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PROJETO: Cultura, Literatura e Criatividade: Do erudito ao popular – CLIC
COORDENADORA DA ÁREA DE LETRAS: Magliana Rodrigues da Silva
ESCOLA PARTICIPANTE: E.E.E. Fundamental e Médio Professor Raul Córdula
SUPERVISORA DA ESCOLA: Diana Nunes Ramalho
LICENCIANDOS EM LETRAS: Ana Daniele F. Silva
Andreia Aparecida M. Martins
Arthur Velázquez F. de Carvalho
Nathália Pinto Souza
ALUNO (A):__________________________________________
www.clicletras.blogspot.com
3
 TEXTO 01
A RETOMADA DO GÊNERO MUSICAL
Amanda de Castro Melo Souza, Nicole Santaella, Patrícia Castilho, Pedro Garcia e Zoe Sá Dall’Igna*
1. O surgimento dos musicais
Desde o início, o cinema flertava com o som por meio do acompanhamento
sonoro (feito por orquestras,
pequenos grupos musicais ou mesmo,
gravações) que, geralmente,
acompanhava as suas exibições. Já havia
uma necessidade de inclusão do som no cinema, seja para a
eliminação dos letreiros, seja pela criação de uma especifica
atmosfera em relação as reações do espectador (criar climas de
suspense, terror, amor, entre outros).
A Warner estava à beira da falência quando arriscou a
produção da ópera Don Juan, o primeiro filme com passagens
cantadas. O sucesso encorajou os irmãos Warner a continuar com a
experiência sonora até que em 1927 produzem O Cantor de Jazz (Crosland – Com Al Jolson, grande nome
da Broadway) que teve grande popularidade entre o publico norte-americano. Com esta produção nasce,
junto ao cinema sonoro, o cinema cantado.
Com a entrada do som na produção cinematográfica mundial, consolidou-se dentro de grandes
estúdios a produção do gênero musical. O primeiro musical, “Broadway Melody”, foi produzido em 1929 e
seu êxito provocou uma onda de filmes que rapidamente se tornam populares, assim como os nomes de Fred
Astaire, Ginger Rogers e Gene Kelly. Com o cinema sonoro, encenadores da Broadway foram chamados
para trabalhar em Hollywood.
"The Broadway Melody".
Situada em Nova Iorque, a Broadway é a avenida das superproduções onde estão em cartaz há
décadas os mais famosos musicais do mundo. Com o advento dos filmes sonoros, a conhecida popularidade
dessas peças tornou-se interessante ao cinema, pois muitas pessoas que gostariam de assistir a essas peças,
mas não tinham acesso à Broadway, por questões geográficas ou financeiras, seriam um público garantido,
uma vez que se adaptasse essas peças para o cinema. Filmes como “A Noviça Rebelde” e “My Fair Lady”
foram alguns dos primeiros a serem adaptados dos teatros da Broadway para o cinema, obtendo sucesso de
bilheteria e incentivando a continuidade da produção desse tipo de musical.
Algum tempo depois, o inverso começa a acontecer, principalmente com filmes de produção da
Disney: filmes musicais de sucesso começaram, também, a ser adaptados para peças da Broadway e se
mantêm em cartaz até hoje, como é o caso de “O rei leão”, “A Bela e a Fera” e “A pequena sereia”..
2. O gênero musical
Filme musical é um gênero de filme, no qual a narrativa se apóia sobre uma sequência de músicas
coreografadas, utilizando música, canções e coreografia como forma de narrativa, predominante ou
exclusivamente. Nas primeiras décadas, a maior parte dos musicais, como já foi dito, vinha de adaptações da
Broadway, mantendo características “teatrais”: as câmeras geralmente mostravam planos gerais das cenas,
como se vê nos teatros, os cenários eram mais limitados e havia poucos objetos ao centro, para que as danças
fossem realizadas; os números musicais não faziam tanto parte da narrativa, era uma “parada para cantar” no
meio do filme, a apresentação musical, muitas vezes, era diegética, ou seja, os personagens realmente
4
estavam cantando dentro da narrativa; os números musicais também estavam ligados intimamente à dança, o
sapateado, principalmente.
Uma divisão dos filmes musicais pode ser feita com base no estudo, principalmente, da temática e da
abordagem narrativa: os “Musicais Ups” que expõem uma temática alegre e divertida com o típico final feliz
e que representam a maioria dos musicais feitos até o final da década de 60, e os “Musicais Downs” com
conteúdos engajados socialmente e críticas à sociedade, começam a surgir a partir da década de 70 e não,
necessariamente, apresentam um final feliz.
3. Musicais Ups
O gênero musical teve seu momento de glória nos anos 1940/50/60, períodos referentes à Crise
Econômica Americana, Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria. O filme Musical Up acabou
servindo de escape ao contexto da época, por apresentar uma temática leve. Os Musicais Ups, apresentam
marcas características como o otimismo e o happy end. Eles nos passam uma visão positiva do mundo
através da exposição do amecan way of life.
Os personagens que compõe a narrativa são ingênuos e geralmente munidos de qualidades
incontestáveis. Dentre as grandes produções desta época podemos destacar: Sinfonia de Paris (An american
in Paris,1950), Um dia em Nova York (On the town,1949), A roda da fortuna (The bang wagon,1953),
Cantando na chuva (Singin’ in the rain,1952) Amor, sublime amor (West side history,1961) e A noviça
rebelde (The sound of music,1965).
4. Musicais Down
A comédia Musical Up vive seu período de esgotamento devido a evolução dos costumes da
sociedade (consciência ecológica, manifestações contra a guerra, luta pelos direitos das minorias, surgimento
da contra cultura e da aldeia global acompanhados da revolução técnico-cientifica) e aos movimentos
sociais. Neste novo contexto a produção hollywoodiana se vê obrigada a mudar sua produção musical, o
gênero perde a sua ingenuidade e reflete esta nova realidade, desta forma surge o Musical Down.
O Musical Down expressa maior afinidade com a realidade econômica, política e social, apresentando uma
tendência às denuncias das mazelas da sociedade, Seus personagens apresentam defeitos e qualidades.
Podemos citar algumas das produções que se encaixam neste grupo: Jesus Cristo Superstar (Jesus Chirst
superstar, 1973), O show deve continuar (All That jazz, 1979), Hair (Hair, 1979), Dançando no escuro
(Dancer in the dark, 2000) Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Sweeney Todd: the demon
barber of Fleet street, 2007).
Disponível em: http://www.rua.ufscar.br/a-retomada-do-genero-musical/ acesso em: 08 de agosto de 2017.
 TEXTO 02
HAMLET, PRÍNCIPE DA DINAMARCA.
William Shakespeare (Versão adaptada para neoleitore)
1.O Fantasma
No terraço do castelo de Elsinor, residência do rei da Dinamarca,Bernardo acabava de assumir o posto de
sentinela. A noite estavagelada, e logo chegaram Marcelo e Horácio, dois outros soldados,amigos dele. Os
três soldados e o príncipe Hamlet tinham lutado
5
juntos em guerras ao lado do antigo rei, pai do príncipe. Mas ultimamente eles andavamseparados, porque
Horácio estava estudandona Universidade de Wittenberg, na Alemanha,acompanhando Hamlet.
Marceloperguntou para Bernardo:
– Aquela coisa apareceu de novo?
– Eu não vi nada... – respondeu oamigo.
– O Horácio não quer acreditar nagente – continuou Marcelo.
– Ele diz que aquela coisa apavoranteque a gente já viu duas vezes só existe na nossa imaginação. Porisso eu
fiz ele ficar de sentinela conosco esta noite. Se aparecer denovo, ele não vai mais duvidar da gente e vai falar
com o fantasma...
Horácio continuava sem acreditar:
– Ora, é claro que não vai aparecer nada.
Mal os três amigos sentaram para esperar, Marcelo deu oalarme:
– Olhem, ele vem vindo!
– É igualzinho ao falecido rei! – exclamou Bernardo.
– Não é,Horácio?
– É sim, Bernardo. Eu estou paralisado de espanto e de medo.
– Você, que é intelectual, fale com ele, Horácio! – disse Marcelo.
Horácio enfrentou o fantasma, perguntando:
– Quem é você, que aparece usando a armadura do falecidorei?
Mas o fantasma foi embora sem responder nada.
Bernardo viu que Horácio estava branco, tremendo, e entãoperguntou:
– E agora, Horácio, ainda duvida?
– Se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos, juro porDeus que não ia
acreditar, mas o fantasma é igual ao rei. A armaduradele é igual àquela que o nosso velho rei usava quando a
gentelutou contra o rei da Noruega e contra os poloneses. Até o jeito de
franzir as sobrancelhas é o do falecido rei. Não sei o que pensar... Sósei que isso é sinal que alguma coisa
muito estranha vai acontecerno nosso país.
Os três amigos sentaram no chão, e Marcelo perguntou se alguémsabia por que os dinamarqueses estavam
construindo tantosnavios e canhões, comprando tantas armas no estrangeiro e passandoo tempo todo de
sentinela.
Horácio respondeu:
- Eu sei: esse fantasma que nos apareceu agora é o pai do nossoamigo, o príncipe Hamlet. Vocês se lembram
que o nosso falecidorei e o rei da Noruega, Fortimbrás, disputaram um duelo? Anteseles assinaram um
contrato dizendo que quem vencesse ficava com
6
o reino do outro, e o rei Hamlet ganhou. Pois agora o filho do reida Noruega, que também se chama
Fortimbrás, está reunindo umexército para tentar recuperar com uma guerra o reino que o paiperdeu numa
luta que foi justa, ora!
– Isso explica, então, por que o fantasma do rei Hamlet apareceu - concluiu Bernardo.
Mas Horácio não estava satisfeito e comentou com os amigosque estavam aparecendo na Dinamarca os
mesmos sinais sobrenaturaisque tinham aparecido na Roma Antiga pouco antes da morte deJúlio César, e
um desses sinais era que os mortos saíam dos túmulos
e andavam entre os vivos.Ele ainda estava falando sobre isso quando o fantasma voltou.
Horácio se levantou num pulo e chamou o fantasma, que passoureto por ele. Os três amigos pegaram
espadas e lanças e tentaramparar o fantasma à força, mas as armas foram inúteis.
O fantasma parou e pareceu que ia falar, quando um galo cantou.
O fantasma tremeu e desapareceu da vista dos soldados.
– Ele fugiu quando ouviu o galo cantar. Isso prova que o cantodo galo é o sinal para os espíritos errantes
voltarem para o lugar deonde vieram – disse Horácio.
– Mas está amanhecendo, e o nossohorário de sentinela terminou. Vamos contar para o príncipe Hamleto que
aconteceu esta noite. Com ele o espírito vai falar, eu tenho
certeza.
– Vamos logo – respondeu Marcelo. – Eu sei onde encontrar opríncipe a esta hora da manhã!
2. Uma família real
Na sala de cerimônias do castelo, estavam reunidos o reiCláudio, a rainha Gertrudes, o príncipeHamlet e os
principais nobres do reino daDinamarca.
O rei disse:
– Em nossos corações, ainda estamosde luto pelo meu falecido irmão, nosso
querido rei Hamlet. Mas nós precisamos pensar no interesse de todoo reino. Eu ouvi os conselhos que vocês
me deram e me casei comminha antiga cunhada, a rainha deste país guerreiro. Ao mesmotempo alegres e
tristes, nós agradecemos a todos, mas eu chameivocês para tratar de um assunto urgente. O jovem príncipe
da Noruega,Fortimbrás, deve estar pensando que a morte de nosso amadoirmão deixou a Dinamarca confusa
ou desunida. Ele não para denos provocar e está exigindo a devolução das terras que o pai deleperdeu no
duelo com o nosso falecido rei.
Todos ali já sabiam aquilo tudo que ele vinha falando até ali eestavam ansiosos para ouvir as providências
que o novo rei ia tomar.
Cláudio continuou:
– Já escrevi para o atual rei da Noruega, que é tio de Fortimbrás.Ele está velho, doente e acamado, e por isso
não sabe dos preparativospara a guerra que o sobrinho está fazendo. Na carta, eu exijo queo rei não deixe
Fortimbrás nos atacar. Para levar a carta, eu escolhi os nobres que eram donos de grandes propriedadese
7
viviam próximos do poder,em países governados por algum rei.Dois dos mais experientes e leais
cavaleirosdesta corte, Cornélio e Voltimando...
Os dois nobres se adiantaram, e o reicontinuou:
– Levem até o velho r
ei norueguês as nossas saudações enegociem com ele. Não tratem de nenhum outro assunto: nós sóqueremos
que ele garanta que não vamos ter guerra.
Cornélio e Voltimando saíram, e o rei chamou Laertes, filho dePolônio, o conselheiro real. O jovem queria
autorização do rei paravoltar para a França, onde estudava na Universidade de Paris. O reideu a permissão,
mas só depois de consultar Polônio, que disse queconcordava, apesar de estar preocupado com o filho.
Então o rei falou com Hamlet, seu sobrinho e filho do rei falecido:
– E agora, caro Hamlet, meu sobrinho e meu filho...
Hamlet não gostou de ser chamado de filho por Cláudio, masnão disse nada.
– Por que você está com essa cara tão fechada? – perguntouo rei.
Como Hamlet continuava chateado, a rainha Gertrudes, mãedele, insistiu:
– Querido filho, deixe dessa tristeza toda e veja o novo rei daDinamarca como amigo. Tudo que vive um dia
morre. Por que amorte do seu pai parece tão arrasadora para você?
– Não parece, senhora, é! Comigo não tem “parecer”. Minhasroupas de luto, meu rosto fechado, minhas
lágrimas, tudo isso pode“parecer”, porque qualquer um pode fingir isso, mas o que eu tenhodentro de mim
ninguém pode imitar.
Diante de todos, Cláudio pediu que Hamlet visse nele umpai.
– Que o universo inteiro fique sabendo, Hamlet: você é o herdeirodo meu trono, e eu amo você como um
filho muito querido. Eeu não gostaria que você voltasse para a Universidade de Wittenberg.Fique aqui na
corte conosco.
– Fique, meu filho, por favor – implorou Gertrudes.
– Vou fazer o possível para obedecer – respondeu o príncipe.
O rei então disse para a rainha que ele estava tão satisfeitocom a decisão de Hamlet que naquele dia todos os
brindes seriamacompanhados por tiros de canhão, para que todo o mundo soubessecomo eles estavam
felizes.
Os arautos tocaram as trombetas, etodos saíram, deixando Hamlet sozinho.O príncipe não conseguia aceitar
o casamentoda mãe com o tio, menos de doismeses depois da morte do pai. “Que nojo!”,pensou. “Meu pai
era tão carinhoso comela, e ela parecia viver para ele. Mas foi só ele morrer, e ela correupara casar com o
irmão dele, que não tinha nenhuma das qualidadesdo meu pai!” O príncipe estava tão triste que chegou a
pensarem suicídio. Então, ele balançou a cabeça, desolado, e exclamouem voz alta:
– Como as mulheres são frágeis! – E depois, baixando a voz,suspirou:
– Isso não vai acabar bem.
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Nesse momento, entraram Horácio, Bernardo e Marcelo. Hamletficou feliz por ver os amigos, especialmente
Horácio, mas o rostodo príncipe voltou a ficar perturbado quando os amigos contaramsobre a aparição do
fantasma.
– Vocês não falaram com ele?
– Eu falei, meu príncipe – disse Horácio –, mas na hora elenão me respondeu. Chegou a levantar a cabeça,
como se fossedizer alguma coisa, mas o galo cantou, e o fantasma desapareceuaos poucos.
Hamlet encheu os três de perguntas e decidiu que naquelamesma noite ia ficar de guarda junto com eles.
– Se meu pai aparecer vou falar com ele, nem que seja noinferno. E vocês, provem que são meus amigos e
não contem nadadisso para ninguém!
Os três juraram obediência e combinaram que todos iam estarna muralha do castelo um pouco antes da meia-
noite.
Quandoficou sozinho novamente, Hamlet pensou: “O espírito do meu pai,e armado para guerra! Aí tem
coisa... Por que é que a noite nãochega logo?”
Disponível em: http://lpm.com.br/livros/Imagens/hamlet_neoleitores.pdf acesso em: 08 de agosto de 2017.
 TEXTO 03
CHAPEUZINHO VERMELHO
Era uma vez, uma menina tão doce e meiga que todos gostavam dela. A avó, então, a adorava, e não
sabia mais que presente dar a criança para agradá-la. Um dia ela presenteou-a com um chapeuzinho de
veludo vermelho.
O chapeuzinho agradou tanto a menina e ficou tão bem nela, que ela queria ficar
com ele o tempo todo. Por causa disso, ficou conhecida como Chapeuzinho
Vermelho.
Um dia sua Mãe lhe chamou e lhe disse:
- Chapeuzinho, leve este pedaço de bolo e essa garrafa de vinho para sua avó.
Ela está doente e fraca, e isto vai faze-la ficar melhor. Comporte-se no caminho,
e de modo algum saia da estrada, ou você pode cair e quebrar a garrafa de vinho
e ele é muito importante para a recuperação de sua avó.
Chapeuzinho prometeu que obedeceria a sua mãe e pegando a cesta com o bolo e o vinho, despediu-
se e partiu.
Sua avó morava no meio da floresta, distante uma hora e meia da vila.
Logo que Chapeuzinho entrou na floresta, um Lobo apareceu na sua frente.
Como ela não o conhecia nem sabia que ele era um ser perverso, não sentiu medo algum.
- Bom dia Chapeuzinho - saudou o Lobo.
- Bom dia, Lobo - ela respondeu.
- Aonde você vai assim tão cedinho, Chapeuzinho?
- Vou à casa da minha avó.
- E o que você está levando aí nessa cestinha?
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- Minha avó está muito doente e fraca, e eu estou levando para ela um pedaço de bolo que a mamãe fez
ontem, e uma garrafa de vinho. Isto vai deixá-la forte e saudável.
- Chapeuzinho, diga-me uma coisa, onde sua avó mora?
- A uns quinze minutos daqui. A casa dela fica debaixo de três grandes carvalhos e é cercada por uma sebe
de aveleiras. Você deve conhecer a casa.
O Lobo pensou consigo: "Esta tenra menina é um delicioso petisco. Se eu agir rápido posso saborear sua avó
e ela como sobremesa”.
Então o Lobo disse:
- Escute Chapeuzinho, você já viu que lindas flores há nessa floresta? Por quê você não dá uma olhada?
Você não está ouvindo os pássaros cantando? Você é muito séria, só caminha olhando para frente. Veja
quanta beleza há na floresta.
Chapeuzinho então olhou a sua volta, e viu a luz do sol brilhando entre as árvores, e viu como o chão estava
coberto com lindas e coloridas flores, e pensou: "Se eu pegar um buquê de
flores para minha avó, ela vai ficar muito contente. E como ainda é cedo, eu
não vou me atrasar”.
E, saindo do caminho entrou na mata. E sempre que apanhava uma flor, via
outra mais bonita adiante, e ia atrás dela. Assim foi entrando na mata cada
vez mais.
Enquanto isso, o Lobo correu à casa da avó de Chapeuzinho e bateu na porta.
- Quem está aí? - perguntou a velhinha.
- Sou eu, Chapeuzinho - falou o Lobo disfarçando a voz - Vim trazer um pedaço de bolo e uma garrafa de
vinho. Abra a porta para mim.
- Levante a tranca, ela está aberta. Não posso me levantar, pois estou muito fraca. - respondeu a vovó.
O Lobo entrou na casa e foi direto à cama da vovó, e a engoliu antes que ela pudesse vê-lo. Então ele vestiu
suas roupas, colocou sua touca na cabeça, fechou as cortinas da cama, deitou-se e ficou esperando
Chapeuzinho Vermelho.
E Chapeuzinho continuava colhendo flores na mata. E só quando não podia mais carregar nenhuma é que
retornou ao caminho da casa de sua avó.
Quando ela chegou lá, para sua surpresa, encontrou a porta aberta.
Ela caminhou até a sala, e tudo parecia tão estranho que pensou: "Oh, céus, por quê será que estou com tanto
medo? Normalmente eu me sinto tão bem na casa da vovó...”.
Então ela foi até a cama da avó e abriu as cortinas. A vovó estava lá deitada com sua touca cobrindo parte do
seu rosto, e, parecia muito estranha...
- Oh, vovó, que orelhas grandes a senhora tem! - disse então Chapeuzinho.
- É para te ouvir melhor.
- Oh, vovó, que olhos grandes a senhora tem!
10
- É para te ver melhor.
- Oh, vovó, que mãos enormes a senhora tem!
- São para te abraçar melhor.
- Oh, vovó, que boca grande e horrível à senhora tem!
- É para te comer melhor - e dizendo isto o Lobo saltou sobre a indefesa menina, e a engoliu de um só bote.
Depois que encheu a barriga, ele voltou à cama, deitou, dormiu, e começou a roncar muito alto. Um caçador
que ia passando ali perto escutou e achou estranho que uma velhinha roncasse tão alto, então ele decidiu ir
dar uma olhada.
Ele entrou na casa, e viu deitado na cama o Lobo que ele procurava há muito tempo.
E o caçador pensou: "Ele deve ter comido a velhinha, mas talvez ela ainda possa
ser salva. Não posso atirar nele”.
Então ele pegou uma tesoura e abriu a barriga do Lobo.
Quando começou a cortar, viu surgir um chapeuzinho vermelho. Ele cortou mais,
e a menina pulou para fora exclamando:
- Eu estava com muito medo! Dentro da barriga do lobo é muito escuro!
E assim, a vovó foi salva também.
Então Chapeuzinho pegou algumas pedras grandes e pesadas e colocou dentro da
barriga do lobo.
Quando o lobo acordou tentou fugir, mas as pedras estavam tão pesadas que ele caiu no chão e morreu.
E assim, todos ficaram muito felizes.
O caçador pegou a pele do lobo.
A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia trazido, e
Chapeuzinho disse para si mesma:
“Enquanto eu viver, nunca mais vou desobedecer minha mãe e desviar do
caminho nem andar na floresta sozinha e por minha conta”. (Irmãos Grimm)
Disponível em: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=2056&cat=Infantil.
Acesso em: 04 de Agosto de 2017.
 TEXTO 04
A GAROTA DA CAPA VERMELHA
RESUMO:
O CORPO DE UMA GAROTA é descoberto em um campo de trigo. Em sua carne mutilada, marcas de
garras. O Lobo havia quebrado a paz. Quando Valerie descobre que sua irmã foi assassinada pela lendária
criatura, ela acaba mergulhando de forma irreversível em um grande mistério que vem amaldiçoando sua
aldeia por gerações. A revelação vem com Father Solomon: o Lobo habita entre eles — o que torna qualquer
pessoa do vilarejo suspeita. Estaria Peter, sua paixão secreta desde a infância, envolvido nos ataques? Ou
seria Henry, seu noivo, o Lobisomem que assola as redondezas? Ou, talvez, alguém mais próximo?
11
Enquanto todos estão à caça da besta, Valerie recorre à Avó em busca de ajuda; ela dá à neta uma capa
vermelha feita à mão e a orienta através da rede de mentiras, intrigas e decepções que vem controlando o
vilarejo por muito tempo. Descobrirá Valerie o culpado por trás do lobo antes que toda a aldeia seja
exterminada? A Garota da Capa Vermelha é uma nova e arrepiante versão do clássico conto. Nela, o final
feliz poderá ser difícil de ser encontrado.
 TEXTO 05
CAPÍTULO 1 – A GAROTA DA CAPA VERMELHA
Da altura imponente do topo da árvore, a menininha conseguia ver tudo. A sonolenta aldeia de
Daggorhorn ficava bem no fundo do vale. De cima, parecia uma terra muito distante, estrangeira. Um lugar
do qual ela não sabia nada, um lugar sem espinhos nem farpas, um lugar onde o temor não pairava como um
pai ansioso. Lá em cima, tão distante no ar, Valerie sentiu como se pudesse ser outra pessoa também. Ela
poderia ser um animal: um falcão, indiferente à sua própria
sobrevivência, arrogante e distante. Mesmo aos sete anos, sabia que, de
algum modo, era diferente dos outros aldeões. Não conseguia evitar
mantê-los a distância, até mesmo os seus amigos, que eram abertos e
maravilhosos. Sua irmã mais velha, Lucie, era a única pessoa no
mundo com quem Valerie sentia ter uma ligação. Ela e Lucie eram
como duas videiras que cresceram entrelaçadas como na velha canção
que os anciãos da aldeia cantavam. Lucie era a única. Valerie
observou além de seus pés descalços suspensos e refletiu sobre o
motivo de ter subido até lá. É claro que não tinha permissão, mas este não era o caso. Tampouco era pelo
desafio da subida, ou então pela emoção, que havia perdido no ano anterior, quando atingira o galho mais
alto pela primeira vez e não encontrara nada além do céu aberto.
Subia bem alto porque não conseguia respirar lá embaixo, na aldeia. Se não saísse de lá, a
infelicidade a tomaria, acumulando como a neve até que ela ficasse soterrada. Lá em cima, na sua árvore, o
ar batia fresco em seu rosto, e ela se sentia invencível. Nunca se preocupava em cair; isso não era possível
neste universo sem peso. — Valerie! A voz de Suzette ressoou lá em cima por entre as folhas, chamando-a
como uma mão puxando Valerie para a terra. Pelo tom de voz de sua mãe, ela sabia que estava na hora de ir.
Elevou os joelhos, ergueu-se, ficou de cócoras e começou a descida. Olhando para baixo, conseguiu ver o
telhado bem inclinado da casa da Avó, construído entre os galhos da árvore e coberto por uma camada
espessa de folhas de pinheiros. A casa estava envolta por galhos floridos como se tivesse se alojado lá
durante uma tempestade. Valerie sempre imaginava como ela fora construída lá, mas nunca perguntou a
ninguém, porque algo tão maravilhoso não deve ser explicado. O inverno se aproximava, e as folhas
começavam a se soltar dos galhos, libertando-se da abrangência do outono. Algumas estremeceram e se
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desprenderam conforme Valerie se movimentava, descendo da árvore. Ela ficara empoleirada na árvore a
tarde toda, ouvindo o murmúrio baixinho das vozes das mulheres sendo soprado lá de baixo até em cima.
Elas pareciam estar mais cautelosas hoje, mais graves que o habitual, como se estivessem guardando
segredos. Aproximando-se dos ramos mais baixos que arranhavam o telhado da casa da árvore, Valerie viu
a Avó surgir na varanda, os pés invisíveis sob o vestido. A Avó era a mulher mais bonita que ela conhecia.
Usava saias compridas em camadas que balançavam conforme ela caminhava. Se o pé direito ia à frente, a
saia de seda se agitava para a esquerda. Os tornozelos eram delicados e encantadores, como os da pequena
bailarina de madeira da caixa de joias de Lucie. Isso tanto encantava quanto assustava Valerie, pois pareciam
prestes a se quebrarem. Valerie, nem um pouco frágil, pulou do galho mais baixo até a varanda, provocando
um ruído surdo.
Ela não parecia tão admirável quanto as outras garotas, cujas bochechas eram rosadas ou carnudas. As de
Valerie eram lisas, uniformes e bem pálidas. Valerie realmente não se achava bonita, nem pensava sobre sua
aparência... ou nessas questões. No entanto, ninguém esqueceria a loira de cabelos cor de palha e olhos
verdes inquietos que brilhavam como se lançassem raios. Seus olhos e aquele ar sapiente que possuía
faziam-na parecer mais velha do que era.
— Meninas, vamos! — a mãe a chamou de dentro da casa, a ansiedade transpirando pela voz. — Precisamos
estar de volta cedo, hoje. Valerie desceu antes que alguém percebesse que ela havia estado na árvore. Pela
porta aberta, viu Lucie agitando-se perto da mãe, segurando uma boneca que ela vestira de retalhos que a
Avó havia doado para esse fim. Ela desejou ser mais parecida com a irmã. As mãos de Lucie eram macias e
arredondadas, um pouco gorduchas, algo que Valerie admirava. Suas próprias mãos eram nodosas, finas,
ásperas e com calos. Seu corpo era anguloso. Bem no fundo, ela sentia que isto a tornava uma pessoa que
não poderia ser amada, uma pessoa que ninguém gostaria de tocar. Valerie tinha consciência de que sua
irmã mais velha era melhor que ela. Lucie era mais bondosa, mais generosa e mais paciente. Ela nunca teria
subido acima da casa da árvore, pois sabia que lá não era o lugar de pessoas sensatas.
— Meninas! É noite de lua cheia.
— A voz da mãe chegou até ela, agora. — E é a nossa vez — acrescentou, com uma voz triste que foi se
enfraquecendo. Valerie não sabia o que entender, aquilo de ser a vez deles. Esperava que fosse uma
surpresa, talvez um presente. Olhando para o chão, ela viu algumas marcas na terra que tinham a forma de
uma seta. Peter. Seus olhos se arregalaram. Ela se dirigiu aos degraus íngremes e sujos da casa da árvore
para examinar as marcas. ‚Não, não é Peter‛, ela pensou, vendo que eram apenas arranhões aleatórios no
chão. Mas e se... As marcas se estendiam para longe até o bosque. Instintivamente, ignorando o que ela
deveria fazer e o que Lucie faria, ela as seguiu. Claro que não levaram a lugar nenhum; depois de alguns
metros, as marcas desapareceram. Furiosa consigo mesma pela ilusão, ficou feliz por ninguém tê-la visto
seguindo nada até nada. Antes de partir, Peter costumava deixar recados para ela, desenhando setas no chão
com a ponta de uma vara; as setas a guiavam até ele, muitas vezes escondido nas profundezas do bosque.
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Ele, seu amigo, já havia partido há alguns meses, agora. Eles foram inseparáveis, e Valerie ainda não
conseguia aceitar o fato de que ele não voltaria mais. Sua partida fora como o rompimento da ponta de uma
corda — deixando dois fios desemaranhados Peter não era como os outros garotos que ficavam provocando
e lutando. Ele entendia os impulsos de Valerie. Entendia a aventura; entendia sobre não seguir as regras.
Nunca a julgava por ser uma menina.
— Valerie! — a voz da Avó agora a chamava. Seus apelos deveriam ser respondidos com mais presteza que
os da mãe de Valerie, pois suas ameaças poderiam realmente se concretizar. Valerie se afastou das peças do
quebra-cabeça que não levaram a prêmio nenhum e se apressou em voltar.
— Aqui, vovó. Ela se recostou na base da árvore, deliciando-se com a sensação áspera do tronco. Fechou os
olhos para senti-la plenamente — e ouviu o rangido das rodas de carroça como uma tempestade que se
aproxima. Ouvindo-o também, a Avó desceu as escadas até o chão da floresta. Envolveu Valerie em seus
braços, a seda fria da blusa e o amontoado desajeitado de seus amuletos pressionando o rosto de Valerie.
Com o queixo no ombro da Avó, Valerie viu Lucie movendo-se de forma cautelosa, descendo os degraus
altos, seguida pela mãe.
— Sejam fortes hoje, minhas queridas — a Avó cochichou.
Tensa, Valerie ficou quieta, incapaz de expressar sua confusão. Para Valerie, cada pessoa e lugar possuíam
seu próprio perfume — às vezes, o mundo todo parecia um jardim. Ela chegou à conclusão de que a Avó
tinha cheiro de folhas esmagadas mescladas com algo mais profundo, algo mais intenso que ela não
conseguia definir. Logo que a Avó soltou Valerie, Lucie entregou à irmã um buquê de ervas e flores que ela
recolhera do bosque.
Disponível em: https://cld.pt/dl/download/62857e2f-73ff-4d61-b9b8-
d0c4a75e5e54/LIVROS%20DE%20FILMES/A%20garota%20da%20capa%20vermelha.pdf Acesso em: 04 de Agosto de 2017.
 TEXTO 06
A Garota da Capa Vermelha (Filme)
Por Ana Lucia Santana
Embora os críticos norte-americanos e os brasileiros tenham, com
raras exceções, tecido críticas negativas a esta obra, minha impressão
sobre o filme foi bem positiva. Desde o início a atmosfera de paranoia e
medo está no ar, prenunciando a eclosão de intolerância e ódio,
sentimentos que se instauram a partir do momento em que um caçador de
lobisomens declara que o lobo assassino se oculta entre os próprios
habitantes do pequeno vilarejo.
O clima de medo e de desconfiança presente na comunidade ecoa o
ambiente sufocante do filme A Vila, de M. Night Shyamalan, e o
ambiente opressivo do livro Dezesseis Luas, de Kami Garcia e Margaret
Stohl. As pessoas moram em casas acima do solo, acessíveis apenas por
escadas que, à noite, são recolhidas e escondidas no interior das
residências.
14
A história tem início com Valerie ainda pequena; desde este momento percebe-se que ela é diferente
dos demais, pois não se comporta como suas amigas, embora se esforce para ser como os outros. Um espírito
de rebeldia domina sua alma, e neste traço de personalidade ela se sintoniza com Peter (Shiloh Fernandez),
outra criatura indomável. Os dois elegem a floresta como seu refúgio, onde caçam e matam coelhos.
Apesar de ser um lugarejo pequeno e todos se conhecerem, os vizinhos são discretos e têm sempre
disponível um olhar de suspeita reservado ao outro. Há anos eles são ameaçados pelo Lobo, mas um pacto
com a fera garante há algum tempo a necessária tranquilidade. A cada noite de lua cheia uma família
sacrifica um animal à besta em troca de imunidade aos seus ataques.
Depois de um longo período de trégua, porém, o Lobo volta a fazer uma vítima entre os habitantes do
vilarejo, Lucy, a irmã de Valerie, protagonista do enredo, vivida pela atriz Amanda Seyfried. A partir de
então a população se enfurece e um grupo se reúne para caçar a fera. Quando os homens se dividem no
reduto do animal, ele ataca e é aparentemente morto por um dos homens, não sem antes provocar uma nova
morte, a do pai de Henry (Max Irons), jovem prometido a Valerie por uma aliança entre suas famílias.
Todos festejam a morte do Lobo, mas assim que um caçador de lobisomens, interpretado por Gary
Oldman, chega ao vilarejo para matar a besta, uma revelação aterradora muda os rumos da história: não se
trata de um simples lobo, e sim de um homem-lobo, o qual certamente está presente entre eles.
O matador de lobisomens, um violento e estranho padre, viúvo e pai de duas filhas, acendem as
chamas da fogueira da intolerância e estimula cada vez mais o ódio e a desconfiança crescentes entre os
habitantes do vilarejo. Ele joga sem compaixão um contra o outro e cerca a pequena comunidade, não
permitindo que ninguém parta até que se ache o lobisomem. Tomado pela cólera e por uma ilimitada sede de
sangue, ele está disposto até mesmo a matar, se for preciso, para conquistar seu troféu.
Enquanto isso, segredos há muito guardados vêm à tona, antigos ressentimentos afloram, e cresce o
número de suspeitos: a estranha avó de Valerie, o ferreiro Henry, seu amado Peter, Claude, irmão de uma
das amigas da protagonista, o padre local, entre outros.
Todos se olham com medo, raiva e apreensão; as pessoas buscam implacavelmente um bode
expiatório, e qualquer um pode ser acusado da prática de magia negra, forte indício para se encontrar um
lobisomem. Os diferentes certamente não serão perdoados, o que deixa Valerie e Peter em uma posição
delicada e arriscada.
Este longa dirigido por Catherine Hardwicke, a diretora de
Crepúsculo e Aos Treze, a partir de uma ideia do ator Leonardo Di
Caprio, desenvolvida pelo roteirista David Leslie Johnson, deu início a
uma experiência incomum. Quem está habituado a ver obras da literatura
convertidas à estética cinematográfica, vai se deparar aqui com o
caminho oposto.
Decidida a aprofundar a história nas páginas de um livro, a
cineasta propôs a sua amiga Sarah Cartwrigth que transformasse o enredo
em um thriller literário. O resultado é surpreendente e o final ainda mais, pois o desfecho da história só será
visto na versão do cinema.
Quem analisar o filme apenas a partir do enredo superficial, realmente terá razões para desfiar
críticas negativas, pois nele estão presentes o tradicional triângulo amoroso, o amor proibido, as
interferências familiares que tudo fazem para separar dois amantes, entre outros elementos clichês.
Mas esta versão da tradicional história da Chapeuzinho Vermelho vai além da trama aparente,
compondo uma alegoria do mundo contemporâneo e de suas paranoias típicas, as quais giram basicamente
em torno das ameaças engendradas pelo próprio modo de vida pós-moderno.
A direção de arte gera uma estética que ora privilegia a alegria artificial das comemorações, ora
destaca o clima de medo e de hostilidade que tomam conta da alma de cada habitante da comunidade. As
cores são intensas, contrapondo as tonalidades neutras do figurino feminino aos tons escuros que distinguem
15
o universo masculino, e criando um diferencial em Valerie com sua capa vermelha, símbolo da paixão e das
supostas bruxas condenadas à fogueira pela Inquisição, e no Caçador de Lobisomens com suas vestes
sacerdotais púrpuras, que intimidam e ameaçam a todos.
A trilha sonora é simplesmente divina; ela é basicamente composta por composições de Brian
Reitzell, autor, entre outras, das trilhas dos filmes Encontros e Desencontros e Mais Estranho que a Ficção,
em parceria com Alex Heffes, responsável pelas canções de longas como O Último Rei da Escócia e Intrigas
de Estado. Mas também há a presença especial de Fever Ray, pseudônimo da artista sueca de música
eletrônica Karin Elisabeth Dreijer Andersson, de Anthony Gonzalez, do grupo eletrônico M83, e da banda
inglesa The Big Pink.
Vale realmente dar uma chance a esta produção, e não só o público adolescente, mas todo cinéfilo;
basta apenas despir a capa do preconceito e se preparar para mergulhar além das camadas superficiais da
trama.
Fonte:
A Garota da Capa Vermelha. Direção: Catherine Hardwicke. Estados Unidos/Inglaterra. 2011, 100 min. Elenco: Amanda Seyfried,
Michael Hogan, Shiloh Fernandez, Max Irons, Gary Oldman, Michael Shanks, Lukas Haas, Billy Burke. Warner Bros. / Appian
Way. Classificação: 14 anos.
Disponível em: http://www.infoescola.com/cinema/a-garota-da-capa-vermelha-filme/. Acesso em: 03 de agosto de 2017.
 TEXTO 07
CHAPEUZINHO AMARELO
(Chico Buarque)
Era a Chapeuzinho Amarelo
Amarelada de medo
Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.
Já não ria
Em festa, não aparecia
Não subia escada, nem descia
Não estava resfriada, mas tossia
Ouvia conto de fada, e estremecia
Não brincava mais de nada, nem de amarelinha
Tinha medo de trovão
Minhoca, pra ela, era cobra
E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra
Não ia pra fora pra não se sujar
Não tomava sopa pra não ensopar
Não tomava banho pra não descolar
Não falava nada pra não engasgar
Não ficava em pé com medo de cair
Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo
Era a Chapeuzinho Amarelo…
E de todos os medos que tinha
O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO.
16
Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia.
Mesmo assim a Chapeuzinho
tinha cada vez mais medo do medo do medo
do medo de um dia encontrar um LOBO
Um LOBO que não existia.
E Chapeuzinho amarelo,
de tanto pensar no LOBO,
de tanto sonhar com o LOBO,
de tanto esperar o LOBO,
um dia topou com ele
que era assim:
carão de LOBO,
olhão de LOBO,
jeitão de LOBO,
e principalmente um bocão
tão grande que era capaz de comer duas avós,
um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…
e um chapéu de sobremesa.
Mas o engraçado é que,
assim que encontrou o LOBO,
a Chapeuzinho Amarelo
foi perdendo aquele medo:
o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO.
Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo.
Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.
O lobo ficou chateado de ver aquela menina
olhando pra cara dele,
só que sem o medo dele.
Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,
porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo.
É feito um lobo sem pelo.
Um lobo pelado.
O lobo ficou chateado.
Ele gritou: sou um LOBO!
Mas a Chapeuzinho, nada.
17
E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!!
E a Chapeuzinho deu risada.
E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!
Chapeuzinho, já meio enjoada,
com vontade de brincar de outra coisa.
Ele então gritou bem forte aquele seu nome de
LOBO
umas vinte e cinco vezes,
que era pro medo ir voltando e a menininha
saber
com quem não estava falando:
LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO
Aí, Chapeuzinho encheu e disse:
“Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!”
E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO.
Era um BO-LO.
Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim.
Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim.
Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo,
porque sempre preferiu de chocolate.
Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato.
Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato.
Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato,
Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha,
com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro,
com a sobrinha da madrinha
e o neto do sapateiro.
Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira.
E transforma em companheiro cada medo que ela tinha:
O raio virou orrái;
barata é tabará;
a bruxa virou xabru;
e o diabo é bodiá.
FIM
( Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo:
o Gãodra, a Jacoru,
o Barãotu, o Pão Bichôpa…
e todos os trosmons).
Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/chapeuzinho-amarelo-poema-de-chico-buarque/. Acesso em: 05 de Agosto de
2017.
18
 TEXTO 08
RAPUNZEL
Especial: Contos de Fadas Originais
O conto da Rapunzel pertence originalmente a Charlotte-Rose de Caumont de La Force, publicado em
1698, mas teve adaptação dos Irmãos Grimm em 1812. O conto não teve muitas mudanças drásticas,
apenas foi amenizado durante os anos.
Rapunzel era o nome de um vegetal, e a mãe de Rapunzel convence ao
marido pegar um pouco dessa planta para que coma, então ele entra em um
jardim proibido, pois sua mulher estava querendo desesperadamente o vegetal, e
esse desejo era um sintoma de sua gravidez. O Jardim era da propriedade de uma
feiticeira, que pegou o homem e o acusou de furto, ele explicou a situação, mas
em troca a bruxa queria que lhe entregassem a filha que iria nascer.
A Bruxa lhe dá o nome de Rapunzel, o nome da planta que seu pai
biológico furtou, então, a vida de Rapunzel com sua nova mãe ia bem, até que
completou doze anos, a Bruxa colocou-a em uma torre, onde era impossível subir
sem uma escada, mas o cabelo de Rapunzel nunca tinha sido cortado, e era
conservado como uma enorme trança. Quando a feiticeira chegava toda manhã, ela gritava: ‘Jogue suas
tranças de ouro Rapunzel’. Assim a menina jogava, e a Bruxa subia levando comida.
Um dia um príncipe escuta Rapunzel cantando dentro de sua torre, mas logo avista a Bruxa
chegando, e presta bem atenção como ela faz. Depois que ela vai embora, o príncipe diz a mesma coisa, e
Rapunzel joga novamente as tranças, ele sobe e assim começa um namoro, depois de algumas visitas, o
namoro é regado a sexo até que Rapunzel fica grávida, e não conhece os mistérios de um parto ou uma
barriga, então pergunta para sua mãe por que o seu vestido está crescendo e esta ficando apertado em torno
do estomago.
Com raiva, a Bruxa percebe que ela esta se encontrando com algum homem, ela corta a trança de
Rapunzel que a expulsa da torre, colocando-a em um deserto das proximidades. Depois espera o príncipe
chegar, e joga as tranças de Rapunzel, assim que ele sobe o cabelo, fica frente a frente com a Bruxa, então
ela o empurra lá de cima, e ele cai em espinheiro que o fura os olhos, assim tornando-se cego.
Rapunzel e o príncipe ficam separados um tempo no começo, mas depois quando ele caminha
mesmo batendo nas arvores, escuta uma musica como se tivesse escutado pela primeira vez quando
conhece Rapunzel, assim os dois se encontram e as lagrimas de Rapunzel curam a cegueira do príncipe,
logo após isso, ele leva Rapunzel ao sei reino, e podemos dizer que este é um final feliz, mas ninguém sabe
o que aconteceu com a Bruxa ou os filhos de Rapunzel.
Moral da Rapunzel Original: O amadurecimento de uma criança para a vida adulta não pode ser
interrompido, e as mulheres grávidas podem ter desejos estranhos enquanto estão grávidas.
Disponível em: http://misteriosfantasticos.blogspot.com.br/2011/08/rapunzel.html. Acesso em: 03 de Agosto de 2017.
TEXTO 09
SINOPSE E DETALHES
Data de lançamento 9 de novembro de 2016 (1h 41min)
Direção: Byron Howard, Nathan Greno
Elenco: Luciano Huck, Mandy Moore, Zachary Levi mais
Gêneros Animação, Família
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Nacionalidade EUA
Flynn Ryder (Zachary Levi/Luciano Huck) é o bandido mais
procurado e sedutor do reino. Um dia, em plena fuga, ele se esconde
em uma torre. Lá conhece Rapunzel (Mandy Moore), uma jovem
prestes a completar 18 anos que tem um enorme cabelo dourado, de
21 metros de comprimento. Rapunzel deseja deixar seu confinamento
na torre para ver as luzes que sempre surgem no dia de seu
aniversário. Para tanto, faz um acordo com Flynn. Ele a ajuda a fugir
e ela lhe devolve a valiosa tiara que tinha roubado. Só que a mamãe Gothel (Donna Murphy), que manteve
Rapunzel na torre durante toda a sua vida, não quer que ela deixe o local de jeito nenhum.
Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-135523/. Acesso em: 04 de Agosto de 2017.
 TEXTO 10
Poema – Profundamente, de Manuel Bandeira
Profundamente
Manuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos
dormindo
Estavam todos
deitados
Dormindo
Profundamente.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel
Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001,
pág. 81.
 TEXTO 11
A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS
Resenha "A Menina que roubava livros", de Markus Zusak.
20
Zusak, M. A menina que roubava livros. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.
Markus Zusak encontrou um meio de escrever um romance ímpar que retrata com muita lucidez os
horrores do período Hitleriano, da própria Segunda Guerra Mundial. Uma jovem durante o período da
Alemanha nazista lutando intimamente para defender seus princípios, por não se deixar manipular pelo
tétrico ideal de Hitler, ao passo que ela amadurece e aflora para o primeiro amor, um sentimento platônico.
Zusak ainda chama a atenção para algo muito importante: o poder das palavras, a influência delas sobre o
ser humano; o que elas conseguiam – e ainda hoje o logram - levar as pessoas a crer e a fazer.
O livro é uma narrativa da Morte, seu foco é a vida de Liesel e o
que a ela for relacionado. Organiza-se em dez partes, cada qual com
cerca de quarenta páginas, mais o prólogo onde a narradora apresenta a
ela mesma e a nossa protagonista e ainda um epílogo falando sobre a
morte de Liesel e o destino de alguns dos personagens secundários.
Posteriormente há uma parte dedicada aos agradecimentos do autor e
um trecho falando sobre ele.
Nossa narradora mostra-se muito diferente do juízo que lhe fazemos. Em partes do livro ela busca
dialogar com o leitor, mostrando que apesar de não ser humana, tem de certa forma sentimentos. Empós
apresentar-se ela explica o porquê de seu interesse em Liesel: “O que, por sua vez, me traz ao assunto de
que lhe estou falando [...]. É a história de um desses sobreviventes perpétuos – uma especialista em ser
deixada para trás. ”. Ao final do livro ela reafirma algo que deixa bem claro durante a história: “Os seres
humanos me assombram”...
“A menina que roubava livros” conta a história de uma menina de nome Liesel Meminger que,
durante uma viagem de trem com destino a cidade alemã de Molching, ao despertar encontra o seu irmão
que viajava a seu lado, morto. No trajeto é feita uma parada para inumar o menino, e, é no cemitério onde
nossa protagonista faz o primeiro de seus roubos: um dos coveiros, incauto, deixa cair à neve um livro
intitulado “Manual do Coveiro”. Em chegando a cidade de destino, Liesel descobre que seria entregue a
uma família adotiva; reluta muito em partir dos braços da mãe consanguínea, mas acaba cedendo. Nossa
protagonista passa a viver com Hans e Rosa Hubermann, sua nova parentela. A partir de então, Liesel ao
decorrer da história, recebe letramento, faz amizades e, passa a roubar livros
da biblioteca da mulher do prefeito, Ilsa Hermann (com certo consentimento
da proprietária). Ao lado de seu amigo Rudy, ela constrói uma amizade
solidária e uma cumplicidade nos furtos, além de um amor castiço e terno.
Ao fim do livro, a cidade de Molching é bombardeada pelas forças
Aliadas e, não em tempo as sirenes de alerta foram acionadas. Foi uma
chacina. Liesel foi, quiçá, a única sobrevivente da Rua Himmel. Ela passara as
noites no porão da humilde casa de número 33, escrevendo em seu livro – um
diário que lhe fora presenteado por Ilsa Hermann alguns dias antes. Ora
novamente órfã Liesel é adotada por Ilsa Hermann e seu marido. Ilsa perdera o
único filho alguns anos antes - o rapaz lutava na guerra. Liesel Meminger cresce, vai morar em Sydney,
constitui família e morre em idade avançada.
21
Esta obra literária devo admitir, aprazou a este que vos escreve. A ideia de Markus Zusak ao grafar
um drama cujo cenário é a Alemanha nazista, retratando os horrores desse período, é deveras interessante.
Uma jovem menina que vê (assim qual uma minoria de outras pessoas alemãs) um absurdo nos ideais de
Hitler, mas, por coação, mantém a aparência de nazista, muito embora, durante parte da história os
Hubermann e Liesel abriguem secretamente um judeu em seu porão.
O livro mostra o caos que foi a Alemanha nesse período: íncolas alemães passando fome com o
racionamento de víveres, o temor de ser considerado um traidor ou mesmo de ser alvo de desconfianças por
parte dos membros do partido nazista, a coerção para que todos se alistassem a essa facção e, a perseguição
aos que se negavam. O fanatismo de maioria dos alemães, o nacionalismo exagerado, a arrogância. A
perseguição aos judeus e a quem não fosse etnicamente alemão. O sofrimento das famílias – não só judias,
mas inclusive alemãs como também russas e outras tantas - que perdiam seus parentes nas batalhas; das
mães que perderam seus filhos ainda pequenos por conta dos bombardeios; pessoas que foram mutiladas
pelo conflito. Atrocidades tamanhas que expõem o lado mãos sombrio, perverso e dantesco da natureza
humana, capaz de apavorar até mesmo a singular narradora (“os seres humanos me assombram”).
Esta obra possui sem dúvida valor pedagógico; como sempre indigitando o mérito da Literatura
qual instrumento de granjear conhecimentos vários. Trata-se de um texto mais indicado, talvez, a alunos a
partir do segundo ano do Ensino Médio, dada a qualidade do escrito.
Markus Frank Zusak nasceu em Sydney em 23 de junho de 1975, é famoso pelo seu Best-seller
internacional “A menina que roubava livros”, também é autor de “Fighting Ruben Wolf”, “Getting the
Girl”, “Eu sou o mensageiro”, dentre outros, todos recebidos com críticas resplandecentes às revistas
Publishers Weekly, School Library Journal, KLIATT, The Bulletin e Booklist. Recebeu o Prêmio Livro do
Ano para Leitores Mais Velhos, concedido pelo Conselho Australiano de Livros Infantis.
Farias, M.S. "Resenha de 'A menina que roubava livros', de Markus Zusak". Junho de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Disponível em: http://livredialogo.blogspot.com.br/2012/06/resenha-do-livro-menina-que-roubava.html Acesso em: 15 de agosto de 2017.
 TEXTO 12
A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS
Sinopse do Filme:
Adaptação de A Menina que Roubava Livros, do australiano Markus Zusak, o filme acompanha a
história de Liesel Meminger (interpretada pela canadense Sophie Nélisse. Durante a Segunda Guerra
Mundial, Liesel e seu irmão são deixados pelos pais e adotados por um casal vivido por Geoffrey Rush (O
Discurso do Rei) e Emily Watson (Anna Karenina). O garoto morre no trajeto e é enterrado por um
coveiro que deixa cair um livro na neve. Ela aprende a ler com o incentivo de sua nova família e Max, um
judeu refugiado que eles escondem baixo às escada. Para Liesel e Max, o poder das palavras e da
imaginação se transformam em escape dos tumultuosos eventos que acontecem ao seu redor. Em meio ao
caos, a jovem encontra refúgio na literatura para sobreviver. Ajudada por seu pai adotivo, ela passa a
roubar livros e descobrir neles a esperança perdida durante a guerra.
Disponível em: http://cinema10.com.br/filme/a-menina-que-roubava-livros. Acesso em: 19 de agosto de 2017.
22
 TEXTO 13
DIFERENÇA ENTRE: ÁGAPE, EROS E PHILOS
Daniel Conegero
A palavra amor é bastante ampla. Afinal, o amor que você sente por um irmão, por exemplo, é
diferente do que sente por um marido ou esposa. A palavra Ágape, que é de origem grega, representa um
dos tipos de amor. Além desta, existem outras que representam os outros tipos de amor, são elas: Eros e
Philos. Um complementa o outro.
Eros: A palavra grega “Eros” é usada para designar o amor romântico. Um
tipo de amor bem exemplificado pelo amor entre um homem e uma mulher.
Ágape: Já a palavra ágape fica melhor traduzida por amor de Deus. Deus é
ágape, ou seja, amor. O termo grego significa, portanto, o amor
característico de Deus. É lógico que esse amor é diferente do afeto humano,
que pode transformar-se em ódio da noite para o dia, no entanto, o amor
ágape nunca falha.
Philos: De certa forma, o amor Philos também tem um pouco do amor fraternal Ágape, pois se refere à
amizade, ao sentimento que se tem pelas pessoas que te cercam. Porém, se diferencia porque não chega a
ser espiritual, é mais um sentimento relacionado ao pensamento, é algo mental. É usada para descrever
aquele amor que tem como principal característica o companheirismo, a amizade, a bondade para com o
próximo.
Então, basicamente podemos dizer que:
1º - Eros se refere ao amor apaixonado, geralmente transmitindo entre duas pessoas que se atraem.
2º - Philos se refere ao amor que expressa nosso gosto ou predileção por alguém, isto é, o amor por pessoas
próximas a nós, como amigos e familiares.
3º - Ágape é algo muito mais elevado, um amor que tem origem divina e transcende os sentidos meramente
humanos. Enquanto eros e philos podem ser entendidos como sentimentos condicionais que geram
benefícios, ágape é incondicional e sacrifical. Ágape é o tipo de amor que devemos amar a Deus e ao
próximo, mesmo que esse próximo sejam pessoas que não gostamos.
Disponível em: http://www.culturamix.com/cultura/agape/ acesso em: 15 de agosto de 2017.
 TEXTO 14
PRESSÁGIO
Fernando Pessoa
O AMOR, quando se
revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que
sente
Não sabe o que há de
dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
"Fernando Pessoa - Obra Poética - Inéditas", Cia. José
Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 513
23
 TEXTO 15
Tirinha “DESENHOS DE UM GAROTO SOLITÁRIO”
Disponível em: http://meucantinhodeecorado.blogspot.com.br/2013/12/fofura-do-dia-eu-te-asmo.html Acesso em; 15 de agosto
de 2017.
 TEXTO 16
ÚLTIMO ROMANCE
Los Hermanos
Eu encontrei-a quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei
E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena
Ah, vai
Me diz o que é o sufoco
Que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia
Eu levo essa casa numa sacola
Eu encontrei-a e quis duvidar
Tanto clichê, deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor
E só de te ver, eu penso em trocar
A minha TV, num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir aonde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar
Ah, vai
Me diz o que é o sossego
Que eu te mostro amor
A fim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona
Pra te acompanhar
Disponível em: https://www.letras.mus.br/los-hermanos/67547/ Acesso
em: 15 de agosto de 2017
.TEXTO 17
24
Segredos
Frejat
Eu procuro um amor
Que ainda não encontrei
Diferente de todos que amei
Nos seus olhos quero descobrir
Uma razão para viver
E as feridas dessa vida
Eu quero esquecer
Pode ser que eu a encontre
Numa fila de cinema
Numa esquina
Ou numa mesa de bar
Procuro um amor
Que seja bom pra mim
Vou procurar
Eu vou até o fim
E eu vou tratá-la bem
Pra que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos
Hum! Hum! Huuuum!
Eu procuro um amor
Uma razão para viver
E as feridas dessa vida
Eu quero esquecer
Pode ser que eu gagueje
Sem saber o que falar
Mas eu disfarço
E não saio sem ela de lá
Procuro um amor
Que seja bom pra mim
Vou procurar
Eu vou até o fim
E eu vou tratá-la bem
Pra que ela não tenha
medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos
Hum! Hum! Huuuum!
Hum! Hum! Huuuum!
Procuro um amor
Que seja bom pra mim
Vou procurar
Eu vou até o fim
Eu procuro um amor
Que seja bom pra mim
Vou procurar
Eu vou até o fim
Disponível em: https://www.letras.mus.br/frejat/64374/
acesso em: 15 de agosto de 2017.
TEXTO 18
Sinopse do filme Marley & Eu
John e Jenny eram jovens, apaixonados e estavam começando a sua vida juntos,
sem grandes preocupações, até ao momento em que levaram para casa Marley,
"uma bola de pêlo amarelo em forma de cachorro", que, rapidamente, se
transformou num labrador enorme e encorpado de 43 quilos.Era um cão como
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não havia outro nas redondezas: arrombava portas, esgadanhava paredes, babava nas visitas, comia roupa
do varal alheio e abocanhava tudo a que pudesse. De nada lhe valeram os tranquilizantes receitados pelo
veterinário, nem a "escola de boas maneiras", de onde, aliás, foi expulso. Mas, acima de tudo, Marley tinha
um coração puro e a sua lealdade era incondicional. Imperdível.
Disponível em: http://www.cafecomfilme.com.br/filmes/marley-e-eu acesso em: 15 de agosto de 2017.
 TEXTO 19
CENAS DO HQ - MULHER MARAVILHA: TERRA UM
26
27
28
 TEXTO 20
ENTRE A ESPADA E A ROSA
Marina Colasanti
Qual é a hora de casar, senão aquela em que o coração diz "quero"? A hora que o pai escolhe. Isso
descobriu a Princesa na tarde em que o Rei mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que, tendo decidido
fazer aliança com o povo das fronteiras do Norte, prometera dá-la em casamento ao seu chefe. Se era velho
e feio, que importância tinha frente aos soldados que traria para o reino, às ovelhas que poria nos pastos e
às moedas que despejaria nos cofres? Estivesse pronta, pois breve o noivo viria buscá-la.
De volta ao quarto, a Princesa chorou mais lágrimas do que acreditava ter para chorar. Embotada na
cama, aos soluços, implorou ao seu corpo, a sua mente, que lhe fizesse achar uma solução para escapar da
decisão do pai. Afinal, esgotada, adormeceu.
E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou. E ao acordar de manhã, os olhos ainda ardendo
de tanto chorar, a Princesa percebeu que algo estranho se passava. Com quanto medo correu ao espelho!
Com quanto espanto viu cachos ruivos rodeando-lhe o queixo! Não podia acreditar, mas era verdade. Em
seu rosto, uma barba havia crescido.
29
Passou os dedos lentamente entre os fios sedosos. E já estendia a mão procurando a tesoura, quando
afinal compreendeu. Aquela era a sua resposta. Podia vir o noivo buscá-la. Podia vir com seus soldados,
suas ovelhas e suas moedas. Mas, quando a visse, não mais a quereria. Nem ele nem qualquer outro
escolhido pelo Rei.
Salva a filha, perdia-se porém a aliança do pai. Que tomado de horror e fúria diante da jovem barbada, e
alegando a vergonha que cairia sobre seu reino diante de tal estranheza, ordenou-lhe abandonar o palácio
imediatamente.
A Princesa fez uma trouxa pequena com suas jóias, escolheu um vestido de veludo cor de sangue. E,
sem despedidas, atravessou a ponte levadiça, passando para o outro lado do fosso. Atrás ficava tudo o que
havia sido seu, adiante estava aquilo que não conhecia.
Na primeira aldeia aonde chegou, depois de muito caminhar, ofereceu-se de casa em casa para fazer
serviços de mulher. Porém ninguém quis aceitá-la porque, com aquela barba, parecia-lhes evidente que
fosse homem. Na segunda aldeia, esperando ter mais sorte, ofereceu-se para fazer serviços de homem. E
novamente ninguém quis aceitá-la porque, com aquele corpo, tinham certeza de que era mulher.
Cansada mas ainda esperançosa, ao ver de
longe as casas da terceira aldeia, a Princesa pediu
uma faca emprestada a um pastor, e raspou a
barba. Porém, antes mesmo de chegar, a barba
havia crescido outra vez, mais cacheada, brilhante e
rubra do que antes.
Então, sem mais nada pedir, a Princesa vendeu
suas jóias para um armeiro, em troca de uma
couraça, uma espada e um elmo. E, tirando do
dedo o anel que havia sido de sua mãe, vendeu-o
para um mercador, em troca de um cavalo. Agora,
debaixo da couraça, ninguém veria seu corpo, debaixo do elmo, ninguém veria sua barba. Montada a
cavalo, espada em punho, não seria mais homem, nem mulher. Seria guerreiro.
E guerreiro valente tornou-se, à medida que servia aos Senhores dos castelos e aprendia a manejar as
armas. Em breve, não havia quem a superasse nos torneios, nem a vencesse nas batalhas. A fama da sua
coragem espalhava-se por toda parte e a precedia. Já ninguém recusava seus serviços. A couraça falava
mais que o nome. Pouco se demorava em cada lugar. Lutava cumprindo seu trato e seu dever, batia-se com
lealdade pelo Senhor. Porém suas vitórias atraíam os olhares da corte, e cedo os murmúrios começavam a
percorrer os corredores. Quem era aquele cavaleiro, ousado e gentil, que nunca tirava os trajes de batalha?
Por que não participava das festas, nem cantava para as damas? Quando as perguntas se faziam em voz
alta, ela sabia que era chegada a hora de partir. E ao amanhecer montava seu cavalo, deixava o castelo, sem
romper o mistério com que havia chegado.
Somente sozinha, cavalgando no campo, ousava levantar a viseira para que o vento lhe refrescasse o
rosto acariciando os cachos rubros. Mas tornava a baixá-la, tão logo via tremular na distância as bandeiras
de algum torreão.
Assim, de castelo em castelo, havia chegado àquele governado por um jovem Rei. E fazia algum tempo que
ali estava.
Desde o dia em que a vira, parada diante do grande portão, cabeça erguida, oferecendo sua espada,
ele havia demonstrado preferi-la aos outros guerreiros. Era a seu lado que a queria nas batalhas, era ela que
chamava para os exercícios na sala de armas, era ela sua companhia preferida, seu melhor conselheiro.
Com o tempo, mais de uma vez, um havia salvo a vida do outro. E parecia natural, como o fluir dos dias,
que suas vidas transcorressem juntas. Companheiro nas lutas e nas caçadas, inquietava-se porém o Rei
vendo que seu amigo mais fiel jamais tirava o elmo. E mais ainda inquietava-se, ao sentir crescer dentro de
30
si um sentimento novo, diferente de todos, devoção mais funda por aquele amigo do que um homem sente
por um homem. Pois não podia saber que à noite, trancado o quarto, a princesa encostava seu escudo na
parede, vestia o vestido de veludo vermelho, soltava os cabelos, e diante do seu reflexo no metal polido,
suspirava longamente pensando nele.
Muitos dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava vê-la. E outros tantos em
que, percebendo que isso não a afastava da sua lembrança, mandava chamá-la, para arrepender-se em
seguida e pedia-lhe que se fosse.
Por fim, como nada disso acalmasse seu tormento, ordenou que viesse ter com ele. E, em voz áspera, lhe
disse que há muito tempo tolerava ter a seu lado um cavaleiro de rosto sempre encoberto. Mas que não
podia mais confiar em alguém que se escondia atrás do ferro. Tirasse o elmo, mostrasse o rosto. Ou teria
cinco dias para deixar o castelo.
Sem resposta, ou gesto, a Princesa deixou o salão, refugiando-se no seu quarto. Nunca o Rei poderia
amá-la, com sua barba ruiva. Nem mais a quereria como guerreiro, com seu corpo de mulher. Chorou todas
as lágrimas que ainda tinha para chorar. Dobrada sobre si mesma, aos soluços, implorou ao seu corpo que
lhe desse uma solução. Afinal, esgotada, adormeceu.
E na noite seu mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou. E ao acordar de manhã, com os olhos
inchados de tanto chorar, a Princesa percebeu que algo estranho se passava. Não ousou levar as mãos ao
rosto. Com medo, quanto medo! Aproximou-se do escudo polido, procurou seu reflexo. E com espanto,
quanto espanto! Viu que, sim, a barba havia desaparecido. Mas em seu lugar, rubras como os cachos, rosas
lhe rodeavam o queixo.
Naquele dia não ousou sair do quarto, para não ser denunciada pelo perfume, tão intenso, que ela própria
sentia-se embriagar de primavera. E perguntava-se de que adiantava ter trocado a barba por flores, quando,
olhando no escudo com atenção, pareceu-lhe que algumas rosas perdiam o viço vermelho, fazendo-se mais
escuras que o vinho. De fato, ao amanhecer, havia pétalas no seu travesseiro.
Uma após a outra, as rosas murcharam, despetalando-se lentamente. Sem que nenhum botão viesse
substituir as flores que se iam. Aos poucos, a rósea pele aparecia. Até que não houve mais flor alguma. Só
um delicado rosto de mulher.
Era chegado o quinto dia. A Princesa soltou os cabelos, trajou seu vestido cor de sangue. E, arrastando a
cauda de veludo, desceu as escadarias que a levariam até o Rei, enquanto um perfume de rosas se
espalhava no castelo.
Disponível em: http://nucleoatmosfera.blogspot.com.br/2009/07/entre-espada-e-rosa-conto-
de-marina.html. Acesso em: 19 de agosto de 2017.
 TEXTO 21
Ontologias visuais incompatíveis?
A adaptação problemática de imagens
Desenhadas
Pascal Lefévre
Tradução * de Camila Augusta Pires de Figueiredo.
O famoso diretor francês Alain Resnais (THOMAS, 1990, p. 247) revelou sua visão negativa sobre
adaptações fílmicas de quadrinhos em 1990. Adaptações de quadrinhos dificilmente ganham
reconhecimento canônico e raramente aparecem nas listas de melhores filmes de todos os tempos.
31
Não só essas adaptações dificilmente agradam os críticos, mas também não parecem ter um grande
apelo junto aos leitores de quadrinhos. Críticos de cinema e fás de quadrinhos parecem concordar que é
difícil produzir um bom filme a partir de uma HQ.5 Já o público de cinema é menos severo. Ainda assim,
algumas adaptações de quadrinhos foram grandes sucessos de bilheteria, dentre elas Superman, de Richard
Donner (1978), Batman, de Tim Burton (1989), Homens de Preto, de Barry Sonnenfeld (1997) e Homem-
Aranha, de Sam Raimi (2002). O sucesso dos quadrinhos que serviram como base para as adaptações não
explica completamente o sucesso das adaptações fílmicas; tais filmes parecem atrair um público que
raramente lé quadrinhos. Além disso, todas essas adaptações geraram um grande número de sequências
cinematográficas. Adaptações de quadrinhos parecem ser populares tanto quanto controversas. Enquanto
alguns analistas (PEETERS, 1996)7 reconhecem aspectos criativos de algumas adaptações, outros críticos
(FREMION, 1990, p. 166) declaram abertamente que a adaptação é preferida por aqueles com talento
medíocre. Alguns artistas de quadrinhos chegam a se opor à ideia de uma adaptação fílmica. Art
Spiegelman, por exemplo, não gostaria de ver Maus adaptado como um filme live action porque considera
o estilo metafórico da narrativa essencial e impossível de ser adaptado por outra mídia que não a dos
quadrinhos.
Contudo, por várias vezes já foi dito que existe uma maior proximidade entre o cinema e os
quadrinhos do que entre o cinema e outras artes visuais (CHRISTIANSEN, 2000, p. 107; COSTA, 2002, p.
24). Filmes e HQs são mídias que contam histórias através de séries de imagens: o espectador vê pessoas
atuando — enquanto em um romance as ações devem ser descritas verbalmente. Mostrar é narrar no
cinema e nas HQs. Porém, enquanto as narrativas fílmicas clássicas situam o espectador no centro do
espaço diegético, os quadrinhos, por outro lado, estão firmados em uma tradição parodística
(CHRISTIANSEN, 2000, p. 118). Desde o século dezenove, a maioria dos quadrinhos tem como principal
característica o uso de deformações, geralmente caricaturais, em diversos graus. Do mesmo modo, a
disputa entre textos e figuras e o fato que as figuras são
desenhadas lembram o leitor de sua condição artificial. Além
disso, filmes e HQs diferem significativamente não apenas na
maneira como são vivenciadas e recebidas pelo público, mas
também em sua forma material. Isso introduz várias
questões problemáticas para uma adaptação de uma HQ para
um filme live action. Em particular, a ontologia visual do
desenho parece ser uma questão central, como será
demonstrado neste ensaio. Mas, além disso, há também o
problema da primazia: normalmente, as pessoas preferem a
primeira versão que encontram de uma história. Quando você lê um romance antes, você forma uma
imagem mental pessoal do mundo fictício e quando você lê uma HQ antes, você constrói uma ideia visual
cinética daquilo. Qualquer adaptação fílmica tem de lidar com essas primeiras interpretações e imagens
pessoais: torna-se extremamente difi'cil exorcizar essas primeiras impressões.
Neste artigo, o termo "adaptação" é usado em um sentido amplo, incluindo também filmes
diretamente inspirados por uma determinada HQ ou série de HQs.1° Adaptações em formato de animação
não serão discutidas. Adaptações em animação merecem uma análise própria, mas a maioria dos problemas
de adaptações live action também assombrará as versões em animação.
Diferentemente das únicas e originais obras de pintura e escultura, apenas cópias de filmes e HQs
são distribuídas e consumidas. O filósofo de arte Walter Benjamim argumentou que a aura da obra de arte
se deteriorou na era da reprodução mecânica porque o objeto reproduzido é separado do domínio da
tradição. Apesar de dividirem uma similaridade fundamental (consumo em massa), filmes e HQs ainda
32
possuem algumas diferenças em relação ao modo de recepção e de consumo. As duas diferenças principais
são a forma material das imagens e os aspectos sociais da recepção. A diferença no modo de recepção ou
de consumo é a atividade individual (quadrinhos) contra a experiência em grupo (cinema). Enquanto a
leitura de uma HQé uma ação solitária, assistir a um filme no cinema é geralmente uma experiência em
grupo: as pessoas se reúnem em salas de ci,nema em determinados momentos para assistirem a um filme
juntas. Muitos espectadores compartilham emoções ao mesmo tempo: eles riem e choram juntos. Reações
de outros espectadores podem facilitar essas respostas emocionais durante uma exibição. Ler uma HQ, ao
contrário, não envolve uma troca emocional direta com outras pessoas. Apenas quando a leitura chega ao
final, o leitor da HQ pode compartilhar suas emoções com outros. A exibição de um filme exige atenção
por parte do espectador, uma vez que o lugar escuro, a luz da projeção e a música alta ajudam a manter
uma atmosfera aural e mantêm espectadores atentos à ação reproduzida na tela. Ler uma HQ, no entanto,
necessariamente não acontece em um ambiente tão desprovido de distrações. Ainda assim, o leitor pode se
isolar fisicamente e mentalmente.
Não só a recepção, mas também a produção da HQ e do filme é diferente. Por necessidade, a
produção de um filme implica uma maior organização e orçamento do que a produção de uma HQ. A parte
criativa no filme é feita por um grupo de pessoas (escritor, fotógrafo, diretor, ator, editor, entre outros),
enquanto as ações de desenhar e escrever uma HQ podem ser feitas por um grupo pequeno ou por apenas
uma pessoa. Este ensaio, entretanto, enfatiza as diferenças visuais entre as duas mídias. Apesar de uma
aparente concordância — ao menos quando comparamos filmes e romances — o ato de justapor suas
ontologias visuais inerentes traz à tona as razões pelas quais os
fás de quadrinhos podem literalmente "ver" adaptações
fílmicas muitas vezes como infiéis e até mesmo desrespeitosas.
Existem quatro principais problemas na adaptação de
quadrinhos para o cinema e três deles estão relacionados às
características da mídia dos quadrinhos: os quadros são
organizados em uma página, os quadros possuem desenhos
estáticos e uma HQ não produz ruídos ou sons. O filme é bem
diferente. Primeiramente, existe o enquadramento da tela; segundo, as imagens são móveis e fotográficas;
terceiro, o filme possui uma trilha sonora. Essas diferenças nas características das duas mídias se revelam
como os quatro problemas da adaptação, a dizer do (1) processo de subtração/adição que ocorre na
reescrita de textos quadrinizados originais para o filme; (2) as características únicas do layout da página e
da tela do filme; e (3) os dilemas da tradução de desenhos para a fotografia; e (4) a importância do som no
filme comparada ao "silêncio" dos quadrinhos. Diante de tais problemas, talvez a questão principal sobre a
adaptação fílmica de quadrinhos não seja "quão fiel/respeitoso á HQ o filme será", mas "quão menos
diferente da HQ pode o filme ser?"
A questão inicial para a maioria das adaptações é se os roteiristas seguirão ou não a narrativa como
apresentada na HQ, ou se eles tomarão o material existente apenas como um ponto inicial interessante para
escrever uma nova história com vários acréscimos. Poucas adaptações respeitam meticulosamente a
narrativa de uma determinada HQ. Todo profissional do cinema sabe que essa é uma mídia que possui suas
próprias leis e regras. Uma adaptação direta raramente é uma boa opção: alguns elementos podem
funcionar maravilhosamente em uma HQ, mas podem não funcionar no contexto de um filme. Geralmente
o roteirista de um filme tem de eliminar algumas cenas, acrescentar outras, além de desenvolver
personagens principais ou introduzir outros novos. Por exemplo, os dois policiais da HQ Do Inferno
(Moore e Campbell) são combinados em somente um personagem no filme. A necessidade de tais
modificações na maior parte das vezes é simplesmente consequência das normas de duração da narrativa
que é diferente nas duas mídias. Considerando que a versão quadrinizada de Do Inferno tem centenas de
33
páginas, nem todas as sequências desenhadas foram filmadas. Assim, o texto original é inevitavelmente
alterado. Alan Moore, criador de Do Inferno, (MOUCHART, 2004, p30) explica que não se importa muito
com adaptações: "Eu me forço a não ter uma opinião [sobre adaptações]. Aqueles filmes não se parecem
com os meus livros. Se são bons filmes, é mérito dos diretores. Não tem nada a ver comigo. O mesmo
acontece se os filmes são medíocres. Eu me interesso em vê-los, mas uma vez que eu não gosto de
trabalhar para Hollywood e cinema não é uma das minhas mídias preferidas, eu não me sinto muito
envolvido nestes projetos."
A maioria dos criadores de quadrinhos (como Daniel
Clowes, Stan Lee, Enki Bilal) entende que um filme geralmente
necessita de mudanças em relação ao material original. Enki Bilal
enfatiza que Immortel não é uma adaptação de sua trilogia
Nikopol, mas uma reescrita (réécriture) desta. Em uma entrevista ele
explica que foi importante — dentre outras coisas —incluir alguns
assuntos em voga hoje em dia e esquecer outros aspectos
(BERNIÈRE, 2005, p. 12).
Ao contrário dos artistas, os apaixonados fãs das obras
originais raramente aplaudem tais reescritas. Por exemplo, as mudanças nos figurinos e nas motivações dos
personagens nos filmes X-Men desagradaram
alguns fás (LEE, 2000). Os lança teias orgânicos
do Homem-Aranha no filme de Sam Raimi
parecem representar um problema para alguns fãs
porque na versão original da história em
quadrinhos os lança teias foram uma invenção
tecnológica do jovem cientista Peter Parker.
Quando Kenneth Plume perguntou a Stan Lee,
criador do Homem-Aranha, sobre essa questão ele
respondeu que a versão do filme funcionou:
"Talvez alguns puristas que conhecem a HQ
devem pensar 'Puxa, eles não fizeram da maneira que era nos quadrinhos' mas a pessoa comum assistindo
ao filme não teria problema com as teias saindo de suas mãos daquela maneira" (LEE, 2000). Alguns fãs de
quadrinhos tendem a idolatrar a obra original e escrutinizam uma adaptação fílmica por supostas falhas ou
erros de interpretação. Quase todas as tentativas de adaptação se tornam, aos olhos destes, algum tipo de
traição. Além disso, tais adaptações fílmicas oferecem aos fás de super-heróis uma oportunidade única de
exibirem seu conhecimento quase autista-savant1de uma determinada série de quadrinhos de super-heróis.
Aos olhos do grande público e, em particular, da elite cultural, esses fãs de super-heróis não são bem
vistos: ler histórias em quadrinhos de super-heróis é geralmente associado a um comportamento infantil.
O dilema então é: um filme que segue muito fielmente uma HQ raramente será um bom filme. Uma
vez que se trata de outra mídia com outras características e regras, o diretor tem de modificar a obra
original. Assim como em um filme histórico, não é possível representar as situações exatamente como elas
eram; é, portanto, bem mais importante tentar ser fiel ao espírito da obra original. Com certeza, cada
decisão está aberta a discussão e nem todas as decisões de um diretor são necessariamente boas.
O segundo problema se relaciona à transição do layout da página para a imagem em uma única tela.
Enquanto as imagens dos quadrinhos são em sua maior parte impressas no papel, as imagens do filme são
projetadas em uma tela, tipicamente widescreen em uma sala de cinema ou na tela de televisão em casa.
34
Essa diferença é importante porque as páginas de uma HQ estão mais próximas do que as imagens
projetadas de um filme. São os leitores que folheiam as páginas da HQ e escolhem sua própria velocidade
de leitura. Eles podem se delongar em um quadro, contemplar o plano completo e retornar para quadros ou
sequências inteiras quando bem entenderem. Um filme, no entanto, obriga o espectador a seguir o ritmo
das sequências. No filme, as cenas são colocadas em uma sequência linear-temporal; nos quadrinhos, os
quadros não só são colocados em uma sequência linear, mas também em um espaço maior, a dizer, a
página. Neste sentido, os quadrinhos são uma mídia mais espacial do que o filme. No cinema, a filmagem e
a montagem são duas fases muito distintas. Nos quadrinhos, a ilustração dos quadros e a combinação dos
quadros em uma página não podem ser facilmente separadas: as escolhas em um campo têm consequências
no outro campo (GROENSTEEN, 1990, p.28).
Extraído do livro: Intermidialidade-e-Estudos-Interartes-Desafios-da-Arte-Contemporânea-2 – 2012.

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Módulo Didático: Luz, CLIC e Ação: A Reciprocidade Cultural entre a Literatura e a Arte Cinematográfica (2017.2)

  • 1. PROJETO: Cultura, Literatura e Criatividade: Do erudito ao popular – CLIC COORDENADORA DA ÁREA DE LETRAS: Magliana Rodrigues da Silva ESCOLA PARTICIPANTE: E.E.E. Fundamental e Médio Professor Raul Córdula SUPERVISORA DA ESCOLA: Diana Nunes Ramalho LICENCIANDOS EM LETRAS: Ana Daniele F. Silva Andreia Aparecida M. Martins Arthur Velázquez F. de Carvalho Nathália Pinto Souza ALUNO (A):__________________________________________
  • 3. 3  TEXTO 01 A RETOMADA DO GÊNERO MUSICAL Amanda de Castro Melo Souza, Nicole Santaella, Patrícia Castilho, Pedro Garcia e Zoe Sá Dall’Igna* 1. O surgimento dos musicais Desde o início, o cinema flertava com o som por meio do acompanhamento sonoro (feito por orquestras, pequenos grupos musicais ou mesmo, gravações) que, geralmente, acompanhava as suas exibições. Já havia uma necessidade de inclusão do som no cinema, seja para a eliminação dos letreiros, seja pela criação de uma especifica atmosfera em relação as reações do espectador (criar climas de suspense, terror, amor, entre outros). A Warner estava à beira da falência quando arriscou a produção da ópera Don Juan, o primeiro filme com passagens cantadas. O sucesso encorajou os irmãos Warner a continuar com a experiência sonora até que em 1927 produzem O Cantor de Jazz (Crosland – Com Al Jolson, grande nome da Broadway) que teve grande popularidade entre o publico norte-americano. Com esta produção nasce, junto ao cinema sonoro, o cinema cantado. Com a entrada do som na produção cinematográfica mundial, consolidou-se dentro de grandes estúdios a produção do gênero musical. O primeiro musical, “Broadway Melody”, foi produzido em 1929 e seu êxito provocou uma onda de filmes que rapidamente se tornam populares, assim como os nomes de Fred Astaire, Ginger Rogers e Gene Kelly. Com o cinema sonoro, encenadores da Broadway foram chamados para trabalhar em Hollywood. "The Broadway Melody". Situada em Nova Iorque, a Broadway é a avenida das superproduções onde estão em cartaz há décadas os mais famosos musicais do mundo. Com o advento dos filmes sonoros, a conhecida popularidade dessas peças tornou-se interessante ao cinema, pois muitas pessoas que gostariam de assistir a essas peças, mas não tinham acesso à Broadway, por questões geográficas ou financeiras, seriam um público garantido, uma vez que se adaptasse essas peças para o cinema. Filmes como “A Noviça Rebelde” e “My Fair Lady” foram alguns dos primeiros a serem adaptados dos teatros da Broadway para o cinema, obtendo sucesso de bilheteria e incentivando a continuidade da produção desse tipo de musical. Algum tempo depois, o inverso começa a acontecer, principalmente com filmes de produção da Disney: filmes musicais de sucesso começaram, também, a ser adaptados para peças da Broadway e se mantêm em cartaz até hoje, como é o caso de “O rei leão”, “A Bela e a Fera” e “A pequena sereia”.. 2. O gênero musical Filme musical é um gênero de filme, no qual a narrativa se apóia sobre uma sequência de músicas coreografadas, utilizando música, canções e coreografia como forma de narrativa, predominante ou exclusivamente. Nas primeiras décadas, a maior parte dos musicais, como já foi dito, vinha de adaptações da Broadway, mantendo características “teatrais”: as câmeras geralmente mostravam planos gerais das cenas, como se vê nos teatros, os cenários eram mais limitados e havia poucos objetos ao centro, para que as danças fossem realizadas; os números musicais não faziam tanto parte da narrativa, era uma “parada para cantar” no meio do filme, a apresentação musical, muitas vezes, era diegética, ou seja, os personagens realmente
  • 4. 4 estavam cantando dentro da narrativa; os números musicais também estavam ligados intimamente à dança, o sapateado, principalmente. Uma divisão dos filmes musicais pode ser feita com base no estudo, principalmente, da temática e da abordagem narrativa: os “Musicais Ups” que expõem uma temática alegre e divertida com o típico final feliz e que representam a maioria dos musicais feitos até o final da década de 60, e os “Musicais Downs” com conteúdos engajados socialmente e críticas à sociedade, começam a surgir a partir da década de 70 e não, necessariamente, apresentam um final feliz. 3. Musicais Ups O gênero musical teve seu momento de glória nos anos 1940/50/60, períodos referentes à Crise Econômica Americana, Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria. O filme Musical Up acabou servindo de escape ao contexto da época, por apresentar uma temática leve. Os Musicais Ups, apresentam marcas características como o otimismo e o happy end. Eles nos passam uma visão positiva do mundo através da exposição do amecan way of life. Os personagens que compõe a narrativa são ingênuos e geralmente munidos de qualidades incontestáveis. Dentre as grandes produções desta época podemos destacar: Sinfonia de Paris (An american in Paris,1950), Um dia em Nova York (On the town,1949), A roda da fortuna (The bang wagon,1953), Cantando na chuva (Singin’ in the rain,1952) Amor, sublime amor (West side history,1961) e A noviça rebelde (The sound of music,1965). 4. Musicais Down A comédia Musical Up vive seu período de esgotamento devido a evolução dos costumes da sociedade (consciência ecológica, manifestações contra a guerra, luta pelos direitos das minorias, surgimento da contra cultura e da aldeia global acompanhados da revolução técnico-cientifica) e aos movimentos sociais. Neste novo contexto a produção hollywoodiana se vê obrigada a mudar sua produção musical, o gênero perde a sua ingenuidade e reflete esta nova realidade, desta forma surge o Musical Down. O Musical Down expressa maior afinidade com a realidade econômica, política e social, apresentando uma tendência às denuncias das mazelas da sociedade, Seus personagens apresentam defeitos e qualidades. Podemos citar algumas das produções que se encaixam neste grupo: Jesus Cristo Superstar (Jesus Chirst superstar, 1973), O show deve continuar (All That jazz, 1979), Hair (Hair, 1979), Dançando no escuro (Dancer in the dark, 2000) Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Sweeney Todd: the demon barber of Fleet street, 2007). Disponível em: http://www.rua.ufscar.br/a-retomada-do-genero-musical/ acesso em: 08 de agosto de 2017.  TEXTO 02 HAMLET, PRÍNCIPE DA DINAMARCA. William Shakespeare (Versão adaptada para neoleitore) 1.O Fantasma No terraço do castelo de Elsinor, residência do rei da Dinamarca,Bernardo acabava de assumir o posto de sentinela. A noite estavagelada, e logo chegaram Marcelo e Horácio, dois outros soldados,amigos dele. Os três soldados e o príncipe Hamlet tinham lutado
  • 5. 5 juntos em guerras ao lado do antigo rei, pai do príncipe. Mas ultimamente eles andavamseparados, porque Horácio estava estudandona Universidade de Wittenberg, na Alemanha,acompanhando Hamlet. Marceloperguntou para Bernardo: – Aquela coisa apareceu de novo? – Eu não vi nada... – respondeu oamigo. – O Horácio não quer acreditar nagente – continuou Marcelo. – Ele diz que aquela coisa apavoranteque a gente já viu duas vezes só existe na nossa imaginação. Porisso eu fiz ele ficar de sentinela conosco esta noite. Se aparecer denovo, ele não vai mais duvidar da gente e vai falar com o fantasma... Horácio continuava sem acreditar: – Ora, é claro que não vai aparecer nada. Mal os três amigos sentaram para esperar, Marcelo deu oalarme: – Olhem, ele vem vindo! – É igualzinho ao falecido rei! – exclamou Bernardo. – Não é,Horácio? – É sim, Bernardo. Eu estou paralisado de espanto e de medo. – Você, que é intelectual, fale com ele, Horácio! – disse Marcelo. Horácio enfrentou o fantasma, perguntando: – Quem é você, que aparece usando a armadura do falecidorei? Mas o fantasma foi embora sem responder nada. Bernardo viu que Horácio estava branco, tremendo, e entãoperguntou: – E agora, Horácio, ainda duvida? – Se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos, juro porDeus que não ia acreditar, mas o fantasma é igual ao rei. A armaduradele é igual àquela que o nosso velho rei usava quando a gentelutou contra o rei da Noruega e contra os poloneses. Até o jeito de franzir as sobrancelhas é o do falecido rei. Não sei o que pensar... Sósei que isso é sinal que alguma coisa muito estranha vai acontecerno nosso país. Os três amigos sentaram no chão, e Marcelo perguntou se alguémsabia por que os dinamarqueses estavam construindo tantosnavios e canhões, comprando tantas armas no estrangeiro e passandoo tempo todo de sentinela. Horácio respondeu: - Eu sei: esse fantasma que nos apareceu agora é o pai do nossoamigo, o príncipe Hamlet. Vocês se lembram que o nosso falecidorei e o rei da Noruega, Fortimbrás, disputaram um duelo? Anteseles assinaram um contrato dizendo que quem vencesse ficava com
  • 6. 6 o reino do outro, e o rei Hamlet ganhou. Pois agora o filho do reida Noruega, que também se chama Fortimbrás, está reunindo umexército para tentar recuperar com uma guerra o reino que o paiperdeu numa luta que foi justa, ora! – Isso explica, então, por que o fantasma do rei Hamlet apareceu - concluiu Bernardo. Mas Horácio não estava satisfeito e comentou com os amigosque estavam aparecendo na Dinamarca os mesmos sinais sobrenaturaisque tinham aparecido na Roma Antiga pouco antes da morte deJúlio César, e um desses sinais era que os mortos saíam dos túmulos e andavam entre os vivos.Ele ainda estava falando sobre isso quando o fantasma voltou. Horácio se levantou num pulo e chamou o fantasma, que passoureto por ele. Os três amigos pegaram espadas e lanças e tentaramparar o fantasma à força, mas as armas foram inúteis. O fantasma parou e pareceu que ia falar, quando um galo cantou. O fantasma tremeu e desapareceu da vista dos soldados. – Ele fugiu quando ouviu o galo cantar. Isso prova que o cantodo galo é o sinal para os espíritos errantes voltarem para o lugar deonde vieram – disse Horácio. – Mas está amanhecendo, e o nossohorário de sentinela terminou. Vamos contar para o príncipe Hamleto que aconteceu esta noite. Com ele o espírito vai falar, eu tenho certeza. – Vamos logo – respondeu Marcelo. – Eu sei onde encontrar opríncipe a esta hora da manhã! 2. Uma família real Na sala de cerimônias do castelo, estavam reunidos o reiCláudio, a rainha Gertrudes, o príncipeHamlet e os principais nobres do reino daDinamarca. O rei disse: – Em nossos corações, ainda estamosde luto pelo meu falecido irmão, nosso querido rei Hamlet. Mas nós precisamos pensar no interesse de todoo reino. Eu ouvi os conselhos que vocês me deram e me casei comminha antiga cunhada, a rainha deste país guerreiro. Ao mesmotempo alegres e tristes, nós agradecemos a todos, mas eu chameivocês para tratar de um assunto urgente. O jovem príncipe da Noruega,Fortimbrás, deve estar pensando que a morte de nosso amadoirmão deixou a Dinamarca confusa ou desunida. Ele não para denos provocar e está exigindo a devolução das terras que o pai deleperdeu no duelo com o nosso falecido rei. Todos ali já sabiam aquilo tudo que ele vinha falando até ali eestavam ansiosos para ouvir as providências que o novo rei ia tomar. Cláudio continuou: – Já escrevi para o atual rei da Noruega, que é tio de Fortimbrás.Ele está velho, doente e acamado, e por isso não sabe dos preparativospara a guerra que o sobrinho está fazendo. Na carta, eu exijo queo rei não deixe Fortimbrás nos atacar. Para levar a carta, eu escolhi os nobres que eram donos de grandes propriedadese
  • 7. 7 viviam próximos do poder,em países governados por algum rei.Dois dos mais experientes e leais cavaleirosdesta corte, Cornélio e Voltimando... Os dois nobres se adiantaram, e o reicontinuou: – Levem até o velho r ei norueguês as nossas saudações enegociem com ele. Não tratem de nenhum outro assunto: nós sóqueremos que ele garanta que não vamos ter guerra. Cornélio e Voltimando saíram, e o rei chamou Laertes, filho dePolônio, o conselheiro real. O jovem queria autorização do rei paravoltar para a França, onde estudava na Universidade de Paris. O reideu a permissão, mas só depois de consultar Polônio, que disse queconcordava, apesar de estar preocupado com o filho. Então o rei falou com Hamlet, seu sobrinho e filho do rei falecido: – E agora, caro Hamlet, meu sobrinho e meu filho... Hamlet não gostou de ser chamado de filho por Cláudio, masnão disse nada. – Por que você está com essa cara tão fechada? – perguntouo rei. Como Hamlet continuava chateado, a rainha Gertrudes, mãedele, insistiu: – Querido filho, deixe dessa tristeza toda e veja o novo rei daDinamarca como amigo. Tudo que vive um dia morre. Por que amorte do seu pai parece tão arrasadora para você? – Não parece, senhora, é! Comigo não tem “parecer”. Minhasroupas de luto, meu rosto fechado, minhas lágrimas, tudo isso pode“parecer”, porque qualquer um pode fingir isso, mas o que eu tenhodentro de mim ninguém pode imitar. Diante de todos, Cláudio pediu que Hamlet visse nele umpai. – Que o universo inteiro fique sabendo, Hamlet: você é o herdeirodo meu trono, e eu amo você como um filho muito querido. Eeu não gostaria que você voltasse para a Universidade de Wittenberg.Fique aqui na corte conosco. – Fique, meu filho, por favor – implorou Gertrudes. – Vou fazer o possível para obedecer – respondeu o príncipe. O rei então disse para a rainha que ele estava tão satisfeitocom a decisão de Hamlet que naquele dia todos os brindes seriamacompanhados por tiros de canhão, para que todo o mundo soubessecomo eles estavam felizes. Os arautos tocaram as trombetas, etodos saíram, deixando Hamlet sozinho.O príncipe não conseguia aceitar o casamentoda mãe com o tio, menos de doismeses depois da morte do pai. “Que nojo!”,pensou. “Meu pai era tão carinhoso comela, e ela parecia viver para ele. Mas foi só ele morrer, e ela correupara casar com o irmão dele, que não tinha nenhuma das qualidadesdo meu pai!” O príncipe estava tão triste que chegou a pensarem suicídio. Então, ele balançou a cabeça, desolado, e exclamouem voz alta: – Como as mulheres são frágeis! – E depois, baixando a voz,suspirou: – Isso não vai acabar bem.
  • 8. 8 Nesse momento, entraram Horácio, Bernardo e Marcelo. Hamletficou feliz por ver os amigos, especialmente Horácio, mas o rostodo príncipe voltou a ficar perturbado quando os amigos contaramsobre a aparição do fantasma. – Vocês não falaram com ele? – Eu falei, meu príncipe – disse Horácio –, mas na hora elenão me respondeu. Chegou a levantar a cabeça, como se fossedizer alguma coisa, mas o galo cantou, e o fantasma desapareceuaos poucos. Hamlet encheu os três de perguntas e decidiu que naquelamesma noite ia ficar de guarda junto com eles. – Se meu pai aparecer vou falar com ele, nem que seja noinferno. E vocês, provem que são meus amigos e não contem nadadisso para ninguém! Os três juraram obediência e combinaram que todos iam estarna muralha do castelo um pouco antes da meia- noite. Quandoficou sozinho novamente, Hamlet pensou: “O espírito do meu pai,e armado para guerra! Aí tem coisa... Por que é que a noite nãochega logo?” Disponível em: http://lpm.com.br/livros/Imagens/hamlet_neoleitores.pdf acesso em: 08 de agosto de 2017.  TEXTO 03 CHAPEUZINHO VERMELHO Era uma vez, uma menina tão doce e meiga que todos gostavam dela. A avó, então, a adorava, e não sabia mais que presente dar a criança para agradá-la. Um dia ela presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho. O chapeuzinho agradou tanto a menina e ficou tão bem nela, que ela queria ficar com ele o tempo todo. Por causa disso, ficou conhecida como Chapeuzinho Vermelho. Um dia sua Mãe lhe chamou e lhe disse: - Chapeuzinho, leve este pedaço de bolo e essa garrafa de vinho para sua avó. Ela está doente e fraca, e isto vai faze-la ficar melhor. Comporte-se no caminho, e de modo algum saia da estrada, ou você pode cair e quebrar a garrafa de vinho e ele é muito importante para a recuperação de sua avó. Chapeuzinho prometeu que obedeceria a sua mãe e pegando a cesta com o bolo e o vinho, despediu- se e partiu. Sua avó morava no meio da floresta, distante uma hora e meia da vila. Logo que Chapeuzinho entrou na floresta, um Lobo apareceu na sua frente. Como ela não o conhecia nem sabia que ele era um ser perverso, não sentiu medo algum. - Bom dia Chapeuzinho - saudou o Lobo. - Bom dia, Lobo - ela respondeu. - Aonde você vai assim tão cedinho, Chapeuzinho? - Vou à casa da minha avó. - E o que você está levando aí nessa cestinha?
  • 9. 9 - Minha avó está muito doente e fraca, e eu estou levando para ela um pedaço de bolo que a mamãe fez ontem, e uma garrafa de vinho. Isto vai deixá-la forte e saudável. - Chapeuzinho, diga-me uma coisa, onde sua avó mora? - A uns quinze minutos daqui. A casa dela fica debaixo de três grandes carvalhos e é cercada por uma sebe de aveleiras. Você deve conhecer a casa. O Lobo pensou consigo: "Esta tenra menina é um delicioso petisco. Se eu agir rápido posso saborear sua avó e ela como sobremesa”. Então o Lobo disse: - Escute Chapeuzinho, você já viu que lindas flores há nessa floresta? Por quê você não dá uma olhada? Você não está ouvindo os pássaros cantando? Você é muito séria, só caminha olhando para frente. Veja quanta beleza há na floresta. Chapeuzinho então olhou a sua volta, e viu a luz do sol brilhando entre as árvores, e viu como o chão estava coberto com lindas e coloridas flores, e pensou: "Se eu pegar um buquê de flores para minha avó, ela vai ficar muito contente. E como ainda é cedo, eu não vou me atrasar”. E, saindo do caminho entrou na mata. E sempre que apanhava uma flor, via outra mais bonita adiante, e ia atrás dela. Assim foi entrando na mata cada vez mais. Enquanto isso, o Lobo correu à casa da avó de Chapeuzinho e bateu na porta. - Quem está aí? - perguntou a velhinha. - Sou eu, Chapeuzinho - falou o Lobo disfarçando a voz - Vim trazer um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho. Abra a porta para mim. - Levante a tranca, ela está aberta. Não posso me levantar, pois estou muito fraca. - respondeu a vovó. O Lobo entrou na casa e foi direto à cama da vovó, e a engoliu antes que ela pudesse vê-lo. Então ele vestiu suas roupas, colocou sua touca na cabeça, fechou as cortinas da cama, deitou-se e ficou esperando Chapeuzinho Vermelho. E Chapeuzinho continuava colhendo flores na mata. E só quando não podia mais carregar nenhuma é que retornou ao caminho da casa de sua avó. Quando ela chegou lá, para sua surpresa, encontrou a porta aberta. Ela caminhou até a sala, e tudo parecia tão estranho que pensou: "Oh, céus, por quê será que estou com tanto medo? Normalmente eu me sinto tão bem na casa da vovó...”. Então ela foi até a cama da avó e abriu as cortinas. A vovó estava lá deitada com sua touca cobrindo parte do seu rosto, e, parecia muito estranha... - Oh, vovó, que orelhas grandes a senhora tem! - disse então Chapeuzinho. - É para te ouvir melhor. - Oh, vovó, que olhos grandes a senhora tem!
  • 10. 10 - É para te ver melhor. - Oh, vovó, que mãos enormes a senhora tem! - São para te abraçar melhor. - Oh, vovó, que boca grande e horrível à senhora tem! - É para te comer melhor - e dizendo isto o Lobo saltou sobre a indefesa menina, e a engoliu de um só bote. Depois que encheu a barriga, ele voltou à cama, deitou, dormiu, e começou a roncar muito alto. Um caçador que ia passando ali perto escutou e achou estranho que uma velhinha roncasse tão alto, então ele decidiu ir dar uma olhada. Ele entrou na casa, e viu deitado na cama o Lobo que ele procurava há muito tempo. E o caçador pensou: "Ele deve ter comido a velhinha, mas talvez ela ainda possa ser salva. Não posso atirar nele”. Então ele pegou uma tesoura e abriu a barriga do Lobo. Quando começou a cortar, viu surgir um chapeuzinho vermelho. Ele cortou mais, e a menina pulou para fora exclamando: - Eu estava com muito medo! Dentro da barriga do lobo é muito escuro! E assim, a vovó foi salva também. Então Chapeuzinho pegou algumas pedras grandes e pesadas e colocou dentro da barriga do lobo. Quando o lobo acordou tentou fugir, mas as pedras estavam tão pesadas que ele caiu no chão e morreu. E assim, todos ficaram muito felizes. O caçador pegou a pele do lobo. A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia trazido, e Chapeuzinho disse para si mesma: “Enquanto eu viver, nunca mais vou desobedecer minha mãe e desviar do caminho nem andar na floresta sozinha e por minha conta”. (Irmãos Grimm) Disponível em: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=2056&cat=Infantil. Acesso em: 04 de Agosto de 2017.  TEXTO 04 A GAROTA DA CAPA VERMELHA RESUMO: O CORPO DE UMA GAROTA é descoberto em um campo de trigo. Em sua carne mutilada, marcas de garras. O Lobo havia quebrado a paz. Quando Valerie descobre que sua irmã foi assassinada pela lendária criatura, ela acaba mergulhando de forma irreversível em um grande mistério que vem amaldiçoando sua aldeia por gerações. A revelação vem com Father Solomon: o Lobo habita entre eles — o que torna qualquer pessoa do vilarejo suspeita. Estaria Peter, sua paixão secreta desde a infância, envolvido nos ataques? Ou seria Henry, seu noivo, o Lobisomem que assola as redondezas? Ou, talvez, alguém mais próximo?
  • 11. 11 Enquanto todos estão à caça da besta, Valerie recorre à Avó em busca de ajuda; ela dá à neta uma capa vermelha feita à mão e a orienta através da rede de mentiras, intrigas e decepções que vem controlando o vilarejo por muito tempo. Descobrirá Valerie o culpado por trás do lobo antes que toda a aldeia seja exterminada? A Garota da Capa Vermelha é uma nova e arrepiante versão do clássico conto. Nela, o final feliz poderá ser difícil de ser encontrado.  TEXTO 05 CAPÍTULO 1 – A GAROTA DA CAPA VERMELHA Da altura imponente do topo da árvore, a menininha conseguia ver tudo. A sonolenta aldeia de Daggorhorn ficava bem no fundo do vale. De cima, parecia uma terra muito distante, estrangeira. Um lugar do qual ela não sabia nada, um lugar sem espinhos nem farpas, um lugar onde o temor não pairava como um pai ansioso. Lá em cima, tão distante no ar, Valerie sentiu como se pudesse ser outra pessoa também. Ela poderia ser um animal: um falcão, indiferente à sua própria sobrevivência, arrogante e distante. Mesmo aos sete anos, sabia que, de algum modo, era diferente dos outros aldeões. Não conseguia evitar mantê-los a distância, até mesmo os seus amigos, que eram abertos e maravilhosos. Sua irmã mais velha, Lucie, era a única pessoa no mundo com quem Valerie sentia ter uma ligação. Ela e Lucie eram como duas videiras que cresceram entrelaçadas como na velha canção que os anciãos da aldeia cantavam. Lucie era a única. Valerie observou além de seus pés descalços suspensos e refletiu sobre o motivo de ter subido até lá. É claro que não tinha permissão, mas este não era o caso. Tampouco era pelo desafio da subida, ou então pela emoção, que havia perdido no ano anterior, quando atingira o galho mais alto pela primeira vez e não encontrara nada além do céu aberto. Subia bem alto porque não conseguia respirar lá embaixo, na aldeia. Se não saísse de lá, a infelicidade a tomaria, acumulando como a neve até que ela ficasse soterrada. Lá em cima, na sua árvore, o ar batia fresco em seu rosto, e ela se sentia invencível. Nunca se preocupava em cair; isso não era possível neste universo sem peso. — Valerie! A voz de Suzette ressoou lá em cima por entre as folhas, chamando-a como uma mão puxando Valerie para a terra. Pelo tom de voz de sua mãe, ela sabia que estava na hora de ir. Elevou os joelhos, ergueu-se, ficou de cócoras e começou a descida. Olhando para baixo, conseguiu ver o telhado bem inclinado da casa da Avó, construído entre os galhos da árvore e coberto por uma camada espessa de folhas de pinheiros. A casa estava envolta por galhos floridos como se tivesse se alojado lá durante uma tempestade. Valerie sempre imaginava como ela fora construída lá, mas nunca perguntou a ninguém, porque algo tão maravilhoso não deve ser explicado. O inverno se aproximava, e as folhas começavam a se soltar dos galhos, libertando-se da abrangência do outono. Algumas estremeceram e se
  • 12. 12 desprenderam conforme Valerie se movimentava, descendo da árvore. Ela ficara empoleirada na árvore a tarde toda, ouvindo o murmúrio baixinho das vozes das mulheres sendo soprado lá de baixo até em cima. Elas pareciam estar mais cautelosas hoje, mais graves que o habitual, como se estivessem guardando segredos. Aproximando-se dos ramos mais baixos que arranhavam o telhado da casa da árvore, Valerie viu a Avó surgir na varanda, os pés invisíveis sob o vestido. A Avó era a mulher mais bonita que ela conhecia. Usava saias compridas em camadas que balançavam conforme ela caminhava. Se o pé direito ia à frente, a saia de seda se agitava para a esquerda. Os tornozelos eram delicados e encantadores, como os da pequena bailarina de madeira da caixa de joias de Lucie. Isso tanto encantava quanto assustava Valerie, pois pareciam prestes a se quebrarem. Valerie, nem um pouco frágil, pulou do galho mais baixo até a varanda, provocando um ruído surdo. Ela não parecia tão admirável quanto as outras garotas, cujas bochechas eram rosadas ou carnudas. As de Valerie eram lisas, uniformes e bem pálidas. Valerie realmente não se achava bonita, nem pensava sobre sua aparência... ou nessas questões. No entanto, ninguém esqueceria a loira de cabelos cor de palha e olhos verdes inquietos que brilhavam como se lançassem raios. Seus olhos e aquele ar sapiente que possuía faziam-na parecer mais velha do que era. — Meninas, vamos! — a mãe a chamou de dentro da casa, a ansiedade transpirando pela voz. — Precisamos estar de volta cedo, hoje. Valerie desceu antes que alguém percebesse que ela havia estado na árvore. Pela porta aberta, viu Lucie agitando-se perto da mãe, segurando uma boneca que ela vestira de retalhos que a Avó havia doado para esse fim. Ela desejou ser mais parecida com a irmã. As mãos de Lucie eram macias e arredondadas, um pouco gorduchas, algo que Valerie admirava. Suas próprias mãos eram nodosas, finas, ásperas e com calos. Seu corpo era anguloso. Bem no fundo, ela sentia que isto a tornava uma pessoa que não poderia ser amada, uma pessoa que ninguém gostaria de tocar. Valerie tinha consciência de que sua irmã mais velha era melhor que ela. Lucie era mais bondosa, mais generosa e mais paciente. Ela nunca teria subido acima da casa da árvore, pois sabia que lá não era o lugar de pessoas sensatas. — Meninas! É noite de lua cheia. — A voz da mãe chegou até ela, agora. — E é a nossa vez — acrescentou, com uma voz triste que foi se enfraquecendo. Valerie não sabia o que entender, aquilo de ser a vez deles. Esperava que fosse uma surpresa, talvez um presente. Olhando para o chão, ela viu algumas marcas na terra que tinham a forma de uma seta. Peter. Seus olhos se arregalaram. Ela se dirigiu aos degraus íngremes e sujos da casa da árvore para examinar as marcas. ‚Não, não é Peter‛, ela pensou, vendo que eram apenas arranhões aleatórios no chão. Mas e se... As marcas se estendiam para longe até o bosque. Instintivamente, ignorando o que ela deveria fazer e o que Lucie faria, ela as seguiu. Claro que não levaram a lugar nenhum; depois de alguns metros, as marcas desapareceram. Furiosa consigo mesma pela ilusão, ficou feliz por ninguém tê-la visto seguindo nada até nada. Antes de partir, Peter costumava deixar recados para ela, desenhando setas no chão com a ponta de uma vara; as setas a guiavam até ele, muitas vezes escondido nas profundezas do bosque.
  • 13. 13 Ele, seu amigo, já havia partido há alguns meses, agora. Eles foram inseparáveis, e Valerie ainda não conseguia aceitar o fato de que ele não voltaria mais. Sua partida fora como o rompimento da ponta de uma corda — deixando dois fios desemaranhados Peter não era como os outros garotos que ficavam provocando e lutando. Ele entendia os impulsos de Valerie. Entendia a aventura; entendia sobre não seguir as regras. Nunca a julgava por ser uma menina. — Valerie! — a voz da Avó agora a chamava. Seus apelos deveriam ser respondidos com mais presteza que os da mãe de Valerie, pois suas ameaças poderiam realmente se concretizar. Valerie se afastou das peças do quebra-cabeça que não levaram a prêmio nenhum e se apressou em voltar. — Aqui, vovó. Ela se recostou na base da árvore, deliciando-se com a sensação áspera do tronco. Fechou os olhos para senti-la plenamente — e ouviu o rangido das rodas de carroça como uma tempestade que se aproxima. Ouvindo-o também, a Avó desceu as escadas até o chão da floresta. Envolveu Valerie em seus braços, a seda fria da blusa e o amontoado desajeitado de seus amuletos pressionando o rosto de Valerie. Com o queixo no ombro da Avó, Valerie viu Lucie movendo-se de forma cautelosa, descendo os degraus altos, seguida pela mãe. — Sejam fortes hoje, minhas queridas — a Avó cochichou. Tensa, Valerie ficou quieta, incapaz de expressar sua confusão. Para Valerie, cada pessoa e lugar possuíam seu próprio perfume — às vezes, o mundo todo parecia um jardim. Ela chegou à conclusão de que a Avó tinha cheiro de folhas esmagadas mescladas com algo mais profundo, algo mais intenso que ela não conseguia definir. Logo que a Avó soltou Valerie, Lucie entregou à irmã um buquê de ervas e flores que ela recolhera do bosque. Disponível em: https://cld.pt/dl/download/62857e2f-73ff-4d61-b9b8- d0c4a75e5e54/LIVROS%20DE%20FILMES/A%20garota%20da%20capa%20vermelha.pdf Acesso em: 04 de Agosto de 2017.  TEXTO 06 A Garota da Capa Vermelha (Filme) Por Ana Lucia Santana Embora os críticos norte-americanos e os brasileiros tenham, com raras exceções, tecido críticas negativas a esta obra, minha impressão sobre o filme foi bem positiva. Desde o início a atmosfera de paranoia e medo está no ar, prenunciando a eclosão de intolerância e ódio, sentimentos que se instauram a partir do momento em que um caçador de lobisomens declara que o lobo assassino se oculta entre os próprios habitantes do pequeno vilarejo. O clima de medo e de desconfiança presente na comunidade ecoa o ambiente sufocante do filme A Vila, de M. Night Shyamalan, e o ambiente opressivo do livro Dezesseis Luas, de Kami Garcia e Margaret Stohl. As pessoas moram em casas acima do solo, acessíveis apenas por escadas que, à noite, são recolhidas e escondidas no interior das residências.
  • 14. 14 A história tem início com Valerie ainda pequena; desde este momento percebe-se que ela é diferente dos demais, pois não se comporta como suas amigas, embora se esforce para ser como os outros. Um espírito de rebeldia domina sua alma, e neste traço de personalidade ela se sintoniza com Peter (Shiloh Fernandez), outra criatura indomável. Os dois elegem a floresta como seu refúgio, onde caçam e matam coelhos. Apesar de ser um lugarejo pequeno e todos se conhecerem, os vizinhos são discretos e têm sempre disponível um olhar de suspeita reservado ao outro. Há anos eles são ameaçados pelo Lobo, mas um pacto com a fera garante há algum tempo a necessária tranquilidade. A cada noite de lua cheia uma família sacrifica um animal à besta em troca de imunidade aos seus ataques. Depois de um longo período de trégua, porém, o Lobo volta a fazer uma vítima entre os habitantes do vilarejo, Lucy, a irmã de Valerie, protagonista do enredo, vivida pela atriz Amanda Seyfried. A partir de então a população se enfurece e um grupo se reúne para caçar a fera. Quando os homens se dividem no reduto do animal, ele ataca e é aparentemente morto por um dos homens, não sem antes provocar uma nova morte, a do pai de Henry (Max Irons), jovem prometido a Valerie por uma aliança entre suas famílias. Todos festejam a morte do Lobo, mas assim que um caçador de lobisomens, interpretado por Gary Oldman, chega ao vilarejo para matar a besta, uma revelação aterradora muda os rumos da história: não se trata de um simples lobo, e sim de um homem-lobo, o qual certamente está presente entre eles. O matador de lobisomens, um violento e estranho padre, viúvo e pai de duas filhas, acendem as chamas da fogueira da intolerância e estimula cada vez mais o ódio e a desconfiança crescentes entre os habitantes do vilarejo. Ele joga sem compaixão um contra o outro e cerca a pequena comunidade, não permitindo que ninguém parta até que se ache o lobisomem. Tomado pela cólera e por uma ilimitada sede de sangue, ele está disposto até mesmo a matar, se for preciso, para conquistar seu troféu. Enquanto isso, segredos há muito guardados vêm à tona, antigos ressentimentos afloram, e cresce o número de suspeitos: a estranha avó de Valerie, o ferreiro Henry, seu amado Peter, Claude, irmão de uma das amigas da protagonista, o padre local, entre outros. Todos se olham com medo, raiva e apreensão; as pessoas buscam implacavelmente um bode expiatório, e qualquer um pode ser acusado da prática de magia negra, forte indício para se encontrar um lobisomem. Os diferentes certamente não serão perdoados, o que deixa Valerie e Peter em uma posição delicada e arriscada. Este longa dirigido por Catherine Hardwicke, a diretora de Crepúsculo e Aos Treze, a partir de uma ideia do ator Leonardo Di Caprio, desenvolvida pelo roteirista David Leslie Johnson, deu início a uma experiência incomum. Quem está habituado a ver obras da literatura convertidas à estética cinematográfica, vai se deparar aqui com o caminho oposto. Decidida a aprofundar a história nas páginas de um livro, a cineasta propôs a sua amiga Sarah Cartwrigth que transformasse o enredo em um thriller literário. O resultado é surpreendente e o final ainda mais, pois o desfecho da história só será visto na versão do cinema. Quem analisar o filme apenas a partir do enredo superficial, realmente terá razões para desfiar críticas negativas, pois nele estão presentes o tradicional triângulo amoroso, o amor proibido, as interferências familiares que tudo fazem para separar dois amantes, entre outros elementos clichês. Mas esta versão da tradicional história da Chapeuzinho Vermelho vai além da trama aparente, compondo uma alegoria do mundo contemporâneo e de suas paranoias típicas, as quais giram basicamente em torno das ameaças engendradas pelo próprio modo de vida pós-moderno. A direção de arte gera uma estética que ora privilegia a alegria artificial das comemorações, ora destaca o clima de medo e de hostilidade que tomam conta da alma de cada habitante da comunidade. As cores são intensas, contrapondo as tonalidades neutras do figurino feminino aos tons escuros que distinguem
  • 15. 15 o universo masculino, e criando um diferencial em Valerie com sua capa vermelha, símbolo da paixão e das supostas bruxas condenadas à fogueira pela Inquisição, e no Caçador de Lobisomens com suas vestes sacerdotais púrpuras, que intimidam e ameaçam a todos. A trilha sonora é simplesmente divina; ela é basicamente composta por composições de Brian Reitzell, autor, entre outras, das trilhas dos filmes Encontros e Desencontros e Mais Estranho que a Ficção, em parceria com Alex Heffes, responsável pelas canções de longas como O Último Rei da Escócia e Intrigas de Estado. Mas também há a presença especial de Fever Ray, pseudônimo da artista sueca de música eletrônica Karin Elisabeth Dreijer Andersson, de Anthony Gonzalez, do grupo eletrônico M83, e da banda inglesa The Big Pink. Vale realmente dar uma chance a esta produção, e não só o público adolescente, mas todo cinéfilo; basta apenas despir a capa do preconceito e se preparar para mergulhar além das camadas superficiais da trama. Fonte: A Garota da Capa Vermelha. Direção: Catherine Hardwicke. Estados Unidos/Inglaterra. 2011, 100 min. Elenco: Amanda Seyfried, Michael Hogan, Shiloh Fernandez, Max Irons, Gary Oldman, Michael Shanks, Lukas Haas, Billy Burke. Warner Bros. / Appian Way. Classificação: 14 anos. Disponível em: http://www.infoescola.com/cinema/a-garota-da-capa-vermelha-filme/. Acesso em: 03 de agosto de 2017.  TEXTO 07 CHAPEUZINHO AMARELO (Chico Buarque) Era a Chapeuzinho Amarelo Amarelada de medo Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho. Já não ria Em festa, não aparecia Não subia escada, nem descia Não estava resfriada, mas tossia Ouvia conto de fada, e estremecia Não brincava mais de nada, nem de amarelinha Tinha medo de trovão Minhoca, pra ela, era cobra E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra Não ia pra fora pra não se sujar Não tomava sopa pra não ensopar Não tomava banho pra não descolar Não falava nada pra não engasgar Não ficava em pé com medo de cair Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo Era a Chapeuzinho Amarelo… E de todos os medos que tinha O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO.
  • 16. 16 Um LOBO que nunca se via, que morava lá pra longe, do outro lado da montanha, num buraco da Alemanha, cheio de teia de aranha, numa terra tão estranha, que vai ver que o tal do LOBO nem existia. Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO Um LOBO que não existia. E Chapeuzinho amarelo, de tanto pensar no LOBO, de tanto sonhar com o LOBO, de tanto esperar o LOBO, um dia topou com ele que era assim: carão de LOBO, olhão de LOBO, jeitão de LOBO, e principalmente um bocão tão grande que era capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz… e um chapéu de sobremesa. Mas o engraçado é que, assim que encontrou o LOBO, a Chapeuzinho Amarelo foi perdendo aquele medo: o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO. Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo. Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo. O lobo ficou chateado de ver aquela menina olhando pra cara dele, só que sem o medo dele. Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo, porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo. É feito um lobo sem pelo. Um lobo pelado. O lobo ficou chateado. Ele gritou: sou um LOBO! Mas a Chapeuzinho, nada.
  • 17. 17 E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!! E a Chapeuzinho deu risada. E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!! Chapeuzinho, já meio enjoada, com vontade de brincar de outra coisa. Ele então gritou bem forte aquele seu nome de LOBO umas vinte e cinco vezes, que era pro medo ir voltando e a menininha saber com quem não estava falando: LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO Aí, Chapeuzinho encheu e disse: “Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!” E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO. Era um BO-LO. Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim. Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim. Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo, porque sempre preferiu de chocolate. Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato. Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato. Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato, Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha, com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro, com a sobrinha da madrinha e o neto do sapateiro. Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira. E transforma em companheiro cada medo que ela tinha: O raio virou orrái; barata é tabará; a bruxa virou xabru; e o diabo é bodiá. FIM ( Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo: o Gãodra, a Jacoru, o Barãotu, o Pão Bichôpa… e todos os trosmons). Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/chapeuzinho-amarelo-poema-de-chico-buarque/. Acesso em: 05 de Agosto de 2017.
  • 18. 18  TEXTO 08 RAPUNZEL Especial: Contos de Fadas Originais O conto da Rapunzel pertence originalmente a Charlotte-Rose de Caumont de La Force, publicado em 1698, mas teve adaptação dos Irmãos Grimm em 1812. O conto não teve muitas mudanças drásticas, apenas foi amenizado durante os anos. Rapunzel era o nome de um vegetal, e a mãe de Rapunzel convence ao marido pegar um pouco dessa planta para que coma, então ele entra em um jardim proibido, pois sua mulher estava querendo desesperadamente o vegetal, e esse desejo era um sintoma de sua gravidez. O Jardim era da propriedade de uma feiticeira, que pegou o homem e o acusou de furto, ele explicou a situação, mas em troca a bruxa queria que lhe entregassem a filha que iria nascer. A Bruxa lhe dá o nome de Rapunzel, o nome da planta que seu pai biológico furtou, então, a vida de Rapunzel com sua nova mãe ia bem, até que completou doze anos, a Bruxa colocou-a em uma torre, onde era impossível subir sem uma escada, mas o cabelo de Rapunzel nunca tinha sido cortado, e era conservado como uma enorme trança. Quando a feiticeira chegava toda manhã, ela gritava: ‘Jogue suas tranças de ouro Rapunzel’. Assim a menina jogava, e a Bruxa subia levando comida. Um dia um príncipe escuta Rapunzel cantando dentro de sua torre, mas logo avista a Bruxa chegando, e presta bem atenção como ela faz. Depois que ela vai embora, o príncipe diz a mesma coisa, e Rapunzel joga novamente as tranças, ele sobe e assim começa um namoro, depois de algumas visitas, o namoro é regado a sexo até que Rapunzel fica grávida, e não conhece os mistérios de um parto ou uma barriga, então pergunta para sua mãe por que o seu vestido está crescendo e esta ficando apertado em torno do estomago. Com raiva, a Bruxa percebe que ela esta se encontrando com algum homem, ela corta a trança de Rapunzel que a expulsa da torre, colocando-a em um deserto das proximidades. Depois espera o príncipe chegar, e joga as tranças de Rapunzel, assim que ele sobe o cabelo, fica frente a frente com a Bruxa, então ela o empurra lá de cima, e ele cai em espinheiro que o fura os olhos, assim tornando-se cego. Rapunzel e o príncipe ficam separados um tempo no começo, mas depois quando ele caminha mesmo batendo nas arvores, escuta uma musica como se tivesse escutado pela primeira vez quando conhece Rapunzel, assim os dois se encontram e as lagrimas de Rapunzel curam a cegueira do príncipe, logo após isso, ele leva Rapunzel ao sei reino, e podemos dizer que este é um final feliz, mas ninguém sabe o que aconteceu com a Bruxa ou os filhos de Rapunzel. Moral da Rapunzel Original: O amadurecimento de uma criança para a vida adulta não pode ser interrompido, e as mulheres grávidas podem ter desejos estranhos enquanto estão grávidas. Disponível em: http://misteriosfantasticos.blogspot.com.br/2011/08/rapunzel.html. Acesso em: 03 de Agosto de 2017. TEXTO 09 SINOPSE E DETALHES Data de lançamento 9 de novembro de 2016 (1h 41min) Direção: Byron Howard, Nathan Greno Elenco: Luciano Huck, Mandy Moore, Zachary Levi mais Gêneros Animação, Família
  • 19. 19 Nacionalidade EUA Flynn Ryder (Zachary Levi/Luciano Huck) é o bandido mais procurado e sedutor do reino. Um dia, em plena fuga, ele se esconde em uma torre. Lá conhece Rapunzel (Mandy Moore), uma jovem prestes a completar 18 anos que tem um enorme cabelo dourado, de 21 metros de comprimento. Rapunzel deseja deixar seu confinamento na torre para ver as luzes que sempre surgem no dia de seu aniversário. Para tanto, faz um acordo com Flynn. Ele a ajuda a fugir e ela lhe devolve a valiosa tiara que tinha roubado. Só que a mamãe Gothel (Donna Murphy), que manteve Rapunzel na torre durante toda a sua vida, não quer que ela deixe o local de jeito nenhum. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-135523/. Acesso em: 04 de Agosto de 2017.  TEXTO 10 Poema – Profundamente, de Manuel Bandeira Profundamente Manuel Bandeira Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes, cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam, errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente. Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? — Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 81.  TEXTO 11 A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS Resenha "A Menina que roubava livros", de Markus Zusak.
  • 20. 20 Zusak, M. A menina que roubava livros. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008. Markus Zusak encontrou um meio de escrever um romance ímpar que retrata com muita lucidez os horrores do período Hitleriano, da própria Segunda Guerra Mundial. Uma jovem durante o período da Alemanha nazista lutando intimamente para defender seus princípios, por não se deixar manipular pelo tétrico ideal de Hitler, ao passo que ela amadurece e aflora para o primeiro amor, um sentimento platônico. Zusak ainda chama a atenção para algo muito importante: o poder das palavras, a influência delas sobre o ser humano; o que elas conseguiam – e ainda hoje o logram - levar as pessoas a crer e a fazer. O livro é uma narrativa da Morte, seu foco é a vida de Liesel e o que a ela for relacionado. Organiza-se em dez partes, cada qual com cerca de quarenta páginas, mais o prólogo onde a narradora apresenta a ela mesma e a nossa protagonista e ainda um epílogo falando sobre a morte de Liesel e o destino de alguns dos personagens secundários. Posteriormente há uma parte dedicada aos agradecimentos do autor e um trecho falando sobre ele. Nossa narradora mostra-se muito diferente do juízo que lhe fazemos. Em partes do livro ela busca dialogar com o leitor, mostrando que apesar de não ser humana, tem de certa forma sentimentos. Empós apresentar-se ela explica o porquê de seu interesse em Liesel: “O que, por sua vez, me traz ao assunto de que lhe estou falando [...]. É a história de um desses sobreviventes perpétuos – uma especialista em ser deixada para trás. ”. Ao final do livro ela reafirma algo que deixa bem claro durante a história: “Os seres humanos me assombram”... “A menina que roubava livros” conta a história de uma menina de nome Liesel Meminger que, durante uma viagem de trem com destino a cidade alemã de Molching, ao despertar encontra o seu irmão que viajava a seu lado, morto. No trajeto é feita uma parada para inumar o menino, e, é no cemitério onde nossa protagonista faz o primeiro de seus roubos: um dos coveiros, incauto, deixa cair à neve um livro intitulado “Manual do Coveiro”. Em chegando a cidade de destino, Liesel descobre que seria entregue a uma família adotiva; reluta muito em partir dos braços da mãe consanguínea, mas acaba cedendo. Nossa protagonista passa a viver com Hans e Rosa Hubermann, sua nova parentela. A partir de então, Liesel ao decorrer da história, recebe letramento, faz amizades e, passa a roubar livros da biblioteca da mulher do prefeito, Ilsa Hermann (com certo consentimento da proprietária). Ao lado de seu amigo Rudy, ela constrói uma amizade solidária e uma cumplicidade nos furtos, além de um amor castiço e terno. Ao fim do livro, a cidade de Molching é bombardeada pelas forças Aliadas e, não em tempo as sirenes de alerta foram acionadas. Foi uma chacina. Liesel foi, quiçá, a única sobrevivente da Rua Himmel. Ela passara as noites no porão da humilde casa de número 33, escrevendo em seu livro – um diário que lhe fora presenteado por Ilsa Hermann alguns dias antes. Ora novamente órfã Liesel é adotada por Ilsa Hermann e seu marido. Ilsa perdera o único filho alguns anos antes - o rapaz lutava na guerra. Liesel Meminger cresce, vai morar em Sydney, constitui família e morre em idade avançada.
  • 21. 21 Esta obra literária devo admitir, aprazou a este que vos escreve. A ideia de Markus Zusak ao grafar um drama cujo cenário é a Alemanha nazista, retratando os horrores desse período, é deveras interessante. Uma jovem menina que vê (assim qual uma minoria de outras pessoas alemãs) um absurdo nos ideais de Hitler, mas, por coação, mantém a aparência de nazista, muito embora, durante parte da história os Hubermann e Liesel abriguem secretamente um judeu em seu porão. O livro mostra o caos que foi a Alemanha nesse período: íncolas alemães passando fome com o racionamento de víveres, o temor de ser considerado um traidor ou mesmo de ser alvo de desconfianças por parte dos membros do partido nazista, a coerção para que todos se alistassem a essa facção e, a perseguição aos que se negavam. O fanatismo de maioria dos alemães, o nacionalismo exagerado, a arrogância. A perseguição aos judeus e a quem não fosse etnicamente alemão. O sofrimento das famílias – não só judias, mas inclusive alemãs como também russas e outras tantas - que perdiam seus parentes nas batalhas; das mães que perderam seus filhos ainda pequenos por conta dos bombardeios; pessoas que foram mutiladas pelo conflito. Atrocidades tamanhas que expõem o lado mãos sombrio, perverso e dantesco da natureza humana, capaz de apavorar até mesmo a singular narradora (“os seres humanos me assombram”). Esta obra possui sem dúvida valor pedagógico; como sempre indigitando o mérito da Literatura qual instrumento de granjear conhecimentos vários. Trata-se de um texto mais indicado, talvez, a alunos a partir do segundo ano do Ensino Médio, dada a qualidade do escrito. Markus Frank Zusak nasceu em Sydney em 23 de junho de 1975, é famoso pelo seu Best-seller internacional “A menina que roubava livros”, também é autor de “Fighting Ruben Wolf”, “Getting the Girl”, “Eu sou o mensageiro”, dentre outros, todos recebidos com críticas resplandecentes às revistas Publishers Weekly, School Library Journal, KLIATT, The Bulletin e Booklist. Recebeu o Prêmio Livro do Ano para Leitores Mais Velhos, concedido pelo Conselho Australiano de Livros Infantis. Farias, M.S. "Resenha de 'A menina que roubava livros', de Markus Zusak". Junho de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/ Disponível em: http://livredialogo.blogspot.com.br/2012/06/resenha-do-livro-menina-que-roubava.html Acesso em: 15 de agosto de 2017.  TEXTO 12 A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS Sinopse do Filme: Adaptação de A Menina que Roubava Livros, do australiano Markus Zusak, o filme acompanha a história de Liesel Meminger (interpretada pela canadense Sophie Nélisse. Durante a Segunda Guerra Mundial, Liesel e seu irmão são deixados pelos pais e adotados por um casal vivido por Geoffrey Rush (O Discurso do Rei) e Emily Watson (Anna Karenina). O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. Ela aprende a ler com o incentivo de sua nova família e Max, um judeu refugiado que eles escondem baixo às escada. Para Liesel e Max, o poder das palavras e da imaginação se transformam em escape dos tumultuosos eventos que acontecem ao seu redor. Em meio ao caos, a jovem encontra refúgio na literatura para sobreviver. Ajudada por seu pai adotivo, ela passa a roubar livros e descobrir neles a esperança perdida durante a guerra. Disponível em: http://cinema10.com.br/filme/a-menina-que-roubava-livros. Acesso em: 19 de agosto de 2017.
  • 22. 22  TEXTO 13 DIFERENÇA ENTRE: ÁGAPE, EROS E PHILOS Daniel Conegero A palavra amor é bastante ampla. Afinal, o amor que você sente por um irmão, por exemplo, é diferente do que sente por um marido ou esposa. A palavra Ágape, que é de origem grega, representa um dos tipos de amor. Além desta, existem outras que representam os outros tipos de amor, são elas: Eros e Philos. Um complementa o outro. Eros: A palavra grega “Eros” é usada para designar o amor romântico. Um tipo de amor bem exemplificado pelo amor entre um homem e uma mulher. Ágape: Já a palavra ágape fica melhor traduzida por amor de Deus. Deus é ágape, ou seja, amor. O termo grego significa, portanto, o amor característico de Deus. É lógico que esse amor é diferente do afeto humano, que pode transformar-se em ódio da noite para o dia, no entanto, o amor ágape nunca falha. Philos: De certa forma, o amor Philos também tem um pouco do amor fraternal Ágape, pois se refere à amizade, ao sentimento que se tem pelas pessoas que te cercam. Porém, se diferencia porque não chega a ser espiritual, é mais um sentimento relacionado ao pensamento, é algo mental. É usada para descrever aquele amor que tem como principal característica o companheirismo, a amizade, a bondade para com o próximo. Então, basicamente podemos dizer que: 1º - Eros se refere ao amor apaixonado, geralmente transmitindo entre duas pessoas que se atraem. 2º - Philos se refere ao amor que expressa nosso gosto ou predileção por alguém, isto é, o amor por pessoas próximas a nós, como amigos e familiares. 3º - Ágape é algo muito mais elevado, um amor que tem origem divina e transcende os sentidos meramente humanos. Enquanto eros e philos podem ser entendidos como sentimentos condicionais que geram benefícios, ágape é incondicional e sacrifical. Ágape é o tipo de amor que devemos amar a Deus e ao próximo, mesmo que esse próximo sejam pessoas que não gostamos. Disponível em: http://www.culturamix.com/cultura/agape/ acesso em: 15 de agosto de 2017.  TEXTO 14 PRESSÁGIO Fernando Pessoa O AMOR, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer... Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar... "Fernando Pessoa - Obra Poética - Inéditas", Cia. José Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 513
  • 23. 23  TEXTO 15 Tirinha “DESENHOS DE UM GAROTO SOLITÁRIO” Disponível em: http://meucantinhodeecorado.blogspot.com.br/2013/12/fofura-do-dia-eu-te-asmo.html Acesso em; 15 de agosto de 2017.  TEXTO 16 ÚLTIMO ROMANCE Los Hermanos Eu encontrei-a quando não quis Mais procurar o meu amor E quanto levou foi pr'eu merecer Antes um mês e eu já não sei E até quem me vê lendo o jornal Na fila do pão, sabe que eu te encontrei E ninguém dirá que é tarde demais Que é tão diferente assim Do nosso amor a gente é que sabe, pequena Ah, vai Me diz o que é o sufoco Que eu te mostro alguém A fim de te acompanhar E se o caso for de ir à praia Eu levo essa casa numa sacola Eu encontrei-a e quis duvidar Tanto clichê, deve não ser Você me falou pr'eu não me preocupar Ter fé e ver coragem no amor E só de te ver, eu penso em trocar A minha TV, num jeito de te levar A qualquer lugar que você queira E ir aonde o vento for Que pra nós dois Sair de casa já é se aventurar Ah, vai Me diz o que é o sossego Que eu te mostro amor A fim de te acompanhar E se o tempo for te levar Eu sigo essa hora e pego carona Pra te acompanhar Disponível em: https://www.letras.mus.br/los-hermanos/67547/ Acesso em: 15 de agosto de 2017 .TEXTO 17
  • 24. 24 Segredos Frejat Eu procuro um amor Que ainda não encontrei Diferente de todos que amei Nos seus olhos quero descobrir Uma razão para viver E as feridas dessa vida Eu quero esquecer Pode ser que eu a encontre Numa fila de cinema Numa esquina Ou numa mesa de bar Procuro um amor Que seja bom pra mim Vou procurar Eu vou até o fim E eu vou tratá-la bem Pra que ela não tenha medo Quando começar a conhecer Os meus segredos Hum! Hum! Huuuum! Eu procuro um amor Uma razão para viver E as feridas dessa vida Eu quero esquecer Pode ser que eu gagueje Sem saber o que falar Mas eu disfarço E não saio sem ela de lá Procuro um amor Que seja bom pra mim Vou procurar Eu vou até o fim E eu vou tratá-la bem Pra que ela não tenha medo Quando começar a conhecer Os meus segredos Hum! Hum! Huuuum! Hum! Hum! Huuuum! Procuro um amor Que seja bom pra mim Vou procurar Eu vou até o fim Eu procuro um amor Que seja bom pra mim Vou procurar Eu vou até o fim Disponível em: https://www.letras.mus.br/frejat/64374/ acesso em: 15 de agosto de 2017. TEXTO 18 Sinopse do filme Marley & Eu John e Jenny eram jovens, apaixonados e estavam começando a sua vida juntos, sem grandes preocupações, até ao momento em que levaram para casa Marley, "uma bola de pêlo amarelo em forma de cachorro", que, rapidamente, se transformou num labrador enorme e encorpado de 43 quilos.Era um cão como
  • 25. 25 não havia outro nas redondezas: arrombava portas, esgadanhava paredes, babava nas visitas, comia roupa do varal alheio e abocanhava tudo a que pudesse. De nada lhe valeram os tranquilizantes receitados pelo veterinário, nem a "escola de boas maneiras", de onde, aliás, foi expulso. Mas, acima de tudo, Marley tinha um coração puro e a sua lealdade era incondicional. Imperdível. Disponível em: http://www.cafecomfilme.com.br/filmes/marley-e-eu acesso em: 15 de agosto de 2017.  TEXTO 19 CENAS DO HQ - MULHER MARAVILHA: TERRA UM
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  • 28. 28  TEXTO 20 ENTRE A ESPADA E A ROSA Marina Colasanti Qual é a hora de casar, senão aquela em que o coração diz "quero"? A hora que o pai escolhe. Isso descobriu a Princesa na tarde em que o Rei mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que, tendo decidido fazer aliança com o povo das fronteiras do Norte, prometera dá-la em casamento ao seu chefe. Se era velho e feio, que importância tinha frente aos soldados que traria para o reino, às ovelhas que poria nos pastos e às moedas que despejaria nos cofres? Estivesse pronta, pois breve o noivo viria buscá-la. De volta ao quarto, a Princesa chorou mais lágrimas do que acreditava ter para chorar. Embotada na cama, aos soluços, implorou ao seu corpo, a sua mente, que lhe fizesse achar uma solução para escapar da decisão do pai. Afinal, esgotada, adormeceu. E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou. E ao acordar de manhã, os olhos ainda ardendo de tanto chorar, a Princesa percebeu que algo estranho se passava. Com quanto medo correu ao espelho! Com quanto espanto viu cachos ruivos rodeando-lhe o queixo! Não podia acreditar, mas era verdade. Em seu rosto, uma barba havia crescido.
  • 29. 29 Passou os dedos lentamente entre os fios sedosos. E já estendia a mão procurando a tesoura, quando afinal compreendeu. Aquela era a sua resposta. Podia vir o noivo buscá-la. Podia vir com seus soldados, suas ovelhas e suas moedas. Mas, quando a visse, não mais a quereria. Nem ele nem qualquer outro escolhido pelo Rei. Salva a filha, perdia-se porém a aliança do pai. Que tomado de horror e fúria diante da jovem barbada, e alegando a vergonha que cairia sobre seu reino diante de tal estranheza, ordenou-lhe abandonar o palácio imediatamente. A Princesa fez uma trouxa pequena com suas jóias, escolheu um vestido de veludo cor de sangue. E, sem despedidas, atravessou a ponte levadiça, passando para o outro lado do fosso. Atrás ficava tudo o que havia sido seu, adiante estava aquilo que não conhecia. Na primeira aldeia aonde chegou, depois de muito caminhar, ofereceu-se de casa em casa para fazer serviços de mulher. Porém ninguém quis aceitá-la porque, com aquela barba, parecia-lhes evidente que fosse homem. Na segunda aldeia, esperando ter mais sorte, ofereceu-se para fazer serviços de homem. E novamente ninguém quis aceitá-la porque, com aquele corpo, tinham certeza de que era mulher. Cansada mas ainda esperançosa, ao ver de longe as casas da terceira aldeia, a Princesa pediu uma faca emprestada a um pastor, e raspou a barba. Porém, antes mesmo de chegar, a barba havia crescido outra vez, mais cacheada, brilhante e rubra do que antes. Então, sem mais nada pedir, a Princesa vendeu suas jóias para um armeiro, em troca de uma couraça, uma espada e um elmo. E, tirando do dedo o anel que havia sido de sua mãe, vendeu-o para um mercador, em troca de um cavalo. Agora, debaixo da couraça, ninguém veria seu corpo, debaixo do elmo, ninguém veria sua barba. Montada a cavalo, espada em punho, não seria mais homem, nem mulher. Seria guerreiro. E guerreiro valente tornou-se, à medida que servia aos Senhores dos castelos e aprendia a manejar as armas. Em breve, não havia quem a superasse nos torneios, nem a vencesse nas batalhas. A fama da sua coragem espalhava-se por toda parte e a precedia. Já ninguém recusava seus serviços. A couraça falava mais que o nome. Pouco se demorava em cada lugar. Lutava cumprindo seu trato e seu dever, batia-se com lealdade pelo Senhor. Porém suas vitórias atraíam os olhares da corte, e cedo os murmúrios começavam a percorrer os corredores. Quem era aquele cavaleiro, ousado e gentil, que nunca tirava os trajes de batalha? Por que não participava das festas, nem cantava para as damas? Quando as perguntas se faziam em voz alta, ela sabia que era chegada a hora de partir. E ao amanhecer montava seu cavalo, deixava o castelo, sem romper o mistério com que havia chegado. Somente sozinha, cavalgando no campo, ousava levantar a viseira para que o vento lhe refrescasse o rosto acariciando os cachos rubros. Mas tornava a baixá-la, tão logo via tremular na distância as bandeiras de algum torreão. Assim, de castelo em castelo, havia chegado àquele governado por um jovem Rei. E fazia algum tempo que ali estava. Desde o dia em que a vira, parada diante do grande portão, cabeça erguida, oferecendo sua espada, ele havia demonstrado preferi-la aos outros guerreiros. Era a seu lado que a queria nas batalhas, era ela que chamava para os exercícios na sala de armas, era ela sua companhia preferida, seu melhor conselheiro. Com o tempo, mais de uma vez, um havia salvo a vida do outro. E parecia natural, como o fluir dos dias, que suas vidas transcorressem juntas. Companheiro nas lutas e nas caçadas, inquietava-se porém o Rei vendo que seu amigo mais fiel jamais tirava o elmo. E mais ainda inquietava-se, ao sentir crescer dentro de
  • 30. 30 si um sentimento novo, diferente de todos, devoção mais funda por aquele amigo do que um homem sente por um homem. Pois não podia saber que à noite, trancado o quarto, a princesa encostava seu escudo na parede, vestia o vestido de veludo vermelho, soltava os cabelos, e diante do seu reflexo no metal polido, suspirava longamente pensando nele. Muitos dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava vê-la. E outros tantos em que, percebendo que isso não a afastava da sua lembrança, mandava chamá-la, para arrepender-se em seguida e pedia-lhe que se fosse. Por fim, como nada disso acalmasse seu tormento, ordenou que viesse ter com ele. E, em voz áspera, lhe disse que há muito tempo tolerava ter a seu lado um cavaleiro de rosto sempre encoberto. Mas que não podia mais confiar em alguém que se escondia atrás do ferro. Tirasse o elmo, mostrasse o rosto. Ou teria cinco dias para deixar o castelo. Sem resposta, ou gesto, a Princesa deixou o salão, refugiando-se no seu quarto. Nunca o Rei poderia amá-la, com sua barba ruiva. Nem mais a quereria como guerreiro, com seu corpo de mulher. Chorou todas as lágrimas que ainda tinha para chorar. Dobrada sobre si mesma, aos soluços, implorou ao seu corpo que lhe desse uma solução. Afinal, esgotada, adormeceu. E na noite seu mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou. E ao acordar de manhã, com os olhos inchados de tanto chorar, a Princesa percebeu que algo estranho se passava. Não ousou levar as mãos ao rosto. Com medo, quanto medo! Aproximou-se do escudo polido, procurou seu reflexo. E com espanto, quanto espanto! Viu que, sim, a barba havia desaparecido. Mas em seu lugar, rubras como os cachos, rosas lhe rodeavam o queixo. Naquele dia não ousou sair do quarto, para não ser denunciada pelo perfume, tão intenso, que ela própria sentia-se embriagar de primavera. E perguntava-se de que adiantava ter trocado a barba por flores, quando, olhando no escudo com atenção, pareceu-lhe que algumas rosas perdiam o viço vermelho, fazendo-se mais escuras que o vinho. De fato, ao amanhecer, havia pétalas no seu travesseiro. Uma após a outra, as rosas murcharam, despetalando-se lentamente. Sem que nenhum botão viesse substituir as flores que se iam. Aos poucos, a rósea pele aparecia. Até que não houve mais flor alguma. Só um delicado rosto de mulher. Era chegado o quinto dia. A Princesa soltou os cabelos, trajou seu vestido cor de sangue. E, arrastando a cauda de veludo, desceu as escadarias que a levariam até o Rei, enquanto um perfume de rosas se espalhava no castelo. Disponível em: http://nucleoatmosfera.blogspot.com.br/2009/07/entre-espada-e-rosa-conto- de-marina.html. Acesso em: 19 de agosto de 2017.  TEXTO 21 Ontologias visuais incompatíveis? A adaptação problemática de imagens Desenhadas Pascal Lefévre Tradução * de Camila Augusta Pires de Figueiredo. O famoso diretor francês Alain Resnais (THOMAS, 1990, p. 247) revelou sua visão negativa sobre adaptações fílmicas de quadrinhos em 1990. Adaptações de quadrinhos dificilmente ganham reconhecimento canônico e raramente aparecem nas listas de melhores filmes de todos os tempos.
  • 31. 31 Não só essas adaptações dificilmente agradam os críticos, mas também não parecem ter um grande apelo junto aos leitores de quadrinhos. Críticos de cinema e fás de quadrinhos parecem concordar que é difícil produzir um bom filme a partir de uma HQ.5 Já o público de cinema é menos severo. Ainda assim, algumas adaptações de quadrinhos foram grandes sucessos de bilheteria, dentre elas Superman, de Richard Donner (1978), Batman, de Tim Burton (1989), Homens de Preto, de Barry Sonnenfeld (1997) e Homem- Aranha, de Sam Raimi (2002). O sucesso dos quadrinhos que serviram como base para as adaptações não explica completamente o sucesso das adaptações fílmicas; tais filmes parecem atrair um público que raramente lé quadrinhos. Além disso, todas essas adaptações geraram um grande número de sequências cinematográficas. Adaptações de quadrinhos parecem ser populares tanto quanto controversas. Enquanto alguns analistas (PEETERS, 1996)7 reconhecem aspectos criativos de algumas adaptações, outros críticos (FREMION, 1990, p. 166) declaram abertamente que a adaptação é preferida por aqueles com talento medíocre. Alguns artistas de quadrinhos chegam a se opor à ideia de uma adaptação fílmica. Art Spiegelman, por exemplo, não gostaria de ver Maus adaptado como um filme live action porque considera o estilo metafórico da narrativa essencial e impossível de ser adaptado por outra mídia que não a dos quadrinhos. Contudo, por várias vezes já foi dito que existe uma maior proximidade entre o cinema e os quadrinhos do que entre o cinema e outras artes visuais (CHRISTIANSEN, 2000, p. 107; COSTA, 2002, p. 24). Filmes e HQs são mídias que contam histórias através de séries de imagens: o espectador vê pessoas atuando — enquanto em um romance as ações devem ser descritas verbalmente. Mostrar é narrar no cinema e nas HQs. Porém, enquanto as narrativas fílmicas clássicas situam o espectador no centro do espaço diegético, os quadrinhos, por outro lado, estão firmados em uma tradição parodística (CHRISTIANSEN, 2000, p. 118). Desde o século dezenove, a maioria dos quadrinhos tem como principal característica o uso de deformações, geralmente caricaturais, em diversos graus. Do mesmo modo, a disputa entre textos e figuras e o fato que as figuras são desenhadas lembram o leitor de sua condição artificial. Além disso, filmes e HQs diferem significativamente não apenas na maneira como são vivenciadas e recebidas pelo público, mas também em sua forma material. Isso introduz várias questões problemáticas para uma adaptação de uma HQ para um filme live action. Em particular, a ontologia visual do desenho parece ser uma questão central, como será demonstrado neste ensaio. Mas, além disso, há também o problema da primazia: normalmente, as pessoas preferem a primeira versão que encontram de uma história. Quando você lê um romance antes, você forma uma imagem mental pessoal do mundo fictício e quando você lê uma HQ antes, você constrói uma ideia visual cinética daquilo. Qualquer adaptação fílmica tem de lidar com essas primeiras interpretações e imagens pessoais: torna-se extremamente difi'cil exorcizar essas primeiras impressões. Neste artigo, o termo "adaptação" é usado em um sentido amplo, incluindo também filmes diretamente inspirados por uma determinada HQ ou série de HQs.1° Adaptações em formato de animação não serão discutidas. Adaptações em animação merecem uma análise própria, mas a maioria dos problemas de adaptações live action também assombrará as versões em animação. Diferentemente das únicas e originais obras de pintura e escultura, apenas cópias de filmes e HQs são distribuídas e consumidas. O filósofo de arte Walter Benjamim argumentou que a aura da obra de arte se deteriorou na era da reprodução mecânica porque o objeto reproduzido é separado do domínio da tradição. Apesar de dividirem uma similaridade fundamental (consumo em massa), filmes e HQs ainda
  • 32. 32 possuem algumas diferenças em relação ao modo de recepção e de consumo. As duas diferenças principais são a forma material das imagens e os aspectos sociais da recepção. A diferença no modo de recepção ou de consumo é a atividade individual (quadrinhos) contra a experiência em grupo (cinema). Enquanto a leitura de uma HQé uma ação solitária, assistir a um filme no cinema é geralmente uma experiência em grupo: as pessoas se reúnem em salas de ci,nema em determinados momentos para assistirem a um filme juntas. Muitos espectadores compartilham emoções ao mesmo tempo: eles riem e choram juntos. Reações de outros espectadores podem facilitar essas respostas emocionais durante uma exibição. Ler uma HQ, ao contrário, não envolve uma troca emocional direta com outras pessoas. Apenas quando a leitura chega ao final, o leitor da HQ pode compartilhar suas emoções com outros. A exibição de um filme exige atenção por parte do espectador, uma vez que o lugar escuro, a luz da projeção e a música alta ajudam a manter uma atmosfera aural e mantêm espectadores atentos à ação reproduzida na tela. Ler uma HQ, no entanto, necessariamente não acontece em um ambiente tão desprovido de distrações. Ainda assim, o leitor pode se isolar fisicamente e mentalmente. Não só a recepção, mas também a produção da HQ e do filme é diferente. Por necessidade, a produção de um filme implica uma maior organização e orçamento do que a produção de uma HQ. A parte criativa no filme é feita por um grupo de pessoas (escritor, fotógrafo, diretor, ator, editor, entre outros), enquanto as ações de desenhar e escrever uma HQ podem ser feitas por um grupo pequeno ou por apenas uma pessoa. Este ensaio, entretanto, enfatiza as diferenças visuais entre as duas mídias. Apesar de uma aparente concordância — ao menos quando comparamos filmes e romances — o ato de justapor suas ontologias visuais inerentes traz à tona as razões pelas quais os fás de quadrinhos podem literalmente "ver" adaptações fílmicas muitas vezes como infiéis e até mesmo desrespeitosas. Existem quatro principais problemas na adaptação de quadrinhos para o cinema e três deles estão relacionados às características da mídia dos quadrinhos: os quadros são organizados em uma página, os quadros possuem desenhos estáticos e uma HQ não produz ruídos ou sons. O filme é bem diferente. Primeiramente, existe o enquadramento da tela; segundo, as imagens são móveis e fotográficas; terceiro, o filme possui uma trilha sonora. Essas diferenças nas características das duas mídias se revelam como os quatro problemas da adaptação, a dizer do (1) processo de subtração/adição que ocorre na reescrita de textos quadrinizados originais para o filme; (2) as características únicas do layout da página e da tela do filme; e (3) os dilemas da tradução de desenhos para a fotografia; e (4) a importância do som no filme comparada ao "silêncio" dos quadrinhos. Diante de tais problemas, talvez a questão principal sobre a adaptação fílmica de quadrinhos não seja "quão fiel/respeitoso á HQ o filme será", mas "quão menos diferente da HQ pode o filme ser?" A questão inicial para a maioria das adaptações é se os roteiristas seguirão ou não a narrativa como apresentada na HQ, ou se eles tomarão o material existente apenas como um ponto inicial interessante para escrever uma nova história com vários acréscimos. Poucas adaptações respeitam meticulosamente a narrativa de uma determinada HQ. Todo profissional do cinema sabe que essa é uma mídia que possui suas próprias leis e regras. Uma adaptação direta raramente é uma boa opção: alguns elementos podem funcionar maravilhosamente em uma HQ, mas podem não funcionar no contexto de um filme. Geralmente o roteirista de um filme tem de eliminar algumas cenas, acrescentar outras, além de desenvolver personagens principais ou introduzir outros novos. Por exemplo, os dois policiais da HQ Do Inferno (Moore e Campbell) são combinados em somente um personagem no filme. A necessidade de tais modificações na maior parte das vezes é simplesmente consequência das normas de duração da narrativa que é diferente nas duas mídias. Considerando que a versão quadrinizada de Do Inferno tem centenas de
  • 33. 33 páginas, nem todas as sequências desenhadas foram filmadas. Assim, o texto original é inevitavelmente alterado. Alan Moore, criador de Do Inferno, (MOUCHART, 2004, p30) explica que não se importa muito com adaptações: "Eu me forço a não ter uma opinião [sobre adaptações]. Aqueles filmes não se parecem com os meus livros. Se são bons filmes, é mérito dos diretores. Não tem nada a ver comigo. O mesmo acontece se os filmes são medíocres. Eu me interesso em vê-los, mas uma vez que eu não gosto de trabalhar para Hollywood e cinema não é uma das minhas mídias preferidas, eu não me sinto muito envolvido nestes projetos." A maioria dos criadores de quadrinhos (como Daniel Clowes, Stan Lee, Enki Bilal) entende que um filme geralmente necessita de mudanças em relação ao material original. Enki Bilal enfatiza que Immortel não é uma adaptação de sua trilogia Nikopol, mas uma reescrita (réécriture) desta. Em uma entrevista ele explica que foi importante — dentre outras coisas —incluir alguns assuntos em voga hoje em dia e esquecer outros aspectos (BERNIÈRE, 2005, p. 12). Ao contrário dos artistas, os apaixonados fãs das obras originais raramente aplaudem tais reescritas. Por exemplo, as mudanças nos figurinos e nas motivações dos personagens nos filmes X-Men desagradaram alguns fás (LEE, 2000). Os lança teias orgânicos do Homem-Aranha no filme de Sam Raimi parecem representar um problema para alguns fãs porque na versão original da história em quadrinhos os lança teias foram uma invenção tecnológica do jovem cientista Peter Parker. Quando Kenneth Plume perguntou a Stan Lee, criador do Homem-Aranha, sobre essa questão ele respondeu que a versão do filme funcionou: "Talvez alguns puristas que conhecem a HQ devem pensar 'Puxa, eles não fizeram da maneira que era nos quadrinhos' mas a pessoa comum assistindo ao filme não teria problema com as teias saindo de suas mãos daquela maneira" (LEE, 2000). Alguns fãs de quadrinhos tendem a idolatrar a obra original e escrutinizam uma adaptação fílmica por supostas falhas ou erros de interpretação. Quase todas as tentativas de adaptação se tornam, aos olhos destes, algum tipo de traição. Além disso, tais adaptações fílmicas oferecem aos fás de super-heróis uma oportunidade única de exibirem seu conhecimento quase autista-savant1de uma determinada série de quadrinhos de super-heróis. Aos olhos do grande público e, em particular, da elite cultural, esses fãs de super-heróis não são bem vistos: ler histórias em quadrinhos de super-heróis é geralmente associado a um comportamento infantil. O dilema então é: um filme que segue muito fielmente uma HQ raramente será um bom filme. Uma vez que se trata de outra mídia com outras características e regras, o diretor tem de modificar a obra original. Assim como em um filme histórico, não é possível representar as situações exatamente como elas eram; é, portanto, bem mais importante tentar ser fiel ao espírito da obra original. Com certeza, cada decisão está aberta a discussão e nem todas as decisões de um diretor são necessariamente boas. O segundo problema se relaciona à transição do layout da página para a imagem em uma única tela. Enquanto as imagens dos quadrinhos são em sua maior parte impressas no papel, as imagens do filme são projetadas em uma tela, tipicamente widescreen em uma sala de cinema ou na tela de televisão em casa.
  • 34. 34 Essa diferença é importante porque as páginas de uma HQ estão mais próximas do que as imagens projetadas de um filme. São os leitores que folheiam as páginas da HQ e escolhem sua própria velocidade de leitura. Eles podem se delongar em um quadro, contemplar o plano completo e retornar para quadros ou sequências inteiras quando bem entenderem. Um filme, no entanto, obriga o espectador a seguir o ritmo das sequências. No filme, as cenas são colocadas em uma sequência linear-temporal; nos quadrinhos, os quadros não só são colocados em uma sequência linear, mas também em um espaço maior, a dizer, a página. Neste sentido, os quadrinhos são uma mídia mais espacial do que o filme. No cinema, a filmagem e a montagem são duas fases muito distintas. Nos quadrinhos, a ilustração dos quadros e a combinação dos quadros em uma página não podem ser facilmente separadas: as escolhas em um campo têm consequências no outro campo (GROENSTEEN, 1990, p.28). Extraído do livro: Intermidialidade-e-Estudos-Interartes-Desafios-da-Arte-Contemporânea-2 – 2012.