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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA SAÚDE
PROGRAMA NACIONAL DE CIRURGIA
PROGRAMA NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA
MONOGRAFIAS
SARCOMADEKAPOSI
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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA SAÚDE
PROGRAMA NACIONAL DE CIRURGIA
PROGRAMA NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA
DRA. ANA CRISTINA NEVES
Médica Pós-graduada em Cirurgia
Departamento de Cirurgia
Hospital Central de Maputo
SARCOMA DE KAPOSI
Título: SARCOMA DE KAPOSI
Autor: Dra. Ana Cristina Neves
Editor: Consejo Interhospitalario de Cooperación-cic
Número de registo: 1998/RLINLD/2001
Produção gráfica: Elográfico
Financiador: Cooperación Española
Tiragem: 500 unidades
Outubro, 2001
Maputo, Moçambique
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA SAÚDE
PROGRAMA NACIONAL DE CIRURGIA
PROGRAMA NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA
MONOGRAFIAS
Ano 2. N° 5. Outubro 2001
Programa Nacional de Cirurgia
Programa Nacional de Traumatologia
Sumário
1- Introdução ..................................................................................................5
2- Definição ...................................................................................................6
3- Fisiopatologia ............................................................................................6
4- SARCOMA DE KAPOSI ENDÉMICO AFRICANO ....................................7
5- SARCOMA DE KAPOSI RELACIONADO COM HIV ................................9
6- Diagnóstico ..............................................................................................12
7- Diagnóstico diferencial .............................................................................12
8- Estadiamento ............................................................................................13
9- Tratamento ................................................................................................14
10- Bibliografia ................................................................................................ 15
Sarcoma de Kaposi 5
SARCOMA DE KAPOSI
Introdução
Em 1872, Moritz Kaposi, dermatologista de Viena (Áustria) descreveu um grupo
de 6 pacientes com nódulos azul-avermelhados localizados predominantemente
nos pés. As lesões éram caracterizadas pela proliferação de vasos sanguíneos,
hemorragia dérmica e deposição de hemossiderina. Esta descrição corresponde
a um tumor vascular multicêntrico raro, mais frequentemente localizado nos
membros inferiores de pacientes masculinos e idosos de ascendência judia ou
italiana. O curso desta doença era lento e incidioso e os pacientes em geral morriam
por outras causas. Este tumor foi durante longo periodo de tempo considerado
um tumor maligno e foi designado por Sarcoma de kaposi. Devido à identificação
de outras formas de apresentação desta patologia, a descrição anterior é hoje
designada por Sarcoma de Kaposi Clássico.
FORMAS CLÍNICAS DO
SARCOMA DE KAPOSI
• Clássico
• Endémico Africano
• Relacionado ao HIV
Consequente a tratamento
imunossupressivo
Sarcoma de Kaposi Clássico
Na década de 1940, uma forma endémica do Sarcoma de Kaposi é reconhecido
em África, particularmente em regiões sub-saharianas. É também mais frequente
no sexo masculino (10:1) mas afecta crianças e jovens, tendo nestes uma evolução
mais agressiva.
Em 1981, foi relatado um surto de uma forma agressiva de Sarcoma de Kaposi
em homossexuais masculinos jovens de New York, Los Angeles e San Francisco
nos Estados Unidos. Os casos relatados começaram a tomar proporções epidémicas,
duplicando a cada 6 meses, com taxas de mortalidade de 21%. Esses casos de
sarcoma de Kaposi agressivo estavam extreitamente associados ao SIDA.
O reconhecimento da relação entre Sarcoma de Kaposi e imunodeficiência
permitiu identificar formas agressivas da lesão em pacientes recebendo terapia
imunossupressiva após transplante renal. Neste caso, homens e mulheres éram
igualmente afectados e as lesões muitas vezes regrediam após interrupção da
terapia imunossupressiva.
Figura 1
Sarcoma de Kaposi6
Definição
O Sarcoma de Kaposi é uma neoplasia multicêntrica que consiste em nódulos
vasculares que aparecem na pele, mucosas e visceras. Do ponto de vista
fisiopatológico, parece ser mais uma consequência dos distúrbios da regulação
do crescimento celular pelas citoquinas que uma neoplasia verdadeira.
FISIOPATOLOGIA
As primeiras pesquisas sobre o sistema imunológico dos pacientes com a forma
nodular clássica do Sarcoma de Kaposi não revelou qualquer anormalidade.
Contudo com a identificação do Sarcoma de Kaposi nos pacientes com SIDA,
tem sido esclarecida a base imunológica da patogenia deste tumor:
1. Alteração da imunidade celular – evidenciada por uma redução na quantidade
de linfócitosTauxiliares/indutores, aumento do número de linfócitosTsupressores/
citotóxicos e aumento da relação entre célulasTauxiliares e supressoras.Também
há diminuição da reactividade na cultura de linfócitos mistos.
2. Infecção associada pelo citomegalovirus – evidências epidemiológicas em
homossexuais com HIV evidenciam a participação directa de um agente
infeccioso. Isso também é sugerido pela ocorrência endémica do Sarcoma de
Kaposi na África Equatorial. O citomegalovírus tem sido identificado em algumas
culturas celulares sendo os antígenos deste vírus encontrados em grande
percentagem dos pacientes. As infecões deste virus podem suprimir o sistema
imunológico e o próprio virus actua como um agente oncogénico, com tropismo
para células endoteliais.
3. Predisposição genética – um significativo aumento na frequência dos alelos
HLA-DR5 tem sido detectado em homens homo e heterossexuais. O grupo
DR5 também tem sido detetado com maior frequência em negros, italianos e
judeus. O antígeno HLA-DR5 encontrado no endotélio vascular também tem
sido demonstrado nas células tumorais.
Sarcoma de Kaposi 7
SARCOMA DE KAPOSI ENDÉMICO AFRICANO
Geralmente os sintomas começam com edema da perna no fim do dia. No início
o edema é intermitente, tornando-se mais constante. Há aumento da temperatura
local.
A forma indolente (ou nodular) que ocorre após um periodo variável de
edema, com aparecimento de 3-5 nódulos que se percebem melhor pela palpação
do que pela visão. Aparecem mais frequentemente nos membros inferiores, com
envolvimento assimétrico. Os nódulos podem ser da mesma cor que a pele ou
azulados, podem persistir inalterados por vários anos, ou desaparecer
espontaneamente e reaparecer em outras localizações. Pode haver
comprometimento do nódulos linfáticos na raiz do membro afectado, sem
linfadenopatia generalizada. Pode haver ligeira perda de peso e anemia moderada.
A forma infiltrante (relativamente
comum) aparece num membro previa-
mente edematoso, como lesões
difusas, hiperpigmentadas e hiper-
queratóticas (formando placas) da pele
e tecidos profundos. Há uma infiltração
dura e quente que se dissemina
proximalmente para causar disfunção
articular. Esta infiltração espande-se
com mais intensidade que as placas
descritas acima; podem ser isoladas ou
acompanhadas por nódulos ou ainda
com crescimento agressivo de tumores.
Os ossos do membro afectado podem
mostrar osteoporose e erosões
múltiplas, de tal modo que falanges e
metatarsos podem não ser vistos ao Rx.
Lesões de Sarcoma de Kaposi nas mãos
Figura 2
Sarcoma de Kaposi8
A forma localmente agressiva (florida) apresenta-se como tumores em forma
de couve-flor, único ou múltiplo de crescimento rápido, nos pés pernas e mãos.
Tem origem em nódulos pré-existentes que por vezes permaneceram
inalterados por muitos anos. Estas lesões ulceram e drenam secreções com
cheiro fétido caracteristico.
Lesões de Sarcoma de Kaposi na perna, joelho e região inguinal
Figura 3
Sarcoma de Kaposi 9
A forma linfadenopática com comprometimento visceral (raro) presente em
crianças e adolescentes africanas, com envolvimento simétrico dos nódulos
linfáticos em que estes se apresentam aumentados com consistência elástica.
Pode haver comprometimento de mucosas, trato gastrointestinal e pulmões.
SARCOMA DE KAPOSI RELACIONADO AO HIV
O Sarcoma de Kaposi constitui juntamente com o Linfoma e a displasia intraepitelial
do colo uterino e ânus, um grupo de doenças neoplásicas e pré-malignas que
ocorrem ferquentemente em indivíduos HIV-positivos.
Nos primeiros anos da epidemia do SIDA o sarcoma de Kaposi era uma
manifestação marcante dos primeiros pacientes com a doença ocorrendo em
79% dos casos diagnosticados em 1981. Em 1989 verificou-se um decréscimo
para 25% e em 1992 passou para 9%. Esta redução reflecte o facto de que o
Sarcoma de Kaposi relacionado com o SIDA ocorre predominantemente nos
homossexuais masculinos (96% de todos os casos). Assim, á medida que
aumentam os casos de SIDA em outros grupos de risco a porcentagem de casos
de Sarcoma de Kaposi diminui.
Lesões exuberantes de Sarcoma de Kaposi nos pés
Figura 4
Sarcoma de Kaposi10
Além disso existem evidências epidemiológicas que indicam com grande
probabilidade que um co-factor transmitido sexualmente possa desempenhar um
papel importante no desenvolvimento do Sarcoma de Kaposi. O HHV-8 foi
directamente implicado como esse cofactoer virótico. Em acordo com esta
hipótese, verifica-se que o Sarcoma de Kaposi é 4 vezes mais frequente em
mulheres que tiveram relações sexuais com homens bissexuais. Este factor tem
sido encontrado em homossexuais masculinos sem infecção por HIV.
Lesões iniciais de Sarcoma de Kaposi na face e na mucosa oral
Figura 5
Sarcoma de Kaposi 11
Clinicamente, pode apresentar-se sob várias formas (descritas no Sarcoma de
Kaposi Africano) e ocorrer em qualquer estágio da infecção pelo HIV, mesmo
quando a contagem de células T CD4+ estiver normal. A lesão inicial pode ser um
nódulo cutâneo púrpura avermelhado pequeno e elevado, uma área de coloração
anormal na mucosa oral ou linfonodo hipertrofiado.
Em geral, as lesões aparecem nas áreas expostas ao sol e em áreas
traumatizadas (fenómeno de Koebner). Devido á natureza vascular do tumor a
existência de hemáceas estravasadas nas lesões, a sua cor varia do vermelho ao
púrpura ou marrom. As lesões variam de alguns milimetros a vários centimetros e
podem ser isoladas ou confluentes. Estas últimas podem causar linfedema
circundante e são muito desfigurantes quando envolvem a face, e incapacitantes
quando ocorrem nos membros inferiores.
Além da pele, os sistemas orgânicos mais frequentemente acometidos são os
linfonodos, o trato gastrintestinal e pulmões; entretanto já foram descritas lesões
em quase todos os órgãos incluindo cérebro e coração.
Ao contrário de muitas neoplasias em que a invasão dos infonodos significa
disseminação metastática e prognóstico desfavorável, o comprometimento dos
linfonodos pode ocorrer numa fase muito precoce sem ter qualquer significado
clínico especial.
Lesões nodulares disseminadas de cor marrom caracteristicas do Sarcoma de Kaposi
Figura 6
Sarcoma de Kaposi12
O comprometimento pulmonar se
manifesta por dispneia. Sabe-se que 80%
dos pacientes com lesões pulmonares
tem lesões cutâneas. Nos casos típicos
as radiografias de tórax revelam
infiltrados bilaterais dos lobos inferiores
que obscurecem os limites do mediastino
e do diafragma. Os derrames pleurais
são detectáveis em 70% dos pacientes
com Sarcoma de Kaposi Pulmonar.
Radiografia de tórax de um paciente com
lesões pulmonares mostrando o apagamento
da silhueta cardíaca
O comprometimento do trato gastrintestinal ocorre em 50% dos pacientes e
assume geralmente duas formas:
1º lesões da mucosa que causam sangramento grave, lesões que causam
sintomas de obstrução intestinal.
2ª comprometimento do trato biliar, com infiltração da vesicula e trato biliar
produzindo um quadro clínico de ictericia obstrutiva.
Em geral os pacientes com Sarcoma de Kaposi tem mais chance de morrer por
outras causas além daquelas directamente relacionadas com o tumor.
Diagnóstico
Baseia-se na biópsia de uma lesão suspeita. O exame histológico mostra
proliferação de células fusiformes e endoteliais, estravasamento de hemáceas,
macrófagos repletos de hemossiderina e infiltrado de células inflamatórias.
Diagnóstico diferencial
Linfomas (lesões orais)
Angiomatose bacilar
Infecções micobacterianas cutâneas (lepra, micoses, úlcera tropical, mycetoma,
oncocercose)
Hiperqueratose do linfedema.
Figura 7
Sarcoma de Kaposi 13
Estadiamento da Extensão do
Sarcoma de Kaposi
É baseado na extensão do tumor, função imune e presença ou ausência de doença
sistémica.
Quadro 1- Sistema de estadiamento TIS do sarcoma de Kaposi proposto pelo
National Institute of Allergy and Infectious Diseases AIDS Clinical Trials Group.
Parâmetro Risco favorável (estágio 0): Risco desfavorável
todos os seguintes (estágio 1): qualquer
um dos seguintes
Tumor (T) Limitado à pele ou aos Edema ou ulceração
linfonodos e/ou doença associada ao tumor
oral mínima Lesões orais extensas
Lesões gastintestinais
Lesões viscerais extra
ganglionares
Sistema imune(I) Contagem de células T CD4+ Contagem de células T
s≥200/ml CD4+<200/ml/ul
Doença sistémica (S) Sem sintomas tipo B* Com sintomas tipo B*
Nível de desempenho de Nível de desempenho
Karnofsky > 70 de Karnofsky < 70
Sem história de infecção História de infecções
opurtunista, doença neuroló- opurtunístas, doença
gica, linfoma ou monilíase oral neurológica, linfoma ou
monilíase oral
* Definidos como febre inexplicada, sudorese noturna, perda ponderal involuntária
>10% ou diarreia persistente há mais de duas semanas.
Sarcoma de Kaposi14
Tratamento
O tratamento do Sarcoma de Kaposi deve ser realizado por um especialista já
que não existem recomendações terapêuticas especificas.
Quando as lesões são muito insidiosas o doente pode ser mantido sem
tratamento específico. Deve-se ter sempre em mente que menos de 10% dos
pacientes com SIDA e Sarcoma de Kaposi morrem em consequência da neoplasia
e que os óbitos causados pelas infecões opurtunisticas são bem mais comuns.
Portanto, evitar sempre que possível esquemas de tratamento que possam suprimir
ainda mais o sistema imune e tornar esses pacientes mais susceptíveis às
infecções opurtunisticas.
O tratamento é indicado nas situações seguintes:
1. Lesão única ou localizada causando desconforto ou problemas estéticos
significativos (lesões faciais volumosas, lesões sobre articulações, lesões
na orofaringe):
• Irradiação localizada (800cGy a 100kV). Os pacientes HIV+ são particulrmente
sensíveis aos efeitos colaterais da radioterapia (desenvolvimento de mucosite).
• Vimblastina intralesional: é muito doloroso e tem pouca vantagem em relação
á radiação.
• Crioterapia.
2. Pacientes com lesões extensas mas não potencialmente fatais:
• Quimioterapia com um único agente (etopósido, vimblastina, doxorrubicina,
bleomicina ou interferon a). Está descrito indices de resposta que variam de
26% a 80% com estes agentes. O determinante mais importante para a resposta
parece ser a contagem de células T CD4+. Ironicamente os pacientes que tem
maior probabilidade de responder ao tratamento são os que menos necessitam
afim de evitar comprometimento adicional da função imune. A relação entre o
indice de resposta e a contagem de células T CD4+ é particularmente válida
para o interferon a.
T CD4+ > 600 / ml resposta em 80%
T CD4+ < 150 / ml resposta em 10%
3. Pacientes com lesões de Sarcoma de Kaposi potencialmente fatais:
• Poliquimioterapia com doses baixas de doxorrubicina, bleomicina e
vimblastina, com indice de resposta de 90%.
• Radiação: pode-se considerar em casos de lesões pulmonares.
Sarcoma de Kaposi 15
Tratamento cirúrgico
A amputação de um membro pode ser indicada se:
• Não há reposta à quimioterapia e o tumor continua crescendo.
• Há destruição massiva do membro e o estado séptico e caquético não permite
tolerar quimioterapia.
Bibliografia
1. Fauci, A. S., Lane, H.C.: Doenças causadas por Vírus de Imunodeficiência
Humana (HIV): AIDS e destúrbios relacionados. In Harrison: Medicina Interna.
14ª edição. Editora McGraw-Hill Interamericana do Brasil Lta, 1998.
2. Smith, N., Spittle, M.: Tumores. In ABC of AIDS. 3rd
edition, Edited by Michael
W. Adler. BMJ. 1990.
3. Awori N. et al. Primary Surgery. Volume one. Non- Trauma. Edited by King, M.
et al. Oxford Medical Publications. 1990.
4. Paes, A.: Cirurgia Geral e Cirurgia Tropical. Ministério da Saúde de
Moçambique.1982.
5. Serafin, D.: A pele. Considerações funcionais, metabólicas e cirúrgicas In
Sabiston, D.C.Jr.(ed) Tratado de Cirurgia. 14ª edição. Guanabara Koogan.1993.
6. Calonge, E., Wilson-Jones, E.: Vascular Tumours. In Lever´s Histopathology
of the Skin. 8th
edition, eddited by David Elder et al. Lippincott- Raven publishers,
Philadelphia. 1997.
7. Schoen, F. J.: Vasos Sanguíneos. In Contran, R.S., Kumar, V.,Robbins, S.L.:
Pathologic Bases of Disease. 6th
edition. WB Sonders Company. 1999.
8. Enzinger, F M, Weiss SW. Soft Tissue Tumours. 3rd
edition. Mosby.1995.

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Sarcoma de Kaposi: formas clínicas e tratamento

  • 1. REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA SAÚDE PROGRAMA NACIONAL DE CIRURGIA PROGRAMA NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA MONOGRAFIAS SARCOMADEKAPOSI 5 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA SAÚDE PROGRAMA NACIONAL DE CIRURGIA PROGRAMA NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA
  • 2. DRA. ANA CRISTINA NEVES Médica Pós-graduada em Cirurgia Departamento de Cirurgia Hospital Central de Maputo SARCOMA DE KAPOSI
  • 3. Título: SARCOMA DE KAPOSI Autor: Dra. Ana Cristina Neves Editor: Consejo Interhospitalario de Cooperación-cic Número de registo: 1998/RLINLD/2001 Produção gráfica: Elográfico Financiador: Cooperación Española Tiragem: 500 unidades Outubro, 2001 Maputo, Moçambique REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA SAÚDE PROGRAMA NACIONAL DE CIRURGIA PROGRAMA NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA MONOGRAFIAS Ano 2. N° 5. Outubro 2001 Programa Nacional de Cirurgia Programa Nacional de Traumatologia
  • 4. Sumário 1- Introdução ..................................................................................................5 2- Definição ...................................................................................................6 3- Fisiopatologia ............................................................................................6 4- SARCOMA DE KAPOSI ENDÉMICO AFRICANO ....................................7 5- SARCOMA DE KAPOSI RELACIONADO COM HIV ................................9 6- Diagnóstico ..............................................................................................12 7- Diagnóstico diferencial .............................................................................12 8- Estadiamento ............................................................................................13 9- Tratamento ................................................................................................14 10- Bibliografia ................................................................................................ 15
  • 5. Sarcoma de Kaposi 5 SARCOMA DE KAPOSI Introdução Em 1872, Moritz Kaposi, dermatologista de Viena (Áustria) descreveu um grupo de 6 pacientes com nódulos azul-avermelhados localizados predominantemente nos pés. As lesões éram caracterizadas pela proliferação de vasos sanguíneos, hemorragia dérmica e deposição de hemossiderina. Esta descrição corresponde a um tumor vascular multicêntrico raro, mais frequentemente localizado nos membros inferiores de pacientes masculinos e idosos de ascendência judia ou italiana. O curso desta doença era lento e incidioso e os pacientes em geral morriam por outras causas. Este tumor foi durante longo periodo de tempo considerado um tumor maligno e foi designado por Sarcoma de kaposi. Devido à identificação de outras formas de apresentação desta patologia, a descrição anterior é hoje designada por Sarcoma de Kaposi Clássico. FORMAS CLÍNICAS DO SARCOMA DE KAPOSI • Clássico • Endémico Africano • Relacionado ao HIV Consequente a tratamento imunossupressivo Sarcoma de Kaposi Clássico Na década de 1940, uma forma endémica do Sarcoma de Kaposi é reconhecido em África, particularmente em regiões sub-saharianas. É também mais frequente no sexo masculino (10:1) mas afecta crianças e jovens, tendo nestes uma evolução mais agressiva. Em 1981, foi relatado um surto de uma forma agressiva de Sarcoma de Kaposi em homossexuais masculinos jovens de New York, Los Angeles e San Francisco nos Estados Unidos. Os casos relatados começaram a tomar proporções epidémicas, duplicando a cada 6 meses, com taxas de mortalidade de 21%. Esses casos de sarcoma de Kaposi agressivo estavam extreitamente associados ao SIDA. O reconhecimento da relação entre Sarcoma de Kaposi e imunodeficiência permitiu identificar formas agressivas da lesão em pacientes recebendo terapia imunossupressiva após transplante renal. Neste caso, homens e mulheres éram igualmente afectados e as lesões muitas vezes regrediam após interrupção da terapia imunossupressiva. Figura 1
  • 6. Sarcoma de Kaposi6 Definição O Sarcoma de Kaposi é uma neoplasia multicêntrica que consiste em nódulos vasculares que aparecem na pele, mucosas e visceras. Do ponto de vista fisiopatológico, parece ser mais uma consequência dos distúrbios da regulação do crescimento celular pelas citoquinas que uma neoplasia verdadeira. FISIOPATOLOGIA As primeiras pesquisas sobre o sistema imunológico dos pacientes com a forma nodular clássica do Sarcoma de Kaposi não revelou qualquer anormalidade. Contudo com a identificação do Sarcoma de Kaposi nos pacientes com SIDA, tem sido esclarecida a base imunológica da patogenia deste tumor: 1. Alteração da imunidade celular – evidenciada por uma redução na quantidade de linfócitosTauxiliares/indutores, aumento do número de linfócitosTsupressores/ citotóxicos e aumento da relação entre célulasTauxiliares e supressoras.Também há diminuição da reactividade na cultura de linfócitos mistos. 2. Infecção associada pelo citomegalovirus – evidências epidemiológicas em homossexuais com HIV evidenciam a participação directa de um agente infeccioso. Isso também é sugerido pela ocorrência endémica do Sarcoma de Kaposi na África Equatorial. O citomegalovírus tem sido identificado em algumas culturas celulares sendo os antígenos deste vírus encontrados em grande percentagem dos pacientes. As infecões deste virus podem suprimir o sistema imunológico e o próprio virus actua como um agente oncogénico, com tropismo para células endoteliais. 3. Predisposição genética – um significativo aumento na frequência dos alelos HLA-DR5 tem sido detectado em homens homo e heterossexuais. O grupo DR5 também tem sido detetado com maior frequência em negros, italianos e judeus. O antígeno HLA-DR5 encontrado no endotélio vascular também tem sido demonstrado nas células tumorais.
  • 7. Sarcoma de Kaposi 7 SARCOMA DE KAPOSI ENDÉMICO AFRICANO Geralmente os sintomas começam com edema da perna no fim do dia. No início o edema é intermitente, tornando-se mais constante. Há aumento da temperatura local. A forma indolente (ou nodular) que ocorre após um periodo variável de edema, com aparecimento de 3-5 nódulos que se percebem melhor pela palpação do que pela visão. Aparecem mais frequentemente nos membros inferiores, com envolvimento assimétrico. Os nódulos podem ser da mesma cor que a pele ou azulados, podem persistir inalterados por vários anos, ou desaparecer espontaneamente e reaparecer em outras localizações. Pode haver comprometimento do nódulos linfáticos na raiz do membro afectado, sem linfadenopatia generalizada. Pode haver ligeira perda de peso e anemia moderada. A forma infiltrante (relativamente comum) aparece num membro previa- mente edematoso, como lesões difusas, hiperpigmentadas e hiper- queratóticas (formando placas) da pele e tecidos profundos. Há uma infiltração dura e quente que se dissemina proximalmente para causar disfunção articular. Esta infiltração espande-se com mais intensidade que as placas descritas acima; podem ser isoladas ou acompanhadas por nódulos ou ainda com crescimento agressivo de tumores. Os ossos do membro afectado podem mostrar osteoporose e erosões múltiplas, de tal modo que falanges e metatarsos podem não ser vistos ao Rx. Lesões de Sarcoma de Kaposi nas mãos Figura 2
  • 8. Sarcoma de Kaposi8 A forma localmente agressiva (florida) apresenta-se como tumores em forma de couve-flor, único ou múltiplo de crescimento rápido, nos pés pernas e mãos. Tem origem em nódulos pré-existentes que por vezes permaneceram inalterados por muitos anos. Estas lesões ulceram e drenam secreções com cheiro fétido caracteristico. Lesões de Sarcoma de Kaposi na perna, joelho e região inguinal Figura 3
  • 9. Sarcoma de Kaposi 9 A forma linfadenopática com comprometimento visceral (raro) presente em crianças e adolescentes africanas, com envolvimento simétrico dos nódulos linfáticos em que estes se apresentam aumentados com consistência elástica. Pode haver comprometimento de mucosas, trato gastrointestinal e pulmões. SARCOMA DE KAPOSI RELACIONADO AO HIV O Sarcoma de Kaposi constitui juntamente com o Linfoma e a displasia intraepitelial do colo uterino e ânus, um grupo de doenças neoplásicas e pré-malignas que ocorrem ferquentemente em indivíduos HIV-positivos. Nos primeiros anos da epidemia do SIDA o sarcoma de Kaposi era uma manifestação marcante dos primeiros pacientes com a doença ocorrendo em 79% dos casos diagnosticados em 1981. Em 1989 verificou-se um decréscimo para 25% e em 1992 passou para 9%. Esta redução reflecte o facto de que o Sarcoma de Kaposi relacionado com o SIDA ocorre predominantemente nos homossexuais masculinos (96% de todos os casos). Assim, á medida que aumentam os casos de SIDA em outros grupos de risco a porcentagem de casos de Sarcoma de Kaposi diminui. Lesões exuberantes de Sarcoma de Kaposi nos pés Figura 4
  • 10. Sarcoma de Kaposi10 Além disso existem evidências epidemiológicas que indicam com grande probabilidade que um co-factor transmitido sexualmente possa desempenhar um papel importante no desenvolvimento do Sarcoma de Kaposi. O HHV-8 foi directamente implicado como esse cofactoer virótico. Em acordo com esta hipótese, verifica-se que o Sarcoma de Kaposi é 4 vezes mais frequente em mulheres que tiveram relações sexuais com homens bissexuais. Este factor tem sido encontrado em homossexuais masculinos sem infecção por HIV. Lesões iniciais de Sarcoma de Kaposi na face e na mucosa oral Figura 5
  • 11. Sarcoma de Kaposi 11 Clinicamente, pode apresentar-se sob várias formas (descritas no Sarcoma de Kaposi Africano) e ocorrer em qualquer estágio da infecção pelo HIV, mesmo quando a contagem de células T CD4+ estiver normal. A lesão inicial pode ser um nódulo cutâneo púrpura avermelhado pequeno e elevado, uma área de coloração anormal na mucosa oral ou linfonodo hipertrofiado. Em geral, as lesões aparecem nas áreas expostas ao sol e em áreas traumatizadas (fenómeno de Koebner). Devido á natureza vascular do tumor a existência de hemáceas estravasadas nas lesões, a sua cor varia do vermelho ao púrpura ou marrom. As lesões variam de alguns milimetros a vários centimetros e podem ser isoladas ou confluentes. Estas últimas podem causar linfedema circundante e são muito desfigurantes quando envolvem a face, e incapacitantes quando ocorrem nos membros inferiores. Além da pele, os sistemas orgânicos mais frequentemente acometidos são os linfonodos, o trato gastrintestinal e pulmões; entretanto já foram descritas lesões em quase todos os órgãos incluindo cérebro e coração. Ao contrário de muitas neoplasias em que a invasão dos infonodos significa disseminação metastática e prognóstico desfavorável, o comprometimento dos linfonodos pode ocorrer numa fase muito precoce sem ter qualquer significado clínico especial. Lesões nodulares disseminadas de cor marrom caracteristicas do Sarcoma de Kaposi Figura 6
  • 12. Sarcoma de Kaposi12 O comprometimento pulmonar se manifesta por dispneia. Sabe-se que 80% dos pacientes com lesões pulmonares tem lesões cutâneas. Nos casos típicos as radiografias de tórax revelam infiltrados bilaterais dos lobos inferiores que obscurecem os limites do mediastino e do diafragma. Os derrames pleurais são detectáveis em 70% dos pacientes com Sarcoma de Kaposi Pulmonar. Radiografia de tórax de um paciente com lesões pulmonares mostrando o apagamento da silhueta cardíaca O comprometimento do trato gastrintestinal ocorre em 50% dos pacientes e assume geralmente duas formas: 1º lesões da mucosa que causam sangramento grave, lesões que causam sintomas de obstrução intestinal. 2ª comprometimento do trato biliar, com infiltração da vesicula e trato biliar produzindo um quadro clínico de ictericia obstrutiva. Em geral os pacientes com Sarcoma de Kaposi tem mais chance de morrer por outras causas além daquelas directamente relacionadas com o tumor. Diagnóstico Baseia-se na biópsia de uma lesão suspeita. O exame histológico mostra proliferação de células fusiformes e endoteliais, estravasamento de hemáceas, macrófagos repletos de hemossiderina e infiltrado de células inflamatórias. Diagnóstico diferencial Linfomas (lesões orais) Angiomatose bacilar Infecções micobacterianas cutâneas (lepra, micoses, úlcera tropical, mycetoma, oncocercose) Hiperqueratose do linfedema. Figura 7
  • 13. Sarcoma de Kaposi 13 Estadiamento da Extensão do Sarcoma de Kaposi É baseado na extensão do tumor, função imune e presença ou ausência de doença sistémica. Quadro 1- Sistema de estadiamento TIS do sarcoma de Kaposi proposto pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases AIDS Clinical Trials Group. Parâmetro Risco favorável (estágio 0): Risco desfavorável todos os seguintes (estágio 1): qualquer um dos seguintes Tumor (T) Limitado à pele ou aos Edema ou ulceração linfonodos e/ou doença associada ao tumor oral mínima Lesões orais extensas Lesões gastintestinais Lesões viscerais extra ganglionares Sistema imune(I) Contagem de células T CD4+ Contagem de células T s≥200/ml CD4+<200/ml/ul Doença sistémica (S) Sem sintomas tipo B* Com sintomas tipo B* Nível de desempenho de Nível de desempenho Karnofsky > 70 de Karnofsky < 70 Sem história de infecção História de infecções opurtunista, doença neuroló- opurtunístas, doença gica, linfoma ou monilíase oral neurológica, linfoma ou monilíase oral * Definidos como febre inexplicada, sudorese noturna, perda ponderal involuntária >10% ou diarreia persistente há mais de duas semanas.
  • 14. Sarcoma de Kaposi14 Tratamento O tratamento do Sarcoma de Kaposi deve ser realizado por um especialista já que não existem recomendações terapêuticas especificas. Quando as lesões são muito insidiosas o doente pode ser mantido sem tratamento específico. Deve-se ter sempre em mente que menos de 10% dos pacientes com SIDA e Sarcoma de Kaposi morrem em consequência da neoplasia e que os óbitos causados pelas infecões opurtunisticas são bem mais comuns. Portanto, evitar sempre que possível esquemas de tratamento que possam suprimir ainda mais o sistema imune e tornar esses pacientes mais susceptíveis às infecções opurtunisticas. O tratamento é indicado nas situações seguintes: 1. Lesão única ou localizada causando desconforto ou problemas estéticos significativos (lesões faciais volumosas, lesões sobre articulações, lesões na orofaringe): • Irradiação localizada (800cGy a 100kV). Os pacientes HIV+ são particulrmente sensíveis aos efeitos colaterais da radioterapia (desenvolvimento de mucosite). • Vimblastina intralesional: é muito doloroso e tem pouca vantagem em relação á radiação. • Crioterapia. 2. Pacientes com lesões extensas mas não potencialmente fatais: • Quimioterapia com um único agente (etopósido, vimblastina, doxorrubicina, bleomicina ou interferon a). Está descrito indices de resposta que variam de 26% a 80% com estes agentes. O determinante mais importante para a resposta parece ser a contagem de células T CD4+. Ironicamente os pacientes que tem maior probabilidade de responder ao tratamento são os que menos necessitam afim de evitar comprometimento adicional da função imune. A relação entre o indice de resposta e a contagem de células T CD4+ é particularmente válida para o interferon a. T CD4+ > 600 / ml resposta em 80% T CD4+ < 150 / ml resposta em 10% 3. Pacientes com lesões de Sarcoma de Kaposi potencialmente fatais: • Poliquimioterapia com doses baixas de doxorrubicina, bleomicina e vimblastina, com indice de resposta de 90%. • Radiação: pode-se considerar em casos de lesões pulmonares.
  • 15. Sarcoma de Kaposi 15 Tratamento cirúrgico A amputação de um membro pode ser indicada se: • Não há reposta à quimioterapia e o tumor continua crescendo. • Há destruição massiva do membro e o estado séptico e caquético não permite tolerar quimioterapia. Bibliografia 1. Fauci, A. S., Lane, H.C.: Doenças causadas por Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV): AIDS e destúrbios relacionados. In Harrison: Medicina Interna. 14ª edição. Editora McGraw-Hill Interamericana do Brasil Lta, 1998. 2. Smith, N., Spittle, M.: Tumores. In ABC of AIDS. 3rd edition, Edited by Michael W. Adler. BMJ. 1990. 3. Awori N. et al. Primary Surgery. Volume one. Non- Trauma. Edited by King, M. et al. Oxford Medical Publications. 1990. 4. Paes, A.: Cirurgia Geral e Cirurgia Tropical. Ministério da Saúde de Moçambique.1982. 5. Serafin, D.: A pele. Considerações funcionais, metabólicas e cirúrgicas In Sabiston, D.C.Jr.(ed) Tratado de Cirurgia. 14ª edição. Guanabara Koogan.1993. 6. Calonge, E., Wilson-Jones, E.: Vascular Tumours. In Lever´s Histopathology of the Skin. 8th edition, eddited by David Elder et al. Lippincott- Raven publishers, Philadelphia. 1997. 7. Schoen, F. J.: Vasos Sanguíneos. In Contran, R.S., Kumar, V.,Robbins, S.L.: Pathologic Bases of Disease. 6th edition. WB Sonders Company. 1999. 8. Enzinger, F M, Weiss SW. Soft Tissue Tumours. 3rd edition. Mosby.1995.