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UM ÍDOLO
À DERIVA
P
ara o francês Guy Debord,
cuja obra-prima, ‘‘A Socie-
dade do Espetáculo’’, com-
pleta 50 anos em novem-
bro, ‘‘deriva’’ era um conceito so-
ciológico. Colocar-se à deriva deve-
ria significar romper com o siste-
ma da mercadoria e tentar trans-
formar a própria vida numa obra
de arte. No pouco tempo que tive
para conversar com Belchior quan-
do ele me procurou, em 2013, em
Porto Alegre, senti diante de mim
um artista à deriva, um retirante
em busca de si e do nada, do subli-
me e do cotidiano na sua crueza
carnal. Tenho convicção de que
Belchior rompeu com a sociedade
mercadológica espetacular e deri-
vou até se apagar.
Esta é a história de um ídolo,
um gênio, que largou tudo e saiu
em busca de um fã que o adotas-
se. Encontrou muitos que o leva-
ram para casa por algum tempo:
um mês, 40 dias, três meses, qua-
tro anos. Tentou comigo. Decepcio-
nou-se. Sou fã. Mas não me via le-
vando para morar comigo um ca-
sal com seus problemas, ainda
mais que Edna, última mulher de
Belchior, me pareceu desde o pri-
meiro minuto uma pessoa compli-
cada. Belchior encontrou o fã ca-
paz de adotá-lo em Santa Cruz na
pessoa do radialista e escritor ma-
ranhense Dogival Duarte. Quem o
recebeu por algum tempo se orgu-
lha do que fez. Passado um perío-
do de deslumbramento a realida-
de se impunha: problemas de rela-
cionamento com Edna ou como
continuar bancando indetermina-
damente o custo do casal.
Dogival perseverou, abrigou
Belchior na sua casa, depois na de
amigos como o professor de filoso-
fia Ubiratan Trindade, e, por fim,
na casa emprestada onde o cantor
morreu. Houve altruísmo e curiosi-
dade de parte de muitos que aco-
lheram Belchior: quem não quer
ter em casa uma celebridade, um
gênio musical, um ídolo? Alguns
talvez tenham esperado que em al-
gum momento Belchior retribuísse
cantando. Não creio que isso te-
nha acontecido. Ubiratan conta
que, em Murta, no interior da cida-
de de Sobradinho, onde instalou a
dupla, Belchior teria composto e
cantado para surpresa do caseiro,
que o tinha por professor de filoso-
fia. Belchior, contudo, parece ter
guardado uma porção irredutível.
Não quis ser pássaro de gaiola.
Salvo revelação a vir.
Se cada fã queria o ídolo só pa-
ra si por algum tempo, Edna pare-
ce ter radicalizado esse ideal pos-
sessivo: retirava o companheiro de
cena e o mantinha escondido. Pro-
pus a Belchior que desse uma en-
trevista para o nosso Esfera
Púbica, da “Rádio Guaíba”. Ele es-
tava inclinado a conceder. Edna
não deixou. Ela o dominava estra-
nhamente. Salvo se fosse um escu-
do à disposição dele. Creio que nun-
ca decifraremos o que se quebrou
dentro de Belchior. Ele podia voltar
a cantar e a ganhar dinheiro, mas
não queria. Era um homem em fu-
ga. Depois que nos deixou, andou
à deriva por Porto Alegre até ser
resgatado por outro fã. E assim
foi derivando. Eu sabia que ele es-
tava em Santa Cruz, mas não veri-
ficava mais as informações. Para
quê? Para desalojá-lo? Para que
se assustasse como um rio, um bi-
cho, um bando de pardais? Ele só
queria ficar aninhado deixando o
tempo passar.
Já escrevi que Belchior foi o
melhor compositor brasileiro de to-
dos os tempos. Por quê? Ele tra-
duziu uma geração inteira, a mi-
nha, em poucos versos magistrais
de uma beleza simples e melancó-
lica: ‘‘Eu sou apenas um rapaz/La-
tino-Americano/Sem dinheiro no
banco/Sem parentes importan-
tes/E vindo do Interior’’. Biografia
de geração completada pelo de-
sencanto: ‘‘Minha dor é perceber/
Que apesar de termos/Feito tudo,
tudo, tudo/Tudo o que fizemos/
Ainda somos os mesmos/E vive-
mos/Ainda somos os mesmos/E vi-
vemos/Como os nossos pais’’.
Por mais triste que seja, Bel-
chior terminou sua vida em total
sintonia com suas canções: à deri-
va. Sem fazer concessões. Sem
cantar. Humilhou-se pedindo aju-
da, recebendo favores, vagando,
deixando contas para trás, entre-
gando-se com um animal em exi-
bição para poucos. Como um Rim-
baud, Debord ou um Jean Bau-
drillard, que defendia a existên-
cia de algo irredutível ao valor de
troca, não deu mais show. Negou
aos outros o que mais sabia fazer
e podia dar: suas interpretações.
Permaneceu, nesse sentido, autô-
nomo e inacessível até o fim.
Guy Debord atacou a separação
gerada pela mercadoria: separa-
ção entre o trabalhador e o pro-
duto do seu trabalho, separação
entre o artista e a sua obra pelo
valor de troca, separação entre
palco e plateia. Belchior fez do fi-
nal da sua vida uma crítica radi-
cal à separação. Entregou tudo,
entregou-se a todos, pôs-se à de-
riva, mas não deu show. Edna te-
ria dito a uma sobrinha de Bel-
chior que ele fez uma apresenta-
ção na noite anterior à da sua
morte. Prefiro não crer.
Como toda hipótese esta pode
ser desmentida pelos fatos, por
um vídeo, por um áudio, por um
depoimento, enfim. Ficarei com a
tese contra os fatos. As melhores
ideias nem sempre correspondem
à realidade. Belchior traduziu
uma geração que perdeu. Não po-
deria terminar como vencedor. A
utopia não veio. Belchior retirou-
se depois de responder com mui-
ta antecipação à própria pergun-
ta: ‘‘Se você vier me perguntar
por onde andei/No tempo em que
você sonhava/De olhos abertos,
lhe direi:/Amigo, eu me desespera-
va’’. Um desespero sereno.
Coordenador Editorial: Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
Editor: Luiz Gonzaga Lopes | lgferreira@correiodopovo.com.br
Diagramação: Jonathas Costa | jacosta@correiodopovo.com.br
POR JUREMIR MACHADO DA SILVA
CScaderno de sábado
CORREIO DO POVO SÁBADO,6 de maio de 2017
Sobre mulheres
Dois espetáculos do festival Palco Giratório Sesc tematizam as mulhe-
res. Às 18h, na Sala Alziro Azevedo (Salgado Filho, 312), “Women’s (SC),
Experiência Subterrânea”, de Daniel Veronese, mostra um momento na
vida de uma faxineira que trabalha em um necrotério e dialoga com um
corpo, que aguarda autópsia. Com Ana L. Fortes e Lara Matos. Ingressos
esgotados. Já “Antígona Recortada: Contos que cantam sobre pousos pás-
saros” (foto), do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (SP), usa o universo
do tráfico de drogas para relatar a história de crianças e adolescentes
que vivem nos morros e pelas circunstâncias, levam uma vida adulta. A
peça está no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), sábado, 21h.
A Vida Não Tá Nem Aí... — Stand up
comedy de Nando Viana retrata seu
momento, às voltas com tatuagens,
filhos e ursos pandas. No Teatro da
Amrigs (Ipiranga, 5311), sextas e sába-
dos, 21h e domingos, 20h. Até 14/5.
Prata-Paraíso — A decomposição de
família nobre. João de Ricardo. Sala
504/Usina do Gasômetro (João Gou-
lart, 551), de sextas a domingos, 19h.
Os Dois Gêmeos Venezianos — Trupe
Giramundo (RS) traz confusões decor-
rentes de encontro entre dois gêmeos
idênticos, criados em cidades diferen-
tes. Teatro Bruno Kiefer (Andradas,
736), sextas a domingos, 20h.
Dog Day — Gênero e suicídio são temas
de 24h de encontros e desencontros.
De Fernanda Moreno. No Teatro Carlos
Carvalho (Andradas, 736), sábados e
domingos, às 20h. Em cartaz até 21/5.
A Gaiola — Musical sobre amizade e
liberdade fala da relação entre pássaro
e menina. Duda Maia (RJ). No Teatro
Sesc (Alberto Bins, 665), sábado, 15h.
A Arca de Noé — O que aconteceu aos
bichos após as águas do dilúvio terem
baixado. Direção de Zé Adão Barbosa.
Na Sala Álvaro Moreyra (Andradas,
736), neste sábado e domingo, 15h.
Dose dupla — “Chapeuzinho Vermelho”
(sábados, 16h) e “Miracolous...” (sába-
dos e domingos, 17h15min), no Teatro
Zé Rodrigues (Paulo Setúbal, 117).
Concerto de Outono — Coral Feevale
homenageia mulheres da MPB. No Salão
de Atos do Campus II da Feevale (ERS-239,
2755), N. Hamburgo, sábado, 16h30min e
19h30min. Ingressos esgotados.
Juntos — Show com Antonio Villeroy,
Bebeto Alves, Gelson Oliveira e Nelson
Coelho de Castro é apresentado a bor-
do do barco Cisne Branco. No Arma-
zém B3 do Cais do Porto, sábado, às
19h30min. Fone: 99712-5672.
Especial Belchior — Lico Silveira e Os
Latinoamericanos cantam sucessos do
cantor. No Paraphernália Bar (João
Alfredo, 425), às 20h.
O Maestro, o Malandro e o Poeta —
Músicos interpretam canções de Tom ,
Chico e Vinicius. Opinião (José do Pa-
trocínio, 834), sábado, 20h30min.
Ela Não é Seu - Gabriel Dalla Costa
lança EP, inspirado em pensadores e
budismo. Teatro Ciee (Dom Pedro II,
861), hoje, 21h30min.
O Rappa — Lançamento do CD e DVD
“Acústico Oficina Francisco Brennand”,
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(Severo Dullius, 1995), hoje, 23h55min.
Sarau — Hoje, das 15h às 19h, os 68
anos da Casa do Artista Riograndense
(Anchieta, 280), será comemorada com
atrações artísticas. Entre as atrações,
Banda Pikardia, e Silfarnei Alves.
Tom Cavalcante — Em “Stomdup” humo-
rista faz imitações, críticas e mostra per-
sonagens. Teatro da Feevale (ERS 239,
2755), Novo Hamburgo, sábado, 21h.
Valsa n˚ 6 — Gisela Sparremberger inter-
preta seis personagens, em obra de Nel-
son Rodrigues sobre adolescente morta
pela rival. No Instituto Ling (João Caeta-
no, 440), neste sábado, 18h e 20h30min.
Belly Fusion — Cia. Al Farah em espetácu-
lo de dança árabe com diversas verten-
tes. No Complexo Joana Taborda (Paler-
mo, 226), em Viamão, sábado, 20h.
Auê — Cia. Barca dos Corações Partidos
(RJ) fala e canta o amor, em ritmos brasi-
leiros. Teatro São Pedro (Praça da Ma-
triz, s/n˚), sábado, 20h e domingo, 18h.
Brasileirada... — Grupo Andanças conta
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do pela dança e cultura brasileira. Teatro
da Santa Casa (Independência, 75), neste
sábado e domingo, a partir das 20h.
Enquanto as Coisas Não se Competam —
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peletti. Na Sala Álvaro Moreyra (Erico
Verissimo, 307), sábado e domingo, 19h.
Atordoado — Juliano Passini vive ator
prestes a entrar em cena, com suas inse-
guranças, dramas e sucessos. Na Casa de
Teatro (Garibaldi, 853), sextas e sábados,
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TEATRO
ROTEIRO
CADERNO DE SÁBADO
MÚSICA
ANDRÉ MURRER / DIVULGAÇÃO / CP
POR CARLOS GUIMARÃES
Jornalista da Rádio Guaíba
O recado de Belchior
que ninguém ouviu
‘Antígona Recortada’ é uma das atrações do Palco Giratório neste sábado
O
ano de 1976 foi emble-
mático para a música
mundial. Na Inglaterra e
nos Estados Unidos sur-
giam os punks, que seriam condu-
tores do principal movimento de
contracultura da época. A música
pop estava quebrada, cada vez
mais desconectada principalmen-
te dos jovens. Surgia a disco mu-
sic, preconizando a diversão pela
diversão, despreocupando-se das
durezas do cotidiano. O rock, mer-
gulhado em técnica progressiva e
ainda na ressaca de uma onda hi-
ppie que não levou a lugar ne-
nhum, direcionava-se para a me-
galomania, shows espetaculares,
muita histeria e pouco impacto.
Do underground, os punks reu-
niam-se para desestruturar esta
lógica, impulsionados pela crise fi-
nanceira dos trabalhadores no
Reino Unido e pelo tédio com o
american way of life. Havia mo-
tivos para uma revolta autêntica,
vinda do proletariado, dos jovens
entediados e de quem queria, à
sua maneira, mudar o mundo.
No Brasil, há de se entender,
sobretudo, de que forma a músi-
ca se apresentava no período.
Dando os primeiros passos para
a disco, a revigoração ensaiada
pela soul music no início da déca-
da se fragmentava entre o concei-
tual de Jorge Ben e o racional de
Tim Maia. Rita Lee pós-Mutantes
tentava com o brilhante “Fruto
Proibido”, mas, segundo a pró-
pria, rock ainda era coisa de ban-
dido. Os jovens roqueiros de plan-
tão estavam ocupados demais
tentando imitar o Yes ou o Pink
Floyd. O gosto popular entregava-
se aos bregas, ao Roberto Carlos,
às músicas de novela e aos enla-
tados tupiniquins, como Morris
Albert e Mark Davis. O país des-
cobria Cartola e os sambistas do
morro de forma tardia. Imediata-
mente, foram incorporados a
uma espécie de indústria cultural-
intelectual hegemônica que con-
templava as gravadoras, os me-
gaempresários e os artistas legiti-
mados muito mais por uma críti-
ca purista do que por um público
interessado. A ditadura militar
completava mais de uma década
e um dos principais focos de opo-
sição se dava pelos artistas, mas
de uma forma intelectualizada de-
mais para ser absorvida pelas
massas. Havia um domínio da
MPB tradicional e dos velhos
baianos tropicalistas, com resquí-
cios dos festivais, uma hegemo-
nia que já perdurava por uma dé-
cada ao menos.
A bifurcação da MPB condu-
zia a criação para diferentes
vias. Caetano estava cantando
para o corpo ficar Odara. Gil colo-
cava um pé na disco e uma men-
te no reggae. A música de protes-
to perdeu força, resumindo-se às
metáforas de Chico, voltando a
ganhar força somente no final da
década com a visceral “O Bêbado
e a Equilibrista”. Contudo, havia
caminhos alternativos para o sur-
gimento de novidades autênticas,
plenas e originais. Um destes era
aparecer em trilha de novela,
ocupado pelo alento do ano, cha-
mado Guilherme Arantes, que
emplacou “Meu Mundo e Nada
Mais” para o grande público, pos-
sivelmente o surgimento de uma
música pop autoral brasileira. A
outra brecha era exatamente
usar este sistema consolidado pa-
ra promover novos autores e for-
matos. Era utilizar o selo de qua-
lidade do super artista para apre-
sentar novos compositores. Este
foi o caminho seguido por Antô-
nio Carlos Gomes Belchior Fonte-
nelle Fernandes, ou simplesmen-
te Belchior. No caso do composi-
tor cearense, a brecha se chama-
va Elis Regina.
Quando Elis gravou para o es-
petáculo “Falso Brilhante” as fai-
xas “Como Nossos Pais” e “Velha
Roupa Colorida”, Belchior lança-
va “Alucinação”, uma crônica do
cotidiano que serviria para, ao
menos, apresentar um retrato fiel
do verdadeiro Brasil dos anos
1970. Belchior não tinha a sutile-
za de Chico, o misticismo de Gil
ou o egocentrismo de Caetano. Bi-
godudo, nordestino e com um tim-
bre de voz que fugia dos maneiris-
mos recorrentes no período, era
uma espécie de bardo, um cantor
do cotidiano, um cronista da sel-
va de pedra. Fugia da aridez do
Nordeste, entregando-se à perso-
nagem do retirante apaixonado,
confuso e impactado com a metró-
pole. Lançava-se como um genuí-
no opositor do modelo hegemôni-
co de então, porém pouco levado
a sério, já que narcisos sempre
acharão feio o que não é espelho.
Em “Alucinação”, um dos
maiores discos já produzidos no
país, Belchior se situa como um
itinerante da contracultura. Ape-
nas um rapaz latino-americano,
escancarava que não tinha dinhei-
ro no banco. Cantava o concretis-
mo do drama das pessoas dessas
capitais com um canto, que era
torto, feito faca, para cortar a car-
ne de gente comum, do preto, do
pobre, do estudante, de uma mu-
lher sozinha. Niilista, contunden-
te e direto, contradizia o espiral
alegórico impetrado pelos tropica-
listas, a poesia lúdica dos minei-
ros, as brincadeiras semânticas
dos emepebistas e a megaloma-
nia habitual dos baianos. Era um
nordestino que escrevia sobre o
mundo, a partir do seu ponto de
vista, brutal, caótico e definitivo.
Belchior comportava-se, do
seu jeito, como um punk. Com o
cantar lancinante do indomado,
apresentava-se como uma espé-
cie de interlocutor da contracultu-
ra a um sistema que apartava
quem não seguia a tal receita de
bolo. Tinha a sinceridade de um
jovem, a lucidez de um observa-
dor e, ao mesmo tempo, o ponto
de vista de um imigrante. Quando
diante dos edifícios e das agruras
da cidade grande, alguma coisa
acontecia não em seu coração,
mas em suas vísceras, na trans-
formação de seu ponto de vista,
na urgência de retratar a simplici-
dade, a brutalidade, a crueza e o
cinza do seu novo entorno. Não
era tudo divino e maravilhoso,
era preto no branco, concreto e
real, palpável, tácito. Como os
punks faziam lá fora.
Belchior morreu no anonima-
to, aos 70 anos, numa despedida
até certo ponto previsível de
quem não fez muita concessão às
tentações do sucesso fácil. Nunca
foi midiático, nunca foi agradável
e nunca fez média para se tornar
mais ou menos bem-sucedido. No
final da vida, entre idas e vindas,
parecia um peixe fora d’água nes-
te mundo pós-moderno de osten-
tação, problematização, rela-
tivização e chatices et al. Perdido
em sua alucinação de suportar o
dia a dia, possivelmente não su-
portava mais um mundo onde im-
porta muito mais aparentar algo
do que ser algo. Belchior não con-
seguiu fazer um retrato deste coti-
diano, provavelmente por não se
importar muito com ele. Morreu
do mesmo jeito que surgiu para a
música: um itinerante, um andari-
lho trôpego entre paixões arreba-
tadoras, deslizes efêmeros e deva-
neios concretos. Morreu punk, co-
mo fora punk. Morreu com um re-
cado ao seu estilo, de que toda
sinceridade é possível nas tenta-
ções das relações fugazes, como,
de fato, pode se traduzir o mundo
atual. Morreu jovem, talvez em al-
guma curva no seu próprio cami-
nho, com todo som, toda fúria e
toda pressa de viver, gritando de-
sesperadamente em português,
mas sem ninguém ouvir.
2 | SÁBADO,6 de maio de 2017 CORREIO DO POVO

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Belchior

  • 1. UM ÍDOLO À DERIVA P ara o francês Guy Debord, cuja obra-prima, ‘‘A Socie- dade do Espetáculo’’, com- pleta 50 anos em novem- bro, ‘‘deriva’’ era um conceito so- ciológico. Colocar-se à deriva deve- ria significar romper com o siste- ma da mercadoria e tentar trans- formar a própria vida numa obra de arte. No pouco tempo que tive para conversar com Belchior quan- do ele me procurou, em 2013, em Porto Alegre, senti diante de mim um artista à deriva, um retirante em busca de si e do nada, do subli- me e do cotidiano na sua crueza carnal. Tenho convicção de que Belchior rompeu com a sociedade mercadológica espetacular e deri- vou até se apagar. Esta é a história de um ídolo, um gênio, que largou tudo e saiu em busca de um fã que o adotas- se. Encontrou muitos que o leva- ram para casa por algum tempo: um mês, 40 dias, três meses, qua- tro anos. Tentou comigo. Decepcio- nou-se. Sou fã. Mas não me via le- vando para morar comigo um ca- sal com seus problemas, ainda mais que Edna, última mulher de Belchior, me pareceu desde o pri- meiro minuto uma pessoa compli- cada. Belchior encontrou o fã ca- paz de adotá-lo em Santa Cruz na pessoa do radialista e escritor ma- ranhense Dogival Duarte. Quem o recebeu por algum tempo se orgu- lha do que fez. Passado um perío- do de deslumbramento a realida- de se impunha: problemas de rela- cionamento com Edna ou como continuar bancando indetermina- damente o custo do casal. Dogival perseverou, abrigou Belchior na sua casa, depois na de amigos como o professor de filoso- fia Ubiratan Trindade, e, por fim, na casa emprestada onde o cantor morreu. Houve altruísmo e curiosi- dade de parte de muitos que aco- lheram Belchior: quem não quer ter em casa uma celebridade, um gênio musical, um ídolo? Alguns talvez tenham esperado que em al- gum momento Belchior retribuísse cantando. Não creio que isso te- nha acontecido. Ubiratan conta que, em Murta, no interior da cida- de de Sobradinho, onde instalou a dupla, Belchior teria composto e cantado para surpresa do caseiro, que o tinha por professor de filoso- fia. Belchior, contudo, parece ter guardado uma porção irredutível. Não quis ser pássaro de gaiola. Salvo revelação a vir. Se cada fã queria o ídolo só pa- ra si por algum tempo, Edna pare- ce ter radicalizado esse ideal pos- sessivo: retirava o companheiro de cena e o mantinha escondido. Pro- pus a Belchior que desse uma en- trevista para o nosso Esfera Púbica, da “Rádio Guaíba”. Ele es- tava inclinado a conceder. Edna não deixou. Ela o dominava estra- nhamente. Salvo se fosse um escu- do à disposição dele. Creio que nun- ca decifraremos o que se quebrou dentro de Belchior. Ele podia voltar a cantar e a ganhar dinheiro, mas não queria. Era um homem em fu- ga. Depois que nos deixou, andou à deriva por Porto Alegre até ser resgatado por outro fã. E assim foi derivando. Eu sabia que ele es- tava em Santa Cruz, mas não veri- ficava mais as informações. Para quê? Para desalojá-lo? Para que se assustasse como um rio, um bi- cho, um bando de pardais? Ele só queria ficar aninhado deixando o tempo passar. Já escrevi que Belchior foi o melhor compositor brasileiro de to- dos os tempos. Por quê? Ele tra- duziu uma geração inteira, a mi- nha, em poucos versos magistrais de uma beleza simples e melancó- lica: ‘‘Eu sou apenas um rapaz/La- tino-Americano/Sem dinheiro no banco/Sem parentes importan- tes/E vindo do Interior’’. Biografia de geração completada pelo de- sencanto: ‘‘Minha dor é perceber/ Que apesar de termos/Feito tudo, tudo, tudo/Tudo o que fizemos/ Ainda somos os mesmos/E vive- mos/Ainda somos os mesmos/E vi- vemos/Como os nossos pais’’. Por mais triste que seja, Bel- chior terminou sua vida em total sintonia com suas canções: à deri- va. Sem fazer concessões. Sem cantar. Humilhou-se pedindo aju- da, recebendo favores, vagando, deixando contas para trás, entre- gando-se com um animal em exi- bição para poucos. Como um Rim- baud, Debord ou um Jean Bau- drillard, que defendia a existên- cia de algo irredutível ao valor de troca, não deu mais show. Negou aos outros o que mais sabia fazer e podia dar: suas interpretações. Permaneceu, nesse sentido, autô- nomo e inacessível até o fim. Guy Debord atacou a separação gerada pela mercadoria: separa- ção entre o trabalhador e o pro- duto do seu trabalho, separação entre o artista e a sua obra pelo valor de troca, separação entre palco e plateia. Belchior fez do fi- nal da sua vida uma crítica radi- cal à separação. Entregou tudo, entregou-se a todos, pôs-se à de- riva, mas não deu show. Edna te- ria dito a uma sobrinha de Bel- chior que ele fez uma apresenta- ção na noite anterior à da sua morte. Prefiro não crer. Como toda hipótese esta pode ser desmentida pelos fatos, por um vídeo, por um áudio, por um depoimento, enfim. Ficarei com a tese contra os fatos. As melhores ideias nem sempre correspondem à realidade. Belchior traduziu uma geração que perdeu. Não po- deria terminar como vencedor. A utopia não veio. Belchior retirou- se depois de responder com mui- ta antecipação à própria pergun- ta: ‘‘Se você vier me perguntar por onde andei/No tempo em que você sonhava/De olhos abertos, lhe direi:/Amigo, eu me desespera- va’’. Um desespero sereno. Coordenador Editorial: Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br Editor: Luiz Gonzaga Lopes | lgferreira@correiodopovo.com.br Diagramação: Jonathas Costa | jacosta@correiodopovo.com.br POR JUREMIR MACHADO DA SILVA CScaderno de sábado CORREIO DO POVO SÁBADO,6 de maio de 2017
  • 2. Sobre mulheres Dois espetáculos do festival Palco Giratório Sesc tematizam as mulhe- res. Às 18h, na Sala Alziro Azevedo (Salgado Filho, 312), “Women’s (SC), Experiência Subterrânea”, de Daniel Veronese, mostra um momento na vida de uma faxineira que trabalha em um necrotério e dialoga com um corpo, que aguarda autópsia. Com Ana L. Fortes e Lara Matos. Ingressos esgotados. Já “Antígona Recortada: Contos que cantam sobre pousos pás- saros” (foto), do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (SP), usa o universo do tráfico de drogas para relatar a história de crianças e adolescentes que vivem nos morros e pelas circunstâncias, levam uma vida adulta. A peça está no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), sábado, 21h. A Vida Não Tá Nem Aí... — Stand up comedy de Nando Viana retrata seu momento, às voltas com tatuagens, filhos e ursos pandas. No Teatro da Amrigs (Ipiranga, 5311), sextas e sába- dos, 21h e domingos, 20h. Até 14/5. Prata-Paraíso — A decomposição de família nobre. João de Ricardo. Sala 504/Usina do Gasômetro (João Gou- lart, 551), de sextas a domingos, 19h. Os Dois Gêmeos Venezianos — Trupe Giramundo (RS) traz confusões decor- rentes de encontro entre dois gêmeos idênticos, criados em cidades diferen- tes. Teatro Bruno Kiefer (Andradas, 736), sextas a domingos, 20h. Dog Day — Gênero e suicídio são temas de 24h de encontros e desencontros. De Fernanda Moreno. No Teatro Carlos Carvalho (Andradas, 736), sábados e domingos, às 20h. Em cartaz até 21/5. A Gaiola — Musical sobre amizade e liberdade fala da relação entre pássaro e menina. Duda Maia (RJ). No Teatro Sesc (Alberto Bins, 665), sábado, 15h. A Arca de Noé — O que aconteceu aos bichos após as águas do dilúvio terem baixado. Direção de Zé Adão Barbosa. Na Sala Álvaro Moreyra (Andradas, 736), neste sábado e domingo, 15h. Dose dupla — “Chapeuzinho Vermelho” (sábados, 16h) e “Miracolous...” (sába- dos e domingos, 17h15min), no Teatro Zé Rodrigues (Paulo Setúbal, 117). Concerto de Outono — Coral Feevale homenageia mulheres da MPB. No Salão de Atos do Campus II da Feevale (ERS-239, 2755), N. Hamburgo, sábado, 16h30min e 19h30min. Ingressos esgotados. Juntos — Show com Antonio Villeroy, Bebeto Alves, Gelson Oliveira e Nelson Coelho de Castro é apresentado a bor- do do barco Cisne Branco. No Arma- zém B3 do Cais do Porto, sábado, às 19h30min. Fone: 99712-5672. Especial Belchior — Lico Silveira e Os Latinoamericanos cantam sucessos do cantor. No Paraphernália Bar (João Alfredo, 425), às 20h. O Maestro, o Malandro e o Poeta — Músicos interpretam canções de Tom , Chico e Vinicius. Opinião (José do Pa- trocínio, 834), sábado, 20h30min. Ela Não é Seu - Gabriel Dalla Costa lança EP, inspirado em pensadores e budismo. Teatro Ciee (Dom Pedro II, 861), hoje, 21h30min. O Rappa — Lançamento do CD e DVD “Acústico Oficina Francisco Brennand”, com hits e quatro canções inéditas. Abertura da Be Livin. Pepsi On Stage (Severo Dullius, 1995), hoje, 23h55min. Sarau — Hoje, das 15h às 19h, os 68 anos da Casa do Artista Riograndense (Anchieta, 280), será comemorada com atrações artísticas. Entre as atrações, Banda Pikardia, e Silfarnei Alves. Tom Cavalcante — Em “Stomdup” humo- rista faz imitações, críticas e mostra per- sonagens. Teatro da Feevale (ERS 239, 2755), Novo Hamburgo, sábado, 21h. Valsa n˚ 6 — Gisela Sparremberger inter- preta seis personagens, em obra de Nel- son Rodrigues sobre adolescente morta pela rival. No Instituto Ling (João Caeta- no, 440), neste sábado, 18h e 20h30min. Belly Fusion — Cia. Al Farah em espetácu- lo de dança árabe com diversas verten- tes. No Complexo Joana Taborda (Paler- mo, 226), em Viamão, sábado, 20h. Auê — Cia. Barca dos Corações Partidos (RJ) fala e canta o amor, em ritmos brasi- leiros. Teatro São Pedro (Praça da Ma- triz, s/n˚), sábado, 20h e domingo, 18h. Brasileirada... — Grupo Andanças conta história de casal de forrozeiros apaixona- do pela dança e cultura brasileira. Teatro da Santa Casa (Independência, 75), neste sábado e domingo, a partir das 20h. Enquanto as Coisas Não se Competam — Espetáculo de dança de/com Michel Ca- peletti. Na Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), sábado e domingo, 19h. Atordoado — Juliano Passini vive ator prestes a entrar em cena, com suas inse- guranças, dramas e sucessos. Na Casa de Teatro (Garibaldi, 853), sextas e sábados, às 20h30min. Em cartaz até 13/5. TEATRO ROTEIRO CADERNO DE SÁBADO MÚSICA ANDRÉ MURRER / DIVULGAÇÃO / CP POR CARLOS GUIMARÃES Jornalista da Rádio Guaíba O recado de Belchior que ninguém ouviu ‘Antígona Recortada’ é uma das atrações do Palco Giratório neste sábado O ano de 1976 foi emble- mático para a música mundial. Na Inglaterra e nos Estados Unidos sur- giam os punks, que seriam condu- tores do principal movimento de contracultura da época. A música pop estava quebrada, cada vez mais desconectada principalmen- te dos jovens. Surgia a disco mu- sic, preconizando a diversão pela diversão, despreocupando-se das durezas do cotidiano. O rock, mer- gulhado em técnica progressiva e ainda na ressaca de uma onda hi- ppie que não levou a lugar ne- nhum, direcionava-se para a me- galomania, shows espetaculares, muita histeria e pouco impacto. Do underground, os punks reu- niam-se para desestruturar esta lógica, impulsionados pela crise fi- nanceira dos trabalhadores no Reino Unido e pelo tédio com o american way of life. Havia mo- tivos para uma revolta autêntica, vinda do proletariado, dos jovens entediados e de quem queria, à sua maneira, mudar o mundo. No Brasil, há de se entender, sobretudo, de que forma a músi- ca se apresentava no período. Dando os primeiros passos para a disco, a revigoração ensaiada pela soul music no início da déca- da se fragmentava entre o concei- tual de Jorge Ben e o racional de Tim Maia. Rita Lee pós-Mutantes tentava com o brilhante “Fruto Proibido”, mas, segundo a pró- pria, rock ainda era coisa de ban- dido. Os jovens roqueiros de plan- tão estavam ocupados demais tentando imitar o Yes ou o Pink Floyd. O gosto popular entregava- se aos bregas, ao Roberto Carlos, às músicas de novela e aos enla- tados tupiniquins, como Morris Albert e Mark Davis. O país des- cobria Cartola e os sambistas do morro de forma tardia. Imediata- mente, foram incorporados a uma espécie de indústria cultural- intelectual hegemônica que con- templava as gravadoras, os me- gaempresários e os artistas legiti- mados muito mais por uma críti- ca purista do que por um público interessado. A ditadura militar completava mais de uma década e um dos principais focos de opo- sição se dava pelos artistas, mas de uma forma intelectualizada de- mais para ser absorvida pelas massas. Havia um domínio da MPB tradicional e dos velhos baianos tropicalistas, com resquí- cios dos festivais, uma hegemo- nia que já perdurava por uma dé- cada ao menos. A bifurcação da MPB condu- zia a criação para diferentes vias. Caetano estava cantando para o corpo ficar Odara. Gil colo- cava um pé na disco e uma men- te no reggae. A música de protes- to perdeu força, resumindo-se às metáforas de Chico, voltando a ganhar força somente no final da década com a visceral “O Bêbado e a Equilibrista”. Contudo, havia caminhos alternativos para o sur- gimento de novidades autênticas, plenas e originais. Um destes era aparecer em trilha de novela, ocupado pelo alento do ano, cha- mado Guilherme Arantes, que emplacou “Meu Mundo e Nada Mais” para o grande público, pos- sivelmente o surgimento de uma música pop autoral brasileira. A outra brecha era exatamente usar este sistema consolidado pa- ra promover novos autores e for- matos. Era utilizar o selo de qua- lidade do super artista para apre- sentar novos compositores. Este foi o caminho seguido por Antô- nio Carlos Gomes Belchior Fonte- nelle Fernandes, ou simplesmen- te Belchior. No caso do composi- tor cearense, a brecha se chama- va Elis Regina. Quando Elis gravou para o es- petáculo “Falso Brilhante” as fai- xas “Como Nossos Pais” e “Velha Roupa Colorida”, Belchior lança- va “Alucinação”, uma crônica do cotidiano que serviria para, ao menos, apresentar um retrato fiel do verdadeiro Brasil dos anos 1970. Belchior não tinha a sutile- za de Chico, o misticismo de Gil ou o egocentrismo de Caetano. Bi- godudo, nordestino e com um tim- bre de voz que fugia dos maneiris- mos recorrentes no período, era uma espécie de bardo, um cantor do cotidiano, um cronista da sel- va de pedra. Fugia da aridez do Nordeste, entregando-se à perso- nagem do retirante apaixonado, confuso e impactado com a metró- pole. Lançava-se como um genuí- no opositor do modelo hegemôni- co de então, porém pouco levado a sério, já que narcisos sempre acharão feio o que não é espelho. Em “Alucinação”, um dos maiores discos já produzidos no país, Belchior se situa como um itinerante da contracultura. Ape- nas um rapaz latino-americano, escancarava que não tinha dinhei- ro no banco. Cantava o concretis- mo do drama das pessoas dessas capitais com um canto, que era torto, feito faca, para cortar a car- ne de gente comum, do preto, do pobre, do estudante, de uma mu- lher sozinha. Niilista, contunden- te e direto, contradizia o espiral alegórico impetrado pelos tropica- listas, a poesia lúdica dos minei- ros, as brincadeiras semânticas dos emepebistas e a megaloma- nia habitual dos baianos. Era um nordestino que escrevia sobre o mundo, a partir do seu ponto de vista, brutal, caótico e definitivo. Belchior comportava-se, do seu jeito, como um punk. Com o cantar lancinante do indomado, apresentava-se como uma espé- cie de interlocutor da contracultu- ra a um sistema que apartava quem não seguia a tal receita de bolo. Tinha a sinceridade de um jovem, a lucidez de um observa- dor e, ao mesmo tempo, o ponto de vista de um imigrante. Quando diante dos edifícios e das agruras da cidade grande, alguma coisa acontecia não em seu coração, mas em suas vísceras, na trans- formação de seu ponto de vista, na urgência de retratar a simplici- dade, a brutalidade, a crueza e o cinza do seu novo entorno. Não era tudo divino e maravilhoso, era preto no branco, concreto e real, palpável, tácito. Como os punks faziam lá fora. Belchior morreu no anonima- to, aos 70 anos, numa despedida até certo ponto previsível de quem não fez muita concessão às tentações do sucesso fácil. Nunca foi midiático, nunca foi agradável e nunca fez média para se tornar mais ou menos bem-sucedido. No final da vida, entre idas e vindas, parecia um peixe fora d’água nes- te mundo pós-moderno de osten- tação, problematização, rela- tivização e chatices et al. Perdido em sua alucinação de suportar o dia a dia, possivelmente não su- portava mais um mundo onde im- porta muito mais aparentar algo do que ser algo. Belchior não con- seguiu fazer um retrato deste coti- diano, provavelmente por não se importar muito com ele. Morreu do mesmo jeito que surgiu para a música: um itinerante, um andari- lho trôpego entre paixões arreba- tadoras, deslizes efêmeros e deva- neios concretos. Morreu punk, co- mo fora punk. Morreu com um re- cado ao seu estilo, de que toda sinceridade é possível nas tenta- ções das relações fugazes, como, de fato, pode se traduzir o mundo atual. Morreu jovem, talvez em al- guma curva no seu próprio cami- nho, com todo som, toda fúria e toda pressa de viver, gritando de- sesperadamente em português, mas sem ninguém ouvir. 2 | SÁBADO,6 de maio de 2017 CORREIO DO POVO