Este documento discute métodos de pesquisa em psicologia, com foco em questionários e escalas para medição de construtos teóricos. Ele explica como construir, traduzir e avaliar a qualidade de questionários e escalas, cobrindo tópicos como discriminação, validade e fidelidade.
1. Questionários e Escalas de medição
de constructos teóricos
Métodos de Investigação em Psicologia
Universidade Autónoma de Lisboa
Professora Doutora Célia M.D. Sales
2. Conteúdos
Questionários
Escalas de medicação de constructos teóricos
Tradução de instrumentos (questionários & escalas)
Construção / desenho de questionários & escalas
Critérios de qualidade psicométrica de escalas:
Discriminação
Precisão
Validade
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3. Tipos de investigação por inquérito
Papel e lápis (em
grupo, por
Auto- correio, etc.)
administrado
On-line
Questionário
Pessoal
Aplicado pelo
investigador
(entrevista) À distância
(telefone, video-
conferência, etc.)
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4. Questionário
É uma técnica, ou instrumento, de recolha de dados que
pode ser usado em qualquer metodologia, i.e., integrado em
qualquer plano metodológico
É o instrumento geralmente usado em investigações por
inquérito
Escala
Em Psicologia há um tipo específico de questionário, para medir
estados /variáveis psicológicas (e.g., alegria, inteligência,
ansiedade, etc.), que não são directamente observáveis
(constructos)
Muitos questionários em Psicologia são compostos por várias
escalas
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5. Questionário. Exemplo
Inquérito sobre hábitos de reciclagem:
Desenho metodológico: Estudo transversal
Instrumento: Questionário desenvolvido pela Statistics Canada
Formato de aplicação: Presencial (entrevista)
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7. Questionário composto por
escalas. Exemplo
Questionário preenchido na aula, composto por duas escalas:
Clinical Outcome in Routine Evaluation (CORE-OM)
EuroQol 5 Dimensions (EQ-5D)
Cada uma delas, tem várias sub-escalas, ou dimensões
Ex: O CORE-OM tem 4 sub-escalas:
Problema (P); Funcionamento (F); Bem-estar (W); Risco (R)
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8. Escolha do questionário ou da
escala
1º OPÇÃO: Questionário já
testado, em Português
3ª OPÇÃO:
2ª OPÇÃO: Traduzir , testar Construir novo
e validar para Português questionário
Processo trabalhoso,
Tradução principalmente para
Escalas
Pré-teste
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9. Usar instrumento desenvolvido por outro
autor, já usado em Português
1. Listar os vários instrumentos existentes na literatura
(e.g., qualidades psicométricas em vários estudos,
contextos de utilização, n.º de itens)
2. Seleccionar o melhor instrumento
3. Pedir autorização ao autor
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10. Traduzir questionário ou escala:
Processo de tradução-retradução
Pré-teste
• Duas ou mais • Solicitar a nativo
traduções, realizadas da língua para re-
com independência por • Aplicar a um traduzir a nossa
pessoas diferentes, para grupo pequeno de versão para a
o Português pessoas e língua original
• Comparar e chegar a confirmar • Comparar com o
uma única versão compreensão / instrumento
adequação dos original
Tradução itens
Português Retradução
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11. Construir um novo questionário ou
escala
Construir um novo instrumento de medida
Apenas quando temos a certeza de que não existe uma medida
(satisfatória) da variável que pretendemos estudar
Exige dominar a área de desenho e construção de
questionários (“Questionnaire Design”), ou de construção de
escalas
O processo de construção difere para:
Questionário de fenómenos directamente observáveis
Escalas
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12. Construção de questionários
(“questionnaire design”)
Para a descrição de fenómenos directamente observáveis
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13. Recomendações (Lohr, 1999)
Especificar o que se pretende estudar
• Gostaria de estudar os Sem-Abrigo
Tema • (questão demasiado geral)
• Qual a percentagem de pessoas que usaram albergues
Pergunta de Sem-Abrigo, em Lisboa, entre 2000 e 2010?
investig.
• Escrever itens que solicitam informação que responde
Itens do às perguntas de investigação
question
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14. Testar sempre as perguntas (itens) antes de realizar
o inquérito
Experimente diferentes versões de itens e pergunte a cada
respondente como interpreta cada uma delas
Use uma pequena amostra de elementos da população-alvo
Os amigos ou conhecidos podem interpretar as questões da mesma forma
que o investigador, e não como a população-alvo
Belson (1981) testou a pergunta: Considera que os
programas de notícias da TV são imparciais quanto à
política? (n= 56) A interpretação foi:
“Programas de notícias da TV” = “telejornais” (n=18);
“programas sobre política” (n=21); “jornais” (n=1); apenas 13
pessoas interpretaram da forma como o investigador pretendia
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15. Perguntas simples, claras e específicas
Belson (1981) testou a pergunta: Qual a proporção do
seu serão que passa a ver TV? (n=53)
Apenas 14 pessoas interpretaram correctamente a palavra
“proporção” como “percentagem”, “parte” ou “fracção”
Algumas pessoas interpretaram como “há quanto tempo vê TV”;
outras interpretaram como “Que programas vê?”
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16. Decidir se usa perguntas abertas ou fechadas
Perguntas abertas
Sem respostas previamente categorizadas
O participante formula livremente uma resposta, dizendo o que
pensa
Exemplo: O que pensa sobre…? O que é para si….? Como
procederia se…?
Perguntas fechadas
Respostas possíveis são previstas a priori
O participante responde assinalando a sua opção
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17. Perguntas Abertas Perguntas fechadas
Usar se o estudo é exploratório, Ajuda o respondente a
ou se as questões são sensíveis lembrar-se de respostas
que, de outro modo,
Bradburn & Sudman (1979)
esqueceria
testaram a pergunta: Com que Usar quando o
frequência bebe bebidas questionário foi bem pré-
alcoólicas? testado e a diversidade de
Pergunta aberta: respondentes respostas é conhecida
indicaram maior frequência do Incluir sempre a categoria
que com pergunta fechada em “outro”
categorias (de “nunca” até
“diariamente)
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18. Evite perguntas que influenciam a resposta
Estima-se que as fraldas descartáveis constituem
menos de 2% do lixo nos actuais aterros. Por outro
lado, estima-se que as embalagens de bebidas,
folhetos publicitários e lixo de jardim constituem
cerca de 21% do lixo dos aterros. Tendo em conta
isto, na sua opinião, seria justo taxar ou proibir as
fraldas descartáveis?
Publicado no Wall Street Journal (17 de Maio de 1994),
inquérito financiado pelo American Paper Institute, cit. por
Lohr, 1999 (p.14)
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19. Esteja atento aos efeitos de ordem de apresentação
das perguntas
Em geral é preferível fazer perguntas gerais e depois específicas
McFarland (1981), estudo experimental. Duas perguntas:
A – Até que ponto se interessa por religião? (muito interessado,
um pouco, nada interessado)
B – Foi à Igreja nos últimos 7 dias?
Grupo 1: A e depois B. Resultado: 56% estão mt interessados
Grupo 2: B e depois A. Resultado: 64% mt interessados
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20. Quando divulgar os resultados, indique sempre a
pergunta que foi feita
O público e os meios de comunicação social tendem a
interpretar os resultados de forma ambígua
Para exemplos práticos e exercícios sobre construção de
questionários, consultar o Survey Kit.
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21. Construção de escalas
Para a descrição /medição de constructos teóricos
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22. Construção de Escalas
1. Determinar claramente o que se pretende medir
2. Elaborar um vasto conjunto de itens candidatos a inclusão na
escala
3. Determinar o formato de medida
4. Revisão dos itens candidatos à inclusão na escala por especialistas
5. Incluir outros itens para uma validação preliminar da escala
6. Administrar a escala a uma amostra
7. Avaliar os itens
8. Optimizar o tamanho da escala
9. Validar a escala
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23. Determinar claramente o que se pretende
medir
Qual o constructo que está a ser medido? Quais as suas
dimensões e factores?
Para determinar claramente o que se quer medir deve-se fazer
revisão de literatura, ir ao dicionário, aos manuais, aos artigos, à
Internet...
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24. Elaborar um conjunto de itens
candidatos a inclusão na escala
Escolher itens que reflectem o objectivo da escala
Elaborar muitos mais itens do que se pretende na escala final
Bons itens:
Não ambíguos
Não muito longos
Grau de dificuldade apropriado à população alvo
Evitar duplas negações
Evitar itens com mais de uma ideia
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25. 3.º Determinar o formato de medida
Tipos de escalas de resposta:
Escalas deThurstone
Escalas de Guttman
Escalas de Likert
Diferencial Semântico
AnalogiaVisual
Para exemplos de cada tipo de escala de resposta e informação
detalhada, consultar:
http://changingminds.org/explanations/research/measureme
nt/measurement.htm
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26. Avaliação da qualidade de escalas
Critérios de qualidade:
1. Discriminação (discrimination)
Pessoas diferentes no constructo, obtêm resultados diferentes no
questionário?
2. Validade (validity)
O questionário mede mesmo o que diz medir?
3. Fidelidade ou precisão (reliability)
O questionário mantém os resultados se repetir a medição nas mesmas
circunstâncias?
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27. Discriminação
Pessoas com resultados diferentes devem ser diferentes no
constructo
A diferença entre os resultados deve reflectir a diferença entre
as pessoas
Vitorino - 30
Diferença = 15
Emanuel - 15
Diferença = 5
Zé Cabra - 10
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28. Validade (validity)
Validade (validity)
O questionário mede o que é suposto medir?
3 tipos:
Validade de Conteúdo (content validity)
Validade de Constructo (criterion validity)
Validade Factorial (factorial validity)
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29. Fidelidade / precisão (reliability)
A mesma prova aplicada duas vezes seguidas à mesma pessoa
obtém o mesmo resultado?
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30. Fidelidade / precisão (reliability)
A prova é sensível a variações do humor e ao estado de ânimo
dos respondentes?
É sensível a efeitos de prática?
(o relógio é sensível à humidade? Atrasa?... Mede com precisão? É
fiável?)
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31. Fidelidade
Formas de medir a fidelidade:
Estabilidade
Método teste-reteste (correlacionar os resultados da mesma pessoa, obtidas em
momentos diferentes, nas mesmas condições de aplicação)
Método Split-half (dividir aleatoriamente o questionário em duas partes, calcular os
resultados e correlacioná-los; implica só 1 aplicação)
Equivalência
Método alternate form (aplicar outro questionário que mede o mesmo construto,
calcular os resultados e correlacioná-los; pode ser importante para evitar efeitos de prática)
Consistência interna
Alpha de Cronbach
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32. Pré-teste do questionário
Quando a 1.ª versão do questionário está pronta e a ordem das
questões está provisoriamente estabelecida
Destina-se a avaliar cada questão:
As questões são compreendidas pelo inquirido da forma que era
prevista pelo investigador?
As questões têm um grau de dificuldade ajustado à população alvo?
A lista de respostas propostas às questões fechadas cobrem todas as
respostas possíveis?
Existem passagens inesperadas de assuntos?
Algumas questões poderão influenciar as respostas?
O que é que as pessoas acham do questionário (e.g., longo,
aborrecido)?
Realiza-se a um conjunto reduzido de pessoas (entrevista)
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33. Considerações Finais - Questionário
Atenção ao “aspecto visual” – deve ser agradável
Consultar Survey Kit para exemplos e recomendações
Dilemas: Mais páginas e letra maior? Ou menos páginas e letra
mais pequena? Frente e verso, ou só frente?
Começar com as perguntas menos “sensíveis” e íntimas
Finalização do questionário:
Agradecer ao inquirido
Pedir para confirmar se respondeu a todas as questões
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34. Considerações Finais - Questionário
Introdução do questionário – Folha de rosto:
Objectivo da investigação e do questionário
Estrutura do questionário
Equipa envolvida
Contacto para esclarecer dúvidas
Garantir a confidencialidade e o anonimato
Reforçar a importância do preenchimento do questionário e
agradecer ao inquirido
Consultar Survey Kit para exemplos e exercícios
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35. Leituras de apoio
Lohr, S. L. (1999). Sampling: Design and Analysis. Pacific Grove:
Brooks/Cole Publishing.
O capítulo 1 é uma introdução muito simples e rigorosa à amostragem e ao
processo de construção de questionários
Moreira, J. M. (2004). Questionários: Teoria e prática. Coimbra:
Almedina.
Livro muito completo, para quem deseja aprofundar o tema
Survey Kit (SAGE) – biblioteca da UAL
Colecção fundamental, pela extrema simplicidade, rigor e exemplos
http://www.socialresearchmethods.net/kb/survey.php
www.stastpac.com/surveys/
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36. Referências
Belson, W.A. (1981). The design and understanding of survey
questions. Aldershot, Hants., England: Gower.
Bradburn, N., & Sudman, S. (1979). Improving interview method
and questionnaire design. San Francisco: Jossey-Bass.
McFarland, S. G. (1981). Effects of question order on surveys
responses. Public Opinion Quaterly, 45, 208-215.
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