Este documento fornece orientações sobre como redigir uma introdução acadêmica eficaz. Ele explica que a introdução deve contextualizar o trabalho, estabelecer um nicho de pesquisa e preencher esse nicho. Vários recursos linguísticos são apresentados para delimitar o território de conhecimento, construir um nicho e ocupá-lo com o trabalho proposto.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ
INSTITUTO DE LETRAS/FACULDADE DE ESTUDOS DA
LINGUAGEM
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM LETRAS
PROFESSORA TÂNIA MARIA MOREIRA
Introdução
MACHADO, A. R., LOUSADA, E., ABREU-TARDELLI,
L. S. Planejar gêneros acadêmicos. São Paulo:
Parábola Editorial, 2005.
MOTTA-ROTH; HENDGES, G. H. Produção textual
na universidade. São Paulo : Parábola Editorial,
2010.
2. Para começar a conversa
A introdução pode ser vista como um trailer do que o leitor
verá no seu trabalho.
Ela deve levar o leitor a querer ler o seu trabalho. Assim, é
preciso seduzir o leitor com organização, método e com
uma boa argumentação. É preciso levá-lo a acreditar que
seu trabalho merece ser lido, que é relevante para o seu
campo de estudo.
Essa argumentação faz parte do que se chama justificativa,
que não consiste simplesmente em dizer por que se vai
fazer o trabalho, mas sobretudo para que vai servir o
trabalho.
3. Na introdução, o autor geralmente faz generalizações sobre o tema,
revisa itens de pesquisa prévia e faz generalizações sobre o assunto
que será tratado no estudo. A relevância é sinalizada por passagens
que apontam as lacunas no conhecimento ou dificuldade na solução
de problemas correspondentes. O objetivo é estabelecer uma base
de conhecimento compartilhado com o leitor para contextualizar a
questão de pesquisa.
Lousada e Abreu-Tardeli dão um conselho útil. Para as autoras, logo
de início é importante que se apresente o “objeto” que você vai
tratar. Apresente um histórico da pesquisa: um relato de como você
chegou ao tema que busca discutir; seus motivos mais relevantes
(por que resolveu estudá-lo?, as buscas que efetuou, as decisões que
foi tomando, as teorias que foi selecionando, etc.
4. De acordo com Motta-Roth (2010, 73-85), primeiro, o autor pode
fazer uma generalização. Ao fazer uma generalização, o autor
afirma ou nega algo sobre o tema em questão. Por ter um caráter
de generalidade e de conhecimento estabelecido, (em oposição a
conhecimento novo), a generalização muitas vezes dispensa
citação do autor ou do ano de publicação que gerou a informação.
Em seguida, o autor pode revisar significativamente a literatura
sobre pesquisas prévias acerca do tema. Além da citação de
trabalhos relevantes, por meio da referência ao nome do autor e à
data de publicação (por exemplo, “Monteiro, 2008”). Essa revisão
da literatura é indicada por expressões que remetem às pesquisas
feitas na área, tais como:
1) Verbos e substantivos relativos ao processo experimental
(investigadores, tem verificado, uma grande incidência em
amostras coletadas)
5. 2) Verbos no passado composto (tem sido, vem sendo, etc) para
aludir à atividade de pesquisa como um processo que começou
no passado e se estende até o presente (tem sido objeto de
muitas pesquisas, vem sendo estabelecida em diversos estudos)
Uma terceira estratégia usadas pelos autores para fazer alusão a
um corpo de conhecimento existente é alertar para a importância
do assunto na área, por meio de
1)Ênfase na repercussão do problema (grande vulnerabilidade
que as crianças com menos de um ano de idade apresentam)
2)Referência explícita ao interesse de outros pesquisadores sobre
o assunto (tem sido evidenciada em diversos estudos latino-americanos,
Algumas organizações internacionais de saúde
passaram a orientar os investigadores no sentido de dirigir seus
esforços para a elaboração de novos modelos e técnicas).
6. A identificação de lacunas ainda por preencher no
conhecimento estabelecido é evidenciado na apresentação
de dificuldades em estabelecer parâmetros confiáveis para
estudar um tema X. As falhas ainda existentes no
conhecimento são expressas pelos resultados não
conclusivos de pesquisas prévias e a dificuldade de se
estudar o problema (heterogeneidade na distribuição e
desigualdade na ocorrência).
Delimitada a lacuna, os autores devem explicar como seu
trabalho tenta preencher essa falha no conhecimento.
Na apresentação de uma visão geral da organização do trabalho,
o autor do texto pode enumerar explicitamente cada seção
como, por exemplo, “No presente trabalho, primeiramente,
reviso a literatura sobre o tema..., em seguida, explico a
metodologia adotada para seu estudo, ressaltando a
importância dos estudos de caso, e finalmente apresento os
resultados da pesquisa, chamando a atenção para as
limitações do estudo quanto a...”
7. Organização esquemática da
introdução (SWALES, 1990)
• Três momentos:
– Apresenta um território de conhecimento
– Constrói um nicho para sua pesquisa
– Ocupa esse nicho com o seu trabalho
Cada um desses momentos é interpretado como um
movimento, cujo objetivo último é convencer o
leitor sobre a importância do que consta no texto.
8. Primeiro movimento
• Tem como objetivo apresentar um território
de conhecimento. Para tanto o autor pode:
– Asseverar a importância do assunto;
– Fazer generalização(ões) sobre ele;
– Revisar itens de pesquisa prévia
Frequentemente, os autores adotam essas três
estratégias em conjunto.
9. Segundo momento
• Tem como objetivo identificar um nicho no campo de
conhecimento onde seu trabalho possa se inscrever. O
autor revê a pesquisa prévia e pode:
– Apresentar argumentos contrários a estudos prévios;
– Identificar lacunas no conhecimento estabelecido;
– Fazer questionamentos sobre o assunto;
– Continuar uma tradição de pesquisa já estabelecida.
O autor adota uma dessas quatro linhas de argumentação
para construir um espaço para o seu trabalho.
10. Terceiro momento
• Para ocupar o nicho que construiu o autor
pode:
– Definir os objetivos ou as principais características
do trabalho;
– Anunciar os principais resultados;
– Indicar a estrutura do artigo.
11. Expressões usadas para delimitar um
território
• Por muito tempo / Nos últimos anos/Em anos
recentes tem havido um grande interesse em
X.
• A maioria dos estudos de X
estabelece/argumenta/propõe Y.
• Frequentemente tem sido
afirmado/argumentado que Y
12. Expressões usadas para estabelecer
um nicho
• Tópico – Este trabalho trata/discute/afirma/argumenta que
X; No presente trabalho, estudo X; Meu/Nosso argumento
é essencialmente que X; Eu/Nós buscamos argumentar que
X.
• Objetivo – O presente trabalho tem por objetivo X; Este
trabalho foi elaborado para X;Eu/Nós pretendemos
demonstrar/ilustrar que/debater X; O objetivo do
trabalho/da análise/da discussão é X.
• Organização – Este trabalho
compara/contrasta/desenvolve/demonstra; Em primeiro
lugar..., em seguida..., e finalmente...; No restante deste
trabalho, X será examinado em termos de...; O presente
artigo inclui uma análise/comparação/demonstração de ...;
Em seguida deverá...e concluirá por...
13. Concluindo
Na introdução, é importante mencionar o tema, o
problema, o objetivo, a justificativa do trabalho. A
justificativa deve dizer para que serve o trabalho, deve
provar a relevância do seu trabalho.
Na introdução, devemos dar indicações dos pressupostos
teóricos e da metodologia da pesquisa e não devemos
explicá-los detalhadamente.
Ao terminar a introdução é necessário que apareçam as
partes em que o trabalho está dividido para que o leitor
possa saber o que encontrará no resto do trabalho.
14. Produção da introdução do projeto de
TCC
• Baseado no que você viu nesta aula e estudou sobre as
questões e objetivos de pesquisa, redija a introdução do
seu projeto.
• Ao final da introdução, verifique se você consegue fazer um
resumo de uma página ou um esquema coerente. Se não
conseguir fazer esse resumo de uma forma lógica, é sinal
de que algo não está bem, que alguma coisa está sobrando
ou faltando. Esse procedimento é muito útil na detecção de
problemas textuais, tais como falta de relação entre as
ideias, exposição longa de aspectos secundários da questão
central, ausência de aspectos centrais, etc.