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Uma questão da FUVEST 2004



Considere a equação z ²  z  (  1) z , onde α é um número real e z indica o
conjugado do número complexo z.

a) Determinar os valores de α para os quais a equação tem quatro raízes distintas.

b) Representar, no plano complexo, as raízes dessa equação quando α = 0.



Um aluno do pré-vestibular me questionou sobre a resolução deste exercício da
segunda fase da Fuvest 2004. Segue a resolução que pensei naquele momento, e que
achei, sinceramente, que era a mais natural... para um aluno que concluiu o terceiro
ano do ensino médio.

Resolução:

Seja z = x + iy, com x e y reais. Então:

                                                                                       x ²  y ²  2  1x
x  iy 
        2
              x  iy     1x  iy   x ²  y ²  i 2 xy  2  1x  yi 
                                                                                            2 xy  y


Até aqui, a solução que imaginei para o item a não difere em nada das demais
soluções.

Vamos à conclusão! É bom lembrar que um problema tem aromas, tem cores e traz a
uma estética... Traz consigo aquela visão da Matemática de quem o elaborou.

Quem passa longos períodos estudando-a conhece bem esses aspectos. Algo me
dizia que o autor da questão tinha em mente a óbvia ligação dos números complexos
com a geometria analítica no plano (o conjunto dos números complexos munido das
operações usuais de adição e multiplicação por escalar é um espaço vetorial
euclidiano de dimensão dois, que o torna isomorfo ao IR 2 ). Por esse motivo pensei
em intersecção de curvas planas (quantas são as soluções...). No ensino médio há
uma ênfase enorme nos aspectos algébricos dos números complexos, negligenciando-
se os aspectos geométricos evidentes (evidente não é sinônimo de fácil!). Todo
número complexo é um vetor do plano, todo número complexo é um par ordenado de
números reais, todo número complexo é um ponto do plano, todo número complexo
admite uma única representação em coordenadas polares e deve-se tirar proveito
dessas características múltiplas.
Assim, temos:

                                                                                2  1 
                                                                                       2
                                                                           
                                                                           x           
                                                                                  2 
                                                                                           
                                                                                                 y²
                                                                                                           1 (1)
                                                                              2  1        2  1 
                                                                                        2               2

                                                x ²  y ²  2  1x   2                         
                                                                         1
                                                                      
                                                                         2                  2 
x  iy 2     x  iy     1x  iy                                                e
                                                     2 xy  y
                                                                                    1         
                                                                                 x  ou y  0  (2)
                                                                                    2         




A equação (1) representa um conjunto de hipérboles equiláteras parametrizadas pelo
                                  1
número real , com                . Tais hipérboles têm o eixo x como eixo de simetria, e
                                  2
                2  1 
centro C, C =         ,0  . As intersecções dos seus dois ramos com o eixo de simetria
                2        

(eixo x) são: 0,0 e 2  1,0 . Quando  = , temos as retas y =  x.
                                                1
                                                2

                                                                                             1
As equações (2) representam um par de retas perpendiculares; a reta x =                        e o eixo
                                                                                             2
x.




                                               1
                             Figura 1.  =       . Três soluções O, A e B.
                                               2
3
                   Figura 2 -       . Quatro soluções: O, A, B e C.
                                    4




                                        3
                       Figura 3 -       . Duas soluções O e C.
                                        4

Observemos que os vértices dos ramos da hipérbole são (2 - 1, 0) e (0,0) (um ponto
fixo). Então, o número de interseções das curvas (1) e (2) será igual a quatro quando,
                             1      1     3     1
e somente quando, 2  1      e      e   . Que é a resposta correta do
                             2      2     4     2
item a.

No item b, o autor da questão pede uma das soluções particulares do item a, para  =
0.

Quando percebi o entusiasmo do aluno com minha resolução desta questão, deixei
que ele procurasse a sua (já tinha lhe mostrado o início do caminho). A solução que
apresento está impregnada por uma longa vivência com a Matemática elementar, de
estudá-la, de ensiná-la e, acima de tudo, de aprender com ela e (porque não?) com
uma visão estética da mesma. Sim, a Matemática tem um conceito de beleza! A forma
como determinados assuntos são tratados no ensino médio mostram o quanto há de
negligência no seu ensino. Todas as resoluções que consultei não discutem porque se
pede exatamente quatro soluções distintas. O curso pré-vestibular que eu esperava
que desse uma resolução mostrando as múltiplas personalidades dos números
complexos, não a deu, foi raso como os concorrentes. Ficou somente no adjetivo dos
números. Perdeu-se a oportunidade de unir assuntos tratados isoladamente na
Matemática do ensino médio (geometria analítica e números complexos, por exemplo).

Portanto, não se pode cobrar maturidade de um adolescente que estava ansioso por
mais uma resolução fácil, extremamente fácil... Porque esta foi a educação que ele
recebeu! Números complexos são complexos!



                                                      Robinson Antão da Cruz Filho

                                 Professor temporário do IFSP, Campus Araraquara.

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Uma questão da fuvest 2004

  • 1. Uma questão da FUVEST 2004 Considere a equação z ²  z  (  1) z , onde α é um número real e z indica o conjugado do número complexo z. a) Determinar os valores de α para os quais a equação tem quatro raízes distintas. b) Representar, no plano complexo, as raízes dessa equação quando α = 0. Um aluno do pré-vestibular me questionou sobre a resolução deste exercício da segunda fase da Fuvest 2004. Segue a resolução que pensei naquele momento, e que achei, sinceramente, que era a mais natural... para um aluno que concluiu o terceiro ano do ensino médio. Resolução: Seja z = x + iy, com x e y reais. Então: x ²  y ²  2  1x x  iy  2   x  iy     1x  iy   x ²  y ²  i 2 xy  2  1x  yi  2 xy  y Até aqui, a solução que imaginei para o item a não difere em nada das demais soluções. Vamos à conclusão! É bom lembrar que um problema tem aromas, tem cores e traz a uma estética... Traz consigo aquela visão da Matemática de quem o elaborou. Quem passa longos períodos estudando-a conhece bem esses aspectos. Algo me dizia que o autor da questão tinha em mente a óbvia ligação dos números complexos com a geometria analítica no plano (o conjunto dos números complexos munido das operações usuais de adição e multiplicação por escalar é um espaço vetorial euclidiano de dimensão dois, que o torna isomorfo ao IR 2 ). Por esse motivo pensei em intersecção de curvas planas (quantas são as soluções...). No ensino médio há uma ênfase enorme nos aspectos algébricos dos números complexos, negligenciando- se os aspectos geométricos evidentes (evidente não é sinônimo de fácil!). Todo número complexo é um vetor do plano, todo número complexo é um par ordenado de números reais, todo número complexo é um ponto do plano, todo número complexo admite uma única representação em coordenadas polares e deve-se tirar proveito dessas características múltiplas.
  • 2. Assim, temos: 2  1  2  x   2   y²  1 (1)  2  1   2  1  2 2 x ²  y ²  2  1x   2    1  2    2  x  iy 2   x  iy     1x  iy    e 2 xy  y  1   x  ou y  0  (2)  2  A equação (1) representa um conjunto de hipérboles equiláteras parametrizadas pelo 1 número real , com   . Tais hipérboles têm o eixo x como eixo de simetria, e 2  2  1  centro C, C =  ,0  . As intersecções dos seus dois ramos com o eixo de simetria  2  (eixo x) são: 0,0 e 2  1,0 . Quando  = , temos as retas y =  x. 1 2 1 As equações (2) representam um par de retas perpendiculares; a reta x = e o eixo 2 x. 1 Figura 1.  = . Três soluções O, A e B. 2
  • 3. 3 Figura 2 -   . Quatro soluções: O, A, B e C. 4 3 Figura 3 -   . Duas soluções O e C. 4 Observemos que os vértices dos ramos da hipérbole são (2 - 1, 0) e (0,0) (um ponto fixo). Então, o número de interseções das curvas (1) e (2) será igual a quatro quando, 1 1 3 1 e somente quando, 2  1  e      e   . Que é a resposta correta do 2 2 4 2 item a. No item b, o autor da questão pede uma das soluções particulares do item a, para  = 0. Quando percebi o entusiasmo do aluno com minha resolução desta questão, deixei que ele procurasse a sua (já tinha lhe mostrado o início do caminho). A solução que apresento está impregnada por uma longa vivência com a Matemática elementar, de estudá-la, de ensiná-la e, acima de tudo, de aprender com ela e (porque não?) com
  • 4. uma visão estética da mesma. Sim, a Matemática tem um conceito de beleza! A forma como determinados assuntos são tratados no ensino médio mostram o quanto há de negligência no seu ensino. Todas as resoluções que consultei não discutem porque se pede exatamente quatro soluções distintas. O curso pré-vestibular que eu esperava que desse uma resolução mostrando as múltiplas personalidades dos números complexos, não a deu, foi raso como os concorrentes. Ficou somente no adjetivo dos números. Perdeu-se a oportunidade de unir assuntos tratados isoladamente na Matemática do ensino médio (geometria analítica e números complexos, por exemplo). Portanto, não se pode cobrar maturidade de um adolescente que estava ansioso por mais uma resolução fácil, extremamente fácil... Porque esta foi a educação que ele recebeu! Números complexos são complexos! Robinson Antão da Cruz Filho Professor temporário do IFSP, Campus Araraquara.