveis
podem acontecer. Este é o caso do Programa de Educação
em Células Cooperativas (www.prece.ufc.
br), em Fortaleza, CE, que organizou Escolas
Populares Cooperativas (EPC’s) em oito
municípios cearenses. Em 16 anos de atuação,
412 estudantes já puderam ingressar no ensino
superior através desse programa, a maioria
deles na Universidade Federal do Ceará. Mais
de sessenta já estão graduados, incluindo os
doze que cursam mestrado ou doutorado. Nas
EPC’s, os estudantes se organizam em células
de aprendizagem, se ajudam para ingressarem
no ensino superior e, após o ingresso, retornam
para as comunidades de origem para ajudarem
outros a fazerem o mesmo e para promoverem
desenvolvimento local.
Que os jovens com curso superior
sejam gratos por este privilégio. Que não se
intimidem com estatísticas e probabilidades e
sejam promotores de justiça e misericórdia com
os menos privilegiados.
Passando
a perna
nas
estatísticas
Apenas quatro pessoas foram lembradas
por mais de oitenta jovens (equivalente
a 5% dos entrevistados), o que mostra
grande diversidade de opiniões. O
nome mais citado foi o de Marina
Silva, admirada por 140 pessoas. Kaká
foi citado por 119, Lula por 114 e
Nelson Mandela por 81 pessoas. Jesus
foi lembrado por 58 e Bono Vox por
45. Martin Luther King Jr. foi citado
por quarenta e Angelina Jolie, por 22.
Foram lembrados também os nomes de
Cristovam Buarque (19), José Alencar
(18), Silvio Santos (17), C. S. Lewis
(17), Obama (17), Luciano Huck (13),
Steve Jobs, Madre Tereza e Ayrton
Senna (12), Bernardinho (11) e Lutero
(10). Dez pessoas disseram admirar o
próprio pai. Ao todo foram citados 240
nomes.
Entre as pessoas mais admiradas,
conhecidas no meio evangélico, foram
citados 340 nomes, e a dispersão de
votos foi ainda maior, o que demonstra
mais uma vez a falta de unanimidade.
O mais citado é Silas Malafaia (105),
seguido por Ana Paula Valadão (75),
Kaká (56), Ariovaldo Ramos (53), Jesus
(45), Ed René Kivitz (45) e Caio Fábio
(43). Algumas pessoas dizem admirar
Ricardo Gondim (38), C. S. Lewis (29),
Ronaldo Lidório (27), Fernanda Brum
(27), Russel Shedd (25), Marina Silva
(25), Billy Graham (24) e John Piper
(23). Dez pessoas disseram admirar o
próprio pastor.
Sobre a vida
Entre os fatores considerados
importantes para se melhorar de vida,
os mais votados foram: ter a benção
de Deus (96%), ter estudo (96%),
trabalhar duro e ser dedicado (91%),
falar bem (86%) e ter metas específicas
(81%). Muitos concordam que é ser
inteligente e talentoso (75%) e ter
experiência (70%). Os resultados para
as opções ter boa aparência (43%), ter
O que é preciso para melhorar de vida
A bênção de Deus
Estudos
Trabalho duro, dedicação
Eloquência
Metas específicas
Inteligência e talento
Experiência
Boa aparência
Parentes e amigos influentes
Sorte
Nada Import. Pouco import. Muito import. NR
1
%1
11
15
22
27
6
2
2
2
2
2
2
2
2
3
3
3
1 96
96
86
81
75
70
43
30
17
91
1
1
4
14
43 37
51
53
amigos e parentes influentes (30%)
ou sorte (17%) para melhorar de vida
chamam atenção. Ainda que não sejam
a maioria, esses dados apontam respostas
pouco vinculadas à ética protestante.
Seria uma influência do senso comum
brasileiro?
Em relação às coisas importantes
para a vida pessoal, ter fé (94%), ser
honesto (89%), ser amigo e leal (87%)
e ter uma boa relação familiar (86%)
foram as mais votadas. Ser trabalhador
e responsável (77%), viver numa
sociedade mais justa (59%), ter um
trabalho que traga realização (58%)
e ser estudioso (58%) também são
coisas importantes. Alguns concordam
que é sentir-se útil para a sociedade
(49%), aproveitar a vida (39%) e ter
um diploma (32%). Poucos acham que
é muito importante ter uma ideologia
(18%), ter um corpo bonito e saudável
(9%) e ter muito dinheiro (4%).
Menos de 1% dos jovens acha que ser
uma pessoa famosa é algo importante.
Porém, para a resposta “ter um corpo
bonito e saudável”, quando se soma
o que é considerado muito importante
ao que é considerado importante, a
análise é outra: a concordância sobe
para 63%. Tal porcentagem confirma a
exigência dos processos seletivos atuais
e mostra que a aparência física tem
26 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Capa
sido considerada pelos jovens como um
critério levado em conta nos processos
de recrutamento de pessoal. A revista
Superinteressante (janeiro de 2010) traz
na reportagem A arte de se vender um
desastroso conselho: “Largue os livros
e vá agora mesmo para a academia
de ginástica: pode ser bom para a sua
carreira”. Para endossar, cita dados de
pesquisas: cada ano de estudo aumenta
em 15% o salário de um profissional,
mas pessoas consideradas bonitas
ganham, em média, 18% a mais do
que as feias. E ainda: segundo um
estudo da Universidade de Flórida, cada
centímetro a mais de altura rende 600
reais de salário adicional por ano.
Sobre os medos
A maioria dos jovens (83%) diz se sentir
feliz a maior parte do tempo. Cerca
de 44% sofrem continuamente com a
ansiedade, 22% sofrem continuamente
com a instabilidade emocional, 5%
sofrem com depressão e 5% com
alguma fobia.
Apenas 27% dos jovens dizem não
ter medo de nada. Entre os 69% que
assumem ter medo de algo, o medo de
fracassar, de não conseguir alcançar as
metas estabelecidas, de decepcionar as
pessoas, de não ser bem-sucedido, de
fazer escolhas erradas e falhar na vida
é percebido em cerca de 270 respostas.
Medos relacionados com não ouvir a
voz de Deus, não obedecer, sair dos
P or mais que os filhos cresçam,
para as mães eles serão sempre
“seus filhos”. Por isso, ninguém ora
por eles como a mãe. Muitos jovens
evangélicos brasileiros não imaginam
que há um batalhão de pais e mães
espalhados em todos os estados do
Brasil e em muitos países orando por
eles de forma específica. Como fruto
do trabalho da Mocidade para Cristo,
o movimento Desperta Débora (www.
despertadeboras.com.br) começou
em 1995 com a visão de levantar uma
geração de jovens comprometidos em
levar o evangelho de Jesus aos quatro
cantos da terra. Todos os dias, mais de
70 mil mães e pais investem pelo menos
Jovens em acampamento da MPC, em 1968
15 minutos do seu tempo em oração
pelos filhos — naturais e espirituais.
Ao longo dos anos, o movimento
tem se expandido e hoje está presente
em presídios, escolas, associações de
bairro etc. E ele conta ainda com o
Disque-mãe: voluntárias dispostas a
oferecer, a qualquer hora, apoio, ânimo,
encorajamento, companheirismo e
aconselhamento para jovens. O Desperta
Débora não é o único — há outros
grandes círculos de oração pelos filhos.
Em Recife existe um movimento com
características opostas: filhos que oram
pelos pais. Porque há um grande número
de jovens convertidos cujos pais não são
crentes, eles oram por sua conversão.
caminhos de Deus, decepcionar Deus,
aparecem em cerca de 180 respostas.
Cerca de 115 pessoas mencionam
o medo de perder alguém querido,
cerca de 109 pessoas têm medo de
ficar sozinhas, cerca de 92 pessoas
têm medo da violência (incluindo
estupro, assalto e sequestro) e cerca de
84 pessoas têm medos relacionados
ao futuro. Cerca de 76 pessoas citam
o medo de ficar velho, doente, pobre,
inválido ou desempregado. O medo da
morte aparece em cerca de 39 respostas.
Medos relacionados com a família
(não casar, ter um mau casamento, se
divorciar, criar filhos etc.) aparecem em
32 respostas. Algumas pessoas citaram
medos físicos: trinta pessoas dizem ter
medo de insetos e 26 dizem ter medo
de altura e lugares fechados. A pesquisa
incluiu também uma pergunta sobre
sonhos. (Veja a seção “Altos papos”,
pág. 32-33.)
Sobre a conversão
Quanto ao perfil religioso dos pais,
61% dos jovens têm pai evangélico e
81% têm mãe evangélica. 19% têm pai
católico e 11% têm mãe católica. Menos
de 2% têm pais espíritas ou de religiões
afrobrasileiras.
Sobre os fatores que influenciaram
muito a conversão dos jovens, os mais
citados são uma formação familiar
cristã (48%), a leitura da Bíblia (47%),
conversas e convívio com amigos,
conhecidos ou familiares (42%), nascer
num lar evangélico (41%) e a pregação
(40%). Alguns citam acampamentos
(37%), ministérios voltados para a
juventude (34%) e alguma expressão
artística (25%). Poucos consideram
como fator de influência para a sua
conversão o contato com pessoa até
então desconhecida (12%) e algum
material evangelístico impresso ou
programas de televisão ou rádio (9%).
Quando a estes são adicionados os
percentuais dos jovens que responderam
sobre os fatores que influenciaram a sua
conversão, a leitura da Bíblia sobe para
81%, a pregação para 71% e a conversa
com amigos e familiares para 70%.
Ministérios voltados para juventude,
opção que estava em 7º lugar (com
34%), sobe para 4º lugar (com 60%).
Sobre a igreja
Dos jovens entrevistados, 60% são
provenientes de igrejas tradicionais
e 19% de igrejas pentecostais. Cerca
de 21% são de outras linhas. Caso
não fossem de igrejas pentecostais
nem tradicionais, os jovens poderiam
descrever como é sua igreja. É nítida
a tentativa de mesclar tradicional com
pentecostal e pelo menos 52 expressões
usadas denotam tal esforço. Eis alguns
exemplos: Tradicional com toque
pentecostal /Acredita nos dons e no
Mães
	 de joelhos,
filhos	 em pé!
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 27
estudo da palavra / Busca o equilíbrio
entre a tradição e o avivamento /
Doutrinariamente tradicional, renovada
nas práticas religiosas / Evangélica,
carismática e histórica / Meio a meio /
Nem apegada a tradição nem pegando
fogo / Neo-ortodoxa de pentecostalismo
tradicional / Calvinistas que têm vários
dons do Espírito Santo / Um pouco de
tudo, vive missão integral. Dois jovens
desabafaram: “Essa divisão é um pouco
simplista, não?” e “Não suporto essas
definições, não têm sentido”.
Quando perguntados se já mudaram
de denominação, cerca de 64%
responderam que nunca mudaram,
23% que mudaram uma vez e 4%
que mudaram três vezes ou mais. É
um número considerável, ainda que,
entre os que já mudaram, cerca de
21% o fizeram por questões geográficas
(mudança de bairro, de cidade, de
país) — o que nada tem a ver com
a insatisfação com a igreja. Entre os
outros motivos, 21% mudaram porque
a denominação não correspondia às
necessidades espirituais, cerca de 20%
porque discordavam das questões
doutrinárias, 17% por falta de coerência
entre o que a igreja/denominação
pregava e as atitudes das pessoas, 16%
por influência de familiares e amigos,
10% porque a denominação não
correspondia às expectativas sociais,
emocionais ou relacionais, 7% porque
não se sentiam acolhidas, e 4% porque
não concordavam com a forma dos
cultos (liturgia).
A despeito disso, os jovens parecem
satisfeitos com a igreja na qual
congregam: 73% acham que os pastores
têm uma vida coerente, 73% acham
que as pregações são ricas em conteúdo
bíblico, 71% acham que as pregações
são cristocêntricas, 65% acham que as
pregações são relevantes e pertinentes
ao contexto do mundo atual e da
comunidade local, 64% acham que a
linguagem é acessível aos jovens, 60%
acham que as pregações são voltadas às
necessidades espirituais e 51% acham
que os visitantes são bem recebidos.
Metade (50%) acha que a igreja se
envolve com missões transculturais,
48% acham que a igreja se envolve
socialmente com a comunidade em
que está inserida, 47% acham que a
liturgia/ordem do culto é aberta/flexível
à participação de todos, 46% acham
que a igreja se preocupa com a saúde
emocional dos participantes, 43% acham
que a igreja se envolve com ações de
misericórdia e na busca por justiça e
42% acham que os membros acolhem
uns aos outros. As piores avaliações estão
em sua maioria relacionadas à missão
da igreja com os de fora. Um dado
importante!
Os jovens foram perguntados
sobre suas funções na igreja. Era
possível marcar mais de uma opção
e constatou-se que vários exercem
funções simultâneas. Dos 1960 jovens
que responderam à pesquisa, 873 estão
envolvidos com a área de música (louvor,
coral, conjunto ou instrumentista), cerca
de 611 são líderes de grupo de jovens,
adolescentes ou casais e cerca de 578
são professores na escola dominical.
Cerca de 233 são líderes de célula ou
grupo nos lares, cerca de 159 são líderes
ou membros de conselho missionário
e cerca de 148 são líderes ou membros
de conselho de ação social. Chama
atenção o alto número de jovens líderes e
formadores de opinião.
Sobre crenças
Constatou-se que 97% dos jovens
acreditam no Deus trino (menos de 1%
não acredita ou não soube responder),
91% acreditam em Jesus 100% Deus e
100% homem (2% não acredita e 4%
não soube responder), 95% acreditam
no nascimento virginal de Jesus (1%
não acredita e 1% não soube responder),
97% acreditam na atuação do Espírito
Santo (menos de 1% não acredita ou
não soube responder), 96% acreditam
na Bíblia como regra de fé e prática
(1% não acredita e 1% não soube
responder), 94% acreditam na existência
do Diabo e dos demônios (2% não
acreditam e 1% não soube responder),
96% acreditam em curas milagrosas
(3% não sabem e 2% não acreditam).
Até aqui, o grau de concordância supera
os 90% e o nível de descrença é menor
do que 3%. Constatou-se ainda que
90% acreditam na imortalidade da alma
(4% não sabem e 3% não acreditam),
84% acreditam na ressurreição do
corpo (6% não acreditam e 6% não
sabem responder). A soma dos dados
não é desprezível e confirma a tese de
N.T. Wright de que a resposta cristã
clássica à questão da mortalidade e
do além é mais desconhecida do que
rejeitada.
Constatou-se ainda que 84%
acreditam na atualidade de todos os
dons do Espírito Santo (7% não sabem
e 6% não acreditam). Esses resultados
revelam jovens com convicções firmes
e conservadoras do ponto de vista da
doutrina.
E eles têm também convicções bem
ortodoxas com relação ao sincretismo
religioso. Ao serem perguntados sobre
a influência que outras crenças têm em
sua vida (energias, aura e astral, duendes
e gnomos, encarnação/vidas passadas,
astrologia, espiritismo, contato com os
mortos, parapsicologia e ocultismo),
menos de 1% dos jovens respondeu que
tais crenças têm influência em sua vida.
A exceção é a astrologia, que parece
influenciar 3% dos jovens.
Sobre disciplinas espirituais
Os jovens foram solicitados a indicar
a frequência com que praticam certas
disciplinas espirituais. Surpreende o
fato de que o número dos que fazem
suas orações a sós, sempre e quase sempre
(62%), seja menor do que o número
dos que contribuem financeiramente,
sempre e quase sempre (69%). O nível
de leitura da Bíblia (sempre: 28%, quase
sempre: 34%) não está satisfatório,
ainda mais quando 8% responderam
não lê-la nunca ou quase nunca. Parece
que, pelo menos nesse caso, o vaticínio
“como nossos pais” infelizmente não se
cumpre... As disciplinas mais frequentes
são: orar antes das refeições (81%) e
fazer orações intercessórias (76%). A
frequência à escola dominical pode
ser considerada alta (62%) quando se
ouve que muitas igrejas têm sofrido
com a pequena frequência e outras têm
até extinguindo tal programação. A
evangelização de parentes e amigos é
a disciplina devocional colocada entre
as últimas (os que a praticam sempre e
quase sempre somam 39%).
28 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Capa
Sobre a conduta pessoal
Foi pedido que os jovens marcassem
o nível de concordância com algumas
afirmativas relacionadas à sexualidade
e, em seguida, respondessem sobre
sua conduta pessoal. Entre os que
responderam, 86% concordam que a
conduta cristã não apoia o sexo antes
do casamento, 76% dos jovens dizem
estar pessoalmente comprometidos
com essa conduta e 8% não se
comprometem. Quanto ao casamento
entre pessoas do mesmo sexo, 94%
concordam que a conduta cristã não
apoia tal comportamento, 90% dizem
estar comprometidos com a conduta e
3% não se comprometem. Quanto à
afirmação de que a conduta cristã ensina
o não envolvimento com a pornografia,
94% concordam. Com relação à
conduta pessoal, a porcentagem cai
mais do que nas outras questões:
75% dizem estar comprometidos e
10% não se comprometem. Com
relação à prostituição e ao adultério,
96% concordam que a conduta cristã
reprova essas práticas, 81% dizem estar
comprometidos com essa conduta e
2% não se comprometem. Com relação
ao casamento entre pessoas da mesma
fé, 85% concordam que a conduta
cristã recomenda isso (porcentagem
surpreendentemente alta, praticamente
igual à afirmativa de que a conduta
cristã não aprova o sexo antes do
casamento) e 77% disseram estar
comprometidos com esta conduta.
Esses dados mostram uma
juventude conservadora, com valores
muito diferentes da juventude
em geral. Basta citar a recente
reportagem da revista Veja (A geração
tolerância), segundo a qual hoje
60% dos brasileiros declaram achar a
homossexualidade natural. Também
apontam para uma direção diferente
de algumas pesquisas feitas entre
evangélicos, como a que foi feita com
jovens de 22 diferentes denominações,
frequentadores regulares de igreja, a
maioria solteira. De acordo com ela,
52% deles já haviam feito sexo. Destes,
cerca da metade mantinha uma vida
sexual ativa com um ou mais parceiros.
A idade média com que perderam
a virgindade era de 14 anos para os
rapazes e 16 para as moças.
Sobre o aborto
Quando perguntados sobre os
motivos que justificam um aborto,
46% disseram que nada justifica —
porcentagem bem mais alta do que
a média nacional (segundo pesquisa
do Ibope sobre o aborto, realizada
em 2003, apenas 31% da população
acha que ele deveria ser proibido em
qualquer caso). Cerca de 40% acham
que o aborto é justificável quando a
vida da mãe corre perigo, 12% acham
que é justificável quando o bebê
pode nascer com defeito ou doença,
2% acham que a falta de condições
financeiras justifica um aborto e 1%
acha que qualquer motivo justifica um
aborto. Cerca de 11% não quiseram
ou não souberam responder. O aborto
em caso de estupro, já previsto na lei
brasileira como algo legal, não estava
entre as opções.
Sobre bebidas e drogas
Sobre o consumo de bebidas
alcoólicas entre os jovens, 32%
bebem esporadicamente, 27%
apenas experimentaram, 19% nunca
experimentaram, 14% não bebem
mais e 5% bebem nos fins de semana.
Sobre o cigarro, 69% nunca fumaram,
21% apenas experimentaram, 6% não
fumam mais e menos de 1% fuma
todos os dias, esporadicamente ou nos
fins de semana.
Quanto ao uso de remédios de
tarja preta sem prescrição médica,
90% dizem nunca ter experimentado,
3% apenas experimentaram, 3%
não usam mais e menos de 1% usa
esporadicamente ou todos os dias.
Quanto ao uso de drogas ilícitas, 88%
dos jovens nunca experimentaram,
C arlos René Padilla, 78, conta que no
ensino médio sua fé cristã foi pela
primeira vez colocada à prova por professores
ateus e marxistas, que perguntavam: “O que
vocês, cristãos, propõem a fim de eliminar
a injustiça? Seu Deus se preocupa com as
vítimas da injustiça?”. René não tinha como
desconsiderar a relevância destas perguntas
tanto por sua história familiar, de luta pela
sobrevivência, como pela de seu país. Depois
de ter estudado filosofia e teologia nos Estados
Unidos e de ter-se casado aos 31 anos, em
1963, assumiu o trabalho com a Comunidade
Internacional de Estudantes Evangélicos
Marcado na 	juventude	e pelajuventude
(CIEE) na América Latina. Agora, eram
os estudantes cristãos que lhe faziam
perguntas.
Entrevistado pelo Conselho Editorial
Jovem de Ultimato, em outubro de
2009 (entrevista disponível em www.
videolog.uol.com.br/video?496511),
René conta que o nascimento da
missão integral na América Latina
se deu aí. Juntamente com os jovens
amigos Samuel Escobar e Pedro Arana,
começou um processo de reflexão
que os levou à certeza de que Deus
se interessa pela totalidade da vida
humana e da pessoa em comunidade.
René Padilla acha que os jovens estão
na posição privilegiada de construir
coisas novas sobre o que é positivo da
René e Catharine Padilla
Arquivopessoal
geração anterior e que cabe a eles “o papel
de conscientizar o povo de Deus sobre
os problemas que afetam a humanidade,
não somente a igreja”. E conclui: “Tenho
muita esperança na nova geração”.
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 29
6% apenas experimentaram, 3%
não usam mais e menos de 1% usa
esporadicamente ou nos fins de semana.
Sobre o futuro
Igrejas, ministérios, organizações e
denominações têm se voltado para a
juventude evangélica. A necessidade
de uma linguagem específica para este
público, a renovação das lideranças,
o potencial conflito entre gerações, o
desejo de resguardar os jovens dos apelos
mundanos são alguns dos motivos para
tal olhar.
Como ficou evidente nos resultados
da pesquisa, os jovens vêm de fato
ocupando espaços importantes como
promotores do reino de Deus. Muitos se
sentem chamados e desejosos de servir
a Deus em ministérios específicos, em
missões e em suas profissões. Outros,
talvez mais convencidos do que a
geração anterior sobre as consequências
do mandato cultural, sentem-se
vocacionados a servir a Deus na arte,
política, ciências sociais, música,
literatura etc. Estes precisam de oração,
“envio” e acompanhamento tanto
quanto aqueles.
Alguns jovens naturalmente desejam
introduzir novidades na Igreja: na
forma de se relacionarem, nas noções de
autoridade e hierarquia, na liturgia etc.
Eles precisam ser escutados e, algumas
vezes, confrontados.
Os jovens que estão titubeantes na fé
devem ser, primordialmente, acolhidos.
Eles precisam de espaço para questionar
sem ser rechaçados, buscando assim
respostas em campo seguro. Os que
vivenciam conflitos por causa de sua
conduta moral precisam de abertura
para conversas francas. Os que buscam
a igreja principalmente como espaço de
apoio emocional precisam ser desafiados
a uma fé mais profunda.
Em todos os casos, a Igreja precisa
fazer questão de estar com os jovens.
E os jovens precisam fazer questão
de estar com a Igreja, com toda a sua
diversidade. Jesus planejou uma Igreja
intergeracional, em que velhos, adultos,
jovens e crianças compartilhem entre
si suas experiências únicas e adorem
a Deus juntos com a humanidade e a
grandeza próprias de cada fase da vida.
O tempo não para; os jovens, sempre
os teremos conosco. Cada geração
levantará questões à geração seguinte.
A respeito dos jovens e adolescentes de
hoje, poderíamos perguntar:
Serão profundos conhecedores
da Palavra de Deus? Serão corajosos
o suficiente para assumir uma fé
exclusiva, num ambiente cada vez
mais plural? Deixarão que as marcas
de uma sociedade que se guia pelo
mercado pautem as suas prioridades
e suas agendas? Conseguirão não se
deixar levar pela força de um evangelho
adocicado, que faz bem apenas às
emoções? Anunciarão o evangelho?
Serão melhores promotores da justiça
do reino? Estarão dispostos a sofrer
por Cristo? Serão menos sectários?
Caminharão um pouco mais na direção
da unidade da igreja? Permanecerão
firmes na moral cristã? Não se
divorciarão — ou se divorciarão menos
do que seus pais? Criarão seus filhos e
suas filhas no caminho do Senhor? O
que farão com a história das gerações
que os precederam?
Essas perguntas podem contribuir
para a pauta a ser elaborada pelas
igrejas e ministérios com e para os
jovens. Abrir-se para os jovens é
abrir-se para o novo. E mesmo que o
novo pareça ameaçador, ele é fonte de
rejuvenescimento para a Igreja.
Nota
* A pesquisa foi enviada em 22 de julho de 2010 por
e-mail a assinantes de Ultimato de até 34 anos e a
outros assinantes, convidando-os a encaminharem aos
parentes e amigos jovens da igreja em que congregam,
e a líderes de ministérios jovens. Não era preciso
se identificar e nenhuma questão era obrigatória. A
pesquisa foi encerrada em 29 de julho de 2010.
NA INTERNET
No site www.ultimato.com.br/
sites/jovem você encontra outros
artigos e análises comparativas da
pesquisa “Juventude Evangélica:
crenças, valores, atitudes e
sonhos”.
30 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Capa
o participar de uma
mesa redonda sobre
juventude e participação
política, fizeram-me a
seguinte pergunta: a juventude atual
é alienada, descomprometida ou mal
informada?
Responder de maneira simplista
ou automática pode nos levar a um
reducionismo. Precisamos ter em
mente aquilo que é “emblemático”,
de acordo com a orientação do
antropólogo Gilberto Velho, pois
o que caracteriza um grupo, aquilo
que é seu “emblema”, nem sempre é
compartilhado pelo conjunto. Velho
argumenta que talvez nem 10% dos
jovens dos anos 60 tenham participado
do movimento estudantil, assim como
nem todo adolescente urbano de hoje
frequenta raves ou consome ecstasy.
A socióloga Maria Isabel Mendes de
Almeida, que publicou um estudo em
que compara a época da contracultura
dos anos 60 e a de hoje, diz que o
roteiro do jovem de agora está “bem
distante de questionamentos políticos
ou culturais. Não quer a ruptura, o pai
dele já fez isso; quer a continuidade”.
O jornalista e escritor Zuenir
Ventura afirma que aquela geração,
marcada pelo ano de 1968, “queria
tudo a que não tinha direito; a atual
tem tudo que precisa, e por isso se
apresenta cheia de ambiguidades
e paradoxos. [...] Desapegada
ideologicamente, essa turma bem
de vida e de poder aquisitivo não
se interessa pela política, não tem
preocupações sociais e não protesta
nem contesta, pelo menos não
da forma como faziam os seus
antepassados quarentões ou sessentões,
anárquicos ou rebeldes”.¹
Em 2007, no jornal O Globo, em
caderno especial (e esclarecedor) sobre
os jovens nascidos a partir de 1983, a
editora Nívia Carvalho explicou que
essa é uma turma que “vive conectada
e gosta de dar publicidade aos seus atos
em redes sociais, fotologs e álbuns na
web. São jovens que elegem o bem-
estar como valor maior e buscam
dinheiro e fama”.
Até que ponto a juventude cristã
está sendo influenciada e conformada
por essa mesma cosmovisão? Nossas
igrejas e movimentos de juventude têm
oferecido um modelo opcional ao que é
“emblemático” nessa geração?
Ao tomar como marco para os
próximos 10 anos da ABUB a tríade
“Uma só vida, uma só verdade, um só
Senhor”, queremos propor uma agenda
de intenções; algo que queremos
primeiramente viver, para depois
compartilhar com nossa geração. Temos
a responsabilidade (e o privilégio!)
de expressar, com nossas palavras e
nossa vida, uma nova realidade que
já se faz presente entre nós, por meio
da vida e da obra de Jesus Cristo, o
Filho de Deus encarnado. Conscientes
de que nosso comprometimento
com a singularidade, a supremacia e a
suficiência “de um sujeito mortalmente
pregado à cruz e inteiramente
despregado das prioridades usuais deste
mundo é para o observador isento
escândalo, insensatez e vergonha”.²
Insensatez, para uma geração ávida
pela prosperidade material, porque esse
Jesus sustenta que “a vida é sólida e a
ganância é rala, e logo não faz sentido
adquirirmos o mundo inteiro e ver
a vida escorrer, sem consistência, na
peneira final”. Uma só vida tem algo a
ensinar a esta geração?
Escândalo, para uma geração ávida
pelo êxito e dependente da competição,
porque esse Jesus, por meio da sua
doutrina e da sua vida (e morte!),
ensina que “o sucesso se obtém no mais
inequívoco fracasso e a grandeza na mais
abjeta humilhação”. Uma só verdade tem
algo a apresentar a esta geração?
Vergonha, para uma geração
ávida pela satisfação pessoal e pela
permissividade, porque Jesus exige
humilde submissão, e para participar
desta nova realidade a pessoa “tem de
pagar o mico de reconhecer-se não
melhor que ninguém”. Um só Senhor
tem algo a esperar desta geração?
Notas
1. Zuenir Ventura. 1968: o que fizemos de nós.
São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.
2. Paulo Brabo. A bacia das almas: confissões de
um ex-dependente de igreja. São Paulo:
Mundo Cristão, 2009.
Reinaldo Percinoto Jr., casado com Maria e pai de João Marcos e
Daniel, é secretário-geral da ABUB.
De gerações
e emblemasReinaldo Percinoto Jr.
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 31
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32 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Para não virar a cabeça
o que parece, o alerta
de nossos avós sobre
os perigos de ingressar
na faculdade não eram
tão ingênuos assim. “Cuidado, meu
filho, pra não virar a cabeça” — diziam
eles. Recentemente, o Barna Group,
organização americana especializada em
pesquisas, constatou que apenas 20%
dos estudantes que foram discipulados
durante a adolescência permaneceram
espiritualmente ativos quando chegaram
aos 29 anos. Certo missionário, ao
relatar sua experiência com a igreja na
Inglaterra, descreveu a congregação como
um “campo de algodão”, referindo-se à
quantidade de cabeças brancas presentes
— lá, a igreja já é majoritariamente
frequentada pela terceira idade.
Embora a estatística seja americana e
a tão falada “era pós-cristã” pareça estar
longe de um Brasil avivado e missionário,
podemos encarar os dados como um
alerta. Afinal, não seria a primeira vez
que uma tendência surgida além-mar
respingaria por aqui. Só que em vez de
deixar que a possibilidade de sermos
influenciados sirva de combustível para
um patriotismo desmedido, podemos
encarar o fato como algo positivo: é
possível observar as tendências e tomar
precauções.
Em um artigo para a revista Mission
Frontiers, Chuck Edwards e John
Stonestreet, do Summit Ministeries,
organização que lida especialmente
com jovens universitários e suas
crises, apontam algumas razões para
o afastamento dos jovens: o aumento
de professores liberais (que passam sua
aversão ao cristianismo para os alunos,
que se tornam “presas da retórica
anticristã”), a ausência de fundamentação
adequada (muitos estudantes se dizem
cristãos, mas são incapazes de explicar
por que acreditam no que acreditam)
e uma visão errada do cristianismo
(enquanto uns se opõem a ele, outros
simplesmente não o entendem).
Mas como ajudá-los? Stonestreet faz
um alerta: em vez de tentar fazer com que
o cristianismo pareça atraente e divertido
para os jovens, devemos nos preocupar em
garantir que isso que estamos transmitindo
seja de fato cristianismo. Devemos desafiá-
los em vez de mimá-los — os estudantes não
precisam de mais entretenimento. O ipod,
a internet e os amigos já são suficientes.
“Nunca os prepararemos efetivamente
para encarar essa cultura movida a
entretenimento se simplesmente a
substituirmos por entretenimento cristão.”
Os estudantes precisam ser desafiados com
perguntas difíceis e dilemas culturais.
Devemos oferecer a eles uma educação
completa sobre apologética e visão de mundo.
“Os estudantes cristãos frequentemente
têm a impressão de que somos salvos de, e
não para.” Muitos conhecem a Bíblia, mas
não pensam biblicamente. Eles precisam
saber no que creem e também no que os
outros creem.
Devemos mostrar não somente a que nos
opomos, mas também o que defendemos.
Muitos estudantes são vítimas de escolhas
imorais porque lhes falta uma visão maior
de suas vidas. Muitos sabem mais sobre o
que é proibido do que sobre o propósito
para o qual Deus os chama.
Finalmente, devemos confrontá-los com
as grandes batalhas culturais dos nossos
dias, e não isolá-los. O cristianismo não
é uma religião ascética ou uma filosofia
dualística. Seus seguidores são chamados
a mergulhar no significado histórico e
cultural da humanidade. A oração de Jesus
é reveladora: “Não tire-os do mundo, mas
proteja-os do mal” (Jo 17.15).
Apesar das estatísticas, John Stonestreet
tem boas expectativas: “Eles [os jovens
de hoje] serão melhores do que a minha
geração. Eles vão amar mais a Deus,
servir melhor, se preocupar de forma mais
profunda e pensar de forma mais clara.
Eles querem ler bons livros e querem viver
por algo maior do que eles mesmos”.
Esperamos que ele esteja certo e as
tendências, erradas.
Capa
Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 33
Conselho Editorial Jovem Ultimato
Q
uando se fala em
sonhos, a ideia do que
fazer com o futuro,
uma boa ilustração é a
conversa entre Alice (a
do País das Maravilhas) e o
Gato Risonho. Perdida, ela pediu
ajuda ao Gato, que respondeu:
“Ora, se você está perdida, qualquer
caminho serve”. Quando não se tem
um sonho, um norte, uma saída
possível é escolher qualquer caminho.
Outra possibilidade é trilhar o maior
número de caminhos, nos enfurnar
em um ativismo maluco e ver onde
a vida nos leva. Mas isso pode gerar
canseira e vontade de desistir. Sonhar
com intensidade pode também não ser
a solução completa. Assim, precisamos
rever a importância dos sonhos em
nossa vida e a diferença que faz o
sentido de esperança que associamos
a eles.
Deus fez o homem e a mulher
com a brilhante capacidade de criar
e modificar as coisas ao seu redor.
Isso é uma benção — se feito com
a consciência de que nossos atos
criativos devem refletir a imagem de
Deus, que é bela, verdadeira e repleta
de significado. Viver essa imagem nos
dá sentido, nos faz desfrutar de Deus e
mostrar sua glória a todas as criaturas.
Essa capacidade criativa inspira de
forma maravilhosa nossa imaginação
e isso nos leva a sonhar. Quando
falamos em “sonhos”, referimo-nos ao
desejo por algo diferente, que nasce
no ser humano a partir do momento
em que ele constata que sua realidade
poderia ser melhor. E quando surge
um sonho, nasce com ele a esperança,
que significa esperar por algo que se
deseja.
No entanto, precisamos entender
o real sentido de esperança, para que
ela nos ajude a sonhar. Um integrante
do Centro de Estudos L’abri Brasil
afirmou em recente palestra que
a esperança é uma virtude cristã,
desenvolvida por meio de dois
exercícios também cristãos: lamentação
e experiência com Deus. O Salmo
13 mostra como os dois exercícios
(mesmo parecendo antagônicos) se
completam, pois lamentar não é o
mesmo que murmurar. Lamentar
é enxergar a realidade como ela é,
perceber que não deveria ser assim e
clamar para que algo seja diferente.
Por meio do nosso relacionamento
com Deus, é possível experimentar de
forma real, mesmo que singela, sua
graça e misericórdia sendo derramadas
sobre nossa vida, aliviando-nos do peso
da aflição que o pecado nos causa.
Como o autor do salmo experimenta
a graça do Senhor e o seu livramento,
ele louva e aguarda pela intervenção
divina. Isso tem um efeito fantástico
no que esperamos para o porvir. Se
sonhamos com uma realidade diferente
para nós e para o mundo, e já podemos
experimentar parte desse sonho nos
dias atuais, a certeza de que esse sonho
é real e está para chegar aumenta —
e isso intensifica nossa fé e nossa
perseverança.
Como a nossa vida cotidiana não
se dissocia da realidade espiritual, essa
“fórmula” se aplica a todo tipo de
sonho. Lembrar que nossa esperança
maior está no dia em que Cristo se
tornará Senhor de todas as coisas de
forma plena e que, por causa da sua
graça, já é possível experimentar esse
senhorio hoje, nos inspira a sonhar.
Na pesquisa “Juventude Evangélica:
crenças, valores, atitudes e sonhos”,
feita pela Editora Ultimato em agosto
de 2010 com 1.960 jovens, 1.415
relataram qual é o seu maior sonho.
Muitas respostas se enquadram em
quatro grupos: constituir família
(30%), relacionamento com Deus —
buscar a vontade dele, responder
ao seu chamado (17%), realização
pessoal — profissão, estabilidade,
conclusão de curso (17,7%), e
salvação — conversão de amigos e
familiares e ir para o céu (7,2%).
Olhar para o resultado dessa
pesquisa é como ouvir um bando
de jovens dizendo: “Realmente,
Deus, seus sonhos são muito bons
e queremos não só sonhar com
eles, mas vivê-los também”. Viver
a humanidade que Deus planejou
para nós é um sonho que deve ser
preservado. Que escolhamos nossos
caminhos sob a orientação do Pai,
para que não precisemos, como Alice,
em algum momento acordar de um
sonho (ou de uma vida inteira) ruim.
34 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010
Onde está a verd
crise da igre
ESPECIAL
A
crise da pedofilia na igreja romano-
católica não é nada em comparação
à verdadeira crise — essa sim,
estrutural — que concerne à sua
institucionalidade histórico-social.
Não me refiro à igreja como comunidade
de fiéis. Esta continua viva apesar da crise,
se organizando de forma comunitária e não
piramidal como a Igreja da Tradição. A questão
é: que tipo de instituição representa essa
comunidade de fé? Como se organiza?
Atualmente, ela comparece como defasada
da cultura contemporânea e em forte
contradição com o sonho de Jesus, percebida
pelas comunidades que se acostumaram a ler
os Evangelhos em grupos e então fazer suas
análises.
Dito de forma breve, mas não caricata: a
instituição-igreja se sustenta sobre duas formas
de poder: um secular, organizativo, jurídico
e hierárquico, herdado do Império Romano,
e outro espiritual, assentado sobre a teologia
política de Santo Agostinho acerca da Cidade
de Deus, que ele identifica com a instituição-
igreja. Em sua montagem concreta, não é tanto
o evangelho ou a fé cristã que contam, mas esses
poderes, considerados como um único “poder
sagrado” (potestas sacra) também na forma de
sua plenitude (plenitudo potestatis) no estilo
imperial romano da monarquia absolutista.
César detinha todo o poder: político, militar,
jurídico e religioso. O Papa, semelhantemente,
detém igual poder: “ordinário, supremo, pleno,
imediato e universal” (Cânon 331), atributos só
Leonardo Boff
Fonte: Adital Notícias (www.adital.com.br)
www.leonardoboff.com
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  • 1. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 1 de FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios. “BUSQUEM O SENHOR ENQUANTO É POSSÍVEL ACHÁ-LO” ENTREVISTA: ODAYR OLIVETTI — Fundamentalistas e modernistas PAUL FRESTON AÇÃO SOCIAL CRISTÃ: REALISMO E ESPIRITUALIDADE LEONARDO BOFF ONDE ESTÁ A VERDADEIRA CRISE DA IGREJA RUBEM AMORESE O LIVRO DE ELI Coração, Juventude e fé Quem são, o que pensam e o que fazem os jovens evangélicos www.ultimato.com.br SETEMBRO-OUTUBRO 2010 • ANO XLIII • Nº 326
  • 2. 2 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Anúncio
  • 3. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 3 J udas, o único dos doze apóstolos que não era galileu, pois havia nascido em Queriote, no sul da Judeia, “era quem tomava conta da bolsa de dinheiro”. João registra essa informação duas vezes (Jo 12.6; 13.29). Poderia ser uma pequena e bonita caixa de madeira ou uma modesta sacolinha de pano de saco ou de linho. Nela colocavam-se as contribuições em dinheiro ofertadas pelas piedosas e agradecidas mulheres da Galileia (Lc 8.1-3) e outras eventuais receitas. Essas ofertas ajudavam Jesus e os apóstolos em seu ministério itinerante. Por causa da fraqueza pelo dinheiro, Judas era a pessoa menos indicada para exercer tal função. Não se deve pensar que o primeiro assalto à sacolinha seria o furto de alguns ou de todos os trezentos denários do perfume de Maria. João diz que Judas “costumava tirar o que nela [na sacolinha] era colocado” (Jo 12.6, NVI). A paráfrase da Bíblia Viva é mais contundente: “[Ele] muitas vezes furtava dinheiro de lá”. Jesus sabia que Judas era ladrão, mas nunca revelou isso a qualquer pessoa. Poucas horas antes de ser traído, Jesus mostrou quem o haveria de trair, dando a Judas um pedaço de pão passado no molho (Jo 13.26). João e os demais discípulos só ficaram sabendo que o Iscariotes retirava o dinheiro sagrado da sacolinha sagrada algum tempo depois de um vexame que ele causou em Betânia. Em menos de uma semana, Judas participou de dois jantares na companhia de Jesus e de outras pessoas. Não se comportou bem em nenhum dos dois. Escondeu a verdadeira identidade tanto na casa acolhedora de Maria, Marta e Lázaro, como na grande sala mobiliada no andar de cima de uma casa em Jerusalém. Na primeira ocasião, escondeu que era ladrão e se apresentou como alguém preocupado com o sofrimento humano. Na segunda, escondeu o acordo já feito com os chefes dos sacerdotes e perguntou cinicamente a Jesus: “Mestre, serei eu [o traidor]?” (Mt 26.25). Ele foi descendo de graça em graça e escancarando as portas para o mal de tal modo que ficou endiabrado. João faz duas declarações sérias a esse respeito. Primeiro, diz que “o Diabo já havia posto na cabeça de Judas, filho de Simão Iscariotes, a ideia de trair Jesus” (Jo 13.2, NTLH). Pouco depois, registra que, “assim que Judas recebeu o pão [não o da Santa Ceia, mas o que havia sido passado no molho], Satanás entrou nele” (Jo 13.27, NTLH). Anteriormente, o tentador pôs a ideia dentro de Judas; agora, ele mesmo se põe dentro do apóstolo traidor. O ex-discípulo, ex-apóstolo e ex- tesoureiro não tem mais controle de nada. Desde quando a ideia macabra, o projeto ou o plano macabro estava na cabeça de Judas? Desde quando ele ficou sabendo que os chefes dos sacerdotes estavam fazendo planos para matar Jesus logo após a ressurreição de Lázaro (Jo 11.53)? Desde o fracasso de sua proposta de vender o perfume de trezentos denários? Antes de Judas se retirar da sala espaçosa e aconchegante para se encontrar com os guardas do Sinédrio e levá-los a Jesus no Getsêmani, o Senhor declarou: “Vocês todos estão limpos”, e em seguida completou: “Todos menos um” (Jo 13.10, NTLH). Judas ouviu isso. Não era preciso explicar nada, mas João achou por bem acrescentar: “Jesus sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: ‘Todos menos um’” (Jo 13.11, NTLH). No dia seguinte, o homem com a sacolinha vazia estava dependurado à beira de um precipício numa corda amarrada pelo pescoço. Uma corda tão ordinária que não aguentou o peso do suicida e se partiu. É melhor tomar todo cuidado com a tentação do dinheiro, sobretudo com a sacolinha sagrada na qual se lança dinheiro sagrado! Judase a sacolinha Abertura
  • 4. 4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 L ogo depois da ascensão de Jesus e da descida do Espírito Santo, Pedro e João passaram uma noite atrás das grades. Quando foram soltos na manhã seguinte, houve alegria da parte da igreja e todos juntos adoraram a Deus, dizendo: “Senhor, tu és o Criador do céu, da terra, do mar e de tudo o que existe neles!” (At 4.24, NTLH). Trata-se de uma confissão de fé básica e natural, espontânea e sincera, ardente e cristalina, pessoal e coletiva, antiga e atual. Por causa de alguns cientistas céticos, da teoria da evolução, de alguns escândalos religiosos de ontem e de hoje, parte da juventude não consegue fazer com honestidade a mesma confissão de que Deus é o criador e o sustentador do universo. Porém não devemos cair nem na generalização nem no pessimismo. A pesquisa “Juventude Evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos”,* realizada pela Editora Ultimato, em julho deste ano, com 1960 jovens de idade entre 13 e 34 anos, mostra que 97% deles têm condições de repetir a confissão de dois mil anos atrás: “Senhor, tu és o Criador do céu, da terra, do mar e de tudo o que existe neles!” Deve-se ressaltar que a maior parte é formada por universitários expostos continuamente ao secularismo e à negação de Deus. O retrato da juventude evangélica fruto da citada pesquisa é o tema da matéria de capa desta edição. Muitas e curiosas perguntas foram feitas a esses 1960 jovens brasileiros. As respostas foram também curiosas. Por exemplo, 64% nunca mudaram de denominação, 73% estão satisfeitos com seus pastores e com as mensagens que eles pregam, 86% concordam que a conduta cristã não apoia o sexo antes do casamento e menos de 1% se deixa influenciar pelo ocultismo. O resultado da pesquisa sugere um esforço no sentido de mesclar o tradicional com o pentecostal (não com o neopentecostal). As respostas são também criativas: “quero ser tradicional com toque pentecostal”; “busco o equilíbrio entre a tradição e o avivamento”; “abraço a doutrina reformada e a liturgia renovada”; “sou meio a meio, não estou nem apegado à tradição nem pegando fogo”; “quero ser sensível ao Espírito e usar a mente que Deus nos deu”; “sou calvinista com dons do Espírito”. Que a matéria Coração, juventude e fé (a partir da pág. 20) corrija alguns mal-entendidos e encoraje os jovens a dar vários outros passos para a frente. Os menos de 120 jovens (6%) que afirmaram não acreditar ou não saber que Jesus é 100% Deus e 100% homem precisam se convencer desta verdade! Elben César Nota * Fruto de um esforço conjunto que durou quase um ano. Clemir Fernandes, Flávio Conrado e Patrick Timmer apoiaram na metodologia e análise dos dados. Carta ao leitor ISSN 1415-3165 Revista Ultimato – Ano XLIII – Nº 326 Setembro-Outubro 2010 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlinhos Veiga • Marcos Bontempo Paul Freston • René Padilla Ricardo Barbosa de Sousa • Ricardo Gondim Robinson Cavalcanti • Rubem Amorese Valdir Steuernagel Notícias: Lissânder Dias Participam desta edição: Edleia Rodrigues Jan Greenwood • Reinaldo Percinoto Jr. Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação. Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC) Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG Administração: Klênia Fassoni • Daniela Cabral Ivny Monteiro • Lucas Rolim Menezes Luci Maria da Silva Editorial e Produção: Marcos Bontempo Bernadete Ribeiro • Djanira Momesso César Fernanda Brandão Lobato • Gláucia Siqueira Paula Mendes • Paulo Alexandre Lobato Finanças/Circulação: Emmanuel Bastos Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira Daniel César • Edson Ramos • Luís Carlos Gonçalves Rodrigo Duarte • Solange dos Santos Vendas: Lúcia Viana • Lucinéa Campos Romilda Oliveira • Sabrina Machado Tatiana Alves • Vanilda Costa Estagiários: Ariane Santos • Euniciléa Ferreira Juliani Lenz • Thales Moura Lima fundada em 1968 4 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Tênis no pé e fé na cabeça!
  • 5. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 5 Anúncio
  • 6. 6 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 MS 70. O resultado final O resultado parcial de alguma doença não é a última palavra. Muitas coisas podem ainda acontecer, para aliviar ou agravar o problema. Coisas previsíveis ou não. Nem sempre é fácil esperar o resultado final de uma situação difícil. Não adianta esperar o melhor ou o pior. Sempre há surpresas a caminho, boas ou más. Ao receber o recado de Maria e Marta de que seu amigo Lázaro estava doente, Jesus simplesmente disse: “O resultado final dessa doença não será a morte de Lázaro. Isso está acontecendo para que Deus revele o seu poder glorioso; e assim, por causa dessa doença, a natureza divina do Filho de Deus será revelada” (Jo 11.4, NTLH). Jesus estava muito longe de Betânia, onde Lázaro ficava cada vez pior. Porém, ele não teve pressa. Ao chegar à pequena vila a apenas três quilômetros de Jerusalém, o amigo já havia morrido e sido sepultado e já cheirava mal. De acordo com o pronunciamento de Jesus, o resultado final da doença de Lázaro não poderia ser o túmulo nem a decomposição do corpo. Qual seria? Valeria a pena esperar mais um pouco? O resultado final não era aquela tragédia. O fôlego de vida voltaria ao defunto e a decomposição do corpo seria revertida. No entanto, isso não era tudo nem o principal. Jesus havia deixado claro que aquele processo de doença e morte desembocaria na glória de Deus e também na revelação inequívoca da natureza divina dele mesmo. A história da formidável ressurreição de Lázaro precisa ser lida dentro do contexto. No capítulo anterior, os opositores de Jesus tiveram o atrevimento de lhe dizer: “Você, que é apenas um ser humano, está se fazendo de Deus (Jo 10.33, NTLH). Eles ainda não acreditavam nas duas naturezas de Cristo — a humana e a divina. Jesus se proclamava tanto Filho do Homem como Filho de Deus. Ele era e é completamente homem e completamente Deus. Ser cristão é abraçar ambas as verdades — a divindade e a humanidade de Jesus. Ao chorar com Maria e Marta, o Senhor mostrou que o Verbo tinha se feito carne. Ao parar diante do túmulo de seu amigo e ao gritar para o morto: “Lázaro, venha para fora!”, o Senhor mostrou que ele e o Pai são uma só pessoa (Jo 14.9). O que aconteceu em Betânia foi uma impossível marcha à ré: a morte somatopsíquica, o sepultamento e o processo da decomposição voltaram atrás. E a natureza divina de Jesus veio à tona com tanta força que os opositores de sempre tomaram a decisão de acabar com a vida de Jesus e também com a de Lázaro, testemunha viva do poder de Deus e da divindade de Jesus (Jo 11.53; 12.10). Em caso de doença e em qualquer outro quadro de confusão, provação, tentação e medo, devemos aguardar não o resultado em processo, mas o resultado final. Nesta vida ou na vida futura, lembrando sempre que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8.28)! Pastorais
  • 7. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 7 20 Coração, juventude e fé: quem são, o que pensam e o que fazem os jovens evangélicos 22 Um retrato da juventude evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos 30 De gerações e emblemas Reinaldo Percinoto Jr. 32 Para não virar a cabeça 3 Abertura 4 Carta ao leitor 6 Pastorais 8 Cartas 12 Frases 14 Mais do que notícias 16 Notícias 19 Números 19 Nomes 32 Altos papos 38 De hoje em diante... 40 Deixem que elas mesmas falem 43 Caminhos da missão 44 Novos acordes 58 Vamos ler! CAPA SEÇÕES Leia mais www.ultimato.com.br Sumário ABREVIAÇÕES: AS21 – Almeida Século 21; BH – Bíblia Hebraica; BJ – A Bíblia de Jerusalém; BP – A Bíblia do Peregrino; BV – A Bíblia Viva; CNBB – Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT – Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP – Edição Pastoral; EPC – Edição Pastoral-Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ – King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional. Especial 34 Onde está a verdadeira crise da igreja, Leonardo Boff 36 Líderes evangélicos comentam artigo de Leonardo Boff Da linha de frente 46 O povo sou eu, Bráulia Ribeiro Missão integral 47 Como fazer discípulos de Cristo? René Padilla Ética 48 Ação social cristã: realismo e espiritualidade, Paul Freston O caminho do coração 50 Participando do mundo de Deus por meio da oração Ricardo Barbosa de Sousa Reflexão 52 PT: o partido que nunca foi governo Robinson Cavalcanti 54 Ufanismos, messianismos e outras mentiras, Ricardo Gondim Redescobrindo a Palavra de Deus 56 O abraço de Deus: testemunho em vida, palavra, ação e sinal Valdir Steuernagel História 60 Creio na comunhão dos santos: a relevância primordial da igreja Alderi Souza de Matos Entrevista 62 Odayr Olivetti: Fundamentalistas e modernistas Ponto final 66 O livro de Eli, Rubem Amorese
  • 8. 8 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Abraçando e reabraçando a santidade do corpo e da mente Excelente o texto do teólogo alemão Wolfhart Pannenberg (“Capa”, julho/agosto de 2010). As igrejas não pregam mais sobre a união indissolúvel do casamento, de acordo com o ensino de Jesus. Certo pastor mencionou a emenda constitucional que facilita o divórcio como uma vitória! Minha denominação (Assembleia de Deus) é antiga e os nossos antepassados não eram assim. Onde vamos parar? Estão afrouxando mesmo. Ainda bem que há algumas exceções — tenho 48 anos e já comemorei as bodas de prata. José Duarte, Sorocaba, SP Anúncio Cartas Parabéns pelo excelente conteúdo da edição de julho/agosto de 2010. A questão da sexualidade foi bem abordada e de maneira bíblica. Reproduziremos alguns textos na revista Novas de Alegria (órgão oficial da Convenção das Assembleias de Deus de Portugal). Ana Ramalho, Lisboa, Portugal Como resguardar a criança do sexo precoce, da pornografia e da homossexualidade se na televisão, em pleno dia, enquanto meu filho de 12 anos assiste a desenhos, aparecem nas propagandas mulheres fazendo gestos sensuais? Como, se a melhor amiga de minha filha conta para ela que gosta de meninas, e minha filha me conta isso como se fosse a coisa mais natural? Como, se um pai aprisiona a filha, abusa dela, vive com ela e a torna mãe de sete filhos-netos? Como, se, por ser órfã, você é levada para um orfanato e, ao receber a visita do tio, ele a leva para um lugar à parte, a aperta e tenta beijá-la à força (aconteceu comigo, mas, graças a Deus, não passou disso)? Como, se o pai ou a mãe resolve se separar do cônjuge por descobrir que gosta mesmo é de uma pessoa do mesmo sexo? Como, se meu filho de 17 anos é chamado de gay por ainda não ter namorada? J. S. (brasileira, casada, quatro filhos), Holanda John Stott e o inferno Ao ler a edição de março/abril de 2010 encontrei uma afirmação de John Stott que me pareceu incompleta. Ele afirma que acredita no inferno, mas como ele acredita? Até onde sei, ele é aniquilacionista. Humberto Ramos, Cuiabá, MT — A resposta está no livro A Missão Cristã no Mundo Moderno, de John Stott: “Podemos, e penso que devemos, preservar certo agnosticismo reverente e humilde acerca da exata natureza do inferno, assim como da exata natureza do céu. Ambos estão além da nossa compreensão. Porém, devemos saber de forma evidente e clara que o inferno é uma realidade terrível e eterna. Não é dogmatismo ver certa inconveniência em falar a respeito da realidade do inferno; é volubilidade e frivolidade. Como podemos pensar no inferno sem lágrimas?” (p. 135).
  • 9. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 9 De hoje em diante Parabéns pela seção “De hoje em diante”. O assunto é sempre interessante e é abordado de forma simples, o que nos leva a mudar de postura diante de situações cotidianas da vida. Vale a pena, de hoje em diante, não deixar de ler! Patrícia Victor, Rio de Janeiro, RJ Deus só fala inglês? É verdade que Deus não está calado (“Capa”, março/abril de 2010). Mas será que ele só fala em inglês? Será que não há no Brasil quatro homens ou mulheres cristãos da estirpe do quarteto inglês (Stott, Wright, Lewis e Packer)? Sugiro uma matéria semelhante, mas com líderes nacionais. Seria uma radiografia do evangelicalismo brasileiro. Pedro da Silva, Fortaleza, CE — Algumas das vozes brasileiras escrevem há muitos anos na revista Ultimato: Alderi Matos, Rubem Amorese, Bráulia Ribeiro, Carlinhos Veiga, Ricardo Gondim, Ricardo Barbosa, Robinson Cavalcanti, Valdir Stuernagel. O leitor encontrará nesta edição outras vozes em Líderes evangélicos comentam artigo de Leonardo Boff (pág. 36). Os riscos da omissão Geralmente começo a leitura de Ultimato pelas “Cartas”. Elas fornecem informações sobre a revista, os articulistas e as reflexões dos leitores sobre os assuntos abordados. Tento perceber o perfil geral do conteúdo da revista e da cultura média dos leitores. Não me sinto entre os que só enviam críticas, mas raramente escrevo com uma palavra de estímulo e gratidão por Ultimato estar cumprindo o dever de cativar- me como assinante por tantos anos. Em razão disso, talvez avultem as cartas com críticas (nem sempre justas), que podem passar a falsa ideia de que há uma rejeição, se não unânime (os omissos não são contados), pelo menos significativa. Eu, que apoio a linha editorial da revista e amo seus articulistas, tentarei não ser mais omisso. Ernesto Muzzi, Brasília, DF Prazer intelectual e espiritual Tendo por propósito o crescimento espiritual do leitor, Ultimato prima pela excelência em todos os aspectos. Tornou-se, para mim, leitura obrigatória, que me proporciona prazer intelectual e alimento espiritual. Maria Antonieta da Silva, Rio de Janeiro, RJ Inquisição protestante Sou assinante de Ultimato há muitos anos. Nasci na Igreja Metodista e tenho 75 anos. Acabei de chegar da Espanha, onde ouvi uma conferência sobre a Inquisição calvinista. Afirmaram que ela foi mais cruel que a Inquisição católica. Achei muitos artigos sobre o assunto na internet e, como nunca tinha ouvido nada a respeito, gostaria de saber um pouco mais. Umberto de Almeida, Campinas, SP — A chamada Inquisição calvinista ou Inquisição protestante é uma ficção que não tem fundamento histórico. Os pesquisadores sérios, sejam eles protestantes ou católicos, nada dizem a esse respeito. Certamente houve atos de intolerância de protestantes contra católicos durante o período da Reforma, geralmente de forma pontual, circunstancial, e não-sistemática. Nunca houve no âmbito protestante nada parecido com a Inquisição ou Santo Ofício, formalmente instituída pelo papa Gregório IX na década de 1230 para julgar e condenar pessoas suspeitas de heresia, a começar dos cátaros e dos valdenses. Ao longo dos séculos, até sua extinção no século 19, a Inquisição perseguiu também um grande número de judeus, protestantes e pessoas acusadas de bruxaria. É irônico que a conferência aludida pelo leitor tenha sido proferida na Espanha, onde existiu a mais violenta sucursal da Inquisição, autorizada pelo papa Sisto IV em 1478 e liderada inicialmente pelo célebre inquisidor Tomás de Torquemada. Nos procedimentos inquisitoriais presumia-se a culpa dos acusados, não havia ampla oportunidade de defesa e as confissões podiam ser obtidas mediante tortura. Uma vez condenado à morte, o réu era entregue às autoridades civis para ser executado. Na cidade de Genebra pode ter havido o uso ocasional de procedimentos inquisitoriais, mas somente se conhece um caso de execução por motivo religioso, o de Miguel Serveto, que curiosamente havia sido condenado anteriormente pela Inquisição. Outros indivíduos executados na época o foram por crimes diversos contra o Estado, sem participação da igreja reformada. Resposta do historiador Alderi Souza de Matos Amém Tornei-me leitor da revista de forma inusitada. Certo dia, ouvi uma missionária falar durante uma oração que Deus me enviaria algo e que não era pra eu entender — apenas aceitar, pois certamente faria diferença em minha vida. Não sou convertido, porém, como vejo outros fazendo, eu disse “amém”! No dia seguinte, percebi que em minha mesa havia uma correspondência (sou responsável pela segurança em um presídio e uma de minhas atribuições é verificá-las) que tinha apenas o remetente. Abri e vi que era a revista Ultimato. Recebi-a como uma grande benção e me tornei
  • 10. 10 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Anúncio Cartas assinante. Ela é uma dádiva proveniente da graça do nosso Senhor e sua leitura está sendo como um estudo bíblico, uma orientação espiritual em direção a Deus. Fábio Lopes, Campo Grande, MS Sugestões e mais sugestões Cansei de mandar sugestões de reportagem, mas ninguém da revista dá atenção. Entretanto, segue mais uma: Paulo Roland lançou o livro Os Nazistas e o Ocultismo, acusando Hitler de ter feito um pacto com poderes sobrenaturais durante a juventude. Se não prestarem atenção desta vez, direi ao mundo que vocês não estão nem aí para os leitores... Túllio Carvalho, Belo Horizonte, MG — Muitas sugestões de leitores são boas, mas, se todas fossem aproveitadas, “nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para [as páginas a mais] que seriam escritas” (Jo 21.25). Cartas da prisão Nasci em lar evangélico e desde criança aprendi o que é certo e o que é errado. Éramos oito irmãos. Uma de minhas irmãs foi morta a facadas pelo marido por causa de ciúmes. A certa altura da vida, me desviei do evangelho, pratiquei muitos crimes e tive muitas mulheres e filhos. Cumpro pena de 23 anos de cadeia na penitenciária de Álvaro de Carvalho. A edição de março/abril de 2010 publicou minha carta na qual escrevi que estava sozinho no mundo e adoraria receber cartas. Mesmo com o CEP errado, as cartas não param de chegar. Até meu pai voltou a me escrever! Moisés de Carvalho (Rodovia Mameli Barreto, Km 36 R3, Cela 319. CEP 17410-000, Álvaro de Carvalho, SP) Nasci em maio de 1976 e renasci em Cristo em abril de 2008 — 34 anos de vida e dois de cristão. Estou pagando por muitos erros que cometi quando estava no engano. Porém, o Senhor me resgatou e me libertou. Antes de minha conversão, estava tão cansado e oprimido que pensei em tirar minha vida. Então Deus me alcançou e arrancou de dentro de mim o rancor, o ódio e a depressão. Ajoelhei-me diante dele e chorei muito. Foi uma transformação incrível. O fardo que eu carregava desde os 15 anos, quando fui preso pela primeira vez, desapareceu. Abandonei a vida pregressa e fui atrás de Jesus. Foi um preso quem me falou de Cristo. Hoje estou na Penitenciária de Balbinos e prego a Palavra de Deus aos meus colegas. Quero que me enviem Ultimato, pois ela me ajuda a entender a Bíblia. Outras revistas e livros também são bem-vindos. Cristian Rocha (Penitenciária de Balbinos, Raio 6, Cela 8, Caixa Postal 01. CEP 16640-000, Balbinos, SP) Somos uma igreja interdenominacional que se reúne no Presídio Evaristo de Morais. Contamos com dez celas evangélicas, totalizando seiscentos membros. Temos uma minibiblioteca, onde exercitamos a leitura. Gostaríamos de solicitar mais Bíblias, revistas, livros e folhetos, para nosso uso e para evangelizar outros detentos. Pastor Rogério Caldeira (Congregação Evangélica Evaristo de Morais — Rua Bartolomeu de Gusmão, 1.100, São Cristóvão. CEP 20941-160, Rio de Janeiro, RJ)
  • 11. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 11 Fale conosco Cartas à Redação • cartas@ultimato.com.br • Cartas à Redação, Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Inclua seu nome completo, endereço, e-mail e número de telefone. As cartas poderão ser editadas e usadas em mídia impressa e eletrônica. Economize Tempo. Faça pela Internet Para assinaturas e livros acesse www.ultimato.com.br Assinaturas • atendimento@ultimato.com.br • 31 3611-8500 • Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG Edições Anteriores • atendimento@ultimato.com.br • www.ultimato.com.br O inimigo tirou tudo de mim: liberdade, caráter, família, sonhos e até a vontade de viver. Hoje, porém, sou lavado e liberto pelo poder do Espírito Santo. Jesus Cristo mudou minha vida e “a vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20). Já passei doze anos de minha vida cumprindo pena. Alex Sander da Silva (Penitenciária de Casa Branca, Raio 2, Cela 112, Caixa Postal 19. CEP 13700-970, Casa Branca, SP) Quando me casei, estava com 21 anos e tinha sonhos como qualquer outro jovem. Dois anos depois, me tornei motorista de caminhão. Trabalhei algum tempo sem habilitação, à noite, carregando cana. Ganhava bem e tinha uma vida estável com minha esposa e meu filho. Porém, comecei a me envolver com usuários de cocaína e me tornei dependente. O dinheiro já não era suficiente e fiquei cheio de dívidas. Caí no fundo do abismo e parti para o crime. Entrei numa padaria, dei voz de assalto e consegui 70 reais — o suficiente para acabar nas mãos da polícia. Depois de outras complicações, fui parar na penitenciária. Porém, graças a Deus, conheci alguns presos cristãos no mesmo raio em que eu estava e comecei a frequentar os cultos. Conheci o amor de Deus e converti-me. Devo ser solto em breve e quero voltar para o meu caminhão, minha esposa e meu filho, mas agora com um diferencial: estar na presença do Senhor. Tenho 26 anos. Luiz Fernando Germano, Guareí, SP Edimburgo 2010 Participei do Congresso Edimburgo 2010 como representante da Fraternidade Teológica, celebrando 100 anos desde o famoso congresso missionário. Por ser um congresso ecumênico, não sabia bem o que esperar. Porém, fiquei favoravelmente impressionada. A maioria é gente que crê em Jesus e nas Escrituras e que dá valor à obra missionária. E gente de toda a parte! Fizemos novas amizades e o mais gostoso era o louvor multicultural. Antonia Leonora van der Meer, Viçosa, MG Maria e José Os pontos de vista de Edilson Cunha (que supõe o papel soteriológico de Maria) e de Wigbert Weber (que nega a José o direito de ser pai e de ter uma vida conjugal plena), colocados na seção “Cartas” (julho/agosto de 2010), são, em minha opinião, efeitos de fenômenos psicológicos e sociológicos que se multiplicaram nas multidões e se solidificaram em indivíduos no decorrer da história da igreja. Busco explicar isso em minha monografia intitulada “Um Deus em quatro pessoas: a força popular do Marianismo”. Marcos Antonio Ferreira, Campos dos Goytacazes, RJ Preconceito é crime Existe preconceito religioso no país e preconceito é crime. Nosso país é laico, tem liberdade de expressão e de religião. Por isso, certos fatos me incomodam: até hoje não sei qual é a religião do goleiro Bruno ou de Suzane von Richthofen, mas digo com toda certeza: se fossem evangélicos, eu teria sabido na hora em que a notícia saiu na mídia. Por que só os transgressores que se dizem evangélicos têm sua religião publicada? Para macular o evangelho? Nunca vi notícias assim: “católico mata pai”; “espírita estupra e mata”; “macumbeiro rouba carro”; “ateu arromba loja”. Isso mostra a mente pequena de alguns jornalistas que, de certo modo, colocam os evangélicos como pessoas santas, já que não lhes permite o erro. Vamos lutar contra o preconceito religioso! Maria Aliete Paiva, Natal, RN
  • 12. 12 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 “Há muita gente que não sabe o que quer da vida porque não presta atenção ao que o Senhor Deus lhe diz.Vive a esmo, embora Deus lhe tenha dado uma direção. Israel Belo de Azevedo, pastor da Igreja Batista Itacuruçá, no Rio de Janeiro “T omar sua cruz significa empenhar-se em vencer o pecado que obstaculiza o caminho em direção a Deus, acolher diariamente a vontade do Senhor, intensificar sua fé, especialmente diante dos problemas, das dificuldades, do sofrimento. Papa Bento XVI “Do lado de fora das igrejas tradicionais existe um contingente imenso de pessoas que, com a mesma intensidade com que busca a Deus, rejeita a incoerência, a hipocrisia e os desmandos das estruturas do poder eclesiástico. Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo FRASES ” “Anatureza é o templo de Deus. A motivação para cuidar dela é muito mais do que garantir a vida para as futuras gerações. É um ato de adoração. Rikk Watts, assembleiano, professor do Regent College, no Canadá “ABíblia tem autoridade formativa e normativa em relação à Igreja. A Igreja elege o seu cânon, mas não o forma. A Bíblia é a Palavra de Deus e não a Palavra da Igreja. É por esta e outras razões que a Bíblia corrige as superstições e os erros da própria Igreja. Guilhermino Cunha, pastor da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro “Consumir-se na paixão pode ser rápido, mas reinventar o mundo a dois é uma tarefa de fôlego. Contardo Calligaris, psicanalista” ” ” ” ” Arquivopessoal AdrianaFranciosi Arquivopessoal “Abeleza da morte é que ela nos desnuda completamente. A morte obriga a pessoa a ser ela mesma, a se aceitar como é. Já vi muitos religiosos aflitos diante da morte porque a espiritualidade deles era pregada, mas não era vivida. Franklin Santana Santos, geriatra”
  • 13. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 13 Anúncio
  • 14. 14 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 A longa reportagem de capa da revista Época intitulada “Os novos evangélicos” (9 de agosto de 2010) passa a impressão de que a igreja evangélica brasileira está com labirintite. Ela está tonta há algum tempo, quase caindo para os lados. Não está bêbada nem de álcool nem do Espírito Santo. A igreja está con- fusa, aturdida, sem saber com certeza o que abraçar e o que desabraçar, o que manter e o que descartar. A confusão aumenta porque os impacientes querem mudar tudo e os tímidos, nada. De uma coisa, não todos, mas alguns estão absolutamente certos — aquilo que nos últimos anos foi entrando pelas frestas da igreja precisa sair. A dificuldade é fazer o inventário das “raposinhas” que entraram na vinha do Senhor e fizeram os estragos que todos devem estar enxergando (Ct 2.15). Todavia, não podemos usar +DO QUE NOTíCIAS Labirintite evangélica isso como desculpa, pois algumas dessas “raposinhas” são bem visíveis. Daí o sub- título da matéria de capa da Época: “Um movimento de fiéis critica o consumismo, a corrupção e os dogmas das igrejas — e propõe uma nova reforma protestante”. Parece que o tumor está sendo espremido. Ricardo Agreste, presbiteriano, um dos entrevistados da Época, explica que “o grande problema dos evangélicos brasileiros não é de inteli- gência; é de ética e hones- tidade”. Ed René Kivitz, batista, outro entrevistado, diz que “as pessoas não querem dogmas, elas que- rem honestidade”. Pelo que se vê, as “raposinhas” não são tão pequenas quanto se pensa. Soberba, profanação, desonestidade, hipocrisia, ciúme, inveja, ambição (tanto pelo poder eclesiás- tico como pelo vil metal) — nunca foram raposas de pequeno porte! Com problemas de tontura, certo homem pro- curou o médico e recebeu o diagnóstico de labirintite. Ele saiu do consultório com duas receitas. Na primeira, havia uma lista de remédios de uso contínuo. Na segun- da, o médico escreveu: “Na crise: Vertix e Betaserc”. Sem dúvida, a igreja evangélica brasileira precisa de um remédio de uso con- tínuo para curar sua labi- rintite. Porém, enquanto a cura não ocorre, ela precisa de outros medicamentos para se livrar da horrível zonzeira do momento. Uma onda de humil- dade, de convicção do pe- cado, de arrependimento, de confissão, de conversão talvez seja de uso contínuo. O mesmo se pode dizer de outras providências. O que os evangélicos e outros cristãos podem fazer para aliviar a tontura presente? Há uma resposta não- sofisticada, não-acadêmica, não-complexa, não-duvido- sa diante da igreja. Ela não está distante, não é difícil e não mexe com os dogmas denominacionais nem pessoais. A resposta que se impõe vale-se da herança comum de todo aquele que professa o cristianis- mo, ou seja, evangélicos e católicos, tanto no Brasil como em outra cultura. Se a maioria dos protestantes brasileiros, históricos e pentecostais, e ainda os neopentecostais (chamados também de pseudopentecostais), se deixarem impressionar outra vez (ou pela primeira vez, caso não tenha havido a primeira) pela pessoa, pelo ensino, pela morte vicária, pela ressurreição, pela soberania e pela consumação da vitória de Jesus sobre tudo e sobre todos — a crise de tontura acabará. E os remédios de uso contínuo produzirão a cura da labirintite evan- gélica! O bispo anglicano Kenneth Cragg gosta de lembrar: “Onde estiver encoberta a beleza da cruz, ela deve ser desvendada”.
  • 15. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 15 A qui está uma constatação, de um dos editoriais da Folha de São Paulo (22 de julho de 2010), que merece atenção: “A grande maioria dos ocidentais não chegou ao ponto de negar a existência de Deus — e dificilmente chegará —, mas relegou o sagrado a uma espécie de limbo”. Para enfrentar o desafio da crescente secularização, os cristãos inventaram a reevangelização (nome mais usado pelos missiólogos protestantes) ou a nova evangelização (nome mais usado no meio católico). Volta-se à estaca zero. É preciso falar outra vez sobre Jesus Cristo com aqueles que foram evangelizados primeiramente pelo apóstolo Paulo e seus companheiros, a partir da Ásia Menor, Grécia e Itália, nos primórdios do cristianismo. O continente europeu, centro de missões mundiais por muitos séculos, agora é o alvo de missões. Parece que a matéria da Folha de São Paulo foi menos alarmante que a carta que o papa enviou aos bispos de todo o +DO QUE NOTíCIAS O inventor do pós-cristianismo mundo em março de 2009. No documento, Bento 16 fala sobre o risco de desaparecimento de Deus no mundo. A secularização teria começado com o filósofo alemão Friedrich Nietzsche em meados do século 19. O francês Michel Onfray, autor de uma obra sobre Nietzsche, diz que ele é o “inventor do pós- cristianismo [por ter sido] o primeiro a propor um pensamento vivo e concreto para viver e agir em um mundo sem Deus”. Apesar de Nietzsche (1844-1900) e dos ateus radicais de hoje (Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris), que dizem que a religião é uma ilusão que precisa ser erradicada, não há muito a temer, porque a Igreja é de Jesus Cristo e nada pode prevalecer contra ela (Mt 16.18). Além do mais, qualquer movimento coletivo ou não, organizado ou não, tem sido e sempre será insignificante para derrubar a fé em Deus e a soberania dele sobre tudo e todos. O Salmo Segundo precisa ser lido mais vezes e com mais atenção! O “super-homem” inventado na Alemanha no início do século 20 é de fato formidável. Ele é ca- paz de gastar mais de um trilhão de dólares com operações militares e outro trilhão com o com- bate ao consumo e tráfico de drogas (os números dizem respeito a um só país). Esses dois trilhões de dólares (o equivalente a 3,6 trilhões de reais) foram gastos pelos Esta- N a manhã de 25 de junho de 2010, os funcionários da prefeitu- ra de Gori, na Geórgia, uma das repúblicas que faziam parte da antiga União Soviética, derrubaram, sem aviso prévio, uma das últimas estátuas de Joseph Stalin, localizada na principal praça da cidade onde ele nasceu, em 1879. A está- tua de Stalin era quatro vezes e meia menor que a colossal estátua que Nabucodonosor mandou uper-homem, mas incapaz Mais uma estátua cai dos Unidos na “Guerra ao terror” (desde setembro de 2001) e na “Guerra às drogas” (desde 1970). E os dois problemas ainda não foram resolvidos. Nem serão. Porque por trás de tudo há um conjunto enorme e complexo de interesses escusos. A única esperança está na promessa de novos céus e nova terra — a revolução escatológica que transformará espadas em arados e lanças em foices (Is 2.4). construir na Babilônia na época do profeta Daniel, na primeira me- tade do século 6 antes de Cristo (27 metros de altura e 2,7 de largu- ra). A lista de torres e estátuas abandonadas (como a torre de Babel) ou derrubadas depois de um efêmero período de glória é enorme. E faz pensar! A estátua de Stalin em Gori foi erguida um ano antes de sua morte, aos 74 anos, e ficou de pé por 58 anos.
  • 16. 16 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 NOTíCIAS Pesquisa revela luta de missionários contra pecados sexuais “Sinto-me derrotado na tentativa de viver uma vida sexualmente pura.” “Eu luto contra a pornografia, fantasia e/ou masturbação.” Estas são algumas das oitenta questões sobre pureza sexual apresentadas pelo pastor Paul Sinclair a 617 missionários evangélicos norte- americanos e canadenses, do sexo masculino, obreiros de cinco agências missionárias transculturais. A pesquisa revelou que mais de 35% dos entrevistados admitem ou tendem a admitir que sofrem derrotas na área de pureza sexual; 56% afirmaram que foram expostos a pornografia ainda crianças; 36% fazem uso de comportamentos sexuais impuros para aliviar o estresse. O questionário fez parte da tese de doutorado em ministério de Paul Sinclair pela Columbia Biblical Seminary and School of Missions da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Ele, que foi missionário em Mali, na África, durante nove anos, afirma que os pecados sexuais são um problema real entre os missionários que saíram de seus países de origem. “Muitos vivem uma vida sexual desconectada dos outros papéis que assumem em seus ministérios e famílias. Com isso, o pecado sexual se torna uma válvula de escape para sentimentos negativos como solidão e situações de forte estresse”. Para Sinclair, o caminho da restauração passa pela construção de uma intimidade verdadeira e integrada. Para isso, é preciso confiar na graça de Deus, ser honesto consigo mesmo, ter companheiros de cura e colocar em prática disciplinas espirituais como oração, leitura e meditação bíblicas, jejum, solitude e silêncio. Sociólogo desvenda início das Assembleias de Deus Com um olhar sociológico, mas, ao mesmo tempo, com a experiência de quem integra há décadas uma comunidade pentecostal, Gedeon Alencar, doutorando em ciências da religião pela PUC, lança o livro Assembleia de Deus — origem, implantação e militância (1911-1946), pela Arte Editorial. Comparando registros históricos e conceitos sociológicos, Alencar resgata os primórdios da maior denominação evangélica brasileira (32%, PUC/2003), com suas fortes ações evangelísticas, mas também com seus naturais conflitos de liderança, que moldaram o rosto atual da denominação. No capítulo 3, o livro trata da institucionalização da igreja, revelando o embate ocorrido entre a Assembleia de Deus norte-americana e a brasileira (de origem sueca). A Assembleia de Deus no Brasil teve início em Belém do Pará, no dia 11 de junho de 1911. Para comemorar os cem anos, a igreja planeja para 2011 uma série de eventos e projetos na cidade, entre eles um culto no estádio de futebol Mangueirão e a inauguração do Centro Histórico Nacional da Assembleia de Deus no Brasil. DimitriCastrique Por Lissânder Dias
  • 17. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 17 Anúncio
  • 18. 18 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 NOTíCIAS Comitê de Evangelização abre diálogo global pela internet O Comitê Lausanne para Evangelização Mundial abriu um espaço na internet para diálogos sobre os principais desafios da missão cristã contemporânea. Todos podem participar. Chama-se Conversa Global Lausanne (CGL), e o site é www.conversation.lausanne.org. A ferramenta, com tecnologia semelhante à das redes socais, enfatiza reflexões sobre as questões atuais e o papel da Igreja no mundo. Já é possível iniciar conversas em, pelo menos, oito idiomas, inclusive o português. O diálogo global está sendo considerado um importante recurso para o 3º Congresso Lausanne sobre Evangelização Mundial Cape Town 2010 (Lausanne III), na África do Sul. Durante o congresso, vídeos de cada sessão serão divulgados dentro da CGL, permitindo que cristãos de todo o mundo comentem ou respondam, o que, consequentemente, irá influenciar o evento. O congresso, que será realizado em colaboração com a Aliança Evangélica Mundial, reunirá 4 mil líderes de mais de duzentos países, de 16 a 25 de outubro de 2010. Cerca de noventa brasileiros estarão presentes. JocumBrasil Jocum completa 50 anos e traz fundadores ao Brasil A missão internacional e interdenominacional Jovens com uma Missão (Jocum) está completando 50 anos de existência. Com uma forte ênfase em evangelismo e treinamento missionário de jovens, a Jocum ficou conhecida por sua disposição em abrir frentes de trabalho ao redor do mundo. O trabalho começou em 1960 com o jovem casal norte-americano Loren e Darlene Cunningham, em um hotel desativado nos Alpes Suíços. Hoje, a missão está presente em mais de 175 países, com mil bases de trabalho e quase 17 mil obreiros em tempo integral. No Brasil, a Jocum começou em 1975 e conta com o segundo maior número de obreiros no mundo (1.300), conhecidos aqui como jocumeiros. Entre as áreas de atuação, estão evangelismo, saúde, educação, tradução da Bíblia e cuidado de crianças em situação de risco. O casal fundador da Jocum esteve no Brasil em agosto e participou das comemorações do Jubileu de Ouro em Curitiba, PR, e Recife, PE.
  • 19. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 19 Jander Magalhães de Castro em Cuba (esquerda) Arquivopessoal Jander Magalhães de Castro e o Projeto Cuba E m janeiro de 2005, sem falar espanhol e sem conhecer nin- guém, um brasileiro de Ipane- ma, MG, desembarcou em Havana. No dia seguinte, pegou outro avião para Holguín, capital da província de mesmo nome, a 780 quilômetros do outro lado da ilha, onde ficou por treze dias. Em abril de 2010, ele voltou a Cuba pela oitava vez. Jander Magalhães de Castro, 47 anos, é casado e tem três filhos. Mora em Viçosa, MG, e não é empresário nem turista. Também não é missio- nário. Porém, tem ardor missionário e, por isso, tem favorecido o anúncio do evangelho na ilha descoberta por Cristóvão Colombo há mais de quinhentos anos (em 1492). Graças a essas viagens e aos muitos conta- tos no Brasil, Jander tem realizado um trabalho discreto e abençoado. O Projeto Cuba,¹ fundado por ele logo após a primeira viagem, reforça o salário de 350 pastores e obreiros cubanos, ajuda 62 idosos e apoia três ministérios de evangelização de crianças. Como se não bastasse, o projeto já comprou e doou cinquenta bicicletas e vinte cavalos para facilitar a locomoção dos obreiros nativos tanto na zona urbana como na zona rural. De vez em quando, provê recursos para construções de templos. Tudo com dinheiro brasileiro, doado por igrejas e parceiros, principalmente das Assembleias de Deus. Jander, coordenador do Projeto Cuba, foi batizado aos 13 anos e ordenado ao ministério aos 21. Foi aluno da Escola de Educação Teológi- ca das Assembleias de Deus (EETAD) por quatro anos e bacharelou-se em teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana, em Londrina, PR. A esposa, Eunice Teodoro de Almeida, secretária do Projeto Cuba, é também formada pela EETAD. Durante dez anos, Jander foi pastor auxiliar da As- sembleia de Deus de Ipanema, MG, e, desde que se mudou para Viçosa, é coordenador e monitor do Núcleo Teológico nº 1122 da EETAD, pre- gador itinerante e palestrante na área de missões. Além disso, ajuda projetos semelhantes aos de Cuba em outros dois países (Paraguai e Guiné Bissau). O casal tem três filhos: o advoga- do Raphael Felipe, a farmacêutica Fernanda Gabriela e o estudante de medicina Gustavo Henrique. Jander Magalhães de Castro é um dos milhões de brasileiros que apoiam e desejam o fim do bloqueio econô- mico imposto a Cuba pelos Estados Unidos. Nota 1. Um dos ministérios da Visão de Evangelização Mundial (VEM-Brasil). Nomes NÚMEROS 178 Estados têm relações diplomáticas plenas com o Vaticano. 80 anos é a expectativa de vida dos países desenvolvidos. Em alguns casos, a expectativa sobe para 85 anos. 470.000 pessoas acusadas de algum crime estão atrás das grades no Brasil. Quase metade desse total são presos provisórios, muitos aguardando julgamento há anos. 650.000 judeus seguem a vertente mais conservadora do judaísmo e rejeitam vários hábitos da vida moderna. Esses judeus ultraortodoxos representam 10% da população de Israel. 250.000.000 de nascimentos foram evitados na China entre 1979 e 2000, graças à política chinesa do filho único. 1.200.000 pessoas são estupradas a cada ano na África do Sul (um estupro a cada 30 segundos). O país é recordista em crimes sexuais, com 75,6 estupros por grupo de 100 mil habitantes. 4.000.000 de brasileiros têm uma relação patológica com o jogo. São jogadores compulsivos que perdem quase tudo, mas não reconhecem o vício. 536.000 mulheres morrem a cada ano por causa de problemas relacionados à gravidez.
  • 20. 20 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Capa Coração, Juventude e fé Quem são, o que pensam e o que fazem os jovens evangélicos
  • 21. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 21 “Juventudes” é um termo cunhado para expressar que as pessoas entre 15 e 24 anos (critério da ONU), ou entre 14 e 30 anos, faixa etária usada pelo Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), apesar de fazerem parte do grupo “juventude”, não apresentam muitas características comuns a todos. Elas vivem realidades diferentes e se apresentam em subgrupos. O mesmo acontece com os evangélicos: as juventudes são muitas e diversas! No início do Ano Internacional da Juventude (agosto de 2010 a agosto de 2011) lançado pela ONU, e um ano depois do Ano das Juventudes na Ultimato, dedicamos a matéria de capa desta edição aos jovens. Os textos e as análises da pesquisa “Juventude Evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos” são da autoria de Daniela Cabral (25), Paula Mendes (28), Lucas Rolim (23) e Klênia Fassoni (49), exceto quando o nome do autor é mencionado. Bios Bernardo, 17, mora em Brasília e é candidato à universidade. Há quatro anos dirige uma célula de adolescentes da Comunidade Sara Nossa Terra e participa da equipe de louvor. Lucas, 28,presbiteriano, éprocurador federal no interior de São Paulo e líder em igrejalocal. Eude, 32, formada em ciências da religião e psicologia, é paraense, mas mora no Amapá. É muito envolvida com a igreja local e com missões. Heide, 24, cursa engenharia civil na Universidade Federal de Viçosa. Mora em alojamento estudantil e parte de seu sustento vem da bolsa de atividades para alunos carentes. Participa das atividades da mocidade da sua igreja. Márcia, 22, é estudante de dança na UFRJ e mora na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. De família de classe média, frequenta a Assembleia de Deus e participa do ministério de coreografia. Nos fins de semana, frequenta bailes funks de Cristo. Sua igreja promove festas depois do culto de domingo à noite, com jogos de luz, hinos remixados e DJs. Rodrigo, 32, é casado, tem um filho e mora no Rio de Janeiro. Formado em publicidade, é diretor executivo da Base, missão formada por nove casais jovens que auxiliam outras missões. Solange, 23, mora em um sítio na zona rural de Paula Cândido, MG, e estudou até a oitava série. Ela, os pais e os sete irmãos frequentam a Assembleia de Deus e vão a todos os cultos, de charrete ou a pé. Trabalha na mocidade, no círculo de oração, no evangelismo e na ministração de hinos da Harpa Cristã. Segue fielmente os costumes da igreja. Sonha em fazer medicina. Eric (ou Peruca), 26, casado, de origem metodista wesleyana, nunca se desviou do evangelho. É um dos líderes da Missão Avalanche em Vitória, ES. É missionário biocupacional: trabalha como tatuador e evangeliza jovens underground. Marlene, 24, mora em Riacho Fundo, região satélite de Brasília. Engravidou aos 19 anos e parou de estudar. Trabalha como doméstica, gosta de ajudar no louvor e dar aulas na escola dominical. Moysés, 17, é negro e mora numa república. Natural de Bom Jesus do Itabapoana, RJ, sonha com uma vaga no curso de direito em uma universidade federal. Violinista nato e sempre de bom humor, é membro ativo da Mocidade Presbiteriana de Viçosa. Franqueline, 29, é assistente social e mora em Maceió, AL. Além do seu trabalho, é articuladora da Rede Fale em Alagoas e envolvida na igreja Batista onde congrega. Ronilso, 32, negro, é casado e congrega na Comunidade S8. Mora no Rio de Janeiro e está desempregado. Atua na RENAS Jovem, na igreja local e na escola de missões urbanas Verbalizando Cristo. Acaba de ganhar uma bolsa para estudar teologia na PUC. Mateus, 23, é formado emcomunicação e saiu de Belo Horizontepara morar em Alto Paraíso, GO, onde,com outros amigos e com a orientaçãoda Igreja Caverna de Adulão, evangelizahippies. Francelise, 28, moraem Florianópolis, SC.É enfermeira e trabalhanum hospital infantil.Formada em missãointegral pelo CentroEvangélico de Missões,frequenta a igreja Batistae é voluntária numaONG cristã que trabalhacom desenvolvimentocomunitário. Jaison, índio Guarani, é casado com uma moça Kaiwá e assumiu há pouco tempo o Seminário Bíblico Indígena Kaiwá, organização ligada à Missão Kaiwá, em Dourados, MS. Leidy, 28, frequenta a Igreja Cristã Evangélica de Ananindeua, PA, é agrônoma e mestranda da Federal Rural da Amazônia, em Belém do Pará. Desde a adolescência, é muito envolvida com o trabalho missionário e a igreja local.
  • 22. 22 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 13-15 anos 16-20 anos 21-25 anos 26-30 anos 31-34 anos12% 33% 38% 13% 4% idade Capa Um retrato da juventude evangélica crenças, valores, atitudes e sonhos m 1968, o então jornal Ultimato, noticiando o aniversário de 17 anos da Mocidade Para Cristo, divulgou alguns dados da entrevista feita pela revista Manchete com estudantes universitários para reforçar “o já conhecido declínio da religião entre os jovens: três em cinco universitários reconhecem que são menos religiosos que seus pais, 40% declaram pertencer à religião apenas por tradição e 69% deles julgam que a humanidade se afasta cada vez mais das ideias de Cristo”. sexo 50,4% 49,6% Trabalha por conta própria (freelancer) Trabalha sem remuneração emprego Faz estágio remuneradoNão trabalha Outra situação 9% 19% 51% 7% 12% 3% Está empregado
  • 23. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 23 13% 34% 2% 11% 37% Classe média (6-10 salários-mínimos) Classe média alta (11-20 salários-mínimos) Classe média baixa (3-5 salários-mínimos) Não sabe Classe baixa (até 2 salários-mínimos) classesocial Uma recente reportagem da revista Época (Jovens redescobrem a fé) cita dados da Fundação Getúlio Vargas para mostrar o atual fervor religioso dos jovens. Mais de 90% dos jovens brasileiros entre 20 e 24 anos declaram ter alguma crença. Em comparação com as outras faixas etárias pesquisadas, o número é o mais alto de todos. Dos jovens entre 20 e 24 anos, 14,16% se declararam evangélicos, 73,5% afirmaram que são católicos, 2,96% creem em outras religiões e 9,38% se definem como sem-religião. Os dados obtidos pelo Instituto alemão Berelsmann Stifung, a partir de pesquisa feita em 21 países, coloca o jovem brasileiro como o terceiro mais religioso do mundo, perdendo para os nigerianos e guatemaltecos. Entre os jovens brasileiros, 95% se dizem religiosos e 65% afirmam que são profundamente religiosos. Mas quem são, o que pensam e o que fazem esses jovens religiosos? E os jovens evangélicos? A pesquisa “Juventude Evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos”,* feita pela Editora Ultimato em julho de 2010, responde parcialmente a essas perguntas. Os resultados não podem ser generalizados. O que se tem é o retrato parcial de uma das juventudes evangélicas: jovens direta ou indiretamente ligados à editora. A esse viés se juntam a metodologia usada para a pesquisa (internet) e — derivado de sua ligação com Ultimato — o fato de se concentrarem nas igrejas históricas (apenas 19% são de igrejas pentecostais). Para exemplificar os contrastes entre essa amostra e a juventude em geral: entre os que responderam a pesquisa, a quantidade de jovens que estão cursando ou que já concluíram algum curso superior é de mais de 80% — uma taxa inversa a da população brasileira total. (veja o quadro Passando a perna nas estatísticas.) Com isso em mente, é possível obter muitas informações e conclusões interessantes e surpreendentes! A pesquisa O questionário foi preenchido por 1960 jovens entre 13 e 34 anos. Todos os estados foram representados, sendo que os de maior representatividade foram São Paulo (20%), Rio de Janeiro (19%) e Minas Gerais (13%). Os gráficos destas páginas descrevem o perfil desses jovens. Ao todo, 61% deles moram com os pais — quase a mesma porcentagem de jovens solteiros (68%). Dos motivos para a permanência na casa dos pais, 22% alegam não ter dinheiro para se sustentar sozinhos e 17% alegam ter um bom relacionamento com os pais e gostar da companhia deles. Entre os outros motivos alegados, alguns disseram não sair de casa porque ainda não casaram e alguns disseram que não podem sair porque apoiam a família financeira ou emocionalmente. Parece que eles estão cumprindo à risca a ordem: Deixará o homem a sua família... relacionamento Casado(a) apenas no civil União estável / mora junto Separado(a) / divorciado(a) Casado(a) no civil eno religioso Solteiro 1% 72% 22% 1% 1% filhos Tem 1 Tem 3 ou mais Tem 2 0% 2% 7% 84% 4% Não tem, mas pretende ter Não tem e não pretende ter moradia 22% 30% 37% 11% Mora com os pais e não temnenhuma vontade de sair Mora com os pais e tempouca vontade de sair Mora com os pais, mas temmuita vontade de sair Não mora com os pais Cursando pós-graduação Ensino médio incompleto Ensino fundamental completo Ensino fundamental incompleto Ensino superior incompleto Ensino superior completo Ensino médio incompleto 13% 27% 38% 8% 4% 1% 1% escolaridade denominação 19% 60% 21% Tradicional Pentecostal Outra regiões 4% 20% 10% 54% 9% 1% não respondeu
  • 24. 24 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Sem botox nem lipo 2009 foi o Ano das Juventudes na Editora Ultimato. Por meio do oferecimento de assinaturas a 9 reais e 90 centavos, em menos de um ano quase 3 mil jovens se tornaram leitores da revista Ultimato. Hoje, são cerca de 2 mil assinantes com até 29 anos. A biografia de Simonton — Mochila nas Costas e Diário na Mão —, lançada no 150º aniversário de sua chegada ao Brasil, teve o título e linguagem definidos por jovens. A Arte e a Bíblia, de Francis Schaeffer, lançado em 2010, também tem o objetivo de se aproximar desse público. A editora apoiou vários eventos destinados às juventudes e a revista Ultimato ganhou a seção “Altos papos”, feita para jovens e por jovens. Muitos artigos escritos por jovens foram publicados no site e no blog da editora, além de ingressarmos em espaços bastante procurados pelos jovens, como twitter, orkut e youtube. A partir de agora, há um site dedicado aos jovens (www.ultimato. com.br/sites/jovem). Nele há espaço para compartilharem trabalhos artísticos e textos que produzem, como o do historiador recém-formado Flávio Amaral, de Natal, RN, abeuense, presbiteriano, que estudou o franciscanismo, e o das estudantes de comunicação Pabline Félix e Ana Cláudia, de Belo Horizonte, da Caverna de Adulão e da Batista Getsêmani, respectivamente, que fizeram um “álbum de família” com fotos e versículos bíblicos de cristãos de todos os “tipos”. Certa jovem, leitora de Ultimato há muitos anos por meio da assinatura dos pais, escreveu a propósito das ações voltadas para os jovens: “Que Ultimato continue rejuvenescendo naturalmente, sem botox nem lipo!”. PhilippeRamakers Capa Sobre ser jovem As respostas às perguntas sobre a melhor e a pior coisa em ser jovem têm forte ênfase no futuro, como era de se esperar. A maioria respondeu que a melhor coisa em ser jovem é ter um futuro cheio de diversas possibilidades (65%). Quanto à pior coisa, 35% concordam que é a preocupação com o futuro e 32% acham que é a insegurança ou medo de tomar decisões. Apenas 2% acham que é não ter emprego e 3% que é o controle dos pais. Entre as três atividades que mais ocupam os jovens nos fins de semana estão: ir à igreja (85%), navegar na internet (48%) e sair com os amigos (47%). As três atividades de um fim de semana ideal são: ir à igreja (91%), sair com os amigos (63%) e sair com o namorado (44%). As atividades de lazer estão mais restritas à televisão e à internet. A comparação entre o que é considerado ideal e o que eles de fato fizeram no último fim de semana revela um pouco de suas ambiguidades. Nem todas as atividades consideradas ideais estão entre as atividades realizadas. As maiores discrepâncias são: apenas 9% acham que navegar na internet é uma atividade ideal, mas quase 40% fizeram isso no fim de semana; apenas 4% acham que assistir televisão é uma atividade ideal, mas 28% disseram ter feito isso no fim semana; e 44% disseram que sair com o/a namorado/a é uma atividade ideal, mas apenas 19% disseram ter feito isso no fim de semana. Sobre militâncias O gráfico abaixo resume a participação dos jovens em diversas instâncias. A maior participação se dá em grupos e movimentos jovens vinculados a igrejas: cerca de 79% dos jovens participam, 14% não participam, mas gostariam de participar, e apenas 4% não gostariam de participar. A maior rejeição se dá com relação à participação em partidos políticos: 72% dos jovens não participam e não gostariam de participar. Os dados sobre a participação em movimentos ambientalistas, voluntários em ONGs e em trabalhos comunitários colocam em evidência o potencial mobilizador das organizações sociais para tantos jovens com predisposição de serem voluntários. Estranha-se a porcentagem de 29% para os que não participam e não desejam participar de movimentos ambientalistas, já que esta é uma opção tão em voga atualmente. A participação (32%) somada à predisposição para participar em movimentos estudantis (28%) é um dado surpreendentemente alto. Segundo os jovens, os três principais problemas do Brasil são a distância de Deus (44%), a desigualdade social (13%) e a má administração pública (12%). Houve grande concentração em uma resposta religiosa, enquanto problemas mais estruturantes tiveram um índice relativamente baixo. Sobre personalidades Os entrevistados foram solicitados a citar o nome de uma pessoa, conhecida do público geral, brasileira ou não, que eles admirassem. As respostas citam principalmente personalidades ligadas à política, esporte, artes e literatura. militância Grupo ou movimento jovem na igreja Movimento estudantil Trabalho comunitário Voluntário em ONG Movimento ambientalista Partido político Participa Não, mas gostaria Não e não gostaria NR 79 14 % 32 28 25 49 23 57 9 57 4 4 4 4 6 3 3 20 72 29 16 20 37 4
  • 25. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 25 “ A chance de um brasileiro, entre os 20% mais pobres, de mãe com menos de 25 anos atingir o último ano do Ensino Superior é menor do que as chances de um brasileiro morrer por conta de um raio (1,3 em 10 mil e 1,9 pessoas em 10 mil, respectivamente).” Ainda que não tão drásticos, os dados recentemente divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral de que um em cada cinco brasileiros (27 milhões) não foi à escola ou é analfabeto, e de que o país tem ainda mais eleitores analfabetos do que formados numa faculdade têm que nos chocar. Dos jovens que responderam à pesquisa “Juventude Evangélica”, realizada pela editora Ultimato, mais de 80% são universitários ou já concluíram seus cursos. Um retrato inverso ao da sociedade brasileira. No entanto, é tremendamente inspirador tomar conhecimento de resultados que passam a perna nas estatísticas. Contra todas as probabilidades, coisas incríveis podem acontecer. Este é o caso do Programa de Educação em Células Cooperativas (www.prece.ufc. br), em Fortaleza, CE, que organizou Escolas Populares Cooperativas (EPC’s) em oito municípios cearenses. Em 16 anos de atuação, 412 estudantes já puderam ingressar no ensino superior através desse programa, a maioria deles na Universidade Federal do Ceará. Mais de sessenta já estão graduados, incluindo os doze que cursam mestrado ou doutorado. Nas EPC’s, os estudantes se organizam em células de aprendizagem, se ajudam para ingressarem no ensino superior e, após o ingresso, retornam para as comunidades de origem para ajudarem outros a fazerem o mesmo e para promoverem desenvolvimento local. Que os jovens com curso superior sejam gratos por este privilégio. Que não se intimidem com estatísticas e probabilidades e sejam promotores de justiça e misericórdia com os menos privilegiados. Passando a perna nas estatísticas Apenas quatro pessoas foram lembradas por mais de oitenta jovens (equivalente a 5% dos entrevistados), o que mostra grande diversidade de opiniões. O nome mais citado foi o de Marina Silva, admirada por 140 pessoas. Kaká foi citado por 119, Lula por 114 e Nelson Mandela por 81 pessoas. Jesus foi lembrado por 58 e Bono Vox por 45. Martin Luther King Jr. foi citado por quarenta e Angelina Jolie, por 22. Foram lembrados também os nomes de Cristovam Buarque (19), José Alencar (18), Silvio Santos (17), C. S. Lewis (17), Obama (17), Luciano Huck (13), Steve Jobs, Madre Tereza e Ayrton Senna (12), Bernardinho (11) e Lutero (10). Dez pessoas disseram admirar o próprio pai. Ao todo foram citados 240 nomes. Entre as pessoas mais admiradas, conhecidas no meio evangélico, foram citados 340 nomes, e a dispersão de votos foi ainda maior, o que demonstra mais uma vez a falta de unanimidade. O mais citado é Silas Malafaia (105), seguido por Ana Paula Valadão (75), Kaká (56), Ariovaldo Ramos (53), Jesus (45), Ed René Kivitz (45) e Caio Fábio (43). Algumas pessoas dizem admirar Ricardo Gondim (38), C. S. Lewis (29), Ronaldo Lidório (27), Fernanda Brum (27), Russel Shedd (25), Marina Silva (25), Billy Graham (24) e John Piper (23). Dez pessoas disseram admirar o próprio pastor. Sobre a vida Entre os fatores considerados importantes para se melhorar de vida, os mais votados foram: ter a benção de Deus (96%), ter estudo (96%), trabalhar duro e ser dedicado (91%), falar bem (86%) e ter metas específicas (81%). Muitos concordam que é ser inteligente e talentoso (75%) e ter experiência (70%). Os resultados para as opções ter boa aparência (43%), ter O que é preciso para melhorar de vida A bênção de Deus Estudos Trabalho duro, dedicação Eloquência Metas específicas Inteligência e talento Experiência Boa aparência Parentes e amigos influentes Sorte Nada Import. Pouco import. Muito import. NR 1 %1 11 15 22 27 6 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 1 96 96 86 81 75 70 43 30 17 91 1 1 4 14 43 37 51 53 amigos e parentes influentes (30%) ou sorte (17%) para melhorar de vida chamam atenção. Ainda que não sejam a maioria, esses dados apontam respostas pouco vinculadas à ética protestante. Seria uma influência do senso comum brasileiro? Em relação às coisas importantes para a vida pessoal, ter fé (94%), ser honesto (89%), ser amigo e leal (87%) e ter uma boa relação familiar (86%) foram as mais votadas. Ser trabalhador e responsável (77%), viver numa sociedade mais justa (59%), ter um trabalho que traga realização (58%) e ser estudioso (58%) também são coisas importantes. Alguns concordam que é sentir-se útil para a sociedade (49%), aproveitar a vida (39%) e ter um diploma (32%). Poucos acham que é muito importante ter uma ideologia (18%), ter um corpo bonito e saudável (9%) e ter muito dinheiro (4%). Menos de 1% dos jovens acha que ser uma pessoa famosa é algo importante. Porém, para a resposta “ter um corpo bonito e saudável”, quando se soma o que é considerado muito importante ao que é considerado importante, a análise é outra: a concordância sobe para 63%. Tal porcentagem confirma a exigência dos processos seletivos atuais e mostra que a aparência física tem
  • 26. 26 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Capa sido considerada pelos jovens como um critério levado em conta nos processos de recrutamento de pessoal. A revista Superinteressante (janeiro de 2010) traz na reportagem A arte de se vender um desastroso conselho: “Largue os livros e vá agora mesmo para a academia de ginástica: pode ser bom para a sua carreira”. Para endossar, cita dados de pesquisas: cada ano de estudo aumenta em 15% o salário de um profissional, mas pessoas consideradas bonitas ganham, em média, 18% a mais do que as feias. E ainda: segundo um estudo da Universidade de Flórida, cada centímetro a mais de altura rende 600 reais de salário adicional por ano. Sobre os medos A maioria dos jovens (83%) diz se sentir feliz a maior parte do tempo. Cerca de 44% sofrem continuamente com a ansiedade, 22% sofrem continuamente com a instabilidade emocional, 5% sofrem com depressão e 5% com alguma fobia. Apenas 27% dos jovens dizem não ter medo de nada. Entre os 69% que assumem ter medo de algo, o medo de fracassar, de não conseguir alcançar as metas estabelecidas, de decepcionar as pessoas, de não ser bem-sucedido, de fazer escolhas erradas e falhar na vida é percebido em cerca de 270 respostas. Medos relacionados com não ouvir a voz de Deus, não obedecer, sair dos P or mais que os filhos cresçam, para as mães eles serão sempre “seus filhos”. Por isso, ninguém ora por eles como a mãe. Muitos jovens evangélicos brasileiros não imaginam que há um batalhão de pais e mães espalhados em todos os estados do Brasil e em muitos países orando por eles de forma específica. Como fruto do trabalho da Mocidade para Cristo, o movimento Desperta Débora (www. despertadeboras.com.br) começou em 1995 com a visão de levantar uma geração de jovens comprometidos em levar o evangelho de Jesus aos quatro cantos da terra. Todos os dias, mais de 70 mil mães e pais investem pelo menos Jovens em acampamento da MPC, em 1968 15 minutos do seu tempo em oração pelos filhos — naturais e espirituais. Ao longo dos anos, o movimento tem se expandido e hoje está presente em presídios, escolas, associações de bairro etc. E ele conta ainda com o Disque-mãe: voluntárias dispostas a oferecer, a qualquer hora, apoio, ânimo, encorajamento, companheirismo e aconselhamento para jovens. O Desperta Débora não é o único — há outros grandes círculos de oração pelos filhos. Em Recife existe um movimento com características opostas: filhos que oram pelos pais. Porque há um grande número de jovens convertidos cujos pais não são crentes, eles oram por sua conversão. caminhos de Deus, decepcionar Deus, aparecem em cerca de 180 respostas. Cerca de 115 pessoas mencionam o medo de perder alguém querido, cerca de 109 pessoas têm medo de ficar sozinhas, cerca de 92 pessoas têm medo da violência (incluindo estupro, assalto e sequestro) e cerca de 84 pessoas têm medos relacionados ao futuro. Cerca de 76 pessoas citam o medo de ficar velho, doente, pobre, inválido ou desempregado. O medo da morte aparece em cerca de 39 respostas. Medos relacionados com a família (não casar, ter um mau casamento, se divorciar, criar filhos etc.) aparecem em 32 respostas. Algumas pessoas citaram medos físicos: trinta pessoas dizem ter medo de insetos e 26 dizem ter medo de altura e lugares fechados. A pesquisa incluiu também uma pergunta sobre sonhos. (Veja a seção “Altos papos”, pág. 32-33.) Sobre a conversão Quanto ao perfil religioso dos pais, 61% dos jovens têm pai evangélico e 81% têm mãe evangélica. 19% têm pai católico e 11% têm mãe católica. Menos de 2% têm pais espíritas ou de religiões afrobrasileiras. Sobre os fatores que influenciaram muito a conversão dos jovens, os mais citados são uma formação familiar cristã (48%), a leitura da Bíblia (47%), conversas e convívio com amigos, conhecidos ou familiares (42%), nascer num lar evangélico (41%) e a pregação (40%). Alguns citam acampamentos (37%), ministérios voltados para a juventude (34%) e alguma expressão artística (25%). Poucos consideram como fator de influência para a sua conversão o contato com pessoa até então desconhecida (12%) e algum material evangelístico impresso ou programas de televisão ou rádio (9%). Quando a estes são adicionados os percentuais dos jovens que responderam sobre os fatores que influenciaram a sua conversão, a leitura da Bíblia sobe para 81%, a pregação para 71% e a conversa com amigos e familiares para 70%. Ministérios voltados para juventude, opção que estava em 7º lugar (com 34%), sobe para 4º lugar (com 60%). Sobre a igreja Dos jovens entrevistados, 60% são provenientes de igrejas tradicionais e 19% de igrejas pentecostais. Cerca de 21% são de outras linhas. Caso não fossem de igrejas pentecostais nem tradicionais, os jovens poderiam descrever como é sua igreja. É nítida a tentativa de mesclar tradicional com pentecostal e pelo menos 52 expressões usadas denotam tal esforço. Eis alguns exemplos: Tradicional com toque pentecostal /Acredita nos dons e no Mães de joelhos, filhos em pé!
  • 27. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 27 estudo da palavra / Busca o equilíbrio entre a tradição e o avivamento / Doutrinariamente tradicional, renovada nas práticas religiosas / Evangélica, carismática e histórica / Meio a meio / Nem apegada a tradição nem pegando fogo / Neo-ortodoxa de pentecostalismo tradicional / Calvinistas que têm vários dons do Espírito Santo / Um pouco de tudo, vive missão integral. Dois jovens desabafaram: “Essa divisão é um pouco simplista, não?” e “Não suporto essas definições, não têm sentido”. Quando perguntados se já mudaram de denominação, cerca de 64% responderam que nunca mudaram, 23% que mudaram uma vez e 4% que mudaram três vezes ou mais. É um número considerável, ainda que, entre os que já mudaram, cerca de 21% o fizeram por questões geográficas (mudança de bairro, de cidade, de país) — o que nada tem a ver com a insatisfação com a igreja. Entre os outros motivos, 21% mudaram porque a denominação não correspondia às necessidades espirituais, cerca de 20% porque discordavam das questões doutrinárias, 17% por falta de coerência entre o que a igreja/denominação pregava e as atitudes das pessoas, 16% por influência de familiares e amigos, 10% porque a denominação não correspondia às expectativas sociais, emocionais ou relacionais, 7% porque não se sentiam acolhidas, e 4% porque não concordavam com a forma dos cultos (liturgia). A despeito disso, os jovens parecem satisfeitos com a igreja na qual congregam: 73% acham que os pastores têm uma vida coerente, 73% acham que as pregações são ricas em conteúdo bíblico, 71% acham que as pregações são cristocêntricas, 65% acham que as pregações são relevantes e pertinentes ao contexto do mundo atual e da comunidade local, 64% acham que a linguagem é acessível aos jovens, 60% acham que as pregações são voltadas às necessidades espirituais e 51% acham que os visitantes são bem recebidos. Metade (50%) acha que a igreja se envolve com missões transculturais, 48% acham que a igreja se envolve socialmente com a comunidade em que está inserida, 47% acham que a liturgia/ordem do culto é aberta/flexível à participação de todos, 46% acham que a igreja se preocupa com a saúde emocional dos participantes, 43% acham que a igreja se envolve com ações de misericórdia e na busca por justiça e 42% acham que os membros acolhem uns aos outros. As piores avaliações estão em sua maioria relacionadas à missão da igreja com os de fora. Um dado importante! Os jovens foram perguntados sobre suas funções na igreja. Era possível marcar mais de uma opção e constatou-se que vários exercem funções simultâneas. Dos 1960 jovens que responderam à pesquisa, 873 estão envolvidos com a área de música (louvor, coral, conjunto ou instrumentista), cerca de 611 são líderes de grupo de jovens, adolescentes ou casais e cerca de 578 são professores na escola dominical. Cerca de 233 são líderes de célula ou grupo nos lares, cerca de 159 são líderes ou membros de conselho missionário e cerca de 148 são líderes ou membros de conselho de ação social. Chama atenção o alto número de jovens líderes e formadores de opinião. Sobre crenças Constatou-se que 97% dos jovens acreditam no Deus trino (menos de 1% não acredita ou não soube responder), 91% acreditam em Jesus 100% Deus e 100% homem (2% não acredita e 4% não soube responder), 95% acreditam no nascimento virginal de Jesus (1% não acredita e 1% não soube responder), 97% acreditam na atuação do Espírito Santo (menos de 1% não acredita ou não soube responder), 96% acreditam na Bíblia como regra de fé e prática (1% não acredita e 1% não soube responder), 94% acreditam na existência do Diabo e dos demônios (2% não acreditam e 1% não soube responder), 96% acreditam em curas milagrosas (3% não sabem e 2% não acreditam). Até aqui, o grau de concordância supera os 90% e o nível de descrença é menor do que 3%. Constatou-se ainda que 90% acreditam na imortalidade da alma (4% não sabem e 3% não acreditam), 84% acreditam na ressurreição do corpo (6% não acreditam e 6% não sabem responder). A soma dos dados não é desprezível e confirma a tese de N.T. Wright de que a resposta cristã clássica à questão da mortalidade e do além é mais desconhecida do que rejeitada. Constatou-se ainda que 84% acreditam na atualidade de todos os dons do Espírito Santo (7% não sabem e 6% não acreditam). Esses resultados revelam jovens com convicções firmes e conservadoras do ponto de vista da doutrina. E eles têm também convicções bem ortodoxas com relação ao sincretismo religioso. Ao serem perguntados sobre a influência que outras crenças têm em sua vida (energias, aura e astral, duendes e gnomos, encarnação/vidas passadas, astrologia, espiritismo, contato com os mortos, parapsicologia e ocultismo), menos de 1% dos jovens respondeu que tais crenças têm influência em sua vida. A exceção é a astrologia, que parece influenciar 3% dos jovens. Sobre disciplinas espirituais Os jovens foram solicitados a indicar a frequência com que praticam certas disciplinas espirituais. Surpreende o fato de que o número dos que fazem suas orações a sós, sempre e quase sempre (62%), seja menor do que o número dos que contribuem financeiramente, sempre e quase sempre (69%). O nível de leitura da Bíblia (sempre: 28%, quase sempre: 34%) não está satisfatório, ainda mais quando 8% responderam não lê-la nunca ou quase nunca. Parece que, pelo menos nesse caso, o vaticínio “como nossos pais” infelizmente não se cumpre... As disciplinas mais frequentes são: orar antes das refeições (81%) e fazer orações intercessórias (76%). A frequência à escola dominical pode ser considerada alta (62%) quando se ouve que muitas igrejas têm sofrido com a pequena frequência e outras têm até extinguindo tal programação. A evangelização de parentes e amigos é a disciplina devocional colocada entre as últimas (os que a praticam sempre e quase sempre somam 39%).
  • 28. 28 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Capa Sobre a conduta pessoal Foi pedido que os jovens marcassem o nível de concordância com algumas afirmativas relacionadas à sexualidade e, em seguida, respondessem sobre sua conduta pessoal. Entre os que responderam, 86% concordam que a conduta cristã não apoia o sexo antes do casamento, 76% dos jovens dizem estar pessoalmente comprometidos com essa conduta e 8% não se comprometem. Quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, 94% concordam que a conduta cristã não apoia tal comportamento, 90% dizem estar comprometidos com a conduta e 3% não se comprometem. Quanto à afirmação de que a conduta cristã ensina o não envolvimento com a pornografia, 94% concordam. Com relação à conduta pessoal, a porcentagem cai mais do que nas outras questões: 75% dizem estar comprometidos e 10% não se comprometem. Com relação à prostituição e ao adultério, 96% concordam que a conduta cristã reprova essas práticas, 81% dizem estar comprometidos com essa conduta e 2% não se comprometem. Com relação ao casamento entre pessoas da mesma fé, 85% concordam que a conduta cristã recomenda isso (porcentagem surpreendentemente alta, praticamente igual à afirmativa de que a conduta cristã não aprova o sexo antes do casamento) e 77% disseram estar comprometidos com esta conduta. Esses dados mostram uma juventude conservadora, com valores muito diferentes da juventude em geral. Basta citar a recente reportagem da revista Veja (A geração tolerância), segundo a qual hoje 60% dos brasileiros declaram achar a homossexualidade natural. Também apontam para uma direção diferente de algumas pesquisas feitas entre evangélicos, como a que foi feita com jovens de 22 diferentes denominações, frequentadores regulares de igreja, a maioria solteira. De acordo com ela, 52% deles já haviam feito sexo. Destes, cerca da metade mantinha uma vida sexual ativa com um ou mais parceiros. A idade média com que perderam a virgindade era de 14 anos para os rapazes e 16 para as moças. Sobre o aborto Quando perguntados sobre os motivos que justificam um aborto, 46% disseram que nada justifica — porcentagem bem mais alta do que a média nacional (segundo pesquisa do Ibope sobre o aborto, realizada em 2003, apenas 31% da população acha que ele deveria ser proibido em qualquer caso). Cerca de 40% acham que o aborto é justificável quando a vida da mãe corre perigo, 12% acham que é justificável quando o bebê pode nascer com defeito ou doença, 2% acham que a falta de condições financeiras justifica um aborto e 1% acha que qualquer motivo justifica um aborto. Cerca de 11% não quiseram ou não souberam responder. O aborto em caso de estupro, já previsto na lei brasileira como algo legal, não estava entre as opções. Sobre bebidas e drogas Sobre o consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens, 32% bebem esporadicamente, 27% apenas experimentaram, 19% nunca experimentaram, 14% não bebem mais e 5% bebem nos fins de semana. Sobre o cigarro, 69% nunca fumaram, 21% apenas experimentaram, 6% não fumam mais e menos de 1% fuma todos os dias, esporadicamente ou nos fins de semana. Quanto ao uso de remédios de tarja preta sem prescrição médica, 90% dizem nunca ter experimentado, 3% apenas experimentaram, 3% não usam mais e menos de 1% usa esporadicamente ou todos os dias. Quanto ao uso de drogas ilícitas, 88% dos jovens nunca experimentaram, C arlos René Padilla, 78, conta que no ensino médio sua fé cristã foi pela primeira vez colocada à prova por professores ateus e marxistas, que perguntavam: “O que vocês, cristãos, propõem a fim de eliminar a injustiça? Seu Deus se preocupa com as vítimas da injustiça?”. René não tinha como desconsiderar a relevância destas perguntas tanto por sua história familiar, de luta pela sobrevivência, como pela de seu país. Depois de ter estudado filosofia e teologia nos Estados Unidos e de ter-se casado aos 31 anos, em 1963, assumiu o trabalho com a Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos Marcado na juventude e pelajuventude (CIEE) na América Latina. Agora, eram os estudantes cristãos que lhe faziam perguntas. Entrevistado pelo Conselho Editorial Jovem de Ultimato, em outubro de 2009 (entrevista disponível em www. videolog.uol.com.br/video?496511), René conta que o nascimento da missão integral na América Latina se deu aí. Juntamente com os jovens amigos Samuel Escobar e Pedro Arana, começou um processo de reflexão que os levou à certeza de que Deus se interessa pela totalidade da vida humana e da pessoa em comunidade. René Padilla acha que os jovens estão na posição privilegiada de construir coisas novas sobre o que é positivo da René e Catharine Padilla Arquivopessoal geração anterior e que cabe a eles “o papel de conscientizar o povo de Deus sobre os problemas que afetam a humanidade, não somente a igreja”. E conclui: “Tenho muita esperança na nova geração”.
  • 29. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 29 6% apenas experimentaram, 3% não usam mais e menos de 1% usa esporadicamente ou nos fins de semana. Sobre o futuro Igrejas, ministérios, organizações e denominações têm se voltado para a juventude evangélica. A necessidade de uma linguagem específica para este público, a renovação das lideranças, o potencial conflito entre gerações, o desejo de resguardar os jovens dos apelos mundanos são alguns dos motivos para tal olhar. Como ficou evidente nos resultados da pesquisa, os jovens vêm de fato ocupando espaços importantes como promotores do reino de Deus. Muitos se sentem chamados e desejosos de servir a Deus em ministérios específicos, em missões e em suas profissões. Outros, talvez mais convencidos do que a geração anterior sobre as consequências do mandato cultural, sentem-se vocacionados a servir a Deus na arte, política, ciências sociais, música, literatura etc. Estes precisam de oração, “envio” e acompanhamento tanto quanto aqueles. Alguns jovens naturalmente desejam introduzir novidades na Igreja: na forma de se relacionarem, nas noções de autoridade e hierarquia, na liturgia etc. Eles precisam ser escutados e, algumas vezes, confrontados. Os jovens que estão titubeantes na fé devem ser, primordialmente, acolhidos. Eles precisam de espaço para questionar sem ser rechaçados, buscando assim respostas em campo seguro. Os que vivenciam conflitos por causa de sua conduta moral precisam de abertura para conversas francas. Os que buscam a igreja principalmente como espaço de apoio emocional precisam ser desafiados a uma fé mais profunda. Em todos os casos, a Igreja precisa fazer questão de estar com os jovens. E os jovens precisam fazer questão de estar com a Igreja, com toda a sua diversidade. Jesus planejou uma Igreja intergeracional, em que velhos, adultos, jovens e crianças compartilhem entre si suas experiências únicas e adorem a Deus juntos com a humanidade e a grandeza próprias de cada fase da vida. O tempo não para; os jovens, sempre os teremos conosco. Cada geração levantará questões à geração seguinte. A respeito dos jovens e adolescentes de hoje, poderíamos perguntar: Serão profundos conhecedores da Palavra de Deus? Serão corajosos o suficiente para assumir uma fé exclusiva, num ambiente cada vez mais plural? Deixarão que as marcas de uma sociedade que se guia pelo mercado pautem as suas prioridades e suas agendas? Conseguirão não se deixar levar pela força de um evangelho adocicado, que faz bem apenas às emoções? Anunciarão o evangelho? Serão melhores promotores da justiça do reino? Estarão dispostos a sofrer por Cristo? Serão menos sectários? Caminharão um pouco mais na direção da unidade da igreja? Permanecerão firmes na moral cristã? Não se divorciarão — ou se divorciarão menos do que seus pais? Criarão seus filhos e suas filhas no caminho do Senhor? O que farão com a história das gerações que os precederam? Essas perguntas podem contribuir para a pauta a ser elaborada pelas igrejas e ministérios com e para os jovens. Abrir-se para os jovens é abrir-se para o novo. E mesmo que o novo pareça ameaçador, ele é fonte de rejuvenescimento para a Igreja. Nota * A pesquisa foi enviada em 22 de julho de 2010 por e-mail a assinantes de Ultimato de até 34 anos e a outros assinantes, convidando-os a encaminharem aos parentes e amigos jovens da igreja em que congregam, e a líderes de ministérios jovens. Não era preciso se identificar e nenhuma questão era obrigatória. A pesquisa foi encerrada em 29 de julho de 2010. NA INTERNET No site www.ultimato.com.br/ sites/jovem você encontra outros artigos e análises comparativas da pesquisa “Juventude Evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos”.
  • 30. 30 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Capa o participar de uma mesa redonda sobre juventude e participação política, fizeram-me a seguinte pergunta: a juventude atual é alienada, descomprometida ou mal informada? Responder de maneira simplista ou automática pode nos levar a um reducionismo. Precisamos ter em mente aquilo que é “emblemático”, de acordo com a orientação do antropólogo Gilberto Velho, pois o que caracteriza um grupo, aquilo que é seu “emblema”, nem sempre é compartilhado pelo conjunto. Velho argumenta que talvez nem 10% dos jovens dos anos 60 tenham participado do movimento estudantil, assim como nem todo adolescente urbano de hoje frequenta raves ou consome ecstasy. A socióloga Maria Isabel Mendes de Almeida, que publicou um estudo em que compara a época da contracultura dos anos 60 e a de hoje, diz que o roteiro do jovem de agora está “bem distante de questionamentos políticos ou culturais. Não quer a ruptura, o pai dele já fez isso; quer a continuidade”. O jornalista e escritor Zuenir Ventura afirma que aquela geração, marcada pelo ano de 1968, “queria tudo a que não tinha direito; a atual tem tudo que precisa, e por isso se apresenta cheia de ambiguidades e paradoxos. [...] Desapegada ideologicamente, essa turma bem de vida e de poder aquisitivo não se interessa pela política, não tem preocupações sociais e não protesta nem contesta, pelo menos não da forma como faziam os seus antepassados quarentões ou sessentões, anárquicos ou rebeldes”.¹ Em 2007, no jornal O Globo, em caderno especial (e esclarecedor) sobre os jovens nascidos a partir de 1983, a editora Nívia Carvalho explicou que essa é uma turma que “vive conectada e gosta de dar publicidade aos seus atos em redes sociais, fotologs e álbuns na web. São jovens que elegem o bem- estar como valor maior e buscam dinheiro e fama”. Até que ponto a juventude cristã está sendo influenciada e conformada por essa mesma cosmovisão? Nossas igrejas e movimentos de juventude têm oferecido um modelo opcional ao que é “emblemático” nessa geração? Ao tomar como marco para os próximos 10 anos da ABUB a tríade “Uma só vida, uma só verdade, um só Senhor”, queremos propor uma agenda de intenções; algo que queremos primeiramente viver, para depois compartilhar com nossa geração. Temos a responsabilidade (e o privilégio!) de expressar, com nossas palavras e nossa vida, uma nova realidade que já se faz presente entre nós, por meio da vida e da obra de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado. Conscientes de que nosso comprometimento com a singularidade, a supremacia e a suficiência “de um sujeito mortalmente pregado à cruz e inteiramente despregado das prioridades usuais deste mundo é para o observador isento escândalo, insensatez e vergonha”.² Insensatez, para uma geração ávida pela prosperidade material, porque esse Jesus sustenta que “a vida é sólida e a ganância é rala, e logo não faz sentido adquirirmos o mundo inteiro e ver a vida escorrer, sem consistência, na peneira final”. Uma só vida tem algo a ensinar a esta geração? Escândalo, para uma geração ávida pelo êxito e dependente da competição, porque esse Jesus, por meio da sua doutrina e da sua vida (e morte!), ensina que “o sucesso se obtém no mais inequívoco fracasso e a grandeza na mais abjeta humilhação”. Uma só verdade tem algo a apresentar a esta geração? Vergonha, para uma geração ávida pela satisfação pessoal e pela permissividade, porque Jesus exige humilde submissão, e para participar desta nova realidade a pessoa “tem de pagar o mico de reconhecer-se não melhor que ninguém”. Um só Senhor tem algo a esperar desta geração? Notas 1. Zuenir Ventura. 1968: o que fizemos de nós. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008. 2. Paulo Brabo. A bacia das almas: confissões de um ex-dependente de igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. Reinaldo Percinoto Jr., casado com Maria e pai de João Marcos e Daniel, é secretário-geral da ABUB. De gerações e emblemasReinaldo Percinoto Jr.
  • 31. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 31 Anuncio
  • 32. 32 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Para não virar a cabeça o que parece, o alerta de nossos avós sobre os perigos de ingressar na faculdade não eram tão ingênuos assim. “Cuidado, meu filho, pra não virar a cabeça” — diziam eles. Recentemente, o Barna Group, organização americana especializada em pesquisas, constatou que apenas 20% dos estudantes que foram discipulados durante a adolescência permaneceram espiritualmente ativos quando chegaram aos 29 anos. Certo missionário, ao relatar sua experiência com a igreja na Inglaterra, descreveu a congregação como um “campo de algodão”, referindo-se à quantidade de cabeças brancas presentes — lá, a igreja já é majoritariamente frequentada pela terceira idade. Embora a estatística seja americana e a tão falada “era pós-cristã” pareça estar longe de um Brasil avivado e missionário, podemos encarar os dados como um alerta. Afinal, não seria a primeira vez que uma tendência surgida além-mar respingaria por aqui. Só que em vez de deixar que a possibilidade de sermos influenciados sirva de combustível para um patriotismo desmedido, podemos encarar o fato como algo positivo: é possível observar as tendências e tomar precauções. Em um artigo para a revista Mission Frontiers, Chuck Edwards e John Stonestreet, do Summit Ministeries, organização que lida especialmente com jovens universitários e suas crises, apontam algumas razões para o afastamento dos jovens: o aumento de professores liberais (que passam sua aversão ao cristianismo para os alunos, que se tornam “presas da retórica anticristã”), a ausência de fundamentação adequada (muitos estudantes se dizem cristãos, mas são incapazes de explicar por que acreditam no que acreditam) e uma visão errada do cristianismo (enquanto uns se opõem a ele, outros simplesmente não o entendem). Mas como ajudá-los? Stonestreet faz um alerta: em vez de tentar fazer com que o cristianismo pareça atraente e divertido para os jovens, devemos nos preocupar em garantir que isso que estamos transmitindo seja de fato cristianismo. Devemos desafiá- los em vez de mimá-los — os estudantes não precisam de mais entretenimento. O ipod, a internet e os amigos já são suficientes. “Nunca os prepararemos efetivamente para encarar essa cultura movida a entretenimento se simplesmente a substituirmos por entretenimento cristão.” Os estudantes precisam ser desafiados com perguntas difíceis e dilemas culturais. Devemos oferecer a eles uma educação completa sobre apologética e visão de mundo. “Os estudantes cristãos frequentemente têm a impressão de que somos salvos de, e não para.” Muitos conhecem a Bíblia, mas não pensam biblicamente. Eles precisam saber no que creem e também no que os outros creem. Devemos mostrar não somente a que nos opomos, mas também o que defendemos. Muitos estudantes são vítimas de escolhas imorais porque lhes falta uma visão maior de suas vidas. Muitos sabem mais sobre o que é proibido do que sobre o propósito para o qual Deus os chama. Finalmente, devemos confrontá-los com as grandes batalhas culturais dos nossos dias, e não isolá-los. O cristianismo não é uma religião ascética ou uma filosofia dualística. Seus seguidores são chamados a mergulhar no significado histórico e cultural da humanidade. A oração de Jesus é reveladora: “Não tire-os do mundo, mas proteja-os do mal” (Jo 17.15). Apesar das estatísticas, John Stonestreet tem boas expectativas: “Eles [os jovens de hoje] serão melhores do que a minha geração. Eles vão amar mais a Deus, servir melhor, se preocupar de forma mais profunda e pensar de forma mais clara. Eles querem ler bons livros e querem viver por algo maior do que eles mesmos”. Esperamos que ele esteja certo e as tendências, erradas. Capa
  • 33. Setembro-Outubro, 2010 I ULTIMATO 33 Conselho Editorial Jovem Ultimato Q uando se fala em sonhos, a ideia do que fazer com o futuro, uma boa ilustração é a conversa entre Alice (a do País das Maravilhas) e o Gato Risonho. Perdida, ela pediu ajuda ao Gato, que respondeu: “Ora, se você está perdida, qualquer caminho serve”. Quando não se tem um sonho, um norte, uma saída possível é escolher qualquer caminho. Outra possibilidade é trilhar o maior número de caminhos, nos enfurnar em um ativismo maluco e ver onde a vida nos leva. Mas isso pode gerar canseira e vontade de desistir. Sonhar com intensidade pode também não ser a solução completa. Assim, precisamos rever a importância dos sonhos em nossa vida e a diferença que faz o sentido de esperança que associamos a eles. Deus fez o homem e a mulher com a brilhante capacidade de criar e modificar as coisas ao seu redor. Isso é uma benção — se feito com a consciência de que nossos atos criativos devem refletir a imagem de Deus, que é bela, verdadeira e repleta de significado. Viver essa imagem nos dá sentido, nos faz desfrutar de Deus e mostrar sua glória a todas as criaturas. Essa capacidade criativa inspira de forma maravilhosa nossa imaginação e isso nos leva a sonhar. Quando falamos em “sonhos”, referimo-nos ao desejo por algo diferente, que nasce no ser humano a partir do momento em que ele constata que sua realidade poderia ser melhor. E quando surge um sonho, nasce com ele a esperança, que significa esperar por algo que se deseja. No entanto, precisamos entender o real sentido de esperança, para que ela nos ajude a sonhar. Um integrante do Centro de Estudos L’abri Brasil afirmou em recente palestra que a esperança é uma virtude cristã, desenvolvida por meio de dois exercícios também cristãos: lamentação e experiência com Deus. O Salmo 13 mostra como os dois exercícios (mesmo parecendo antagônicos) se completam, pois lamentar não é o mesmo que murmurar. Lamentar é enxergar a realidade como ela é, perceber que não deveria ser assim e clamar para que algo seja diferente. Por meio do nosso relacionamento com Deus, é possível experimentar de forma real, mesmo que singela, sua graça e misericórdia sendo derramadas sobre nossa vida, aliviando-nos do peso da aflição que o pecado nos causa. Como o autor do salmo experimenta a graça do Senhor e o seu livramento, ele louva e aguarda pela intervenção divina. Isso tem um efeito fantástico no que esperamos para o porvir. Se sonhamos com uma realidade diferente para nós e para o mundo, e já podemos experimentar parte desse sonho nos dias atuais, a certeza de que esse sonho é real e está para chegar aumenta — e isso intensifica nossa fé e nossa perseverança. Como a nossa vida cotidiana não se dissocia da realidade espiritual, essa “fórmula” se aplica a todo tipo de sonho. Lembrar que nossa esperança maior está no dia em que Cristo se tornará Senhor de todas as coisas de forma plena e que, por causa da sua graça, já é possível experimentar esse senhorio hoje, nos inspira a sonhar. Na pesquisa “Juventude Evangélica: crenças, valores, atitudes e sonhos”, feita pela Editora Ultimato em agosto de 2010 com 1.960 jovens, 1.415 relataram qual é o seu maior sonho. Muitas respostas se enquadram em quatro grupos: constituir família (30%), relacionamento com Deus — buscar a vontade dele, responder ao seu chamado (17%), realização pessoal — profissão, estabilidade, conclusão de curso (17,7%), e salvação — conversão de amigos e familiares e ir para o céu (7,2%). Olhar para o resultado dessa pesquisa é como ouvir um bando de jovens dizendo: “Realmente, Deus, seus sonhos são muito bons e queremos não só sonhar com eles, mas vivê-los também”. Viver a humanidade que Deus planejou para nós é um sonho que deve ser preservado. Que escolhamos nossos caminhos sob a orientação do Pai, para que não precisemos, como Alice, em algum momento acordar de um sonho (ou de uma vida inteira) ruim.
  • 34. 34 ULTIMATO I Setembro-Outubro, 2010 Onde está a verd crise da igre ESPECIAL A crise da pedofilia na igreja romano- católica não é nada em comparação à verdadeira crise — essa sim, estrutural — que concerne à sua institucionalidade histórico-social. Não me refiro à igreja como comunidade de fiéis. Esta continua viva apesar da crise, se organizando de forma comunitária e não piramidal como a Igreja da Tradição. A questão é: que tipo de instituição representa essa comunidade de fé? Como se organiza? Atualmente, ela comparece como defasada da cultura contemporânea e em forte contradição com o sonho de Jesus, percebida pelas comunidades que se acostumaram a ler os Evangelhos em grupos e então fazer suas análises. Dito de forma breve, mas não caricata: a instituição-igreja se sustenta sobre duas formas de poder: um secular, organizativo, jurídico e hierárquico, herdado do Império Romano, e outro espiritual, assentado sobre a teologia política de Santo Agostinho acerca da Cidade de Deus, que ele identifica com a instituição- igreja. Em sua montagem concreta, não é tanto o evangelho ou a fé cristã que contam, mas esses poderes, considerados como um único “poder sagrado” (potestas sacra) também na forma de sua plenitude (plenitudo potestatis) no estilo imperial romano da monarquia absolutista. César detinha todo o poder: político, militar, jurídico e religioso. O Papa, semelhantemente, detém igual poder: “ordinário, supremo, pleno, imediato e universal” (Cânon 331), atributos só Leonardo Boff Fonte: Adital Notícias (www.adital.com.br) www.leonardoboff.com