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DIAS, Cícero (1908). Nascido em Jundiá (PE). Em 1925 achava-se no Rio de Janeiro,
matriculado no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, que cedo trocou pelo
de Pintura. Inconformado porém com o tipo de ensinamento acadêmico ali ministrado,
abandonou em 1928 a Escola. Nesse mesmo ano, realizou sua primeira individual, não sem
superar diversas dificuldades:

- Fui procurar o Graça, e o Graça me disse que eu fosse, com uma carta dele, procurar o
Moura Brasil, que havia um salão da Policlínica defronte da Galeria Cruzeiro. Não encontrava o
Moura Brasil, aí o Graça conhecia muito bem o Juliano Moreira, psiquiatra muito importante, e
fui procurar Juliano Moreira lá no hospital, mostrei o desenho e ele me disse: "Está muito bem,
porque lá no hospício está havendo um congresso de Psiquiatria mundial"... Fiz a exposição no
salão da Politécnica, quando houve esse congresso. Foi um escândalo. Até consegui vender
quadros. O público não aceitava aquilo de maneira nenhuma, só professores alemães,
franceses, estrangeiros que naturalmente já estavam senhores de tudo aquilo.

Interrompido o curso de Belas Artes, Cícero partiu de volta ao Nordeste, expondo em 1928 em
Recife e logo depois em três cidades do interior de Pernambuco:

- Em 1928, fiz uma exposição em Recife, depois fiz três exposições no interior do Estado, para
justamente sentir a receptividade do povo para a pintura moderna, diante da expressão
moderna. O povo não estranha; quem estranha o novo é o mal instruído, o burguês, mas o
povo não. Em Recife, a repercussão foi horrível, fui perseguido pelo ambiente cultural, apesar
da apresentação de Gilberto Freire.

Nessa apresentação, o grande sociólogo dizia, entre outras coisas:

- Das novas relações e proporções é que sai avivado pelo mais brasileiro dos azuis, pelo mais
pernambucano dos encarnados, o lirismo profundo como em nenhum outro pintor que eu
conheço, de Cícero Santos Dias. Esse pintor não tem requintes de colorido nem luxos, mas
quase só azul e encarnado como os pintorezinhos pobres - de barcaças e de ex-votos e de
casas de porta e janela.

Esse lirismo de base popular e autenticamente brasileiro nutriria de então por diante as
melhores obras de Cícero, ao tempo em que praticava uma pintura ingenuamente surrealista,
quando, rústico Chagall dos Trópicos, externava com simploriedade suas reminiscências e
sensações de menino de engenho impregnado de fortes odores de frutas e do colorido dos
canaviais, com medo de assombração e despertando para a sexualidade. "Pintura é poesia,
qual técnica!" costumava dizer então aos que lhe censuravam o desleixo no acabamento das
aquarelas e dos óleos. Desleixo que aliás não passou desapercebido a um crítico como Rubem
Navarra, o qual assim caracterizou sua produção entre 1928 e 1937:

- Ele se dava a todas as liberdades no terreno da técnica. Tinha horror à virtuosidade linear e à
lógica do espaço natural - a composição era uma montagem de símbolos e imagens - poemas
e não arquiteturas. De maneira que não havia questão de exercitar nem forma nem matéria: o
que importava era figurar um determinado sentido de evocação, por meio de imagens em geral
soltas e mal construídas, onde tudo se encontrava na idéia de produzir um choque poético,
através de uma linguagem como a dos primitivos ou a das crianças.

Esse desleixado, muito mais artista do que artesão, paradoxalmente chegaria a lecionar
Técnica da Pintura em 1935, do mesmo modo como, desorganizado sempre, foi um dos
organizadores do Congresso Afro-Brasileiro de Recife, em 1929...

Em 1931, no Salão Nacional de Belas Artes que Lúcio Costa pela primeira vez franqueava a
artistas de orientação não-acadêmica, Cícero expôs um enorme quadro, Eu vi o mundo, ele
começava no Recife, que causaria sensação:
- Eu expus um quadro enorme, esse meu quadro hoje tem 15 metros por dois metros e pouco.
Mas ele era maior, ele devia ter mais ou menos vinte e tantos metros, e toda parte do quadro
que tinha cenas eróticas desapareceu. Rasgaram o quadro, tiraram tudo isso, desapareceu...

O quadro, devidamente restaurado, e após ter integrado durante anos, em comodato, o acervo
do Museu Nacional de Belas Artes, pertence hoje a um colecionador de Rio de Janeiro. Em
1937, após executar décors para um balé de Villa-Lobos na versão de Serge Lifar, Cícero Dias
embarcou para Paris, pretendendo ali permanecer alguns meses, o suficiente para se esquecer
do Estado Novo recém-implantado por Getúlio Vargas. Terminaria por se radicar
definitivamente na capital francesa, da qual só se ausentou durante os anos da II Guerra
Mundial, entre 1939-45 (quando viveu em Lisboa), e nas rápidas escapadas ao Brasil, aliás
cada vez mais freqüentes para os últimos anos.

Pode-se imaginar o impacto da pintura de Cícero, tão logo chegado a Paris, sobre os
surrealistas aos quais logo se ligou! Não admira assim tivesse sido acolhido com efusão por
artistas e intelectuais do porte de Picasso e de Éluard. No ano seguinte ao da chegada, 1938,
efetua com sucesso duas exposições em Paris. Mas é tempo de guerra, e após curta prisão
sob os nazistas, nosso artista decide prudentemente fixar-se em Lisboa. Só retornará em 1945,
deixando para trás não apenas o doce exílio lisboeta como toda uma fase pictórica marcada
pelo improviso e pelo lirismo.

De fato, o Cícero de meados da década de 1940 não é mais o das imagens da infância, mas
alguém preocupado com problemas formais e de relacionamentos cromáticos. Um
abstracionista, em suma, que reduz o mundo a um conjunto de abstrações coloridas da
realidade, despreocupado com a duplicação das formas naturais e sobretudo com o conteúdo
anedótico ou literário ainda tão marcante em obras anteriores. Integrado, portanto, ao grupo
abstracionista, freqüentador da Galeria Denise René, membro do Grupo Espace em 1946,
Cícero deixa de ser um pintor regionalista e se insere na arte internacional de seu tempo.
Numa curta visita ao Brasil, em 1948, executa, em Recife, aquele que é geralmente tido como o
primeiro mural abstrato sul-americano. E em 1952 é um dos artistas selecionados por Leon
Degand para figurar em sua obra Temoignages pour l'Art Abstrait, ao lado de Arp, Calder,
Poliakoff, Magnelli e tantos outros. No mesmo ano sua exposição em São Paulo desperta em
Oswald de Andrade o seguinte comentário inesperado:

- Cícero acaba de expor em São Paulo e entusiasmou-me. Julgo-o o maior pintor brasileiro de
todos os tempos. Sim, o maior, digo e repito. E ninguém poderá imaginar que estou falando
isso por camaradagem, uma vez que as minhas relações com Cícero são geladas.

Se a temática regionalista do primeiro Cícero Dias esvaiu-se, substituída pelas relações
matemáticas entre formas e cores, não há como deixar de perceber, mesmo aí, uma atmosfera
que é Nordeste, Pernambuco, o Brasil: afinal, não escreveu com acuidade Gilberto Freyre, há
quase 60 anos, que Cícero usava em seus quadros "o mais brasileiro dos azuis, o mais
pernambucano dos encarnados"?

Cícero realizou diversas exposições individuais, não apenas no Rio de Janeiro e em Recife, em
São Paulo e Paris, como também em Lisboa (1942, com prefácio de Paul Eluard), Londres
(1945), Bruxelas (1966) etc; também participou de importantes coletivas, como a XXV Bienal de
Veneza (1950), o Salão de Maio, de Paris (1951, 1958), Jovens Pintores Abstratos da Escola
de Paris (Bruxelas, 1951), Klar Form (Dinamarca, Suécia e Finlândia, 1952), e um sem-número
de outras. Em 1965, a VIII Bienal de São Paulo dedicou-lhe uma sala retrospectiva, tornando a
fazê-lo em 1994, no âmbito da exposição "Brasil Bienal Século XX". Desde aquele ano tem
vindo assiduamente ao Brasil, para realizar individuais em São Paulo e Rio de Janeiro,
Salvador e Recife, sempre com grande sucesso de vendas. É bem verdade que os quadros
mais recentes, e que tentam reproduzir a antiga temática das evocações infantis em Jundiá, já
agora vazada num desenho e num colorido nada espontâneos, não sustentam o cotejo quer
com as aquarelas da primeira fase, quer com os grandes esquemas abstratos que se lhe
seguiram. Na verdade, o grande Cícero Dias, aquele que se incorporou em definitivo à história
da pintura brasileira, é o dos anos que medeiam entre a primeira individual e a partida para a
França - 1927 e 1937 -, quando dele podia dizer Mário de Andrade, num artigo escrito em
1929:

- Ele tem calungas que não são nem cachorro, nem boi, nem burro. Tem aves que não são
bem pombas, nem urubus, nem galinhas. É o Animal. É a Ave.

                              Mulher e soldado, guache, 1928;
                    0,31 X 0,30, Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

                            Estátua e o monstro, guache, 1928;
                    0,55 X 0,38, Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

              Eu vi o mundo, começava no Recife, detalhe, óleo s/ papel, 1929;
                                      2,50 X 1,50.

                         Moça com sombrinha, óleo s/ tela, s/ data;
                          0,74 X 0,61, Palácio Bandeirantes, SP.

                 Ilustração para o livro Ciclo da Moura, água-forte, 1966-67;
                            0,34 X 0,26, Museus Castro Maya, RJ.

                                Sem título, óleo s/ tela, 1951;
                    0,80 X 0,53, Museu de Arte Contemporânea da USP.

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Dias, cícero

  • 1. DIAS, Cícero (1908). Nascido em Jundiá (PE). Em 1925 achava-se no Rio de Janeiro, matriculado no curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, que cedo trocou pelo de Pintura. Inconformado porém com o tipo de ensinamento acadêmico ali ministrado, abandonou em 1928 a Escola. Nesse mesmo ano, realizou sua primeira individual, não sem superar diversas dificuldades: - Fui procurar o Graça, e o Graça me disse que eu fosse, com uma carta dele, procurar o Moura Brasil, que havia um salão da Policlínica defronte da Galeria Cruzeiro. Não encontrava o Moura Brasil, aí o Graça conhecia muito bem o Juliano Moreira, psiquiatra muito importante, e fui procurar Juliano Moreira lá no hospital, mostrei o desenho e ele me disse: "Está muito bem, porque lá no hospício está havendo um congresso de Psiquiatria mundial"... Fiz a exposição no salão da Politécnica, quando houve esse congresso. Foi um escândalo. Até consegui vender quadros. O público não aceitava aquilo de maneira nenhuma, só professores alemães, franceses, estrangeiros que naturalmente já estavam senhores de tudo aquilo. Interrompido o curso de Belas Artes, Cícero partiu de volta ao Nordeste, expondo em 1928 em Recife e logo depois em três cidades do interior de Pernambuco: - Em 1928, fiz uma exposição em Recife, depois fiz três exposições no interior do Estado, para justamente sentir a receptividade do povo para a pintura moderna, diante da expressão moderna. O povo não estranha; quem estranha o novo é o mal instruído, o burguês, mas o povo não. Em Recife, a repercussão foi horrível, fui perseguido pelo ambiente cultural, apesar da apresentação de Gilberto Freire. Nessa apresentação, o grande sociólogo dizia, entre outras coisas: - Das novas relações e proporções é que sai avivado pelo mais brasileiro dos azuis, pelo mais pernambucano dos encarnados, o lirismo profundo como em nenhum outro pintor que eu conheço, de Cícero Santos Dias. Esse pintor não tem requintes de colorido nem luxos, mas quase só azul e encarnado como os pintorezinhos pobres - de barcaças e de ex-votos e de casas de porta e janela. Esse lirismo de base popular e autenticamente brasileiro nutriria de então por diante as melhores obras de Cícero, ao tempo em que praticava uma pintura ingenuamente surrealista, quando, rústico Chagall dos Trópicos, externava com simploriedade suas reminiscências e sensações de menino de engenho impregnado de fortes odores de frutas e do colorido dos canaviais, com medo de assombração e despertando para a sexualidade. "Pintura é poesia, qual técnica!" costumava dizer então aos que lhe censuravam o desleixo no acabamento das aquarelas e dos óleos. Desleixo que aliás não passou desapercebido a um crítico como Rubem Navarra, o qual assim caracterizou sua produção entre 1928 e 1937: - Ele se dava a todas as liberdades no terreno da técnica. Tinha horror à virtuosidade linear e à lógica do espaço natural - a composição era uma montagem de símbolos e imagens - poemas e não arquiteturas. De maneira que não havia questão de exercitar nem forma nem matéria: o que importava era figurar um determinado sentido de evocação, por meio de imagens em geral soltas e mal construídas, onde tudo se encontrava na idéia de produzir um choque poético, através de uma linguagem como a dos primitivos ou a das crianças. Esse desleixado, muito mais artista do que artesão, paradoxalmente chegaria a lecionar Técnica da Pintura em 1935, do mesmo modo como, desorganizado sempre, foi um dos organizadores do Congresso Afro-Brasileiro de Recife, em 1929... Em 1931, no Salão Nacional de Belas Artes que Lúcio Costa pela primeira vez franqueava a artistas de orientação não-acadêmica, Cícero expôs um enorme quadro, Eu vi o mundo, ele começava no Recife, que causaria sensação:
  • 2. - Eu expus um quadro enorme, esse meu quadro hoje tem 15 metros por dois metros e pouco. Mas ele era maior, ele devia ter mais ou menos vinte e tantos metros, e toda parte do quadro que tinha cenas eróticas desapareceu. Rasgaram o quadro, tiraram tudo isso, desapareceu... O quadro, devidamente restaurado, e após ter integrado durante anos, em comodato, o acervo do Museu Nacional de Belas Artes, pertence hoje a um colecionador de Rio de Janeiro. Em 1937, após executar décors para um balé de Villa-Lobos na versão de Serge Lifar, Cícero Dias embarcou para Paris, pretendendo ali permanecer alguns meses, o suficiente para se esquecer do Estado Novo recém-implantado por Getúlio Vargas. Terminaria por se radicar definitivamente na capital francesa, da qual só se ausentou durante os anos da II Guerra Mundial, entre 1939-45 (quando viveu em Lisboa), e nas rápidas escapadas ao Brasil, aliás cada vez mais freqüentes para os últimos anos. Pode-se imaginar o impacto da pintura de Cícero, tão logo chegado a Paris, sobre os surrealistas aos quais logo se ligou! Não admira assim tivesse sido acolhido com efusão por artistas e intelectuais do porte de Picasso e de Éluard. No ano seguinte ao da chegada, 1938, efetua com sucesso duas exposições em Paris. Mas é tempo de guerra, e após curta prisão sob os nazistas, nosso artista decide prudentemente fixar-se em Lisboa. Só retornará em 1945, deixando para trás não apenas o doce exílio lisboeta como toda uma fase pictórica marcada pelo improviso e pelo lirismo. De fato, o Cícero de meados da década de 1940 não é mais o das imagens da infância, mas alguém preocupado com problemas formais e de relacionamentos cromáticos. Um abstracionista, em suma, que reduz o mundo a um conjunto de abstrações coloridas da realidade, despreocupado com a duplicação das formas naturais e sobretudo com o conteúdo anedótico ou literário ainda tão marcante em obras anteriores. Integrado, portanto, ao grupo abstracionista, freqüentador da Galeria Denise René, membro do Grupo Espace em 1946, Cícero deixa de ser um pintor regionalista e se insere na arte internacional de seu tempo. Numa curta visita ao Brasil, em 1948, executa, em Recife, aquele que é geralmente tido como o primeiro mural abstrato sul-americano. E em 1952 é um dos artistas selecionados por Leon Degand para figurar em sua obra Temoignages pour l'Art Abstrait, ao lado de Arp, Calder, Poliakoff, Magnelli e tantos outros. No mesmo ano sua exposição em São Paulo desperta em Oswald de Andrade o seguinte comentário inesperado: - Cícero acaba de expor em São Paulo e entusiasmou-me. Julgo-o o maior pintor brasileiro de todos os tempos. Sim, o maior, digo e repito. E ninguém poderá imaginar que estou falando isso por camaradagem, uma vez que as minhas relações com Cícero são geladas. Se a temática regionalista do primeiro Cícero Dias esvaiu-se, substituída pelas relações matemáticas entre formas e cores, não há como deixar de perceber, mesmo aí, uma atmosfera que é Nordeste, Pernambuco, o Brasil: afinal, não escreveu com acuidade Gilberto Freyre, há quase 60 anos, que Cícero usava em seus quadros "o mais brasileiro dos azuis, o mais pernambucano dos encarnados"? Cícero realizou diversas exposições individuais, não apenas no Rio de Janeiro e em Recife, em São Paulo e Paris, como também em Lisboa (1942, com prefácio de Paul Eluard), Londres (1945), Bruxelas (1966) etc; também participou de importantes coletivas, como a XXV Bienal de Veneza (1950), o Salão de Maio, de Paris (1951, 1958), Jovens Pintores Abstratos da Escola de Paris (Bruxelas, 1951), Klar Form (Dinamarca, Suécia e Finlândia, 1952), e um sem-número de outras. Em 1965, a VIII Bienal de São Paulo dedicou-lhe uma sala retrospectiva, tornando a fazê-lo em 1994, no âmbito da exposição "Brasil Bienal Século XX". Desde aquele ano tem vindo assiduamente ao Brasil, para realizar individuais em São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador e Recife, sempre com grande sucesso de vendas. É bem verdade que os quadros mais recentes, e que tentam reproduzir a antiga temática das evocações infantis em Jundiá, já agora vazada num desenho e num colorido nada espontâneos, não sustentam o cotejo quer com as aquarelas da primeira fase, quer com os grandes esquemas abstratos que se lhe seguiram. Na verdade, o grande Cícero Dias, aquele que se incorporou em definitivo à história da pintura brasileira, é o dos anos que medeiam entre a primeira individual e a partida para a
  • 3. França - 1927 e 1937 -, quando dele podia dizer Mário de Andrade, num artigo escrito em 1929: - Ele tem calungas que não são nem cachorro, nem boi, nem burro. Tem aves que não são bem pombas, nem urubus, nem galinhas. É o Animal. É a Ave. Mulher e soldado, guache, 1928; 0,31 X 0,30, Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Estátua e o monstro, guache, 1928; 0,55 X 0,38, Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Eu vi o mundo, começava no Recife, detalhe, óleo s/ papel, 1929; 2,50 X 1,50. Moça com sombrinha, óleo s/ tela, s/ data; 0,74 X 0,61, Palácio Bandeirantes, SP. Ilustração para o livro Ciclo da Moura, água-forte, 1966-67; 0,34 X 0,26, Museus Castro Maya, RJ. Sem título, óleo s/ tela, 1951; 0,80 X 0,53, Museu de Arte Contemporânea da USP.