SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 20
Os ratos,
Dyonélio Machado
   Manoel Neves
CONTEXTO HISTÓRICO
          segunda geração do modernismo brasileiro
Crise econômica iniciada com a Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929;
 Governos autocráticos no Brasil [Vargas] e no Mundo [Nazi-fascismo];
            Grande Depressão: falência, ruptura de contratos;
                  Intervernção do Estado na economia;
Avanço dos partidos socialistas x Chegada de forças conservadoras ao poder;
    Industrialização do Brasil via entrada de capital norte-americano.
O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
                  segunda geração do modernismo brasileiro
                                Segunda Geração do Modernismo Brasileiro
1934          análise da vida dos cidadãos da classe média baixa na primeira metade do séc. XX

                 NARRATIVA REGIONAL                 NARRATIVA PSICOLÓGICA

                          engajada                               intimista

                            social                             psicológica

                        neonaturalista                         neorrealista

A narrativa é uma reconstituição de um caso de patologia [ansiedade] produzida por uma dívida a

 saldar, que leva o protagonista à insônia e, por fim, ao delírio, em torno da figura dos roedores.

O crítico Massaud Moisés diz que Naziazeno é uma espécie de herói/paciente, por meio de cujo
quadro de intensa angústia, o autor focaliza o drama da classe média sem dinheiro. Desse modo,
na obra, entrecruzam-se a ótica do psicanalista e a do observador tornando o romance um misto
de caso psicológico e radiografia do universo pequeno-burguês.
O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
                      segunda geração do modernismo brasileiro
            NEONATURALISMO                                            NEOREALISMO
                [narrativa regional]                                 [narrativa psicológica]


aspectos paisagísticos [ambientação no interior do país]        análise dos mecanismos mentais

   aspectos históricos [coronelismo, elites agrárias]      [machismo, reificação, problemas existenciais]

aspectos humanos [exploração do homem pelo homem]          discurso indireto livre, [análise psicológica]

      linguagem [termos e expressões regionais]                 ciúmes, intrigas, desentendimentos

                    zoomorfismo                              mentalidade conservadora e patriarcal
O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
                   segunda geração do modernismo brasileiro
                      a banalidade convertida em temática literária

O eixo narrativo de Os ratos é uma pequena dívida de um funcionário com um leiteiro. No início do
dia, Naziazeno, o protagonista da novela, tem sua fama de mau pagador revelada a plenos pulmões.
A partir de então, o eixo dramático da narrativa se adensa, e o narrador, através do discurso indireto
livre [bastante marcado por intermédio do presente do indicativo], acompanha a tensão e a
expectativa de Naziazeno, em busca do dinheiro para saldar sua dívida.
O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930”
                    segunda geração do modernismo brasileiro
                                          O Mito de Sísifo

De acordo com a mitologia, Sísifo, para se libertar dos Infernos, deveria rolar uma enorme rocha
montanha acima. Caso conseguisse atingir o come com a pedra, estaria liberto. No entanto, toda vez
que atingia o ponto máximo da elevação, a rocha caía, forçando-o a recomeçar o trabalho.

                                 Naziazeno e o Mito de Sísifo

Ao rolar a pedra para o alto da montanha, Sísifo angariava contra si uma lei natural implacável, a Lei
da Gravidade, pois, ao levar a pedra montanha acima, perdia as forças, ao passo que a gravidade,
sempre a mesma, puxaria a pedra para baixo. Tal qual a personagem grega, Naziazeno tem sua
situação agravada ao longo da narrativa, pois, se no início da história devia 53.000 réis ao leiteiro, ao
final passa a dever 60.000 a um agiota.
O ENREDO
                              um dia na vida de naziazeno
 Naziazeno Barbosa, funcionário pertencente ao estrato da classe média menos favorecida, tenta

   por todos os meios conseguir 53 mil reis para saldar uma dívida com o leiteiro, que lhe havia

sentenciado pela manhã – lhe dou mais um dia. Essa frase fica ecoando na cabeça do protagonista,

  atormentando-o. Caso a dívida não fosse paga, o fornecimento do leite seria suspenso e o filho,

  que tinha problemas de saúde, não podia passar sem o leite. A cena de humilhação ocorre logo

pela manhã. Depois de ter visto sua condição d mau pagador espalhada pela vizinhança, Naziazeno

 sai em busca do dinheiro para resgatar a dívida. Do escritório para a rua, passa o dia inteiro atrás

  de alguém que lhe pudesse emprestar o dinheiro. De início, pensa em pedir um empréstimo ao

  chefe. Conversa com seu amigo Alcides, q diz q o poderia valer, se ele recebesse uma dívida de

   100.000 réis do Andrade, para quem intermediara um negócio. Naziazeno é ludibriado, pois o

  credor de Alcides diz q quem devia o amigo de Naziazeno era outra pessoa. Sem dinheiro para

 almoçar, acaba procurando um conhecido para um pequeno empréstimo. Encontra, por acaso, o

Costa Miranda q lhe empresta 5.000 réis. Ao invés d almoçar, Naziazeno aposta o dinheiro. E perde.
O ENREDO
                             um dia na vida de naziazeno
Naziazeno vai até um atacadista, pede um empréstimo, sem êxito. De volta a um café, encontra o

 Alcides. Relata os ocorridos. O Duque está lá, conversando com um senhor de idade. Sugere a

Naziazeno um empréstimo com o Rocco. São 18:20. Não consegue. Novo agiota. Nova negativa.

  Pensam, então, em abordar o Mondina [pseudo-advogado, velhusco]. Resgatam o anel do avô

  de Alcides q estava penhorado por um valor baixo [ajuda de Mondina]. O anel é penhorado por

300.000 réis. Sessenta mil são emprestados a Naziazeno, que, finalmente, volta para casa. Antes,

 porém, resgata os sapatos da mulher q estavam sendo consertados, compra queijo, manteiga e

brinquedos para seu filho. Comem e vão dormir. Naziazeno rememora as situações vividas durante

  o dia. Não consegue dormir. Vai com a mulher à cozinha e deixa o dinheiro do leiteiro junto da

vasilha onde a bebida seria despejado. Tenta dormir, mas fica sobressaltado com chiados que vêm

 da cozinha. Teme que os ratos roam o dinheiro. Insone, rememora os eventos que o levaram ao

valor para pagar o leiteiro. Novo chiado dos ratos. Sobressalto. Ao final da madrugada, Naziazeno

ouve o barulho do leite enchendo a vasilha e os passos do leiteiro se distanciando. Enfim, dorme.
ASPECTOS TÉCNICOS
                                    os ratos

                              espaço físico
urbano, localizado no sul do Brasil, ainda que não haja uso de expressões regionais


                          técnica narrativa
             secura de estilo: frase econômica, concisa, substantiva
PONTO DE VISTA
                                           os ratos

                                     objetividade
  o narrador representa o dia de Naziazeno através de referências diretas a inúmeros relógios

menos o seu, que estava empenhado; Naziazeno faz hora para esperar o chefe [vai a um café]

                        [perambula pela cidade e procura pelos amigos]


                                 recursos gráficos
                            itálico: enfatiza as palavras destacadas

                   aspas: ampliam o campo semântico dos termos utilizados

   desse modo, temos uma oscilação entre o ponto de vista do protagonista e o do narrador


                           situação de Naziazeno
circunstância trivial, comum na vida cotidiana da grande maioria dos pais de família: a contração

      de dívidas, por não receberem um salário suficiente para sustentar mulher e filhos.
PONTO DE VISTA
                                         os ratos

                    um drama vivido em três etapas
                 a procura               a espera             o medo [prazer]

                empréstimo          pagamento da dívida       imagem dos ratos

Nenhum destes três momentos nega ou apaga os outros, pois a procura é também marcada pela
espera e na espera se entrevê a procura e por baixo delas circulam sempre, de modo furtivo, a
esperança e o desespero, confundidos numa mistura emocional sem limites internos. Desse
modo, a vida acaba por se tornar uma luta constante para o protagonista, dilacerando tanto no
aspecto físico quando no existencial na sua ânsia incessante em saldar a dívida.
PONTO DE VISTA
                                              os ratos

                             estudo do foco narrativo
                                     narrador onisciente neutro

                      conta, distanciado, as ações vivenciadas pelas personagens

revela, através do discurso indireto livre, o fluxo dos pensamentos de Naziazeno [presente do indicativo]

             observação do íntimo da personagem, revelando suas angústias e frustrações
O TEMPO
                                            os ratos
                                 O TEMPO HISTÓRICO
                                          [anos 1930]


                         1) polarização entre comunismo e integralismo;

                  2) comparação entre a situação local e a vivida na Alemanha;

          3) alusão às medidas de racionalização das zonas habitadas por estrangeiros

                                O TEMPO DA MEMÓRIA
                      [paralelo alegórico do presente da enunciação]


as lembranças são recordações que remetem o protagonista a experiências dramáticas, dominadas

principalmente pela figura materna [paralelo alegórico que comenta crise presente de Naziazeno];

 infância, situações angustiantes e negativas: a) ter que passar um ano vestido de Santo Antôio; e

        b) não pode brincar na rua pq não havia tomado sua dose de leite [alusão irônica].
PERSONAGENS
                                         os ratos
                          PERSONAGENS MASCULINAS
                                         [Os ratos]


 ligadas ao mundo dos negócios, do trabalho e do capital [sociedade patriarcal, conservadora]

ao ser cobrado pelo leiteiro, Naziazeno tem sua função de provedor questionada frente a mulher

                           PERSONAGENS FEMININAS
                                         [Os ratos]


                     aparecem ligadas ao lar e aos afazeres domésticos

            PEQUENOS E MÉDIOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
                                         [Os ratos]


  engenheiros, chefes de seção, advogados, despachantes, corretores, agiotas, hipotecários,

     comerciantes e indivíduos vivendo de pequenos negócios, negociatas e do jogo ilícito
PERSONAGENS
                                         os ratos
                                         Naziazeno
Modesto funcionário público,deve a muitas pessoas,é pouco perseverante e medíocre no trabalho,
talvez fragilizado pela condição de penúria material, atormentado pela necessidade de saldar uma
dívida com o leiteiro

                                           Adelaide
Esposa de Naziazeno. Convive, diariamente, com as dificuldades de um orçamento familiar
minguado, insuficiente para o sustento digno da família.Um mulher simples e tímida.
                                           Mainho
Filho de Naziazeno e Adelaide.
                                        Dr. Romeiro
Diretor da repartição pública onde Naziazeno trabalha. Há suspeitas de corrupção sobre ele. Certa
vez, emprestou dinheiro a Naziazeno.

                                        Dr. Mondina
Falso advogado; bajulado por conta do dinheiro de que dispõe. Foi quem desembolsou o dinheiro
para o grupo (Naziazeno, Alcides e Duque), permitindo ao herói voltar para casa com a quantia
devida ao leiteiro.
PERSONAGENS
                                            os ratos
                                             Rocco
Agiota para quem Alcides já deve algum dinheiro. Nega-se a fazer novo empréstimo.
                                           Fernandes
Agiota que se nega a emprestar dinheiro (cem mil réis) a Duque.
                                             Alcides
Amigo de Naziazeno, solidário na pobreza e nas dificuldades, fazendo tudo para ajudá-lo.
                                            Assunção
Agiota da Rua Nova. Nega-se a emprestar dinheiro.

                                             Duque
Amigo de Naziazeno e de Alcides. Inspira confiança porque tem sempre uma solução para os
problemas que envolvem dinheiro.

                                              Fraga
Vizinho de Naziazeno. Parece ter uma vida bem arrumada, não precisando passar pelos vexames
financeiros por que passa o protagonista.
PERSONAGENS
                                          os ratos
                                        Costa Miranda
Amigo de Naziazeno; emprestou-lhe, na rua, cinco mil réis para o almoço.
                                           Martinez
Dono da loja de penhores onde o anel de Alcides estava guardado. Mostrou boa vontade e foi, à
noite, abrir a loja para devolver a jóia.

                                          Dupasquier
Dono de uma joalheria. Examina o anel de Alcides e oferece trezentos e cinqüenta mil réis. Quando
descobre que a proposta é de penhor, desiste do negócio.
DINHEIRO
                                            os ratos
                  as diferenças entre as personagens são marcadas nitidamente

                                     formas, locais de morar

                                         formas de vestir
                                           ternos de linho
                                       ternos de segunda mão

                                   acessórios, objetos pessoais
                                              chapéus
                                              bengalas
                                              carteiras
                                              sapatos

                                   modos de carregar dinheiro

Costa Miranda, amigo de Naziazeno, armazena o dinheiro na carteira, separando as cédulas por seus
valores; o protagonista não tem carteira, guarda o dinheiro no bolso, isso o torna inseguro, pois, no
bolso simplesmente, o dinheiro parece-lhe ficar desprotegido
DINHEIRO
                                             os ratos

                                          a aquisição
Para o protagonista, o dinheiro não é fruto da prestação de trabalho, mas de uma série de práticas
que envolvem a sorte (o jogo e a roleta), em que se precisa ser esperto; a aquisição do dinheiro não é
visto como produto natural de um trabalho, mas como fruto, amargo e penoso, de uma rede de
pedidos e favores;

                      crítica à ideologia da cordialidade
Quando se analisam as relações sociais que permeiam a vida do protagonista, verifica-se que elas se
ajustam a uma sociedade vivendo do pacto entre homens cordiais; personagem curiosa, Duque, é
uma figura superior, corretor da miséria, envernizado por fundamentos personalistas e aristocráticos
(apelido), realiza os negócios de maneira serena, pois tem a capacidade de despersonalizar o negócio.
Paternal, o Duque não põe em dúvida a necessidade do amigo, espécie de afilhado, e arrisca até a
perspectiva de bons negócios com o dr. Mondina na complicada transação de dinheiro vinculada ao
duplo penhor do anel de bacharel do avô de Alcides.
A SIMBOLOGIA
                                                   os ratos
                               o dinheiro e os “marginais”
No círculo em que vive nosso protagonista o dinheiro faz parte de um círculo marginal no que diz
respeito às atividades financeiras e de produção: nesse mundo, o dinheiro só é papel: sua rápida
passagem por várias mãos não muda nada nem produz outro dinheiro.

                                                os “ratos”
Os indivíduos representados na narrativa de Machado ocupam o espaço urbano e se deslocam dentro dele num
movimento incessante. Esse movimento revela elementos significativos de uma cultura urbana que aparece como
familiar e dominada por todos, uma vez que esses perambuladores, freqüentemente, são conhecidos do protagonista e de
seus interlocutores e participantes das redes informais de trabalho.

                                            a crítica social
temos, em Os ratos, uma denúncia de uma situação social mais ampla: a dos marginalizados, presos a
uma realidade alienante marcada pela angústia e pela miséria e, principalmente, pela humilhação. É
essa a realidade que leva os indivíduos à desumanização: agem como seres que rastreiam,
percorrendo, sem cessar, os labirintos de uma cidade, mitigando algum conforto com migalhas;
enfim, ratos.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Cap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismoCap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismo
whybells
 
Amar, verbo intransitivo, de mário de andrade
Amar, verbo intransitivo, de mário de andradeAmar, verbo intransitivo, de mário de andrade
Amar, verbo intransitivo, de mário de andrade
carinemorossino74
 

Mais procurados (20)

Machado de Assis
Machado de AssisMachado de Assis
Machado de Assis
 
Quinhentismo
QuinhentismoQuinhentismo
Quinhentismo
 
Angústia, de Graciliano Ramos
Angústia, de Graciliano RamosAngústia, de Graciliano Ramos
Angústia, de Graciliano Ramos
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
O cortiço
O cortiçoO cortiço
O cortiço
 
Realismo no brasil
Realismo no brasilRealismo no brasil
Realismo no brasil
 
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Memórias Póstumas de Brás  Cubas Memórias Póstumas de Brás  Cubas
Memórias Póstumas de Brás Cubas
 
O pré modernismo
O pré modernismoO pré modernismo
O pré modernismo
 
Cap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismoCap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismo
 
3ª fase do modernismo - Clarice Lispector
3ª fase do modernismo - Clarice Lispector3ª fase do modernismo - Clarice Lispector
3ª fase do modernismo - Clarice Lispector
 
Fernando pessoa
Fernando pessoaFernando pessoa
Fernando pessoa
 
Romantismo no Brasil - Prosa
Romantismo no Brasil - ProsaRomantismo no Brasil - Prosa
Romantismo no Brasil - Prosa
 
Amar, verbo intransitivo, de mário de andrade
Amar, verbo intransitivo, de mário de andradeAmar, verbo intransitivo, de mário de andrade
Amar, verbo intransitivo, de mário de andrade
 
Romantismo no Brasil
Romantismo no BrasilRomantismo no Brasil
Romantismo no Brasil
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Quinhentismo
QuinhentismoQuinhentismo
Quinhentismo
 
Vidas secas
Vidas secasVidas secas
Vidas secas
 
Literatura brasileira
Literatura brasileiraLiteratura brasileira
Literatura brasileira
 
Crônica
CrônicaCrônica
Crônica
 
Modernismo
Modernismo Modernismo
Modernismo
 

Destaque

Modernismo 2º fase
Modernismo 2º faseModernismo 2º fase
Modernismo 2º fase
Marina Matos
 
Erico Verissimo - Vida e Obra
Erico Verissimo - Vida e ObraErico Verissimo - Vida e Obra
Erico Verissimo - Vida e Obra
Lisiane Locatelli
 
Trabalho erico verissimo
Trabalho erico verissimoTrabalho erico verissimo
Trabalho erico verissimo
Valkiria Marks
 
SEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMO
SEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMOSEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMO
SEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMO
Marcelo Fernandes
 
Segunda fase do Modernismo no Brasil
Segunda fase do Modernismo no BrasilSegunda fase do Modernismo no Brasil
Segunda fase do Modernismo no Brasil
eeadolpho
 
O rato do campo e o rato da cidade
O rato do campo e o rato da cidadeO rato do campo e o rato da cidade
O rato do campo e o rato da cidade
tejinha
 
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
CrisBiagio
 

Destaque (17)

Sidmanv2
Sidmanv2Sidmanv2
Sidmanv2
 
Os Ratos - Dyonélio Machado
Os Ratos - Dyonélio MachadoOs Ratos - Dyonélio Machado
Os Ratos - Dyonélio Machado
 
Encerramento 2013 - Destaques do ano
Encerramento 2013 - Destaques do anoEncerramento 2013 - Destaques do ano
Encerramento 2013 - Destaques do ano
 
A prosa de 30
A prosa de 30A prosa de 30
A prosa de 30
 
Modernismo 2º fase
Modernismo 2º faseModernismo 2º fase
Modernismo 2º fase
 
Erico Verissimo - Vida e Obra
Erico Verissimo - Vida e ObraErico Verissimo - Vida e Obra
Erico Verissimo - Vida e Obra
 
Trabalho erico verissimo
Trabalho erico verissimoTrabalho erico verissimo
Trabalho erico verissimo
 
Cultura e informação roque laraia
Cultura e informação   roque laraiaCultura e informação   roque laraia
Cultura e informação roque laraia
 
SEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMO
SEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMOSEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMO
SEMINÁRIO DE LITERATURA - ÉRICO VERÍSSIMO
 
Erico Veríssimo As aventuras de tibicuera (pdf) (rev)
Erico Veríssimo   As aventuras de tibicuera (pdf) (rev)Erico Veríssimo   As aventuras de tibicuera (pdf) (rev)
Erico Veríssimo As aventuras de tibicuera (pdf) (rev)
 
Segunda fase do Modernismo no Brasil
Segunda fase do Modernismo no BrasilSegunda fase do Modernismo no Brasil
Segunda fase do Modernismo no Brasil
 
O rato do campo e o rato da cidade
O rato do campo e o rato da cidadeO rato do campo e o rato da cidade
O rato do campo e o rato da cidade
 
Arquitetura moderna e contemporanea parte 1
Arquitetura moderna e contemporanea parte 1Arquitetura moderna e contemporanea parte 1
Arquitetura moderna e contemporanea parte 1
 
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
 
Arquitetura moderna
Arquitetura modernaArquitetura moderna
Arquitetura moderna
 
PROSA Y VERSO
PROSA Y VERSOPROSA Y VERSO
PROSA Y VERSO
 
AULA 08 - RESENHA CRÍTICA - PRONTA
AULA 08 - RESENHA CRÍTICA - PRONTAAULA 08 - RESENHA CRÍTICA - PRONTA
AULA 08 - RESENHA CRÍTICA - PRONTA
 

Semelhante a Análise de os ratos, de dyonélio machado

Revisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismoRevisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismo
ma.no.el.ne.ves
 
Obra Vidas Secas
Obra Vidas SecasObra Vidas Secas
Obra Vidas Secas
Cesarguto
 
Respostas do roteiro de vidas secas
Respostas do roteiro de vidas secasRespostas do roteiro de vidas secas
Respostas do roteiro de vidas secas
BriefCase
 
Livros essências da leitura brasileira
Livros essências da leitura brasileiraLivros essências da leitura brasileira
Livros essências da leitura brasileira
Ana Borges
 

Semelhante a Análise de os ratos, de dyonélio machado (20)

O romance de 1930
O romance de 1930O romance de 1930
O romance de 1930
 
1º resumo lp
1º resumo lp1º resumo lp
1º resumo lp
 
Revisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismoRevisional de estilos de época 05, realismo
Revisional de estilos de época 05, realismo
 
Obra Vidas Secas
Obra Vidas SecasObra Vidas Secas
Obra Vidas Secas
 
Arquivo para aula sobre livro Vidas Secas
Arquivo para aula sobre livro Vidas SecasArquivo para aula sobre livro Vidas Secas
Arquivo para aula sobre livro Vidas Secas
 
O cotidiano peculiar, por taisa silveira
O cotidiano peculiar, por taisa silveiraO cotidiano peculiar, por taisa silveira
O cotidiano peculiar, por taisa silveira
 
Contos
ContosContos
Contos
 
Respostas do roteiro de vidas secas
Respostas do roteiro de vidas secasRespostas do roteiro de vidas secas
Respostas do roteiro de vidas secas
 
Realismo
RealismoRealismo
Realismo
 
10 livros
10 livros10 livros
10 livros
 
PRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptxPRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptx
 
PRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptxPRE-MODERNISMO.pptx
PRE-MODERNISMO.pptx
 
Aula 25 modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)
Aula 25   modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)Aula 25   modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)
Aula 25 modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)
 
PRÉ-MODERNISMO.pptx
PRÉ-MODERNISMO.pptxPRÉ-MODERNISMO.pptx
PRÉ-MODERNISMO.pptx
 
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães RosaModernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
Modernismo geração de 45: Clarice Lispector e Guimarães Rosa
 
Pre modernismo
Pre modernismoPre modernismo
Pre modernismo
 
Fogomorto
FogomortoFogomorto
Fogomorto
 
Livros essências da leitura brasileira
Livros essências da leitura brasileiraLivros essências da leitura brasileira
Livros essências da leitura brasileira
 
Trabalho de língua portuguesa
Trabalho de língua portuguesaTrabalho de língua portuguesa
Trabalho de língua portuguesa
 
10 livros essenciais
10 livros essenciais10 livros essenciais
10 livros essenciais
 

Mais de ma.no.el.ne.ves

Mais de ma.no.el.ne.ves (20)

Segunda aplicação do ENEM-2019: Literatura
Segunda aplicação do ENEM-2019: LiteraturaSegunda aplicação do ENEM-2019: Literatura
Segunda aplicação do ENEM-2019: Literatura
 
Segunda aplicação do ENEM-2019: Internet e tecnologias
Segunda aplicação do ENEM-2019: Internet e tecnologiasSegunda aplicação do ENEM-2019: Internet e tecnologias
Segunda aplicação do ENEM-2019: Internet e tecnologias
 
Segunda aplicação do ENEM-2019: Identidades brasileiras
Segunda aplicação do ENEM-2019: Identidades brasileirasSegunda aplicação do ENEM-2019: Identidades brasileiras
Segunda aplicação do ENEM-2019: Identidades brasileiras
 
Segunda aplicação do ENEM-2019: Educação Física
Segunda aplicação do ENEM-2019: Educação FísicaSegunda aplicação do ENEM-2019: Educação Física
Segunda aplicação do ENEM-2019: Educação Física
 
Segunda aplicação do ENEM-2019: Compreensão textual
Segunda aplicação do ENEM-2019: Compreensão textualSegunda aplicação do ENEM-2019: Compreensão textual
Segunda aplicação do ENEM-2019: Compreensão textual
 
Segunda aplicação do ENEM-2019: Aspectos gramaticais
Segunda aplicação do ENEM-2019: Aspectos gramaticaisSegunda aplicação do ENEM-2019: Aspectos gramaticais
Segunda aplicação do ENEM-2019: Aspectos gramaticais
 
Segunda aplicação do ENEM-2019: Artes
Segunda aplicação do ENEM-2019: ArtesSegunda aplicação do ENEM-2019: Artes
Segunda aplicação do ENEM-2019: Artes
 
ENEM-2019: Literatura
ENEM-2019: LiteraturaENEM-2019: Literatura
ENEM-2019: Literatura
 
ENEM-2019: Internet e Tecnologias
ENEM-2019: Internet e TecnologiasENEM-2019: Internet e Tecnologias
ENEM-2019: Internet e Tecnologias
 
ENEM-2019: Identidades brasileiras
ENEM-2019: Identidades brasileirasENEM-2019: Identidades brasileiras
ENEM-2019: Identidades brasileiras
 
ENEM-2019: Aspectos Gramaticais
ENEM-2019: Aspectos GramaticaisENEM-2019: Aspectos Gramaticais
ENEM-2019: Aspectos Gramaticais
 
ENEM-2019: Educação Física
ENEM-2019: Educação FísicaENEM-2019: Educação Física
ENEM-2019: Educação Física
 
ENEM-2019: Compreensão Textual
ENEM-2019: Compreensão TextualENEM-2019: Compreensão Textual
ENEM-2019: Compreensão Textual
 
ENEM-2019: Artes
ENEM-2019: ArtesENEM-2019: Artes
ENEM-2019: Artes
 
Terceira aplicação do ENEM-2017: Tecnologias e Internet
Terceira aplicação do ENEM-2017: Tecnologias e InternetTerceira aplicação do ENEM-2017: Tecnologias e Internet
Terceira aplicação do ENEM-2017: Tecnologias e Internet
 
Terceira aplicação do ENEM-2017: Literatura
Terceira aplicação do ENEM-2017: LiteraturaTerceira aplicação do ENEM-2017: Literatura
Terceira aplicação do ENEM-2017: Literatura
 
Terceira aplicação do ENEM-2017: Educação Física
Terceira aplicação do ENEM-2017: Educação FísicaTerceira aplicação do ENEM-2017: Educação Física
Terceira aplicação do ENEM-2017: Educação Física
 
Terceira aplicação do ENEM-2017: Compreensão Textual
Terceira aplicação do ENEM-2017: Compreensão TextualTerceira aplicação do ENEM-2017: Compreensão Textual
Terceira aplicação do ENEM-2017: Compreensão Textual
 
Terceira aplicação do ENEM-2017: Artes
Terceira aplicação do ENEM-2017: ArtesTerceira aplicação do ENEM-2017: Artes
Terceira aplicação do ENEM-2017: Artes
 
Análise da Prova de Redação da UERJ-2010
Análise da Prova de Redação da UERJ-2010Análise da Prova de Redação da UERJ-2010
Análise da Prova de Redação da UERJ-2010
 

Análise de os ratos, de dyonélio machado

  • 2. CONTEXTO HISTÓRICO segunda geração do modernismo brasileiro Crise econômica iniciada com a Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929; Governos autocráticos no Brasil [Vargas] e no Mundo [Nazi-fascismo]; Grande Depressão: falência, ruptura de contratos; Intervernção do Estado na economia; Avanço dos partidos socialistas x Chegada de forças conservadoras ao poder; Industrialização do Brasil via entrada de capital norte-americano.
  • 3. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930” segunda geração do modernismo brasileiro Segunda Geração do Modernismo Brasileiro 1934 análise da vida dos cidadãos da classe média baixa na primeira metade do séc. XX NARRATIVA REGIONAL NARRATIVA PSICOLÓGICA engajada intimista social psicológica neonaturalista neorrealista A narrativa é uma reconstituição de um caso de patologia [ansiedade] produzida por uma dívida a saldar, que leva o protagonista à insônia e, por fim, ao delírio, em torno da figura dos roedores. O crítico Massaud Moisés diz que Naziazeno é uma espécie de herói/paciente, por meio de cujo quadro de intensa angústia, o autor focaliza o drama da classe média sem dinheiro. Desse modo, na obra, entrecruzam-se a ótica do psicanalista e a do observador tornando o romance um misto de caso psicológico e radiografia do universo pequeno-burguês.
  • 4. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930” segunda geração do modernismo brasileiro NEONATURALISMO NEOREALISMO [narrativa regional] [narrativa psicológica] aspectos paisagísticos [ambientação no interior do país] análise dos mecanismos mentais aspectos históricos [coronelismo, elites agrárias] [machismo, reificação, problemas existenciais] aspectos humanos [exploração do homem pelo homem] discurso indireto livre, [análise psicológica] linguagem [termos e expressões regionais] ciúmes, intrigas, desentendimentos zoomorfismo mentalidade conservadora e patriarcal
  • 5. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930” segunda geração do modernismo brasileiro a banalidade convertida em temática literária O eixo narrativo de Os ratos é uma pequena dívida de um funcionário com um leiteiro. No início do dia, Naziazeno, o protagonista da novela, tem sua fama de mau pagador revelada a plenos pulmões. A partir de então, o eixo dramático da narrativa se adensa, e o narrador, através do discurso indireto livre [bastante marcado por intermédio do presente do indicativo], acompanha a tensão e a expectativa de Naziazeno, em busca do dinheiro para saldar sua dívida.
  • 6. O ROMANCE DA “GERAÇÃO DE 1930” segunda geração do modernismo brasileiro O Mito de Sísifo De acordo com a mitologia, Sísifo, para se libertar dos Infernos, deveria rolar uma enorme rocha montanha acima. Caso conseguisse atingir o come com a pedra, estaria liberto. No entanto, toda vez que atingia o ponto máximo da elevação, a rocha caía, forçando-o a recomeçar o trabalho. Naziazeno e o Mito de Sísifo Ao rolar a pedra para o alto da montanha, Sísifo angariava contra si uma lei natural implacável, a Lei da Gravidade, pois, ao levar a pedra montanha acima, perdia as forças, ao passo que a gravidade, sempre a mesma, puxaria a pedra para baixo. Tal qual a personagem grega, Naziazeno tem sua situação agravada ao longo da narrativa, pois, se no início da história devia 53.000 réis ao leiteiro, ao final passa a dever 60.000 a um agiota.
  • 7. O ENREDO um dia na vida de naziazeno Naziazeno Barbosa, funcionário pertencente ao estrato da classe média menos favorecida, tenta por todos os meios conseguir 53 mil reis para saldar uma dívida com o leiteiro, que lhe havia sentenciado pela manhã – lhe dou mais um dia. Essa frase fica ecoando na cabeça do protagonista, atormentando-o. Caso a dívida não fosse paga, o fornecimento do leite seria suspenso e o filho, que tinha problemas de saúde, não podia passar sem o leite. A cena de humilhação ocorre logo pela manhã. Depois de ter visto sua condição d mau pagador espalhada pela vizinhança, Naziazeno sai em busca do dinheiro para resgatar a dívida. Do escritório para a rua, passa o dia inteiro atrás de alguém que lhe pudesse emprestar o dinheiro. De início, pensa em pedir um empréstimo ao chefe. Conversa com seu amigo Alcides, q diz q o poderia valer, se ele recebesse uma dívida de 100.000 réis do Andrade, para quem intermediara um negócio. Naziazeno é ludibriado, pois o credor de Alcides diz q quem devia o amigo de Naziazeno era outra pessoa. Sem dinheiro para almoçar, acaba procurando um conhecido para um pequeno empréstimo. Encontra, por acaso, o Costa Miranda q lhe empresta 5.000 réis. Ao invés d almoçar, Naziazeno aposta o dinheiro. E perde.
  • 8. O ENREDO um dia na vida de naziazeno Naziazeno vai até um atacadista, pede um empréstimo, sem êxito. De volta a um café, encontra o Alcides. Relata os ocorridos. O Duque está lá, conversando com um senhor de idade. Sugere a Naziazeno um empréstimo com o Rocco. São 18:20. Não consegue. Novo agiota. Nova negativa. Pensam, então, em abordar o Mondina [pseudo-advogado, velhusco]. Resgatam o anel do avô de Alcides q estava penhorado por um valor baixo [ajuda de Mondina]. O anel é penhorado por 300.000 réis. Sessenta mil são emprestados a Naziazeno, que, finalmente, volta para casa. Antes, porém, resgata os sapatos da mulher q estavam sendo consertados, compra queijo, manteiga e brinquedos para seu filho. Comem e vão dormir. Naziazeno rememora as situações vividas durante o dia. Não consegue dormir. Vai com a mulher à cozinha e deixa o dinheiro do leiteiro junto da vasilha onde a bebida seria despejado. Tenta dormir, mas fica sobressaltado com chiados que vêm da cozinha. Teme que os ratos roam o dinheiro. Insone, rememora os eventos que o levaram ao valor para pagar o leiteiro. Novo chiado dos ratos. Sobressalto. Ao final da madrugada, Naziazeno ouve o barulho do leite enchendo a vasilha e os passos do leiteiro se distanciando. Enfim, dorme.
  • 9. ASPECTOS TÉCNICOS os ratos espaço físico urbano, localizado no sul do Brasil, ainda que não haja uso de expressões regionais técnica narrativa secura de estilo: frase econômica, concisa, substantiva
  • 10. PONTO DE VISTA os ratos objetividade o narrador representa o dia de Naziazeno através de referências diretas a inúmeros relógios menos o seu, que estava empenhado; Naziazeno faz hora para esperar o chefe [vai a um café] [perambula pela cidade e procura pelos amigos] recursos gráficos itálico: enfatiza as palavras destacadas aspas: ampliam o campo semântico dos termos utilizados desse modo, temos uma oscilação entre o ponto de vista do protagonista e o do narrador situação de Naziazeno circunstância trivial, comum na vida cotidiana da grande maioria dos pais de família: a contração de dívidas, por não receberem um salário suficiente para sustentar mulher e filhos.
  • 11. PONTO DE VISTA os ratos um drama vivido em três etapas a procura a espera o medo [prazer] empréstimo pagamento da dívida imagem dos ratos Nenhum destes três momentos nega ou apaga os outros, pois a procura é também marcada pela espera e na espera se entrevê a procura e por baixo delas circulam sempre, de modo furtivo, a esperança e o desespero, confundidos numa mistura emocional sem limites internos. Desse modo, a vida acaba por se tornar uma luta constante para o protagonista, dilacerando tanto no aspecto físico quando no existencial na sua ânsia incessante em saldar a dívida.
  • 12. PONTO DE VISTA os ratos estudo do foco narrativo narrador onisciente neutro conta, distanciado, as ações vivenciadas pelas personagens revela, através do discurso indireto livre, o fluxo dos pensamentos de Naziazeno [presente do indicativo] observação do íntimo da personagem, revelando suas angústias e frustrações
  • 13. O TEMPO os ratos O TEMPO HISTÓRICO [anos 1930] 1) polarização entre comunismo e integralismo; 2) comparação entre a situação local e a vivida na Alemanha; 3) alusão às medidas de racionalização das zonas habitadas por estrangeiros O TEMPO DA MEMÓRIA [paralelo alegórico do presente da enunciação] as lembranças são recordações que remetem o protagonista a experiências dramáticas, dominadas principalmente pela figura materna [paralelo alegórico que comenta crise presente de Naziazeno]; infância, situações angustiantes e negativas: a) ter que passar um ano vestido de Santo Antôio; e b) não pode brincar na rua pq não havia tomado sua dose de leite [alusão irônica].
  • 14. PERSONAGENS os ratos PERSONAGENS MASCULINAS [Os ratos] ligadas ao mundo dos negócios, do trabalho e do capital [sociedade patriarcal, conservadora] ao ser cobrado pelo leiteiro, Naziazeno tem sua função de provedor questionada frente a mulher PERSONAGENS FEMININAS [Os ratos] aparecem ligadas ao lar e aos afazeres domésticos PEQUENOS E MÉDIOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS [Os ratos] engenheiros, chefes de seção, advogados, despachantes, corretores, agiotas, hipotecários, comerciantes e indivíduos vivendo de pequenos negócios, negociatas e do jogo ilícito
  • 15. PERSONAGENS os ratos Naziazeno Modesto funcionário público,deve a muitas pessoas,é pouco perseverante e medíocre no trabalho, talvez fragilizado pela condição de penúria material, atormentado pela necessidade de saldar uma dívida com o leiteiro Adelaide Esposa de Naziazeno. Convive, diariamente, com as dificuldades de um orçamento familiar minguado, insuficiente para o sustento digno da família.Um mulher simples e tímida. Mainho Filho de Naziazeno e Adelaide. Dr. Romeiro Diretor da repartição pública onde Naziazeno trabalha. Há suspeitas de corrupção sobre ele. Certa vez, emprestou dinheiro a Naziazeno. Dr. Mondina Falso advogado; bajulado por conta do dinheiro de que dispõe. Foi quem desembolsou o dinheiro para o grupo (Naziazeno, Alcides e Duque), permitindo ao herói voltar para casa com a quantia devida ao leiteiro.
  • 16. PERSONAGENS os ratos Rocco Agiota para quem Alcides já deve algum dinheiro. Nega-se a fazer novo empréstimo. Fernandes Agiota que se nega a emprestar dinheiro (cem mil réis) a Duque. Alcides Amigo de Naziazeno, solidário na pobreza e nas dificuldades, fazendo tudo para ajudá-lo. Assunção Agiota da Rua Nova. Nega-se a emprestar dinheiro. Duque Amigo de Naziazeno e de Alcides. Inspira confiança porque tem sempre uma solução para os problemas que envolvem dinheiro. Fraga Vizinho de Naziazeno. Parece ter uma vida bem arrumada, não precisando passar pelos vexames financeiros por que passa o protagonista.
  • 17. PERSONAGENS os ratos Costa Miranda Amigo de Naziazeno; emprestou-lhe, na rua, cinco mil réis para o almoço. Martinez Dono da loja de penhores onde o anel de Alcides estava guardado. Mostrou boa vontade e foi, à noite, abrir a loja para devolver a jóia. Dupasquier Dono de uma joalheria. Examina o anel de Alcides e oferece trezentos e cinqüenta mil réis. Quando descobre que a proposta é de penhor, desiste do negócio.
  • 18. DINHEIRO os ratos as diferenças entre as personagens são marcadas nitidamente formas, locais de morar formas de vestir ternos de linho ternos de segunda mão acessórios, objetos pessoais chapéus bengalas carteiras sapatos modos de carregar dinheiro Costa Miranda, amigo de Naziazeno, armazena o dinheiro na carteira, separando as cédulas por seus valores; o protagonista não tem carteira, guarda o dinheiro no bolso, isso o torna inseguro, pois, no bolso simplesmente, o dinheiro parece-lhe ficar desprotegido
  • 19. DINHEIRO os ratos a aquisição Para o protagonista, o dinheiro não é fruto da prestação de trabalho, mas de uma série de práticas que envolvem a sorte (o jogo e a roleta), em que se precisa ser esperto; a aquisição do dinheiro não é visto como produto natural de um trabalho, mas como fruto, amargo e penoso, de uma rede de pedidos e favores; crítica à ideologia da cordialidade Quando se analisam as relações sociais que permeiam a vida do protagonista, verifica-se que elas se ajustam a uma sociedade vivendo do pacto entre homens cordiais; personagem curiosa, Duque, é uma figura superior, corretor da miséria, envernizado por fundamentos personalistas e aristocráticos (apelido), realiza os negócios de maneira serena, pois tem a capacidade de despersonalizar o negócio. Paternal, o Duque não põe em dúvida a necessidade do amigo, espécie de afilhado, e arrisca até a perspectiva de bons negócios com o dr. Mondina na complicada transação de dinheiro vinculada ao duplo penhor do anel de bacharel do avô de Alcides.
  • 20. A SIMBOLOGIA os ratos o dinheiro e os “marginais” No círculo em que vive nosso protagonista o dinheiro faz parte de um círculo marginal no que diz respeito às atividades financeiras e de produção: nesse mundo, o dinheiro só é papel: sua rápida passagem por várias mãos não muda nada nem produz outro dinheiro. os “ratos” Os indivíduos representados na narrativa de Machado ocupam o espaço urbano e se deslocam dentro dele num movimento incessante. Esse movimento revela elementos significativos de uma cultura urbana que aparece como familiar e dominada por todos, uma vez que esses perambuladores, freqüentemente, são conhecidos do protagonista e de seus interlocutores e participantes das redes informais de trabalho. a crítica social temos, em Os ratos, uma denúncia de uma situação social mais ampla: a dos marginalizados, presos a uma realidade alienante marcada pela angústia e pela miséria e, principalmente, pela humilhação. É essa a realidade que leva os indivíduos à desumanização: agem como seres que rastreiam, percorrendo, sem cessar, os labirintos de uma cidade, mitigando algum conforto com migalhas; enfim, ratos.