O documento descreve a origem e objetivos do Instituto Olho D'Água, uma organização criada para promover a valorização da cultura e o desenvolvimento sustentável de comunidades tradicionais no município de Coronel José Dias, Piauí. O Instituto busca conciliar a preservação do patrimônio cultural e ambiental com atividades que promovam a inclusão social dessas comunidades.
2. Origem
A Think Tank Documento Cultural apresenta mais uma iniciativa que consolida seu expertise em gestão de patrimônio cultural. A gestão do patrimônio cultural é um caminho para o desenvolvimento social e econômico sustentável das comunidades, porque respeita sues valores culturais. A Think Tank Documento Cultural entende que o debate social sobre sua gestão é também um debate sobre seu desenvolvimento e futuro. Visando promover ações de apropriação e de participação na gestão do Patrimônio Cultural que foi criada a Organização Não Governamental Instituto Olho D´Agua.
A origem do nome do Instituto Olho D’ Água (IODA) trás uma carga simbólica, cheia de significados de grande relevância para as comunidades tradicionais do município de Coronel José Dias e seu entorno. Como a principal característica da região é o clima semiárido, com longos períodos de estiagem, os olhos de água surgem na época das chuvas nas fendas das rochas e estão diretamente associados à própria existência dessa comunidade. A água limpa e cristalina era utilizada para abastecer as famílias que viviam no período da seca. Viver no Olho d’ Água está relacionado as práticas como as técnicas de manejo da terra e os conhecimentos tradicionais que constituem a cultura local.
3. Pertinência da Criação da ONG Instituto Olho D´Água
A comunidade contemplada pela criação do Instituto Olho D’ Água está situada em Coronel José Dias no Piauí, com abrangência aos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa e Brejo do Piauí, ambos localizados no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara.
A proposta do Instituto é aproximar e criar um contexto de inclusão social, através da autonomia da comunidade de Coronel José Dias e municípios envoltórios, na apropriação desse patrimônio. Segundo conhecimento local foi vivendo da venda do látex que a comunidade adentrou mais fundo a caatinga a procura da maniçobeira. É dessa época que se originam uma série de histórias sobre a região, contando o processo de apropriação e interpretação de lugar.
Diante dessa realidade, e da necessidade de se construir um novo cenário, surge através de uma iniciativa conjunta com a comunidade o Instituto Olho d’ Água. Uma associação sem fins lucrativos, que busca criar uma nova trajetória de valorização da cultural tradicional, plasmados nos modos de vida dessa população, aliada a preservação do patrimônio cultural e ambiental herdado dos povos pré-históricos em exposição a céu aberto no Parque Nacional Serra da Capivara e seu entorno. Para tanto, a iniciativa visa conciliar a preservação do Meio Ambiente Cultural com atividades empreendedoras que promovam a inclusão da comunidade, partindo de iniciativas de dentro da comunidade.
Um projeto que promove a defesa do Meio Ambiente Cultural integram-se as demandas sociais, patrimoniais e ambientais em uma só iniciativa, concentrando iniciativas, até então dispersas, em um objetivo comum. Isto ocorre ao tratarem-se os potencias da região, como o ecoturismo, patrimônio arqueológico e histórico cultural e inclusão social, de maneira integrada dentro do mesmo projeto, valorizando o contexto e ampliando as possibilidades de iniciativas na região.
4. Missão
Na intenção de ampliar o debate e a autonomia na comunidade se propõem, portanto uma ação que seja também uma pesquisa. Como a criação do Instituto pode ser entendida como uma pesquisa? Ora, se entendermos o Instituto como uma pesquisa em si, teremos a oportunidade de nos aproximarmos de diversas maneiras do nosso objeto de pesquisa, o Patrimônio Cultural, e de moldar a pesquisa às demandas sociais. O intuito científico da criação do Instituto é afirmar o Patrimônio Cultural como vetor de desenvolvimento, mostrando que investir na cultura é de extrema importância para os sujeitos, a comunidade, para a região e para o país. Se a comunidade entende que sua cultura pode ser seu motor de desenvolvimento o Instituto poderá apoiar abordagens adequadas que tenham potencial transformador.
O Instituto também quer experimentar uma metodologia em que cientistas e comunidades colaborem para um projeto comum de desenvolvimento. Essa experiência é fundamental para a autonomia das comunidades e para absorção da pluralidade de perspectivas. A criação dessa instituição deve ser entendida como uma pesquisa retro alimentada onde ações e resultados se desdobram em mais ações de acordo com a resiliência da comunidade. O andamento das atividades do Instituto Olho D’Água dá resultados, ao mesmo tempo em que permite superação como método, sempre tendo como norte as necessidades locais.
5. Objetivos Gerais
O Estatuto do Instituto Olho D’ Água detalha os objetivos no Artigo 3º :
Art. 3º - No cumprimento de sua finalidade propõem-se a realizar os seguintes objetivos:
a) promover, realizar e divulgar pesquisas e estudos, organizar documentação e desenvolver projetos aplicados a defesa do meio ambiente cultural, dos acervos culturais – material e imaterial, e dos direitos humanos e dos povos, especialmente comunidades tradicionais;
b) promover a defesa de bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente cultural;
c) Fomentar o fortalecimento da cultura das comunidades tradicionais em todas as suas manifestações regionais, especialmente seus conhecimentos tradicionais, modos de uso dos recursos naturais e redes de relações sociopolíticas.
d) Estimular e desenvolver espaços educacionais e de memória para o fortalecimento das identidades culturais dos povos.
e) realizar convênios e parcerias com entidades públicas, privadas, nacionais e internacionais no sentido de obter financiamentos destinados as finalidades específicas de preservação do meio ambiente cultural.
f) estimular e realizar estudos de caráter preventivo e participativo para combater a degradação do meio ambiental cultural, em todas as suas manifestações, inclusive estudos de impacto ambiental decorrentes das atividades antrópicas.
h) discutir diretrizes, estratégias, planejar e realizar ações comunitárias e de interesse coletivo, voltadas para o desenvolvimento e consolidação do turismo sustentável no município de Coronel José Dias e seu entorno, com as parcerias governamentais, não governamentais e do setor privado.
6. g) estimular o desenvolvimento socioeconômico através da garantia do acesso e gestão democráticos e ecologicamente sustentável dos recursos naturais e culturais, para as presentes e futuras gerações;
h) Realizar pesquisas interdisciplinares em todo território nacional.
i) promover o intercâmbio com outras organizações governamentais e não governamentais e entidades nacionais e internacionais para a defesa do meio ambiente cultural das comunidades tradicionais.
j) defender e representar os direitos e interesses das comunidades tradicionais das regiões afiliadas ao Instituto Olho d’ Água em todas as instâncias dentro e fora da do município de Coronel José Dias.
k) divulgar por quaisquer meios as informações e conhecimentos produzidos por si ou por terceiros e correlatos as suas atividades;
m) estimular o aperfeiçoamento e o cumprimento de legislação que instrumentalize a consecução dos presentes objetivos;
7. Contexto
O município de Coronel José Dias encontra-se no sudeste do estado do Piauí, em pleno semiárido nordestino, tendo a Caatinga como seu principal bioma. Com uma área territorial de 1.915 km2, e localizada a 548 km da capital do estado, Teresina, o município conta com uma população de 4.541 habitantes (Censo 2010).
Em relação ao seu perfil econômico e social atual, o município é basicamente rural, com apenas 1/3 de sua população vivendo em áreas urbanas (último Censo), e sua atividade econômica se constitui de serviços, agropecuária e indústrias (IBGE, 2011).
Apesar de ter uma emancipação política de apenas 21 anos, sua ocupação é bem mais antiga, o que explica a relevância da cultura para o município, uma vez que o local possui a maior quantidade de sítios arqueológicos, apontando que o território foi habitado por diversos grupos humanos, desde o período do Pleistocênico Superior. Sua colonização se dá em meados do final do Século XVIII, com a expulsão dos indígenas após uma batalha sangrenta, e posteriormente no início do Século XX, com o ciclo de extração da maniçoba, no que ainda era a Fazenda Várzea Grande. Por volta de 1960, com o fim do ciclo da maniçoba, surge com grande força a extração do calcário para a produção de cal, o que trouxe consequências drásticas para o patrimônio arqueológico da região, uma vez que com a destruição dos blocos calcários, perdiam-se testemunhos da presença do homem pré-histórico na região. Com a emancipação política em 1992, há um grande crescimento econômico e social para a região, quando deixa de ser um Povoado de Várzea Grande para se tornar o município de Coronel José Dias, desmembrando-se da cidade de São Raimundo Nonato.
Cabe destacar também o crescimento das atividades econômicas voltadas para o turismo, como o polo cerâmico artesanal da Serra da Capivara, projeto idealizado pela Fundação Museu do Homem Americano, onde são produzidos utensílios customizados com motivos rupestres, caracterizando-se em uma nova alternativa de subsistência local. Tais investimentos se devem ao fato de Coronel José Dias estar no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, com 32% do município inserido dentro da área limite do parque, assim como os principais sítios arqueológicos estudados, bem como o fato de ser o produtor de cerâmica da serra. Outro ponto a destacar são as obras da
8. praça de eventos do município, que contará com uma concha acústica, banheiros e restaurantes, feitas para a comemoração da Festa de São Pedro, concluído.
Com a emancipação política e a criação do Parque Nacional, acarretando em políticas de preservação patrimonial, implementadas pela gestão do mesmo, Coronel José Dias obteve grande visibilidade, ainda que sejam necessários mais investimentos no setor.
Figuras: Bairro São Pedro Igreja e Praça de eventos
Figuras: Casarões antigos e centro do município
9. Parque Nacional Serra da Capivara
O território do Parque Nacional Serra da Capivara abriga uma grande concentração de sítios arqueológicos com arte rupestre em abrigos sob rocha a céu aberto. Dada a importância desse complexo artístico rupestre a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) inscreveu o Parque na lista de Sítios do Patrimônio Mundial, e por sua relevância cultural, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu o Parque como Patrimônio Nacional, registrando no livro do tombo arqueológico, paisagístico e etnográfico.
Contudo, o fator importante e necessário para entender o contexto em que surge o Instituto Olho D’Água é a criação do Parque Nacional Serra da Capivara, e a profunda relação que o mesmo possui com a comunidade de Coronel José Dias, e os processos de inclusão educacional e patrimonial.
Embora a ideia de valor e apropriação fosse outra, a comunidade envolvente já conhecia o patrimônio cultural da área, antes mesmo da criação do Parque, uma vez que muitas famílias tradicionais viveram ali até o processo de desapropriação.
Mesmo sem possuir um conhecimento e uma noção sobre o valor científico que tal patrimônio representa nos dias atuais, tanto a nível regional como mundial, já existia uma relação harmoniosa e afetiva entre a comunidade e a Serra da Capivara, através do respeito ao local, pois já sabiam da singularidade que ele possuía, mostrando a apropriação deste patrimônio, ainda que de forma inconsciente.
No município de Coronel José Dias está situado os primeiros sítios arqueológicos estudados pela pesquisadora Drª Niède Guidon e sua equipe, e os principais circuitos turísticos abertos à visitação: Boqueirão da Pedra Furada, Desfiladeiro da Capivara e Serrotes Calcários da Bastiana.
10. Projetos e Ações em Andamento
Arte na Serra: Educação sempre dá Certo: Consiste em uma experiência educativa desenvolvida com crianças e jovens por meio de ateliers de arte e cultura, com intuito de envolvê-los no universo da arqueologia, através da experimentação didática, mostrando como o homem pré-histórico utilizava os recursos da natureza para pintar nos paredões rochosos, para fabricar seus instrumentos e objetos de uso cotidiano.
Status: Vigente desde 2011 e em andamento
http://arqueologiadigital.com/profiles/blogs/projeto-arte-na-serra-educa-o-arte-e- arqueologia
Figura: Ações educativas de apropriação cultural. Arte na Serra
Arte Rupestre: Histórias e Lendas do Desfiladeiro da Capivara: O objetivo é a valorização da memória, tradição e identidade dos moradores locais que têm fortes relações com o território tradicional. Para o cumprimento deste objetivo está sendo desenvolvida inicialmente a produção de pesquisa e registro da memória do território por meio de entrevistas com os moradores, relacionando os seus modos de vida com o acervo de arte rupestre do Desfiladeiro da Serra da Capivara. O projeto tem como principal diretriz o desenvolvimento de uma Ciência Aplicada, que alia a realização de pesquisa científica com o envolvimento simétrico das comunidades locais, levando a um tratamento integrado dos resultados científicos com os saberes tradicionais e estabelecendo uma relação de complementariedade entre Ciência e Tradição.
Status: Início 2013, em andamento.
Produto Final: Publicação de um livro e documentário.
Coordenação: Marília da Silva Gomes, Jorlan Oliveira e Marian Rodrigues.
11. Blog do Instituto Olho D’ Água: Sustentabilidade em Cultura
Foi desenvolvido em tecnologia NING, que é uma plataforma online que permite criação de redes sociais individualizadas, desenvolvido para a comunidade, é interativo e dinâmico, tem o intuito de promover a interação da comunidade como o acompanhamento dos trabalhos e a colaboração, com a captação de sugestões e participação. Concentra as notícias do andamento dos trabalhos, entrevistas e fotografias da comunidade, entrevistas com os profissionais envolvidos.
Status: Ativo
Endereço: http://documentoculturalolhodagua.ning.com/
Documentário Estradas da Cultura: Consiste em um filme documentário realizado pelo projeto Expedição Nordeste, idealizado por Lenin Falcão do Centro Cultural do BNB de Souza-PB, financiado pelo BNB de Cultura, que apresenta a experiência de projetos culturais desenvolvidos em várias regiões do Nordeste que traz no seu seio o objetivo de transformar a realidade de pequenos municípios por meio de ações culturais. O Projeto Arte na Serra foi selecionado por cumprir o seu papel social de criação, fruição e democratização dos bens culturais da sua região.
http://expedicaonordeste-central.blogspot.com.br/
Status: Concluído. Em exibição pelo Brasil
Expedição Nordeste na revista 4x4 & Cia
12. Criando e recriando um ambiente sustentável: Projeto anual da Escola Raquel Ferreira de Oliveira em Coronel José Dias/2013, sala temática: Arte na Serra e a Sustentabilidade Cultural. No evento de culminância foram apresentadas para a comunidade as ações do Instituto Olho d’ Água.
Coordenação: Marília Gomes
Status: Concluído 2013. Coo
13. Pesquisa Científica: Projeto de doutoramento em Quaternário Materiais e Culturas; Tema: Acervos Patrimoniais e a Sustentabilidade Cultural: Diretrizes e Práticas no Brasil. Universidade de Trás- Os Montes e Alto Douro (UTAD). Doutoranda Marian Helen da Silva Gomes Rodrigues. Orientação L.D. Erika Marion Robrahn-Gonzalez e Drº Luiz Miguel Oosterbeek.
Status: 2013/2015 – em andamento
Divulgação Científica: Constitui uma plataforma de divulgação dos resultados da pesquisa voltada para a comunidade científica, contribuindo para ampliar o conhecimento da pré-história e da história nacional, e da região de estudo em particular. Tem como público alvo o meio acadêmico (bibliotecas, instituições de pesquisas, profissionais em arqueologia, história e patrimônio cultural, instituições públicas).
1. Artigo Publicado: Arte na Serra: Educação Sempre dá Certo. Revista Tecnologia e Ambiente, Dossiê Arqueologia, Ambiente e Patrimônio, v. 17, 2011, Criciúma, Santa Catarina. ISSN 1413-8131. http://periodicos.unesc.net/index.php/tecnoambiente/article/view/1207/1163
2. Apresentações em congressos e Jornadas.
OLIVEIRA, J. Instituto Olho d’ Agua: Sustentabilidade em Cultura; Pôster. Congresso da Sociedade Brasileira de Arqueologia – SAB. Arqueologia sem Fronteiras, Repensando Espaço, Tempo e Agentes. 2013.
14. OLIVEIRA. J. RODRIGUES, M.H.S.G; MERCURI, J, SOUZA, P.D. Arte na Serra: Educación siempre funciona. 1º Congresso Latinoamericano de Gestion Cultural. Santiago do Chile. 2014. RODRIGUES, M. H. da S.G. Instituto Olho d’ Água: Sustentabilidade em Cultural. Jornada de Arqueologia Ibero-Americana e a I Jornada de Arqueologia Transatlântica. Criciúma - SC. 2013.
RODRIGUES, M.H.S.G. Parque Nacional Serra da Capivara e Comunidade: Educação, preservação e Fruição Social. Congresso da Sociedade Brasileira de Arqueologia – SAB. Arqueologia sem Fronteiras, Repensando Espaço, Tempo e Agentes. 2013.
RODRIGUES, M. H. S. da G.; BRUGNERA, C. Herramientas didácticas para la accesibilidad e inclusión arqueológica. II Encontro Iberoamaericano Em Políticas, Gestion e Insdustrias Culturales. Promocionando Derechos a Traves de la Cultura. General Roca, Rio Negro. Patagônia. Argentina. Fundación Patagónica de Ciencias Naturales Museo Patagónico de Ciencias Naturales EcoCultural. 2013.
RODRIGUES, M.H. da S.G. Acervos patrimoniais e a sustentabilidade cultural: Diretrizes e Práticas no Brasil. JORNADAS DE ARQUEOLOGIA IBEROAMERICANA * II JORNADAS DE ARQUEOLOGIA TRANSATLÂNTICA . Portugal- 2014.
RODRIGUES, M. H. da S. G. Acervos Patrimoniais: Pesquisa e Extroversão Social dos Conhecimentos nos Programas de Gestão do Patrimônio Arqueológico e Histórico Cultural no Brasil. Arqueologia Ibero-Americana e Transatlântica. Arqueologia, Sociedade e Território. Org. Juliano Bitencourt Campos.[ et. Al.]. Erechim, RS. Habilis, 353-368. 2014.
Grupo de Pesquisa: Centro de Investigação Geociência-FCT73- PT; Instituto Terra e Memória – PT.
16. Think Tank Documento Cultural
Conselho Consultivo: Sócrates França Silva
Políticas Públicas: Juliana Mercury
Relações Internacionais: Pedro Diniz
Grupo Documento.