SlideShare uma empresa Scribd logo
Manoel de BarrosO poeta que é apanhador de desperdícios
Natielle Lopes da Costa
Segundo ano de Letras (UNIOESTE)
“Meu avesso é mais visível do que um poste. [...]
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.”
Manoel de Barros
O POETA
• Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu na cidade de
Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, formou-se em
direito em 1941 no Rio de Janeiro e, embora tenha
contato com a poesia desde os 13 anos, escreveu seu
primeiro poema aos 19 anos. Em sua primeira audiência
como advogado ficou tão nervoso que vomitou nos
papéis. Viveu como fazendeiro e poeta. Recebeu muitos
prêmios literários e foi considerado um dos maiores
poetas da contemporaneidade.
O QUE DIZEM DO POETA
• Foi declarado o maior poeta vivo por Carlos Drummond
de Andrade, no ano de 1986.
• “Visionário da humildade e solidariedade humanas”
— Antônio Houaiss, filólogo brasileiro.
• “Originalidade, absurdez, infantilidade, síntese, mas
principalmente esse absurdo verossímil que a gente vê no
mundo infantil, mas com muita estética.”
—Pedro Cezar, diretor. (Sobre as obras do poeta)
O POETA SOBRE SI
Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da
Marinha,
onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto
como que desonrado e fujo para o Pantanal onde
sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que
fui salvo.
Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
gado. Os bois me recriam.
Agora sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
(Autorretrato Falado, Livro das ignorãças, 1993, p.107)
A TIMIDEZ
• Quando José Castello entrevistou Manoel de Barros para o
jornal Estado, assim descreveu sua experiência:
“Imaginava Manoel de Barros magro e triste, mas ele é
gorducho e enérgico. Imaginava um homem ingênuo, que
passasse os dias entre cachorros e passarinhos - mas ele ouve
concertos clássicos, lê Kant, Benjamin e Roland Barthes e toma
cerveja com psicanalistas. Caí na armadilha de seus poemas. E
talvez fosse isso o que, mantendo-se escondido, ele desejasse
preservar: os versos. Manoel fala como qualquer senhor
respeitável de 80 anos; não fala "torto", como falam seus
poemas. É essa fala reta, provavelmente, o que ele chama de
timidez: o homem comum que se esconde detrás dos versos
insensatos.” (CASTELLO, J.)
A TIMIDEZ
• Embora reconhecido contemporaneamente, Manoel de
Barros passou grande parte de sua carreira no
anonimato. Quanto a isso, o autor já afirmou:
“foi por minha culpa mesmo. Sou muito orgulhoso,
nunca procurei ninguém, nem freqüentei rodas, nem
mandei um bilhete. Uma vez pedi emprego a Carlos
Drummond de Andrade no Ministério da Educação e
ele anotou o meu nome. Estou esperando até hoje.”
A TIMIDEZ
“ A palavra oral não dá rascunho”
— Manoel de Barros
• Quando o diretor Pedro Cezar decidiu fazer o documentário Só dez por
cento é mentira sobre Manoel de Barros, convencer o autor a deixar
registrá-lo em vídeo não foi uma tarefa fácil, uma vez que Manoel
afirma ser um “ser letral”. Depois de muito insistir, Pedro Cezar
desistiu e disse em uma conversa: “Manoel, deixa essa história toda
pra lá. Isso era um sonho, mas posso viver sem isso.” Este foi o
argumento que fez com que Manoel de Barros tomasse remédio para
não ficar nervoso durante a entrevista. O longa-metragem é organizado
alternando-se em trechos da entrevista com o autor, versos de sua obra
e depoimentos de leitores. O documentário ganhou os prêmios de
melhor documentário longa-metragem do II Festival Paulínia de
Cinema 2009 e os prêmios de melhor direção de longa-metragem
documentário e melhor filme documentário longa-metragem do V Fest
Cine Goiânia 2009.
A DIDÁTICA DA CRIAÇÃO
• Tudo o que Manoel de Barros criou foi escrito em
blocos de notas que ele mesmo criava em um quarto
3x4 nomeado pelo poeta de “lugar de ser inútil”, como
relata o diretor/narrador Pedro Cezar do documentário
Só dez por cento é mentira.
• As obras de Manoel não chamavam atenção pelos
temas tratados pelo autor, mas sim pela forma como
trabalhava com os mesmos e a linguagem da qual
utilizava-se.
A DIDÁTICA DA CRIAÇÃO
• Em uma entrevista ao Globo, no ano de 1998, Manoel
afirmou:
“Eu estou trabalhando com a palavra e aí me vem
uma ideia. E por isso não acredito em inspiração,
acredito em trabalho. Mas sei também que
transformar palavra em verso, combinar o ritmo
com a ressonância verbal, é um dom linguístico.
Tenho frases poéticas que são versos. Sei fazer
frases.”
O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO
• Se tratando de arte, é notório o que afirma Chklovski:
“E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir
os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que
se chama de arte. O objetivo da arte é dar a sensação do
objeto como visão e não como reconhecimento [...]”
(CHKLOVSKI, V., 1917, p. 45) Ou seja, a arte tem
como objetivo levar o leitor ao estranhamento. Uma
simples notícia de jornal só faz com que o leitor tenha
uma visão mecânica, uma vez que está em contato com
uma linguagem prosaica. A arte, pelo contrário, não faz
uso desta linguagem comum, seja na prosa ou na
poesia, como vemos nas obras de Manoel de Barros.
O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO
• Sobre a linguagem utilizada em suas obras, assim
afirma Manoel:
Escrevo o idioleto manoelês archaico (Idioleto é o dialeto que os idiotas
usam para falar com as paredes e com as moscas). Preciso atrapalhar as
significâncias. (BARROS apud Dias, 2009, p.131)
O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO
• Assim afirma Dias sobre a linguagem usada por
Manoel de Barros em suas obras:
Trata-se de uma trangressão, porém armada de consciência quanto
aos modos de agenciamento da linguagem, na qual é possível fazer
coexistirem numa só palavra outras em plena (e fértil) contradição: o
“dessaber”, que finaliza o verso citado de 1 Em Inútil poesia, Leyla
Perrone-Moisés comenta sobre essa noção de (in)utilidade da poesia,
lembrando-nos de Mallarmé e Leminski. Manoel de Barros, contém
ocultos em seu corpo outros signos que a leitura deve recuperar:
dissabor, saber, não saber, sabor. É aí, nessa conjugação entre
familiaridade – afinal, o eu poético se instala “nos fundos do quintal”
– e distanciamento crítico – a invenção de signos que desacomodam
o conhecido – que essa poesia acontece, afirma-se enquanto
linguagem. (DIAS, M., 2009.)
O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO
• O jornal online Jornal de Poesia traz um artigo de Edna Menezes referente a
Manoel. Quanto ao estilo do autor, afirma Edna:
“No que se refere ao estilo, a poética de Manoel de Barros distancia-se do padrão
estético e estilístico da literatura moderna e contemporânea de maneira que o
universo é transfigurado por intermédio de uma linguagem que se desvela em
imagens inusitadas. Nesse contexto, a idealização dos elementos banais retirados
do cotidiano mediante o uso da temática telúrico-pantaneira, permite que o poeta
reinvente o mundo por ele contemplado através da palavra criadora. O estilo de
Manoel de Barros sustenta-se na combinação dos vocábulos de maneira inédita,
fato que acarreta numa linguagem inovadora com expressões insólitas e distantes
ao lugar comum. Essa linguagem, muitas vezes aproveitada do dialeto pantaneiro,
se junta a uma temática que ultrapassa o regionalismo e vai a busca da palavra em
sua essência profunda e primitiva. Assim, a obra barreana caracteriza-se como um
verdadeiro artesanato da palavra, ou, às vezes, como um grande laboratório
vocabular em que o artista opera cada significado verbal e continua “re-
buscando” novas dimensões lingüísticas. Com efeito, o leitor depara-se com uma
realidade fragmentada e marcada pela utilização de neologismos (invenção da
linguagem). Conhecer a obra de Manoel de Barros é se deixar levar pela magia de
um mundo novo, um mundo no qual as coisas possuem um sentido inusitado e
deixam emanar a essência vital do universo.” (MENEZES, E.)
O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO
• Ainda no que diz respeito a linguagem utilizada por Manoel, pode-se observar
este fragmento de uma entrevista concedida pelo autor ao jornal Estado.
Estado - Poemas são assim tão perigosos? Os seus costumam ser adotados nas
provas de vestibular. Você não gosta. Por quê?
Manoel - Faço uma poesia difícil. Depois, cair no mundo das imagens não é para
qualquer um. Ainda mais para adolescentes. Adolescentes querem as coisas retas,
senão não aceitam. E minha poesia é torta.
Estado - Eles exigem, no mínimo, professores muito preparados.
Manoel - Mas nem os professores me digerem. Há pouco tempo, chegou aqui em
casa uma das coordenadoras do vestibular em Mato Grosso. Ela me disse: "Eu
não entendo nada de seus livros. Se me permitir dizer a verdade, eu vou dizer:
seus livros são uma m...!"
Estado - E como você reagiu?
Manoel - Eu lhe disse: "Olhe, minha querida, se meus poemas são difíceis, a
culpa não é minha. Juro que não tenho culpa. Meus poemas sofrem de mim."
O POETA E OS OBJETOS
“As coisas tinham para nós uma desutilidade poética
Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber”
(BARROS, M., Livro sobre nada, 1996, p. 11)
O POETA E OS OBJETOS
• Como já afirmado, os escritos de Manoel não chamam a
atenção do leitor por o que escreve, mas como escreve.
Assim, pode-se citar o que afirma Dias:
A poesia de Manoel de Barros desperta a atenção do leitor não
tanto pela temática que traz em sua linguagem quanto,
principalmente, pela forma inusitada como (re)configura essa
matéria enquanto dizer. Falar sobre o mundo e criar um meio
singular que dê corpo a essa fala são gestos simultâneos – projeto
em afinidade com uma tradição poética que faz da palavra sujeito
e objeto, uma autoconsciência onde se alojam criação e leitura,
espírito crítico e ludicidade.
O POETA E OS OBJETOS
• Observa-se a maneira com que Manoel de Barros lida com
os objetos em seus escritos, consoante afirma Azevedo “ele
está propondo uma poética que vai levar a linguagem às
últimas consequências, pois vai desabrigar a palavra de seu
sentido usual [...]”ou como afirma a leitora Bianca, no
documentário sobre o autor Só dez por cento é mentira “Eu
acho que é por isso que ele vai falar com a nova geração
[...] ele escreve do ponto de vista da coisa: é como se os
objetos pedissem ‘pelo amor de Deus, me liberte dessa
função de ser apenas uma cadeira pra sentar’ [...] Uma
cadeira pode servir poeticamente pra duzentos milhões de
coisas. Eu acho que aí é que ele é libertador.”
O POETA E OS OBJETOS
“As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis
Elas desejam ser olhadas de azul”
— Manoel de Barros
DESENHOS
• Além de seus escritos, Manoel de Barros criava
desenhos. Quanto a estes, dizia que são desenhos
verbais, pois é quando se “consegue colocar uma
imagem na vista do leitor”.
“ Imagens são palavras que nos faltaram”
— Manoel de Barros
MORTE
• Manoel de Barros morreu aos 97 anos no dia 13 de
novembro de 2014, por falência múltipla de órgãos,
depois de uma cirurgia.
• Sua filha Martha disse em uma entrevista ao O Globo
que, depois da morte de seu filho em 2013 e por causa
da idade, “ele estava se apagando como uma velinha”.
MORTE
• “Ao ser indagado sobre como gostaria de ser lembrado,
Manoel ri, coça o peito, diz que a pergunta é cruel; já
mais sério, fala que o único jeito é pela poesia.
“A gente nasce, cresce, amadurece, envelhece, morre.
Pra não morrer, tem que amarrar o tempo no poste. Eis
a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste”.”
(Trecho de reportagem sobre Manoel em O Globo)
Referências
LEITE, Carlos Willian. ‘O maior poeta vivo’ in Os 10 melhores poemas de Manoel de Barros. Revista bula.
Disponível em: http://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-poemas-de-manoel-de-barros/ Acesso
em: 19 de dez. de 2015.
BARROS, Manoel Wenceslau Leite de. O livro sobre nada (fragmentado) in Se não canto, pelo menos
grito. Disponível em: http://blogdoitarcio2.blogspot.com.br/2015/07/o-livro-sobre-nada-sempre-que-
desejo.html Acesso em: 23 de dez. de 2015.
Lista de reprodução "Estante de Vídeo & Áudio-Livros" do canal YouTube CarlosAlbertoDidier.
Documentário "Só dez por cento é mentira" sobre a vida e a obra de Manoel de Barros, dirigido por Pedro
Cezar (2008). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QZLC8wNVtfs Acesso em: 23 de dez. de
2015.
COLOMBO, Patrícia. O poeta do povo in Revista Rolling Stone. Disponível em:
http://rollingstone.uol.com.br/noticia/manoel-de-barros-o-poeta-do-povo/ Acesso em: 23 de dez. de 2015.
AZEVEDO, C. S. . A "desutilidade poética" de Manoel de Barros- questão de poesia ou filosofia?.
Revista.doc , v. 03, p. 1-13, 2003. Disponível em:
http://www.sjpambrosiasabatovich.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/3/2570/1890/arquivos/File/Poesia.pdf
Acesso em: 23 de dez. de 2015.
MENEZES, E. Manoel de Barros: O poeta universal do Mato Grosso do Sul in Jornal de Poesia.
Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/ednamenezes1.html Acesso em: 26 de dez. de 2015.
Referências
Chklovski in “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I: Textos dos Formalistas Russos
apresentados por Tzvetan Todorov, Edições 70, Lisboa, 1999.
DIAS, M. H. M. ; Espaço e linguagem na poesia de Manoel de Barros: uma constante
(des)aprendizagem. Antares: Letras e Humanidades , v. 1, p. 125-133, 2009. Disponível em:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/antares/article/viewFile/304/264 Acesso em: 23 de dez. de
2015.
Entrevista. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/castel11.html Acesso em: 23 de dez. de
2015.
CASTELLO, J. Manoel de Barros faz do absurdo sensatez in Jornal da Poesia. Disponível em:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/castel11.html Acesso em: 23 de dez. de 2015.
Morte de Manoel de Barros e entrevista de 1998. Morre o Poeta Manoel de Barros, aos 97 anos in O
Globo. Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/morre-poeta-manoel-de-barros-aos-97-anos-
14548514 Acesso em: 26 de dez. de 2016.
Referências
Imagens:
(Imagem 1): Reprodução: Google imagens. Disponível em: https://catracalivre.com.br/wp-
content/uploads/2015/09/Manoel-de-Barros.jpg Acesso em: 23 de dez. de 2015.
(Imagem 2): Desenho de Manoel de Barros. Manoel de Barros – O Falso Primitivo in Tanto.
Disponível em: http://www.tanto.com.br/ericponty.htm Acesso em: 23 de dez. de 2015.
(Imagem 3): Manoel em cena do documentário "Dedicatória". Aos 97 anos, Manoel de Barros
renasce em “Bernardo” e com poesia inédita in Lado B. Disponível em:
http://www.campograndenews.com.br/lado-b/artes-23-08-2011-08/aos-97-anos-manoel-de-
barros-renasce-em-bernardo-e-com-poesia-inedita Acesso em: 23 de dez. de 2015.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Gêneros e tipos textuais
Gêneros e tipos textuaisGêneros e tipos textuais
Gêneros e tipos textuais
marlospg
 

Mais procurados (20)

O que é Literatura?
O que é Literatura?O que é Literatura?
O que é Literatura?
 
O barroco
O barrocoO barroco
O barroco
 
Variação linguística
Variação linguísticaVariação linguística
Variação linguística
 
Linha do tempo - Literatura
Linha do tempo - LiteraturaLinha do tempo - Literatura
Linha do tempo - Literatura
 
Romantismo no Brasil
Romantismo no BrasilRomantismo no Brasil
Romantismo no Brasil
 
Seminário de Literatura para Ensino Médio
Seminário de Literatura para Ensino MédioSeminário de Literatura para Ensino Médio
Seminário de Literatura para Ensino Médio
 
Intertextualidade
IntertextualidadeIntertextualidade
Intertextualidade
 
Figuras de linguagem
Figuras de linguagem Figuras de linguagem
Figuras de linguagem
 
Gêneros e tipos textuais
Gêneros e tipos textuaisGêneros e tipos textuais
Gêneros e tipos textuais
 
Manuel Bandeira
Manuel BandeiraManuel Bandeira
Manuel Bandeira
 
Aula intertextualidade
Aula intertextualidadeAula intertextualidade
Aula intertextualidade
 
Romance
RomanceRomance
Romance
 
Gênero lírico
Gênero líricoGênero lírico
Gênero lírico
 
Trovadorismo I
Trovadorismo ITrovadorismo I
Trovadorismo I
 
O pré modernismo
O pré modernismoO pré modernismo
O pré modernismo
 
1.3 ortografia
1.3   ortografia1.3   ortografia
1.3 ortografia
 
2ª fase do modernismo brasileiro
2ª fase do modernismo brasileiro2ª fase do modernismo brasileiro
2ª fase do modernismo brasileiro
 
Personificação (figura de linguagem)
Personificação (figura de linguagem)Personificação (figura de linguagem)
Personificação (figura de linguagem)
 
Aula vanguardas europeias
Aula vanguardas europeiasAula vanguardas europeias
Aula vanguardas europeias
 
LÍNGUA PORTUGUESA | SEMANA 34 | 3ª SÉRIE | GÊNEROS TEXTUAIS E COMPARAÇÃO DE ...
LÍNGUA PORTUGUESA | SEMANA 34 | 3ª SÉRIE  | GÊNEROS TEXTUAIS E COMPARAÇÃO DE ...LÍNGUA PORTUGUESA | SEMANA 34 | 3ª SÉRIE  | GÊNEROS TEXTUAIS E COMPARAÇÃO DE ...
LÍNGUA PORTUGUESA | SEMANA 34 | 3ª SÉRIE | GÊNEROS TEXTUAIS E COMPARAÇÃO DE ...
 

Destaque

Dossie darwin (ravista_darcy_01)
Dossie darwin (ravista_darcy_01)Dossie darwin (ravista_darcy_01)
Dossie darwin (ravista_darcy_01)
ProfDelminda
 
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosaAnálise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
ma.no.el.ne.ves
 
Manoel de Barros - Manoel por Manoel
Manoel de Barros - Manoel por ManoelManoel de Barros - Manoel por Manoel
Manoel de Barros - Manoel por Manoel
Amadeu Wolff
 
Analise sobre o poema ''Poética'' de Manuel Bandeira
Analise sobre o poema ''Poética'' de Manuel BandeiraAnalise sobre o poema ''Poética'' de Manuel Bandeira
Analise sobre o poema ''Poética'' de Manuel Bandeira
Mayara Maia
 
Segunda aplicação do enem 2013: Literatura
Segunda aplicação do enem 2013: LiteraturaSegunda aplicação do enem 2013: Literatura
Segunda aplicação do enem 2013: Literatura
ma.no.el.ne.ves
 
Análise do poema poética, de manuel bandeira
Análise do poema poética, de manuel bandeiraAnálise do poema poética, de manuel bandeira
Análise do poema poética, de manuel bandeira
ma.no.el.ne.ves
 

Destaque (12)

Dossie darwin (ravista_darcy_01)
Dossie darwin (ravista_darcy_01)Dossie darwin (ravista_darcy_01)
Dossie darwin (ravista_darcy_01)
 
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosaAnálise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
Análise de o burrinho pedrês, de guimarães rosa
 
Manoel de Barros
Manoel de BarrosManoel de Barros
Manoel de Barros
 
Um estudo do léxico em Matéria de poesia, de Manoel de barros
Um estudo do léxico em Matéria de poesia, de Manoel de barrosUm estudo do léxico em Matéria de poesia, de Manoel de barros
Um estudo do léxico em Matéria de poesia, de Manoel de barros
 
Manoel de Barros - Manoel por Manoel
Manoel de Barros - Manoel por ManoelManoel de Barros - Manoel por Manoel
Manoel de Barros - Manoel por Manoel
 
Analise sobre o poema ''Poética'' de Manuel Bandeira
Analise sobre o poema ''Poética'' de Manuel BandeiraAnalise sobre o poema ''Poética'' de Manuel Bandeira
Analise sobre o poema ''Poética'' de Manuel Bandeira
 
Poetas da contemporaneidade: Adélia Prado, Manoel de Barros e José Paulo Paes
Poetas da contemporaneidade: Adélia Prado, Manoel de Barros e José Paulo PaesPoetas da contemporaneidade: Adélia Prado, Manoel de Barros e José Paulo Paes
Poetas da contemporaneidade: Adélia Prado, Manoel de Barros e José Paulo Paes
 
A epifania e a náusea em amor, de Clarice Lispector
A epifania e a náusea em amor, de Clarice LispectorA epifania e a náusea em amor, de Clarice Lispector
A epifania e a náusea em amor, de Clarice Lispector
 
Portugues
PortuguesPortugues
Portugues
 
Segunda aplicação do enem 2013: Literatura
Segunda aplicação do enem 2013: LiteraturaSegunda aplicação do enem 2013: Literatura
Segunda aplicação do enem 2013: Literatura
 
Análise do poema poética, de manuel bandeira
Análise do poema poética, de manuel bandeiraAnálise do poema poética, de manuel bandeira
Análise do poema poética, de manuel bandeira
 
Poemas Manoel de Barros
Poemas Manoel de BarrosPoemas Manoel de Barros
Poemas Manoel de Barros
 

Semelhante a Manoel de Barros: o poeta que é apanhador de desperdícios

Modernismo brasil 1ª fase
Modernismo brasil 1ª faseModernismo brasil 1ª fase
Modernismo brasil 1ª fase
rillaryalvesj
 
manoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdf
manoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdfmanoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdf
manoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdf
AnaMauraTavares1
 
A forma artística e alguns conceitos de literatura
A forma artística e alguns conceitos de literaturaA forma artística e alguns conceitos de literatura
A forma artística e alguns conceitos de literatura
Márcio Hilário
 
Ler 109entrevista mapina
Ler 109entrevista mapinaLer 109entrevista mapina
Ler 109entrevista mapina
joaocarreir
 
Fernandopessoa1
Fernandopessoa1 Fernandopessoa1
Fernandopessoa1
satense
 
Segunda prova do ENEM-2010: Literatura
Segunda prova do ENEM-2010: LiteraturaSegunda prova do ENEM-2010: Literatura
Segunda prova do ENEM-2010: Literatura
ma.no.el.ne.ves
 

Semelhante a Manoel de Barros: o poeta que é apanhador de desperdícios (20)

Modernismo brasil 1ª fase
Modernismo brasil 1ª faseModernismo brasil 1ª fase
Modernismo brasil 1ª fase
 
Modernismo brasil 1ª fase
Modernismo brasil 1ª faseModernismo brasil 1ª fase
Modernismo brasil 1ª fase
 
Modernismobrasil1fase
Modernismobrasil1faseModernismobrasil1fase
Modernismobrasil1fase
 
Modernismo
ModernismoModernismo
Modernismo
 
Aula 23 modernismo no brasil - 1ª fase
Aula 23   modernismo no brasil - 1ª faseAula 23   modernismo no brasil - 1ª fase
Aula 23 modernismo no brasil - 1ª fase
 
manoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdf
manoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdfmanoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdf
manoel-de-barros-meu-quintal-e-maior-que-o-mundo-pdf.pdf
 
Portugues3em
Portugues3emPortugues3em
Portugues3em
 
Manuel bandeira
Manuel bandeiraManuel bandeira
Manuel bandeira
 
Resenha temática
Resenha temáticaResenha temática
Resenha temática
 
A forma artística e alguns conceitos de literatura
A forma artística e alguns conceitos de literaturaA forma artística e alguns conceitos de literatura
A forma artística e alguns conceitos de literatura
 
Ler 109entrevista mapina
Ler 109entrevista mapinaLer 109entrevista mapina
Ler 109entrevista mapina
 
Gênero lírico no enem
Gênero lírico no enemGênero lírico no enem
Gênero lírico no enem
 
Aula 27 produções contemporâneas em portugal e no brasil
Aula 27   produções contemporâneas em portugal e no brasilAula 27   produções contemporâneas em portugal e no brasil
Aula 27 produções contemporâneas em portugal e no brasil
 
Fernando pessoa
Fernando pessoaFernando pessoa
Fernando pessoa
 
Fernandopessoa1
Fernandopessoa1 Fernandopessoa1
Fernandopessoa1
 
Segunda prova do ENEM-2010: Literatura
Segunda prova do ENEM-2010: LiteraturaSegunda prova do ENEM-2010: Literatura
Segunda prova do ENEM-2010: Literatura
 
AULA DIGITAL L.P
AULA DIGITAL L.PAULA DIGITAL L.P
AULA DIGITAL L.P
 
prosas-seguidas-de-odes-mnimas_compress.pdf
prosas-seguidas-de-odes-mnimas_compress.pdfprosas-seguidas-de-odes-mnimas_compress.pdf
prosas-seguidas-de-odes-mnimas_compress.pdf
 
Em intertextualidade
Em intertextualidadeEm intertextualidade
Em intertextualidade
 
Modernismo_em_Portugal_e_Fernando_Pessoa.pptx
Modernismo_em_Portugal_e_Fernando_Pessoa.pptxModernismo_em_Portugal_e_Fernando_Pessoa.pptx
Modernismo_em_Portugal_e_Fernando_Pessoa.pptx
 

Último

Evolução - Teorias evolucionistas - Darwin e Lamarck
Evolução - Teorias evolucionistas - Darwin e LamarckEvolução - Teorias evolucionistas - Darwin e Lamarck
Evolução - Teorias evolucionistas - Darwin e Lamarck
luanakranz
 
5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf
5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf
5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf
edjailmax
 
INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]
INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]
INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]
ESCRIBA DE CRISTO
 

Último (20)

Aproveitando as ferramentas do Tableau para criatividade e produtividade
Aproveitando as ferramentas do Tableau para criatividade e produtividadeAproveitando as ferramentas do Tableau para criatividade e produtividade
Aproveitando as ferramentas do Tableau para criatividade e produtividade
 
Conteúdo sobre a formação e expansão persa
Conteúdo sobre a formação e expansão persaConteúdo sobre a formação e expansão persa
Conteúdo sobre a formação e expansão persa
 
Exercícios de Clima no brasil e no mundo.pdf
Exercícios de Clima no brasil e no mundo.pdfExercícios de Clima no brasil e no mundo.pdf
Exercícios de Clima no brasil e no mundo.pdf
 
CIDADANIA E PROFISSIONALIDADE 4 - PROCESSOS IDENTITÁRIOS.pptx
CIDADANIA E PROFISSIONALIDADE 4 - PROCESSOS IDENTITÁRIOS.pptxCIDADANIA E PROFISSIONALIDADE 4 - PROCESSOS IDENTITÁRIOS.pptx
CIDADANIA E PROFISSIONALIDADE 4 - PROCESSOS IDENTITÁRIOS.pptx
 
Atividade-9-8o-ano-HIS-Os-caminhos-ate-a-independencia-do-Brasil-Brasil-Colon...
Atividade-9-8o-ano-HIS-Os-caminhos-ate-a-independencia-do-Brasil-Brasil-Colon...Atividade-9-8o-ano-HIS-Os-caminhos-ate-a-independencia-do-Brasil-Brasil-Colon...
Atividade-9-8o-ano-HIS-Os-caminhos-ate-a-independencia-do-Brasil-Brasil-Colon...
 
Evolução - Teorias evolucionistas - Darwin e Lamarck
Evolução - Teorias evolucionistas - Darwin e LamarckEvolução - Teorias evolucionistas - Darwin e Lamarck
Evolução - Teorias evolucionistas - Darwin e Lamarck
 
DIFERENÇA DO INGLES BRITANICO E AMERICANO.pptx
DIFERENÇA DO INGLES BRITANICO E AMERICANO.pptxDIFERENÇA DO INGLES BRITANICO E AMERICANO.pptx
DIFERENÇA DO INGLES BRITANICO E AMERICANO.pptx
 
04_GuiaDoCurso_Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness.pdf
04_GuiaDoCurso_Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness.pdf04_GuiaDoCurso_Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness.pdf
04_GuiaDoCurso_Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness.pdf
 
O autismo me ensinou - Letícia Butterfield.pdf
O autismo me ensinou - Letícia Butterfield.pdfO autismo me ensinou - Letícia Butterfield.pdf
O autismo me ensinou - Letícia Butterfield.pdf
 
5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf
5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf
5ca0e9_ea0307e5baa1478490e87a15cb4ee530.pdf
 
Recurso da Casa das Ciências: Bateria/Acumulador
Recurso da Casa das Ciências: Bateria/AcumuladorRecurso da Casa das Ciências: Bateria/Acumulador
Recurso da Casa das Ciências: Bateria/Acumulador
 
Poema - Reciclar é preciso
Poema            -        Reciclar é precisoPoema            -        Reciclar é preciso
Poema - Reciclar é preciso
 
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptxSlides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
Slides Lição 9, Betel, Ordenança para uma vida de santificação, 2Tr24.pptx
 
Apresentação de vocabulário fundamental em contexto de atendimento
Apresentação de vocabulário fundamental em contexto de atendimentoApresentação de vocabulário fundamental em contexto de atendimento
Apresentação de vocabulário fundamental em contexto de atendimento
 
Eurodeputados Portugueses 2019-2024 (nova atualização)
Eurodeputados Portugueses 2019-2024 (nova atualização)Eurodeputados Portugueses 2019-2024 (nova atualização)
Eurodeputados Portugueses 2019-2024 (nova atualização)
 
Hans Kelsen - Teoria Pura do Direito - Obra completa.pdf
Hans Kelsen - Teoria Pura do Direito - Obra completa.pdfHans Kelsen - Teoria Pura do Direito - Obra completa.pdf
Hans Kelsen - Teoria Pura do Direito - Obra completa.pdf
 
INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]
INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]
INTRODUÇÃO A ARQUEOLOGIA BÍBLICA [BIBLIOLOGIA]]
 
América Latina: Da Independência à Consolidação dos Estados Nacionais
América Latina: Da Independência à Consolidação dos Estados NacionaisAmérica Latina: Da Independência à Consolidação dos Estados Nacionais
América Latina: Da Independência à Consolidação dos Estados Nacionais
 
Curso de Direito do Trabalho - Maurício Godinho Delgado - 2019.pdf
Curso de Direito do Trabalho - Maurício Godinho Delgado - 2019.pdfCurso de Direito do Trabalho - Maurício Godinho Delgado - 2019.pdf
Curso de Direito do Trabalho - Maurício Godinho Delgado - 2019.pdf
 
Junho Violeta - Sugestão de Ações na Igreja
Junho Violeta - Sugestão de Ações na IgrejaJunho Violeta - Sugestão de Ações na Igreja
Junho Violeta - Sugestão de Ações na Igreja
 

Manoel de Barros: o poeta que é apanhador de desperdícios

  • 1. Manoel de BarrosO poeta que é apanhador de desperdícios Natielle Lopes da Costa Segundo ano de Letras (UNIOESTE)
  • 2. “Meu avesso é mais visível do que um poste. [...] Não saio de dentro de mim nem pra pescar.” Manoel de Barros
  • 3. O POETA • Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu na cidade de Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, formou-se em direito em 1941 no Rio de Janeiro e, embora tenha contato com a poesia desde os 13 anos, escreveu seu primeiro poema aos 19 anos. Em sua primeira audiência como advogado ficou tão nervoso que vomitou nos papéis. Viveu como fazendeiro e poeta. Recebeu muitos prêmios literários e foi considerado um dos maiores poetas da contemporaneidade.
  • 4. O QUE DIZEM DO POETA • Foi declarado o maior poeta vivo por Carlos Drummond de Andrade, no ano de 1986. • “Visionário da humildade e solidariedade humanas” — Antônio Houaiss, filólogo brasileiro. • “Originalidade, absurdez, infantilidade, síntese, mas principalmente esse absurdo verossímil que a gente vê no mundo infantil, mas com muita estética.” —Pedro Cezar, diretor. (Sobre as obras do poeta)
  • 5. O POETA SOBRE SI Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz. Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo. Descobri que todos os caminhos levam à ignorância. Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore. (Autorretrato Falado, Livro das ignorãças, 1993, p.107)
  • 6. A TIMIDEZ • Quando José Castello entrevistou Manoel de Barros para o jornal Estado, assim descreveu sua experiência: “Imaginava Manoel de Barros magro e triste, mas ele é gorducho e enérgico. Imaginava um homem ingênuo, que passasse os dias entre cachorros e passarinhos - mas ele ouve concertos clássicos, lê Kant, Benjamin e Roland Barthes e toma cerveja com psicanalistas. Caí na armadilha de seus poemas. E talvez fosse isso o que, mantendo-se escondido, ele desejasse preservar: os versos. Manoel fala como qualquer senhor respeitável de 80 anos; não fala "torto", como falam seus poemas. É essa fala reta, provavelmente, o que ele chama de timidez: o homem comum que se esconde detrás dos versos insensatos.” (CASTELLO, J.)
  • 7. A TIMIDEZ • Embora reconhecido contemporaneamente, Manoel de Barros passou grande parte de sua carreira no anonimato. Quanto a isso, o autor já afirmou: “foi por minha culpa mesmo. Sou muito orgulhoso, nunca procurei ninguém, nem freqüentei rodas, nem mandei um bilhete. Uma vez pedi emprego a Carlos Drummond de Andrade no Ministério da Educação e ele anotou o meu nome. Estou esperando até hoje.”
  • 8. A TIMIDEZ “ A palavra oral não dá rascunho” — Manoel de Barros • Quando o diretor Pedro Cezar decidiu fazer o documentário Só dez por cento é mentira sobre Manoel de Barros, convencer o autor a deixar registrá-lo em vídeo não foi uma tarefa fácil, uma vez que Manoel afirma ser um “ser letral”. Depois de muito insistir, Pedro Cezar desistiu e disse em uma conversa: “Manoel, deixa essa história toda pra lá. Isso era um sonho, mas posso viver sem isso.” Este foi o argumento que fez com que Manoel de Barros tomasse remédio para não ficar nervoso durante a entrevista. O longa-metragem é organizado alternando-se em trechos da entrevista com o autor, versos de sua obra e depoimentos de leitores. O documentário ganhou os prêmios de melhor documentário longa-metragem do II Festival Paulínia de Cinema 2009 e os prêmios de melhor direção de longa-metragem documentário e melhor filme documentário longa-metragem do V Fest Cine Goiânia 2009.
  • 9. A DIDÁTICA DA CRIAÇÃO • Tudo o que Manoel de Barros criou foi escrito em blocos de notas que ele mesmo criava em um quarto 3x4 nomeado pelo poeta de “lugar de ser inútil”, como relata o diretor/narrador Pedro Cezar do documentário Só dez por cento é mentira. • As obras de Manoel não chamavam atenção pelos temas tratados pelo autor, mas sim pela forma como trabalhava com os mesmos e a linguagem da qual utilizava-se.
  • 10. A DIDÁTICA DA CRIAÇÃO • Em uma entrevista ao Globo, no ano de 1998, Manoel afirmou: “Eu estou trabalhando com a palavra e aí me vem uma ideia. E por isso não acredito em inspiração, acredito em trabalho. Mas sei também que transformar palavra em verso, combinar o ritmo com a ressonância verbal, é um dom linguístico. Tenho frases poéticas que são versos. Sei fazer frases.”
  • 11. O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO • Se tratando de arte, é notório o que afirma Chklovski: “E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama de arte. O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento [...]” (CHKLOVSKI, V., 1917, p. 45) Ou seja, a arte tem como objetivo levar o leitor ao estranhamento. Uma simples notícia de jornal só faz com que o leitor tenha uma visão mecânica, uma vez que está em contato com uma linguagem prosaica. A arte, pelo contrário, não faz uso desta linguagem comum, seja na prosa ou na poesia, como vemos nas obras de Manoel de Barros.
  • 12. O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO • Sobre a linguagem utilizada em suas obras, assim afirma Manoel: Escrevo o idioleto manoelês archaico (Idioleto é o dialeto que os idiotas usam para falar com as paredes e com as moscas). Preciso atrapalhar as significâncias. (BARROS apud Dias, 2009, p.131)
  • 13. O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO • Assim afirma Dias sobre a linguagem usada por Manoel de Barros em suas obras: Trata-se de uma trangressão, porém armada de consciência quanto aos modos de agenciamento da linguagem, na qual é possível fazer coexistirem numa só palavra outras em plena (e fértil) contradição: o “dessaber”, que finaliza o verso citado de 1 Em Inútil poesia, Leyla Perrone-Moisés comenta sobre essa noção de (in)utilidade da poesia, lembrando-nos de Mallarmé e Leminski. Manoel de Barros, contém ocultos em seu corpo outros signos que a leitura deve recuperar: dissabor, saber, não saber, sabor. É aí, nessa conjugação entre familiaridade – afinal, o eu poético se instala “nos fundos do quintal” – e distanciamento crítico – a invenção de signos que desacomodam o conhecido – que essa poesia acontece, afirma-se enquanto linguagem. (DIAS, M., 2009.)
  • 14. O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO • O jornal online Jornal de Poesia traz um artigo de Edna Menezes referente a Manoel. Quanto ao estilo do autor, afirma Edna: “No que se refere ao estilo, a poética de Manoel de Barros distancia-se do padrão estético e estilístico da literatura moderna e contemporânea de maneira que o universo é transfigurado por intermédio de uma linguagem que se desvela em imagens inusitadas. Nesse contexto, a idealização dos elementos banais retirados do cotidiano mediante o uso da temática telúrico-pantaneira, permite que o poeta reinvente o mundo por ele contemplado através da palavra criadora. O estilo de Manoel de Barros sustenta-se na combinação dos vocábulos de maneira inédita, fato que acarreta numa linguagem inovadora com expressões insólitas e distantes ao lugar comum. Essa linguagem, muitas vezes aproveitada do dialeto pantaneiro, se junta a uma temática que ultrapassa o regionalismo e vai a busca da palavra em sua essência profunda e primitiva. Assim, a obra barreana caracteriza-se como um verdadeiro artesanato da palavra, ou, às vezes, como um grande laboratório vocabular em que o artista opera cada significado verbal e continua “re- buscando” novas dimensões lingüísticas. Com efeito, o leitor depara-se com uma realidade fragmentada e marcada pela utilização de neologismos (invenção da linguagem). Conhecer a obra de Manoel de Barros é se deixar levar pela magia de um mundo novo, um mundo no qual as coisas possuem um sentido inusitado e deixam emanar a essência vital do universo.” (MENEZES, E.)
  • 15. O IDIOLETO MANOELÊS ARCHAICO • Ainda no que diz respeito a linguagem utilizada por Manoel, pode-se observar este fragmento de uma entrevista concedida pelo autor ao jornal Estado. Estado - Poemas são assim tão perigosos? Os seus costumam ser adotados nas provas de vestibular. Você não gosta. Por quê? Manoel - Faço uma poesia difícil. Depois, cair no mundo das imagens não é para qualquer um. Ainda mais para adolescentes. Adolescentes querem as coisas retas, senão não aceitam. E minha poesia é torta. Estado - Eles exigem, no mínimo, professores muito preparados. Manoel - Mas nem os professores me digerem. Há pouco tempo, chegou aqui em casa uma das coordenadoras do vestibular em Mato Grosso. Ela me disse: "Eu não entendo nada de seus livros. Se me permitir dizer a verdade, eu vou dizer: seus livros são uma m...!" Estado - E como você reagiu? Manoel - Eu lhe disse: "Olhe, minha querida, se meus poemas são difíceis, a culpa não é minha. Juro que não tenho culpa. Meus poemas sofrem de mim."
  • 16. O POETA E OS OBJETOS “As coisas tinham para nós uma desutilidade poética Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber” (BARROS, M., Livro sobre nada, 1996, p. 11)
  • 17. O POETA E OS OBJETOS • Como já afirmado, os escritos de Manoel não chamam a atenção do leitor por o que escreve, mas como escreve. Assim, pode-se citar o que afirma Dias: A poesia de Manoel de Barros desperta a atenção do leitor não tanto pela temática que traz em sua linguagem quanto, principalmente, pela forma inusitada como (re)configura essa matéria enquanto dizer. Falar sobre o mundo e criar um meio singular que dê corpo a essa fala são gestos simultâneos – projeto em afinidade com uma tradição poética que faz da palavra sujeito e objeto, uma autoconsciência onde se alojam criação e leitura, espírito crítico e ludicidade.
  • 18. O POETA E OS OBJETOS • Observa-se a maneira com que Manoel de Barros lida com os objetos em seus escritos, consoante afirma Azevedo “ele está propondo uma poética que vai levar a linguagem às últimas consequências, pois vai desabrigar a palavra de seu sentido usual [...]”ou como afirma a leitora Bianca, no documentário sobre o autor Só dez por cento é mentira “Eu acho que é por isso que ele vai falar com a nova geração [...] ele escreve do ponto de vista da coisa: é como se os objetos pedissem ‘pelo amor de Deus, me liberte dessa função de ser apenas uma cadeira pra sentar’ [...] Uma cadeira pode servir poeticamente pra duzentos milhões de coisas. Eu acho que aí é que ele é libertador.”
  • 19. O POETA E OS OBJETOS “As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis Elas desejam ser olhadas de azul” — Manoel de Barros
  • 20. DESENHOS • Além de seus escritos, Manoel de Barros criava desenhos. Quanto a estes, dizia que são desenhos verbais, pois é quando se “consegue colocar uma imagem na vista do leitor”. “ Imagens são palavras que nos faltaram” — Manoel de Barros
  • 21. MORTE • Manoel de Barros morreu aos 97 anos no dia 13 de novembro de 2014, por falência múltipla de órgãos, depois de uma cirurgia. • Sua filha Martha disse em uma entrevista ao O Globo que, depois da morte de seu filho em 2013 e por causa da idade, “ele estava se apagando como uma velinha”.
  • 22. MORTE • “Ao ser indagado sobre como gostaria de ser lembrado, Manoel ri, coça o peito, diz que a pergunta é cruel; já mais sério, fala que o único jeito é pela poesia. “A gente nasce, cresce, amadurece, envelhece, morre. Pra não morrer, tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste”.” (Trecho de reportagem sobre Manoel em O Globo)
  • 23.
  • 24. Referências LEITE, Carlos Willian. ‘O maior poeta vivo’ in Os 10 melhores poemas de Manoel de Barros. Revista bula. Disponível em: http://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-poemas-de-manoel-de-barros/ Acesso em: 19 de dez. de 2015. BARROS, Manoel Wenceslau Leite de. O livro sobre nada (fragmentado) in Se não canto, pelo menos grito. Disponível em: http://blogdoitarcio2.blogspot.com.br/2015/07/o-livro-sobre-nada-sempre-que- desejo.html Acesso em: 23 de dez. de 2015. Lista de reprodução "Estante de Vídeo & Áudio-Livros" do canal YouTube CarlosAlbertoDidier. Documentário "Só dez por cento é mentira" sobre a vida e a obra de Manoel de Barros, dirigido por Pedro Cezar (2008). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QZLC8wNVtfs Acesso em: 23 de dez. de 2015. COLOMBO, Patrícia. O poeta do povo in Revista Rolling Stone. Disponível em: http://rollingstone.uol.com.br/noticia/manoel-de-barros-o-poeta-do-povo/ Acesso em: 23 de dez. de 2015. AZEVEDO, C. S. . A "desutilidade poética" de Manoel de Barros- questão de poesia ou filosofia?. Revista.doc , v. 03, p. 1-13, 2003. Disponível em: http://www.sjpambrosiasabatovich.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/3/2570/1890/arquivos/File/Poesia.pdf Acesso em: 23 de dez. de 2015. MENEZES, E. Manoel de Barros: O poeta universal do Mato Grosso do Sul in Jornal de Poesia. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/ednamenezes1.html Acesso em: 26 de dez. de 2015.
  • 25. Referências Chklovski in “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I: Textos dos Formalistas Russos apresentados por Tzvetan Todorov, Edições 70, Lisboa, 1999. DIAS, M. H. M. ; Espaço e linguagem na poesia de Manoel de Barros: uma constante (des)aprendizagem. Antares: Letras e Humanidades , v. 1, p. 125-133, 2009. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/antares/article/viewFile/304/264 Acesso em: 23 de dez. de 2015. Entrevista. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/castel11.html Acesso em: 23 de dez. de 2015. CASTELLO, J. Manoel de Barros faz do absurdo sensatez in Jornal da Poesia. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/castel11.html Acesso em: 23 de dez. de 2015. Morte de Manoel de Barros e entrevista de 1998. Morre o Poeta Manoel de Barros, aos 97 anos in O Globo. Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/morre-poeta-manoel-de-barros-aos-97-anos- 14548514 Acesso em: 26 de dez. de 2016.
  • 26. Referências Imagens: (Imagem 1): Reprodução: Google imagens. Disponível em: https://catracalivre.com.br/wp- content/uploads/2015/09/Manoel-de-Barros.jpg Acesso em: 23 de dez. de 2015. (Imagem 2): Desenho de Manoel de Barros. Manoel de Barros – O Falso Primitivo in Tanto. Disponível em: http://www.tanto.com.br/ericponty.htm Acesso em: 23 de dez. de 2015. (Imagem 3): Manoel em cena do documentário "Dedicatória". Aos 97 anos, Manoel de Barros renasce em “Bernardo” e com poesia inédita in Lado B. Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/lado-b/artes-23-08-2011-08/aos-97-anos-manoel-de- barros-renasce-em-bernardo-e-com-poesia-inedita Acesso em: 23 de dez. de 2015.