Este estudo retrospectivo avaliou o tratamento de 11 pacientes pediátricos com tumores cerebrais recorrentes usando vimblastina. A mediana de sobrevida livre de eventos foi de 14 meses e 4 pacientes não tiveram progressão após 8-25 meses de seguimento. Uma paciente com ependimoma anaplásico teve uma resposta excepcional de 21 meses livre de eventos e 24 meses de sobrevida global. A vimblastina mostrou atividade no controle de alguns tumores cerebrais recorrentes em crianças.
Tratamento de pacientes pediátricos com tumores cerebrais recorrentes com vimblastina
1. Tratamento de pacientes pediátricos com tumores cerebrais recorrentes
com vimblastina
Francisco Hélder Cavalcante Félix1, Orlandira Leite de
Araújo1, Nádia Mendonça Trompieri1, Kelly Kaliana dos
Santos2, Juvenia Bezerra Fontenele2
1 - Hospital Infantil Albert Sabin, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
2 - Curso de Farmácia, Faculdade de Farmácia Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Ceará
helder.felix@hias.ce.gov.br
XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica — SOBOPE 2014
Introdução
Otratamento de tumores cerebrais pediátri-cos
evoluiu consideravelmente nos últimos
20 anos. A sobrevida livre de doença tem au-mentado
significantemente para as doenças mais
frequentes. No entanto, ainda existem vários de-safios.
O prognóstico de pacientes com tumo-res
cerebrais recorrentes permanece insatisfató-rio
na maioria dos casos [1]. Recentemente, um
ensaio clínico fase II mostrou a utilidade da vim-blastina
semanal no tratamento de crianças com
gliomas de baixo grau recorrentes ou refratá-rios
[2]. A administração semanal sem pausas
de vimblastina tem efeito metronômico (anti-angiogênico).
Material e Métodos
Uma análise retrospectiva de prontuários foi
realizada, após aprovação do projeto pela Co-missão
de Ética em Pesquisa. O tratamento off-label
com vimblastina foi iniciado após consen-timento
informado dos responsáveis pelos paci-entes.
A sobrevida livre de eventos foi calculada
entre a data da recidiva e a progressão da do-ença
ou até o óbito. A distribuição da probabi-lidade
de sobrevida foi calculada com o método
de Kaplan-Meier [3]. Obtivemos a mediana de
sobrevida e a mediana de seguimento da mesma
forma. Todos os cálculos estatísticos foram reali-zados
usando a linguagem R para Mac OSX 3.0
(R Foundation for Statistical Computing, 2010)
Resultados e Discussão
Onze pacientes foram tratados com vimblas-tina.
A mediana de idade foi 8,6 anos. Seis
do sexo masculino. Cinco pacientes com glioma
de baixo grau (dois astrocitomas pilomixóides),
cinco com tumores de tronco cerebral (3 pon-tinos
difusos) e 1 com ependimoma anaplásico.
A mediana de seguimento foi de 23 meses e a
mediana até a progressão ou óbito foi de 14
meses. Até o final deste estudo, 4 pacientes da
série não haviam progredido, com 8, 22, 23 e
25 meses de seguimento. Destes, 3 têm tumores
de tronco focais (2 astrocitomas de baixo grau)
e 1 tem glioma óptico-hipotalâmico. Adicional-mente,
outros 3 pacientes estão vivos com 21,
23 e 24 meses de seguimento, apesar de terem
apresentado progressão. A paciente com epen-dimoma
anaplásico é uma delas, tendo uma so-brevida
livre de eventos de 21 meses e global de
24 meses até o fim deste estudo, o que pode-se
considerar excepcional.
A
0 12 24
Meses
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
B
0 12 24
Meses
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Figura 1: Pacientes com tumor cerebral recorrente tratados com vimblastina.
Probabilidade de sobrevida calculada pelo método de kaplan-Meier. (A)
Sobrevida livre de eventos (±IC95%). (B) Sobrevida global (±IC95%)
Figura 2: Melhor resposta RECIST da paciente com ependimoma recorrente
tratada com vimblastina após múltiplos tratamentos. (A) TC (contrastada)
mostrando a recidiva após a cirurgia inicial. (B) Melhor resposta sustentada, 45%
de redução, imagem 3 anos após a anterior, depois de 2 esquemas prévios de QT
e RT, tendo usado vimblastina semanal por 3 meses.
Conclusão
Nesta pequena série retrospectiva, a vimblas-tina
mostrou atividade no controle de tumores
cerebrais recorrentes em crianças, em especial
gliomas de baixo grau e tumores de tronco fo-cais.
Uma paciente com ependimoma anaplásico
teve uma resposta inesperada, com sobrevida
excepcionalmente longa.
Referências
[1] GAJJAR A, Packer RJ, Foreman NK, Cohen K, Haas-Kogan D,
Merchant TE; COG Brain Tumor Committee. Children’s Onco-logy
Group’s 2013 blueprint for research: central nervous system
tumors. Pediatr Blood Cancer. 2013;60(6):1022-6.
[2] BOUFFET E, Jakacki R, Goldman S, Hargrave D, Hawkins C,
Shroff M, Hukin J, Bartels U, Foreman N, Kellie S, Hilden J,
Etzl M, Wilson B, Stephens D, Tabori U, Baruchel S. Phase II
study of weekly vinblastine in recurrent or refractory pediatric
low-grade glioma. J Clin Oncol. 2012;30(12):1358-63.
[3] KAPLAN EL, Meier P. Nonparametric estimation from incom-plete
observations. J Amer Stat Assoc 1958;53(282):457-81.
Agradecimentos
SOBOPE 2014 - XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica