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SERVIÇOS FARMACÊUTICOS 2016/2017
Manual 2
Manual 2
Colesterol em Dia
SERVIÇOS FARMACÊUTICOS . 2016/2017
3
Manual2.ColesterolemDia
AUTORES:
Cassyano J Correr, BPharm, MSc, PhD
Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná
Consultor Abrafarma - Projeto Assistência Farmacêutica Avançada
projetofarma@abrafarma.com.br
Wálleri Christini Torelli Reis, BPharm, MSc
Ambulatório de Atenção Farmacêutica do Hospital de Clínicas,
Laboratório de Serviços Clínicos e Evidências em Saúde,
Universidade Federal do Paraná.
REVISÃO:
Thais Teles de Souza, BPharm, MSc
Ambulatório de Atenção Farmacêutica do Hospital de Clínicas,
Laboratório de Serviços Clínicos e Evidências em Saúde,
Universidade Federal do Paraná.
Os autores agradecem aos membros do GTFARMA, farmacêuticos coordenadores e super-
visores das Redes associadas à Abrafarma, bem como aos seus colaboradores, pela leitura,
revisão e sugestões de melhoria feitas aos Manuais durante seu processo de elaboração.
Muito obrigado!
Os autores deste manual empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto
estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelos autores até a data da entrega dos
originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante
fluxo de novas informações sobre terapêutica e reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sem-
pre outras fontes fidedignas (p. ex., Anvisa, diretrizes e protocolos clínicos), de modo a se certificarem de que as informações contidas neste
manual estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Recomendamos que
cada profissional utilize este manual como guia, não como única fonte de consulta.
Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qual-
quer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis correções posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de
algum deles tenha sido omitida.
547.731
C824 Correr, Cassyano Januário
Manual 2: colesterol em dia. / Cassyano Januário Correr,
Walleri, Christini Torelli Reis. 1. ed. atualizada. Curitiba: Ed. Practice , 2016.
100 p. : il. (algumas color.) ( Manual 2)
ISBN 978-85-68784-07-5
Inclui bibliografia
1. Colesterol. 2. Manuais. I. Reis, Walleri Christini Torelli.
II. Título.
FICHA CATALOGRÁFICA:
MANUAL 2: COLESTEROL EM DIA
Copyright © 2016 © 2017 ABRAFARMA
Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet ou
outros), sem permissão expressa da ABRAFARMA.
ABRAFARMA - Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias
Alameda Santos, 2300 - Conj. 71 - São Paulo / SP
CEP 01418-200 | Tel.: (11) 4550-6201
Practice Editora | Grupo Practice Ltda
Supervisão: Graziela Sponchiado | Capa e projeto gráfico: Raquel Damasceno
Diagramação: Guilherme Menezes | Contatos: contato@grupopractice.com.br
http://farmaceuticoclinico.com.br
EDITORAÇÃO:
AVISO AO LEITOR
Este manual possui caráter técnico-científico e destina-se exclusivamente aos profissionais farmacêuticos e colabora-
dores das Redes de Farmácias e Drogarias associadas a Abrafarma. Sua elaboração tem por objetivo apresentar dire-
trizes para a estruturação e performance dos serviços farmacêuticos nos estabelecimentos e, sob nenhuma hipótese,
pretende substituir normas ou procedimentos estabelecidos na legislação sanitária ou profissional mais atual aplicável
ao setor. A Abrafarma, bem como os autores, eximem-se de qualquer responsabilidade pelo mau uso deste recurso,
bem como pela interpretação e aplicação de seu conteúdo feita por seus leitores.
SERVIÇOS FARMACÊUTICOS ABRAFARMA
SUMÁRIO
9 A FARMÁCIA EM TRANSFORMAÇÃO
11 INTRODUÇÃO
13 PROGRAMA COLESTEROL EM DIA
13 O que é o programa colesterol em dia?
14 Quais são os benefícios para os pacientes?
15 PARTE 1: REVISANDO A DOENÇA
15 O que são as dislipidemias?
15 Como funciona o metabolismo lipídico?
19 Como ocorre a aterosclerose?
20 Quais as consequências da aterosclerose?
21 Quais são as diretrizes clínicas mais importantes sobre dislipidemias?
22 Como as dislipidemias são diagnosticadas?
23 Como as dislipidemias podem ser classificadas?
23 Dislipidemias Secundárias
27 Perfil lipídico: o que significa e como interpretar?
29 Como estimar o risco cardiovascular do paciente com dislipidemia?
34 ER pelo tempo de vida: Uma alternativa complementar
36 Quais são as metas terapêuticas nas dislipidemias?
37 Como as dislipidemias são tratadas?
40 Quais são os tratamentos de primeira linha?
45 Quais são as terapias de segunda linha?
50 Existem medicamentos isentos de prescrição que podem beneficiar pacientes com dislipidemia?
50 Ácidos graxos omega 3
54 Suplementos alimentares e produtos naturais funcionam para dislipidemias?
58 Na hipercolesterolemia familiar, o que fazer?
59 Prevenção secundária: o que muda?
60 Como é o algoritmo de tratamento das dislipidemias?
60 Adesão e persistência ao tratamento com hipolipemiantes: Fatos e números
61 PARTE 2: PROTOCOLO DE ATENDIMENTO
62 PASSO 1. ACOLHER
62 Como identificar os clientes para o serviço?
64 Como a equipe da farmácia pode ajudar?
65 Como deve ser o local de atendimento?
66 PASSO 2. AVALIAR
66 Como fazer a avaliação do paciente?
69 Como determinar o perfil lipídico na farmácia?
71 Passo-a-passo
73 PASSO 3. ACONSELHAR
75 Qual deve ser o conteúdo da minha orientação?
75 Medidas para prevenção primária das doenças cardiovasculares
75 Tratamento não-farmacológico no paciente dislipidêmico
76 Sobre o tratamento farmacológico da dislipidemia
77 Como é a declaração de serviço farmacêutico?
77 Como fazer o encaminhamento ao médico?
78 Quando é importante acompanhar o paciente?
80 O que é o diário de saúde?
81 LEITURA RECOMENDADA
83 ANOTAÇÕES
84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
10
A FARMÁCIA EM TRANSFORMAÇÃO
Um dos maiores desafios da administração moderna é o de gerenciar o vazio, aquilo que não existe, inovar. É um
grande desafio porque, no mundo imediatista e de busca pelo resultado em curto prazo no qual vivemos, não é
fácil abstrair-se da realidade que bate à porta, dos problemas do dia-a-dia, e perguntar-se: “e se...?”.
Como uma forma de ajudar suas redes associadas nesse exercício, a Abrafarma desenvolveu um método estru-
turado de pensar sobre práticas que ainda não existem em nosso país. Assim, realizamos anualmente pelo me-
nos uma missão técnica internacional, que reúne no mínimo um representante de cada empresa, num exercício
de “olhar junto” realidades distintas da brasileira. Viajamos para países como Canadá, Estados Unidos, Espanha,
França e Inglaterra, para exercitar esse “olhar junto”, que se constitui num conjunto de conversas estruturadas,
visitas a empresas, workshops e participação de especialistas que ajudam este dedicado grupo a fazer as per-
guntas corretas e aprender métodos diferentes de fazer varejo. Foi assim, por exemplo, que o dermo-cosmético
tornou-se realidade no Brasil. Após uma das nossas missões internacionais.
Esse “olhar estruturado” da Abrafarma tem se voltado, nos últimos anos, para o repensar do varejo farmacêutico,
que observamos principalmente nos EUA: estabelecimentos que, além de ampla oferta de medicamentos, produ-
tos de higiene, beleza e conveniências, tem repensado o papel do profissional Farmacêutico para entregar mais
valor à sociedade. Se antes parecia distante da realidade brasileira, a Farmácia nos EUA está se reinventando, e
nos dando uma lição de como ir além!
Para alcançarmos esse nível também no Brasil, precisamos repensar o papel do Farmacêutico, que deve ter fun-
ção muito mais nobre do que entregar caixinhas de medicamentos ao usuário e esclarecer-lhes eventuais duvi-
das. Esse profissional pode colocar suas competências a serviço de uma proximidade maior com o paciente, agre-
gando mais valor à sociedade. Assim, nasceu o Projeto Assistência Farmacêutica Avançada, cuja primeira etapa
de trabalho está sendo desenvolvida desde 2013. A iniciativa prevê a formatação inicial de oito novos serviços
que podem ser prestados nas redes da Abrafarma, desde a imunização até clínicas de autocuidado.
É, portanto, com o objetivo de contribuir com a evolução do papel do Farmacêutico, e com esta Farmácia em
Transformação no Brasil, que a Abrafarma lança este conjunto de manuais que serão a pedra fundamental de um
“novo olhar” nessa área. Este material, elaborado sob supervisão direta do Prof. Cassyano Correr, que juntou-se
à Abrafarma para burilar esta visão, também contou com o apoio inestimável dos membros do GT FARMA, nosso
grupo incansável de Coordenadores / Supervisores Farmacêuticos. A todos o meu melhor obrigado.
Uma Farmácia em Transformação. É assim que nos enxergamos hoje. O vazio, nesse caso, já tem forma e pode ser
preenchido, se assim o desejarmos. Temos um longo e belo trabalho pela frente.
Sérgio Mena Barreto
Presidente-Executivo da Abrafarma
11
Manual2.ColesterolemDia
12
Os serviços farmacêuticos prestados em farmácias e drogarias tem por objetivo promover saúde, prevenir
doenças e auxiliar na recuperação da saúde, promovendo o uso racional dos medicamentos. Para que o máximo
benefício com o tratamento seja alcançado, é necessário que todos os processos da farmacoterapia ocorram de
forma ótima, desde a escolha terapêutica, a dispensação do medicamento, a utilização e adesão ao tratamento,
até a observação dos resultados terapêuticos. As farmácias e drogarias, dada sua capilaridade e facilidade de
acesso em todo país, são pontos estratégicos onde o farmacêutico pode prestar serviços que colaborem com
a otimização da farmacoterapia, em estreita colaboração com os pacientes, médicos, e demais profissionais e
serviços de saúde.
Do ponto de vista legal, avanços recentes firmam a farmácia como um lugar de referência da população para saúde,
bem-estar e prestação de serviços. No âmbito sanitário, destaca-se a Resolução no
44/09 da Anvisa, que há anos
regulamenta a oferta de serviços de atenção farmacêutica nestes estabelecimentos, com objetivo de “prevenir,
detectar e resolver problemas relacionados a medicamentos, promover o uso racional dos medicamentos, a fim
de melhorar a saúde e qualidade de vida dos usuários”. Mais recentemente, a Lei no
13.021/14 definiu a farmácia
como uma “unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e
orientação sanitária individual e coletiva”. Esta lei, ainda, obriga o farmacêutico no exercício de suas atividades, a
proceder o acompanhamento farmacoterapêutico, estabelecer protocolos de vigilância farmacológica de medica-
mentos [farmacovigilância], estabelecer o perfil farmacoterapêutico dos pacientes e prestar orientação farmacêu-
tica aos mesmos. No âmbito profissional, destacam-se as Resoluções no
585 e no
586, de 2013, do Conselho Federal
de Farmácia, sobre as atribuições clínicas do farmacêutico e a prescrição farmacêutica, que reforçam o dever deste
profissional no que diz respeito as atividades assistências e de cuidado direto dos pacientes.
Esta coleção de Manuais tem por objetivo fornecer as diretrizes para a oferta e manutenção de uma carteira de
serviços, bem como instrumentalizar os profissionais para um trabalho técnico de alto nível. Este manual está
organizado em duas partes principais. A primeira traz uma revisão sobre as dislipidemias, que reúne as principais
evidencias sobre o manejo da doença e do risco cardiovascular. A segunda parte apresenta o protocolo clínico
do serviço, com objetivo de padronizar procedimentos e estruturar o atendimento realizado pelo farmacêutico
e equipe da farmácia.
Esperamos que você aprecie a leitura e que este material seja útil à sua prática profissional. Bom estudo!
Os autores
INTRODUÇÃO
13
Manual2.ColesterolemDia
14
PROGRAMA COLESTEROL EM DIA
O que é o programa colesterol em dia?
O programa “Colesterol em dia” representa um conjunto de serviços oferecidos pelo farmacêutico nas farmácias
e drogarias, a pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de dislipidemias e doenças ateroscleróticas. O
programa visa a orientação sanitária individual, a elaboração de um perfil farmacoterapêutico, a vigilância farma-
cológica e o acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes.
Esses serviços visam colaborar para detecção rápida, orientação e encaminhamento de pessoas com alterações
dos níveis de lipídeos sanguíneos, para diagnóstico médico e tratamento apropriado. Além disso, o programa
auxilia os pacientes a compreenderem melhor sua condição clínica e tratamento, estimulando o autocuidado
apoiado e o alcance de resultados terapêuticos ótimos.
Em um ambiente confortável e privado da farmácia, os pacientes são atendidos pelo farmacêutico, que realiza
uma avaliação global dos fatores de risco cardiovasculares do paciente, e efetua testes rápidos para determina-
ção dos níveis de lipídeos séricos (colesterol total, HDL-C, LDL-C e triglicerídeos). Os pacientes são então orien-
tados de forma personalizada e recebem um relatório detalhado dos resultados desta avaliação, que pode ser
compartilhado com o médico e outros profissionais de saúde.
Após esta avaliação, pacientes podem aderir a um programa de acompanhamento, durante o qual é mantido
um diário de acompanhamento, são feitas avaliações periódicas, e orientação continuada sobre adesão ao trata-
mento, uso correto dos medicamentos e mudanças no estilo de vida. Estes encontros podem ser desde mensais
até semestrais, dependendo da necessidade de cada paciente. Os atendimentos de retorno também podem
coincidir com a aquisição mensal de medicamentos na farmácia.
15
Manual2.ColesterolemDia
Quais são os benefícios para os pacientes?
As doenças cardiovasculares (DCV) isquêmicas representam, ainda hoje, a principal causa de morte nos países
de média e alta rendas (1). Apenas em 2012, foram registradas mais de 17 de milhões de mortes relacionadas à
DCV em todo mundo (2).
O colesterol elevado é considerado o principal fator de risco modificável da doença aterosclerótica e de suas
manifestações clínicas, como acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e infarto agudo do miocárdio (IAM).
Estudos epidemiológicos demonstraram relação log-linear entre os níveis de colesterol total e doença arterial
coronariana. Esta é uma relação contínua, gradual, sem limites claros, abaixo dos quais o risco é anulado (3).
Fonte: Stamler J, Wentworth D, Neaton JD. JAMA 1986; 256:2823.
Ensaios clínicos de terapias de redução do colesterol demonstraram benefícios consistentes em curto prazo para
pacientes com doença arterial coronariana (DAC) estabelecida e em longo prazo para aqueles com hipercoleste-
rolemia (4–10).
Serviços farmacêuticos clínicos podem contribuir significativamente para o controle dos níveis de lipídeos san-
guíneos e para redução de desfechos cardiovasculares (11–14). Como exemplo, revisão sistemática publicada
no periódico Pharmacotherapy em 2012, indicou que pacientes que receberam cuidado farmacêutico apre-
sentaram níveis de colesterol total significativamente menores, e maiores chances de alcançar controle lipídico
adequado, particularmente com redução nos níveis de LDL-C (12).
Colesterol Plasmático
5
4
3
2
1
0
150 200 250 300
RazãodeRiscoCoroniano
16
PARTE REVISANDO A DOENÇA
O que são as dislipidemias?
As dislipidemias são distúrbios no metabolismo de lipoproteínas que resultam em uma ou mais das seguintes
anormalidades:
• Colesterol total elevado
• Níveis séricos aumentados de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C)
• Níveis reduzidos de lipoproteína de alta densidade (HDL-C)
• Níveis aumentados de triglicerídeos (TG)
Como funciona o metabolismo lipídico?
Para compreender melhor as dislipidemias, sua classificação, diagnóstico laboratorial e tratamento farmacológi-
co, precisamos relembrar alguns conceitos relacionados ao metabolismo lipídico.
No organismo, os lipídeos biologicamente mais relevantes são os fosfolipídios, o colesterol, os triglicerídeos (TG)
e os ácidos graxos (AG). Os fosfolipídios formam a estrutura básica das membranas celulares. O colesterol atua
na fluidez da membrana celular e como precursor de hormônios esteroidais, dos ácidos biliares e da vitamina D.
Já os TGs constituem uma das mais importantes reservas energéticas do organismo (15).
Os lipídeos são substâncias hidrofóbicas, e, por conseguinte, necessitam ser solubilizados para poderem ser
transportados no organismo, pela corrente sanguínea. Essa função é desempenhada pelas lipoproteínas, que
transportam essas substâncias pelos vários tecidos, para utilização energética, reserva, produção de hormônios
e formação de ácidos biliares (15,16).
Uma lipoproteína é composta por colesterol esterificado e não esterificado, triglicerídeos, fosfolipídios e prote-
ínas. Os componentes proteicos das lipoproteínas são conhecidos como as apolipoproteínas (apo) ou apoproteí-
nas. As diferentes apolipoproteínas servem como cofatores para as enzimas e diferentes ligantes (15,16).
O metabolismo lipídico pode ser dividido em duas vias principais, exógena e endógena:
Via exógena
A via exógena se inicia com a absorção intestinal de colesterol e ácidos graxos vindos da alimentação (15,16). Os
17
Manual2.ColesterolemDia
mecanismos que regulam a quantidade de colesterol que é absorvido são pouco conhecidos, mas sabe-se que
fatores genéticos influenciam nesse processo (17).
Na célula intestinal, os ácidos graxos absorvidos se combinam com o glicerol, para formar os triglicerídeos, e, em
menor grau, o colesterol absorvido é esterificado para formar ésteres de colesterol.
Triglicerídeos e colesterol são montados intracelularmente como quilomícrons, que também contêm apo B48, o
componente aminoterminal da apo B100. Os quilomícrons são em seguida secretados pelas células intestinais
para o interior do sistema linfático, de onde alcançam a circulação. Enquanto circulam, os quilomícrons sofrem
lipólise, por ação de enzimas circulantes chamadas lipoproteínas lipases, com a liberação de AG livre e glicerol do
core, e de colesterol não esterificado da superfície dessas partículas (15,16).
Os ácidos graxos livres podem ser então utilizados como fonte de energia, convertidos em triglicerídeos ou ar-
mazenados no tecido adiposo. Por fim, os produtos finais do metabolismo dos quilomícrons, “remanescentes de
quilomícrons”, e também AG são capturados pelo fígado, onde serão utilizados para formação do VLDL (15,16).
Via endógena
• Lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL)
A via endógena do metabolismo lipídico se inicia com a síntese de lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL)
no fígado. Partículas deVLDL contêm um núcleo com maior proporção de triglicerídeos (60%) e menor de ésteres
de colesterol (20%). Nesta etapa as proteínas de transferência de triglicerídeos microssomais (MTP) são muito
importantes, pois realizam a transferência de lipídeos intracelulares (principalmente triglicerídeos), do retículo
Gorduras da dieta VIA EXÓGENA VIA ENDÓGENA
Quilomicrons
Remanescentes de
Quilomicrons
Lipoproteína
Lipase
Lipoproteína
Lipase
Lipoproteína
Lipase
Ácidos
Graxos Livres
Ácidos
Graxos Livres
Ácidos
Graxos Livres
Colesterol
Tecido
Periférico
Re-
cep-
tor
LDL
Sais
Biliares
Fígado
LCAT
HDL
nascente
CETP
LDL
LCAT - lecitina-colesterol-acil-transterase
CETP - proteína transportadora de ésteres de colesterol
HDL
IDLVLDL
18 endoplasmático, para a apolipoproteína (apo) B 100 no fígado (18,19).
As apolipoproteínas da superfície de VLDL incluem a apo C-II, que funciona como um cofator para a lipoproteína
lipase, a apo C-III, que inibe esta enzima, e a apo B-100 e apo E, que atuam como ligantes para o receptor de apo-
lipoproteína B/E (receptor de lipoproteína de baixa densidade [LDL]) (20).
O núcleo de triglicerídeos das VLDL nascentes é hidrolisado pela lipoproteína lipase, liberando triglicerídeos,
gerando partículas remanescentes de VLDL (também chamadas de lipoproteínas de densidade intermédia [IDL]),
que também sofrerão ação de lipase, perdendo mais triglicerídeos e, assim, ficando proporcionalmente mais ricas
em colesterol, formando a LDL (15,16). Assim, a diferença entre VLDL, IDL e LDL consiste na proporção trigli-
cerídeos/colesterol contidos em seu núcleo, sendo as partículas VLDL mais ricas em triglicerídeos, enquanto as
partículas LDL são mais ricas em colesterol.
Lipoproteínas de baixa densidade (LDL)
Partículas de LDL contêm um núcleo de ésteres de colesterol, menor quantidade de triglicerídeos, e são ricos em
apolipoproteína B-100. As LDLs são capturadas por células hepáticas ou periféricas por meio dos receptores de
LDL (LDL-R). Colesterol LDL hepático pode então ser convertido em ácidos biliares e secretado ao lúmen intes-
tinal. O papel dos ácidos biliares será auxiliar na digestão das gorduras no intestino. Já o colesterol LDL, interna-
lizado em tecidos não hepáticos, pode ser utilizado para a produção de hormônios, síntese da membrana celular
ou armazenado sob a forma esterificada (15,16).
A expressão dos LDL-Rs nos hepatócitos é a principal responsável
pelo nível de colesterol no sangue e depende da atividade da enzi-
ma hidroximetilglutaril (HMG) CoA redutase, enzima-chave para
a síntese intracelular do colesterol hepático. Quando há queda do
conteúdo intracelular do colesterol, ocorre aumento da expressão
de LDL-R nos hepatócitos, e, assim, maior captura de LDL, IDL e
VLDL circulantes por essas células, reduzindo seus níveis plasmá-
ticos (15,16).
“A inibição da HMG-CoA
redutase é, portanto, da
síntese intracelular do
colesterol, é importante alvo
terapêutico no tratamento da
hipercolesterolemia”
A importância do receptor de LDL na regulação do metabolismo do colesterol foi demonstrada em modelos ex-
perimentais, como exemplo podemos citar a hipercolesterolemia familiar, uma importante condição de risco para
doença cardiovascular, muitas vezes associada a um defeito genético no receptor de LDL (21).
A relação entre LDL e aterosclerose ocorre porque a LDL modificada quimicamente (LDL oxidada) pode também
penetrar em macrófagos e alguns outros tecidos através de receptores desregulados. Esta via pode resultar em
acúmulo de colesterol intracelular e formação de células espumosas que contribuem para a formação de placas
de ateroscleróticas (15,16). Falaremos do processo aterogênico com detalhes mais adiante.
19
Manual2.ColesterolemDia
Lipoproteína de alta densidade (HDL)
As partículas de HDL são formadas no fígado, no intestino e na circulação, e seu principal conteúdo proteico é
representado pelas apos AI e AII. O colesterol livre da HDL, proveniente das membranas celulares de remanes-
centes de quilomícrons e VLDL, é esterificado por ação de uma enzima chamada LCAT (lecitina-colesterol-acil-
transferase). A apo AI, principal proteína da HDL, é cofator dessa enzima. A HDL transporta o colesterol até o
fígado, onde este é captado pelos receptores SR-B1. O transporte do colesterol dos tecidos periféricos para o
fígado é denominado transporte reverso do colesterol (15,16). As partículas HDL também têm outras ações que
contribuem para a proteção do leito vascular contra a aterosclerose, como a remoção de lipídeos oxidados da
LDL, inibição da fixação de moléculas de adesão e monócitos ao endotélio e a estimulação da liberação de óxido
nítrico (15,16). O Quadro 1 traz um resumo das lipoproteínas e sua função.
QUADRO 1. Principais lipoproteínas do organismo e suas funções
LIPOPROTEÍNA FUNÇÃO
São partículas muito grandes que transportam lipídios da dieta. Eles são
associados com uma variedade de apolipoproteínas, incluindo AI, A-II,
A-IV, B-48, CI, C-II, C-III e E.
Quilomícrons
Produzidas no fígado, transportam triglicerídeos endógenos e em menor
grau colesterol. As principais apolipoproteínas associadas ao VLDL são
B-100, CI, C-II, C-III e E.
Lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL)
Transportam ésteres de colesterol e triglicerídeos. IDL estão associadas
a apolipoproteínas B-100, C-III e E.
Lipoproteínas de densidade intermédia (IDL)
Transporta ésteres de colesterol e estão associadas com apolipoproteí-
nas B-100 e C-III.
Lipoproteínas de baixa densidade (LDL)
Transportam ésteres de colesterol para o fígado e estão associadas a
apolipoproteínas AI, A-II, CI, C-II, C-III, D e E.
Lipoproteína de alta densidade (HDL)
Imagens reproduzidas de Servier Medical Art (CC BY 3.0)
20
Como ocorre a aterosclerose?
As alterações lipídicas desempenham um papel crítico no desenvolvimento de aterosclerose (22–29). Estudos
epidemiológicos realizados em todo o mundo mostraram um aumento da incidência de aterosclerose, quando as
concentrações de colesterol séricas foram superiores a 150 mg/dL (3,9 mmol / L) (30–33).
Aaterosclerose é um processo patológico que causa a doença das artérias coronárias, cerebrais e periféricas, e con-
siste no espessamento e perda da elasticidade das paredes de artérias de médio e grande calibre (34,35), resultando
em complicações como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença arterial periférica (36).
Sua patogênese é multifatorial, envolvendo causas relacionadas à disfunção endotelial, fatores inflamatórios e
imunológicos, hipertensão, tabagismo, diabetes, dislipidemias, dentre outros. As dislipidemias constituem um
dos principais componentes no desenvolvimento da aterosclerose, visto que o acúmulo de lipídeos nos vasos
contribui para o início da formação dos ateromas (placas ateroscleróticas) (36). Estima-se que a dislipidemia es-
teja presente em mais de 70% dos pacientes com doença cardíaca coronariana prematura (37).
Estudos mostram que a LDL oxidada e a formação de células espumosas (macrófagos que fagocitaram partículas
de LDL oxidadas) representam um dos principais fatores responsáveis pelo desencadeamento da lesão ateros-
clerótica (36). Quando os lipídeos circulantes, principalmente a LDL, penetram no endotélio das artérias, a ação
de produtos metabólicos, espécies reativas do oxigênio e enzimas produzidas pelas células vasculares, provo-
cam modificações oxidativas nestas macromoléculas. Isso irá desencadear uma resposta inflamatória na íntima
da artéria e produzir disfunção endotelial, agravando a placa de ateroma (38). A placa de ateroma chamada “ins-
tável”, com conteúdo inflamatório altamente ativo, pode se romper e atrair agregação plaquetária, produzindo
eventos trombóticos. Estes eventos podem ocorrer em artérias periféricas, bem como em órgãos específicos,
como coração (síndrome coronariana aguda) e cérebro (acidente vascular cerebral).
Imagem reproduzida de Servier Medical Art (CC BY 3.0)
21
Manual2.ColesterolemDia
Quais as consequências da aterosclerose?
As consequências clínicas em longo prazo do processo de aterosclerose são devastadoras. Síndromes coronaria-
nas agudas (infartos e anginas), acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e doenças tromboembólicas periféri-
cas são as principais manifestações da aterosclerose, e apresentam alta morbimortalidade, e alto impacto social
e econômico (15).
A aterosclerose é geralmente assintomática até a estenose, com placa de ateroma superior a 70% ou 80% do
diâmetro luminal, que produz redução no fluxo sanguíneo. O processo aterosclerótico pode atingir diversas
artérias, desde a carótida, coronárias, artéria renal, aorta, até artérias de membros inferiores. No coração, por
exemplo, lesões estenóticas podem produzir desde sintomas típicos de angina pectoris , até eventos corona-
rianos agudos. Cabe lembrar que síndromes coronárias e cerebrovasculares agudas (angina instável, infarto do
miocárdio, morte súbita e acidente vascular cerebral) são tipicamente causadas por ruptura de placas com me-
nos de 50% de estenose (39–41). Assim, não apenas o tamanho da placa e o grau de obstrução importam, mas
sua predisposição em romper, influenciada diretamente pelo estado inflamatório do indivíduo.
LDL
LDL OXIDADO
FORMAÇÃO DE PLACA DE ATEROMA NA ÍNTIMA
PLACA FLEXÍVEL
RUPTURA DA PLACA
TROMBOSE
SÍNDROME CORONARIANA AGUDA
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
DISFUNÇÃO ENDOTELIAL INFLAMAÇÃO
22
Sabendo que níveis elevados de colesterol representam o principal fator de risco modificável para o desenvolvi-
mento de DAC, estratégias de tratamento que visem à redução desses níveis são fundamentais do ponto de vista
de prevenção de doenças cardiovasculares (30–33).
Quais são as diretrizes clínicas mais importantes sobre
dislipidemias?
Diretrizes são documentos oficiais que sintetizam as evidencias sobre uma determinada condição e servem de
guia de prática para os profissionais de saúde. Existem inúmeras diretrizes para prevenção cardiovascular, diag-
nóstico e tratamento das dislipidemias. Dentre elas, destacamos o Guideline Americano para o tratamento do
colesterol e redução de risco cardiovascular, publicado nos Estados Unidos em dezembro de 2013, que atualizou
e alterou algumas questões importantes na gestão das dislipidemias (42).
Vasos que podem ser afetados pela aterosclerose
Artérias cerebrais
Formação da placa
de ateroma Bifurcação da carótida
Artéria carótida comum
Coronárias
Artéria renal
Bifurcação da aorta
Artérias femoral e poplitea
23
Manual2.ColesterolemDia
No Brasil, duas importantes diretrizes foram também publicadas em 2013. A V Diretriz Brasileira de Dislipide-
mias e Prevenção da Aterosclerose (15) e a I Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular (43). Estas norteiam
a prática clínica de prevenção cardiovascular e terapias farmacológica e não farmacológica das dislipidemias.
Nestas, participam inúmeros profissionais afeitos a essa área específica do conhecimento, representando a So-
ciedades Brasileira de Cardiologia. Os documentos podem ser obtidos gratuitamente em www.cardiol.br
Como as dislipidemias são diagnosticadas?
As dislipidemias são diagnosticadas por avaliação laboratorial de alterações nos valores de lipídeos plasmáticos.
São considerados anormais valores de colesterol total superiores a 200 mg/dl, LDL acima de 130 mg/dl, triglice-
rídeos acima de 150 mg/dl e HDL inferior a 40 mg/dl (Tabela 1).
O diagnóstico é realizado pelo médico, através da avaliação de exames padronizados, realizados em condições
adequadas, em laboratório confiável. A partir do diagnóstico, medidas não farmacológicas devem ser instituídas,
a fim de reduzir a carga lipêmica, e o tratamento farmacológico pode ser considerado. Testes rápidos de colesterol
ou triglicerídeos, que podem ser feitos pelo farmacêutico na farmácia ou pelo próprio médico no consultório, não
possuem valor diagnóstico, mas servem como testes de rastreamento de dislipidemias em pacientes não diagnos-
ticados, e podem ser utilizados como parâmetros de monitoramento em pacientes já tratados para dislipidemias.
TABELA 1. Valores referenciais do perfil lipídico para adultos maiores de 20 anos
LIPÍDEOS VALORES (MG/DL) CATEGORIA
CT
< 200 Desejável
200-239 Limítrofe
≥ 240 Alto
LDL-C
< 100 Ótimo
100-129 Desejável
130-159 Limítrofe
160-189 Alto
≥ 190 Muito alto
HDL-C
> 60 Desejável
< 40 Baixo
TG
<150 Desejável
150-200 Limítrofe
200-499 Alto
≥ 500 Muito alto
Colesterol não-HDL
< 130 Ótimo
130-159 Desejável
160-189 Alto
≥ 190 Muito alto
24
Como as dislipidemias podem ser classificadas?
As dislipidemias podem ser primárias ou secundárias. As dislipidemias primárias ou sem causa aparente podem
ser classificadas genotipicamente ou fenotipicamente por meio de análises bioquímicas. Na classificação genotí-
pica, as dislipidemias se dividem em monogênicas, e poligênicas, causadas por associações de múltiplas mutações
que isoladamente não seriam de grande repercussão (15,43).
A classificação fenotípica ou bioquímica considera os valores de Colesterol total (CT), colesterol LDL (LDL-C),
triglicerídeos (TG) e colesterol HDL (HDL-C) e compreende quatro tipos principais (Quadro 2) (15,43).
QUADRO 2. Classificação das dislipidemias
HIPERCOLESTEROLEMIA ISOLADA Elevação isolada do LDL-C (≥ 160 mg/dl);
HIPERTRIGLICERIDEMIA ISOLADA
Elevação isolada dos TGs (≥ 150 mg/dl) que reflete o aumento do número e/
ou do volume de partículas ricas em TG, como VLDL, IDL e quilomícrons. A
estimativa do volume das lipoproteínas aterogênicas pelo LDL-C torna-se
menos precisa à medida que aumentam os níveis plasmáticos de lipoproteínas
ricas em TG. Portanto, nestas situações, o valor do colesterol não-HDL pode
ser usado como indicador de diagnóstico e meta terapêutica;
HIPERLIPIDEMIA MISTA
Valores aumentados de LDL-C (≥ 160 mg/dl) e TG (≥ 150 mg/dl). Nesta
situação, o colesterol não-HDL também poderá ser usado como indicador e
meta terapêutica. Nos casos em que TGs ≥ 400 mg/dl, o cálculo do LDL-C pela
fórmula de Friedewald é inadequado, devendo-se, então, considerar a hiperli-
pidemia mista quando CT ≥ 200 mg/dl;
HDL-C baixo
Redução do HDL-C (homens < 40 mg/dl e mulheres < 50 mg/dl) isolada ou em
associação a aumento de LDL-C ou de TG.
Dislipidemias Secundárias
Em muitos pacientes, a dislipidemia é causada por alguma etiologia subjacente “não-lipídica”, ao invés de um
distúrbio primário do metabolismo lipídico. Dentre as principais se incluem: diabetes mellitus tipo 2, consumo
excessivo de álcool, doenças hepáticas colestáticas, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hipotireoidis-
mo, tabagismo, obesidade e alguns tipos de medicamentos (44).
Em uma coorte de 824 novos pacientes encaminhados a uma clínica de referência em dislipidemia, em um cen-
tro médico acadêmico nos Estados Unidos, 28% apresentavam uma ou mais causas potenciais de dislipidemia
secundária. As condições mais comuns foram o consumo excessivo de álcool (10%) e diabetes mellitus não
controlada (8%) (45).
25
Manual2.ColesterolemDia
Diabetes mellitus tipo 2
Dislipidemia em associação com a resistência à insulina é comum em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM)
(46–48). A resistência à insulina e a hiperinsulinemia resultante estão associadas com hipertrigliceridemia e bai-
xos níveis séricos de lipoproteína de alta densidade (HDL). A hipertrigliceridemia é resultado tanto do aumento
da disponibilidade de substrato (glicose e ácidos graxos livres) como da redução da lipólise (47).
Consumo excessivo de álcool
Enquanto o consumo moderado de álcool geralmente tem efeitos favoráveis sobre os níveis lipídicos, o consumo
excessivo de álcool pode aumentar os níveis de triglicerídeos. Isto é particularmente preocupante em pacientes
com hipertrigliceridemia grave (TG >500 mg/dl) (49,50).
Doenças hepáticas colestáticas
Cirrose biliar primária e distúrbios semelhantes podem ser acompanhados por hipercolesterolemia marcante,
resultado do acúmulo de lipoproteína-X, uma partícula com elevado teor de fosfolipídios (66% em peso) e co-
lesterol não esterificado (22%), e baixo teor de proteína (6%), ésteres de colesterol (3%), e triglicerídeos (3%).
Elevações acentuadas na lipoproteína X têm sido associadas com síndrome de hiperviscosidade, mas não foi es-
tabelecida ligação clara com doença arterial coronariana (DAC) (51).
Doenças hepáticas
colestáticas
Síndrome
nefrótica
Doença renal
crônica
Hipotireoidismo
Tabagismo
Obesidade
Medicamentos
Diabetes tipo 2
Consumo excessivo
de álcool
Dislipidemia
Secundária
TG
TG
CT
CT
CT
CTCT
CT e/ou
TG
TG
HDL
LDL
LDL
LDL
TGLDL
TG
HDL HDL
HDL
26 Síndrome nefrótica
Na síndrome nefrótica pode ocorrer uma hiperlipidemia marcante, devido principalmente aos elevados níveis sé-
ricos de colesterol total e lipoproteína de baixa densidade (LDL). O aumento da produção hepática de lipoprote-
ínas (induzida em parte pela queda da pressão oncótica do plasma) é a principal anormalidade, mas a diminuição
do catabolismo de lipídios desempenha também um papel importante.
Doença renal crônica
Dislipidemia secundária é menos proeminente em doença renal crônica (DRC), mas DRC pode estar associada
a aumentos dos níveis de colesterol LDL e triglicerídeos, e baixos níveis de colesterol HDL. Hipertrigliceridemia
ocorre em 30% a 50% das pessoas com DRC (44).
Hipotireoidismo
O hipotireoidismo é frequentemente associado e é considerado uma causa comum de aumento de lipídeos sé-
ricos. A relação entre hipotireoidismo e dislipidemia foi demonstrada em estudo com 268 pacientes com hipo-
tireoidismo primário. Hipercolesterolemia esteve presente em 56% destes pacientes, hipercolesterolemia e hi-
pertrigliceridemia em 34%, e hipertrigliceridemia em 1,5%. Apenas 8,5% dos pacientes apresentavam um perfil
lipídico normal (52).
A importância das anormalidades lipídicas aumenta de uma forma
gradual, com a gravidade do hipotireoidismo (53). Em uma pesqui-
sa com 248 pacientes encaminhados a uma clínica de distúrbios
lipídicos, 2,8% tinham hipotireoidismo e 4,4% tinham hipotireoi-
dismo subclínico (54).
“TSH (hormônio tireotrófico)
sérico deve ser mensurado
em todos os pacientes
com dislipidemia”
Dessa forma, o TSH (hormônio tireotrófico) sérico deve ser mensurado em todos os pacientes com dislipidemia.
Reversão do hipotireoidismo com reposição de hormônio tireoidiano leva à correção da hiperlipidemia (44).
Tabagismo
Tabagismo diminui as concentrações séricas de colesterol HDL e pode induzir resistência à insulina (55–57). Na
fase de triagem do estudo Bezafibrate Infarction Prevention, por exemplo, a média de concentração sérica de
colesterol HDLfoi de 40 mg/dLem não-fumantes, 37 mg/dLem ex-fumantes e 35 mg/dLem fumantes atuais com
consumo de dois maços ou mais por dia (55). Outra análise mostrou que o efeito do tabagismo foi mais proemi-
nente se ajustado para a ingestão concomitante de álcool. Nestes doentes, o fumo foi associado com redução de
5 a 9 mg/dl do colesterol HDL (57). Estes efeitos são reversíveis dentro de um a dois meses após a cessação do
tabagismo (58–60).
27
Manual2.ColesterolemDia
Obesidade
Aobesidade está associada a um número de alterações deletérias no metabolismo dos lipídeos, incluindo aumen-
to nas concentrações séricas de colesterol total, LDL, VLDL, e triglicerídeos, e uma redução da concentração de
HDL, de cerca de 5% (61). A perda de gordura corporal pode reverter a hipercolesterolemia e hipertrigliceride-
mia parcialmente (62).
Medicamentos
Alguns medicamentos, incluindo diuréticos, betabloqueadores, antidiabéticos, estrógenos orais e mesmo hipo-
lipemiantes podem causar alterações lipídicas indesejadas (63) (Quadro 3). Alguns dos agentes antipsicóticos
atípicos, em particular, a clozapina e a olanzapina, têm sido associados com o ganho de peso, obesidade, hipertri-
gliceridemia, e o desenvolvimento de diabetes mellitus (64–67). Os mecanismos pelo qual eles causam a síndro-
me metabólica não foram definidos.
Esquemas antirretrovirais utilizados para a infecção pelo HIV, em particular os inibidores da protease, têm sido
associados com anormalidades no metabolismo da glicose e lipídios, muitas vezes como parte de uma síndrome
de lipodistrofia (44).
QUADRO 3. Medicamentos que podem alterar o perfil lipídico
Medicamentos Efeitos adversos sobre o perfil lipídico
Betabloqueadores não cardiosseletivos
Aumento de TG
Redução de HDL-C
Bloqueadores seletivos Beta1 Aumento de TG (nenhum efeito ou observado em alguns estudos)
Nebivolol Redução de HDL-C (nenhum efeito observado em alguns estudos)
Hidroclorotiazida (≥ 25 mg/dia)
Aumento de TG
Aumento de CT
Clortalidona Aumento de LDL-C
Indapamida Aumento de LDL-C (nenhum efeito observado em alguns estudos)
Pioglitazona Aumento de LDL-C
Rosiglitazona
Aumento de LDL-C
Aumento de TG
Orlistate Redução de HDL-C
Sequestrantes de ácidos biliares (resinas) Aumento de TG
Fibratos Aumento de LDL-C (em pacientes com hipertrigliceridemia)
Ácidos Graxos Omega-3 Aumento de LDL-C (em pacientes com hipertrigliceridemia grave)
Antipsicóticos atípicos (clozapina, olanzapina) Aumento de TG
Inibidores da protease (antirretrovirais) Aumento de LDL-C
Estrógenos orais (contraceptivos) Aumento de CT
É procedimento padrão questionar o paciente sobre o uso destes medicamentos, sempre que resultados de perfil
lipídico mostrarem-se alterados.
28
Perfil lipídico: o que significa e como interpretar?
As medidas incluídas no perfil lipídico tradicional incluem: Colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos. Essas sub-
frações de lipídios contribuem de forma diferente para as previsões de risco cardiovascular. Algumas dosagens
adicionais estão disponíveis, incluindo subtipos de LDL e várias apolipoproteínas (apo) A-1 e B (15,68), mas são
pouco utilizadas em rotina.
Existem muitos estudos que examinam o poder de cada uma dessas lipoproteínas em predizer o risco de doença
coronariana. De maneira geral, há um consenso de que colesterol não-HDL, ou o colesterol total e o HDL-C são
melhores preditores de risco de doença coronariana do que LDL-C sozinho (69,70).
Colesterol total (CT)
A avaliação do CT com a finalidade de mensurar o risco CV é recomendada pelos programas de rastreamento
populacional, todavia este método pode fornecer dados enganosos em algumas situações. Isto ocorre especial-
mente em mulheres que frequentemente apresentam níveis mais elevados de HDL-C (o que impacta em aumento
do CT) e indivíduos com diabetes ou síndrome metabólica, que muitasvezes evoluem com níveis baixos de HDL-C
(o que impacta em redução do CT). Para avaliação adequada do risco CV são indispensáveis as análises do HDL-C
e do LDL-C (15,68).
Colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-C)
O LDL-C é calculado pela fórmula de Friedewald: LDL-C = CT – (HDL-C + TG/5); onde TG/5 representa o coleste-
rol ligado à VLDL ou VLDL-C (15).
O resultado calculado do LDL-C deve considerar alguns pressupostos:
1.
2.
3.
Erros metodológicos podem se acumular, pois a fórmula exige três
análises separadas, ou seja, CT, TG e HDL-C;
Proporção constante presumida de colesterol e triglicérides nas
partículas de VLDL. Com valores de TG > 400 mg/dl a fórmula não pode
ser utilizada;
O uso da fórmula de Friedewald não é indicado quando o sangue é
obtido sem jejum. Nestas condições, o colesterol não-HDL pode ser
determinado em substituição.
Apesardessaslimitações,oLDL-CcalculadopelafórmuladeFriedewaldéaindaamplamenteutilizadonapráticaclínica.
29
Manual2.ColesterolemDia
Colesterol não-HDL
A fração colesterol não-HDL é utilizada para estimar o número total de partículas aterogênicas no plasma (VLDL
+ IDL + LDL) e refere-se também aos níveis de apo B. O colesterol não-HDL é calculado facilmente subtraindo-se
o HDL-C do CT (não-HDL-C = CT - HDL-C) (15,68).
O colesterol não-HDL pode fornecer melhor estimativa do risco em comparação com o LDL-C, principalmente
nos casos de hipertrigliceridemia associada ao diabetes, à síndrome metabólica ou à doença renal.
Colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL)
O HDL, em contraste com as LDL e VLDL, tem propriedades características antiaterogênicas, promove efluxo do
colesterol dos macrófagos, antioxidação, proteção contra a trombose, manutenção da função endotelial e manu-
tenção de uma baixa viscosidade do sangue. O efeito final é uma relação inversa entre os níveis plasmáticos de
HDL-C e o risco cardiovascular (71–76).
Triglicerídeos (TG)
Vários estudos usando apenas abordagens univariadas sugeriram que os triglicerídeos são preditores de risco de
doença coronariana. No entanto, eles parecem ter poder preditivo relativamente pequeno. Níveis elevados de TG
se associam frequentemente a baixos níveis de HDL-C e a altos níveis de partículas de LDL pequenas e densas (77).
Interpretação do perfil lipídico
Colesterol não-HDL mg/dl
130 160 190
Ótimo Desejável Alto Muito alto
Triglicerídeos mg/dl
500200150
Desejável Limítrofe Alto Muito alto
Colesterol LDL mg/dl
100 130 160 190
Ótimo Desejável Limítrofe Alto Muito alto
Colesterol HDL mg/dl
6040
Baixo Aceitável Desejável
Colesterol Total mg/dl
Desejável
200 240
Limítrofe Alto
30
Como estimar o risco cardiovascular do paciente com
dislipidemia?
A primeira etapa para definição do tratamento, e das metas terapêuticas a serem alcançadas em pacientes disli-
pidêmicos, é a estratificação do risco cardiovascular do paciente. Esta deve ser realizada por meio da utilização
de um escore de avaliação de risco (ER), que tem como base o nível médio da pressão arterial, a presença ou não
de fatores de risco associados, a potenciação causada por sinergismos entre alguns desses fatores e a presença
ou ausência de lesões de órgãos-alvo e doenças cardiovasculares ou renais prévias. Esta estimativa é complexa
e existem diferentes escores de risco (ER) disponíveis na literatura (15,78). Em comparação ao estadiamento
de risco feito em pacientes com hipertensão, este escore é diferente, mais completo, e permite um cálculo mais
acurado do risco CV em 10 anos.
Com base na V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (15,43), adotaremos o ER Glo-
bal para avaliação do risco em 10 anos e o ER pelo Tempo de Vida como opção para os indivíduos acima de 45
anos considerados de baixo risco ou risco intermediário.
Como fazer?
Seguimos três etapas para a estimativa do risco cardiovascular do paciente:
Etapa 1: Presença de doenças ateroscleróticas
Primeiro, verifique a presença de manifestações clínicas da doença aterosclerótica ou de seus equivalentes, lis-
tadas no Quadro 4. O paciente que se enquadrar em uma dessas categorias não requer outras etapas para es-
Reclassificação do risco
através da presença de
FATORES AGRAVANTES,
quando houver.
Utilização de ESCORES
DE PREDIÇÃO DO RISCO
para cálculo do percentual
de risco e estadiamento.
Determinação da
presença de DOENÇA
ARTEROSCLERÓTICA
significativa ou de seus
equivalentes.
1
2
3
31
Manual2.ColesterolemDia
QUADRO 4. Critérios de identificação de pacientes com alto risco de eventos coronarianos
Presença de doença aterosclerótica arterial coronária, cerebrovascular ou obstrutiva periférica, com manifestações
clínicas (eventos CV). Isto é, história prévia de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, angina de peito, ou
doença vascular periférica .
Aterosclerose na forma subclínica, significativa, documentada por metodologia diagnóstica. Isto é, pacientes que passa-
ram por “cateterismo”, tendo sido evidenciada aterosclerose em artérias do coração ou outras.
Procedimentos de revascularização arterial. Pacientes que passaram por procedimentos de angioplastia, colocação de
stent, pontes de safena, pontes mamárias, entre outros.
Diabetes mellitus tipos 1 ou 2
Doença renal crônica. Pacientes com doença renal crônica diagnosticada por elevação de creatinina sérica e redução da
taxa de filtração glomerular.
Hipercolesterolemia Familiar (HF). Pacientes com diagnóstico de hipercolesterolemia de origem genética. Geralmente
com grandes elevações no LDL-C.
Etapa 2: Aplique o sistema de pontos para cálculo do escore de risco global
O ER Global estima o risco de infarto do miocárdio, AVE, insuficiência vascular periférica ou insuficiência cardí-
aca em 10 anos.
O cálculo é feito para todos os pacientes que não se enquadraram como alto risco na etapa 1, por meio da atri-
buição de pontuações, conforme os resultados do paciente para idade, HDL-C, CT, pressão arterial sistólica, e à
presença de tabagismo e diabetes. A partir do somatório de pontos existe a conversão para a % de risco global,
conforme tabela de interpretação de pontos. O sistema de pontuação e a interpretação do risco é diferente para
mulheres e homens (Tabela 2).
Homens e mulheres com risco <5% são considerados baixo risco. Risco intermediário é atribuído a mulheres com
risco de 5% a 10% e a homens com risco de 5% a 20%. Mulheres com risco >10% e homens >20% são considera-
dos alto risco para eventos cardiovasculares em 10 anos.
2
Adoença vascular periférica (DVP), responsável pela insuficiência arterial, pode ser considerada como um sinal de doença aterosclerótica geral.
Sintomas incluem dor em repouso, dor ao caminhar (claudicação), pés frios, úlceras, palidez à elevação, dor noturna. Requer diagnóstico médico.
tratificação de risco, sendo considerado automaticamente de ALTO RISCO, ou seja, com risco superior a 20%
de apresentar novos eventos cardiovasculares em 10 anos. Nestes casos, veja as metas terapêuticas de perfil
lipídico indicadas para esta faixa de risco.
32 Tabela 2. Sistema de pontuação para cálculo do escore de risco global
Atribuição de pontos de acordo com o risco cardiovascular global para mulheres
Pontos Idade (anos) HDL-C CT PAS (não
tratada)
PAS (tratada) Fumo Diabetes
-3 <120
-2 60+
-1 50-59 <120
0 30-34 45-49 <160 120-129 Não Não
1 35-44 160-199 130-139
2 35-39 <35 140-149 120-139
3 200-239 130-139 Sim
4 40-44 240-279 150-159 Sim
5 45-49 280+ 160+ 140-149
6 150-159
7 50-54 160+
8 55-59
9 60-64
10 65-69
11 70-74
12 75+
Pontos Total
Risco cardiovascular global em 10 anos: para mulheres
Pontos Risco (%) Pontos Risco (%)
< -1 <1 10 6,3
-1 1 11 7,3
0 1,2 12 8,6
1 1,5 13 10,0
2 1,7 14 11,7
3 2,0 15 13,7
4 2,4 16 15,9
5 2,8 17 18,5
6 3,3 18 21,6
7 3,9 19 24,8
8 4,5 20 28,5
9 5,3 21+ >30
Interpretação do Risco (%) em 10 anos
(Mulheres):
RISCO BAIXO: < 5%
RISCO INTERMEDIÁRIO: 5 a 10%
RISCO ALTO: >10 %
33
Manual2.ColesterolemDia
Atribuição de pontos de acordo com o risco cardiovascular global para homens
Pontos Idade (anos) HDL-C CT PAS (não
tratada)
PAS (tratada) Fumo Diabetes
-2 60+ <120
-1 50-59
0 30-34 45-49 <160 120-129 <120 Não Não
1 35-44 160-199 130-139
2 35-39 <35 200-239 140-159 120-139
3 240-279 160+ 130-139 Sim
4 280+ 140-159 Sim
5 40-44 160+
6 45-49
7
8 50-54
9
10 55-59
11 60-64
12 65-69
13
14 70-74
15+ 75+
Pontos Total
Risco cardiovascular global em 10 anos: para homens
Pontos Risco (%) Pontos Risco (%)
-3 ou menos <1 8 6,7
-2 1,1 9 7,9
-1 1,4 10 9,4
0 1,6 11 11,2
1 1,9 12 13,2
2 2,3 13 15,6
3 2,8 14 18,4
4 3,3 15 21,6
5 3,9 16 25,3
6 4,7 17 29,4
7 5,6 18+ >30
Interpretação do Risco (%)
em 10 anos
(Homens):
RISCO BAIXO: < 5%
RISCO INTERMEDIÁRIO: 5 a 20%
RISCO ALTO: >20 %
34
Etapa 3: Considere os fatores agravantes do risco
Pacientes classificadas como RISCO INTERMEDIÁRIO na etapa anterior, devem ser reclassificados para a condi-
ção de ALTO RISCO na presença de fatores agravantes (Quadro 5). Especificamente para avaliação da presença
de síndrome metabólica, considere os critérios da Tabela 3.
História familiar de doença arterial coronariana prematura (parente de primeiro grau masculino <55 anos ou feminino
<65 anos)
Critérios positivos para síndrome metabólica
Microalbuminúria (30-300 µg/min) ou macroalbuminúria (> 300 µg/min)
Hipertrofia ventricular esquerda
Proteína C reativa de alta sensibilidade >2 mg/l
Espessura íntima-média de carótidas >1,0
Escore de cálcio coronário >100 ou >percentil 75 para idade ou sexo
Índice tornozelo-braquial (ITB) <0,9
QUADRO 5. Fatores agravantes de risco
TABELA 3. Critérios para síndrome metabólica: considera-se SM a presença de três ou mais critérios
Critérios Definições
Obesidade abdominal
HOMENS
Brancos de origem europeia ou negros ≥ 94 cm
Sul-asiáticos, ameríndios ou chineses ≥ 90 cm
Japoneses ≥ 85 cm
MULHERES
Brancas de origem europeia, negras, sul-asiáticas, amerín-
dias ou chinesas
≥ 80 cm
Japonesas ≥ 90 cm
HDL-colesterol
Homens < 40 mg/dl
Mulheres < 50 mg/dl
Pressão arterial
Sistólica ≥130 mmHg ou tratamento para hipertensão arterial
Diastólica ≥85 mmHg ou tratamento para hipertensão arterial
Triglicérides ≥ 150 mg/dl
Glicemia Jejum ≥ 100 mg/dl
35
Manual2.ColesterolemDia
ER pelo tempo de vida: Uma alternativa complementar
O escore de risco global estima o risco cardiovascular em 10 anos. Esta predição pode subestimar o risco em pa-
cientes com longa expectativa de vida, que poderiam se beneficiar, em longo prazo, de intervenções mais precoces.
Por isso, em pacientes a partir dos 45 anos, com RG baixo ou intermediário em 10 anos, pode-se utilizar o escore
de risco pelo tempo de vida. A estimativa do risco de doença cardiovascular pelo tempo de vida permite estrati-
ficar de forma mais abrangente a carga de doença cardiovascular, no momento e no futuro, pois leva em conta o
risco de doença cardiovascular enquanto o indivíduo envelhece.
Para calcular este escore, primeiro considere os seguintes fatores de risco: colesterol total, PAS, PAD, tabagismo
e diabetes. Conforme os resultados para cada um desses fatores, cada um deles será classificado em ótimo, não-
-ótimo, elevado ou principal (Tabela 4).
TABELA 4. Classificação dos fatores de risco de acordo com o controle e/ou importância do(s) mesmo(s)
Fator de risco (FR) Ótimos Não ótimos Elevados Principais
Colesterol Total <180 mg/dl 180-199 mg/dl 200-239 mg/dl > 240 mg/l
Pressão arterial sistólica (PAS) Não tratada
<120 mmHg
Não tratada
120-139 mmHg
Não tratada
140-159 mmHg
Tratamento para HAS
ou PAS não-tratada ≥
160 mmHg
Pressão arterial diastólica
(PAD)
Não tratada
<80 mmHg
Não tratada
80-89 mmHg
Não tratada
90-99 mmHg
Tratamento para HAS
ou PAD não-tratada ≥
100 mmHg
Fumo Não Não Não Sim
Diabetes Não Não Não Sim
Conforme o resultado desta avaliação observe nas tabelas de risco (diferentes para homens e mulheres) a por-
centagem de risco ao longo da vida do seu paciente, para diferentes desfechos (Tabela 5 e Tabela 6).
Existem ferramentas online que permitem calcular o ER Global de forma simples e rápida.
Recomendamos aquela desenvolvida pelo Médico de Família, Dr. Daniel Pinto, de Portugal, disponível no site
http://danielpinto.net/ferramentas/risco_cv/
36 TABELA 5. Risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais pelo ER pelo Tempo de Vida em ho-
mens, de acordo com a exposição aos fatores de risco ao longo da vida.
TABELA 6. Risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais pelo ER pelo Tempo de Vida em mu-
lheres, de acordo com a exposição aos fatores de risco ao longo da vida.
Situação de acordo com os fatores de risco
Risco Todos FR ótimos ≥1 FR não ótimo ≥ 2 FRs elevados Um FR principal ≥2 FR principais
Risco % (IC 95%) a partir dos 45 anos
DAC fatal ou IAM não
fatal
1,7 (0-4,3) 27,5 (15,7-39,3) 32,7 (24,5-41,0) 34,0 (30,4-37,6) 42,0 (37,6-46,5)
AVE fatal ou não fatal 6,7 (1,4-11,9) 7,7 (5,0-10,4) 8,5 (6,9-15,6) 8,4 (7,5-9,4) 10,3 (9,0-11,7)
Morte cardiovascular 9,1 (0-18,6) 13,1 (9,9-16,3) 15,3 (13,3-17,3) 20,7 (19,4-22,2) 32,5 (30,5-34,5)
Eventos CV
Ateroscleróticos 1,4 (0-3,4) 31,2 (17,6-44,7) 35,0 (26,8-43,2) 39,6 (35,7-43,6) 49,5 (45,0-3,9)
Situação de acordo com os fatores de risco
Risco Todos FR ótimos ≥1 FR não ótimo ≥ 2 FRs elevados Um FR principal ≥2 FR principais
Risco % (IC 95%) a partir dos 45 anos
DAC fatal ou IAM não
fatal
1,6 (0-4,3) 9,3 (3-15,6) 9,3 (5-1370) 12,7 (10,3-15) 21,5 (17,5-25,5)
AVE fatal ou não fatal 8,3 (3,8-12,8) 8,9 (6,5-11,3) 9,1 (7,5-10,9) 9,1 (7,9-15,9) 11,5 (9,5-13,5)
Morte cardiovascular 4,8 (0,8-8,7) 4,9 (3,1-6,7) 6,9 (5,4-8,3) 11,2 (9,9-12,5) 21,9 (19,4-4,5)
Eventos CV
ateroscleróticos 4,1 (0-8,2) 12,2 (4,6-19,7) 15,6 (10,3-20,9) 20,2 (17,2-23,2) 30,7 (26,3-35,0)
O risco de eventos ateroscleróticos estimado pelo ER pelo Tempo de Vida>
39% em homens ou> 20,2% em mulheres caracteriza condição de alto risco
pelo tempo de vida.
37
Manual2.ColesterolemDia
Quais são as metas terapêuticas nas dislipidemias?
O principal objetivo do tratamento hipolipemiante é a redução do risco de doenças cardiovasculares. Para tal,
metas terapêuticas primárias e secundárias, direcionadas ao LDL-C e ao colesterol não-HDL, devem ser defini-
das com base na estratificação do risco cardiovascular do paciente (15,43) (Tabela 7).
ERG < 5% em homens
e mulheres
ERG ≥ 5% e ≤ 10% nas
mulheres e ≥ 5% e ≤ 20%
nos homens
ERG ≥ 5% e ≤ 10% nas
mulheres e ≥ 5% e ≤ 20%
nos homens e pelo menos
Longa expectativa
de vida (> 45 anos)
ER tempo de vida
BAIXO RISCO BAIXO INTERMEDIÁRIO ALTO RISCO
ALTO RISCO
Condição de alto risco
(Etapa 1)
ouou
ou
ERG > 10% nas mulheres
e 20% nos homens
ERG < 5% em homens
e mulheres e HF + de
DAC prematura
ERTV > 39% em homens e
> 20,2% em mulheres
Reclassificação
38 TABELA 7. Metas terapêuticas com base no risco cardiovascular
Nível de risco Meta primária: LDL-C (mg/dl) Meta secundária (mg/dl)
ALTO LDL-C < 70 Colesterol não-HDL < 100
INTERMEDIÁRIO LDL-C < 100 Colesterol não-HDL< 130
BAIXO Meta individualizada Meta individualizada
Não são propostas metas terapêuticas específicas para o HDL-C, embora se reconheça seu valor como fator de
risco CV. Assim, para CT buscam-se resultados <200 mg/dL, e para HDL-C, no mínimo acima de 40 mg/dL.
Com relação aosTG, a meta é alcançarvalores < 150 mg/dl. AVDiretriz considera que pacientes com valores > 500
mg/dl devem receber terapia específica (por exemplo, fibratos), a fim de reduzir o risco de pancreatite.Aqueles com
valores entre 150 e 499 mg/dl devem receberterapia individualizada, com base no risco CVe condições associadas.
Em 2013 as novas diretrizes Americanas aboliram a meta específica para o LDL-C, recomendando uma redução de
50% ou mais no LDL em pacientes de alto risco, 30 a 50% nos pacientes de médio risco e até 30% nos pacientes de
baixo risco. Isso em relação ao basal do paciente.
Como as dislipidemias são tratadas?
Tratamento não-farmacológico
É razoável recomendar que todos os pacientes com níveis elevados de LDL-C sejam orientados quanto a modifi-
cações de estilo de vida. Isso inclui a redução de peso em pacientes com excesso de peso, a prática de exercícios
aeróbicos, dieta saudável, com redução da ingestão de ácidos graxos saturados e trans, e possível ingestão de
fitosteróis (2-3 g/dia) (15,43). A seguir alguns dados que estão baseados por evidências:
O The United Kingdom Lipid Clinics Programme, com 2.508 indivíduos, demonstrou
que, apenas com mudanças dietéticas, 60% dos indivíduos apresentaram redução mé-
dia de peso corporal de 1,8%, o que foi associado com a redução de 5 a 7% no LDL-C
sérico (79).
• Em pacientes que se alimentam mal, mudança dietética pode reduzir o LDL-C em
até 30% (80).
• Os benefícios da redução de LDL-C com o tratamento não medicamentoso podem
ser evidenciados dentro de 6 a 12 meses (81,82).
• A redução da ingestão de ácidos graxos saturados e trans, e a ingestão de fitoes-
teroides (2-3 g/dia), apresentam importante impacto na redução de LDL-C (43).
• Na hipertrigliceridemia, medidas como a redução de peso, da ingesta de bebidas
alcoólicas, de açúcares simples e do consumo global de carboidratos, têm grande
impacto (43).
39
Manual2.ColesterolemDia
Apesar dos benefícios na redução do LDL-C, as evidências de que mudanças de hábitos de vida melhoram desfe-
chos cardiovasculares ainda não são suficientemente robustas. No estudo Multiple Risk Factor Intervention Trial
(MRFIT), conduzido em 12.866 homens de alto risco, a intervenção com aconselhamento dietético para redução
dos níveis de colesterol não reduziu significativamente a mortalidade por DCV ou a mortalidade por todas as
causas (83).
Contudo, considerando os benefícios em níveis globais, e seu baixo risco associado, a V Diretriz Brasileira de
Dislipidemia define que todos os pacientes diagnosticados com a condição, devem receber orientações quanto
a mudanças nos seus hábitos de vida (43)(Quadro 6).
QUADRO 6. Recomendações dietéticas para a redução da hipercolesterolemia
PREFERIR
CONSUMIR
MODERADAMENTE
OCASIONALMENTE EM
PEQUENA QUANTIDADE
Cereais Grãos integrais
Pão refinado, arroz e massas,
biscoitos, cereais açucarados
Pães doces, bolos, tortas,
croissants
Vegetais Vegetais crus e cozidos
Vegetais preparados na
manteiga ou creme
Legumes
Todos, incluindo soja e
proteína de soja
Frutas Frutas frescas ou congeladas
Frutas secas, geleia, compotas,
sorvetes
Doces e adoçantes Adoçantes não calóricos Mel, chocolates, doces Bolos e sorvetes
Carnes e peixes
Peixe magro e oleoso, frango
sem a pele
Cortes de carne bovina magra,
carne de porco, frutos do mar
Salsichas, salames, toucinho,
costelas, vísceras
Alimentos lácteos
e ovos
Leite e iogurte desnatados,
clara de ovos
Leite semidesnatado, queijos
brancos e derivados magros
Queijos amarelos e
cremosos, gema de ovo, leite
e iogurte integrais
Molhos para
temperar e cozinhar
Vinagre, ketchup, mostarda,
molhos sem gordura
Óleos vegetais, margarinas leves,
molhos de salada, maionese
Manteiga, margarinas
sólidas, gordura de porco e
trans, óleo de coco
Nozes e sementes Todas Coco
Preparo dos
alimentos
Grelhados, cozidos e no
vapor
Assados e refogados Fritos
40 Tratamento Farmacológico
O tratamento farmacológico visa reduzir o risco cardiovascular, por meio da redução nos níveis de lipídeos plas-
máticos. Os medicamentos atualmente disponíveis para o tratamento das dislipidemias são: as estatinas (inibi-
dores da HMG-CoA redutase), a ezetimiba, as resinas ou sequestradores dos ácidos biliares, a niacina, os fibratos
e os ácidos graxos ômega-3.
Os mecanismos pelos quais os hipolipemiantes agem incluem a redução da absorção de gorduras e colesterol da
dieta (resinas e ezetimiba), a redução da produção hepática de colesterol e o consequente aumento da captação
de LDL pelo fígado (estatinas, fibratos), a redução da produção de VLDL e aumento da ação da lipoproteína
lipase (fibratos).
Ações farmacológicas dos hipolipemiantes
Baseado em: Rang & Dale. Farmacologia. 7a Edição. Editora Elsevier.
41
Manual2.ColesterolemDia
Quais são os tratamentos de primeira linha?
Como elas agem?
As estatinas atuam inibindo a hidroximetilglutaril coenzima A (HMG CoA) redutase. Essa enzima limita a veloci-
dade da síntese do colesterol (reduz a produção de ácido mevalônico da HMG-CoA redutase). Isso resulta em um
aumento compensatório na expressão de receptores de LDLnas membranas de hepatócito e uma estimulação do
catabolismo e da captação do LDL da corrente sanguínea. Isso leva a uma melhora do perfil lipídico, com impacto
no LDL, TG e HDL, com consequente redução do processo aterosclerótico.
Entre os mecanismos não lipídicos que podem estar envolvidos destaca-se a estabilização da placa ateroscleró-
tica, redução da inflamação, reversão da disfunção endotelial e diminuição da trombogenicidade (84,85).
ESTATINAS
Aplicações
Considerando a grande literatura que indica benefícios quanto à redução da mortalidade por DCV com a classe,
as estatinas representam a primeira escolha medicamentosa para prevenção primária (pacientes que nunca ti-
veram eventos cardiovasculares) e secundária (pacientes que já sofreram eventos) de eventos cardiovasculares
ESTATINAS
Melhora da função
endotelial
Modulação da
inflamação
Estabilização da
placa de ateroma
Prevenção da
formação de trombo
Diminuição da
aterosclerose
Redução do LDL, TG
e aumento do HDL
42 em pacientes com dislipidemia. Estudos indicam redução da mortalidade por DAC em 20% e da mortalidade por
todas as causas em 10%, para cada 40 mg/dl de redução do LDL-C com a classe (86–88).
A redução de LDL-C obtida varia muito entre as estatinas, sendo essa diferença funda-
mentalmente relacionada à intensidade da terapia inicial (Tabela 8). Entretanto, pos-
teriormente, a cada vez que a dose de qualquer estatina é dobrada, a redução média
adicional do LDL-C proporcionada será de 6% a 7% (15,43).
Os mecanismos pelos quais as estatinas promovem a redução no risco de doenças vasculares não são comple-
tamente explicados pela redução na concentração de LDL após o tratamento (89–93). Embora as estatinas pro-
vavelmente promovam a regressão da aterosclerose, uma melhoria de resultados pode ser demonstrada já em
seis meses (81,94), período considerado demasiadamente precoce para a regressão significativa da placa. Além
disso, a quantidade de regressão da lesão é pequena quando comparada com a magnitude do benefício clínico
observado.
Um estudo caso-controle, em adultos com uma primeira apresentação clínica de doença arterial coronariana,
evidenciou que o uso de estatinas foi associado a uma redução importante da probabilidade da apresentação de
um infarto agudo do miocárdio (Odds Ratio = 0,45), sugerindo um possível mecanismo benéfico das estatinas,
que pode envolver lesões coronarianas instáveis (95).
Dessa forma, qualquer paciente com doença vascular aterosclerótica evidenciada por evento clínico ou parâ-
metros diagnósticos, tais como doença arterial coronariana, aterosclerose de carótida, devem ser tratados com
estatinas, independente dos valores lipídicos basais.
Paralelamente, estudos observacionais indicam que as estatinas podem ter efeitos além da função cardiovascu-
lar, como a redução do risco de demência, preservação da função renal em pacientes com disfunção renal leve
a moderada, redução da mortalidade por sepse, redução do risco de tromboembolismo venoso e benefícios na
esclerose múltipla (96).
TABELA 8. Intensidade da terapia com estatinas*
Terapia de alta intensidade Terapia de moderada intensidade Terapia de baixa intensidade
Dose diária reduz o LDL em
aproximadamente ≥ 50%
Dose diária reduz o LDL em
aproximadamente 30 a < 50%
Dose diária reduz o LDL em
aproximadamente < 30%
Rosuvastatina 20-40 mg
Atorvastatina 40-80 mg
Atorvastatina 10 (20) mg, Rosuvastatina
(5) 10 mg, Sinvastatina 20–40 mg**,
Pravastatina 40 (80) mg, Lovastatina 40
mg, Fluvastatina XL 80 mg, Fluvastatina
40 mg, bid Pitavastatina 2–4 mg
Sinvastatina 10 mg Pravastatina 10–20
mg Lovastatina 20 mg
Fluvastatina 20–40 mg Pitavastatina 1 mg
43
Manual2.ColesterolemDia
Fluvastatina Pravastatina Sinvastatina Atorvastatina Rosuvastatina Pitavastatina
Lipossolubilidade Baixa Baixa Alta Alta Baixa Moderada
Biodisponibilidade por
via oral
20% 17% <5% 10% 20% 60-80%
Eliminação principal Fezes
Fezes, 20%
renal
Fezes, 13%
renal
Biliar
Biliar, 10%
renal
Fezes 79%
15% Urina
Tempo 1/2 vida 1-2h 1-2h 3h 14h 20h 11-13h
Via metabólica hepática
principal
CYP 2C9
Sulfação/
Outro
CYP 3A4 CYP 3A4 CYP 2C9
CYP 2C8
CYP 2C9
Elevação do HDL-C 1% 2-12% 8-16% 5-13% 8-14% 8-12%
Redução média do LDL-C,
por faixa de dose (%)
*Tabela adaptada do documento “2013 ACC/AHA Guideline on the Treatment of Blood Cholesterol to Reduce Atheroscle-
rotic Cardiovascular Risk in Adults”. **Embora sinvastatina 80 mg tenha sido avaliada em ensaios clínicos randomizados,
inicio de terapia com sinvastatina 80 mg ou titulação até esta dose não é recomendado pela FDA, devido ao risco aumentado
de miopatia, incluindo rabdomiólise.
Perfil farmacocinético e eficácia das principais estatinas disponíveis no Brasil
Reações Adversas
Efeitos adversos associados às estatinas são pouco frequentes. Mialgia (dor muscular), com ou sem elevação da
Creatinofosfoquinase (CPK) , ocorre em cerca de 10% dos pacientes, podendo surgir semanas ou anos após o iní-
cio do tratamento. Alterações de CPK são observadas em cerca de 3% dos pacientes, e rabdomiólise é extrema-
mente rara (87,88). Do ponto de vista clínico, a mialgia por estatinas é usualmente proximal e simétrica, podendo
evoluir com prejuízo funcional ao grupamento muscular afetado, devido à dor. Câimbras, principalmente à noite,
podem estar associadas.
Todas as estatinas são capazes de causar miotoxicidade, em graus variados. Apesar de todas as estatinas com-
partilharem os mesmos tecidos e sítios de ação, a forma como cada fármaco se distribui e alcança estes tecidos
pode variar, dependendo se o fármaco é mais hidrossolúvel ou lipossolúvel. Estas diferenças podem ter implica-
20 40 80 10 20 40 80 10 20 40 80 10 20 40 80 5 10 20 40 1 2 4
0
-15
-30
-45
-60
44 ções para a ação destes medicamentos sobre a biossíntese de colesterol nos músculos, levando a variações nos
efeitos adversos entre as diferentes estatinas. Por exemplo, a Pravastatina e a Fluvastatina são mais hidrofílicas
e dependem de ligação a proteínas específicas a fim de penetrar a membrana celular. Estatinas mais lipossolúveis,
como a Sinvastatina, Atorvastatina e Lovastatina, por outro lado, são capazes de penetrar a membrana celular
com mais facilidade. Assim, a passagem para o interior da célula muscular pode aumentar de acordo com a lipos-
solubilidade e, assim, aumenta também a miotoxicidade (97).
Considerando a necessidade e os benefícios da terapia, aumentos de até 5x o limite su-
perior da normalidade de CPK são considerados aceitáveis. A suspensão do tratamen-
to só deve ser considerada em aumentos superiores (5 a 10 vezes o limite superior), ou
na persistência dos sintomas musculares. Nestas situações, doses menores ou troca
de estatina pode ser considerada.
Uma possível consequência grave da miotoxicidade das estatinas é a rabdomiólise. A rabdomiólise é definida
como uma síndrome clínico-laboratorial que decorre da lise das células musculares esqueléticas, com a liberta-
ção de substâncias intracelulares para a circulação, em especial a mioglobina. O excesso de mioglobina circulante
é tóxico para os rins, podendo levar o paciente a insuficiência renal aguda e morte. Trata-se de uma síndrome
muito rara, que dificilmente ocorre pelo uso de estatinas em monoterapia. O risco aumenta pelo uso simultâneo
de estatinas e fibratos, em especial a gemfibrozila, pelo que esta associação deve ser evitada (veja tópico especí-
fico sobre fibratos)(98).
3
A creatinofosfoquinase (CPK), ou creatinoquinase (CK), é uma enzima presente nos músculos, tecido cardíaco e no cérebro. CPK-BB é a for-
ma encontrada no cérebro; a CPK-MB é a forma encontrada no miocárdio (músculo cardíaco), e a CPK-MM é forma encontrada no músculo
estriado. A maior utilização da dosagem da CPK está no diagnóstico das lesões e doenças da musculatura esquelética e no infarto agudo do
miocárdio (ataque cardíaco).
Hepatotoxicidade . Elevação significativa das enzimas hepáticas (acima de 3 vezes o valor de referência) ocorre
em cerca de 1% dos pacientes, mas é normalmente reversível, mesmo sem interrupção da terapia. Em relação
à toxicidade hepática, a suspensão temporária é aconselhada com elevações superiores a três vezes o valor de
referência das transaminases (AST e ALT), e a suspensão definitiva em casos com infecção hepática ativa ou dis-
função hepática grave (87,88).
Pelas razões previamente expostas, CPK e transaminases hepáticas (em especial a alanina aminotransferase
[ALT – antigamente chamada TGP) devem ser dosadas antes de se iniciar o tratamento e após 6-12 semanas.
Novos monitoramentos podem ser realizados após a modificação da dose da estatina, ou após associação com
outros fármacos com poder de interação.
Outros efeitos adversos menos graves incluem a insônia e distúrbios gastrintestinais. Estatinas mais lipossolú-
veis (ex. Sinvastatina, Atorvastatina) podem penetrar mais a barreira hematoencefálica e, assim, produzir distúr-
45
Manual2.ColesterolemDia
bios do sono com mais frequência. Distúrbios gastrintestinais podem ocorrer com todas as estatinas e incluem
sintomas de má digestão, distensão abdominal, flatulência e diarreia. A ingestão das estatinas com alimentos,
após refeições, tende a reduzir estes sintomas na maioria dos pacientes.
E se o paciente desenvolver dores musculares durante o tratamento com
estatinas?
• Os sintomas musculares geralmente começam dentro de algumas semanas ou meses após o início
das estatinas;
• Outras causas devem ser excluídas, como dores associadas a exercícios ou a condições infecciosas
(sintomas gripais);
• Monitoramento dos valores de CPK pode ser aconselhado, contudo, mialgias podem existir mesmo
na ausência da alteração do parâmetro;
• Lembre-se: se evidenciada a necessidade da terapia com estatinas, aumentos de até 5 vezes nos
valores de CK podem ser tolerados;
• Caso o paciente não tolere a dor, ou apresente valores de CK aumentados de 5-10 vezes o valor de
referência, suspensão do medicamento deve ser aconselhada ao prescritor;
• Os sintomas tendem a desaparecer após dias ou semanas da interrupção;
• A reintrodução do tratamento, com uma estatina de menor potência ou em menor dose pode ser
aconselhada.
O que você deve aconselhar aos pacientes?
• Para estatinas com tempo ½ vida curto (Fluvastatina, Pravastatina, Sinvastatina e Lovastatina), aconselhe
que a tomada do medicamento deve ser feita à noite, para que o efeito ocorra mais pela noite, que é quando
o metabolismo hepático está mais ativo. Este horário específico de tomada não é necessário para estatinas
com meia-vida longa (atorvastatina, rosuvastatina);
• De modo geral, as estatinas são melhor toleradas se tomadas com estômago cheio. Por isso, oriente uso do
medicamento após a refeição (p.ex. após o jantar);
• Aconselhe o paciente a monitorar e relatar imediatamente sinais / sintomas ligados a miopatia (dor muscular
inexplicável, sensibilidade ou fraqueza, especialmente quando acompanhada de febre ou mal-estar) ou dano
hepático (fadiga inexplicada, anorexia, desconforto abdominal superior direito, urina escura ou icterícia);
• Orientar que o consumo excessivo de álcool pode aumentar o risco de lesão hepática e, portanto deve ser
evitado;
46 • Se o paciente está em uso de Rosuvastatina, saliente que o mesmo não deve utilizar antiácidos que conte-
nham magnésio-alumínio por pelo menos 2 horas após a ingestão do medicamento;
• Aconselhe que o início de qualquer novo tratamento deve ser acompanhado por profissionais de saúde
(médico e farmacêutico), mesmo com medicamentos isentos de prescrição ou produtos de origem vegetal,
pois pode existir risco de interações com as estatinas.
Quais são as terapias de segunda linha?
Ensaios com outros hipolipemiantes, que não estatinas, em prevenção primária, encontraram um aumento pre-
ocupante da mortalidade de origem não cardiovascular (99–102). Particularmente para prevenção primária, em
que os benefícios da terapia precisam ser superiores aos riscos, já que o risco de desenvolver um evento coro-
nariano é pequeno, evidências que justifiquem a utilização de terapias com outros hipolipemiantes ainda são
necessárias (42).
Ademais, resultados quanto a desfechos clínicos destes medicamentos ainda são pobres, fato que levou a nova
diretriz americana de 2013, para tratamento de hipercolesterolemia e redução do risco de aterosclerose em
adultos, a considerar apenas as estatinas no tratamento das dislipidemias, tanto para prevenção primária como
secundária (42).
A diretriz Brasileira considera outros hipolipemiantes, que não as estatinas, principalmente como alternativas
para associação as estatinas, em pacientes com níveis lipídicos elevados mesmo com a monoterapia (15).
RESINAS
Como eles agem?
As resinas, ou sequestradores dos ácidos biliares, são grandes polímeros que ligam os ácidos biliares, carrega-
dos negativamente, e os sais biliares no intestino delgado, reduzindo a absorção enteral de colesterol. Como
resultado ocorre depleção do colesterol celular hepático, estimulando a síntese de receptores de LDL (LDL-R) e
colesterol endógeno. Como consequência, pode ocorrer aumento da produção de VLDL e, consequentemente,
dos TGs plasmáticos.
Aplicações
No Brasil, somente a colestiramina está disponível. Essa resina foi testada no estudo Lipid Research Clinics Co-
47
Manual2.ColesterolemDia
ronary Prevention Trial (LRC), cujo desfecho primário, combinando morte por doença coronariana e infarto do
miocárdio, foi reduzido em 19%. Em adição às estatinas, não existe estudo clínico que tenha comprovado benefí-
cio adicional. A adição de colestiramina ao tratamento com estatinas pode ser uma alternativa quando a meta de
LDL-C não é obtida, apesar do uso de estatinas potentes em doses efetivas. A redução do LDL-C é dose-depen-
dente e pode variar de 5% a 30% nas doses de 4-24 g/dia (15).
Reações adversas
Os principais efeitos colaterais das resinas são constipação (até 25% dos pacientes) e aumento dos TGs, particu-
larmente em indivíduos com hipertrigliceridemia acentuada (> 400 mg/dl).
O que você deve aconselhar aos pacientes?
• Aconselhe o paciente a não saborear ou manter a resina na boca por períodos pro-
longados, pois isso pode causar descoloração e erosão do esmalte dentário;
• A ingestão deve ocorrer juntamente com as refeições; e durante o tratamento o
aumento da ingestão de líquidos é recomendado;
• O pó não deve ser utilizado na forma seca, sempre dissolvê-lo em água antes da
administração;
• O medicamento pode interferir com a absorção de muitos outros medicamentos.
Portanto o paciente deve ingerir outros medicamentos preferencialmente 1 hora
antes ou 4-6 horas depois de tomar a colestiramina.
EZETIMIBA
Como ela age?
A ezetimiba é o primeiro medicamento de uma nova classe de inibidores da absorção do colesterol. Ela reduz a
absorção do colesterol dietético e biliar na borda em escova do intestino, sem afetar a absorção de triglicérides
ou vitaminas lipossolúveis. Ela atua seletivamente nos receptores Niemann-Pick C1-like protein 1, inibindo o
transporte de colesterol do intestino para a corrente sanguínea (15,43).
A inibição da absorção de colesterol, em grande parte do colesterol biliar, leva à diminuição dos níveis de coles-
terol hepático e ao estímulo para a síntese de LDL-R, com consequente redução do nível plasmático de LDL-C em
10% a 25% (15,43).
48
NIACINA
Aplicações
Em comparação com placebo, a ezetimiba associada à estatina reduziu eventos CV em pacientes com estenose
aórtica degenerativa e doença renal crônica (15,43).
O papel da ezetimiba em desfechos clínicos ainda é pouco claro, ensaios clínicos evidenciaram resultados po-
bres quanto a benefícios adicionais a terapia com estatinas. A ezetimiba pode ser útil para evitar altas doses de
estatinas (e potencialmente aumento da susceptibilidade à lesão muscular) em pacientes que não alcançaram as
metas de colesterol. No entanto, os benefícios clínicos da monoterapia com ezetimiba ou ezetimiba associada
com estatinas continuam sem comprovações robustas (103–106).
Reações Adversas
As principais reações adversas são: diarreia (2,5-4,1%), aumento de transaminases (0,5-3,0%), nasofaringites
(3,7%), sinusites (2,8%), infecções das vias aéreas superiores (2,9-4,3%) e dores musculares (3,2%), principal-
mente se associada a estatinas.
O que você deve aconselhar aos pacientes?
Instruir os pacientes a relatarem sinais / sintomas como dor abdominal, diarreia, dor
nas costas, dor de cabeça, sinusite, hepatite, artralgia ou mialgias.
Como ela age?
A niacina atua no tecido adiposo periférico, leucócitos e células de Langerhans por meio de sua ligação com um
receptor específico ligado à proteína G, o GPR109A. A ativação da GPR109A inibe as lipases hormonossensitivas
nos adipócitos e, por esse meio, diminui a liberação de AGs livres na circulação. Em paralelo, a niacina inibe a ati-
vidade da enzima diacilglicerol aciltransferase-2 (DGAT-2) nos microssomos dos hepatócitos e, assim, a síntese
hepática de TG. Resulta destas ações uma menor disponibilidade de TG intra-hepático e, por consequência, o
aumento no catabolismo de apo B e menor secreção de VLDL e LDL. Indiretamente, ocorre aumento do HDL-C
(até 30%).
49
Manual2.ColesterolemDia
Aplicações
A niacina é utilizada para redução dos triglicerídeos e aumento do HDL-C, mas não se observa benefício cardio-
vascular na associação de niacina à estatina em pacientes dentro da meta preconizada de LDL. O Coronary Drug
Project, realizado na década de 1970, demonstrou que o tratamento com niacina na sua forma cristalina pode re-
duzir a incidência de eventos cardiovasculares. O tratamento com formulações mais toleráveis, como as formas
estendidas, reduziu a espessura médio-intimal mesmo em pacientes em uso de estatinas (107–109). Entretanto,
estudos clínicos recentes não demonstraram benefício na adição de niacina ao tratamento eficaz com estatinas
com ou sem ezetimiba (108,109). Como exemplo, o estudo HPS2-THRIVE, publicado em julho de 2014, que en-
volveu cerca de 26.000 pacientes com doença vascular conhecida em uso prévio de estatinas, demonstrou que
durante seguimento médio de 3,9 anos, terapia adicional com niacina foi associada a incremento importante em
eventos adversos graves, sem nenhum benefício cardiovascular (110).
Reações Adversas
O medicamento é geralmente bem tolerado. As reações adversas podem ser consideradas leves e transitórias,
e tendem a ceder espontaneamente com a continuidade do tratamento. A reação mais comumente relatada é o
flushing (pele avermelhada, sensação de calor e coceira), e pode ocorrer em até 88% dos pacientes. O flushing
pode estar acompanhado de sintomas como tonturas, palpitações, dispneia, sudorese, calafrios e/ou inchaço.
O que você deve aconselhar aos pacientes?
• O medicamento deve ser ingerido próximo a hora de dormir, com um lanche leve
(baixo teor de gordura);
• O paciente deve evitar o uso concomitante de anticoagulantes ou vasodilatadores;
• Se não houver contraindicações, pré-tratamento com aspirina ou AINE, 30 min
antes da tomada de niacina, pode reduzir a gravidade/frequência de rubor, pruri-
do e desconforto gastrointestinal.
FIBRATOS
Como eles agem?
As ações dos fibratos no metabolismo lipídico decorrem de sua capacidade de imitar a estrutura e as funções
biológicas dos AGs livres. O fibratos se ligam a fatores de transcrição específicos, os receptores ativados pelo
50 proliferador de peroxissomos (PPARs) expressos primariamente no fígado, rins, coração e músculos (15,43). A
ativação dos PPARs pelos fibratos aciona uma série de genes relacionados com hidrólise dos TGs (lipase lipopro-
teica e apolipoproteína CIII), degradação e síntese de AG e HDL. Os principais fibratos disponíveis no Brasil são
gemfibrozila, bezafibrato, ciprofibrato, fenofibrato e clofibrato (15).
Aplicações
Os fibratos também são utilizados para redução de triglicerídeos e aumento do HDL-C. Há evidências de preven-
ção de doenças microvasculares (retinopatia e nefropatia) em diabéticos tipo 2 com o uso de fibratos, tanto em
monoterapia quanto em associação à estatina (111,112).
Com relação a eventos cardiovasculares, a monoterapia com fibratos tem resultados inconsistentes nos estu-
dos clínicos, e a associação de fibratos às estatinas não tem benefício demonstrado nas demais populações. Nos
pacientes com hipertrigliceridemia, particularmente naqueles com HDL-C baixo, é possível que haja benefício
macrovascular, mas esta possibilidade ainda requer confirmação (15,43).
Reações Adversas
A associação de fibratos e estatinas está associada a aumento no risco de miopatia, principalmente com a sinvas-
tatina. Fármacos inibidores do citocromo P450 também podem estar associados a aumento no risco de reações
adversas dose-dependentes aos fibratos, principalmente devido a maiorexposição sérica ao medicamento. O uso
particular de gemfibrozila em associação a estatinas é desaconselhado, devido ao aumento importante no risco
de rabdomiólise. (15,43). Outros eventos adversos incluem dor abdominal (4,6-9,8%) e alterações de testes da
função hepática (3,4-7,5%).
O que você deve aconselhar aos pacientes?
Aconselhar paciente a monitorar e relatar imediatamente sintomas de miopatia, hepa-
tite (náuseas, fraqueza, dor abdominal, urina escura ou fezes claras) ou pancreatite (dor
abdominal forte, com piora após refeições).
51
Manual2.ColesterolemDia
Atenção especial deve ser dada aos casos de associação a estatinas
• Tanto as estatinas como os fibratos são associados à toxicidade muscular, e esse efeito é poten-
cializado de maneira importante se esses medicamentos são associados.
• Em uma revisão de relatos de casos publicados sobre rabdomiólise relacionada à terapia com
fibratos, genfibrozila foi associada com o maior número de eventos, seguido de bezafibrato, fe-
nofibrato, ciprofibrato, e clofibrato (184). Portanto a associação do genfibrozila e estatinas não
é recomendada.
• A associação de fibratos a estatinas deve ser reservada a casos estritamente necessários, e nes-
ses o monitoramento cuidadoso de sinais / sintomas musculares deve ser instituído.
Existem medicamentos isentos de prescrição que
podem beneficiar pacientes com dislipidemia?
ÁCIDOS GRAXOS ÔMEGA 3
Ácidos graxos ômega-3 (Ω-3) são derivados poliinsaturados do óleo de peixes
e de certas plantas e nozes. O óleo de peixe contém tanto o ácido docosaexa-
enoico (DHA) quanto o ácido eicosapentaenoico (EPA), mas os óleos de origem
vegetal contêm predominantemente o ácido alfa-linolênico (ALA).
O consumo de óleo de peixe reduz as concentrações de triglicerídeos séricos de
25 a 30%, um efeito comparável ao perfil de eficácia de outros medicamentos
(113–115). A relação dose resposta parece ser bastante linear (115): pequena
redução é observada com as doses dietéticas ou suplementação de baixa dosa-
gem (<1 g / dia), enquanto que com doses mais elevadas (3-4 g / dia), os níveis
de triglicerídeos são significativamente mais baixos. No entanto, as doses de
óleo de peixe necessárias para reduzir os triglicerídeos são várias vezes mais
elevadas do que as doses que podem reduzir a mortalidade coronária.
Suplementação de óleo de peixe também aumenta ligeiramente as concentrações de HDL-C (3%) e, particular-
mente em pacientes com hipertrigliceridemia, eleva as concentrações de LDL-C (5%) e diminui a proporção de
partículas pequenas de LDL-C (116–118). Este aumento no tamanho das partículas de LDL pode ser responsá-
vel pelas maiores concentrações de LDL-C; isto é, a concentração de LDL-C pode aumentar ligeiramente, mas
sem alteração significativa no número de partículas de LDL circulantes.
52 Estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados examinaram os efeitos de longo prazo do óleo de peixe
sobre o desenvolvimento e progressão da aterosclerose.
• Um estudo observacional, conduzido em 229 mulheres, descobriu que, após o ajuste para outros fatores de
risco, durante 3,2 anos de acompanhamento, o consumo dietético modesto de óleo de peixe foi associado a
menor progressão de obstruções coronarianas e menor incidência de novas lesões (119).
• Um pequeno estudo randomizado (n = 59) não detectou efeitos significativos da suplementação de óleo de
peixe (6 g / dia por 2,3 anos) na progressão da aterosclerose coronariana, mensurada através de angiografia
coronária (120).
• Outro estudo randomizado (n = 223), encontrou efeito modesto, mas estatisticamente significativo, da su-
plementação de óleo de peixe (1,65 g / dia por dois anos) na progressão da doença coronariana (121,122).
• Terceiro estudo randomizado, aberto, avaliou os efeitos de ácido eicosapentaenóico (EPA) (1,8 g/dia por 2,1
anos) na progressão da aterosclerose carotídea em 81 pacientes japoneses com diabetes tipo 2 (123).
Embora confirmação em estudos adicionais se justifique, em conjunto, estes poucos estudos sugerem que o con-
sumo de óleo de peixe pode reduzir modestamente a progressão crônica da aterosclerose.
Um número limitado de estudos sugerem que o consumo de óleo de peixe pode reduzir modestamente a progres-
são crônica da placa arterial estável; em contraste, efeitos consideráveis sobre a trombose não são observados
até níveis muito elevados de suplementação (> 5 a 10 g / dia) (124).
Efeitos do consumo de óleo de peixe na instabilidade da placa aterosclerótica não estão bem estabelecidos. Al-
guns grandes ensaios clínicos randomizados com consumo de peixe ou óleo de peixe demonstraram reduções
significativas nas síndromes coronárias agudas ou outros eventos coronarianos não fatais (125–128), enquanto
outros grandes estudos não o fizeram (129–133). Meta-análise de 13 ensaios clínicos randomizados (n = 53.875,
publicada em 2012, encontrou uma tendência de redução, estatisticamente não significativa, nas taxas de IAM
(risco relativo de 0,89, 95% IC 0,76-1,04) (134). Assim, não está claro que o óleo de peixe tem quaisquer efeitos
importantes sobre eventos cardíacos não fatais.
Também, recentes metanálises não confirmaram o benefício da suplementação de óleo de peixe na redução de
eventos cardiovasculares, coronarianos, cerebrovasculares, arritmias ou mortalidade global (135,136).
De maneira prática, o consumo de peixes ricos em ômega 3 deve fazer parte de uma
dieta saudável para prevenção cardiovascular, entretanto, sua suplementação diária
ainda é controversa, motivo pelo qual as diretrizes atuais não a recomendam.
53
Manual2.ColesterolemDia
Resumo das recomendações farmacológicas
RECOMENDAÇÃO CLASSE
NÍVEL DE
EVIDÊNCIA
Estatinas como primeira opção medicamentosa nas prevenções primária e secundária I A
Uso de fibratos em monoterapia ou em associação a estatina para prevenção de doenças
microvasculares em diabéticos tipo 2
I A
Associação de ezetimiba ou resinas às estatinas quando a meta de LDL-C não é alcançada IIa C
Associação de niacina às estatinas III A
Uso de ácidos graxos ômega 3 para prevenção cardiovascular III A
GRAU DE RECOMENDAÇÃO: I. Existe consenso e evidência em favor da indicação. IIa. Existe divergência, mas a maioria
aprova. IIb. Existe divergência e divisão de opiniões. III. Não se recomenda. NÍVEL DE EVIDÊNCIA: A. Múltiplos ensaios
clínicos controlados, aleatorizados. B. Um único estudo clínico controlado e aleatorizado, estudos clínicos não aleatorizados
ou estudos observacionais bem desenhados. C. Série ou relato de casos.
As tabelas 9 e 10 resumem as características dos principais hipolipemiantes disponíveis no Brasil e suas intera-
ções medicamentosas mais relevantes.
TABELA 9. Características dos principais hipolipemiantes disponíveis
Classe Dose Administração
Estatinas (Inibidores da HMG-CoA-redutase)
Pravastatina 10-80 mg/dia Administração em qualquer horário do dia
Sinvastatina 5-40 mg/dia* Administração noturna (ou antes de dormir para trabalhado-
res noturnos)
Atorvastatina 10-80 mg/dia Administração em qualquer horário do dia
Rosuvastatina 5-40 mg/dia Administração em qualquer horário do dia
Fibratos
Gemfibrozila 900-1200 mg/dia 30-60 min antes das refeições
Fenofibrato Micronizada 160-200 mg/dia Administrada preferencialmente com as refeições. Doses
reduzidas podem ser administradas em insuficiência renal
Ácido nicotínico ou niacina
Ácido nicotínico / Niacina Liberação imediata
1-12 g/dia
Liberação controlada
500-2000 mg/dia
Administrar com as refeições. A dose deve ser titulada paula-
tinamente. Depois de seis semanas, recomenda-se verificação
de lipídios, glicose, função hepática, e ácido úrico. Aumentar a
dose conforme necessidade.
Sequestrantes de ácidos biliares
Colestiramina 4-24 g/dia Administrar 30 min antes das refeições;
Inibidores da absorção de colesterol
Ezetimiba 10 mg/dia
54 TABELA 10. Interações medicamentosas e conduta dos principais hipolipemiantes
Interage com?
(Medicamento/ Classe)
Efeitos Conduta/ Manejo
Estatinas
Fibratos Risco aumentado de miopatia e rabdo-
miólise
Se coadministrados, monitorar o paciente para
sinais e sintomas de miopatia ou rabdomiólise
(dor muscular, sensibilidade ou fraqueza), sugerir
interrupção do tratamento ao médico se os
níveis de CPK mostrarem aumento acentuado ou
se miopatia é fortemente suspeita.
Antifúngicos sistêmicos:
Itraconazol,
Posaconazol,
Voriconazol
Aumento da concentração sérica das
estatinas e consequente aumento no
risco de miopatia e rabdomiólise
Se coadministrados, monitorar o paciente para
sinais e sintomas de miopatia ou rabdomiólise
(dor muscular, sensibilidade ou fraqueza);
Se atorvastatina, devido ao maior risco da intera-
ção, a suspensão da estatina durante a vigência
do antifúngico pode ser aconselhada.
Inibidores de protease Aumento de risco de toxicidade da
estatina, incluindo risco aumentado de
miopatia ou rabdomiólise
Associação com sinvastatina contraindicada, Se
o uso de uma estatina é necessário, considerar
atorvastatina ou rosuvastatina, na menor dose
possível, com monitoração cuidadosa.
Antibióticos macrolídeos:
p.ex. Eritromicina
Aumento de risco de toxicidade da
estatina, incluindo risco aumentado de
miopatia ou rabdomiólise
Avaliar risco-benefício da associação, se indicada
monitorar o paciente para sinais e sintomas de
miopatia ou rabdomiólise (dor muscular, sensibi-
lidade ou fraqueza).
Colestiramina
Micofenolato Redução da exposição ao ácido micofe-
nólico (metabólito ativo do Micofeno-
lato mofetil)
A coadministração não é indicada. Sugerir reava-
liação da terapia.
Paracetamol Redução da absorção do paracetamol Considerar aprazamento da terapia. Aconselhar
a administração da colestiramina 1 hora após o
paracetamol.
Amiodarona Redução da efetividade da amiodarona Monitorar efeitos terapêuticos
Fibratos
Estatinas Risco aumentado de miopatia e rabdo-
miólise
Se coadministrados, monitorar o paciente para
sinais e sintomas de miopatia ou rabdomióli-
se (dor muscular, sensibilidade ou fraqueza),
sugerir interrupção do tratamento ao médico se
os níveis creatinoquinase mostrarem aumento
acentuado ou se miopatia é fortemente suspeita.
Anticoagulantes orais Efeito anticoagulante reforçado Uso associado não recomendado. Sugerir reava-
liação da farmacoterapia.
Sulfonilureias Aumento do efeito hipoglicemiante Monitorar valores glicêmicos cuidadosamente.
Atenção para hipoglicemia.
55
Manual2.ColesterolemDia
A soja, além de ser uma excelente fonte de proteína, con-
tém isoflavonas, que são fitoestrogênios. As isoflavonas
são micronutrientes que, em primatas não humanos, têm
propriedades semelhantes ao estrogênio, incluindo efeito
sobre os níveis de colesterol e inibição da oxidação de LDL
(137). Tem sido sugerido que a redução do risco de doença
cardíaca, entre asiáticos em comparação com populações
ocidentais, possa estar relacionada ao elevado consumo de
produtos derivados da soja (138–140)
Embora estudos anteriores e uma meta-análise tenham su-
gerido benefícios lipídicos importantes com o consumo de
proteína de soja (138–140), uma revisão sistemática poste-
rior concluiu que os benefícios são modestos (141). Além
dos efeitos sobre os lipídeos, é possível que a ingestão de
proteínas de soja tenha outros benefícios vasculares, como
vasodilatação ou proteção do endotélio (142–145).
Conforme o Nutrition Committee of the American Heart
Association, suplementos de isoflavona não devem ser utilizados para tratar dislipidemias e reduzir o risco car-
diovascular. Quando substitutos de alimentos de origem animal, alimentos de soja e derivados (por exemplo,
tofu, manteiga de soja, alguns hambúrgueres de soja, etc.) são benéficos sobre os lipídios e a saúde cardiovascu-
lar porque eles são pobres em gorduras saturadas, ricos em gorduras insaturadas, e muitas vezes ricos em fibras.
Ácido nicotínico ou niacina
Estatinas Aumento do risco de toxicidade das
estatinas
Avaliar risco-benefício. Se coadministrados,
monitorar o paciente para sinais e sintomas de
miopatia ou rabdomiólise (dor muscular, sensibi-
lidade ou fraqueza).
Ezetimiba
Fibratos Aumento das concentrações de
ezetimiba e um aumento do risco de
colelitíase (aumento da excreção de
colesterol na bile)
Administração com gemfibrozila não é recomen-
dada. Se coadministração é necessária fenofibra-
to é indicado, juntamente com o monitoramento
cuidadosa de sinais / sintomas.
Suplementos alimentares e produtos naturais
funcionam para dislipidemias?
SOJA
56
A Levedura de arroz vermelho é um produto fermentado
de arroz que tem sido utilizado na culinária chinesa e me-
dicinal para promover a “circulação sanguínea”. O produto
contém quantidades variáveis de uma família de substân-
cias que ocorrem naturalmente, chamados monacolins,
que apresentam atividade inibidora da HMG-CoA redutase
(146).
A eficácia da levedura para baixar o colesterol foi avaliada
em um estudo prospectivo, duplo-cego, em que 83 pacien-
tes com hiperlipidemia (colesterol total 204-338 mg/dL,
LDL-C 128-277 mg/dL), que não estavam recebendo tera-
pia de redução do colesterol foram aleatoriamente desig-
nados para receber levedura de arroz vermelho (2,4 g/dia)
ou placebo; ambos os grupos também foram orientados a
seguir uma dieta para baixar o colesterol (147). O estudo
demonstrou redução significativa da concentração de co-
lesterol total e LDL em oito semanas.
Nem todas as cepas de levedura de arroz vermelho são iguais e os resultados destes ensaios clínicos não podem
ser generalizados para diferentes preparações. Há uma variabilidade substancial através preparações comerciais
(148,149).
Em resumo, o arroz vermelho levedura pode ter a capacidade de baixar o colesterol devido à presença de mo-
nacolins que têm atividade de inibição da HMG-CoA-redutase e, possivelmente, outras substâncias ativas. No
entanto, estes extratos sofrem do mesmo problema, como muitos outros produtos naturais, isto é, uma falta de
padronização (150). Isto resulta na variabilidade acentuada entre as marcas no teor de ingrediente ativo e, assim,
em termos de eficácia na redução do LDL-C.
Devido ao mecanismo de ação semelhante às estatinas, o uso destas substâncias concomitantemente com es-
tatinas deve ser desaconselhado. Caso o paciente utilize, deve-se monitorar as reduções de colesterol obtidas e
o surgimento de efeitos adversos, especialmente mialgia.
LEVEDURA DO ARROZ VERMELHO
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  • 2. Manual 2 Colesterol em Dia SERVIÇOS FARMACÊUTICOS . 2016/2017
  • 4. AUTORES: Cassyano J Correr, BPharm, MSc, PhD Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná Consultor Abrafarma - Projeto Assistência Farmacêutica Avançada projetofarma@abrafarma.com.br Wálleri Christini Torelli Reis, BPharm, MSc Ambulatório de Atenção Farmacêutica do Hospital de Clínicas, Laboratório de Serviços Clínicos e Evidências em Saúde, Universidade Federal do Paraná. REVISÃO: Thais Teles de Souza, BPharm, MSc Ambulatório de Atenção Farmacêutica do Hospital de Clínicas, Laboratório de Serviços Clínicos e Evidências em Saúde, Universidade Federal do Paraná. Os autores agradecem aos membros do GTFARMA, farmacêuticos coordenadores e super- visores das Redes associadas à Abrafarma, bem como aos seus colaboradores, pela leitura, revisão e sugestões de melhoria feitas aos Manuais durante seu processo de elaboração. Muito obrigado!
  • 5. Os autores deste manual empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelos autores até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica e reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os leitores consultem sem- pre outras fontes fidedignas (p. ex., Anvisa, diretrizes e protocolos clínicos), de modo a se certificarem de que as informações contidas neste manual estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Recomendamos que cada profissional utilize este manual como guia, não como única fonte de consulta. Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qual- quer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis correções posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. 547.731 C824 Correr, Cassyano Januário Manual 2: colesterol em dia. / Cassyano Januário Correr, Walleri, Christini Torelli Reis. 1. ed. atualizada. Curitiba: Ed. Practice , 2016. 100 p. : il. (algumas color.) ( Manual 2) ISBN 978-85-68784-07-5 Inclui bibliografia 1. Colesterol. 2. Manuais. I. Reis, Walleri Christini Torelli. II. Título. FICHA CATALOGRÁFICA: MANUAL 2: COLESTEROL EM DIA Copyright © 2016 © 2017 ABRAFARMA Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da ABRAFARMA. ABRAFARMA - Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias Alameda Santos, 2300 - Conj. 71 - São Paulo / SP CEP 01418-200 | Tel.: (11) 4550-6201 Practice Editora | Grupo Practice Ltda Supervisão: Graziela Sponchiado | Capa e projeto gráfico: Raquel Damasceno Diagramação: Guilherme Menezes | Contatos: contato@grupopractice.com.br http://farmaceuticoclinico.com.br EDITORAÇÃO:
  • 6. AVISO AO LEITOR Este manual possui caráter técnico-científico e destina-se exclusivamente aos profissionais farmacêuticos e colabora- dores das Redes de Farmácias e Drogarias associadas a Abrafarma. Sua elaboração tem por objetivo apresentar dire- trizes para a estruturação e performance dos serviços farmacêuticos nos estabelecimentos e, sob nenhuma hipótese, pretende substituir normas ou procedimentos estabelecidos na legislação sanitária ou profissional mais atual aplicável ao setor. A Abrafarma, bem como os autores, eximem-se de qualquer responsabilidade pelo mau uso deste recurso, bem como pela interpretação e aplicação de seu conteúdo feita por seus leitores. SERVIÇOS FARMACÊUTICOS ABRAFARMA
  • 7.
  • 8. SUMÁRIO 9 A FARMÁCIA EM TRANSFORMAÇÃO 11 INTRODUÇÃO 13 PROGRAMA COLESTEROL EM DIA 13 O que é o programa colesterol em dia? 14 Quais são os benefícios para os pacientes? 15 PARTE 1: REVISANDO A DOENÇA 15 O que são as dislipidemias? 15 Como funciona o metabolismo lipídico? 19 Como ocorre a aterosclerose? 20 Quais as consequências da aterosclerose? 21 Quais são as diretrizes clínicas mais importantes sobre dislipidemias? 22 Como as dislipidemias são diagnosticadas? 23 Como as dislipidemias podem ser classificadas? 23 Dislipidemias Secundárias 27 Perfil lipídico: o que significa e como interpretar? 29 Como estimar o risco cardiovascular do paciente com dislipidemia? 34 ER pelo tempo de vida: Uma alternativa complementar 36 Quais são as metas terapêuticas nas dislipidemias? 37 Como as dislipidemias são tratadas? 40 Quais são os tratamentos de primeira linha? 45 Quais são as terapias de segunda linha? 50 Existem medicamentos isentos de prescrição que podem beneficiar pacientes com dislipidemia? 50 Ácidos graxos omega 3 54 Suplementos alimentares e produtos naturais funcionam para dislipidemias? 58 Na hipercolesterolemia familiar, o que fazer?
  • 9. 59 Prevenção secundária: o que muda? 60 Como é o algoritmo de tratamento das dislipidemias? 60 Adesão e persistência ao tratamento com hipolipemiantes: Fatos e números 61 PARTE 2: PROTOCOLO DE ATENDIMENTO 62 PASSO 1. ACOLHER 62 Como identificar os clientes para o serviço? 64 Como a equipe da farmácia pode ajudar? 65 Como deve ser o local de atendimento? 66 PASSO 2. AVALIAR 66 Como fazer a avaliação do paciente? 69 Como determinar o perfil lipídico na farmácia? 71 Passo-a-passo 73 PASSO 3. ACONSELHAR 75 Qual deve ser o conteúdo da minha orientação? 75 Medidas para prevenção primária das doenças cardiovasculares 75 Tratamento não-farmacológico no paciente dislipidêmico 76 Sobre o tratamento farmacológico da dislipidemia 77 Como é a declaração de serviço farmacêutico? 77 Como fazer o encaminhamento ao médico? 78 Quando é importante acompanhar o paciente? 80 O que é o diário de saúde? 81 LEITURA RECOMENDADA 83 ANOTAÇÕES 84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
  • 10. 10 A FARMÁCIA EM TRANSFORMAÇÃO Um dos maiores desafios da administração moderna é o de gerenciar o vazio, aquilo que não existe, inovar. É um grande desafio porque, no mundo imediatista e de busca pelo resultado em curto prazo no qual vivemos, não é fácil abstrair-se da realidade que bate à porta, dos problemas do dia-a-dia, e perguntar-se: “e se...?”. Como uma forma de ajudar suas redes associadas nesse exercício, a Abrafarma desenvolveu um método estru- turado de pensar sobre práticas que ainda não existem em nosso país. Assim, realizamos anualmente pelo me- nos uma missão técnica internacional, que reúne no mínimo um representante de cada empresa, num exercício de “olhar junto” realidades distintas da brasileira. Viajamos para países como Canadá, Estados Unidos, Espanha, França e Inglaterra, para exercitar esse “olhar junto”, que se constitui num conjunto de conversas estruturadas, visitas a empresas, workshops e participação de especialistas que ajudam este dedicado grupo a fazer as per- guntas corretas e aprender métodos diferentes de fazer varejo. Foi assim, por exemplo, que o dermo-cosmético tornou-se realidade no Brasil. Após uma das nossas missões internacionais. Esse “olhar estruturado” da Abrafarma tem se voltado, nos últimos anos, para o repensar do varejo farmacêutico, que observamos principalmente nos EUA: estabelecimentos que, além de ampla oferta de medicamentos, produ- tos de higiene, beleza e conveniências, tem repensado o papel do profissional Farmacêutico para entregar mais valor à sociedade. Se antes parecia distante da realidade brasileira, a Farmácia nos EUA está se reinventando, e nos dando uma lição de como ir além! Para alcançarmos esse nível também no Brasil, precisamos repensar o papel do Farmacêutico, que deve ter fun- ção muito mais nobre do que entregar caixinhas de medicamentos ao usuário e esclarecer-lhes eventuais duvi- das. Esse profissional pode colocar suas competências a serviço de uma proximidade maior com o paciente, agre- gando mais valor à sociedade. Assim, nasceu o Projeto Assistência Farmacêutica Avançada, cuja primeira etapa de trabalho está sendo desenvolvida desde 2013. A iniciativa prevê a formatação inicial de oito novos serviços que podem ser prestados nas redes da Abrafarma, desde a imunização até clínicas de autocuidado. É, portanto, com o objetivo de contribuir com a evolução do papel do Farmacêutico, e com esta Farmácia em Transformação no Brasil, que a Abrafarma lança este conjunto de manuais que serão a pedra fundamental de um “novo olhar” nessa área. Este material, elaborado sob supervisão direta do Prof. Cassyano Correr, que juntou-se à Abrafarma para burilar esta visão, também contou com o apoio inestimável dos membros do GT FARMA, nosso grupo incansável de Coordenadores / Supervisores Farmacêuticos. A todos o meu melhor obrigado. Uma Farmácia em Transformação. É assim que nos enxergamos hoje. O vazio, nesse caso, já tem forma e pode ser preenchido, se assim o desejarmos. Temos um longo e belo trabalho pela frente. Sérgio Mena Barreto Presidente-Executivo da Abrafarma
  • 12. 12 Os serviços farmacêuticos prestados em farmácias e drogarias tem por objetivo promover saúde, prevenir doenças e auxiliar na recuperação da saúde, promovendo o uso racional dos medicamentos. Para que o máximo benefício com o tratamento seja alcançado, é necessário que todos os processos da farmacoterapia ocorram de forma ótima, desde a escolha terapêutica, a dispensação do medicamento, a utilização e adesão ao tratamento, até a observação dos resultados terapêuticos. As farmácias e drogarias, dada sua capilaridade e facilidade de acesso em todo país, são pontos estratégicos onde o farmacêutico pode prestar serviços que colaborem com a otimização da farmacoterapia, em estreita colaboração com os pacientes, médicos, e demais profissionais e serviços de saúde. Do ponto de vista legal, avanços recentes firmam a farmácia como um lugar de referência da população para saúde, bem-estar e prestação de serviços. No âmbito sanitário, destaca-se a Resolução no 44/09 da Anvisa, que há anos regulamenta a oferta de serviços de atenção farmacêutica nestes estabelecimentos, com objetivo de “prevenir, detectar e resolver problemas relacionados a medicamentos, promover o uso racional dos medicamentos, a fim de melhorar a saúde e qualidade de vida dos usuários”. Mais recentemente, a Lei no 13.021/14 definiu a farmácia como uma “unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva”. Esta lei, ainda, obriga o farmacêutico no exercício de suas atividades, a proceder o acompanhamento farmacoterapêutico, estabelecer protocolos de vigilância farmacológica de medica- mentos [farmacovigilância], estabelecer o perfil farmacoterapêutico dos pacientes e prestar orientação farmacêu- tica aos mesmos. No âmbito profissional, destacam-se as Resoluções no 585 e no 586, de 2013, do Conselho Federal de Farmácia, sobre as atribuições clínicas do farmacêutico e a prescrição farmacêutica, que reforçam o dever deste profissional no que diz respeito as atividades assistências e de cuidado direto dos pacientes. Esta coleção de Manuais tem por objetivo fornecer as diretrizes para a oferta e manutenção de uma carteira de serviços, bem como instrumentalizar os profissionais para um trabalho técnico de alto nível. Este manual está organizado em duas partes principais. A primeira traz uma revisão sobre as dislipidemias, que reúne as principais evidencias sobre o manejo da doença e do risco cardiovascular. A segunda parte apresenta o protocolo clínico do serviço, com objetivo de padronizar procedimentos e estruturar o atendimento realizado pelo farmacêutico e equipe da farmácia. Esperamos que você aprecie a leitura e que este material seja útil à sua prática profissional. Bom estudo! Os autores INTRODUÇÃO
  • 14. 14 PROGRAMA COLESTEROL EM DIA O que é o programa colesterol em dia? O programa “Colesterol em dia” representa um conjunto de serviços oferecidos pelo farmacêutico nas farmácias e drogarias, a pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de dislipidemias e doenças ateroscleróticas. O programa visa a orientação sanitária individual, a elaboração de um perfil farmacoterapêutico, a vigilância farma- cológica e o acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes. Esses serviços visam colaborar para detecção rápida, orientação e encaminhamento de pessoas com alterações dos níveis de lipídeos sanguíneos, para diagnóstico médico e tratamento apropriado. Além disso, o programa auxilia os pacientes a compreenderem melhor sua condição clínica e tratamento, estimulando o autocuidado apoiado e o alcance de resultados terapêuticos ótimos. Em um ambiente confortável e privado da farmácia, os pacientes são atendidos pelo farmacêutico, que realiza uma avaliação global dos fatores de risco cardiovasculares do paciente, e efetua testes rápidos para determina- ção dos níveis de lipídeos séricos (colesterol total, HDL-C, LDL-C e triglicerídeos). Os pacientes são então orien- tados de forma personalizada e recebem um relatório detalhado dos resultados desta avaliação, que pode ser compartilhado com o médico e outros profissionais de saúde. Após esta avaliação, pacientes podem aderir a um programa de acompanhamento, durante o qual é mantido um diário de acompanhamento, são feitas avaliações periódicas, e orientação continuada sobre adesão ao trata- mento, uso correto dos medicamentos e mudanças no estilo de vida. Estes encontros podem ser desde mensais até semestrais, dependendo da necessidade de cada paciente. Os atendimentos de retorno também podem coincidir com a aquisição mensal de medicamentos na farmácia.
  • 15. 15 Manual2.ColesterolemDia Quais são os benefícios para os pacientes? As doenças cardiovasculares (DCV) isquêmicas representam, ainda hoje, a principal causa de morte nos países de média e alta rendas (1). Apenas em 2012, foram registradas mais de 17 de milhões de mortes relacionadas à DCV em todo mundo (2). O colesterol elevado é considerado o principal fator de risco modificável da doença aterosclerótica e de suas manifestações clínicas, como acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e infarto agudo do miocárdio (IAM). Estudos epidemiológicos demonstraram relação log-linear entre os níveis de colesterol total e doença arterial coronariana. Esta é uma relação contínua, gradual, sem limites claros, abaixo dos quais o risco é anulado (3). Fonte: Stamler J, Wentworth D, Neaton JD. JAMA 1986; 256:2823. Ensaios clínicos de terapias de redução do colesterol demonstraram benefícios consistentes em curto prazo para pacientes com doença arterial coronariana (DAC) estabelecida e em longo prazo para aqueles com hipercoleste- rolemia (4–10). Serviços farmacêuticos clínicos podem contribuir significativamente para o controle dos níveis de lipídeos san- guíneos e para redução de desfechos cardiovasculares (11–14). Como exemplo, revisão sistemática publicada no periódico Pharmacotherapy em 2012, indicou que pacientes que receberam cuidado farmacêutico apre- sentaram níveis de colesterol total significativamente menores, e maiores chances de alcançar controle lipídico adequado, particularmente com redução nos níveis de LDL-C (12). Colesterol Plasmático 5 4 3 2 1 0 150 200 250 300 RazãodeRiscoCoroniano
  • 16. 16 PARTE REVISANDO A DOENÇA O que são as dislipidemias? As dislipidemias são distúrbios no metabolismo de lipoproteínas que resultam em uma ou mais das seguintes anormalidades: • Colesterol total elevado • Níveis séricos aumentados de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) • Níveis reduzidos de lipoproteína de alta densidade (HDL-C) • Níveis aumentados de triglicerídeos (TG) Como funciona o metabolismo lipídico? Para compreender melhor as dislipidemias, sua classificação, diagnóstico laboratorial e tratamento farmacológi- co, precisamos relembrar alguns conceitos relacionados ao metabolismo lipídico. No organismo, os lipídeos biologicamente mais relevantes são os fosfolipídios, o colesterol, os triglicerídeos (TG) e os ácidos graxos (AG). Os fosfolipídios formam a estrutura básica das membranas celulares. O colesterol atua na fluidez da membrana celular e como precursor de hormônios esteroidais, dos ácidos biliares e da vitamina D. Já os TGs constituem uma das mais importantes reservas energéticas do organismo (15). Os lipídeos são substâncias hidrofóbicas, e, por conseguinte, necessitam ser solubilizados para poderem ser transportados no organismo, pela corrente sanguínea. Essa função é desempenhada pelas lipoproteínas, que transportam essas substâncias pelos vários tecidos, para utilização energética, reserva, produção de hormônios e formação de ácidos biliares (15,16). Uma lipoproteína é composta por colesterol esterificado e não esterificado, triglicerídeos, fosfolipídios e prote- ínas. Os componentes proteicos das lipoproteínas são conhecidos como as apolipoproteínas (apo) ou apoproteí- nas. As diferentes apolipoproteínas servem como cofatores para as enzimas e diferentes ligantes (15,16). O metabolismo lipídico pode ser dividido em duas vias principais, exógena e endógena: Via exógena A via exógena se inicia com a absorção intestinal de colesterol e ácidos graxos vindos da alimentação (15,16). Os
  • 17. 17 Manual2.ColesterolemDia mecanismos que regulam a quantidade de colesterol que é absorvido são pouco conhecidos, mas sabe-se que fatores genéticos influenciam nesse processo (17). Na célula intestinal, os ácidos graxos absorvidos se combinam com o glicerol, para formar os triglicerídeos, e, em menor grau, o colesterol absorvido é esterificado para formar ésteres de colesterol. Triglicerídeos e colesterol são montados intracelularmente como quilomícrons, que também contêm apo B48, o componente aminoterminal da apo B100. Os quilomícrons são em seguida secretados pelas células intestinais para o interior do sistema linfático, de onde alcançam a circulação. Enquanto circulam, os quilomícrons sofrem lipólise, por ação de enzimas circulantes chamadas lipoproteínas lipases, com a liberação de AG livre e glicerol do core, e de colesterol não esterificado da superfície dessas partículas (15,16). Os ácidos graxos livres podem ser então utilizados como fonte de energia, convertidos em triglicerídeos ou ar- mazenados no tecido adiposo. Por fim, os produtos finais do metabolismo dos quilomícrons, “remanescentes de quilomícrons”, e também AG são capturados pelo fígado, onde serão utilizados para formação do VLDL (15,16). Via endógena • Lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) A via endógena do metabolismo lipídico se inicia com a síntese de lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) no fígado. Partículas deVLDL contêm um núcleo com maior proporção de triglicerídeos (60%) e menor de ésteres de colesterol (20%). Nesta etapa as proteínas de transferência de triglicerídeos microssomais (MTP) são muito importantes, pois realizam a transferência de lipídeos intracelulares (principalmente triglicerídeos), do retículo Gorduras da dieta VIA EXÓGENA VIA ENDÓGENA Quilomicrons Remanescentes de Quilomicrons Lipoproteína Lipase Lipoproteína Lipase Lipoproteína Lipase Ácidos Graxos Livres Ácidos Graxos Livres Ácidos Graxos Livres Colesterol Tecido Periférico Re- cep- tor LDL Sais Biliares Fígado LCAT HDL nascente CETP LDL LCAT - lecitina-colesterol-acil-transterase CETP - proteína transportadora de ésteres de colesterol HDL IDLVLDL
  • 18. 18 endoplasmático, para a apolipoproteína (apo) B 100 no fígado (18,19). As apolipoproteínas da superfície de VLDL incluem a apo C-II, que funciona como um cofator para a lipoproteína lipase, a apo C-III, que inibe esta enzima, e a apo B-100 e apo E, que atuam como ligantes para o receptor de apo- lipoproteína B/E (receptor de lipoproteína de baixa densidade [LDL]) (20). O núcleo de triglicerídeos das VLDL nascentes é hidrolisado pela lipoproteína lipase, liberando triglicerídeos, gerando partículas remanescentes de VLDL (também chamadas de lipoproteínas de densidade intermédia [IDL]), que também sofrerão ação de lipase, perdendo mais triglicerídeos e, assim, ficando proporcionalmente mais ricas em colesterol, formando a LDL (15,16). Assim, a diferença entre VLDL, IDL e LDL consiste na proporção trigli- cerídeos/colesterol contidos em seu núcleo, sendo as partículas VLDL mais ricas em triglicerídeos, enquanto as partículas LDL são mais ricas em colesterol. Lipoproteínas de baixa densidade (LDL) Partículas de LDL contêm um núcleo de ésteres de colesterol, menor quantidade de triglicerídeos, e são ricos em apolipoproteína B-100. As LDLs são capturadas por células hepáticas ou periféricas por meio dos receptores de LDL (LDL-R). Colesterol LDL hepático pode então ser convertido em ácidos biliares e secretado ao lúmen intes- tinal. O papel dos ácidos biliares será auxiliar na digestão das gorduras no intestino. Já o colesterol LDL, interna- lizado em tecidos não hepáticos, pode ser utilizado para a produção de hormônios, síntese da membrana celular ou armazenado sob a forma esterificada (15,16). A expressão dos LDL-Rs nos hepatócitos é a principal responsável pelo nível de colesterol no sangue e depende da atividade da enzi- ma hidroximetilglutaril (HMG) CoA redutase, enzima-chave para a síntese intracelular do colesterol hepático. Quando há queda do conteúdo intracelular do colesterol, ocorre aumento da expressão de LDL-R nos hepatócitos, e, assim, maior captura de LDL, IDL e VLDL circulantes por essas células, reduzindo seus níveis plasmá- ticos (15,16). “A inibição da HMG-CoA redutase é, portanto, da síntese intracelular do colesterol, é importante alvo terapêutico no tratamento da hipercolesterolemia” A importância do receptor de LDL na regulação do metabolismo do colesterol foi demonstrada em modelos ex- perimentais, como exemplo podemos citar a hipercolesterolemia familiar, uma importante condição de risco para doença cardiovascular, muitas vezes associada a um defeito genético no receptor de LDL (21). A relação entre LDL e aterosclerose ocorre porque a LDL modificada quimicamente (LDL oxidada) pode também penetrar em macrófagos e alguns outros tecidos através de receptores desregulados. Esta via pode resultar em acúmulo de colesterol intracelular e formação de células espumosas que contribuem para a formação de placas de ateroscleróticas (15,16). Falaremos do processo aterogênico com detalhes mais adiante.
  • 19. 19 Manual2.ColesterolemDia Lipoproteína de alta densidade (HDL) As partículas de HDL são formadas no fígado, no intestino e na circulação, e seu principal conteúdo proteico é representado pelas apos AI e AII. O colesterol livre da HDL, proveniente das membranas celulares de remanes- centes de quilomícrons e VLDL, é esterificado por ação de uma enzima chamada LCAT (lecitina-colesterol-acil- transferase). A apo AI, principal proteína da HDL, é cofator dessa enzima. A HDL transporta o colesterol até o fígado, onde este é captado pelos receptores SR-B1. O transporte do colesterol dos tecidos periféricos para o fígado é denominado transporte reverso do colesterol (15,16). As partículas HDL também têm outras ações que contribuem para a proteção do leito vascular contra a aterosclerose, como a remoção de lipídeos oxidados da LDL, inibição da fixação de moléculas de adesão e monócitos ao endotélio e a estimulação da liberação de óxido nítrico (15,16). O Quadro 1 traz um resumo das lipoproteínas e sua função. QUADRO 1. Principais lipoproteínas do organismo e suas funções LIPOPROTEÍNA FUNÇÃO São partículas muito grandes que transportam lipídios da dieta. Eles são associados com uma variedade de apolipoproteínas, incluindo AI, A-II, A-IV, B-48, CI, C-II, C-III e E. Quilomícrons Produzidas no fígado, transportam triglicerídeos endógenos e em menor grau colesterol. As principais apolipoproteínas associadas ao VLDL são B-100, CI, C-II, C-III e E. Lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) Transportam ésteres de colesterol e triglicerídeos. IDL estão associadas a apolipoproteínas B-100, C-III e E. Lipoproteínas de densidade intermédia (IDL) Transporta ésteres de colesterol e estão associadas com apolipoproteí- nas B-100 e C-III. Lipoproteínas de baixa densidade (LDL) Transportam ésteres de colesterol para o fígado e estão associadas a apolipoproteínas AI, A-II, CI, C-II, C-III, D e E. Lipoproteína de alta densidade (HDL) Imagens reproduzidas de Servier Medical Art (CC BY 3.0)
  • 20. 20 Como ocorre a aterosclerose? As alterações lipídicas desempenham um papel crítico no desenvolvimento de aterosclerose (22–29). Estudos epidemiológicos realizados em todo o mundo mostraram um aumento da incidência de aterosclerose, quando as concentrações de colesterol séricas foram superiores a 150 mg/dL (3,9 mmol / L) (30–33). Aaterosclerose é um processo patológico que causa a doença das artérias coronárias, cerebrais e periféricas, e con- siste no espessamento e perda da elasticidade das paredes de artérias de médio e grande calibre (34,35), resultando em complicações como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença arterial periférica (36). Sua patogênese é multifatorial, envolvendo causas relacionadas à disfunção endotelial, fatores inflamatórios e imunológicos, hipertensão, tabagismo, diabetes, dislipidemias, dentre outros. As dislipidemias constituem um dos principais componentes no desenvolvimento da aterosclerose, visto que o acúmulo de lipídeos nos vasos contribui para o início da formação dos ateromas (placas ateroscleróticas) (36). Estima-se que a dislipidemia es- teja presente em mais de 70% dos pacientes com doença cardíaca coronariana prematura (37). Estudos mostram que a LDL oxidada e a formação de células espumosas (macrófagos que fagocitaram partículas de LDL oxidadas) representam um dos principais fatores responsáveis pelo desencadeamento da lesão ateros- clerótica (36). Quando os lipídeos circulantes, principalmente a LDL, penetram no endotélio das artérias, a ação de produtos metabólicos, espécies reativas do oxigênio e enzimas produzidas pelas células vasculares, provo- cam modificações oxidativas nestas macromoléculas. Isso irá desencadear uma resposta inflamatória na íntima da artéria e produzir disfunção endotelial, agravando a placa de ateroma (38). A placa de ateroma chamada “ins- tável”, com conteúdo inflamatório altamente ativo, pode se romper e atrair agregação plaquetária, produzindo eventos trombóticos. Estes eventos podem ocorrer em artérias periféricas, bem como em órgãos específicos, como coração (síndrome coronariana aguda) e cérebro (acidente vascular cerebral). Imagem reproduzida de Servier Medical Art (CC BY 3.0)
  • 21. 21 Manual2.ColesterolemDia Quais as consequências da aterosclerose? As consequências clínicas em longo prazo do processo de aterosclerose são devastadoras. Síndromes coronaria- nas agudas (infartos e anginas), acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e doenças tromboembólicas periféri- cas são as principais manifestações da aterosclerose, e apresentam alta morbimortalidade, e alto impacto social e econômico (15). A aterosclerose é geralmente assintomática até a estenose, com placa de ateroma superior a 70% ou 80% do diâmetro luminal, que produz redução no fluxo sanguíneo. O processo aterosclerótico pode atingir diversas artérias, desde a carótida, coronárias, artéria renal, aorta, até artérias de membros inferiores. No coração, por exemplo, lesões estenóticas podem produzir desde sintomas típicos de angina pectoris , até eventos corona- rianos agudos. Cabe lembrar que síndromes coronárias e cerebrovasculares agudas (angina instável, infarto do miocárdio, morte súbita e acidente vascular cerebral) são tipicamente causadas por ruptura de placas com me- nos de 50% de estenose (39–41). Assim, não apenas o tamanho da placa e o grau de obstrução importam, mas sua predisposição em romper, influenciada diretamente pelo estado inflamatório do indivíduo. LDL LDL OXIDADO FORMAÇÃO DE PLACA DE ATEROMA NA ÍNTIMA PLACA FLEXÍVEL RUPTURA DA PLACA TROMBOSE SÍNDROME CORONARIANA AGUDA ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL DISFUNÇÃO ENDOTELIAL INFLAMAÇÃO
  • 22. 22 Sabendo que níveis elevados de colesterol representam o principal fator de risco modificável para o desenvolvi- mento de DAC, estratégias de tratamento que visem à redução desses níveis são fundamentais do ponto de vista de prevenção de doenças cardiovasculares (30–33). Quais são as diretrizes clínicas mais importantes sobre dislipidemias? Diretrizes são documentos oficiais que sintetizam as evidencias sobre uma determinada condição e servem de guia de prática para os profissionais de saúde. Existem inúmeras diretrizes para prevenção cardiovascular, diag- nóstico e tratamento das dislipidemias. Dentre elas, destacamos o Guideline Americano para o tratamento do colesterol e redução de risco cardiovascular, publicado nos Estados Unidos em dezembro de 2013, que atualizou e alterou algumas questões importantes na gestão das dislipidemias (42). Vasos que podem ser afetados pela aterosclerose Artérias cerebrais Formação da placa de ateroma Bifurcação da carótida Artéria carótida comum Coronárias Artéria renal Bifurcação da aorta Artérias femoral e poplitea
  • 23. 23 Manual2.ColesterolemDia No Brasil, duas importantes diretrizes foram também publicadas em 2013. A V Diretriz Brasileira de Dislipide- mias e Prevenção da Aterosclerose (15) e a I Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular (43). Estas norteiam a prática clínica de prevenção cardiovascular e terapias farmacológica e não farmacológica das dislipidemias. Nestas, participam inúmeros profissionais afeitos a essa área específica do conhecimento, representando a So- ciedades Brasileira de Cardiologia. Os documentos podem ser obtidos gratuitamente em www.cardiol.br Como as dislipidemias são diagnosticadas? As dislipidemias são diagnosticadas por avaliação laboratorial de alterações nos valores de lipídeos plasmáticos. São considerados anormais valores de colesterol total superiores a 200 mg/dl, LDL acima de 130 mg/dl, triglice- rídeos acima de 150 mg/dl e HDL inferior a 40 mg/dl (Tabela 1). O diagnóstico é realizado pelo médico, através da avaliação de exames padronizados, realizados em condições adequadas, em laboratório confiável. A partir do diagnóstico, medidas não farmacológicas devem ser instituídas, a fim de reduzir a carga lipêmica, e o tratamento farmacológico pode ser considerado. Testes rápidos de colesterol ou triglicerídeos, que podem ser feitos pelo farmacêutico na farmácia ou pelo próprio médico no consultório, não possuem valor diagnóstico, mas servem como testes de rastreamento de dislipidemias em pacientes não diagnos- ticados, e podem ser utilizados como parâmetros de monitoramento em pacientes já tratados para dislipidemias. TABELA 1. Valores referenciais do perfil lipídico para adultos maiores de 20 anos LIPÍDEOS VALORES (MG/DL) CATEGORIA CT < 200 Desejável 200-239 Limítrofe ≥ 240 Alto LDL-C < 100 Ótimo 100-129 Desejável 130-159 Limítrofe 160-189 Alto ≥ 190 Muito alto HDL-C > 60 Desejável < 40 Baixo TG <150 Desejável 150-200 Limítrofe 200-499 Alto ≥ 500 Muito alto Colesterol não-HDL < 130 Ótimo 130-159 Desejável 160-189 Alto ≥ 190 Muito alto
  • 24. 24 Como as dislipidemias podem ser classificadas? As dislipidemias podem ser primárias ou secundárias. As dislipidemias primárias ou sem causa aparente podem ser classificadas genotipicamente ou fenotipicamente por meio de análises bioquímicas. Na classificação genotí- pica, as dislipidemias se dividem em monogênicas, e poligênicas, causadas por associações de múltiplas mutações que isoladamente não seriam de grande repercussão (15,43). A classificação fenotípica ou bioquímica considera os valores de Colesterol total (CT), colesterol LDL (LDL-C), triglicerídeos (TG) e colesterol HDL (HDL-C) e compreende quatro tipos principais (Quadro 2) (15,43). QUADRO 2. Classificação das dislipidemias HIPERCOLESTEROLEMIA ISOLADA Elevação isolada do LDL-C (≥ 160 mg/dl); HIPERTRIGLICERIDEMIA ISOLADA Elevação isolada dos TGs (≥ 150 mg/dl) que reflete o aumento do número e/ ou do volume de partículas ricas em TG, como VLDL, IDL e quilomícrons. A estimativa do volume das lipoproteínas aterogênicas pelo LDL-C torna-se menos precisa à medida que aumentam os níveis plasmáticos de lipoproteínas ricas em TG. Portanto, nestas situações, o valor do colesterol não-HDL pode ser usado como indicador de diagnóstico e meta terapêutica; HIPERLIPIDEMIA MISTA Valores aumentados de LDL-C (≥ 160 mg/dl) e TG (≥ 150 mg/dl). Nesta situação, o colesterol não-HDL também poderá ser usado como indicador e meta terapêutica. Nos casos em que TGs ≥ 400 mg/dl, o cálculo do LDL-C pela fórmula de Friedewald é inadequado, devendo-se, então, considerar a hiperli- pidemia mista quando CT ≥ 200 mg/dl; HDL-C baixo Redução do HDL-C (homens < 40 mg/dl e mulheres < 50 mg/dl) isolada ou em associação a aumento de LDL-C ou de TG. Dislipidemias Secundárias Em muitos pacientes, a dislipidemia é causada por alguma etiologia subjacente “não-lipídica”, ao invés de um distúrbio primário do metabolismo lipídico. Dentre as principais se incluem: diabetes mellitus tipo 2, consumo excessivo de álcool, doenças hepáticas colestáticas, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, hipotireoidis- mo, tabagismo, obesidade e alguns tipos de medicamentos (44). Em uma coorte de 824 novos pacientes encaminhados a uma clínica de referência em dislipidemia, em um cen- tro médico acadêmico nos Estados Unidos, 28% apresentavam uma ou mais causas potenciais de dislipidemia secundária. As condições mais comuns foram o consumo excessivo de álcool (10%) e diabetes mellitus não controlada (8%) (45).
  • 25. 25 Manual2.ColesterolemDia Diabetes mellitus tipo 2 Dislipidemia em associação com a resistência à insulina é comum em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM) (46–48). A resistência à insulina e a hiperinsulinemia resultante estão associadas com hipertrigliceridemia e bai- xos níveis séricos de lipoproteína de alta densidade (HDL). A hipertrigliceridemia é resultado tanto do aumento da disponibilidade de substrato (glicose e ácidos graxos livres) como da redução da lipólise (47). Consumo excessivo de álcool Enquanto o consumo moderado de álcool geralmente tem efeitos favoráveis sobre os níveis lipídicos, o consumo excessivo de álcool pode aumentar os níveis de triglicerídeos. Isto é particularmente preocupante em pacientes com hipertrigliceridemia grave (TG >500 mg/dl) (49,50). Doenças hepáticas colestáticas Cirrose biliar primária e distúrbios semelhantes podem ser acompanhados por hipercolesterolemia marcante, resultado do acúmulo de lipoproteína-X, uma partícula com elevado teor de fosfolipídios (66% em peso) e co- lesterol não esterificado (22%), e baixo teor de proteína (6%), ésteres de colesterol (3%), e triglicerídeos (3%). Elevações acentuadas na lipoproteína X têm sido associadas com síndrome de hiperviscosidade, mas não foi es- tabelecida ligação clara com doença arterial coronariana (DAC) (51). Doenças hepáticas colestáticas Síndrome nefrótica Doença renal crônica Hipotireoidismo Tabagismo Obesidade Medicamentos Diabetes tipo 2 Consumo excessivo de álcool Dislipidemia Secundária TG TG CT CT CT CTCT CT e/ou TG TG HDL LDL LDL LDL TGLDL TG HDL HDL HDL
  • 26. 26 Síndrome nefrótica Na síndrome nefrótica pode ocorrer uma hiperlipidemia marcante, devido principalmente aos elevados níveis sé- ricos de colesterol total e lipoproteína de baixa densidade (LDL). O aumento da produção hepática de lipoprote- ínas (induzida em parte pela queda da pressão oncótica do plasma) é a principal anormalidade, mas a diminuição do catabolismo de lipídios desempenha também um papel importante. Doença renal crônica Dislipidemia secundária é menos proeminente em doença renal crônica (DRC), mas DRC pode estar associada a aumentos dos níveis de colesterol LDL e triglicerídeos, e baixos níveis de colesterol HDL. Hipertrigliceridemia ocorre em 30% a 50% das pessoas com DRC (44). Hipotireoidismo O hipotireoidismo é frequentemente associado e é considerado uma causa comum de aumento de lipídeos sé- ricos. A relação entre hipotireoidismo e dislipidemia foi demonstrada em estudo com 268 pacientes com hipo- tireoidismo primário. Hipercolesterolemia esteve presente em 56% destes pacientes, hipercolesterolemia e hi- pertrigliceridemia em 34%, e hipertrigliceridemia em 1,5%. Apenas 8,5% dos pacientes apresentavam um perfil lipídico normal (52). A importância das anormalidades lipídicas aumenta de uma forma gradual, com a gravidade do hipotireoidismo (53). Em uma pesqui- sa com 248 pacientes encaminhados a uma clínica de distúrbios lipídicos, 2,8% tinham hipotireoidismo e 4,4% tinham hipotireoi- dismo subclínico (54). “TSH (hormônio tireotrófico) sérico deve ser mensurado em todos os pacientes com dislipidemia” Dessa forma, o TSH (hormônio tireotrófico) sérico deve ser mensurado em todos os pacientes com dislipidemia. Reversão do hipotireoidismo com reposição de hormônio tireoidiano leva à correção da hiperlipidemia (44). Tabagismo Tabagismo diminui as concentrações séricas de colesterol HDL e pode induzir resistência à insulina (55–57). Na fase de triagem do estudo Bezafibrate Infarction Prevention, por exemplo, a média de concentração sérica de colesterol HDLfoi de 40 mg/dLem não-fumantes, 37 mg/dLem ex-fumantes e 35 mg/dLem fumantes atuais com consumo de dois maços ou mais por dia (55). Outra análise mostrou que o efeito do tabagismo foi mais proemi- nente se ajustado para a ingestão concomitante de álcool. Nestes doentes, o fumo foi associado com redução de 5 a 9 mg/dl do colesterol HDL (57). Estes efeitos são reversíveis dentro de um a dois meses após a cessação do tabagismo (58–60).
  • 27. 27 Manual2.ColesterolemDia Obesidade Aobesidade está associada a um número de alterações deletérias no metabolismo dos lipídeos, incluindo aumen- to nas concentrações séricas de colesterol total, LDL, VLDL, e triglicerídeos, e uma redução da concentração de HDL, de cerca de 5% (61). A perda de gordura corporal pode reverter a hipercolesterolemia e hipertrigliceride- mia parcialmente (62). Medicamentos Alguns medicamentos, incluindo diuréticos, betabloqueadores, antidiabéticos, estrógenos orais e mesmo hipo- lipemiantes podem causar alterações lipídicas indesejadas (63) (Quadro 3). Alguns dos agentes antipsicóticos atípicos, em particular, a clozapina e a olanzapina, têm sido associados com o ganho de peso, obesidade, hipertri- gliceridemia, e o desenvolvimento de diabetes mellitus (64–67). Os mecanismos pelo qual eles causam a síndro- me metabólica não foram definidos. Esquemas antirretrovirais utilizados para a infecção pelo HIV, em particular os inibidores da protease, têm sido associados com anormalidades no metabolismo da glicose e lipídios, muitas vezes como parte de uma síndrome de lipodistrofia (44). QUADRO 3. Medicamentos que podem alterar o perfil lipídico Medicamentos Efeitos adversos sobre o perfil lipídico Betabloqueadores não cardiosseletivos Aumento de TG Redução de HDL-C Bloqueadores seletivos Beta1 Aumento de TG (nenhum efeito ou observado em alguns estudos) Nebivolol Redução de HDL-C (nenhum efeito observado em alguns estudos) Hidroclorotiazida (≥ 25 mg/dia) Aumento de TG Aumento de CT Clortalidona Aumento de LDL-C Indapamida Aumento de LDL-C (nenhum efeito observado em alguns estudos) Pioglitazona Aumento de LDL-C Rosiglitazona Aumento de LDL-C Aumento de TG Orlistate Redução de HDL-C Sequestrantes de ácidos biliares (resinas) Aumento de TG Fibratos Aumento de LDL-C (em pacientes com hipertrigliceridemia) Ácidos Graxos Omega-3 Aumento de LDL-C (em pacientes com hipertrigliceridemia grave) Antipsicóticos atípicos (clozapina, olanzapina) Aumento de TG Inibidores da protease (antirretrovirais) Aumento de LDL-C Estrógenos orais (contraceptivos) Aumento de CT É procedimento padrão questionar o paciente sobre o uso destes medicamentos, sempre que resultados de perfil lipídico mostrarem-se alterados.
  • 28. 28 Perfil lipídico: o que significa e como interpretar? As medidas incluídas no perfil lipídico tradicional incluem: Colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos. Essas sub- frações de lipídios contribuem de forma diferente para as previsões de risco cardiovascular. Algumas dosagens adicionais estão disponíveis, incluindo subtipos de LDL e várias apolipoproteínas (apo) A-1 e B (15,68), mas são pouco utilizadas em rotina. Existem muitos estudos que examinam o poder de cada uma dessas lipoproteínas em predizer o risco de doença coronariana. De maneira geral, há um consenso de que colesterol não-HDL, ou o colesterol total e o HDL-C são melhores preditores de risco de doença coronariana do que LDL-C sozinho (69,70). Colesterol total (CT) A avaliação do CT com a finalidade de mensurar o risco CV é recomendada pelos programas de rastreamento populacional, todavia este método pode fornecer dados enganosos em algumas situações. Isto ocorre especial- mente em mulheres que frequentemente apresentam níveis mais elevados de HDL-C (o que impacta em aumento do CT) e indivíduos com diabetes ou síndrome metabólica, que muitasvezes evoluem com níveis baixos de HDL-C (o que impacta em redução do CT). Para avaliação adequada do risco CV são indispensáveis as análises do HDL-C e do LDL-C (15,68). Colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) O LDL-C é calculado pela fórmula de Friedewald: LDL-C = CT – (HDL-C + TG/5); onde TG/5 representa o coleste- rol ligado à VLDL ou VLDL-C (15). O resultado calculado do LDL-C deve considerar alguns pressupostos: 1. 2. 3. Erros metodológicos podem se acumular, pois a fórmula exige três análises separadas, ou seja, CT, TG e HDL-C; Proporção constante presumida de colesterol e triglicérides nas partículas de VLDL. Com valores de TG > 400 mg/dl a fórmula não pode ser utilizada; O uso da fórmula de Friedewald não é indicado quando o sangue é obtido sem jejum. Nestas condições, o colesterol não-HDL pode ser determinado em substituição. Apesardessaslimitações,oLDL-CcalculadopelafórmuladeFriedewaldéaindaamplamenteutilizadonapráticaclínica.
  • 29. 29 Manual2.ColesterolemDia Colesterol não-HDL A fração colesterol não-HDL é utilizada para estimar o número total de partículas aterogênicas no plasma (VLDL + IDL + LDL) e refere-se também aos níveis de apo B. O colesterol não-HDL é calculado facilmente subtraindo-se o HDL-C do CT (não-HDL-C = CT - HDL-C) (15,68). O colesterol não-HDL pode fornecer melhor estimativa do risco em comparação com o LDL-C, principalmente nos casos de hipertrigliceridemia associada ao diabetes, à síndrome metabólica ou à doença renal. Colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL) O HDL, em contraste com as LDL e VLDL, tem propriedades características antiaterogênicas, promove efluxo do colesterol dos macrófagos, antioxidação, proteção contra a trombose, manutenção da função endotelial e manu- tenção de uma baixa viscosidade do sangue. O efeito final é uma relação inversa entre os níveis plasmáticos de HDL-C e o risco cardiovascular (71–76). Triglicerídeos (TG) Vários estudos usando apenas abordagens univariadas sugeriram que os triglicerídeos são preditores de risco de doença coronariana. No entanto, eles parecem ter poder preditivo relativamente pequeno. Níveis elevados de TG se associam frequentemente a baixos níveis de HDL-C e a altos níveis de partículas de LDL pequenas e densas (77). Interpretação do perfil lipídico Colesterol não-HDL mg/dl 130 160 190 Ótimo Desejável Alto Muito alto Triglicerídeos mg/dl 500200150 Desejável Limítrofe Alto Muito alto Colesterol LDL mg/dl 100 130 160 190 Ótimo Desejável Limítrofe Alto Muito alto Colesterol HDL mg/dl 6040 Baixo Aceitável Desejável Colesterol Total mg/dl Desejável 200 240 Limítrofe Alto
  • 30. 30 Como estimar o risco cardiovascular do paciente com dislipidemia? A primeira etapa para definição do tratamento, e das metas terapêuticas a serem alcançadas em pacientes disli- pidêmicos, é a estratificação do risco cardiovascular do paciente. Esta deve ser realizada por meio da utilização de um escore de avaliação de risco (ER), que tem como base o nível médio da pressão arterial, a presença ou não de fatores de risco associados, a potenciação causada por sinergismos entre alguns desses fatores e a presença ou ausência de lesões de órgãos-alvo e doenças cardiovasculares ou renais prévias. Esta estimativa é complexa e existem diferentes escores de risco (ER) disponíveis na literatura (15,78). Em comparação ao estadiamento de risco feito em pacientes com hipertensão, este escore é diferente, mais completo, e permite um cálculo mais acurado do risco CV em 10 anos. Com base na V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (15,43), adotaremos o ER Glo- bal para avaliação do risco em 10 anos e o ER pelo Tempo de Vida como opção para os indivíduos acima de 45 anos considerados de baixo risco ou risco intermediário. Como fazer? Seguimos três etapas para a estimativa do risco cardiovascular do paciente: Etapa 1: Presença de doenças ateroscleróticas Primeiro, verifique a presença de manifestações clínicas da doença aterosclerótica ou de seus equivalentes, lis- tadas no Quadro 4. O paciente que se enquadrar em uma dessas categorias não requer outras etapas para es- Reclassificação do risco através da presença de FATORES AGRAVANTES, quando houver. Utilização de ESCORES DE PREDIÇÃO DO RISCO para cálculo do percentual de risco e estadiamento. Determinação da presença de DOENÇA ARTEROSCLERÓTICA significativa ou de seus equivalentes. 1 2 3
  • 31. 31 Manual2.ColesterolemDia QUADRO 4. Critérios de identificação de pacientes com alto risco de eventos coronarianos Presença de doença aterosclerótica arterial coronária, cerebrovascular ou obstrutiva periférica, com manifestações clínicas (eventos CV). Isto é, história prévia de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, angina de peito, ou doença vascular periférica . Aterosclerose na forma subclínica, significativa, documentada por metodologia diagnóstica. Isto é, pacientes que passa- ram por “cateterismo”, tendo sido evidenciada aterosclerose em artérias do coração ou outras. Procedimentos de revascularização arterial. Pacientes que passaram por procedimentos de angioplastia, colocação de stent, pontes de safena, pontes mamárias, entre outros. Diabetes mellitus tipos 1 ou 2 Doença renal crônica. Pacientes com doença renal crônica diagnosticada por elevação de creatinina sérica e redução da taxa de filtração glomerular. Hipercolesterolemia Familiar (HF). Pacientes com diagnóstico de hipercolesterolemia de origem genética. Geralmente com grandes elevações no LDL-C. Etapa 2: Aplique o sistema de pontos para cálculo do escore de risco global O ER Global estima o risco de infarto do miocárdio, AVE, insuficiência vascular periférica ou insuficiência cardí- aca em 10 anos. O cálculo é feito para todos os pacientes que não se enquadraram como alto risco na etapa 1, por meio da atri- buição de pontuações, conforme os resultados do paciente para idade, HDL-C, CT, pressão arterial sistólica, e à presença de tabagismo e diabetes. A partir do somatório de pontos existe a conversão para a % de risco global, conforme tabela de interpretação de pontos. O sistema de pontuação e a interpretação do risco é diferente para mulheres e homens (Tabela 2). Homens e mulheres com risco <5% são considerados baixo risco. Risco intermediário é atribuído a mulheres com risco de 5% a 10% e a homens com risco de 5% a 20%. Mulheres com risco >10% e homens >20% são considera- dos alto risco para eventos cardiovasculares em 10 anos. 2 Adoença vascular periférica (DVP), responsável pela insuficiência arterial, pode ser considerada como um sinal de doença aterosclerótica geral. Sintomas incluem dor em repouso, dor ao caminhar (claudicação), pés frios, úlceras, palidez à elevação, dor noturna. Requer diagnóstico médico. tratificação de risco, sendo considerado automaticamente de ALTO RISCO, ou seja, com risco superior a 20% de apresentar novos eventos cardiovasculares em 10 anos. Nestes casos, veja as metas terapêuticas de perfil lipídico indicadas para esta faixa de risco.
  • 32. 32 Tabela 2. Sistema de pontuação para cálculo do escore de risco global Atribuição de pontos de acordo com o risco cardiovascular global para mulheres Pontos Idade (anos) HDL-C CT PAS (não tratada) PAS (tratada) Fumo Diabetes -3 <120 -2 60+ -1 50-59 <120 0 30-34 45-49 <160 120-129 Não Não 1 35-44 160-199 130-139 2 35-39 <35 140-149 120-139 3 200-239 130-139 Sim 4 40-44 240-279 150-159 Sim 5 45-49 280+ 160+ 140-149 6 150-159 7 50-54 160+ 8 55-59 9 60-64 10 65-69 11 70-74 12 75+ Pontos Total Risco cardiovascular global em 10 anos: para mulheres Pontos Risco (%) Pontos Risco (%) < -1 <1 10 6,3 -1 1 11 7,3 0 1,2 12 8,6 1 1,5 13 10,0 2 1,7 14 11,7 3 2,0 15 13,7 4 2,4 16 15,9 5 2,8 17 18,5 6 3,3 18 21,6 7 3,9 19 24,8 8 4,5 20 28,5 9 5,3 21+ >30 Interpretação do Risco (%) em 10 anos (Mulheres): RISCO BAIXO: < 5% RISCO INTERMEDIÁRIO: 5 a 10% RISCO ALTO: >10 %
  • 33. 33 Manual2.ColesterolemDia Atribuição de pontos de acordo com o risco cardiovascular global para homens Pontos Idade (anos) HDL-C CT PAS (não tratada) PAS (tratada) Fumo Diabetes -2 60+ <120 -1 50-59 0 30-34 45-49 <160 120-129 <120 Não Não 1 35-44 160-199 130-139 2 35-39 <35 200-239 140-159 120-139 3 240-279 160+ 130-139 Sim 4 280+ 140-159 Sim 5 40-44 160+ 6 45-49 7 8 50-54 9 10 55-59 11 60-64 12 65-69 13 14 70-74 15+ 75+ Pontos Total Risco cardiovascular global em 10 anos: para homens Pontos Risco (%) Pontos Risco (%) -3 ou menos <1 8 6,7 -2 1,1 9 7,9 -1 1,4 10 9,4 0 1,6 11 11,2 1 1,9 12 13,2 2 2,3 13 15,6 3 2,8 14 18,4 4 3,3 15 21,6 5 3,9 16 25,3 6 4,7 17 29,4 7 5,6 18+ >30 Interpretação do Risco (%) em 10 anos (Homens): RISCO BAIXO: < 5% RISCO INTERMEDIÁRIO: 5 a 20% RISCO ALTO: >20 %
  • 34. 34 Etapa 3: Considere os fatores agravantes do risco Pacientes classificadas como RISCO INTERMEDIÁRIO na etapa anterior, devem ser reclassificados para a condi- ção de ALTO RISCO na presença de fatores agravantes (Quadro 5). Especificamente para avaliação da presença de síndrome metabólica, considere os critérios da Tabela 3. História familiar de doença arterial coronariana prematura (parente de primeiro grau masculino <55 anos ou feminino <65 anos) Critérios positivos para síndrome metabólica Microalbuminúria (30-300 µg/min) ou macroalbuminúria (> 300 µg/min) Hipertrofia ventricular esquerda Proteína C reativa de alta sensibilidade >2 mg/l Espessura íntima-média de carótidas >1,0 Escore de cálcio coronário >100 ou >percentil 75 para idade ou sexo Índice tornozelo-braquial (ITB) <0,9 QUADRO 5. Fatores agravantes de risco TABELA 3. Critérios para síndrome metabólica: considera-se SM a presença de três ou mais critérios Critérios Definições Obesidade abdominal HOMENS Brancos de origem europeia ou negros ≥ 94 cm Sul-asiáticos, ameríndios ou chineses ≥ 90 cm Japoneses ≥ 85 cm MULHERES Brancas de origem europeia, negras, sul-asiáticas, amerín- dias ou chinesas ≥ 80 cm Japonesas ≥ 90 cm HDL-colesterol Homens < 40 mg/dl Mulheres < 50 mg/dl Pressão arterial Sistólica ≥130 mmHg ou tratamento para hipertensão arterial Diastólica ≥85 mmHg ou tratamento para hipertensão arterial Triglicérides ≥ 150 mg/dl Glicemia Jejum ≥ 100 mg/dl
  • 35. 35 Manual2.ColesterolemDia ER pelo tempo de vida: Uma alternativa complementar O escore de risco global estima o risco cardiovascular em 10 anos. Esta predição pode subestimar o risco em pa- cientes com longa expectativa de vida, que poderiam se beneficiar, em longo prazo, de intervenções mais precoces. Por isso, em pacientes a partir dos 45 anos, com RG baixo ou intermediário em 10 anos, pode-se utilizar o escore de risco pelo tempo de vida. A estimativa do risco de doença cardiovascular pelo tempo de vida permite estrati- ficar de forma mais abrangente a carga de doença cardiovascular, no momento e no futuro, pois leva em conta o risco de doença cardiovascular enquanto o indivíduo envelhece. Para calcular este escore, primeiro considere os seguintes fatores de risco: colesterol total, PAS, PAD, tabagismo e diabetes. Conforme os resultados para cada um desses fatores, cada um deles será classificado em ótimo, não- -ótimo, elevado ou principal (Tabela 4). TABELA 4. Classificação dos fatores de risco de acordo com o controle e/ou importância do(s) mesmo(s) Fator de risco (FR) Ótimos Não ótimos Elevados Principais Colesterol Total <180 mg/dl 180-199 mg/dl 200-239 mg/dl > 240 mg/l Pressão arterial sistólica (PAS) Não tratada <120 mmHg Não tratada 120-139 mmHg Não tratada 140-159 mmHg Tratamento para HAS ou PAS não-tratada ≥ 160 mmHg Pressão arterial diastólica (PAD) Não tratada <80 mmHg Não tratada 80-89 mmHg Não tratada 90-99 mmHg Tratamento para HAS ou PAD não-tratada ≥ 100 mmHg Fumo Não Não Não Sim Diabetes Não Não Não Sim Conforme o resultado desta avaliação observe nas tabelas de risco (diferentes para homens e mulheres) a por- centagem de risco ao longo da vida do seu paciente, para diferentes desfechos (Tabela 5 e Tabela 6). Existem ferramentas online que permitem calcular o ER Global de forma simples e rápida. Recomendamos aquela desenvolvida pelo Médico de Família, Dr. Daniel Pinto, de Portugal, disponível no site http://danielpinto.net/ferramentas/risco_cv/
  • 36. 36 TABELA 5. Risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais pelo ER pelo Tempo de Vida em ho- mens, de acordo com a exposição aos fatores de risco ao longo da vida. TABELA 6. Risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais pelo ER pelo Tempo de Vida em mu- lheres, de acordo com a exposição aos fatores de risco ao longo da vida. Situação de acordo com os fatores de risco Risco Todos FR ótimos ≥1 FR não ótimo ≥ 2 FRs elevados Um FR principal ≥2 FR principais Risco % (IC 95%) a partir dos 45 anos DAC fatal ou IAM não fatal 1,7 (0-4,3) 27,5 (15,7-39,3) 32,7 (24,5-41,0) 34,0 (30,4-37,6) 42,0 (37,6-46,5) AVE fatal ou não fatal 6,7 (1,4-11,9) 7,7 (5,0-10,4) 8,5 (6,9-15,6) 8,4 (7,5-9,4) 10,3 (9,0-11,7) Morte cardiovascular 9,1 (0-18,6) 13,1 (9,9-16,3) 15,3 (13,3-17,3) 20,7 (19,4-22,2) 32,5 (30,5-34,5) Eventos CV Ateroscleróticos 1,4 (0-3,4) 31,2 (17,6-44,7) 35,0 (26,8-43,2) 39,6 (35,7-43,6) 49,5 (45,0-3,9) Situação de acordo com os fatores de risco Risco Todos FR ótimos ≥1 FR não ótimo ≥ 2 FRs elevados Um FR principal ≥2 FR principais Risco % (IC 95%) a partir dos 45 anos DAC fatal ou IAM não fatal 1,6 (0-4,3) 9,3 (3-15,6) 9,3 (5-1370) 12,7 (10,3-15) 21,5 (17,5-25,5) AVE fatal ou não fatal 8,3 (3,8-12,8) 8,9 (6,5-11,3) 9,1 (7,5-10,9) 9,1 (7,9-15,9) 11,5 (9,5-13,5) Morte cardiovascular 4,8 (0,8-8,7) 4,9 (3,1-6,7) 6,9 (5,4-8,3) 11,2 (9,9-12,5) 21,9 (19,4-4,5) Eventos CV ateroscleróticos 4,1 (0-8,2) 12,2 (4,6-19,7) 15,6 (10,3-20,9) 20,2 (17,2-23,2) 30,7 (26,3-35,0) O risco de eventos ateroscleróticos estimado pelo ER pelo Tempo de Vida> 39% em homens ou> 20,2% em mulheres caracteriza condição de alto risco pelo tempo de vida.
  • 37. 37 Manual2.ColesterolemDia Quais são as metas terapêuticas nas dislipidemias? O principal objetivo do tratamento hipolipemiante é a redução do risco de doenças cardiovasculares. Para tal, metas terapêuticas primárias e secundárias, direcionadas ao LDL-C e ao colesterol não-HDL, devem ser defini- das com base na estratificação do risco cardiovascular do paciente (15,43) (Tabela 7). ERG < 5% em homens e mulheres ERG ≥ 5% e ≤ 10% nas mulheres e ≥ 5% e ≤ 20% nos homens ERG ≥ 5% e ≤ 10% nas mulheres e ≥ 5% e ≤ 20% nos homens e pelo menos Longa expectativa de vida (> 45 anos) ER tempo de vida BAIXO RISCO BAIXO INTERMEDIÁRIO ALTO RISCO ALTO RISCO Condição de alto risco (Etapa 1) ouou ou ERG > 10% nas mulheres e 20% nos homens ERG < 5% em homens e mulheres e HF + de DAC prematura ERTV > 39% em homens e > 20,2% em mulheres Reclassificação
  • 38. 38 TABELA 7. Metas terapêuticas com base no risco cardiovascular Nível de risco Meta primária: LDL-C (mg/dl) Meta secundária (mg/dl) ALTO LDL-C < 70 Colesterol não-HDL < 100 INTERMEDIÁRIO LDL-C < 100 Colesterol não-HDL< 130 BAIXO Meta individualizada Meta individualizada Não são propostas metas terapêuticas específicas para o HDL-C, embora se reconheça seu valor como fator de risco CV. Assim, para CT buscam-se resultados <200 mg/dL, e para HDL-C, no mínimo acima de 40 mg/dL. Com relação aosTG, a meta é alcançarvalores < 150 mg/dl. AVDiretriz considera que pacientes com valores > 500 mg/dl devem receber terapia específica (por exemplo, fibratos), a fim de reduzir o risco de pancreatite.Aqueles com valores entre 150 e 499 mg/dl devem receberterapia individualizada, com base no risco CVe condições associadas. Em 2013 as novas diretrizes Americanas aboliram a meta específica para o LDL-C, recomendando uma redução de 50% ou mais no LDL em pacientes de alto risco, 30 a 50% nos pacientes de médio risco e até 30% nos pacientes de baixo risco. Isso em relação ao basal do paciente. Como as dislipidemias são tratadas? Tratamento não-farmacológico É razoável recomendar que todos os pacientes com níveis elevados de LDL-C sejam orientados quanto a modifi- cações de estilo de vida. Isso inclui a redução de peso em pacientes com excesso de peso, a prática de exercícios aeróbicos, dieta saudável, com redução da ingestão de ácidos graxos saturados e trans, e possível ingestão de fitosteróis (2-3 g/dia) (15,43). A seguir alguns dados que estão baseados por evidências: O The United Kingdom Lipid Clinics Programme, com 2.508 indivíduos, demonstrou que, apenas com mudanças dietéticas, 60% dos indivíduos apresentaram redução mé- dia de peso corporal de 1,8%, o que foi associado com a redução de 5 a 7% no LDL-C sérico (79). • Em pacientes que se alimentam mal, mudança dietética pode reduzir o LDL-C em até 30% (80). • Os benefícios da redução de LDL-C com o tratamento não medicamentoso podem ser evidenciados dentro de 6 a 12 meses (81,82). • A redução da ingestão de ácidos graxos saturados e trans, e a ingestão de fitoes- teroides (2-3 g/dia), apresentam importante impacto na redução de LDL-C (43). • Na hipertrigliceridemia, medidas como a redução de peso, da ingesta de bebidas alcoólicas, de açúcares simples e do consumo global de carboidratos, têm grande impacto (43).
  • 39. 39 Manual2.ColesterolemDia Apesar dos benefícios na redução do LDL-C, as evidências de que mudanças de hábitos de vida melhoram desfe- chos cardiovasculares ainda não são suficientemente robustas. No estudo Multiple Risk Factor Intervention Trial (MRFIT), conduzido em 12.866 homens de alto risco, a intervenção com aconselhamento dietético para redução dos níveis de colesterol não reduziu significativamente a mortalidade por DCV ou a mortalidade por todas as causas (83). Contudo, considerando os benefícios em níveis globais, e seu baixo risco associado, a V Diretriz Brasileira de Dislipidemia define que todos os pacientes diagnosticados com a condição, devem receber orientações quanto a mudanças nos seus hábitos de vida (43)(Quadro 6). QUADRO 6. Recomendações dietéticas para a redução da hipercolesterolemia PREFERIR CONSUMIR MODERADAMENTE OCASIONALMENTE EM PEQUENA QUANTIDADE Cereais Grãos integrais Pão refinado, arroz e massas, biscoitos, cereais açucarados Pães doces, bolos, tortas, croissants Vegetais Vegetais crus e cozidos Vegetais preparados na manteiga ou creme Legumes Todos, incluindo soja e proteína de soja Frutas Frutas frescas ou congeladas Frutas secas, geleia, compotas, sorvetes Doces e adoçantes Adoçantes não calóricos Mel, chocolates, doces Bolos e sorvetes Carnes e peixes Peixe magro e oleoso, frango sem a pele Cortes de carne bovina magra, carne de porco, frutos do mar Salsichas, salames, toucinho, costelas, vísceras Alimentos lácteos e ovos Leite e iogurte desnatados, clara de ovos Leite semidesnatado, queijos brancos e derivados magros Queijos amarelos e cremosos, gema de ovo, leite e iogurte integrais Molhos para temperar e cozinhar Vinagre, ketchup, mostarda, molhos sem gordura Óleos vegetais, margarinas leves, molhos de salada, maionese Manteiga, margarinas sólidas, gordura de porco e trans, óleo de coco Nozes e sementes Todas Coco Preparo dos alimentos Grelhados, cozidos e no vapor Assados e refogados Fritos
  • 40. 40 Tratamento Farmacológico O tratamento farmacológico visa reduzir o risco cardiovascular, por meio da redução nos níveis de lipídeos plas- máticos. Os medicamentos atualmente disponíveis para o tratamento das dislipidemias são: as estatinas (inibi- dores da HMG-CoA redutase), a ezetimiba, as resinas ou sequestradores dos ácidos biliares, a niacina, os fibratos e os ácidos graxos ômega-3. Os mecanismos pelos quais os hipolipemiantes agem incluem a redução da absorção de gorduras e colesterol da dieta (resinas e ezetimiba), a redução da produção hepática de colesterol e o consequente aumento da captação de LDL pelo fígado (estatinas, fibratos), a redução da produção de VLDL e aumento da ação da lipoproteína lipase (fibratos). Ações farmacológicas dos hipolipemiantes Baseado em: Rang & Dale. Farmacologia. 7a Edição. Editora Elsevier.
  • 41. 41 Manual2.ColesterolemDia Quais são os tratamentos de primeira linha? Como elas agem? As estatinas atuam inibindo a hidroximetilglutaril coenzima A (HMG CoA) redutase. Essa enzima limita a veloci- dade da síntese do colesterol (reduz a produção de ácido mevalônico da HMG-CoA redutase). Isso resulta em um aumento compensatório na expressão de receptores de LDLnas membranas de hepatócito e uma estimulação do catabolismo e da captação do LDL da corrente sanguínea. Isso leva a uma melhora do perfil lipídico, com impacto no LDL, TG e HDL, com consequente redução do processo aterosclerótico. Entre os mecanismos não lipídicos que podem estar envolvidos destaca-se a estabilização da placa ateroscleró- tica, redução da inflamação, reversão da disfunção endotelial e diminuição da trombogenicidade (84,85). ESTATINAS Aplicações Considerando a grande literatura que indica benefícios quanto à redução da mortalidade por DCV com a classe, as estatinas representam a primeira escolha medicamentosa para prevenção primária (pacientes que nunca ti- veram eventos cardiovasculares) e secundária (pacientes que já sofreram eventos) de eventos cardiovasculares ESTATINAS Melhora da função endotelial Modulação da inflamação Estabilização da placa de ateroma Prevenção da formação de trombo Diminuição da aterosclerose Redução do LDL, TG e aumento do HDL
  • 42. 42 em pacientes com dislipidemia. Estudos indicam redução da mortalidade por DAC em 20% e da mortalidade por todas as causas em 10%, para cada 40 mg/dl de redução do LDL-C com a classe (86–88). A redução de LDL-C obtida varia muito entre as estatinas, sendo essa diferença funda- mentalmente relacionada à intensidade da terapia inicial (Tabela 8). Entretanto, pos- teriormente, a cada vez que a dose de qualquer estatina é dobrada, a redução média adicional do LDL-C proporcionada será de 6% a 7% (15,43). Os mecanismos pelos quais as estatinas promovem a redução no risco de doenças vasculares não são comple- tamente explicados pela redução na concentração de LDL após o tratamento (89–93). Embora as estatinas pro- vavelmente promovam a regressão da aterosclerose, uma melhoria de resultados pode ser demonstrada já em seis meses (81,94), período considerado demasiadamente precoce para a regressão significativa da placa. Além disso, a quantidade de regressão da lesão é pequena quando comparada com a magnitude do benefício clínico observado. Um estudo caso-controle, em adultos com uma primeira apresentação clínica de doença arterial coronariana, evidenciou que o uso de estatinas foi associado a uma redução importante da probabilidade da apresentação de um infarto agudo do miocárdio (Odds Ratio = 0,45), sugerindo um possível mecanismo benéfico das estatinas, que pode envolver lesões coronarianas instáveis (95). Dessa forma, qualquer paciente com doença vascular aterosclerótica evidenciada por evento clínico ou parâ- metros diagnósticos, tais como doença arterial coronariana, aterosclerose de carótida, devem ser tratados com estatinas, independente dos valores lipídicos basais. Paralelamente, estudos observacionais indicam que as estatinas podem ter efeitos além da função cardiovascu- lar, como a redução do risco de demência, preservação da função renal em pacientes com disfunção renal leve a moderada, redução da mortalidade por sepse, redução do risco de tromboembolismo venoso e benefícios na esclerose múltipla (96). TABELA 8. Intensidade da terapia com estatinas* Terapia de alta intensidade Terapia de moderada intensidade Terapia de baixa intensidade Dose diária reduz o LDL em aproximadamente ≥ 50% Dose diária reduz o LDL em aproximadamente 30 a < 50% Dose diária reduz o LDL em aproximadamente < 30% Rosuvastatina 20-40 mg Atorvastatina 40-80 mg Atorvastatina 10 (20) mg, Rosuvastatina (5) 10 mg, Sinvastatina 20–40 mg**, Pravastatina 40 (80) mg, Lovastatina 40 mg, Fluvastatina XL 80 mg, Fluvastatina 40 mg, bid Pitavastatina 2–4 mg Sinvastatina 10 mg Pravastatina 10–20 mg Lovastatina 20 mg Fluvastatina 20–40 mg Pitavastatina 1 mg
  • 43. 43 Manual2.ColesterolemDia Fluvastatina Pravastatina Sinvastatina Atorvastatina Rosuvastatina Pitavastatina Lipossolubilidade Baixa Baixa Alta Alta Baixa Moderada Biodisponibilidade por via oral 20% 17% <5% 10% 20% 60-80% Eliminação principal Fezes Fezes, 20% renal Fezes, 13% renal Biliar Biliar, 10% renal Fezes 79% 15% Urina Tempo 1/2 vida 1-2h 1-2h 3h 14h 20h 11-13h Via metabólica hepática principal CYP 2C9 Sulfação/ Outro CYP 3A4 CYP 3A4 CYP 2C9 CYP 2C8 CYP 2C9 Elevação do HDL-C 1% 2-12% 8-16% 5-13% 8-14% 8-12% Redução média do LDL-C, por faixa de dose (%) *Tabela adaptada do documento “2013 ACC/AHA Guideline on the Treatment of Blood Cholesterol to Reduce Atheroscle- rotic Cardiovascular Risk in Adults”. **Embora sinvastatina 80 mg tenha sido avaliada em ensaios clínicos randomizados, inicio de terapia com sinvastatina 80 mg ou titulação até esta dose não é recomendado pela FDA, devido ao risco aumentado de miopatia, incluindo rabdomiólise. Perfil farmacocinético e eficácia das principais estatinas disponíveis no Brasil Reações Adversas Efeitos adversos associados às estatinas são pouco frequentes. Mialgia (dor muscular), com ou sem elevação da Creatinofosfoquinase (CPK) , ocorre em cerca de 10% dos pacientes, podendo surgir semanas ou anos após o iní- cio do tratamento. Alterações de CPK são observadas em cerca de 3% dos pacientes, e rabdomiólise é extrema- mente rara (87,88). Do ponto de vista clínico, a mialgia por estatinas é usualmente proximal e simétrica, podendo evoluir com prejuízo funcional ao grupamento muscular afetado, devido à dor. Câimbras, principalmente à noite, podem estar associadas. Todas as estatinas são capazes de causar miotoxicidade, em graus variados. Apesar de todas as estatinas com- partilharem os mesmos tecidos e sítios de ação, a forma como cada fármaco se distribui e alcança estes tecidos pode variar, dependendo se o fármaco é mais hidrossolúvel ou lipossolúvel. Estas diferenças podem ter implica- 20 40 80 10 20 40 80 10 20 40 80 10 20 40 80 5 10 20 40 1 2 4 0 -15 -30 -45 -60
  • 44. 44 ções para a ação destes medicamentos sobre a biossíntese de colesterol nos músculos, levando a variações nos efeitos adversos entre as diferentes estatinas. Por exemplo, a Pravastatina e a Fluvastatina são mais hidrofílicas e dependem de ligação a proteínas específicas a fim de penetrar a membrana celular. Estatinas mais lipossolúveis, como a Sinvastatina, Atorvastatina e Lovastatina, por outro lado, são capazes de penetrar a membrana celular com mais facilidade. Assim, a passagem para o interior da célula muscular pode aumentar de acordo com a lipos- solubilidade e, assim, aumenta também a miotoxicidade (97). Considerando a necessidade e os benefícios da terapia, aumentos de até 5x o limite su- perior da normalidade de CPK são considerados aceitáveis. A suspensão do tratamen- to só deve ser considerada em aumentos superiores (5 a 10 vezes o limite superior), ou na persistência dos sintomas musculares. Nestas situações, doses menores ou troca de estatina pode ser considerada. Uma possível consequência grave da miotoxicidade das estatinas é a rabdomiólise. A rabdomiólise é definida como uma síndrome clínico-laboratorial que decorre da lise das células musculares esqueléticas, com a liberta- ção de substâncias intracelulares para a circulação, em especial a mioglobina. O excesso de mioglobina circulante é tóxico para os rins, podendo levar o paciente a insuficiência renal aguda e morte. Trata-se de uma síndrome muito rara, que dificilmente ocorre pelo uso de estatinas em monoterapia. O risco aumenta pelo uso simultâneo de estatinas e fibratos, em especial a gemfibrozila, pelo que esta associação deve ser evitada (veja tópico especí- fico sobre fibratos)(98). 3 A creatinofosfoquinase (CPK), ou creatinoquinase (CK), é uma enzima presente nos músculos, tecido cardíaco e no cérebro. CPK-BB é a for- ma encontrada no cérebro; a CPK-MB é a forma encontrada no miocárdio (músculo cardíaco), e a CPK-MM é forma encontrada no músculo estriado. A maior utilização da dosagem da CPK está no diagnóstico das lesões e doenças da musculatura esquelética e no infarto agudo do miocárdio (ataque cardíaco). Hepatotoxicidade . Elevação significativa das enzimas hepáticas (acima de 3 vezes o valor de referência) ocorre em cerca de 1% dos pacientes, mas é normalmente reversível, mesmo sem interrupção da terapia. Em relação à toxicidade hepática, a suspensão temporária é aconselhada com elevações superiores a três vezes o valor de referência das transaminases (AST e ALT), e a suspensão definitiva em casos com infecção hepática ativa ou dis- função hepática grave (87,88). Pelas razões previamente expostas, CPK e transaminases hepáticas (em especial a alanina aminotransferase [ALT – antigamente chamada TGP) devem ser dosadas antes de se iniciar o tratamento e após 6-12 semanas. Novos monitoramentos podem ser realizados após a modificação da dose da estatina, ou após associação com outros fármacos com poder de interação. Outros efeitos adversos menos graves incluem a insônia e distúrbios gastrintestinais. Estatinas mais lipossolú- veis (ex. Sinvastatina, Atorvastatina) podem penetrar mais a barreira hematoencefálica e, assim, produzir distúr-
  • 45. 45 Manual2.ColesterolemDia bios do sono com mais frequência. Distúrbios gastrintestinais podem ocorrer com todas as estatinas e incluem sintomas de má digestão, distensão abdominal, flatulência e diarreia. A ingestão das estatinas com alimentos, após refeições, tende a reduzir estes sintomas na maioria dos pacientes. E se o paciente desenvolver dores musculares durante o tratamento com estatinas? • Os sintomas musculares geralmente começam dentro de algumas semanas ou meses após o início das estatinas; • Outras causas devem ser excluídas, como dores associadas a exercícios ou a condições infecciosas (sintomas gripais); • Monitoramento dos valores de CPK pode ser aconselhado, contudo, mialgias podem existir mesmo na ausência da alteração do parâmetro; • Lembre-se: se evidenciada a necessidade da terapia com estatinas, aumentos de até 5 vezes nos valores de CK podem ser tolerados; • Caso o paciente não tolere a dor, ou apresente valores de CK aumentados de 5-10 vezes o valor de referência, suspensão do medicamento deve ser aconselhada ao prescritor; • Os sintomas tendem a desaparecer após dias ou semanas da interrupção; • A reintrodução do tratamento, com uma estatina de menor potência ou em menor dose pode ser aconselhada. O que você deve aconselhar aos pacientes? • Para estatinas com tempo ½ vida curto (Fluvastatina, Pravastatina, Sinvastatina e Lovastatina), aconselhe que a tomada do medicamento deve ser feita à noite, para que o efeito ocorra mais pela noite, que é quando o metabolismo hepático está mais ativo. Este horário específico de tomada não é necessário para estatinas com meia-vida longa (atorvastatina, rosuvastatina); • De modo geral, as estatinas são melhor toleradas se tomadas com estômago cheio. Por isso, oriente uso do medicamento após a refeição (p.ex. após o jantar); • Aconselhe o paciente a monitorar e relatar imediatamente sinais / sintomas ligados a miopatia (dor muscular inexplicável, sensibilidade ou fraqueza, especialmente quando acompanhada de febre ou mal-estar) ou dano hepático (fadiga inexplicada, anorexia, desconforto abdominal superior direito, urina escura ou icterícia); • Orientar que o consumo excessivo de álcool pode aumentar o risco de lesão hepática e, portanto deve ser evitado;
  • 46. 46 • Se o paciente está em uso de Rosuvastatina, saliente que o mesmo não deve utilizar antiácidos que conte- nham magnésio-alumínio por pelo menos 2 horas após a ingestão do medicamento; • Aconselhe que o início de qualquer novo tratamento deve ser acompanhado por profissionais de saúde (médico e farmacêutico), mesmo com medicamentos isentos de prescrição ou produtos de origem vegetal, pois pode existir risco de interações com as estatinas. Quais são as terapias de segunda linha? Ensaios com outros hipolipemiantes, que não estatinas, em prevenção primária, encontraram um aumento pre- ocupante da mortalidade de origem não cardiovascular (99–102). Particularmente para prevenção primária, em que os benefícios da terapia precisam ser superiores aos riscos, já que o risco de desenvolver um evento coro- nariano é pequeno, evidências que justifiquem a utilização de terapias com outros hipolipemiantes ainda são necessárias (42). Ademais, resultados quanto a desfechos clínicos destes medicamentos ainda são pobres, fato que levou a nova diretriz americana de 2013, para tratamento de hipercolesterolemia e redução do risco de aterosclerose em adultos, a considerar apenas as estatinas no tratamento das dislipidemias, tanto para prevenção primária como secundária (42). A diretriz Brasileira considera outros hipolipemiantes, que não as estatinas, principalmente como alternativas para associação as estatinas, em pacientes com níveis lipídicos elevados mesmo com a monoterapia (15). RESINAS Como eles agem? As resinas, ou sequestradores dos ácidos biliares, são grandes polímeros que ligam os ácidos biliares, carrega- dos negativamente, e os sais biliares no intestino delgado, reduzindo a absorção enteral de colesterol. Como resultado ocorre depleção do colesterol celular hepático, estimulando a síntese de receptores de LDL (LDL-R) e colesterol endógeno. Como consequência, pode ocorrer aumento da produção de VLDL e, consequentemente, dos TGs plasmáticos. Aplicações No Brasil, somente a colestiramina está disponível. Essa resina foi testada no estudo Lipid Research Clinics Co-
  • 47. 47 Manual2.ColesterolemDia ronary Prevention Trial (LRC), cujo desfecho primário, combinando morte por doença coronariana e infarto do miocárdio, foi reduzido em 19%. Em adição às estatinas, não existe estudo clínico que tenha comprovado benefí- cio adicional. A adição de colestiramina ao tratamento com estatinas pode ser uma alternativa quando a meta de LDL-C não é obtida, apesar do uso de estatinas potentes em doses efetivas. A redução do LDL-C é dose-depen- dente e pode variar de 5% a 30% nas doses de 4-24 g/dia (15). Reações adversas Os principais efeitos colaterais das resinas são constipação (até 25% dos pacientes) e aumento dos TGs, particu- larmente em indivíduos com hipertrigliceridemia acentuada (> 400 mg/dl). O que você deve aconselhar aos pacientes? • Aconselhe o paciente a não saborear ou manter a resina na boca por períodos pro- longados, pois isso pode causar descoloração e erosão do esmalte dentário; • A ingestão deve ocorrer juntamente com as refeições; e durante o tratamento o aumento da ingestão de líquidos é recomendado; • O pó não deve ser utilizado na forma seca, sempre dissolvê-lo em água antes da administração; • O medicamento pode interferir com a absorção de muitos outros medicamentos. Portanto o paciente deve ingerir outros medicamentos preferencialmente 1 hora antes ou 4-6 horas depois de tomar a colestiramina. EZETIMIBA Como ela age? A ezetimiba é o primeiro medicamento de uma nova classe de inibidores da absorção do colesterol. Ela reduz a absorção do colesterol dietético e biliar na borda em escova do intestino, sem afetar a absorção de triglicérides ou vitaminas lipossolúveis. Ela atua seletivamente nos receptores Niemann-Pick C1-like protein 1, inibindo o transporte de colesterol do intestino para a corrente sanguínea (15,43). A inibição da absorção de colesterol, em grande parte do colesterol biliar, leva à diminuição dos níveis de coles- terol hepático e ao estímulo para a síntese de LDL-R, com consequente redução do nível plasmático de LDL-C em 10% a 25% (15,43).
  • 48. 48 NIACINA Aplicações Em comparação com placebo, a ezetimiba associada à estatina reduziu eventos CV em pacientes com estenose aórtica degenerativa e doença renal crônica (15,43). O papel da ezetimiba em desfechos clínicos ainda é pouco claro, ensaios clínicos evidenciaram resultados po- bres quanto a benefícios adicionais a terapia com estatinas. A ezetimiba pode ser útil para evitar altas doses de estatinas (e potencialmente aumento da susceptibilidade à lesão muscular) em pacientes que não alcançaram as metas de colesterol. No entanto, os benefícios clínicos da monoterapia com ezetimiba ou ezetimiba associada com estatinas continuam sem comprovações robustas (103–106). Reações Adversas As principais reações adversas são: diarreia (2,5-4,1%), aumento de transaminases (0,5-3,0%), nasofaringites (3,7%), sinusites (2,8%), infecções das vias aéreas superiores (2,9-4,3%) e dores musculares (3,2%), principal- mente se associada a estatinas. O que você deve aconselhar aos pacientes? Instruir os pacientes a relatarem sinais / sintomas como dor abdominal, diarreia, dor nas costas, dor de cabeça, sinusite, hepatite, artralgia ou mialgias. Como ela age? A niacina atua no tecido adiposo periférico, leucócitos e células de Langerhans por meio de sua ligação com um receptor específico ligado à proteína G, o GPR109A. A ativação da GPR109A inibe as lipases hormonossensitivas nos adipócitos e, por esse meio, diminui a liberação de AGs livres na circulação. Em paralelo, a niacina inibe a ati- vidade da enzima diacilglicerol aciltransferase-2 (DGAT-2) nos microssomos dos hepatócitos e, assim, a síntese hepática de TG. Resulta destas ações uma menor disponibilidade de TG intra-hepático e, por consequência, o aumento no catabolismo de apo B e menor secreção de VLDL e LDL. Indiretamente, ocorre aumento do HDL-C (até 30%).
  • 49. 49 Manual2.ColesterolemDia Aplicações A niacina é utilizada para redução dos triglicerídeos e aumento do HDL-C, mas não se observa benefício cardio- vascular na associação de niacina à estatina em pacientes dentro da meta preconizada de LDL. O Coronary Drug Project, realizado na década de 1970, demonstrou que o tratamento com niacina na sua forma cristalina pode re- duzir a incidência de eventos cardiovasculares. O tratamento com formulações mais toleráveis, como as formas estendidas, reduziu a espessura médio-intimal mesmo em pacientes em uso de estatinas (107–109). Entretanto, estudos clínicos recentes não demonstraram benefício na adição de niacina ao tratamento eficaz com estatinas com ou sem ezetimiba (108,109). Como exemplo, o estudo HPS2-THRIVE, publicado em julho de 2014, que en- volveu cerca de 26.000 pacientes com doença vascular conhecida em uso prévio de estatinas, demonstrou que durante seguimento médio de 3,9 anos, terapia adicional com niacina foi associada a incremento importante em eventos adversos graves, sem nenhum benefício cardiovascular (110). Reações Adversas O medicamento é geralmente bem tolerado. As reações adversas podem ser consideradas leves e transitórias, e tendem a ceder espontaneamente com a continuidade do tratamento. A reação mais comumente relatada é o flushing (pele avermelhada, sensação de calor e coceira), e pode ocorrer em até 88% dos pacientes. O flushing pode estar acompanhado de sintomas como tonturas, palpitações, dispneia, sudorese, calafrios e/ou inchaço. O que você deve aconselhar aos pacientes? • O medicamento deve ser ingerido próximo a hora de dormir, com um lanche leve (baixo teor de gordura); • O paciente deve evitar o uso concomitante de anticoagulantes ou vasodilatadores; • Se não houver contraindicações, pré-tratamento com aspirina ou AINE, 30 min antes da tomada de niacina, pode reduzir a gravidade/frequência de rubor, pruri- do e desconforto gastrointestinal. FIBRATOS Como eles agem? As ações dos fibratos no metabolismo lipídico decorrem de sua capacidade de imitar a estrutura e as funções biológicas dos AGs livres. O fibratos se ligam a fatores de transcrição específicos, os receptores ativados pelo
  • 50. 50 proliferador de peroxissomos (PPARs) expressos primariamente no fígado, rins, coração e músculos (15,43). A ativação dos PPARs pelos fibratos aciona uma série de genes relacionados com hidrólise dos TGs (lipase lipopro- teica e apolipoproteína CIII), degradação e síntese de AG e HDL. Os principais fibratos disponíveis no Brasil são gemfibrozila, bezafibrato, ciprofibrato, fenofibrato e clofibrato (15). Aplicações Os fibratos também são utilizados para redução de triglicerídeos e aumento do HDL-C. Há evidências de preven- ção de doenças microvasculares (retinopatia e nefropatia) em diabéticos tipo 2 com o uso de fibratos, tanto em monoterapia quanto em associação à estatina (111,112). Com relação a eventos cardiovasculares, a monoterapia com fibratos tem resultados inconsistentes nos estu- dos clínicos, e a associação de fibratos às estatinas não tem benefício demonstrado nas demais populações. Nos pacientes com hipertrigliceridemia, particularmente naqueles com HDL-C baixo, é possível que haja benefício macrovascular, mas esta possibilidade ainda requer confirmação (15,43). Reações Adversas A associação de fibratos e estatinas está associada a aumento no risco de miopatia, principalmente com a sinvas- tatina. Fármacos inibidores do citocromo P450 também podem estar associados a aumento no risco de reações adversas dose-dependentes aos fibratos, principalmente devido a maiorexposição sérica ao medicamento. O uso particular de gemfibrozila em associação a estatinas é desaconselhado, devido ao aumento importante no risco de rabdomiólise. (15,43). Outros eventos adversos incluem dor abdominal (4,6-9,8%) e alterações de testes da função hepática (3,4-7,5%). O que você deve aconselhar aos pacientes? Aconselhar paciente a monitorar e relatar imediatamente sintomas de miopatia, hepa- tite (náuseas, fraqueza, dor abdominal, urina escura ou fezes claras) ou pancreatite (dor abdominal forte, com piora após refeições).
  • 51. 51 Manual2.ColesterolemDia Atenção especial deve ser dada aos casos de associação a estatinas • Tanto as estatinas como os fibratos são associados à toxicidade muscular, e esse efeito é poten- cializado de maneira importante se esses medicamentos são associados. • Em uma revisão de relatos de casos publicados sobre rabdomiólise relacionada à terapia com fibratos, genfibrozila foi associada com o maior número de eventos, seguido de bezafibrato, fe- nofibrato, ciprofibrato, e clofibrato (184). Portanto a associação do genfibrozila e estatinas não é recomendada. • A associação de fibratos a estatinas deve ser reservada a casos estritamente necessários, e nes- ses o monitoramento cuidadoso de sinais / sintomas musculares deve ser instituído. Existem medicamentos isentos de prescrição que podem beneficiar pacientes com dislipidemia? ÁCIDOS GRAXOS ÔMEGA 3 Ácidos graxos ômega-3 (Ω-3) são derivados poliinsaturados do óleo de peixes e de certas plantas e nozes. O óleo de peixe contém tanto o ácido docosaexa- enoico (DHA) quanto o ácido eicosapentaenoico (EPA), mas os óleos de origem vegetal contêm predominantemente o ácido alfa-linolênico (ALA). O consumo de óleo de peixe reduz as concentrações de triglicerídeos séricos de 25 a 30%, um efeito comparável ao perfil de eficácia de outros medicamentos (113–115). A relação dose resposta parece ser bastante linear (115): pequena redução é observada com as doses dietéticas ou suplementação de baixa dosa- gem (<1 g / dia), enquanto que com doses mais elevadas (3-4 g / dia), os níveis de triglicerídeos são significativamente mais baixos. No entanto, as doses de óleo de peixe necessárias para reduzir os triglicerídeos são várias vezes mais elevadas do que as doses que podem reduzir a mortalidade coronária. Suplementação de óleo de peixe também aumenta ligeiramente as concentrações de HDL-C (3%) e, particular- mente em pacientes com hipertrigliceridemia, eleva as concentrações de LDL-C (5%) e diminui a proporção de partículas pequenas de LDL-C (116–118). Este aumento no tamanho das partículas de LDL pode ser responsá- vel pelas maiores concentrações de LDL-C; isto é, a concentração de LDL-C pode aumentar ligeiramente, mas sem alteração significativa no número de partículas de LDL circulantes.
  • 52. 52 Estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados examinaram os efeitos de longo prazo do óleo de peixe sobre o desenvolvimento e progressão da aterosclerose. • Um estudo observacional, conduzido em 229 mulheres, descobriu que, após o ajuste para outros fatores de risco, durante 3,2 anos de acompanhamento, o consumo dietético modesto de óleo de peixe foi associado a menor progressão de obstruções coronarianas e menor incidência de novas lesões (119). • Um pequeno estudo randomizado (n = 59) não detectou efeitos significativos da suplementação de óleo de peixe (6 g / dia por 2,3 anos) na progressão da aterosclerose coronariana, mensurada através de angiografia coronária (120). • Outro estudo randomizado (n = 223), encontrou efeito modesto, mas estatisticamente significativo, da su- plementação de óleo de peixe (1,65 g / dia por dois anos) na progressão da doença coronariana (121,122). • Terceiro estudo randomizado, aberto, avaliou os efeitos de ácido eicosapentaenóico (EPA) (1,8 g/dia por 2,1 anos) na progressão da aterosclerose carotídea em 81 pacientes japoneses com diabetes tipo 2 (123). Embora confirmação em estudos adicionais se justifique, em conjunto, estes poucos estudos sugerem que o con- sumo de óleo de peixe pode reduzir modestamente a progressão crônica da aterosclerose. Um número limitado de estudos sugerem que o consumo de óleo de peixe pode reduzir modestamente a progres- são crônica da placa arterial estável; em contraste, efeitos consideráveis sobre a trombose não são observados até níveis muito elevados de suplementação (> 5 a 10 g / dia) (124). Efeitos do consumo de óleo de peixe na instabilidade da placa aterosclerótica não estão bem estabelecidos. Al- guns grandes ensaios clínicos randomizados com consumo de peixe ou óleo de peixe demonstraram reduções significativas nas síndromes coronárias agudas ou outros eventos coronarianos não fatais (125–128), enquanto outros grandes estudos não o fizeram (129–133). Meta-análise de 13 ensaios clínicos randomizados (n = 53.875, publicada em 2012, encontrou uma tendência de redução, estatisticamente não significativa, nas taxas de IAM (risco relativo de 0,89, 95% IC 0,76-1,04) (134). Assim, não está claro que o óleo de peixe tem quaisquer efeitos importantes sobre eventos cardíacos não fatais. Também, recentes metanálises não confirmaram o benefício da suplementação de óleo de peixe na redução de eventos cardiovasculares, coronarianos, cerebrovasculares, arritmias ou mortalidade global (135,136). De maneira prática, o consumo de peixes ricos em ômega 3 deve fazer parte de uma dieta saudável para prevenção cardiovascular, entretanto, sua suplementação diária ainda é controversa, motivo pelo qual as diretrizes atuais não a recomendam.
  • 53. 53 Manual2.ColesterolemDia Resumo das recomendações farmacológicas RECOMENDAÇÃO CLASSE NÍVEL DE EVIDÊNCIA Estatinas como primeira opção medicamentosa nas prevenções primária e secundária I A Uso de fibratos em monoterapia ou em associação a estatina para prevenção de doenças microvasculares em diabéticos tipo 2 I A Associação de ezetimiba ou resinas às estatinas quando a meta de LDL-C não é alcançada IIa C Associação de niacina às estatinas III A Uso de ácidos graxos ômega 3 para prevenção cardiovascular III A GRAU DE RECOMENDAÇÃO: I. Existe consenso e evidência em favor da indicação. IIa. Existe divergência, mas a maioria aprova. IIb. Existe divergência e divisão de opiniões. III. Não se recomenda. NÍVEL DE EVIDÊNCIA: A. Múltiplos ensaios clínicos controlados, aleatorizados. B. Um único estudo clínico controlado e aleatorizado, estudos clínicos não aleatorizados ou estudos observacionais bem desenhados. C. Série ou relato de casos. As tabelas 9 e 10 resumem as características dos principais hipolipemiantes disponíveis no Brasil e suas intera- ções medicamentosas mais relevantes. TABELA 9. Características dos principais hipolipemiantes disponíveis Classe Dose Administração Estatinas (Inibidores da HMG-CoA-redutase) Pravastatina 10-80 mg/dia Administração em qualquer horário do dia Sinvastatina 5-40 mg/dia* Administração noturna (ou antes de dormir para trabalhado- res noturnos) Atorvastatina 10-80 mg/dia Administração em qualquer horário do dia Rosuvastatina 5-40 mg/dia Administração em qualquer horário do dia Fibratos Gemfibrozila 900-1200 mg/dia 30-60 min antes das refeições Fenofibrato Micronizada 160-200 mg/dia Administrada preferencialmente com as refeições. Doses reduzidas podem ser administradas em insuficiência renal Ácido nicotínico ou niacina Ácido nicotínico / Niacina Liberação imediata 1-12 g/dia Liberação controlada 500-2000 mg/dia Administrar com as refeições. A dose deve ser titulada paula- tinamente. Depois de seis semanas, recomenda-se verificação de lipídios, glicose, função hepática, e ácido úrico. Aumentar a dose conforme necessidade. Sequestrantes de ácidos biliares Colestiramina 4-24 g/dia Administrar 30 min antes das refeições; Inibidores da absorção de colesterol Ezetimiba 10 mg/dia
  • 54. 54 TABELA 10. Interações medicamentosas e conduta dos principais hipolipemiantes Interage com? (Medicamento/ Classe) Efeitos Conduta/ Manejo Estatinas Fibratos Risco aumentado de miopatia e rabdo- miólise Se coadministrados, monitorar o paciente para sinais e sintomas de miopatia ou rabdomiólise (dor muscular, sensibilidade ou fraqueza), sugerir interrupção do tratamento ao médico se os níveis de CPK mostrarem aumento acentuado ou se miopatia é fortemente suspeita. Antifúngicos sistêmicos: Itraconazol, Posaconazol, Voriconazol Aumento da concentração sérica das estatinas e consequente aumento no risco de miopatia e rabdomiólise Se coadministrados, monitorar o paciente para sinais e sintomas de miopatia ou rabdomiólise (dor muscular, sensibilidade ou fraqueza); Se atorvastatina, devido ao maior risco da intera- ção, a suspensão da estatina durante a vigência do antifúngico pode ser aconselhada. Inibidores de protease Aumento de risco de toxicidade da estatina, incluindo risco aumentado de miopatia ou rabdomiólise Associação com sinvastatina contraindicada, Se o uso de uma estatina é necessário, considerar atorvastatina ou rosuvastatina, na menor dose possível, com monitoração cuidadosa. Antibióticos macrolídeos: p.ex. Eritromicina Aumento de risco de toxicidade da estatina, incluindo risco aumentado de miopatia ou rabdomiólise Avaliar risco-benefício da associação, se indicada monitorar o paciente para sinais e sintomas de miopatia ou rabdomiólise (dor muscular, sensibi- lidade ou fraqueza). Colestiramina Micofenolato Redução da exposição ao ácido micofe- nólico (metabólito ativo do Micofeno- lato mofetil) A coadministração não é indicada. Sugerir reava- liação da terapia. Paracetamol Redução da absorção do paracetamol Considerar aprazamento da terapia. Aconselhar a administração da colestiramina 1 hora após o paracetamol. Amiodarona Redução da efetividade da amiodarona Monitorar efeitos terapêuticos Fibratos Estatinas Risco aumentado de miopatia e rabdo- miólise Se coadministrados, monitorar o paciente para sinais e sintomas de miopatia ou rabdomióli- se (dor muscular, sensibilidade ou fraqueza), sugerir interrupção do tratamento ao médico se os níveis creatinoquinase mostrarem aumento acentuado ou se miopatia é fortemente suspeita. Anticoagulantes orais Efeito anticoagulante reforçado Uso associado não recomendado. Sugerir reava- liação da farmacoterapia. Sulfonilureias Aumento do efeito hipoglicemiante Monitorar valores glicêmicos cuidadosamente. Atenção para hipoglicemia.
  • 55. 55 Manual2.ColesterolemDia A soja, além de ser uma excelente fonte de proteína, con- tém isoflavonas, que são fitoestrogênios. As isoflavonas são micronutrientes que, em primatas não humanos, têm propriedades semelhantes ao estrogênio, incluindo efeito sobre os níveis de colesterol e inibição da oxidação de LDL (137). Tem sido sugerido que a redução do risco de doença cardíaca, entre asiáticos em comparação com populações ocidentais, possa estar relacionada ao elevado consumo de produtos derivados da soja (138–140) Embora estudos anteriores e uma meta-análise tenham su- gerido benefícios lipídicos importantes com o consumo de proteína de soja (138–140), uma revisão sistemática poste- rior concluiu que os benefícios são modestos (141). Além dos efeitos sobre os lipídeos, é possível que a ingestão de proteínas de soja tenha outros benefícios vasculares, como vasodilatação ou proteção do endotélio (142–145). Conforme o Nutrition Committee of the American Heart Association, suplementos de isoflavona não devem ser utilizados para tratar dislipidemias e reduzir o risco car- diovascular. Quando substitutos de alimentos de origem animal, alimentos de soja e derivados (por exemplo, tofu, manteiga de soja, alguns hambúrgueres de soja, etc.) são benéficos sobre os lipídios e a saúde cardiovascu- lar porque eles são pobres em gorduras saturadas, ricos em gorduras insaturadas, e muitas vezes ricos em fibras. Ácido nicotínico ou niacina Estatinas Aumento do risco de toxicidade das estatinas Avaliar risco-benefício. Se coadministrados, monitorar o paciente para sinais e sintomas de miopatia ou rabdomiólise (dor muscular, sensibi- lidade ou fraqueza). Ezetimiba Fibratos Aumento das concentrações de ezetimiba e um aumento do risco de colelitíase (aumento da excreção de colesterol na bile) Administração com gemfibrozila não é recomen- dada. Se coadministração é necessária fenofibra- to é indicado, juntamente com o monitoramento cuidadosa de sinais / sintomas. Suplementos alimentares e produtos naturais funcionam para dislipidemias? SOJA
  • 56. 56 A Levedura de arroz vermelho é um produto fermentado de arroz que tem sido utilizado na culinária chinesa e me- dicinal para promover a “circulação sanguínea”. O produto contém quantidades variáveis de uma família de substân- cias que ocorrem naturalmente, chamados monacolins, que apresentam atividade inibidora da HMG-CoA redutase (146). A eficácia da levedura para baixar o colesterol foi avaliada em um estudo prospectivo, duplo-cego, em que 83 pacien- tes com hiperlipidemia (colesterol total 204-338 mg/dL, LDL-C 128-277 mg/dL), que não estavam recebendo tera- pia de redução do colesterol foram aleatoriamente desig- nados para receber levedura de arroz vermelho (2,4 g/dia) ou placebo; ambos os grupos também foram orientados a seguir uma dieta para baixar o colesterol (147). O estudo demonstrou redução significativa da concentração de co- lesterol total e LDL em oito semanas. Nem todas as cepas de levedura de arroz vermelho são iguais e os resultados destes ensaios clínicos não podem ser generalizados para diferentes preparações. Há uma variabilidade substancial através preparações comerciais (148,149). Em resumo, o arroz vermelho levedura pode ter a capacidade de baixar o colesterol devido à presença de mo- nacolins que têm atividade de inibição da HMG-CoA-redutase e, possivelmente, outras substâncias ativas. No entanto, estes extratos sofrem do mesmo problema, como muitos outros produtos naturais, isto é, uma falta de padronização (150). Isto resulta na variabilidade acentuada entre as marcas no teor de ingrediente ativo e, assim, em termos de eficácia na redução do LDL-C. Devido ao mecanismo de ação semelhante às estatinas, o uso destas substâncias concomitantemente com es- tatinas deve ser desaconselhado. Caso o paciente utilize, deve-se monitorar as reduções de colesterol obtidas e o surgimento de efeitos adversos, especialmente mialgia. LEVEDURA DO ARROZ VERMELHO