2. CONTEXTO HISTÓRICO
segunda geração do modernismo brasileiro
Crise econômica iniciada com a Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929;
Governos autocráticos no Brasil [Vargas] e no Mundo [Nazi-fascismo];
Grande Depressão: falência, ruptura de contratos;
Intervernção do Estado na economia;
Avanço dos partidos socialistas x Chegada de forças conservadoras ao poder;
Industrialização do Brasil via entrada de capital norte-americano.
3. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
segunda geração do modernismo brasileiro
Segunda Geração do Modernismo Brasileiro
1934 análise da vida dos cidadãos da classe média baixa na primeira metade do séc. XX
NARRATIVA REGIONAL NARRATIVA PSICOLÓGICA
engajada intimista
social psicológica
neonaturalista neorrealista
A narrativa é uma reconstituição de um caso de patologia [ansiedade] produzida por uma dívida a
saldar, que leva o protagonista à insônia e, por fim, ao delírio, em torno da figura dos roedores.
O crítico Massaud Moisés diz que Naziazeno é uma espécie de herói/paciente, por meio de cujo
quadro de intensa angústia, o autor focaliza o drama da classe média sem dinheiro. Desse modo,
na obra, entrecruzam-se a ótica do psicanalista e a do observador tornando o romance um misto
de caso psicológico e radiografia do universo pequeno-burguês.
4. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
segunda geração do modernismo brasileiro
NEONATURALISMO NEOREALISMO
[narrativa regional] [narrativa psicológica]
aspectos paisagísticos [ambientação no interior do país] análise dos mecanismos mentais
aspectos históricos [coronelismo, elites agrárias] [machismo, reificação, problemas existenciais]
aspectos humanos [exploração do homem pelo homem] discurso indireto livre, [análise psicológica]
linguagem [termos e expressões regionais] ciúmes, intrigas, desentendimentos
zoomorfismo mentalidade conservadora e patriarcal
5. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
segunda geração do modernismo brasileiro
a banalidade convertida em temática literária
O eixo narrativo de Os ratos é uma pequena dívida de um funcionário com um leiteiro. No início do
dia, Naziazeno, o protagonista da novela, tem sua fama de mau pagador revelada a plenos pulmões.
A partir de então, o eixo dramático da narrativa se adensa, e o narrador, através do discurso indireto
livre [bastante marcado por intermédio do presente do indicativo], acompanha a tensão e a
expectativa de Naziazeno, em busca do dinheiro para saldar sua dívida.
6. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
segunda geração do modernismo brasileiro
O Mito de Sísifo
De acordo com a mitologia, Sísifo, para se libertar dos Infernos, deveria rolar uma enorme rocha
montanha acima. Caso conseguisse atingir o come com a pedra, estaria liberto. No entanto, toda vez
que atingia o ponto máximo da elevação, a rocha caía, forçando-o a recomeçar o trabalho.
Naziazeno e o Mito de Sísifo
Ao rolar a pedra para o alto da montanha, Sísifo angariava contra si uma lei natural implacável, a Lei
da Gravidade, pois, ao levar a pedra montanha acima, perdia as forças, ao passo que a gravidade,
sempre a mesma, puxaria a pedra para baixo. Tal qual a personagem grega, Naziazeno tem sua
situação agravada ao longo da narrativa, pois, se no início da história devia 53.000 réis ao leiteiro, ao
final passa a dever 60.000 a um agiota.
7. O ENREDO
um dia na vida de naziazeno
Naziazeno Barbosa, funcionário pertencente ao estrato da classe média menos favorecida, tenta
por todos os meios conseguir 53 mil reis para saldar uma dívida com o leiteiro, que lhe havia
sentenciado pela manhã – lhe dou mais um dia. Essa frase fica ecoando na cabeça do protagonista,
atormentando-o. Caso a dívida não fosse paga, o fornecimento do leite seria suspenso e o filho,
que tinha problemas de saúde, não podia passar sem o leite. A cena de humilhação ocorre logo
pela manhã. Depois de ter visto sua condição d mau pagador espalhada pela vizinhança, Naziazeno
sai em busca do dinheiro para resgatar a dívida. Do escritório para a rua, passa o dia inteiro atrás
de alguém que lhe pudesse emprestar o dinheiro. De início, pensa em pedir um empréstimo ao
chefe. Conversa com seu amigo Alcides, q diz q o poderia valer, se ele recebesse uma dívida de
100.000 réis do Andrade, para quem intermediara um negócio. Naziazeno é ludibriado, pois o
credor de Alcides diz q quem devia o amigo de Naziazeno era outra pessoa. Sem dinheiro para
almoçar, acaba procurando um conhecido para um pequeno empréstimo. Encontra, por acaso, o
Costa Miranda q lhe empresta 5.000 réis. Ao invés d almoçar, Naziazeno aposta o dinheiro. E perde.
8. O ENREDO
um dia na vida de naziazeno
Naziazeno vai até um atacadista, pede um empréstimo, sem êxito. De volta a um café, encontra o
Alcides. Relata os ocorridos. O Duque está lá, conversando com um senhor de idade. Sugere a
Naziazeno um empréstimo com o Rocco. São 18:20. Não consegue. Novo agiota. Nova negativa.
Pensam, então, em abordar o Mondina [pseudo-advogado, velhusco]. Resgatam o anel do avô
de Alcides q estava penhorado por um valor baixo [ajuda de Mondina]. O anel é penhorado por
300.000 réis. Sessenta mil são emprestados a Naziazeno, que, finalmente, volta para casa. Antes,
porém, resgata os sapatos da mulher q estavam sendo consertados, compra queijo, manteiga e
brinquedos para seu filho. Comem e vão dormir. Naziazeno rememora as situações vividas durante
o dia. Não consegue dormir. Vai com a mulher à cozinha e deixa o dinheiro do leiteiro junto da
vasilha onde a bebida seria despejado. Tenta dormir, mas fica sobressaltado com chiados que vêm
da cozinha. Teme que os ratos roam o dinheiro. Insone, rememora os eventos que o levaram ao
valor para pagar o leiteiro. Novo chiado dos ratos. Sobressalto. Ao final da madrugada, Naziazeno
ouve o barulho do leite enchendo a vasilha e os passos do leiteiro se distanciando. Enfim, dorme.
9. ASPECTOS TÉCNICOS
os ratos
espaço físico
urbano, localizado no sul do Brasil, ainda que não haja uso de expressões regionais
técnica narrativa
secura de estilo: frase econômica, concisa, substantiva
10. PONTO DE VISTA
os ratos
objetividade
o narrador representa o dia de Naziazeno através de referências diretas a inúmeros relógios
menos o seu, que estava empenhado; Naziazeno faz hora para esperar o chefe [vai a um café]
[perambula pela cidade e procura pelos amigos]
recursos gráficos
itálico: enfatiza as palavras destacadas
aspas: ampliam o campo semântico dos termos utilizados
desse modo, temos uma oscilação entre o ponto de vista do protagonista e o do narrador
situação de Naziazeno
circunstância trivial, comum na vida cotidiana da grande maioria dos pais de família: a contração
de dívidas, por não receberem um salário suficiente para sustentar mulher e filhos.
11. PONTO DE VISTA
os ratos
um drama vivido em três etapas
a procura a espera o medo [prazer]
empréstimo pagamento da dívida imagem dos ratos
Nenhum destes três momentos nega ou apaga os outros, pois a procura é também marcada pela
espera e na espera se entrevê a procura e por baixo delas circulam sempre, de modo furtivo, a
esperança e o desespero, confundidos numa mistura emocional sem limites internos. Desse
modo, a vida acaba por se tornar uma luta constante para o protagonista, dilacerando tanto no
aspecto físico quando no existencial na sua ânsia incessante em saldar a dívida.
12. PONTO DE VISTA
os ratos
estudo do foco narrativo
narrador onisciente neutro
conta, distanciado, as ações vivenciadas pelas personagens
revela, através do discurso indireto livre, o fluxo dos pensamentos de Naziazeno [presente do indicativo]
observação do íntimo da personagem, revelando suas angústias e frustrações
13. O TEMPO
os ratos
O TEMPO HISTÓRICO
[anos 1930]
1) polarização entre comunismo e integralismo;
2) comparação entre a situação local e a vivida na Alemanha;
3) alusão às medidas de racionalização das zonas habitadas por estrangeiros
O TEMPO DA MEMÓRIA
[paralelo alegórico do presente da enunciação]
as lembranças são recordações que remetem o protagonista a experiências dramáticas, dominadas
principalmente pela figura materna [paralelo alegórico que comenta crise presente de Naziazeno];
infância, situações angustiantes e negativas: a) ter que passar um ano vestido de Santo Antôio; e
b) não pode brincar na rua pq não havia tomado sua dose de leite [alusão irônica].
14. PERSONAGENS
os ratos
PERSONAGENS MASCULINAS
[Os ratos]
ligadas ao mundo dos negócios, do trabalho e do capital [sociedade patriarcal, conservadora]
ao ser cobrado pelo leiteiro, Naziazeno tem sua função de provedor questionada frente a mulher
PERSONAGENS FEMININAS
[Os ratos]
aparecem ligadas ao lar e aos afazeres domésticos
PEQUENOS E MÉDIOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
[Os ratos]
engenheiros, chefes de seção, advogados, despachantes, corretores, agiotas, hipotecários,
comerciantes e indivíduos vivendo de pequenos negócios, negociatas e do jogo ilícito
15. PERSONAGENS
os ratos
Naziazeno
Modesto funcionário público,deve a muitas pessoas,é pouco perseverante e medíocre no trabalho,
talvez fragilizado pela condição de penúria material, atormentado pela necessidade de saldar uma
dívida com o leiteiro
Adelaide
Esposa de Naziazeno. Convive, diariamente, com as dificuldades de um orçamento familiar
minguado, insuficiente para o sustento digno da família.Um mulher simples e tímida.
Mainho
Filho de Naziazeno e Adelaide.
Dr. Romeiro
Diretor da repartição pública onde Naziazeno trabalha. Há suspeitas de corrupção sobre ele. Certa
vez, emprestou dinheiro a Naziazeno.
Dr. Mondina
Falso advogado; bajulado por conta do dinheiro de que dispõe. Foi quem desembolsou o dinheiro
para o grupo (Naziazeno, Alcides e Duque), permitindo ao herói voltar para casa com a quantia
devida ao leiteiro.
16. PERSONAGENS
os ratos
Rocco
Agiota para quem Alcides já deve algum dinheiro. Nega-se a fazer novo empréstimo.
Fernandes
Agiota que se nega a emprestar dinheiro (cem mil réis) a Duque.
Alcides
Amigo de Naziazeno, solidário na pobreza e nas dificuldades, fazendo tudo para ajudá-lo.
Assunção
Agiota da Rua Nova. Nega-se a emprestar dinheiro.
Duque
Amigo de Naziazeno e de Alcides. Inspira confiança porque tem sempre uma solução para os
problemas que envolvem dinheiro.
Fraga
Vizinho de Naziazeno. Parece ter uma vida bem arrumada, não precisando passar pelos vexames
financeiros por que passa o protagonista.
17. PERSONAGENS
os ratos
Costa Miranda
Amigo de Naziazeno; emprestou-lhe, na rua, cinco mil réis para o almoço.
Martinez
Dono da loja de penhores onde o anel de Alcides estava guardado. Mostrou boa vontade e foi, à
noite, abrir a loja para devolver a jóia.
Dupasquier
Dono de uma joalheria. Examina o anel de Alcides e oferece trezentos e cinqüenta mil réis. Quando
descobre que a proposta é de penhor, desiste do negócio.
18. DINHEIRO
os ratos
as diferenças entre as personagens são marcadas nitidamente
formas, locais de morar
formas de vestir
ternos de linho
ternos de segunda mão
acessórios, objetos pessoais
chapéus
bengalas
carteiras
sapatos
modos de carregar dinheiro
Costa Miranda, amigo de Naziazeno, armazena o dinheiro na carteira, separando as cédulas por seus
valores; o protagonista não tem carteira, guarda o dinheiro no bolso, isso o torna inseguro, pois, no
bolso simplesmente, o dinheiro parece-lhe ficar desprotegido
19. DINHEIRO
os ratos
a aquisição
Para o protagonista, o dinheiro não é fruto da prestação de trabalho, mas de uma série de práticas
que envolvem a sorte (o jogo e a roleta), em que se precisa ser esperto; a aquisição do dinheiro não é
visto como produto natural de um trabalho, mas como fruto, amargo e penoso, de uma rede de
pedidos e favores;
crítica à ideologia da cordialidade
Quando se analisam as relações sociais que permeiam a vida do protagonista, verifica-se que elas se
ajustam a uma sociedade vivendo do pacto entre homens cordiais; personagem curiosa, Duque, é
uma figura superior, corretor da miséria, envernizado por fundamentos personalistas e aristocráticos
(apelido), realiza os negócios de maneira serena, pois tem a capacidade de despersonalizar o negócio.
Paternal, o Duque não põe em dúvida a necessidade do amigo, espécie de afilhado, e arrisca até a
perspectiva de bons negócios com o dr. Mondina na complicada transação de dinheiro vinculada ao
duplo penhor do anel de bacharel do avô de Alcides.
20. A SIMBOLOGIA
os ratos
o dinheiro e os “marginais”
No círculo em que vive nosso protagonista o dinheiro faz parte de um círculo marginal no que diz
respeito às atividades financeiras e de produção: nesse mundo, o dinheiro só é papel: sua rápida
passagem por várias mãos não muda nada nem produz outro dinheiro.
os “ratos”
Os indivíduos representados na narrativa de Machado ocupam o espaço urbano e se deslocam dentro dele num
movimento incessante. Esse movimento revela elementos significativos de uma cultura urbana que aparece como
familiar e dominada por todos, uma vez que esses perambuladores, freqüentemente, são conhecidos do protagonista e de
seus interlocutores e participantes das redes informais de trabalho.
a crítica social
temos, em Os ratos, uma denúncia de uma situação social mais ampla: a dos marginalizados, presos a
uma realidade alienante marcada pela angústia e pela miséria e, principalmente, pela humilhação. É
essa a realidade que leva os indivíduos à desumanização: agem como seres que rastreiam,
percorrendo, sem cessar, os labirintos de uma cidade, mitigando algum conforto com migalhas;
enfim, ratos.