Este poema descreve a cidade de Lisboa através dos olhos melancólicos do eu lírico. A cidade é retratada como um espaço opressivo e decadente, onde o eu lírico se sente aprisionado. Contrapõe a grandeza do passado português à estagnação do presente. Termina expressando o desejo de fuga e de explorar novos horizontes para restaurar a glória outrora alcançada.
2. E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem…
«O sentimento dum ocidental» —
primavera de 1880.
3. I. Ave-Marias
II. Noite fechada
III. Ao gás
IV. Horas mortas
Momentos em
que está dividido
o poema /
a descrição da
«Triste cidade!»
Seis da tarde
Noite profunda
Escuridão
Iluminação a gás
4. I . Ave-Marias
• Espaço
• Altura do dia
«Nas nossas ruas» (Lisboa)
«ao anoitecer»
Sentimentos
Melancolia
Soturnidade
Náusea
Seis da tarde
Provocam o «desejo
absurdo de sofrer»
6. Desejo associado
ao espaço e às sensações
que o eu lírico regista
«desejo absurdo
de sofrer»
As «nossas ruas» O «mundo»
Presente
angustiante
e melancólico
Passado
grandioso
e heroico
• O gás — enjoa e perturba
• Os edifícios e a turba — são
de cor monótona e londrina
• As edificações — são como gaiolas
Dicotomia espacial e temporal:
Recordação
de um passado
glorioso
Felicidade
dos que partem:
«[…] os que
se vão. Felizes!»
I . Ave-Marias
7. «E evoco, então, as crónicas navais […]»
«Luta Camões no Sul, salvando um livro, a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!»
I. Ave-Marias
Impossibilidade
de repetir
a epopeia
Desencanto
e regresso
ao presente
Sensações
— visuais, auditivas e olfativas —
captadas em deambulação:
• Tinir de louças
• Hotéis que flamejam
• O rio que reluz, viscoso
• Os dentistas que arengam
• As varinas hercúleas
• O cheiro do peixe pobre
8. Descrição das varinas
«E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.»
«Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;»
Comparação
Anteposição da qualidade
à designação do objeto
Comiseração
do sujeito poético:
«E algumas, à cabeça,
embalam nas canastras /
Os filhos que depois
naufragam nas tormentas.»
I. Ave-Marias
Metáfora Adjetivação
10. II. Noite fechada
«iluminam-se
os andares»
A escuridão adensa-se
Estrofes 1 e 2:
descrição da prisão (sentido literal)
«Toca-se às grades,
nas cadeias»
Passagem para um
sentido metafórico:
a realidade aprisiona o eu lírico
«Muram-me as construções»
O eu lírico continua
a evocação — aventura-se
pela História e emociona-se:
«Chora-me o coração que
se enche e que se abisma.»
• As igrejas lembram um «inquisidor severo»
• Os quartéis lembram conventos
• Nova referência a Camões
11. Vítor Bastos, Monumento a Camões
(Praça Luís de Camões, Lisboa, 1867).
«Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutroraascende, num pilar!»
«épico doutrora»:
Camões como símbolo
Símbolo da epopeia só possível
como memória — irrepetível
(No poema «Contrariedades»,
Cesário fala numa «epopeia morta»)
12. O eu lírico descreve
a realidade através de uma
«luneta de uma lente só»
Visão pessoal
+
descrição crítica
É na realidade que encontra assunto:
«Eu acho sempre assunto a quadros revoltados»
Descrição da
«Triste cidade!»
• Soldados sombrios e espectrais
• Oposição entre o palácio e o casebre
• Contraste entre as elegantes que se curvam
nas montras e as que vivem do trabalho
II. Noite fechada
13. III. Ao gás
«A noite pesa, esmaga»
Acentua-se a ideia de
aprisionamento/clausura:
«Cercam-me as lojas, tépidas»
A cidade está iluminada pela luz
artificial dos candeeiros a gás
Edvard Munch, Noite estrelada (1893).
14. A cidade é descrita
como espaço impuro
• Espaço da doença
— o hospital como metonímia —
e da prostituição
• Espaço em que o espírito
consumista começa a imperar
Toulouse-Lautrec, Prostitutas (1895).
Impureza da cidade
≠
Honestidade do trabalho
(representada no «cheiro
salutar e honesto do pão»)
III. Ao gás
15. «E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem»
• Reencontra o velho professor de latim:
«Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de latim!»
III. Ao gás
Síntese da intenção
do eu lírico
(conceção poética):
fazer uma poesia
de análise e crítica
à sociedade
Simboliza, no seio
de uma sociedade onde
o luxo se amontoa,
o desprezo pela cultura
e pelo saber
• Retrata espaços associados ao consumismo
e à burguesia:
«Casas de confeções e modas»;
«luxo […] / que ao longo dos balcões
de mogno se amontoa»
«Mas tudo cansa!»
16. Noite profunda
Luz baça das estrelas:
«Vêm lágrimas de luz
dos astros com olheiras»
(metáfora e personificação)
• Registo de sensações
visuais e auditivas:
«lágrimas de luz»
«Um parafuso cai nas lajes»
• Desejo de evasão:
«Enleva-me a quimera azul
de transmigrar»
• Alusão a um ambiente pastoril:
«As notas pastoris de uma longínqua flauta»
• Desejo de perfeição e imortalidade:
«Se eu não morresse nunca […]»
• Nova evocação do passado português
(«frotas dos avós»), aliada ao desejo
de restaurar a grandeza no «porvir»
explorando «todos os continentes»
IV. Horas mortas
17. Realidade — Presente — As «nossas ruas» Sonho — O porvir — A vastidão
• O aprisionamento
|
• A estagnação
• A vastidão por explorar
|
• O dinamismo e a procura
Dicotomia (repetição) espacial e temporal:
A cidade é
o espaço da
«dor humana»
IV. Horas mortas
«triste cidade»
• sem liberdade:
onde vivem os «emparedados»,
«sem árvores», no «vale das muralhas»
• violenta e decadente:
onde «os cães [doentes] parecem lobos»
Ideias que
prevalecem
na conclusão
do poema
18. Recursos expressivos e linguagem
Metáfora
«Que grande cobra»
«cardume negro»
Hipálage
«Um cheio salutar e honesto a pão»
«E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos»
Adjetivação «hercúleas, galhofeiras»
Sinestesia «Reluz, viscoso, o rio»
Comparação «Como morcegos»
19. Recursos expressivos e linguagem
Utilização de verbos e advérbios que traduzem os efeitos opressivos do ambiente:
• «A noite pesa, esmaga» (verbos);
• «Cercam-me as lojas» (verbo);
• «Amareladamente, os cães» (advérbio).
Dimensão impressionista:
• Centralidade das sensações visuais, auditivas e olfativas
(«a maresia»: «tinir de louças»; «reluz, viscoso, o rio»; «cheiro […] a pão»).