2. Nosso intuito ao discutir essa devolutiva é:
compreender o diálogo entre a proposta curricular e
a prática pedagógica;
contribuir para que o trabalho realizado nas nossas
escolas efetivamente se manifeste na alfabetização
das crianças;
possibilitar reflexões a respeito das implicações
teóricas nas práticas das professoras alfabetizadoras.
3. Embora seja papel social da escola formar leitores e
escritores autônomos, a instituição ainda não
desenvolve essa tarefa com plenitude. Prova disso é o
índice de alfabetismo rudimentar e básico, que
permanece alto no Brasil e na América Latina há
tempos. Apenas a minoria da população é plenamente
alfabetizada - isto é, consegue ler e compreender textos
complexos e expressar o que pensa de forma escrita.
Revista Nova Escola
Agosto 2008
4. São capazes de memorizar as sílabas, nomear as
letras, mas, isto não os torna capazes de ler e
escrever: não conseguem compreender como a
linguagem escrita funciona.
5. RETOMANDO UM POUCO DA HISTÓRIA:
Alfabetização
Em determinado momento histórico, foi compreendida como mera
aquisição de um código linguístico. Posteriormente, devido a uma
compreensão equivocada dos estudos construtivistas, passou a ser
concebida como a inserção do aluno no mundo dos textos,
desconsiderando assim, os aspectos específicos do sistema de
escrita.
Hoje, buscamos uma harmonia entre estes aspectos, numa
perspectiva de valorizar o que as crianças já sabem sobre a
linguagem escrita e como utilizam essas pistas para desvendar o
mundo escrito.
6. Ferreiro (1996) propõe um novo olhar sobre a
alfabetização, uma vez que a língua é vista em sua
dinamicidade e nos usos que a sociedade faz dela.
Para a autora, a escola tradicional operou uma
transmutação da escrita, transformando-a em um
objeto exclusivamente escolar, ocultando suas funções
extraescolares. Na realidade, “a escrita é importante
na escola porque é importante fora da escola e não o
inverso” (FERREIRO, p.20).
8. Se nossa prioridade está no código, não conseguimos
criar necessidades legítimas de leitura/escrita no
aprendiz, uma vez que nossa proposta fica esvaziada
de sentido, perdendo o contexto de produção, a
situação discursiva. (BAKHTIN, 2005).
9. Nosso foco: alfabetizar na perspectiva discursiva.
Pensaremos num trabalho pautado nos cinco eixos da
alfabetização: Oralidade - Leitura - Apropriação do
sistema de escrita - Produção de texto - Valorização
da cultura escrita.
Eixos que se entrecruzam a todo
instante na prática pedagógica.
11. Podemos então nos questionar:
Quais oportunidades esta criança tem para desenvolver sua
oralidade? Quais são seus interlocutores? Sobre o que
conversam?
Como possibilitar situações onde estas crianças possam
conhecer e respeitar as manifestações dos companheiros e
do professor? São capazes de realizar um papel de escuta
atenta e compreender esta escuta?
É possível perceber uma procura, no momento da fala, de
planejar o discurso numa preocupação em ser
compreendido?
12. Vemos uma preocupação voltada para a formação de sujeitos,
competentes no uso da língua, para além dos limites do
código.
Com esse olhar, nos questionamos sobre qual a compreensão
do professor frente ao que lhe é proposto? De que modo
reflete os conhecimentos sobre o oral como objeto de
ensino? Como ele analisa as suas ações frente ao que planeja
para ensinar a oralidade?
13. SÃO PROPOSTAS BEM COMPREENDIDAS?
*Regras ou combinados - alternativa democrática de se
estabelecer a ordem e a disciplina necessárias para que se
mantenha um convívio agradável; basicamente uma lista com
sugestões do que se deve ou não fazer;
*Roda da conversa – momento onde o grupo (prof./alunos)
pode trocar experiências, apresentar novidades, resolver
problemas, etc. O poder ao aluno de tomar a palavra e ser
ouvido pelo grupo tendo o professor enquanto mediador;
14. “ A oralidade é explorada todos os dias na roda da conversa,
em que apresento o assunto da semana, ou do dia,
retomamos coisas já aprendidas, relacionamos o novo com o
já conhecido, discutimos, dialogamos. Em alguns momentos
listamos o que querem aprender sobre determinados assuntos
e partindo destas discussões elaboro atividades pertinentes.
(...) procuro priorizar as discussões sobre temas ligados a
Ciências, História e Geografia, porém, os fatos do cotidiano,
como as notícias jornalísticas e acontecimentos importantes
estão sempre presentes.”
Profª Cristiane Nascimento
15.
16. Leitura:
A concepção de leitura que embasa este eixo é a
prática social que envolve atitudes, gestos e
habilidades os quais são mobilizados pelo leitor, tanto
no ato de leitura propriamente dito, como no que
antecede a leitura e no que decorre dela (BRASIL,
2007).
17. Frente a isso percebemos que:
é preciso desenvolver e ensinar as habilidades e
competências necessárias para que os alunos possam
ler e compreender os diferentes gêneros que circulam
não só na escola, mas na sociedade de um modo
geral.
É importante, também, criar situações que permitam
aos alunos participar efetivamente de práticas letradas
e, para isso, é necessário ter manipulado, observado,
analisado e se apropriado dos mais variados gêneros.
18. NOSSOS PROFESSORES REALIZAM?
O professor alfabetizador ao ler, por exemplo, uma notícia no jornal
para seus alunos, precisa interrogar a classe acerca do título,
destacar que se trata de um acontecimento ocorrido em
determinado lugar, com determinados sujeitos, buscar a fonte,
observar as fotos, quem escreveu a notícia. Enfim, envolvê-los em
capacidades que leitores competentes fazem uso ao acessar
diferentes gêneros, mas que grande parte das crianças, vindas de
famílias com pouco contato com materiais escritos, ainda não
desenvolveram. São essas e outras habilidades que se encontram
subjacentes aos usos sociais da leitura e da escrita que merecem ser
tratadas, ou seja, “ensinadas na sala de aula.”.
19. DESCOBERTA DA LITERATURA – SESSÕES DE MEDIAÇÃO:
“A alfabetização não propicia mais o acesso aos livros; são os
livros que deslancham a aprendizagem da escrita.” (BAJARD,
p.14)
20. Apropriação do sistema de escrita:
A crítica que se faz ao uso dos métodos é a
descontextualização e a artificialidade com que a
língua é tratada, desprovida de seu aspecto social e
interacional.
21. Conhecimentos necessários aos alunos para que se tornem
capazes de compreender o mecanismo do sistema de escrita
e se apropriarem dele.
a diferenciação de letras e outros recursos gráficos;
que usamos letras para escrever, conhecê-las em suas
diferentes formas;
o entendimento de que escrevemos da esquerda para
direita, de cima para baixo;
que deixamos espaços entre as palavras;
aspectos da escrita ortográfica.
22. O importante é que, nos primeiros anos do Ensino
Fundamental, enquanto o aluno vai se apropriando
do sistema, vai também se tornando usuário dele.
23. SOCIALIZANDO PRÁTICAS:
*Sessão de mediação de leitura em parceria
com o 3º ano: o livro escolhido “O flautista de
Hamelim".
Pela evidência dos ratos na trama, a professora
percebeu uma oportunidade de explorar a
grafia da palavra – palavra de referência.
*Texto instrucional com a brincadeira “gato e
rato” para a descoberta de texto - brincou com
os alunos (objetivo do texto);
24. Os alunos escolheram a palavra rato para o estudo: baseada
no trabalho com a substituição foi criada uma aula de
informática com o objetivo de apresentar novas palavras a
partir da então selecionada. (o que poderia também ser
trabalhado com os caracteres móveis)
gato mato bato pato tato
Prof.ª Rosemary Fernandes
25. Nessa “reconfiguração” cada caractere se torna responsável pela
existência de uma palavra com seu significado presente. Operar
sempre sobre o vínculo do significado.
substituição
rato/gato
palavra presa
bato/ato
acréscimo
mato/matou
letra pirata
pato/prato
26. ESTUDO DA PALAVRA GERADORA: retomando conceitos freireanos
CODIFICAÇÃO: De início abrange certos aspectos que se relacionam com a
“palavra geradora”, permite ao professor conhecer alguns momentos do contexto
concretamente;
DESCODIFICAÇÃO: para Gadotti “Trata-se do exame das palavras geradoras, para
extrair os elementos existenciais nelas contidos” (1989, p.150)
Ampliação desse tema gerador com subsídio de outros textos.
ANÁLISE E SÍNTESE: levar o aprendiz à descoberta de que a palavra representa a
fala e a partir disso a possibilidade de se formar novas palavras, levando o aluno a
compreender, através da leitura e da escrita, seus significados.
FIXAÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA: através da ficha de descobertas, formar
novas palavras, com significado, para composição de frases e textos, com leitura e
escrita significativas.
*Como propõe Paulo Freire: “A leitura de mundo precede a
leitura da palavra” (1989, p.11)
27. *EXEMPLO DE TRABALHO:
PARLENDA: “Suco Gelado”
As parlendas são versinhos com temática infantil, que são
recitados em brincadeiras de crianças. São usadas pelos
adultos também para embalar, entreter, distraí-las.
Possuem uma rima fácil e, por isso, são populares entre as
crianças. Muitas parlendas são usadas em jogos para
melhorar o relacionamento ou apenas por diversão.
Muitas parlendas são antigas e algumas delas foram
criadas há décadas. Elas fazem parte do folclore brasileiro,
representam uma importante tradição cultural do nosso
povo.
http://www.suapesquisa.com/folclorebrasileiro/parlendas
28. *Brincadeira de corda;
*Roda com a discussão dos sabores de suco
preferidos pelos alunos;
*Degustação: os alunos degustam sucos variados,
tentando identificar os diferentes sabores;
*Suco de sabor pouco conhecido em nossa região: os
alunos expressaram sua opinião através de uma ficha
de pesquisa:
29. * Conversa e exploração dessa fruta “pouco conhecida” em
nossa região;
* Texto informativo: “SUCOS NATURAIS: ÓTIMOS ALIADOS
PARA A SUA SAÚDE” – benefícios de algumas frutas;
* Pesquisa de opinião sobre as frutas preferidas pelas pessoas
da família – gráfico;
* Estudo da palavra
Prof. Edinelson Lopes
30. Produção de texto:
Ação deliberada da criança com vista a realizar
determinado objetivo: implica em compreender para
que, para quem e como se vai escrever. Implica ainda
recorrer a recursos estilísticos e composicionais
relacionados ao gênero a ser escrito.
31. Um processo eficiente de ensino aprendizagem
deve tomar como ponto de partida a noção de que
cada situação comunicativa demanda um
determinado tipo de escrita.
33. Valorização da cultura escrita:
Este eixo diz respeito às capacidades necessárias à
integração dos alunos no mundo letrado ou ao
processo de uso da leitura e escrita que se
encontram subjacentes à cultura
34. Conhecer, utilizar e valorizar os modos de produção e de
circulação da escrita na sociedade implica em perceber a
importância e fazer uso dos materiais escritos que nos
rodeiam.
Enquanto o foco da escola é ler como identificação de
letras, sílabas, palavras, a postura dos educandos indica
o CONTRÁRIO: para eles o ler abrange diálogo com o
escrito, a possibilidade de ao compreendê-lo tecer com
ele uma relação de interlocução.
35. A primeira maneira das crianças de lidar com a
linguagem escrita é numa perspectiva dialógica; elas
procuram operar com enunciados. (BAKHTIN, 2003).
36. APROVEITAR SITUAÇÕES COTIDIANAS É IMPORTANTE:
O registro da data e da rotina do dia pode ser um exemplo de
atividade. O uso deste gênero textual em sala de aula
possibilita a compreensão da dinâmica da aula, tornando os
alunos participantes e cientes das atividades a serem
desenvolvidas no dia. Utilizar estes momentos para
desenvolver os aspectos inerentes ao sistema alfabético
aproxima as crianças de uma prática social de escrita usual,
além de constituir-se como um material de investigação e
apoio para elas.
37. Textos funcionais da vida escolar cotidiana:
Jolibert nos aponta essa necessidade de favorecer que os
textos funcionais, de uso diário, sejam utilizados no andamento
da aula, com respectivos e diferentes objetivos:
• Quadros de frequência, aniversários, das responsabilidades;
• Listas de projetos; das regras da turma;
• Calendário, cartazes, noticias, jornal mural;
• Textos produzidos pelos próprios alunos;
38. Com o objetivo de aguçar a curiosidade dos alunos, como
motivação ao desenvolvimento do projeto, cartazes sobre um
pirata na escola foram distribuídos pelos corredores. O assunto
virou tema da roda da conversa:
39. * Em roda ficou decidida a produção de um livro que contaria
as aventuras da turma envolvendo o tão falado pirata;
* Levantamento das hipóteses dos alunos: “UM PIRATA NA
ESCOLA? O QUE ELE VEIO FAZER AQUI?”
* Informações dos alunos: o que é um tesouro?
* Caça ao tesouro – após descobrirem as pistas, encontraram o
tesouro: um mascote;
* Pesquisando informações para aprender a cuidar do mascote;
* Sugestões da turma: filme com pirata, trazido por um aluno;
* Texto instrucional: dobradura do barco do pirata;
* Ampliando o universo vocabular: conceituando CONSUMIDOR
E PRODUTO;
* Sistema monetário;
* Lojinha Virtual na aula de Informática;
* Passeio com o dinheiro poupado – “Fazendinha”
Profª Elaine Bernadete
40.
41. Porque consideramos essa proposta de leitura?
“Se ler é interrogar um texto em função de um contexto, de um propósito, de um projeto, para dar
resposta a uma necessidade, então corresponde a uma interação ativa, curiosa, ávida, direta, entre um
leitor e um texto.” (JOLIBERT, p.53)
1. Pela Literatura Infantil ser um dos caminhos que facilitam a aprendizagem durante o processo de
alfabetização, além de desenvolver a imaginação, a criatividade e o proporcionar prazer da leitura;
2. A possibilidade de pensar um projeto a partir da temática proposta pela leitura: correspondência
entre turmas;
3. O trabalho com a leitura: leitura em capítulos do livro; descoberta ou interrogação de texto;
estratégias de conexão texto-texto, texto-mundo, texto-leitor; inferência, visualização;
4. O trabalho com a escrita
42. O que será isso?
Leitura individual e silenciosa;
Confrontação com os colegas O que entenderam do texto? Para que serve, por que foi escrita? Quem
a escreveu? A quem é dirigida?
Síntese do significado Leitura oral completa / confronto ao significado (hipóteses) construídos pela
criança;
Sistematização metacognitiva e metalinguística Como foi possível entender o texto?
Novas ferramentas elaboradas Recapitulando o que aprenderam, a sugestão é o registro dessas
descobertas, que servirão para confecção das próprias cartas. ( Deixa-se um espaço embaixo para
acrescentar novos elementos que ainda serão descobertos);
Seleção das palavras de referência Os alunos escolhem a palavra, escrevem, ilustram, para ser
afixado à “parede de ferramentas” e/ou ser transcrita em cartões para ser manipulada em diferentes
jogos, junto às demais palavras de referência.
43. Manuseio do texto, da frase e da palavra – AUXILIARÃO O PROCESSO DE
COMPREENSÃO
50. Proposta de Produção Textual:
Correspondência Escolar
Utilizada por Freinet, é uma proposta onde os alunos se comunicam com
outros estudantes, de escolas ou classes diferentes. Depois dos professores
terem se comunicado e organizado a forma como ocorrerá a dinâmica,
inicia-se a troca de correspondências, que pode incluir além dos textos e
desenhos produzidos pelas crianças, gravações e vídeos, presentes feitos
por elas, receitas, endereço de e-mail e muitas outras coisas que sejam do
interesse das crianças trocar, ou mostrar a seus correspondentes como é a
vida na sala.
51. Diferente explorações:
• Biografia da autora do livro - Eva Furnari
• Trazer um jogo e observar seu manual de instrução: como faremos para jogar;
• Produção de um livro de contos;
• Receitas da vovó: pesquisa
• Pesquisa sobre diferentes paisagens e lugares a partir de cartão-postal;
O livro conta essa história de uma maneira muito divertida e usando os mais
variados tipos de texto, dessa forma é possível explorá-los de diferentes
formas:
52. REFERÊNCIAS - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA :
BAJARD, E. A descoberta da língua escrita. São Paulo: Cortez, 2012.
BRASIL, Ministério da Educação/SEB. Pró-Letramento: Programa de formação continuada de professores dos anos/séries
iniciais do Ensino Fundamental: Matemática. – edição revista e ampliada incluindo SAEB / Prova Brasil matriz de referência
/ Secretaria de Educação Básica- Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.
BRASIL, República Federativa. Parâmetros Curriculares Nacionais. Rio de Janeiro, DP&A/ME C/SEF, 1.997.
FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo. São Paulo: Cortez, 1996.
JOLIBERT, Josette.; Jacob et al. Além dos muros da escola. Porto Alegre: Artmed, 2006
LER E ESCREVER NA ESCOLA - o Real, o Possível e o Necessário. Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/estante-conteudos-prioritarios
MENDONÇA, O. S. Métodos de Alfabetização: percurso histórico e questões atuais. In: Pedagogia Cidadã
Cadernos de Formação. São Paulo: Unesp, 2003.