2. A Filosofia Medieval, cuja principal expressão é a Escolástica,
compreende a produção entre os séculos VIII e XIV.
Abrange pensadores europeus, árabes e judeus e ocorre num
período em que a Igreja Romana domina a Europa, coroando
reis e depondo-os, organizando Cruzadas à Terra Santa,
construindo catedrais e estabelecendo as primeiras
universidades.
3. Nos séculos XI e XII, algumas das escolas que haviam sido
estruturadas a partir das ordens de Carlos Magno, que se
destacaram por seu alto nível de ensino, ganham a forma de
Universidades.
Depois começaram a surgir instituições, fundadas por
autoridades, que já nasciam estruturadas como escolas de
ensino superior.
Universidade de Bolonha >> 1088
Universidade de Paris >> 1170
Universidade de Oxford >> 1096
Universidade de Modena >> 1175
Universidade de Cambridge >> 1209
4. A Filosofia medieval teve como influências principais Platão e
Aristóteles – embora o conhecimento que se tinha de Platão
resultasse do neoplatonismo de intérpretes como Plotino, do
século VI d.C.
Já os textos de Aristóteles foram conservados e traduzidos por
estudiosos árabes, particularmente Avicena e Averróis.
Para além do mundo cristianizado, nas regiões árabes e
islâmicas floresce um vigoroso pensamento filosófico e
científico.
5. Árabes e islamitas anteciparão em séculos os conhecimentos
ocidentais sobre
Matemática, Astronomia, Medicina, Engenharia, posteriormente
reivindicados como conquistas do Renascimento.
Além dos problemas típicos da Patrística – especialmente, a
conciliação entre fé e razão –, a Escolástica debruçou-se sobre
os Problemas dos Universais.
6. A preocupação da Escolástica com as palavras é enorme. Se a
verdade está contida na Bíblia, é preciso compreendê-la e
distinguir o que deve ser entendido como literal, e o que é
apenas simbólico.
Por isso, a Escolástica recomendará que os estudantes
comecem os estudos pelo trivium (gramática, retórica e
dialética), ou seja, os estudos da linguagem, para só depois
passar ao quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e
música), que concentravam os estudos das coisas.
7. Tanto o trivium quanto o quatrivium estavam subordinadas à
Ciência das ciências: Teologia. Portanto, tinham como principal
objetivo demonstrar racionalmente a existência de Deus e a
imortalidade da alma. Este era o principal tema da Escolástica.
• Que relações existem entre as palavras e as coisas?
• Qual a relação entre a linguagem e a realidade?
Os nominalistas, que têm em Roscelin Compiègne (1050-1120)
considera os universais (ou gêneros, como
“homem”, “astros”, “animais”, “máquinas”) como palavras sem
existência real.
8. A escolástica desenvolveu um importante método de exposição
filosófica, conhecido como disputa:
• Cada tese apresentada devia ser refutada e/ou defendida
com argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão
ou dos doutores da igreja.
• As teses eram consideradas verdadeiras ou falsas
dependendo da força e da qualidade dos argumentos
encontrados nos autores mencionados.
• Diz-se, em relação a este método, tratar-se da aplicação do
princípio da autoridade, isto é, a validade das ideias estava
subordinada a autoridades reconhecidas
(Bíblia, Platão, Aristóteles, o Papa, algum santo).
9. Os nominalistas, que têm em Roscelin Compiègne (1050-1120)
considera os universais (ou gêneros, como “homem”, “astros”,
“animais”, “máquinas”) como palavras sem existência real.
São meras abstrações humanas geradas a partir da percepção
das coisas individuais (determinado homem, determinado astro,
determinado animal, determinada máquina).
Os realistas sustentam a existência real dos universais.
Apoiam-se em Platão para defender os universais como ideias
anteriores e separadas das coisas; ou, apoiados em Aristóteles,
defendem os universais presentes nas coisas.
10. Santo Anselmo (1033-1109) afirma que a palavra “Deus” indica
um ser perfeito, o maior de todos. Deus só pode existir, pois o
atributo da existência é uma das perfeições associadas à
palavra “Deus”.
O crescimento das cidades medievais se faz acompanhar pelo
crescimento das universidades. Mestres e estudantes cuidam
da administração das instituições, alcançando relativa
autonomia em relação aos poderes temporal e eclesiástico.
A Universidade de Paris, fundada em 1170, é uma das que
melhor aproveita a autonomia consentida pelo papado. Nesta
instituição, São Tomás de Aquino foi figura central.
11. Para Tomás de Aquino, se fé e razão entram em colisão, o
equívoco deve ser atribuído à razão – jamais à fé.
Entretanto, Tomás de Aquino não considera a possibilidade de
conflito entre fé e razão. Antes, procura por meio da razão
confirmar a fé e a existência de Deus.
Para isso, apelará à percepção do mundo sensível:
• Percebe-se, pelos sentidos, que o mundo é dotado de
movimento.
12. • Segundo Aristóteles, nada se move por si. A causa do
movimento deve ser causada – e a investigação sobre a
causa do movimento do mundo levaria a uma sucessão
infinita de causas. Portanto, é forçoso admitir uma causa
absolutamente imóvel e primeira: Deus.
Para Tomás de Aquino, há um domínio comum à razão e à fé.
É preciso demarcar os respectivos territórios com precisão,
para que a razão possa se desenvolver plenamente dentro dos
limites que lhe forem impostos. Este domínio é o campo do ser,
ou seja, a realidade do mundo sensível.
Nisso, concorda com Aristóteles, para quem o conhecimento
racional provém inicialmente dos sentidos.
13. No século XIII novas ordens católicas conquistam espaço nas
universidades. Entre elas, as recém-formadas Ordem dos
Franciscanos e dos Dominicanos, que pregam um retorno da
igreja à simplicidade e à humildade dos tempos iniciais.
Defendem a ortodoxia (doutrina pura e original) em face dos
“dialéticos” (entre os quais, São Tomás de Aquino) que se
dedicam primeiro à especulação e só depois à devoção.
Para o dominicano São Boaventura (1221-1274), a Filosofia e a
razão só se justificam como busca do “itinerário da alma até
Deus”.
14. Portanto, compete à razão apenas buscar no mundo sensível
(ou seja, o mundo das criaturas de Deus)
vestígios, imagens, sinais das Ideias perfeitas, que são o
próprio conhecimento de Deus.
Não se trata de conhecer o que as coisas são, mas apenas o
que elas significam e representam, como imagem e
semelhança da imensa sabedoria divina.
• Seguindo este preceito, em Oxford, o franciscano Roger
Bacon desenvolve a ideia de ciência experimental, partindo
da premissa de que as provas da experiência são a melhor
forma de conhecimento. É reconhecido como precursor da
ciência moderna.
15. Guilherme Ockham (1300-1350), franciscano também ligado a
Oxford, defende que os universais não têm existência real, não
passando de signos que só adquirem sentido na relação que as
palavras estabelecem entre si numa determinada proposição.
Os signos referem-se a coisas, mas só na qualidade de
substitutos dessas coisas. Não têm, portanto, existência por si
mesmos.
Por isso, o conhecimento racional, embora estruturado em
procedimentos lógicos rigorosos, não conferem acesso à
realidade das coisas. Isso se aplica ainda mais à questão da
existência de Deus.
16. Ockham mostra que a verdade revelada, muito mais que a
realidade das coisas do mundo sensível, é absolutamente
inacessível à razão. Procura, desta forma, subordinar o
conhecimento racional à supremacia do conhecimento por meio
da fé. A fé tem ascendência sobre a razão.
Separadas radicalmente da fé, a razão e a Filosofia libertam-se
da subordinação à Teologia.
17. Fontes bibliográficas:
ABRÃO, Bernadette Siqueira. A história da filosofia. São
Paulo, Ed. Nova Fronteira, 2004
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, 13ª
edição, Ed. Ática, 2005
GHIRALDELLI JR., Paulo. Introdução à filosofia. Barueri, Ed.
Manole, 2003