SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
O autor:
Biografia: Graciliano Ramos é considerado um dos mais importantes escritores do moderno romance
brasileiro. Nascido em Quebrângulo – AL (1892), morreu no Rio de Janeiro (1953). Estudou em Maceió,
e não chegou a cursar uma faculdade. Morou por muito tempo em Palmeira dos Índios – AL, onde seu pai
mantinha um comércio. Chegou a ser prefeito de Palmeira dos Índios. Dedicando-se ao jornalismo e à
publicidade, foi revisor de jornais no Rio de Janeiro e dirigiu a imprensa e a instrução do estado de
Alagoas de 1930 a 1936, sempre demonstrando preocupação com o ensino no Brasil. Foi preso em 1936,
sob a suspeita de ligação com o Partido Comunista Brasileiro, sendo humilhado dentro dos presídios por
onde passou. Em 1945, filia-se ao Comunismo, viajando por vários países socialistas. No início dos anos
50, já consagrado como romancista, falece de câncer na capital carioca.
Principais Obras: Romances: Caetés (1933); São Bernardo (1938); Angústias (1936); Vidas Secas (1938).
Conto: Insônia (1947). Memórias: Infância (1945); Memórias do Cárcere (1953); Viagem (1954); Linhas
Tortas (1962); Viventes das Alagoas (1962). Literatura Infantil: Histórias de Alexandre (1944); Dois
dedos (1945); Histórias Incompletas (1946).
Principais temas: Os temas mais comuns na obra de Graciliano Ramos são os grandes
latifundiários; a opressão sofrida pelo sertanejo e a seca e suas consequências
dramáticas.
Principais características de suas obras: De maneira geral, sus romances
caracterizam-se pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das
personagens; ao que se soma uma linguagem precisa , “enxuta” e despojada, de
períodos curtos mas de grande força expressiva.
Principais fatos que marcaram o mundo e o Brasil: As transformações pelas quais passou a
sociedade no século XIX, devido especialmente, às Guerras Mundiais, à Depressão Econômica e ao
Nazismo, no plano mundial, e à ditadura de Vargas e ao Estado Novo, no âmbito nacional, juntamente
com o advento do Modernismo, sobremodo no período de 1920 a 1945, ocasionaram um inédito
direcionamento da literatura brasileira. Esta, mais amadurecida, marcar-se-ia por um enfoque direto dos
fatos, pela permanência do realismo e pela retomada do naturalismo, condicionando um forte caráter
nacional e social à esfera literária. A literatura que, desde o Romantismo, vinha tomando novos rumos,
passa a priorizar a liberdade de expressão, a implantação de uma nova linguagem, a valorização do
linguajar e da vida cotidiana, exprimindo os sintomas dessas modificações na vida econômica e social do
país e na mentalidade, até então, conservadora. Assim, neste momento, “as noções de nacionalidade e
autonomia que constituíram o eixo da teoria literária romântica, haviam atingido o seu ponto culminante”,
caracterizando-se por uma arte literária construtiva, de consciência social, política e nacional, combativa à
imitação dos modelos europeus, ao academicismo, à estagnação e ao passadismo na cultura e na arte,
intencionando repensar o Brasil a nível sócio-político e cultural.
Brasil da seca, do messianismo e do autoritarismo dos coronéis: Apesar de não estar
diretamente expresso em Vidas Secas é necessário lembrar que desse ambiente seco
nasceram movimentos como o messianismo de Antônio Conselheiro, em Canudos, o
coronelismo e o cangaço, não dizemos aqui que a natureza condicionou totalmente o
aparecimento deles, no entanto é sabido que culturalmente sempre é feita a associação
entre o Nordeste, a caatinga e os movimentos citados.
O Determinismo de Tayne expresso na obra: Vidas Secas começa por uma fuga e
acaba com outra. Decorre entre duas situações idênticas, de tal modo que o fim,
encontrando com o princípio, fecha a ação num círculo. Entre a seca e as águas, a vida
do sertanejo se organiza, do berço à sepultura modo de retorno perpétuo. Como os
animais atrelados ao moinho, Fabiano voltará sempre sobre os passos, sufocado pelo
meio físico, expressando o determinismo.
Modernismo: Graciliano Ramos destaca-se no papel de romancista da segunda fase do
Modernismo (1930 - 1945). Com estilo seco, conciso e sintético, o autor deixa de lado o
sentimentalismo a favor de uma objetividade e clareza. Seu estilo seco, frio, enxuto e
impessoal, repleto de senso psicológico, aproxima-o de Machado de Assis, sendo
considerado seu legítimo seguidor, sabendo exprimir a amarga realidade do homem
nordestino com agudeza. Graciliano Ramos vai descrever os tipos e as paisagens do
nordeste evocando os problemas que ali se encontram. Seus melhores romances (São
Bernardo, Angústia e Vidas Secas), mostram um perfil psicológico e sócio-político que
nos indica uma versão crítica dos rumos que a sociedade moderna toma. A análise
psicológica tomada pelo autor com relação aos seus personagens, parte do regional para
o universal, confrontando o homem comum que vive com classes superiores e
autoritárias. O nordeste se torna o palco deste conflito, a preocupação com os problemas
do povo brasileiro sempre foram traços marcantes de suas obras. Graciliano Ramos
escreveu ainda um romance autobiográfico que contém elementos ficcionais, Memórias
do Cárcere, onde há toda a violência que o autor passou enquanto esteve preso,
denunciando o autoritarismo estabelecido pelo Estado Novo.
Principais características da segunda fase do Modernismo: Romances
caracterizados pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira,
atingindo elevado grau de tensão nas relações do eu com o mundo. Uma das principais
características do romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo. Há uma
busca do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o regionalismo ganha
importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural e social. Os
escritores nordestinos merecem destaque especial, por sua denúncia da realidade da
região pouco conhecida nos grandes centros.
A obra:
A atemporalidade: Um dos aspectos que mais impressionam na obra é o seu tema
sempre atual. O romance, escrito entre 1937 e 1938, enfoca o problema da seca e as
condições de vida miseráveis do sertanejo brasileiro. Condições essas que praticamente
não se alteraram ao longo dos anos. Esse livro retrata fielmente a realidade brasileira
não só da época em que o livro foi escrito, mas como nos dias de hoje tais como
injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca, o que nos remete a idéia de que o
homem se animalizou sob condições sub-humanas de sobrevivência.
Engajamento Social: Nessa narrativa o enfoque se dá sobre a realidade social das
personagens. Se nos romances narrados em primeira pessoa o ponto de interesse é o
homem, ficando o contexto social segundo plano, em "Vidas secas" o ponto de interesse
é o homem vinculado ao seu meio natural, no caso o sertão.
Justificativa do título: A seca tem aspectos monstruosos porque cerceia a vida dos
sertanejos do Nordeste e expõe um lado seco, doído e desumano do Brasil, tanto no
aspecto paisagístico como principalmente no social, a expulsar e/ou matar de fome e
sede quem vive nela. A terra é seca, mas sobretudo o homem é seco. O discurso do
narrador é igualmente construído com frases curtas, incisivas, enxutas, quase sempre
períodos simples. Escritor extremamente contido, com o pavor da verbosidade,
Graciliano prefere a eloquência das situações fixadas à eloquência puramente verbal.
Um exemplo de opressão e de falta de comunicação entre os seres da família
animalizados pela miséria em que vivem, encontra-se no capítulo 6, em que o menino
mais velho ouve a palavra inferno, acha-a bonita e procura aprender o seu significado
com a mãe, que o repele brutalmente. Já no capítulo 7, Inverno, há uma cena em que a
família se reúne numa noite de inverno, e Fabiano tenta contar histórias
incompreensíveis enquanto os meninos passam frio.
Enfim, a questão central do romance não está nos acontecimentos, mas nas criaturas que
o povoam, nas gravuras de madeira.
A divisão em capítulos autônomos: o assunto e a importância do nome de cada
capítulo – o romance de “série de quadros”: Chamar este romance de “série de
quadros, de gravuras em madeira, talhada com precisão e firmeza” é aludir a um de seus
traços estilísticos fundamentais: o caráter autônomo e completo de seus capítulos.
Estes podem ser lidos como peças independentes, e como tal foram publicados em
jornais, mas reúnem-se com uma organicidade exemplar. Os capítulos de Vidas Secas
mantêm uma estrutura descontínua, não-linear, como que reafirmando o isolamento, a
instabilidade da família de retirantes: Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o
menino mais novo e a cachorra Baleia.
O cíclico do primeiro e do último capítulos, apesar da autonomia entre todos os
outros: Formado por treze capítulos que se justapõem sem nexos lógicos, o enredo de
Vidas Secas organiza-se principalmente pela proximidade entre o primeiro Mudança – a
chegada da família de retirantes a uma velha fazenda abandonada e arruinada – e, o
último, Fuga – a saída da família, que, diante de um novo período de seca, foge para o
Sul.
Do capítulo 2 ao 12, a família vive como agregada na fazenda, para cujo proprietário
Fabiano trabalha. Assim, passa uma fase de descanso, em relação ao seu nomadismo,
provocado pela seca.
No entanto, além da tortura gerada pela lembrança do passado e pelo medo do futuro, o
romance enfoca outras faces da opressão que se exerce sobre os membros da família –
seja entre eles e os outros homens, os moradores da cidade, seja consigo próprios.
Antropozoomorfização: Concomitantemente ao processo de zoomorfização (simbólica
e física) dos retirantes, há em Vidas secas um processo inverso relativo à cachorra
Baleia. Isto é, ao mesmo tempo em que os seres humanos são rebaixados à condição de
animais, a cachorra sofre uma espécie de personificação, ela é (simbolicamente)
antropomorfizada. Em diversas ocasiões, o animal é percebido como um elemento
indistinto da família dos sertanejos. Enfrenta as mesmas adversidades, brinca com as
crianças e a elas se nivela e se mistura nos montes de areia e estrume, recebe o carinho
de todos como se deveras fosse uma pessoa da família.
Essa igualdade de natureza entre Baleia e os humanos, todavia, é negada em alguns
momentos do romance, e na desigualdade há uma certa vantagem para o animal. Não se
pode deixar de perceber, por exemplo, que enquanto a cachorra é referida por um nome
próprio, as crianças são identificadas pelas expressões “o menino mais velho” e “o
menino mais novo”, ou seja, estes não têm uma identidade bem definida, de modo que,
nesse aspecto, pelo confronto, ela está num patamar superior ao das crianças.
O sentimento do destino coletivo: Graciliano Ramos, que é dono de um traço
pessimista em outras obras, dá em Vidas secas uma tênue esperança. Fica subentendido
no final da obra que eles partem para outro lugar, para onde o que importa é que ainda
há movimento em busca de vida, mesmo que seja seca.
O foco narrativo: terceira pessoa, mas um tanto singular, pois, por vezes, o narrador se
apresenta como sendo o inconsciente da personagem (como a Baleia), outras vezes
como onisciente, com o discurso indireto livre, monólogos interiores ou reflexões de
pensamento e o uso do discurso indireto livre.
Os personagens:
Perfil físico e psicológico de cada um:
Personagem Protagonista
Fabiano – Nordestino pobre, marido de Sinhá Vitória, pai de dois filhos. Procura
trabalho desesperadamente, bebe muito e perde dinheiro no jogo. Possui grandes
dificuldades lingüísticas, mas é consciente delas. Homem bruto com dificuldade de se
expressar, possui atitudes selvagens. Por não saber se expressar entra num processo de
isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor.
Personagem Antagonista
Soldado Amarelo – Corrupto, oportunista e medroso, o Soldado Amarelo é símbolo de
repressão e do autoritarismo pelo qual é comandado (ditadura Vargas), porém não é
forte sozinho; sem as ordens da ditadura, é fraco e acovarda-se diante de Fabiano.
Personagens Secundários
Sinhá Vitória – Mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora, sonhadora e
inconformada com a miséria em que vive, trabalha muito. É a mais inteligente de todos
controlando assim as contas e os sonhos de todos.
Filho mais novo e Filho mais velho – São crianças pobres e sofridas que não tem noção
da miséria em que vivem. O mais novo vê no pai um ídolo, sonha sobressair-se
realizando algo, enquanto o mais velho é curioso, querendo saber o significado da
palavra inferno, desvendar a vida e ter amigos.
O dono da fazenda – Contrata Fabiano para trabalhar em sua fazenda, desonesto,
explorava seus empregados.
O fiscal da prefeitura – Intolerante e explorador.
Baleia – Cadela da família, tratada como gente, humanizada em vários momentos e
muito querida das crianças.
Tomás de Bolandeira - Aparece somente por meio de evocações, é tido como referência
por Fabiano e Sinhá Vitória.
Seu Inácio – Dono do bar.
a consciência embotada, a condição sub-humana, a inteligência rala, a passividade
ante os poderosos: retrato fiel do caboclo sertanejo com sua consciência embotada,
condição sub-humana, inteligência rala, as suas reações resultantes de reflexos
condicionados, por sua vez determinados pelas relações do homem com a própria
paisagem e pela passividade ante os poderosos.
a relação homem x paisagem: a relação do homem com a natureza nos mais diversos
contextos e situações, onde a racionalidade tem um limite diretamente proporcional à
justificativa de sobrevivência da raça humana no planeta. Matar e sobreviver são
atitudes limítrofes entre racionalidade e irracionalidade no ser humano.
Homem trágico e fatalista: outro tipo de sertanejo – trágico e fatalista, frio, com
determinação inabalável, aceitando como inevitáveis os fatos consumados.
Ausência de nomes = alegorias: A despersonalização das crianças é patente na
ausência de nomes. “Único fiapo de esperança possível de futuro melhor”, os pais
projetam a educação deles. O menino mais novo quer ser Fabiano e recebe um aviso
desanimador: é derrubado violentamente pelo bode em que tentara montar para provar
suas habilidades. O menino mais velho, “mais inquieto”, procura apoio em Baleia,
quando é punido pela sua curiosidade.
Importância e Baleia na narrativa: Baleia, em Vidas Secas, parece possuir “alma”
que partindo deste mundo “Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as
mãos de Fabiano, um Fabiano enorme (...). O mundo ficaria todo cheio de preás,
gordos, enormes”. Por isso pode ser considerada uma personagem que transcende os
limites de um simples cão. Ela assume a função de um ser que pensa e que possui a
esperteza de homem “O objeto desconhecido continuava a ameaçá-la. Conteve a
respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo por baixo das pestanas caídas. Ficou
assim algum tempo, depois sossegou.” A relevância atribuída à cachorra Baleia
simboliza o reconhecimento de um ser que, ora animal, ora criança, tematiza o lirismo
presente no romance.
a opressão e a falta de comunicação entre os seres da família: existência da falta de
comunicação e linguagem por parte da família, que se torna um processo constante de
grunhidos, gestos e vários monólogos como a melhor atitude de expressão em busca de
uma colocação existencial como seres humanos, que na verdade ocorriam falsas
esperanças porque não se sentiam pessoas e sim bichos, vivendo em constante
desentendimento sem um entender o outro, com o narrador onisciente integrando-se ao
leitor através da tradução verbal, no contexto em que se encontram as personagens, sem
metas de vida e fugindo da seca e desgraça. Estas, vivendo no plano social e existencial,
levando em consideração o seu psicológico nos mostrando a verdadeira realidade da
região do Nordeste, onde muitos tentam a vida na sorte e muitos não conseguem se
integrar na sociedade por não terem diálogos e boa comunicação na forma de se
expressar pela língua.
O espaço
onde é ambientada a narrativa: A maior parte da história se passa na
caatinga(nordeste), que funciona cimo um dos agentes causadores das más condições de
vida por que passa Fabiano e sua família. Trata-se de um lugar árido e inóspito, que,
aliado à seca, não oferecia meios de sobrevivência, o que fazia com que os retirantes
continuassem numa mudança constante, caracterizando assim, um aspecto circular na
obra, já que a história começa com a mudança da família e termina com a fuga: a
família deixa o lugar onde está, na tentativa de se estabelecer na vida.
os dois recortes espaciais: o ambiente rural e o urbano: para dois recortes espaciais:
o ambiente rural e o urbano. A relevância desse recorte se deve às sensações de
adequação ou inadequação dos personagens em um ou outro espaço. Fabiano consegue,
apesar da miséria presente, dominar o ambiente rural. Incapaz de se comunicar, o
personagem, desempenhando a solitária função de vaqueiro, não sente tanto as
consequências de seu laconismo. Além disso, conhece as técnicas de sua profissão, o
que lhe dá uma sensação de utilidade e permite que goze até de certa dignidade. A
passagem em que seu filho o admira ao vê-lo trabalhando deixa claro isso. Na cidade,
porém, Fabiano vivencia, a cada nova experiência, o sentimento de inadequação. Os
capítulos “Festa” e “Cadeia” ilustram bem essa sensação.
a interferência da natureza no destino do homem: a natureza muda totalmente
e passa a ser declarada hostil ao brasileiro, o nordestino sofre com a seca do
semiárido e já não se conforma somente em observá-la porque agora ele é vítima
da degradação gerada pelo espaço. A harmonia que unia o homem ao ambiente
numa simbiose é rompida, no romance de 30 a seca só retira do sertanejo a
condição de viver.
Em Vidas Secas, a seca do sertão aparece como um mal, portanto, pode-se falar
em natureza monstruosa devido aos largos períodos de estiagem que destroem a
vida. A partir desse aspecto, este trabalho tratará da natureza seca como um
monstro questionador e problematizador do ideal de nação.
O tempo:
o tempo cronológico x o tempo psicológico: Além da falta de linearidade do tempo,
em Vidas Secas há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do
cronológico. Essa opção do narrador de ocultar os marcadores temporais tem como
principal consequência o distanciamento dos personagens da ordenação civilizada do
tempo. Dessa forma, nota-se que a ausência de uma marcação cronológica temporal
serve, enquanto elemento estrutural, como mais uma forma de evidenciar a exclusão
dos personagens.
Por outro lado, a valorização do tempo psicológico na narrativa faz com que as
angústias dos personagens fiquem mais próximas do leitor, que as percebe com muito
mais intensidade.
A linguagem
A ausência de diálogos: A ausência de diálogos se faz presente devido à uma ausência
vocabular por parte das personagens, que se comunicam através de onomatopeias,
exclamações, resmungos e gestos, enfatizando a animalização dos personagens e a
solidão, marcante da vida de todos os membros da família, que são marginalizados
também pelo fator linguístico Assim, há a predominância do discurso indireto livre ou
através de monólogos interiores, onde o narrador ordena logicamente os discursos e
pensamentos dos personagens.
Dificuldade de comunicação: Vidas Secas conta a historia de uma família de
retirantes, que de certa forma não proporciona a coesão para uma historia, pois a
dificuldade da andança pela atmosfera seca não dá profundidade para qualquer tipo de
comunicação entre os componentes da família, explicando as dificuldades e
comunicação de Fabiano e a falta de nome dos meninos, bem como o sacrifício do
papagaio, que se transforma na comida salvadora. Há uma linguagem rude e seca,
refletindo, assim, o universo das personagens retratadas.
O discurso indireto livre: permite uma narrativa mais fluente, de ritmo e tom mais
expressivamente elaborados, com grande efeito estilístico, em virtude da ausência de
quês e de cortes e adaptações sintático-semânticas. O elo psíquico que se estabelece
entre o narrador e sua personagem, nesse tipo de discurso, faz com que este seja
bastante empregado nas narrativas de cunho memorialista ou de fluxo da consciência,
como é o caso de Vidas Secas. Como a distinção entre a fala e os estados mentais da
personagem e o discurso do narrador é por vez um tanto sutil, o contexto narrativo
desempenha papel importante, em se tratando da apreensão do discurso indireto livre.
Frase do autor: "O que me interessa é o homem, e homem daquela região aspérrima.
Julgo que é a primeira vez que esse sertanejo aparece em literatura. Procurei auscultar a
alma do ser rude e quase primitivo que mora na zona mais recuada do sertão, observar a
reação desse espírito bronco ante o mundo exterior, isto é, a hostilidade do meio físico e
da injustiça humana. Por pouco que o selvagem pense - e os meus personagens são
quase selvagens - o que ele pensa merece anotação".
A definição de contextualidade: é um meio de comparação com algo por meio do
texto.
Há ocorrência da contextualidade entre Vidas secas, a música ‘Asa Branca’ e a coleção
“Os retirantes”, de Cândido Portinari, já que Asa Branca é o hino do nordeste.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

José lins do rego
José lins do regoJosé lins do rego
José lins do regorafabebum
 
Cap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismoCap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismowhybells
 
Romantismo no Brasil - 1ª geração
Romantismo no Brasil - 1ª geraçãoRomantismo no Brasil - 1ª geração
Romantismo no Brasil - 1ª geraçãoQuezia Neves
 
Romantismo Brasileiro - poesia e prosa
Romantismo Brasileiro - poesia e prosaRomantismo Brasileiro - poesia e prosa
Romantismo Brasileiro - poesia e prosaTim Bagatelas
 
A (nova) literatura marginal (das periferias)
A (nova) literatura marginal (das periferias)A (nova) literatura marginal (das periferias)
A (nova) literatura marginal (das periferias)ma.no.el.ne.ves
 
2 Fase Modernista- ROMANCE DE 30
2 Fase Modernista- ROMANCE DE 302 Fase Modernista- ROMANCE DE 30
2 Fase Modernista- ROMANCE DE 30Jaqueline Soares
 
Melhores poemas de gonçalves dias
Melhores poemas de gonçalves diasMelhores poemas de gonçalves dias
Melhores poemas de gonçalves diasma.no.el.ne.ves
 
Literatura: Primeira Geração Romântica Brasileira
Literatura: Primeira Geração Romântica BrasileiraLiteratura: Primeira Geração Romântica Brasileira
Literatura: Primeira Geração Romântica BrasileiraIngrit Silva Sampaio
 
Antônio gonçalves dias power point para apresentar
Antônio gonçalves dias power point para apresentarAntônio gonçalves dias power point para apresentar
Antônio gonçalves dias power point para apresentarMari Abreu
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do RomantismoGabriel Luck
 
Análise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel Macedo
Análise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel MacedoAnálise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel Macedo
Análise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel MacedoMarcely Duany Correa de Brito
 
O índio na literatura brasileira
O índio na literatura brasileiraO índio na literatura brasileira
O índio na literatura brasileirama.no.el.ne.ves
 
O pré modernismo
O pré modernismoO pré modernismo
O pré modernismoAna Batista
 
Arcadismo no brasil
Arcadismo no brasilArcadismo no brasil
Arcadismo no brasilUFMA, IFMA
 

Mais procurados (20)

José lins do rego
José lins do regoJosé lins do rego
José lins do rego
 
Cap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismoCap06 quinhentismo
Cap06 quinhentismo
 
Romantismo no Brasil - 1ª geração
Romantismo no Brasil - 1ª geraçãoRomantismo no Brasil - 1ª geração
Romantismo no Brasil - 1ª geração
 
Romantismo Brasileiro - poesia e prosa
Romantismo Brasileiro - poesia e prosaRomantismo Brasileiro - poesia e prosa
Romantismo Brasileiro - poesia e prosa
 
A (nova) literatura marginal (das periferias)
A (nova) literatura marginal (das periferias)A (nova) literatura marginal (das periferias)
A (nova) literatura marginal (das periferias)
 
Arcadismo
ArcadismoArcadismo
Arcadismo
 
2 Fase Modernista- ROMANCE DE 30
2 Fase Modernista- ROMANCE DE 302 Fase Modernista- ROMANCE DE 30
2 Fase Modernista- ROMANCE DE 30
 
Melhores poemas de gonçalves dias
Melhores poemas de gonçalves diasMelhores poemas de gonçalves dias
Melhores poemas de gonçalves dias
 
Literatura: Primeira Geração Romântica Brasileira
Literatura: Primeira Geração Romântica BrasileiraLiteratura: Primeira Geração Romântica Brasileira
Literatura: Primeira Geração Romântica Brasileira
 
Pré-Modernismo
Pré-ModernismoPré-Modernismo
Pré-Modernismo
 
Antônio gonçalves dias power point para apresentar
Antônio gonçalves dias power point para apresentarAntônio gonçalves dias power point para apresentar
Antônio gonçalves dias power point para apresentar
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo
 
Literatura do pré modernismo
Literatura do pré modernismoLiteratura do pré modernismo
Literatura do pré modernismo
 
Análise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel Macedo
Análise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel MacedoAnálise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel Macedo
Análise Literária do Livro "A Moreninha" de Joaquim Manuel Macedo
 
O Guarani
O GuaraniO Guarani
O Guarani
 
O índio na literatura brasileira
O índio na literatura brasileiraO índio na literatura brasileira
O índio na literatura brasileira
 
O pré modernismo
O pré modernismoO pré modernismo
O pré modernismo
 
Vidas secas
Vidas secasVidas secas
Vidas secas
 
Arcadismo no brasil
Arcadismo no brasilArcadismo no brasil
Arcadismo no brasil
 
Modernismo Modernismo
Modernismo   ModernismoModernismo   Modernismo
Modernismo Modernismo
 

Destaque

Interpretação de texto vidas secas
Interpretação de texto   vidas secasInterpretação de texto   vidas secas
Interpretação de texto vidas secasdpport
 
Sequência didática Meu primeiro beijo
Sequência didática Meu primeiro beijoSequência didática Meu primeiro beijo
Sequência didática Meu primeiro beijoizabelgois
 
Tecnicas de redacao
Tecnicas de redacaoTecnicas de redacao
Tecnicas de redacaoJ M
 
A hora de estrela
A hora de estrelaA hora de estrela
A hora de estrela美滿 江
 
Linguagens, códigos e suas tecnologias gabarito
Linguagens, códigos e suas tecnologias gabaritoLinguagens, códigos e suas tecnologias gabarito
Linguagens, códigos e suas tecnologias gabaritofsolidaria
 
Análise da obra cinco minutos
Análise da obra cinco minutosAnálise da obra cinco minutos
Análise da obra cinco minutosmariliagaspar09
 
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30CrisBiagio
 
Texto literário e não literário
Texto literário e não literárioTexto literário e não literário
Texto literário e não literárioFábio Guimarães
 
Noções básicas de linguagem cinematográfica
Noções básicas de linguagem cinematográficaNoções básicas de linguagem cinematográfica
Noções básicas de linguagem cinematográficadesignuna
 
Cadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPE
Cadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPECadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPE
Cadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPEPortal NE10
 

Destaque (12)

Vidas secas
Vidas secas Vidas secas
Vidas secas
 
Interpretação de texto vidas secas
Interpretação de texto   vidas secasInterpretação de texto   vidas secas
Interpretação de texto vidas secas
 
Sequência didática Meu primeiro beijo
Sequência didática Meu primeiro beijoSequência didática Meu primeiro beijo
Sequência didática Meu primeiro beijo
 
Vidas secas graciliano ramos (1)
Vidas secas   graciliano ramos (1)Vidas secas   graciliano ramos (1)
Vidas secas graciliano ramos (1)
 
Tecnicas de redacao
Tecnicas de redacaoTecnicas de redacao
Tecnicas de redacao
 
A hora de estrela
A hora de estrelaA hora de estrela
A hora de estrela
 
Linguagens, códigos e suas tecnologias gabarito
Linguagens, códigos e suas tecnologias gabaritoLinguagens, códigos e suas tecnologias gabarito
Linguagens, códigos e suas tecnologias gabarito
 
Análise da obra cinco minutos
Análise da obra cinco minutosAnálise da obra cinco minutos
Análise da obra cinco minutos
 
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
Modernismo – 2ª fase – Romance de 30
 
Texto literário e não literário
Texto literário e não literárioTexto literário e não literário
Texto literário e não literário
 
Noções básicas de linguagem cinematográfica
Noções básicas de linguagem cinematográficaNoções básicas de linguagem cinematográfica
Noções básicas de linguagem cinematográfica
 
Cadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPE
Cadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPECadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPE
Cadernos de prova do 1º dia de vestibular tradicional da UPE
 

Semelhante a Respostas do roteiro de vidas secas

Semelhante a Respostas do roteiro de vidas secas (20)

Obra Vidas Secas
Obra Vidas SecasObra Vidas Secas
Obra Vidas Secas
 
Resumo do Livro Vidas Secas
Resumo do Livro Vidas Secas Resumo do Livro Vidas Secas
Resumo do Livro Vidas Secas
 
Prosa Neorrealista Regionalista
Prosa Neorrealista Regionalista Prosa Neorrealista Regionalista
Prosa Neorrealista Regionalista
 
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosaAula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
 
Trabalho de portugues
Trabalho de portuguesTrabalho de portugues
Trabalho de portugues
 
GRACILIANO RAMOS.pptx
GRACILIANO RAMOS.pptxGRACILIANO RAMOS.pptx
GRACILIANO RAMOS.pptx
 
modernismo-2a-fase-30-a-45.pptx
modernismo-2a-fase-30-a-45.pptxmodernismo-2a-fase-30-a-45.pptx
modernismo-2a-fase-30-a-45.pptx
 
modernismo-2a-fase-30-a-45.pptx
modernismo-2a-fase-30-a-45.pptxmodernismo-2a-fase-30-a-45.pptx
modernismo-2a-fase-30-a-45.pptx
 
Aula 25 modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)
Aula 25   modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)Aula 25   modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)
Aula 25 modernismo no brasil - 2ª fase (prosa)
 
Segunda fase-modernismo
Segunda fase-modernismoSegunda fase-modernismo
Segunda fase-modernismo
 
A prosa modernista
A prosa modernista A prosa modernista
A prosa modernista
 
Graciliano ramos
Graciliano ramosGraciliano ramos
Graciliano ramos
 
Vidas secas - 3ª B - 2011
Vidas secas - 3ª B  - 2011Vidas secas - 3ª B  - 2011
Vidas secas - 3ª B - 2011
 
Modernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase BrasilModernismo Segunda Fase Brasil
Modernismo Segunda Fase Brasil
 
Panorama do modernismo no brasil
Panorama do modernismo no brasilPanorama do modernismo no brasil
Panorama do modernismo no brasil
 
A Moreninha - Joaquim Manoel de Macedo
A Moreninha - Joaquim Manoel de MacedoA Moreninha - Joaquim Manoel de Macedo
A Moreninha - Joaquim Manoel de Macedo
 
Vidas secas
Vidas secasVidas secas
Vidas secas
 
Modernismo 2º fase
Modernismo 2º faseModernismo 2º fase
Modernismo 2º fase
 
Vanguardas européias
Vanguardas européiasVanguardas européias
Vanguardas européias
 
Capitulo 09 - Baleia
Capitulo 09 - Baleia Capitulo 09 - Baleia
Capitulo 09 - Baleia
 

Mais de BriefCase

White Fang Jack London
White Fang  Jack LondonWhite Fang  Jack London
White Fang Jack LondonBriefCase
 
República brasileira
República brasileiraRepública brasileira
República brasileiraBriefCase
 
Nazismo na Alemanha 2010
Nazismo na Alemanha   2010Nazismo na Alemanha   2010
Nazismo na Alemanha 2010BriefCase
 
Totalitarismo
TotalitarismoTotalitarismo
TotalitarismoBriefCase
 
Resumo Sistema Nervoso
Resumo Sistema NervosoResumo Sistema Nervoso
Resumo Sistema NervosoBriefCase
 
Questão Palestina
Questão PalestinaQuestão Palestina
Questão PalestinaBriefCase
 
Grandes grupos-vegetais Exercícios
Grandes grupos-vegetais ExercíciosGrandes grupos-vegetais Exercícios
Grandes grupos-vegetais ExercíciosBriefCase
 
Funções quimica organica
Funções quimica organicaFunções quimica organica
Funções quimica organicaBriefCase
 
Enzimas aspectos gerais
Enzimas aspectos geraisEnzimas aspectos gerais
Enzimas aspectos geraisBriefCase
 
Resumão Dom Casmurro
Resumão Dom CasmurroResumão Dom Casmurro
Resumão Dom CasmurroBriefCase
 
República Oligárquica
República OligárquicaRepública Oligárquica
República OligárquicaBriefCase
 
Egito, Palestina e Grécia
Egito, Palestina e GréciaEgito, Palestina e Grécia
Egito, Palestina e GréciaBriefCase
 
Baixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesa
Baixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesaBaixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesa
Baixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesaBriefCase
 
As reformas religiosas
As reformas religiosasAs reformas religiosas
As reformas religiosasBriefCase
 
A Idade Média
A Idade MédiaA Idade Média
A Idade MédiaBriefCase
 
A economia mineradora
A economia mineradoraA economia mineradora
A economia mineradoraBriefCase
 
A Baixa Idade Média
A Baixa Idade MédiaA Baixa Idade Média
A Baixa Idade MédiaBriefCase
 

Mais de BriefCase (20)

Evolução
EvoluçãoEvolução
Evolução
 
Biomas
Biomas Biomas
Biomas
 
White Fang Jack London
White Fang  Jack LondonWhite Fang  Jack London
White Fang Jack London
 
República brasileira
República brasileiraRepública brasileira
República brasileira
 
Nazismo na Alemanha 2010
Nazismo na Alemanha   2010Nazismo na Alemanha   2010
Nazismo na Alemanha 2010
 
Totalitarismo
TotalitarismoTotalitarismo
Totalitarismo
 
Resumo Sistema Nervoso
Resumo Sistema NervosoResumo Sistema Nervoso
Resumo Sistema Nervoso
 
Questão Palestina
Questão PalestinaQuestão Palestina
Questão Palestina
 
Guerra Fria
Guerra FriaGuerra Fria
Guerra Fria
 
Grandes grupos-vegetais Exercícios
Grandes grupos-vegetais ExercíciosGrandes grupos-vegetais Exercícios
Grandes grupos-vegetais Exercícios
 
Funções quimica organica
Funções quimica organicaFunções quimica organica
Funções quimica organica
 
Enzimas aspectos gerais
Enzimas aspectos geraisEnzimas aspectos gerais
Enzimas aspectos gerais
 
Resumão Dom Casmurro
Resumão Dom CasmurroResumão Dom Casmurro
Resumão Dom Casmurro
 
República Oligárquica
República OligárquicaRepública Oligárquica
República Oligárquica
 
Egito, Palestina e Grécia
Egito, Palestina e GréciaEgito, Palestina e Grécia
Egito, Palestina e Grécia
 
Baixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesa
Baixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesaBaixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesa
Baixa Idade Média, Idade Moderna e Colônia portuguesa
 
As reformas religiosas
As reformas religiosasAs reformas religiosas
As reformas religiosas
 
A Idade Média
A Idade MédiaA Idade Média
A Idade Média
 
A economia mineradora
A economia mineradoraA economia mineradora
A economia mineradora
 
A Baixa Idade Média
A Baixa Idade MédiaA Baixa Idade Média
A Baixa Idade Média
 

Respostas do roteiro de vidas secas

  • 1. O autor: Biografia: Graciliano Ramos é considerado um dos mais importantes escritores do moderno romance brasileiro. Nascido em Quebrângulo – AL (1892), morreu no Rio de Janeiro (1953). Estudou em Maceió, e não chegou a cursar uma faculdade. Morou por muito tempo em Palmeira dos Índios – AL, onde seu pai mantinha um comércio. Chegou a ser prefeito de Palmeira dos Índios. Dedicando-se ao jornalismo e à publicidade, foi revisor de jornais no Rio de Janeiro e dirigiu a imprensa e a instrução do estado de Alagoas de 1930 a 1936, sempre demonstrando preocupação com o ensino no Brasil. Foi preso em 1936, sob a suspeita de ligação com o Partido Comunista Brasileiro, sendo humilhado dentro dos presídios por onde passou. Em 1945, filia-se ao Comunismo, viajando por vários países socialistas. No início dos anos 50, já consagrado como romancista, falece de câncer na capital carioca. Principais Obras: Romances: Caetés (1933); São Bernardo (1938); Angústias (1936); Vidas Secas (1938). Conto: Insônia (1947). Memórias: Infância (1945); Memórias do Cárcere (1953); Viagem (1954); Linhas Tortas (1962); Viventes das Alagoas (1962). Literatura Infantil: Histórias de Alexandre (1944); Dois dedos (1945); Histórias Incompletas (1946). Principais temas: Os temas mais comuns na obra de Graciliano Ramos são os grandes latifundiários; a opressão sofrida pelo sertanejo e a seca e suas consequências dramáticas. Principais características de suas obras: De maneira geral, sus romances caracterizam-se pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa , “enxuta” e despojada, de períodos curtos mas de grande força expressiva. Principais fatos que marcaram o mundo e o Brasil: As transformações pelas quais passou a sociedade no século XIX, devido especialmente, às Guerras Mundiais, à Depressão Econômica e ao Nazismo, no plano mundial, e à ditadura de Vargas e ao Estado Novo, no âmbito nacional, juntamente com o advento do Modernismo, sobremodo no período de 1920 a 1945, ocasionaram um inédito direcionamento da literatura brasileira. Esta, mais amadurecida, marcar-se-ia por um enfoque direto dos fatos, pela permanência do realismo e pela retomada do naturalismo, condicionando um forte caráter nacional e social à esfera literária. A literatura que, desde o Romantismo, vinha tomando novos rumos, passa a priorizar a liberdade de expressão, a implantação de uma nova linguagem, a valorização do linguajar e da vida cotidiana, exprimindo os sintomas dessas modificações na vida econômica e social do país e na mentalidade, até então, conservadora. Assim, neste momento, “as noções de nacionalidade e autonomia que constituíram o eixo da teoria literária romântica, haviam atingido o seu ponto culminante”, caracterizando-se por uma arte literária construtiva, de consciência social, política e nacional, combativa à imitação dos modelos europeus, ao academicismo, à estagnação e ao passadismo na cultura e na arte, intencionando repensar o Brasil a nível sócio-político e cultural. Brasil da seca, do messianismo e do autoritarismo dos coronéis: Apesar de não estar diretamente expresso em Vidas Secas é necessário lembrar que desse ambiente seco nasceram movimentos como o messianismo de Antônio Conselheiro, em Canudos, o coronelismo e o cangaço, não dizemos aqui que a natureza condicionou totalmente o aparecimento deles, no entanto é sabido que culturalmente sempre é feita a associação entre o Nordeste, a caatinga e os movimentos citados. O Determinismo de Tayne expresso na obra: Vidas Secas começa por uma fuga e acaba com outra. Decorre entre duas situações idênticas, de tal modo que o fim, encontrando com o princípio, fecha a ação num círculo. Entre a seca e as águas, a vida do sertanejo se organiza, do berço à sepultura modo de retorno perpétuo. Como os animais atrelados ao moinho, Fabiano voltará sempre sobre os passos, sufocado pelo meio físico, expressando o determinismo.
  • 2. Modernismo: Graciliano Ramos destaca-se no papel de romancista da segunda fase do Modernismo (1930 - 1945). Com estilo seco, conciso e sintético, o autor deixa de lado o sentimentalismo a favor de uma objetividade e clareza. Seu estilo seco, frio, enxuto e impessoal, repleto de senso psicológico, aproxima-o de Machado de Assis, sendo considerado seu legítimo seguidor, sabendo exprimir a amarga realidade do homem nordestino com agudeza. Graciliano Ramos vai descrever os tipos e as paisagens do nordeste evocando os problemas que ali se encontram. Seus melhores romances (São Bernardo, Angústia e Vidas Secas), mostram um perfil psicológico e sócio-político que nos indica uma versão crítica dos rumos que a sociedade moderna toma. A análise psicológica tomada pelo autor com relação aos seus personagens, parte do regional para o universal, confrontando o homem comum que vive com classes superiores e autoritárias. O nordeste se torna o palco deste conflito, a preocupação com os problemas do povo brasileiro sempre foram traços marcantes de suas obras. Graciliano Ramos escreveu ainda um romance autobiográfico que contém elementos ficcionais, Memórias do Cárcere, onde há toda a violência que o autor passou enquanto esteve preso, denunciando o autoritarismo estabelecido pelo Estado Novo. Principais características da segunda fase do Modernismo: Romances caracterizados pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo elevado grau de tensão nas relações do eu com o mundo. Uma das principais características do romance brasileiro é o encontro do escritor com seu povo. Há uma busca do homem brasileiro nas diversas regiões, por isso o regionalismo ganha importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural e social. Os escritores nordestinos merecem destaque especial, por sua denúncia da realidade da região pouco conhecida nos grandes centros. A obra: A atemporalidade: Um dos aspectos que mais impressionam na obra é o seu tema sempre atual. O romance, escrito entre 1937 e 1938, enfoca o problema da seca e as condições de vida miseráveis do sertanejo brasileiro. Condições essas que praticamente não se alteraram ao longo dos anos. Esse livro retrata fielmente a realidade brasileira não só da época em que o livro foi escrito, mas como nos dias de hoje tais como injustiça social, miséria, fome, desigualdade, seca, o que nos remete a idéia de que o homem se animalizou sob condições sub-humanas de sobrevivência. Engajamento Social: Nessa narrativa o enfoque se dá sobre a realidade social das personagens. Se nos romances narrados em primeira pessoa o ponto de interesse é o homem, ficando o contexto social segundo plano, em "Vidas secas" o ponto de interesse é o homem vinculado ao seu meio natural, no caso o sertão. Justificativa do título: A seca tem aspectos monstruosos porque cerceia a vida dos sertanejos do Nordeste e expõe um lado seco, doído e desumano do Brasil, tanto no aspecto paisagístico como principalmente no social, a expulsar e/ou matar de fome e sede quem vive nela. A terra é seca, mas sobretudo o homem é seco. O discurso do narrador é igualmente construído com frases curtas, incisivas, enxutas, quase sempre períodos simples. Escritor extremamente contido, com o pavor da verbosidade, Graciliano prefere a eloquência das situações fixadas à eloquência puramente verbal. Um exemplo de opressão e de falta de comunicação entre os seres da família animalizados pela miséria em que vivem, encontra-se no capítulo 6, em que o menino
  • 3. mais velho ouve a palavra inferno, acha-a bonita e procura aprender o seu significado com a mãe, que o repele brutalmente. Já no capítulo 7, Inverno, há uma cena em que a família se reúne numa noite de inverno, e Fabiano tenta contar histórias incompreensíveis enquanto os meninos passam frio. Enfim, a questão central do romance não está nos acontecimentos, mas nas criaturas que o povoam, nas gravuras de madeira. A divisão em capítulos autônomos: o assunto e a importância do nome de cada capítulo – o romance de “série de quadros”: Chamar este romance de “série de quadros, de gravuras em madeira, talhada com precisão e firmeza” é aludir a um de seus traços estilísticos fundamentais: o caráter autônomo e completo de seus capítulos. Estes podem ser lidos como peças independentes, e como tal foram publicados em jornais, mas reúnem-se com uma organicidade exemplar. Os capítulos de Vidas Secas mantêm uma estrutura descontínua, não-linear, como que reafirmando o isolamento, a instabilidade da família de retirantes: Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia. O cíclico do primeiro e do último capítulos, apesar da autonomia entre todos os outros: Formado por treze capítulos que se justapõem sem nexos lógicos, o enredo de Vidas Secas organiza-se principalmente pela proximidade entre o primeiro Mudança – a chegada da família de retirantes a uma velha fazenda abandonada e arruinada – e, o último, Fuga – a saída da família, que, diante de um novo período de seca, foge para o Sul. Do capítulo 2 ao 12, a família vive como agregada na fazenda, para cujo proprietário Fabiano trabalha. Assim, passa uma fase de descanso, em relação ao seu nomadismo, provocado pela seca. No entanto, além da tortura gerada pela lembrança do passado e pelo medo do futuro, o romance enfoca outras faces da opressão que se exerce sobre os membros da família – seja entre eles e os outros homens, os moradores da cidade, seja consigo próprios. Antropozoomorfização: Concomitantemente ao processo de zoomorfização (simbólica e física) dos retirantes, há em Vidas secas um processo inverso relativo à cachorra Baleia. Isto é, ao mesmo tempo em que os seres humanos são rebaixados à condição de animais, a cachorra sofre uma espécie de personificação, ela é (simbolicamente) antropomorfizada. Em diversas ocasiões, o animal é percebido como um elemento indistinto da família dos sertanejos. Enfrenta as mesmas adversidades, brinca com as crianças e a elas se nivela e se mistura nos montes de areia e estrume, recebe o carinho de todos como se deveras fosse uma pessoa da família. Essa igualdade de natureza entre Baleia e os humanos, todavia, é negada em alguns momentos do romance, e na desigualdade há uma certa vantagem para o animal. Não se pode deixar de perceber, por exemplo, que enquanto a cachorra é referida por um nome próprio, as crianças são identificadas pelas expressões “o menino mais velho” e “o menino mais novo”, ou seja, estes não têm uma identidade bem definida, de modo que, nesse aspecto, pelo confronto, ela está num patamar superior ao das crianças.
  • 4. O sentimento do destino coletivo: Graciliano Ramos, que é dono de um traço pessimista em outras obras, dá em Vidas secas uma tênue esperança. Fica subentendido no final da obra que eles partem para outro lugar, para onde o que importa é que ainda há movimento em busca de vida, mesmo que seja seca. O foco narrativo: terceira pessoa, mas um tanto singular, pois, por vezes, o narrador se apresenta como sendo o inconsciente da personagem (como a Baleia), outras vezes como onisciente, com o discurso indireto livre, monólogos interiores ou reflexões de pensamento e o uso do discurso indireto livre. Os personagens: Perfil físico e psicológico de cada um: Personagem Protagonista Fabiano – Nordestino pobre, marido de Sinhá Vitória, pai de dois filhos. Procura trabalho desesperadamente, bebe muito e perde dinheiro no jogo. Possui grandes dificuldades lingüísticas, mas é consciente delas. Homem bruto com dificuldade de se expressar, possui atitudes selvagens. Por não saber se expressar entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor. Personagem Antagonista Soldado Amarelo – Corrupto, oportunista e medroso, o Soldado Amarelo é símbolo de repressão e do autoritarismo pelo qual é comandado (ditadura Vargas), porém não é forte sozinho; sem as ordens da ditadura, é fraco e acovarda-se diante de Fabiano. Personagens Secundários Sinhá Vitória – Mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora, sonhadora e inconformada com a miséria em que vive, trabalha muito. É a mais inteligente de todos controlando assim as contas e os sonhos de todos. Filho mais novo e Filho mais velho – São crianças pobres e sofridas que não tem noção da miséria em que vivem. O mais novo vê no pai um ídolo, sonha sobressair-se realizando algo, enquanto o mais velho é curioso, querendo saber o significado da palavra inferno, desvendar a vida e ter amigos. O dono da fazenda – Contrata Fabiano para trabalhar em sua fazenda, desonesto, explorava seus empregados. O fiscal da prefeitura – Intolerante e explorador. Baleia – Cadela da família, tratada como gente, humanizada em vários momentos e muito querida das crianças. Tomás de Bolandeira - Aparece somente por meio de evocações, é tido como referência por Fabiano e Sinhá Vitória. Seu Inácio – Dono do bar. a consciência embotada, a condição sub-humana, a inteligência rala, a passividade ante os poderosos: retrato fiel do caboclo sertanejo com sua consciência embotada, condição sub-humana, inteligência rala, as suas reações resultantes de reflexos condicionados, por sua vez determinados pelas relações do homem com a própria paisagem e pela passividade ante os poderosos. a relação homem x paisagem: a relação do homem com a natureza nos mais diversos contextos e situações, onde a racionalidade tem um limite diretamente proporcional à justificativa de sobrevivência da raça humana no planeta. Matar e sobreviver são atitudes limítrofes entre racionalidade e irracionalidade no ser humano.
  • 5. Homem trágico e fatalista: outro tipo de sertanejo – trágico e fatalista, frio, com determinação inabalável, aceitando como inevitáveis os fatos consumados. Ausência de nomes = alegorias: A despersonalização das crianças é patente na ausência de nomes. “Único fiapo de esperança possível de futuro melhor”, os pais projetam a educação deles. O menino mais novo quer ser Fabiano e recebe um aviso desanimador: é derrubado violentamente pelo bode em que tentara montar para provar suas habilidades. O menino mais velho, “mais inquieto”, procura apoio em Baleia, quando é punido pela sua curiosidade. Importância e Baleia na narrativa: Baleia, em Vidas Secas, parece possuir “alma” que partindo deste mundo “Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme (...). O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes”. Por isso pode ser considerada uma personagem que transcende os limites de um simples cão. Ela assume a função de um ser que pensa e que possui a esperteza de homem “O objeto desconhecido continuava a ameaçá-la. Conteve a respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo por baixo das pestanas caídas. Ficou assim algum tempo, depois sossegou.” A relevância atribuída à cachorra Baleia simboliza o reconhecimento de um ser que, ora animal, ora criança, tematiza o lirismo presente no romance. a opressão e a falta de comunicação entre os seres da família: existência da falta de comunicação e linguagem por parte da família, que se torna um processo constante de grunhidos, gestos e vários monólogos como a melhor atitude de expressão em busca de uma colocação existencial como seres humanos, que na verdade ocorriam falsas esperanças porque não se sentiam pessoas e sim bichos, vivendo em constante desentendimento sem um entender o outro, com o narrador onisciente integrando-se ao leitor através da tradução verbal, no contexto em que se encontram as personagens, sem metas de vida e fugindo da seca e desgraça. Estas, vivendo no plano social e existencial, levando em consideração o seu psicológico nos mostrando a verdadeira realidade da região do Nordeste, onde muitos tentam a vida na sorte e muitos não conseguem se integrar na sociedade por não terem diálogos e boa comunicação na forma de se expressar pela língua. O espaço onde é ambientada a narrativa: A maior parte da história se passa na caatinga(nordeste), que funciona cimo um dos agentes causadores das más condições de vida por que passa Fabiano e sua família. Trata-se de um lugar árido e inóspito, que, aliado à seca, não oferecia meios de sobrevivência, o que fazia com que os retirantes continuassem numa mudança constante, caracterizando assim, um aspecto circular na obra, já que a história começa com a mudança da família e termina com a fuga: a família deixa o lugar onde está, na tentativa de se estabelecer na vida.
  • 6. os dois recortes espaciais: o ambiente rural e o urbano: para dois recortes espaciais: o ambiente rural e o urbano. A relevância desse recorte se deve às sensações de adequação ou inadequação dos personagens em um ou outro espaço. Fabiano consegue, apesar da miséria presente, dominar o ambiente rural. Incapaz de se comunicar, o personagem, desempenhando a solitária função de vaqueiro, não sente tanto as consequências de seu laconismo. Além disso, conhece as técnicas de sua profissão, o que lhe dá uma sensação de utilidade e permite que goze até de certa dignidade. A passagem em que seu filho o admira ao vê-lo trabalhando deixa claro isso. Na cidade, porém, Fabiano vivencia, a cada nova experiência, o sentimento de inadequação. Os capítulos “Festa” e “Cadeia” ilustram bem essa sensação. a interferência da natureza no destino do homem: a natureza muda totalmente e passa a ser declarada hostil ao brasileiro, o nordestino sofre com a seca do semiárido e já não se conforma somente em observá-la porque agora ele é vítima da degradação gerada pelo espaço. A harmonia que unia o homem ao ambiente numa simbiose é rompida, no romance de 30 a seca só retira do sertanejo a condição de viver. Em Vidas Secas, a seca do sertão aparece como um mal, portanto, pode-se falar em natureza monstruosa devido aos largos períodos de estiagem que destroem a vida. A partir desse aspecto, este trabalho tratará da natureza seca como um monstro questionador e problematizador do ideal de nação. O tempo: o tempo cronológico x o tempo psicológico: Além da falta de linearidade do tempo, em Vidas Secas há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. Essa opção do narrador de ocultar os marcadores temporais tem como principal consequência o distanciamento dos personagens da ordenação civilizada do tempo. Dessa forma, nota-se que a ausência de uma marcação cronológica temporal serve, enquanto elemento estrutural, como mais uma forma de evidenciar a exclusão dos personagens. Por outro lado, a valorização do tempo psicológico na narrativa faz com que as angústias dos personagens fiquem mais próximas do leitor, que as percebe com muito mais intensidade. A linguagem A ausência de diálogos: A ausência de diálogos se faz presente devido à uma ausência vocabular por parte das personagens, que se comunicam através de onomatopeias, exclamações, resmungos e gestos, enfatizando a animalização dos personagens e a solidão, marcante da vida de todos os membros da família, que são marginalizados também pelo fator linguístico Assim, há a predominância do discurso indireto livre ou através de monólogos interiores, onde o narrador ordena logicamente os discursos e pensamentos dos personagens. Dificuldade de comunicação: Vidas Secas conta a historia de uma família de retirantes, que de certa forma não proporciona a coesão para uma historia, pois a dificuldade da andança pela atmosfera seca não dá profundidade para qualquer tipo de comunicação entre os componentes da família, explicando as dificuldades e comunicação de Fabiano e a falta de nome dos meninos, bem como o sacrifício do
  • 7. papagaio, que se transforma na comida salvadora. Há uma linguagem rude e seca, refletindo, assim, o universo das personagens retratadas. O discurso indireto livre: permite uma narrativa mais fluente, de ritmo e tom mais expressivamente elaborados, com grande efeito estilístico, em virtude da ausência de quês e de cortes e adaptações sintático-semânticas. O elo psíquico que se estabelece entre o narrador e sua personagem, nesse tipo de discurso, faz com que este seja bastante empregado nas narrativas de cunho memorialista ou de fluxo da consciência, como é o caso de Vidas Secas. Como a distinção entre a fala e os estados mentais da personagem e o discurso do narrador é por vez um tanto sutil, o contexto narrativo desempenha papel importante, em se tratando da apreensão do discurso indireto livre. Frase do autor: "O que me interessa é o homem, e homem daquela região aspérrima. Julgo que é a primeira vez que esse sertanejo aparece em literatura. Procurei auscultar a alma do ser rude e quase primitivo que mora na zona mais recuada do sertão, observar a reação desse espírito bronco ante o mundo exterior, isto é, a hostilidade do meio físico e da injustiça humana. Por pouco que o selvagem pense - e os meus personagens são quase selvagens - o que ele pensa merece anotação". A definição de contextualidade: é um meio de comparação com algo por meio do texto. Há ocorrência da contextualidade entre Vidas secas, a música ‘Asa Branca’ e a coleção “Os retirantes”, de Cândido Portinari, já que Asa Branca é o hino do nordeste.