O documento resume a obra "Mar Morto" de Jorge Amado, fornecendo informações sobre: 1) o contexto histórico e social no Brasil e no mundo em que a obra foi escrita; 2) a trajetória do autor Jorge Amado e características de sua obra; 3) sinopse da narrativa, que descreve a vida dos pescadores na Bahia e a relação com a deusa Iemanjá.
1. Análise da obra “Mar Morto”
Prof. Me. Fabrício Ferreira
@fasanfer
2. Contexto sócio-histórico
No mundo:
• Fim dos ecos da “Belle Époque”;
• Século XX: o século que começa em 1914;
• A Primeira Guerra Mundial;
• O surgimento dos partidos Nazista alemão e fascista italiano;
• Período entreguerras e a ascensão do Totalitarismo;
• Os EUA se tornam a maior potência do planeta;
• Crise de 1929: “a grande depressão”.
3. No Brasil:
• Busca por recuperação econômica: economia centrada
no café, na borracha, no algodão e no cacau;
• Campanha da vacina de Oswaldo Cruz;
• Incorporação do Acre;
• Revolta do Forte de Copacabana e Guerra do
Contestado;
• Revolução de 30 (Ditadura Vargas).
Contexto sócio-histórico
5. Trajetória
• Baiano de Itabuna (1912-2001);
• Um dos maiores representantes da
ficção regionalista brasileira;
• Obra pertencente à segunda fase do
Modernismo brasileiro (geração de 30
ou regionalismo);
• Traduzido para mais de 30 idiomas;
• Obra centrada na exposição e análise
realística dos ambientes urbanos e
rurais da Bahia;
• Cresceu no interior da Bahia, onde
teve como cenário as fazendas,
plantações de cacau e as disputas
por terras na região.
JORGE AMADO
6. • Estudou em internatos, onde fez suas
primeiras publicações;
• Frequentava o candomblé e fez amizade
com pais-de-santo (presente em
Jubiabá e Tenda dos Milagres);
• Mudou-se para o RJ, ingressou no
Partido Comunista;
• Publica a primeira obra “O País do
Carnaval” (1931);
• Foi preso junto com Graciliano Ramos
por pertencer à Aliança Libertadora
Nacional;
• Publica “Cacau” (1933), “Mar Morto”
(1936) e “Capitães de Areia” (1937);
• Foi deputado federal pelo Partido
Comunista, mas cassado;
• Morre em agosto de 2001.
JORGE AMADO
Trajetória
8. Geração de 30
SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA
• Marca a consolidação dos ideais
modernistas de 1922;
• Iniciada com “Alguma Poesia”(1930)
de Carlos Drummond de Andrade e “A
Bagaceira”(1928) de José Américo de
Almeida;
• Representou o amadurecimento de
nossa literatura;
• Foco em temas nacionais, sociais e
históricos;
• Para muitos, considerada o período
de maior qualidade de nossa
produção literária.
9. Características
• Influência do Realismo e do
Romantismo;
• Nacionalismo, universalismo e
regionalismo;
• Realidade social, cultural e
econômica;
• Valorização da cultura brasileira;
• Influência da Psicanálise de
Freud;
• Temática cotidiana e linguagem
coloquial;
• Uso de versos livres e brancos;
• Produção em prosa e em poesia.
SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA
11. Características
• Marcada por romances regionalistas e
urbanos;
• Destaque para Rachel de Queiroz, José
Lins do Rego, Graciliano Ramos, José
Américo de Almeida e Jorge Amado;
• Temas centrais: seca, vida dos retirantes,
fome, miséria, Nordeste, mestiçagem,
exploração dos trabalhadores, meninos
de rua abandonados, ciclo do açúcar.
PROSA
12. Características
JORGE AMADO
• Neorregionalismo;
• Ausência de idealizações;
• Neorrealismo (narrador parcial);
• Crítica sócio-política;
• Determinismo;
• Valorização do espaço;
• Linguagem objetiva;
• Narrativa envolvente;
• Linguagem poética, mesmo na
prosa;
• Apreço pela linguagem coloquial.
14. 1ª FASE: Engajamento e temática dos
problemas sociais
2ª FASE: Aborda o contexto do ciclo do
cacau na BA
3ª FASE: Lírica
15. A narrativa...
Conta as histórias da beira do cais da Bahia, e sintetizou a rica mitologia que
gira em torno de Iemanjá, a Rainha do Mar. Assim como os outros pescadores e
marinheiros, Guma parece ser prisioneiro de um destino traçado há muitas gerações.
Sem temer o mar, ele sabe que um dia irá para as profundezas das águas, para perto
de Iemanjá, por isso pretende deixar antes boas memórias e ser conhecido por todos
da humilde comunidade.
Descrevendo a paisagem, cultura e economia do cais da Bahia, “Mar Morto”
conta o cotidiano dos pescadores e é conduzido pela crença deles na figura divina de
Iemanjá. Guma não se intimidava com nada, afinal, era consciente da proteção
constante de sua mãe Janaína como ele chamava Iemanjá. Ao longo da narrativa,
seus pensamentos e atitudes são relacionados à deusa. Devoto fiel da Rainha do Mar,
o pescador corajoso dono do saveiro “Valente” deseja encontrar uma mulher que
alcance os papéis de mãe e esposa. Por uma estrada longe do mar, aparecerá sua
amada Lívia com quem viverá um amor proibido.
16. O autor deixa nas entrelinhas do romance algumas críticas sociais. Ao
narrar a história de Guma e o tio Seu Francisco, Jorge Amado denuncia a luta
diária dos trabalhadores pela sobrevivência, a miséria e condição que esperam
as mulheres viúvas dos pescadores, além de expor a divisão social entre
prostitutas, vagabundos, meninos abandonados, marinheiros, canoeiros,
pescadores e burgueses proprietários urbanos e rurais. Nesse momento,
destacam-se no romance o médico Rodrigo e a professora Dulce, personagens
que procuram despertar a consciência das pessoas do cais contra o marasmo,
a falta de educação e opressão.
Preocupada com o futuro de Guma, reaparece sua mãe que há muitos
anos estava afastada, ela quer livrar o filho do mesmo destino que o pai dele
como marinheiro teve. Em todas mulheres conhecidas por Guma existe a
dualidade de mãe e esposa, como a personagem Rosa Palmeirão e é claro a
figura mítica de Iemanjá. Guma se sente muito incomodado com a presença
de sua mãe que é prostituta, ele não consegue olhar para ela com inocência,
no fundo ele a enxerga somente como uma mulher para satisfazer desejos
sexuais.
17. Guma representa Orungã, o filho de Iemanjá. Orungã era
apaixonado por sua mãe, se assemelhando ao Édipo Rei da mitologia
clássica. Certo dia, não suportando o próprio desejo, ele aproveitou da
ausência de seu pai e tentou violentar Iemanjá. Resistindo bravamente
ao filho, ela acabou caindo e falecendo, seu corpo então se inchou até
dar origem a um grande manancial de águas que brotaram de seus
seios. Do seu ventre saíram vários outros orixás que são colocados
como seus filhos. O nome Iemanjá significa “mãe cujos filhos são como
peixes”.
18. “Ela é a mãe d’água, é a dona do mar, e por isso, todos os
homens que vivem em cima das ondas a temem e a amam. Ela castiga.
Ela nunca se mostra aos homens, a não ser quando eles morrem no
mar. E aqueles que morrem salvando outros homens, esses vão com ela
pelos mares afora […] Destes ninguém encontra os corpos, que eles vão
com Iemanjá […] Será que ela dorme com todos eles no fundo das
águas?”
19. A OBRA
Obra neorrealista ou obra de ficção realista, de caráter social e
político;
Prosa-poética;
Narrativa de caráter denuncista, mas menos panfletárias que outras;
Mar Morto pertence à primeira fase da obra do autor;
Enredo: amor de Guma e Lívia, a ancestralidade religiosa africana, o
mito de Iemanjá e as profundas desigualdades sociais;
Obra de caráter épico, mítico e místico;
Obra dividida em 3 partes:
1ª parte: “Iemanjá, dona dos mares e dos saveiros”
2ª parte: “O paquete voador”
3ª parte: “Mar morto”
20. 1ª parte: “Iemanjá”
Contextualização sobre a infância de Guma e sobre sua vida no cais e
começa também a se desenrolar seu envolvimento com Lívia;
É apresentado o espaço, os personagens, seus costumes, suas canções,
sua fé e as dificuldades em que vivem;
Fica evidenciada a relação dos pescadores com o mar (transcende o
sustento);
Iemanjá é a “governanta” dos destinos, rege a vida e a morte (o que
confirma o caráter mítico e místico da obra);
Iemanjá, Rainha de Aiocá, Janaína, sereia, mãe d’água, dona do mar, Inaê,
Maria etc. (cuidado com a antonomásia);
A obra começa pelo fim e sela o destino de Guma, como a realidade de
pobreza que parece ser o destino inafastável de todos ali (uma espécie de
fatalismo, determinismo).
21. 2ª parte: “Paquete voador”
Retrata o período das maiores dificuldades financeiras no cais;
Paixão pelo mar x orgulho: humanização de Guma (prefere se
endividar a ir trabalhar na cidade);
Endividado, o mito “Guma” é posto em xeque (aceita participar
do contrabando);
Guma “morre”?
22. 3ª parte: “Mar Morto”
Evidencia a jornada os amigos e familiares de Guma em resgatar
seu corpo;
O “Paquete voador” personifica o corpo de Guma;
Transição da personagem Lívia (de repulsa ao mar, para
incorporar-se a ele);
Lívia, o filho e Rosa Palmeirão no mar representa o início de uma
pretensa mudança de realidade;
Empoderamento das mulheres que mudam seus destinos;
Lívia é vista como Iemanjá.
23. Espaço: Salvador/BA, Baía de Todos os Santos, Gamboa de Cima,
cais de Salvador, Cachoeira, Santo Amaro, Maragogipe, Itaparica;
Tempo: Cronológico com a presença de analepse (2-1-2-3) e
“flashforward”;
Narrativa linear, mas inicia “in media res”;
Narrador onisciente (3ª pessoa);
Obra construída a partir de ambivalências: cidade alta x cidade
baixa, claridade x escuridão, mundo objetivo x mundo misterioso,
vida x morte, riqueza x pobreza, amor ao mar x ódio ao mar etc.
24. Personagens
Guma – É o protagonista, personagem em torno do qual gira toda a trama. Já observamos
anteriormente o caráter épico de Guma, capaz de realizar feitos notáveis, incomuns. Mas Guma não é
apenas um poço de bondade. Há nele, além de um determinismo fatalista, a certeza da morte
prematura, um comportamento instintivo, típico dos personagens naturalistas;
Lívia – Mulher de Guma, não nos reserva nenhuma surpresa. Seu comportamento é exemplarmente
linear. Até mesmo a decisão de substituir Guma na direção do saveiro torna-se óbvia, pois é uma
forma de manter-se ligada a ele e, sobretudo, uma garantia de fidelidade!
Francisco – Personagem cativante, especialmente porque o narrador tem por ele imensa simpatia.
Não seria arriscado dizer que é a principal fonte das histórias narradas. Inúmeras vezes a narrativa é
conduzida sob sua perspectiva. Símbolo da sabedoria popular.
Chico Tristeza –Simboliza o marinheiro que não tem amarras em nenhum porto. É homem do
mundo. Aprendeu outras línguas e conta histórias de outros portos.
Rosa Palmeirão – Personagem um tanto inverossímil, mas nem por isso menos simpática. Mulher
valente, famosa pelas confusões em que se meteu, apaixona-se por Guma, que tinha idade para ser seu
filho. Com um espírito parecido ao de Chico Tristeza, entretanto, ela parte de volta para o mundo. Ao
final, cumprindo antiga promessa, retorna para ser “avó” do filho de Guma. Com a morte deste, passa
a ser parceira de Lívia na direção do saveiro.
25. Mãe de Guma – Simbolicamente inominada, a mãe de Guma tem pouca participação na trama.
Seu único encontro com o filho, entretanto, é perturbador: o menino passa a vê-la como um
objeto de desejo sexual. Não lhe importava a condição de mãe, que para ele, àquela altura da
vida, já não fazia falta. Guma queria, sim, a prostituta, a mulher que poderia lhe dar prazer físico.
Durante muitos anos, Guma procura por essa mulher nas mulheres com quem se relaciona,
especialmente com Rosa Palmeirão. Somente após conhecer Lívia, ele se liberta dessa obsessão.
D. Dulce – Professora, D. Dulce é uma personagem típica. Idealista, espera que aconteça um
milagre, que “virá assim, de repente, como uma tempestade”. Ela mesma não sabe o que é esse
milagre que mudará a vida da gente do cais. Ao final da narrativa, ficamos sabendo que o milagre
é a própria luta do povo, a resistência contra o determinismo, a busca pela mudança de melhores
condições de vida. Não está dito em nenhum lugar da narrativa, mas o milagre pelo qual D.
Dulce espera com tanto ansiedade, sem saber exatamente o que é, é a revolução socialista.
Dr. Rodrigo – Juntamente com D. Dulce, Dr. Rodrigo representa o mundo exterior, a
influência externa na tomada de consciência do povo do cais. Médico e poeta, embora
confessadamente medíocre, Rodrigo representa a classe média associada ao proletariado do cais.
Suas ações são sempre dignas e altruístas, mesmo quando faz abortos nas mulheres do cais. “É
justo que muitas delas não queiram mais ter filhos”, ele justifica, antecipando em mais de meio
século uma discussão ainda hoje não resolvida.
Rodolfo – Irmão de Lívia por parte de pai, amigo de infância de Guma, é o malandro típico.
Vive de pequenos expedientes, mas o seu pudor em convidar Guma para o negócio do
contrabando mostra que no fundo ele tem admiração pelo caráter até então ilibado do cunhado.
26. Rufino e Esmeralda – Rufino é o melhor amigo de Guma. É um personagem de apoio a este.
Desde as primeiras brigas de adolescentes, os dois estão sempre juntos. Ao conhecer Esmeralda,
passam a morar praticamente juntos, parede a parede. Essa proximidade, entretanto, acaba por
revelar-se malfazeja, pois Esmeralda passa a seduzir Guma, que não resiste à tentação, traindo o
amigo.
Manuel e Maria Clara – Idealizados, representam a própria felicidade conjugal. Em nenhum
momento aparecem separados. A ação de ambos é carregada de sensualidade e lirismo
(Romantismo)
O Mar – Também personagem importante, o mar é aliado (menos para Lívia). É o mar que
proporciona trabalho e alimento. O mar é a casa de Dona Janaína e é a última morada dos
marinheiros afogados: “é doce morrer no mar...”
Iemanjá – A senhora dos cinco nomes pontua toda a narrativa. Sua presença constante, aliás, dá
uma outra dimensão à narrativa, livrando-a das amarras de um naturalismo caduco. Iemanjá é o
transcendente, o suprarreal, a fecundidade e o desejo. Em várias ocasiões, o narrador a associa à
mãe-esposa, numa clara referência psicanalítica. Chamada também de Janaína, Dona Maria, Inaê
e Princesa de Aiocá.
28. Análise de alguns trechos
Trecho 1
“Vinde ouvir essas histórias e essas canções. Vinde ouvir a
história de Guma e de Lívia, que é a história da vida e do amor no
mar. E se ela não vos parecer bela a culpa não é dos homens
rudes que a narram. É que a ouvistes da boca de um homem da
terra, e dificilmente um homem da terra entende o coração dos
marinheiros.” (AMADO, 2004, p.1).
29. Trecho 2
“Nas noites da sua infância, muitas vezes dormiu no
tombadilho do saveiro, atracado ao pequeno cais. De um
lado, enorme e iluminada de mil lâmpadas elétricas,
estava a cidade. [...] Na cidade tudo era claro e sem
mistério como a luz das lâmpadas. No mar, tudo era
misterioso como a luz das estrelas” (AMADO, 2004, p. 41).
30. Trecho 3:
“E na terra não há Iemanjá, não há as festas de D. Janaína,
não há música tão triste. Nunca a música da terra, a vida
da terra, tentou o coração de Guma. Mesmo na beira do
cais nunca se contou uma história que referisse o caso de
um filho de marinheiro ser tentado pela vida calma da
cidade. [...] Bem que um homem pode ser tentado a ir pelo
mar para outras terras, isso sim. Mas a deixar seu saveiro
pela vida de terra, isso, só com uma gargalhada e um
trago de cachaça se pode ouvir.” (AMADO, 2004, p. 41).
31. Trecho 4:
“[...] um navio, uma canoa, um saveiro, uma tábua, qualquer
coisa sobre o mar, é a pátria desses homens do cais, do povo
de Iemanjá.” (AMADO, 2004, p. 62).
32. Trecho 5:
“Eram muitos os meninos como ele no cais, agora homens
nos saveiros. Não esperavam grande coisa da vida: viajar
sobre as ondas, ter um saveiro seu, beber no Farol das
Estrelas, fazer um filho que seguisse seu destino e ir um dia
com Iemanjá. Bem que canta uma voz no cais nas noites
mais belas: É doce morrer no mar…” (AMADO, 2004, p. 44).
33. Trecho 6:
“Doutor nunca saíra da beira do cais. No entanto já haviam
saído maquinistas, foguistas e, até, um progrediu tanto que
chegou a telegrafista de um navio de passageiros. [...] O
destino deles já estava traçado. Era a proa de um saveiro, os
remos de uma canoa, quando muito as máquinas de um navio,
ideal grandioso que poucos alimentavam. [...] os meninos do
cais não vão às Faculdades. Vão para os saveiros e para as
canoas” (AMADO, 2004, p. 38).
34. Trecho 7:
“Ela é a mãe-d'água, é a dona do mar, e, por isso, todos os
homens que vivem em cima das ondas a temem e a amam. Ela
castiga. Ela nunca se mostra aos homens, a não ser quando eles
morrem no mar. Os que morrem na tempestade são seus
preferidos. E aqueles que morrem salvando outros homens, esses
vão com ela pelos mares em fora, igual a um navio, viajando por
todos os portos, correndo por todos os mares. Destes, ninguém
encontra os corpos, que eles vão com Iemanjá. Para ver a mãe-
d’água, muitos já se jogaram no mar sorrindo e não mais
apareceram.” (AMADO, 2004, p. 15).
36. O pescador tem dois amor
Um bem na terra, um bem no mar
O bem de terra é aquela que fica
Na beira da praia quando a gente sai
O bem de terra é aquela que chora
Mas faz que não chora quando a gente sai
O bem do mar é o mar, é o mar
Que carrega com a gente
Pra gente pescar
Dorival Caymmi
37. É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio foi
Foi de tristeza pra mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi pra mim
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
Saveiro partiu de noite foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
Nas ondas verdes do mar meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá
38. Leia o fragmento de texto, extraído de Mar Morto, de Jorge Amado.
Agora eu quero contar as histórias da beira do cais da Bahia. Os velhos marinheiros que remendam
velas, os mestres dos saveiros, os pretos tatuados, os malandros sabem essas histórias e essas
canções. Eu as ouvi nas noites de lua no cais do mercado, nas feiras, nos pequenos portos do
Recôncavo, junto aos enormes navios suecos nas pontes de Ilhéus. O povo de Iemanjá tem muito o que
contar. Vinde ouvir essas histórias e essas canções. Vinde ouvir a história de Guma e Lívia, que é a
história da vida e do amor no mar. E se ela não vos parecer bela a culpa não é dos homens rudes que a
narram. É que ouvistes da boca de um homem da terra e, dificilmente, um homem da terra entende o
coração dos marinheiros. Mesmo quando esse homem ama essas histórias e essas canções e vai às
festas de dona Janaína, mesmo assim ele não conhece todos os segredos do mar. Pois o mar é
mistério que nem os velhos marinheiros entendem. AMADO, Jorge. Mar morto. Círculo do Livro: São
Paulo, 1987.
Considere as seguintes afirmações acerca do fragmento de texto acima
I - O mar é uma simples paisagem e tem pouca importância nas relações estabelecidas entre os
marinheiros, os saveiros, os pretos e os demais personagens do texto.
II - As histórias relatadas pelo narrador em primeira pessoa são produto da experiência que ele teve
como ouvinte do povo da Bahia.
III - O fragmento de enredo destaca espaços da cidade de Salvador – o cais e o mar – sua gente (os
saveiristas e os pescadores) e sua religiosidade manifestada na fé em Iemanjá.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
39. Leia o trecho da canção É doce morrer no mar, de Dorival Caymmi e Jorge Amado, e o excerto de Mar morto, de Jorge Amado
.
É doce morrer no mar
Nas ondas verdes do mar
A noite que ele não veio
Foi de tristeza pra mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi pra mim (...)
Nas ondas verdes do mar meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá
Os meninos que saíam da escola nunca tiveram nenhum desses pensamentos. O destino deles já estava traçado. Era a proa de um
saveiro, os remos de uma canoa, quando muito as máquinas de um navio, ideal grandioso que poucos alimentavam. O mar estava
diante dela e já tragara muitos alunos seus, e tragara, também, seus sonhos de moça. O mar é belo e é terrível. O mar é livre, dizem, e
livres são os que vivem nele. Mas Dulce bem sabia que não era assim, que aqueles homens, aquelas mulheres, aquelas crianças, não
eram livres, estavam acorrentados ao mar, estavam presos como escravos, e Dulce não sabia onde estavam as cadeias que os
prendiam, onde estavam os grilhões dessa escravidão.
Com base nos excertos, preencha os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) Tanto a canção quanto o excerto apresentam a ambiguidade da relação positiva e negativa do homem com o mar.
( ) De acordo com o excerto de Amado, entre as possibilidades de trabalho no mar, exercer a atividade num navio é sonho acalentado
por quase todos os meninos que saem das escolas.
( ) O repouso junto a orixás africanos pode ser visto como uma forma de suavizar a morte no mar, de acordo com a canção.
( ) Dulce vê o mar de modo benéfico, como um espaço para a liberdade do homem confinado às agruras da vida nas cidades.
O correto preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V – F – V – V
b) F – F – V – V
c) V – V – F – V
d) V – F – V – F
e) F – V – F – F