4. José Batista da Silva Leitão Almeida Garrett foi
um importante poeta e romancista português do
século xix. É considerado um dos mais
importantes escritores do romantismo português.
Nasceu na cidade do Porto (Portugal) em 1799 e
morreu 1854, na cidade de Lisboa. Seus romances
possuíam um forte caráter dramático.
Participou também da politica, escrevendo
sobre este tema. Produziu textos históricos,
críticos e diplomáticos.
Embora tenha se dedicado a vários gêneros
literários, foi na poesia e no teatro que mais
ganhou destaque. Suas obras “Camões” e “Frei
Luis de Sousa” ganharam grande importância no
mundo literário.
8. A narrativa inserida em viagens na minha terra
liga-se a tradição do romance de aprendizagem por
estar impregnada de dados autobiográficos do
autor.
Viagens na minha terra, desenvolve-se em uma
estrutura de novela contemporânea, e basicamente
apresenta dois níveis narrativos:
- Impressões de viagem;
- A parte propriamente novelesca que trata do
romance entre Carlos e Joaninha.
O foco narrativo organiza-se através de um
narrador que conta a historia em terceira pessoa.
9. A obra é composta por dois eixos narrativos bem
distintos.
No primeiro, o narrador conta suas impressões de
viagens, intercalando citações literárias, filosóficas e
históricas das mais diversas, com um tom fortemente
subjetivo e repleto de digressões e intertextualidades.
Dentre as referências literárias, podemos levantar
citações a Willian Shakespeare, Luis de Camões, Miguel
de Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as
citações históricas e filosóficas, temos Napoleão
Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros.
Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos
de viagem, conta o drama amoroso que envolve cinco
personagens. Essa narrativa amorosa tem como plano de
fundo as lutas entre liberais e miguelistas (1830 a 1834).
10. Personagens:
As personagens de "Viagens na Minha Terra"
funcionam como uma visão simbólica de Portugal,
buscando-se através disso as causas da decadência do
Império Português. O final do drama, que culmina na
morte de Joaninha e na fuga de Carlos para tornar-se
barão, representa a própria crise de valores em que o
apego à materialidade e ao imediatismo acaba por
fechar um ciclo de mutações de caráter duvidoso e
instável.
12. Carlos: É um homem instável que não consegue se decidir
sobre suas relações amorosas, podendo ser ligado às
características biográficas do próprio Almeida Garrett.
Joaninha: Prima e amada de Carlos. Meiga e singela, é a
típica heroína campestre do Romantismo. Simboliza uma
visão ingênua de Portugal, que não se sustenta diante da
realidade histórica.
Carlos e Joaninha são protagonistas da história de amor.
14. D. FRANCISCA: Cega avó de Joaninha. Mostra-
nos a imprudência e a falta de planejamento com
que Portugal se colocava no governo dos
liberalistas, levando a nação à decadência.
FREI DINIS: Amargo e rígido – tornou-se
franciscano para “expiar” seus pecados e erros .
GEORGINA: Namorada inglesa de Carlos, é a
estrangeira de visão ingênua, que escolhe a
reclusão religiosa como justificativa para não
participar dos dilemas e conflitos históricos que
motivaram sua decepção amorosa.
16. A Obra
Contexto histórico ( A situação de Portugal na época)
Constitucionalistas
Aliados de D. Pedro 1°
Absolutistas
Aliados de D. Miguel 1°
17. O pano de fundo utilizado por Garrett para o romance da
“Joaninha dos olhos verdes” foi a guerra liberal ocorrida
em Portugal entre os anos de 1820 e 1834.
Se olharmos para o quadro cronológico veremos que a
história de Joaninha começa em 1832 quando ela tem 16
anos. Num dos flashbacks utilizados por Garret voltamos
a 1830 que é o ano que Carlos irá partir para o exílio. O
Final se dá quando Carlos está sendo tratado no convento
de S. Francisco quando ficamos sabendo que a guerra
estava terminando. Ou seja, no período de 1830 a 1834 que
vamos ver agora que serão os anos mais intensos e que
marcam a vida dos personagens.
Para que se tenha uma visão da localização espacial de
alguns lugares citados aqui inserimos o mapa de Portugal.
18. Para entendermos os motivos que levaram a guerra liberal
devemos lembrar
que no ano de 1820 o sistema que vigia em muitos países era a
monarquia. As idéias da Revolução Francesa, 1789, que
defendiam a liberdade, igualdade e fraternidade, contra o
despotismo estavam sendo controladas pelos defensores do
poder real. Mas focos do liberalismo eclodiam em todas as
partes da Europa. Em Portugal vivia-se um momento de
angústia, pois D. João havia mudado para o Brasil fugindo da
invasão das tropas napoleônicas.
Em 24 de agosto de 1820 no Porto ocorre um levante criando
uma Junta Provisional do Governo Supremo do Reino que
tinha como objetivo solicitar a volta de D. João para Portugal,
após 13 anos de ausência. A intenção era que D. João
restabelecesse as liberdades e trouxesse progresso tanto na
política quanto na economia. Mas houve resistências para
que o povo português aceitasse a submissão a esta junta que
havia se formado mais ao norte do país.
19. Em 15 de setembro um exército formado em Portugal
marchou em direção ao Porto para sufocar esta
sublevação. Mas os ideais de liberdade atingiram a uma
grande parte da população tendo inclusive ocorrido
deserções dos soldados que aderiam ao movimento pela
volta de D. João.
Em Lisboa uma nova junta se criou resultando em um
governo provisório.
Em 27 de outubro em Alcobaça foi selada uma aliança e os
membros das duas juntas passam a fazer parte de uma
única junta.
As resistências continuaram e através de alguns militares
moderados de Lisboa ocorreu um golpe chamado
Martinhada que destitua do poder alguns ministros.
20. Em 17 de novembro um contragolpe retorna os ministros a
seus postos.
Diante dos acontecimentos D. João decide voltar a
Portugal e deixa seu filho D. Pedro como príncipe
regente do Brasil. Mas ao chegar em Portugal a recepção
não é tão calorosa quanto se esperava. Também no Brasil
a situação não foi favorável, pois a corte daqui esperava
que com a saída de D. João eles teriam mais
autonomia e escolheriam seu governante. Com a definição
de D. Pedro como príncipe regente muitos desejavam a
sua ida para Portugal. Mas D. Pedro entendeu que seria
mais útil aqui no Brasil e no dia 4 de janeiro de 1822
afirmou que ficaria no Brasil, episódio que ficou
conhecido na história como o “Dia do Fico”.
21. Em Portugal as Cortes Constituintes prepararam uma
constituição que foi assinada e jurada por D. João. Mas a
rainha Carlota Joaquina recusa-se a jurá-la.
Eclodem revoltas contra a constituição em Elvas, Vila
Viçosa e Trás-os-montes.
Em 27 de maio de 1823, D. Miguel, que estava em Vila
Franca de Xira, impetrou um golpe de estado ao declarar
ao povo que a realeza estava sendo posta em xeque por
revoltosos e traidores da pátria. O episódio ficou
conhecido como “Vilafrancada”.
D. João, vendo que os ânimos estavam exaltados colaborou
com o pronunciamento de D. Miguel e dissolveu o
governo e suspendeu a constituição.
22. Em 29 de abril D. Miguel, vendo que seus partidários
ganhavam espaço no poder e sob o pretexto que havia
uma conspiração para matar membros da família real,
tentou um golpe que ficou conhecido como Abrilada. D.
João percebendo a manobra de D. Miguel sufoca o golpe
em 9 de maio. Em 13 de maio D. Miguel é enviado ao
exílio em Viena. Em 1826 morre D. João.
No ano seguinte vários levantes miguelistas acontecem.
Defendendo os constitucionais o general Vila Flor vence
em 9 de janeiro em Coruche e em 5 de fevereiro em
Amarante. Em 30 de abril houve uma nova derrota dos
absolutistas em Elvas.
23. Entendendo que a situação estava ficando insustentável em
Portugal, D. Pedro ofereceu um acordo a D. Miguel. Ele
casaria com sua sobrinha e passaria a governar Portugal. Só
que esta decisão deu motivos para os defensores do
absolutismo tentarem assumir o poder. Os ministros
favoráveis à constituição são demitidos, entre eles Saldanha.
Uma manifestação a favor dos ministros demitidos acontece
em Lisboa, conhecida como Archotada, pois foi feita à noite
sob a luz de archotes.
Em 28 de fevereiro de 1828, D. Miguel volta a Portugal. Toma
posse em 24 de fevereiro, em 25 de abril é abolida a
constituição. Em 11 de julho é aclamado.
Em 16 de maio acontece a revolta do Porto onde os liberais
rejeitam o poder de D. Miguel. Novas batalhas acontecem
tendo o general Póvoas na frente dos absolutistas e o general
Refóios a favor dos liberais.
24. Os miguelistas obtêm algumas vitórias. Os liberais são
obrigados a se retirarem do Porto. Focos liberais
acontecem na ilha da Madeira em 22 de junho e nos
Açores em setembro.
Em dezembro é feito um bloqueio inglês para que outros
liberais não desembarquem nas ilhas. Este bloqueio dura
por pouco tempo e em 8 de março ocorre um grande
desembarque na ilha terceira. D. Miguel envia uma frota
para sufocar este foco de rebelião, mas sua frota sofre uma
grande derrota. Animados com o resultado os liberais
passam a ocupar outras ilhas no ano de 1831. Em 21 de
abril, ilha Pico; 9 de maio, ilha de São Jorge; junho, ilha do
Faial; 10 de julho, ilha da Graciosa e 1 de agosto a ilha de
São Miguel.
25. Em 21 de agosto 800 militares se revoltam contra D. Miguel e são
massacrados.
Diante da situação D. Pedro decide voltar a Portugal, o que ocorre
no dia 7 de abril de 1831, desembarcando na ilha Terceira.
Em 27 de junho é formado um comboio que ruma ao Continente.
Desembarcam próximo ao Porto retomando-o para os liberais em
9 de julho.
Em 14 de julho os miguelistas atacam a partir de Vila Nova, mas
são rechaçados pelo exército liberal. Os liberais atacam pelo
norte na tentativa de conquistar Braga.
Em 23 de junho ocorre uma grande batalha em Ponte Ferreira. Os
liberais utilizando-se de uma boa visão estratégica acabaram se
saindo melhor que os absolutistas.
26. Em 7 de agosto foi a vez dos absolutistas armarem uma
grande emboscada para os liberais.
Em 11 de agosto os liberais tomam o Cerro das Antas.
Em 10 de setembro em uma batalha naval a esquadra
miguelista obteve vantagem.
Em 29 de setembro os miguelistas conquistam Gaia.
Em 1 de novembro D. Miguel vai a Braga, pois está desolado
por não obter resultados no cerco que seu exército vem
fazendo ao Porto.
Em 1 de janeiro de 1833, o general Solignac no comando do
exército liberal fracassa ao tentar conquistar Crasto e o
Castelo do Queijo. Isto mostra que havia uma ruptura
interna entre os liberais.
27. Os oficiais que iniciaram ao lado dos liberais
em 1820 haviam sido desconsiderados por D. Pedro que não
confiava neles. Diante da derrota de Solignac coube a D.
Pedro repensar sua conduta. Chamam Saldanha.
Em 9 de abril os liberais sob o comando de Saldanha
conquistam Covelo.
Em 24 de abril os liberais desembarcam em Alagoa.
Ocorrem então uma série de guerrilhas liberais: 24/25 de
junho, Tomar, Chão de Couce, Alpiarça, Almerim,
Coruche, Galveias e Avis, Sousel, Fronteira,
Cabeço de Vide, Alter do Chão e Crato; 2/3 de julho,
Portalegre; 4 de julho, Castelo de Vide com a ajuda dos
freis do convento de S. Francisco.
28. Os absolutistas também tinham as suas vitórias: 29 de
junho, Santarém, Vimeiro, Estremoz, retomam Sousel,
Fronteira, Cabeço de vide; 8 de julho, retomam ortalegre;
14 de julho, Beja.
Uma grande batalha naval é travada entre as duas forças e a
vitória dos liberais vai pesar bastante para os desígnios da
guerra.
Em 24 de julho os liberais entram em Lisboa.
Em 5 de setembro e 14 de setembro ocorrem duas entativas
frustradas dos absolutistas de retomarem Lisboa.
29. Entretanto a guerra civil progredia; e depois das suas
tremendas peripécias, o grande drama da Restauração
chegava rapidamente ao fim.
Eram meados do ano de 33, a operação de Algarve sucedera
milagrosamente aos constitucionais, a esquadra de D.
Miguel fora tomada, Lisboa estava em poder deles. Os
tardios e inúteis esforços dos realistas para retomar a
capital tinham ocupado o resto do verão. Já outubro se
descoroava de seus últimos frutos, e as folhas começavam
a empalidecer e a cair, quando uma sexta-feira, ao pôr do
sol, Frei Dinis aparecia no vale mais curvado e mais
trêmulo que nunca. Vinha do exército realista que
então cercava Lisboa.
30. Em 10 e 12 de outubro ocorre uma grande retirada dos
absolutistas para Santarém.
Como o exército de D. Miguel teve que desviar seus
esforços em direção ao Sul, sendo Lisboa sua prioridade
de ataque, desguarneceu o norte dando assim
oportunidade para o exército liberal avançar.
Em 12 de dezembro os liberais, ajudados pelos espanhóis,
tomam a fortaleza de Marvão deixando estupefatos os
absolutistas.
Em 14 de janeiro de 1834, os liberais sob o comando de
Saldanha tomam Leiria, mas logo em seguida os
absolutistas sob o comando de Póvoas a retomam.
Entre 16 e 18 de fevereiro, na ponte de Asseca uma nova
derrota dos miguelistas.
31. Em 17 de março, Napier e Torres avançam por Caminha, Viana
do Castelo, Ponteal, Lima, Valença e Guimarães, em favor dos
liberais.
Em 7 de maio os liberais recebem reforço do exército espanhol
que entrou em Portugal para buscar D. Carlos que estava sob a
guarda de D. Miguel. Eles tomam Castelo de Vide enquanto os
liberais tomam Portalegre.
Em 10 de maio chegam a Tomar.
Em 16 de maio uma grande vitória dos liberais que vai selar o fim
da guerra em Asseiceira.
Em 17 de maio ocorre a retirada de Santarém com destino a
Évora.
E finalmente em 31 de maio alguns dias após ser assinada a
convenção de Évora Monte, os soldados absolutistas
depuseram suas armas e D. Miguel foi expatriado não
podendo mais voltar para Portugal.
35. O livro começa com o narrador contando sobre a sua vontade de
partir em uma viagem de Lisboa à Santarém. Chegando a seu
destino, o narrador começa a tecer comentários através da
observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se início à história de
amor entre Joaninha e Carlos.
No romance, Joaninha é uma moça que mora apenas com sua avó,
D. Francisca. Semanalmente, elas recebem a visita de Frei Dinis,
que traz notícias de Carlos para D. Francisca.Ele está ausente da
cidade já há alguns anos e faz parte do grupo de D. Pedro. Frei
Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre Carlos.
Frei Dinis foi um nobre cheio de posses, mas resolveu abandonar
tudo e sumir e volta para Santarém dois anos depois, como frei. O
narrador critica essa mudança, porque para ele qualquer um
poderia facilmente ser ordenado frei de uma hora para outra.
36. Quando a guerra civil atinge Santarém, Carlos, que havia ido para a
Inglaterra após desentender-se com Frei Dinis, resolve voltar à
cidade. É quando ele reencontra sua prima Joaninha. Eles trocam
um beijo apaixonado como se fossem namorados. Porém, Carlos
tem uma esposa na Inglaterra, chamada Georgina, se vê
atormentado pela dúvida de contar ou não a verdade para sua
prima.
Ferido durante a guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa de
Joaninha. Após se recuperar, ele pede para que D. Francisca revele o
segredo que ela esconde. Então, ela acaba contando que Frei Dinis
é o pai de Carlos e que sua verdadeira mãe já morreu.
Ao saber da verdade, Carlos parte e volta a viver com a esposa.
Porém, Georgina diz ter ouvido de Frei Dinis toda a história de
amor entre Carlos e Joaninha e declara não mais amar o marido.
Carlos pede perdão à esposa e diz não mais amar Joaninha, porém,
Georgina não o aceita de volta.
37. Na parte final sabemos através de Frei Dinis o destino das
personagens: Carlos larga as paixões e começa sua carreira na
política como barão, mas depois de um tempo desaparece.
Joaninha recebe uma carta de Carlos, ela enlouquece e morre D.
Francisca morrem. Georgina vai para Lisboa e vira abadessa.
Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série
de digressões filosóficas, reflexões sobre fatos históricos e crítica
literária sobre diversos autores, tanto clássicos quanto modernos, e
suas obras.
Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de
Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao Romantismo
então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado”
por escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil
para agradar ao público, com interpretações abusivas e uma
vulgarização do que seria o verdadeiro movimento modernista.
39. A ação decorre durante uma viagem que Garret faz
de Lisboa a Santarém, além de discorrer sobre a
paisagem, seus devaneios, o levam até este
romance século XIX .
Tempo Cronológico: ``... São 17 deste mês de
julho, ano de graça de 1843, uma segunda feira...´´
´´... Seis horas da manhã a dar em S. Paulo, e eu a
caminhar para o terreiro do Paço...´´
``... Eram as últimas horas do dia, quando
chegamos ao princípio da calçada que leva ao alto
de Santarém...´´
42. “Almeida Garrett sai de Lisboa para Santarém pelo Rio
Tejo. No Terreiro do Paço, embarca no Vapor de Vila
Nova”.
“percorreu todo o caminho da vila ao pinhal da
Azambuja divagando a respeito da inocência e da
modéstia”.
Santarém de comboio passa-se, em 1932
44. A obra é narrada em primeira pessoa e o narrador é o
que conhecemos por “narrador-protagonista”. Ou seja, a
história é contada por um dos personagens principais (no
caso, o autor-narrador que viaja pelo país) em primeira
pessoa.
A história tem um ponto de vista fixo, centrado nessa
personagem. Além disso, esse narrador-protagonista está
quase inteiramente confinado a seus pensamentos,
sentimentos e percepções.
O que sabemos a respeito das outras personagens
(incluindo seus pensamentos e sentimentos), ou nos é
passado através dela mesma, ou através de outra
personagem que conta algo ao narrador (em Viagens
temos Frei Dinis contando o drama de Carlos e
Joaninha). Essas informações podem ser, ainda,
inferências feitas pelo narrador-protagonista.
46. Apresenta uma nova linguagem literária revelando uma
mistura de estilos e de linguagem
(popular,jornalística,dramática) única, sendo considerada a
“precursora da moderna prosa literária português”.
Ex.: Popular (coloquial): “Preciso de o dizer ao leitor, para
que ele esteja prevenido; não cuide que são quaisquer
dessas rabiscaduras da moda que, com o título de
Impressões de Viagem, ou outro que tal, fatigam as
imprensas da Europa sem nenhum proveito da ciência e do
adiantamento da espécie”.
Ex.: Jornalística: “Estas minhas interessantes viagens hão-
de ser uma obra-prima, erudita, brilhante de pensamentos
novos, uma coisa digna do século”.
Ex.: Dramática:
47. ideologicamente a obra.
. O discurso do autor-narrador revela o caótico estado
em que se encontra Portugal, a corrupção da
sociedade, a aristocracia decadente e o modelo
familiar burguês corrompido por atitudes
individualistas. Assim, pode-se dizer que para o
narrador a crise moral coletiva tem origem na moral
individual.
Ex: O que pode viver assim, vive para fazer mal ou para
não fazer nada. Ora o que não ama, que não ama
apaixonadamente, seu filho se o tem, sua mãe se a
conserva, ou a mulher que prefere a todas, esse homem
é o tal, e Deus me livre dele. Sobretudo que não escreva:
há de ser um maçador terrível.
49. Viagens na minha terra é um livro que mistura o real e o fictício. Real
porque faz descrições físicas, geográficas e paisagísticas com tamanha
riqueza de detalhes que faz com que qualquer leitor viajante reconheça
indubitavelmente o caminho de Lisboa a Santarém.
Ex.: Descrições Físicas: “vejo duas possantes e nédias mulas
castelhanas jungidas a um veículo que, nestas paragens e ao pé
daqueloutros, me parece mais esplêndido do que um landau de Hyde
Park, mais elegante que uma caleche de Longchamps, mais cómodo e
elástico do que o mais aéreo brisca da princesa Helena”.
Ex.: Descrições Geográficas.: “Entende que, se vivesse num país
gelado, seria justo viajar apenas pelo quarto, “mas com este clima, com
este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é
de murta [não é de vegetação inútil]”, um escritor tem de viajar pelo seu
país, conhecer pessoalmente os cenários de suas prováveis futuras
Ex.: Descrições Paisagísticas: Aí está a Azambuja, pequena mas não
triste povoação, com visíveis sinais de vida, asseadas e com ar de
conforto as suas casas. É a primeira povoação que dá indício de
estarmos nas férteis margens do Nilo português.
51. O plano de fundo em Viagens na minha terra é a
Revolução Liberal. Grosso modo, as ideias liberais
surgiram como oposição ao monarquismo, ao
mercantilismo e ao domínio religioso. Portugal, na
época um país monarquista com fortes raízes
católicas, via qualquer ideia liberalista como
antinacional.
O país já estava enfrentando diversas crises (as
invasões de Napoleão e crise do colonialismo no
Brasil) e o embate entre Miguelistas (favoráveis ao
monarquismo absolutista de então) e Liberais acabou
por gerar uma guerra civil, em 1830. O embate
terminou com uma vitória dos Liberais e a
restauração da monarquia constitucional.
52. Almeida Garrett, que sempre lutou pelos ideais
liberais, mantém nas Viagens este propósito, através
da narração de fatos do presente e do passado, sempre
denegrindo àquele em favor do outro. Para tanto,
brinca-se também com a questão do verossímil,
criando-se a ilusão do verdadeiro através do uso de um
tom calculadamente coloquial e uma aproximação
com o cotidiano.
54. Viagens na minha terra, romance de Almeida Garrett,
considerado por alguns críticos como o ápice da prosa
do seu autor, inaugura um gênero completamente
novo na literatura portuguesa. Tendo como modelo as
obras ``viagem à roda do meu quarto´´ de Xavier de
Mauster e `` viagem sentimental´´ de Laurence Stern,
configura-se como uma obra de dificílima
classificação, pois reúne em suas páginas relatos de
viagens, jornalísticos, ensaísta e ficcional.
Em geral, as tragédias clássicas terminam com uma
solução violenta do destino e Garrett tinha muita
sensibilidade para o gênero trágico, coisa que mostrou
não apenas neste romance, mas também no drama
“Frei Luís de Sousa”. Faz parte do decoro de uma peça
trágica que seus personagens nunca mais continuem
vivendo como tinham vivido.
55. A preocupação de Garrett em Viagens na minha terra é
tentar despertar na nação portuguesa a consciência da
situação em que o país se encontrava e que direção
pode ser tomada para tentar mudar o rumo decadente
que Portugal estava tomando. Porém, o próprio autor-
narrador não vê perspectivas de melhora, pois a
imagem que o homem português tem de si mesmo
não é positiva. Dessa forma, apesar de conseguir
enxergar um caminho para a recuperação de Portugal,
Garrett termina a obra com um tom pessimista.
56. Obrigado pela atenção de todos. !!!
Gabriela Coutinho
Daniela Paceli
Claudinete Almeida.