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: ARTIGO
     A LUDOTERAPIA E A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR:
     REFLEXÕES DE UMA EDUCADORA DE INFÂNCIA.
     Catarina Homem . Educadora de infância


     Existe uma forma de terapia destinada a
     crianças que usa o brincar como forma de
     ajudar os mais pequenos a resolver situações
     ou dificuldades: a ludoterapia.
     A palavra ludoterapia é derivada da palavra
     inglesa play-therapy, podendo ser literal-
     mente traduzida como terapia pelo brincar.
     No entanto, este brincar é diferente do brin-
     car que a criança tem em casa ou com os
     amigos na creche.
     Podemos definir a ludoterapia como “… uma
     relação interpessoal dinâmica entre a criança
     e um terapeuta treinado em ludoterapia que
     providencia a esta um conjunto variado de
     brinquedos e uma relação terapêutica segura
     de forma que possa expressar e explorar ple-
     namente o seu self (sentimentos, pensamen-
     tos, experiências, comportamentos) através
     do seu meio natural de comunicação: o brin-
     car.” (Landreth, 2002, p. 16).
     Em primeiro lugar a criança encontra-se com      preender o impacto que estas têm na sua      possibilitam a sua expressão emocional
     um ludoterapeuta que está treinado para          vida. É frequente não saberem o que sentem   criativa, dá-se um passo para a expressão e
     promover durante a sessão um ambiente de         nem como as controlar, uma vez que ainda     exploração do seu self – sentimentos, pen-
     aceitação, empatia e compreensão.                não estão suficientemente desenvolvidas ao   samentos, experiências, comportamentos,
     Depois, o brincar de que aqui falamos não        nível emocional, cognitivo e linguístico.    dificuldades, que vão potenciar a mudança
     é semelhante ao brincar em que geralmente        No entanto, estando na presença de um        terapêutica.
     observamos as crianças, uma vez que a ludo-      adulto que as tenta compreender de for-      Nesta exploração, a criança enfrenta os seus
     terapia simplesmente se apropria do brincar      ma empática, proporcionando segurança e      sentimentos de frustração, agressividade,
     enquanto gesto natural da criança para ex-       utilizando brinquedos seleccionados e que    medo, insegurança, confusão, entre tan-
     primir as suas preocupações em reacção a si-
     tuações de vida, utilizando objectos familia-
     res à sua volta para compreender situações
     de stress ou novas aprendizagens.
     Na sala de ludoterapia, é a criança que con-
     duz a brincadeira, quando quer e como quer,
     escolhendo os brinquedos. Não se parte do
     princípio de que se vai transformar a crian-
     ça ou fazer coisas para ela. O ludoterapeuta
     está com a criança plenamente, utilizando os
     seus conhecimentos e técnicas para compre-
     ender a criança, através do seu próprio olhar.
     Será como perguntar: “Como sente as coisas
     aquela criança?”
     Não tentará resolver os seus problemas, mas
     sim compreender a criança.
     Assim, podemos encarar a ludoterapia para
     as crianças como a psicoterapia para os adul-
     tos. As crianças poderão sentir dificuldades
     na expressão das suas emoções e em com-




21   Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09
: ARTIGO




     tos outros, aprendendo a controlá-los ou a
     abandoná-los, ao mesmo tempo que vai per-
     cebendo que é uma pessoa autónoma e com
     direito a sentir todas essas emoções.
     Assim, o brincar é a forma natural de a crian-
     ça se expressar, tal como falar é a forma na-
     tural de o adulto se expressar. Na sala dos
     brinquedos, estes são usados como palavras
     e o brincar é a linguagem da criança.
     Percebemos a importância do brincar para a
     criança, não só pela sua utilização num con-
     texto terapêutico, mas também pela impor-
     tância da brincadeira em todas as dimensões
     da vida da criança.
     Mas em que consiste, de facto, o brincar?
     Uma ideia difundida popularmente limita o
     acto de brincar a um simples passatempo,
     sem funções mais importantes  que entre-
     ter uma criança com actividades divertidas.
     Sabe-se actualmente que esta ideia está
     completamente errada.
     Bergman (1998) afirma que o brincar é
     uma forma de linguagem. A maior parte
     das características desta linguagem pode
     ser constatada logo nos primeiros contac-
     tos das crianças com os seus pais ou com
     aqueles que cuidam delas. As mães ou as
     pessoas responsáveis pelos cuidados dos
     bebés ajudam-nos a brincar, desde muito
     pequenos, quando interagem com eles.
     Através de uma atitude e de uma linguagem
     segura, esses adultos estabelecem com os
     bebés laços de confiança que possibilitam o
     início do brincar.




                                                      Este é considerado como uma linguagem,       O processo do brincar é apreciado tal como é
                                                      uma vez que permite às crianças comunicar    pela criança e o produto final do brincar não
                                                      com as outras pessoas e iniciar a compre-    é o mais importante desta actividade.
                                                      ensão, desde muito cedo, de que podem        A maioria dos adultos é capaz de expressar
                                                      suportar e representar a ausência temporá-   sob a forma verbal os seus sentimentos,
                                                      ria das pessoas que amam, substituindo-as    frustrações e angústias; no entanto, a crian-
                                                      pelas primeiras brincadeiras.                ça, por ainda não ter facilidade cognitiva e




22   Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09
«Há meninos que não sabem onde há médicos». Manuel




     verbal, utiliza os brinquedos como palavras.      em que a criança realiza, constrói e se apropria   criadas e respeitadas as regras. Conviver com
     Podemos mesmo dizer que quando a criança          de conhecimentos das mais diversas ordens.         outra pessoa exige que se respeitem limites:
     brinca, o seu ser está totalmente presente.       Eles possibilitam, igualmente, a construção        os limites impostos pelo outro.
     Entende-se então que o brincar é realmente        de categorias e a ampliação dos conceitos          Surgem por isso alguns conflitos, sendo que
     uma forma de actividade complexa, que en-         das várias áreas do conhecimento.                  é nesta fase que cresce nas famílias a preo-
     volve a criança física, mental, social e emo-     Num contexto de creche (neste caso, 2 e 3          cupação com a possibilidade de o seu filho
     cionalmente, revelando os seus sentimentos,       anos), as crianças brincam imenso ao longo         ser uma criança violenta. Normalmente não
     experiências e reacções a essas mesmas ex-        do dia, tanto mais quanto lhes for dado es-        há motivo para preocupação, as crianças es-
     periências (desejos, receios, percepção de si     paço para isso. É também curioso perceber          tão apenas a crescer e a aprender cada vez
     própria, entre outros).                           que, num grupo alargado de crianças, há al-        mais sobre o comportamento humano!
     Através do brincar, a criança conhece o Mun-      gumas que procuram bastante a atenção do           A imaginação começa a dominar e brincam
     do, e com ele, conhece as pessoas, as rela-       adulto e brincar com ele, enquanto outras se       muito ao faz-de-conta. Representam pa-
     ções e regras sociais; pode imitar o adulto,      envolvem completamente nas brincadeiras,           péis, recriam situações, agradáveis ou não.
     expressando conflitos, além de, ao brincar,       individualmente e em grupo.                        Quando a criança recria estas situações, fá-
     serem transmitidos conhecimentos educa-           Cabe ao educador mediar estas situações,           lo duma forma que ela é capaz de suportar,
     cionais e este ser igualmente um indicativo       aproveitando para interagir e transmitir co-       não correndo riscos reais. É comum ver, por
     do desenvolvimento da criança: as brincadei-      nhecimentos através da brincadeira que ali         exemplo, uma criança que é a “mãe” ralhar
     ras duma criança podem ser indicativas de         se desenrola, uma vez que o lúdico possibi-        com o bebé – “Senta-te bem na cadeira! E
     alguma dificuldade ou desenvolvimento tar-        lita uma das actividades mais significativas       come a papa toda!” –, à semelhança do que
     dio em determinado aspecto, visível aos pais      para a aprendizagem. Diríamos até a mais           ela experimenta na realidade.
     e outros adultos que contactam diariamente        significativa!                                     Através do faz-de-conta, a criança traz para
     com a criança.                                    Nesta faixa etária, as crianças já desenvol-       perto de si uma situação vivida, adaptando-a
     O brincar está muito presente no dia-a-dia        veram capacidades emocionais e cognitivas          à sua realidade e necessidades emocionais.
     duma educadora de infância. É o instrumen-        para incluir outras pessoas nas suas brinca-       Percebemos então a importância das brin-
     to principal pelo qual as crianças aprendem       deiras. Anteriormente, brincavam ao lado do        cadeiras na casinha e na garagem, como os
     coisas novas e crescem a cada dia, a todos        outro, mas não com o outro. E é perceben-          “pais e as mães”, o “médico”, o “supermerca-
     os níveis: cognitivo, emocional, linguístico,     do a presença do outro que começam a ser           do”, “a oficina”, entre tantas outras.
     social e motor. É imprescindível haver este
     espaço para que as crianças se possam de-
     senvolver.
     Além de fonte de lazer, o brincar é simulta-
     neamente fonte de conhecimento. É esta
     dupla natureza que nos leva a considerar o
     brincar como parte integrante da actividade
     educativa, sobretudo no pré-escolar. Infeliz-
     mente, a brincadeira começa a ganhar cada
     vez menos importância, à medida que as
     crianças crescem, começando a haver cada
     vez mais exigências a nível intelectual.
     No dia-a-dia da sala de creche, o brincar, para
     além de possibilitar o exercício daquilo que é
     próprio no processo de desenvolvimento e
     aprendizagem, possibilita situações em que
     a criança constitui significados, sendo uma
     forma de assimilação dos papéis sociais e
     de compreensão das relações afectivas que
     ocorrem no seu meio, assim como para a
     construção do conhecimento.
     O jogo e a brincadeira são sempre situações




23   Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09
: ARTIGO




     Portanto, a brincadeira e as situações de        Como forma de conclusão, é importante sa-         compreendidas da forma que elas melhor são
     jogos são fundamentais para a vida saudá-        lientar mais uma vez a importância do brin-       capazes de se expressar: através do brincar.
     vel da criança e, por que não dizê-lo, para o    car e do lúdico, que começam a ter cada vez
     adulto também.                                   mais relevância, apesar de ainda haver um
     Pode-se em relação a isto acrescentar que, en-   grande caminho a percorrer.                       FONTES
     volvidos em brincadeiras com as crianças, os     Não só educadores e outros profissionais          Bergman, Ana. Educação Infantil I - Coleção Vitória-Régia.
     adultos sentem-se igualmente divertidos, mais    que trabalham com crianças, mas também            Campina Grande do Sul: Lago, 1998
     descontraídos e felizes, o que é benéfico para   os pais ajudariam bastante os seus filhos ao      Axline, V., «La terapia del juego en el metodo no-directivo».
                                                                                                        In Bierman (ed.), Tratado de Psicoterapia Infantil, Vol. 1 (pp.
     o clima e ambiente na sala, onde deve existir    serem esclarecidos e orientados sobre a ne-
                                                                                                        205-211). Barcelona: Espax, 1973.
     cumplicidade e harmonia. E é igualmente be-      cessidade de brincar com as crianças.             Center for Play Therapy, University of North Texas - www.
     néfico para os adultos como pessoas, se pen-     Como educadores de infância, é importante         centerforplaytherapy.com;
     sarmos no conceito de playfulness, associado,    contribuirmos para esta mudança, alertando        Garry L. Landreth, Play Therapy: the Art of Relationship,
                                                                                                        Nova Iorque: Brunner-Routledge, 2002, 2.ª edição.
     entre outros, ao bom humor, capacidade lúdica    os pais e os outros profissionais sobre estas     http://www.guiadafamilia.com/guiadospequenos/tema.
     e descontracção. Algo que deveríamos manter      questões, começando a construir um caminho        php?id=10358;
     como seres humanos depois da infância!           para que, cada vez mais, as crianças possam ser   http:/www.toquinha.com.br/aimportanciadobrincar.htm.




24   Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09

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A importância do brincar na ludoterapia

  • 1. : ARTIGO A LUDOTERAPIA E A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR: REFLEXÕES DE UMA EDUCADORA DE INFÂNCIA. Catarina Homem . Educadora de infância Existe uma forma de terapia destinada a crianças que usa o brincar como forma de ajudar os mais pequenos a resolver situações ou dificuldades: a ludoterapia. A palavra ludoterapia é derivada da palavra inglesa play-therapy, podendo ser literal- mente traduzida como terapia pelo brincar. No entanto, este brincar é diferente do brin- car que a criança tem em casa ou com os amigos na creche. Podemos definir a ludoterapia como “… uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um terapeuta treinado em ludoterapia que providencia a esta um conjunto variado de brinquedos e uma relação terapêutica segura de forma que possa expressar e explorar ple- namente o seu self (sentimentos, pensamen- tos, experiências, comportamentos) através do seu meio natural de comunicação: o brin- car.” (Landreth, 2002, p. 16). Em primeiro lugar a criança encontra-se com preender o impacto que estas têm na sua possibilitam a sua expressão emocional um ludoterapeuta que está treinado para vida. É frequente não saberem o que sentem criativa, dá-se um passo para a expressão e promover durante a sessão um ambiente de nem como as controlar, uma vez que ainda exploração do seu self – sentimentos, pen- aceitação, empatia e compreensão. não estão suficientemente desenvolvidas ao samentos, experiências, comportamentos, Depois, o brincar de que aqui falamos não nível emocional, cognitivo e linguístico. dificuldades, que vão potenciar a mudança é semelhante ao brincar em que geralmente No entanto, estando na presença de um terapêutica. observamos as crianças, uma vez que a ludo- adulto que as tenta compreender de for- Nesta exploração, a criança enfrenta os seus terapia simplesmente se apropria do brincar ma empática, proporcionando segurança e sentimentos de frustração, agressividade, enquanto gesto natural da criança para ex- utilizando brinquedos seleccionados e que medo, insegurança, confusão, entre tan- primir as suas preocupações em reacção a si- tuações de vida, utilizando objectos familia- res à sua volta para compreender situações de stress ou novas aprendizagens. Na sala de ludoterapia, é a criança que con- duz a brincadeira, quando quer e como quer, escolhendo os brinquedos. Não se parte do princípio de que se vai transformar a crian- ça ou fazer coisas para ela. O ludoterapeuta está com a criança plenamente, utilizando os seus conhecimentos e técnicas para compre- ender a criança, através do seu próprio olhar. Será como perguntar: “Como sente as coisas aquela criança?” Não tentará resolver os seus problemas, mas sim compreender a criança. Assim, podemos encarar a ludoterapia para as crianças como a psicoterapia para os adul- tos. As crianças poderão sentir dificuldades na expressão das suas emoções e em com- 21 Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09
  • 2. : ARTIGO tos outros, aprendendo a controlá-los ou a abandoná-los, ao mesmo tempo que vai per- cebendo que é uma pessoa autónoma e com direito a sentir todas essas emoções. Assim, o brincar é a forma natural de a crian- ça se expressar, tal como falar é a forma na- tural de o adulto se expressar. Na sala dos brinquedos, estes são usados como palavras e o brincar é a linguagem da criança. Percebemos a importância do brincar para a criança, não só pela sua utilização num con- texto terapêutico, mas também pela impor- tância da brincadeira em todas as dimensões da vida da criança. Mas em que consiste, de facto, o brincar? Uma ideia difundida popularmente limita o acto de brincar a um simples passatempo, sem funções mais importantes  que entre- ter uma criança com actividades divertidas. Sabe-se actualmente que esta ideia está completamente errada. Bergman (1998) afirma que o brincar é uma forma de linguagem. A maior parte das características desta linguagem pode ser constatada logo nos primeiros contac- tos das crianças com os seus pais ou com aqueles que cuidam delas. As mães ou as pessoas responsáveis pelos cuidados dos bebés ajudam-nos a brincar, desde muito pequenos, quando interagem com eles. Através de uma atitude e de uma linguagem segura, esses adultos estabelecem com os bebés laços de confiança que possibilitam o início do brincar. Este é considerado como uma linguagem, O processo do brincar é apreciado tal como é uma vez que permite às crianças comunicar pela criança e o produto final do brincar não com as outras pessoas e iniciar a compre- é o mais importante desta actividade. ensão, desde muito cedo, de que podem A maioria dos adultos é capaz de expressar suportar e representar a ausência temporá- sob a forma verbal os seus sentimentos, ria das pessoas que amam, substituindo-as frustrações e angústias; no entanto, a crian- pelas primeiras brincadeiras. ça, por ainda não ter facilidade cognitiva e 22 Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09
  • 3. «Há meninos que não sabem onde há médicos». Manuel verbal, utiliza os brinquedos como palavras. em que a criança realiza, constrói e se apropria criadas e respeitadas as regras. Conviver com Podemos mesmo dizer que quando a criança de conhecimentos das mais diversas ordens. outra pessoa exige que se respeitem limites: brinca, o seu ser está totalmente presente. Eles possibilitam, igualmente, a construção os limites impostos pelo outro. Entende-se então que o brincar é realmente de categorias e a ampliação dos conceitos Surgem por isso alguns conflitos, sendo que uma forma de actividade complexa, que en- das várias áreas do conhecimento. é nesta fase que cresce nas famílias a preo- volve a criança física, mental, social e emo- Num contexto de creche (neste caso, 2 e 3 cupação com a possibilidade de o seu filho cionalmente, revelando os seus sentimentos, anos), as crianças brincam imenso ao longo ser uma criança violenta. Normalmente não experiências e reacções a essas mesmas ex- do dia, tanto mais quanto lhes for dado es- há motivo para preocupação, as crianças es- periências (desejos, receios, percepção de si paço para isso. É também curioso perceber tão apenas a crescer e a aprender cada vez própria, entre outros). que, num grupo alargado de crianças, há al- mais sobre o comportamento humano! Através do brincar, a criança conhece o Mun- gumas que procuram bastante a atenção do A imaginação começa a dominar e brincam do, e com ele, conhece as pessoas, as rela- adulto e brincar com ele, enquanto outras se muito ao faz-de-conta. Representam pa- ções e regras sociais; pode imitar o adulto, envolvem completamente nas brincadeiras, péis, recriam situações, agradáveis ou não. expressando conflitos, além de, ao brincar, individualmente e em grupo. Quando a criança recria estas situações, fá- serem transmitidos conhecimentos educa- Cabe ao educador mediar estas situações, lo duma forma que ela é capaz de suportar, cionais e este ser igualmente um indicativo aproveitando para interagir e transmitir co- não correndo riscos reais. É comum ver, por do desenvolvimento da criança: as brincadei- nhecimentos através da brincadeira que ali exemplo, uma criança que é a “mãe” ralhar ras duma criança podem ser indicativas de se desenrola, uma vez que o lúdico possibi- com o bebé – “Senta-te bem na cadeira! E alguma dificuldade ou desenvolvimento tar- lita uma das actividades mais significativas come a papa toda!” –, à semelhança do que dio em determinado aspecto, visível aos pais para a aprendizagem. Diríamos até a mais ela experimenta na realidade. e outros adultos que contactam diariamente significativa! Através do faz-de-conta, a criança traz para com a criança. Nesta faixa etária, as crianças já desenvol- perto de si uma situação vivida, adaptando-a O brincar está muito presente no dia-a-dia veram capacidades emocionais e cognitivas à sua realidade e necessidades emocionais. duma educadora de infância. É o instrumen- para incluir outras pessoas nas suas brinca- Percebemos então a importância das brin- to principal pelo qual as crianças aprendem deiras. Anteriormente, brincavam ao lado do cadeiras na casinha e na garagem, como os coisas novas e crescem a cada dia, a todos outro, mas não com o outro. E é perceben- “pais e as mães”, o “médico”, o “supermerca- os níveis: cognitivo, emocional, linguístico, do a presença do outro que começam a ser do”, “a oficina”, entre tantas outras. social e motor. É imprescindível haver este espaço para que as crianças se possam de- senvolver. Além de fonte de lazer, o brincar é simulta- neamente fonte de conhecimento. É esta dupla natureza que nos leva a considerar o brincar como parte integrante da actividade educativa, sobretudo no pré-escolar. Infeliz- mente, a brincadeira começa a ganhar cada vez menos importância, à medida que as crianças crescem, começando a haver cada vez mais exigências a nível intelectual. No dia-a-dia da sala de creche, o brincar, para além de possibilitar o exercício daquilo que é próprio no processo de desenvolvimento e aprendizagem, possibilita situações em que a criança constitui significados, sendo uma forma de assimilação dos papéis sociais e de compreensão das relações afectivas que ocorrem no seu meio, assim como para a construção do conhecimento. O jogo e a brincadeira são sempre situações 23 Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09
  • 4. : ARTIGO Portanto, a brincadeira e as situações de Como forma de conclusão, é importante sa- compreendidas da forma que elas melhor são jogos são fundamentais para a vida saudá- lientar mais uma vez a importância do brin- capazes de se expressar: através do brincar. vel da criança e, por que não dizê-lo, para o car e do lúdico, que começam a ter cada vez adulto também. mais relevância, apesar de ainda haver um Pode-se em relação a isto acrescentar que, en- grande caminho a percorrer. FONTES volvidos em brincadeiras com as crianças, os Não só educadores e outros profissionais Bergman, Ana. Educação Infantil I - Coleção Vitória-Régia. adultos sentem-se igualmente divertidos, mais que trabalham com crianças, mas também Campina Grande do Sul: Lago, 1998 descontraídos e felizes, o que é benéfico para os pais ajudariam bastante os seus filhos ao Axline, V., «La terapia del juego en el metodo no-directivo». In Bierman (ed.), Tratado de Psicoterapia Infantil, Vol. 1 (pp. o clima e ambiente na sala, onde deve existir serem esclarecidos e orientados sobre a ne- 205-211). Barcelona: Espax, 1973. cumplicidade e harmonia. E é igualmente be- cessidade de brincar com as crianças. Center for Play Therapy, University of North Texas - www. néfico para os adultos como pessoas, se pen- Como educadores de infância, é importante centerforplaytherapy.com; sarmos no conceito de playfulness, associado, contribuirmos para esta mudança, alertando Garry L. Landreth, Play Therapy: the Art of Relationship, Nova Iorque: Brunner-Routledge, 2002, 2.ª edição. entre outros, ao bom humor, capacidade lúdica os pais e os outros profissionais sobre estas http://www.guiadafamilia.com/guiadospequenos/tema. e descontracção. Algo que deveríamos manter questões, começando a construir um caminho php?id=10358; como seres humanos depois da infância! para que, cada vez mais, as crianças possam ser http:/www.toquinha.com.br/aimportanciadobrincar.htm. 24 Cadernos de Educação de Infância n.º 88 Dez/09