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HUMANISMO




Arte de Transição
Sobre “Os efeitos de um bom governo”, de Ambrogio
                       Lorenzetti

• Que cena é retratada e em que espaço
  ela acontece?
• É possível reconhecer, na cena, alguma
  característica medieval? Qual?
• As pessoas retratadas parecem ser todas
  do mesmo segmento social?
• Não há, na obra, nenhuma referência à
  religião. O que essa ausência sugere em
  relação à perspectiva teocêntrica
  medieval e ao papel do ser humano na
  construção do próprio destino?
Contexto econômico e político do humanismo


• O Humanismo é um período histórico entre os séculos XIV e
  XV – ou seja, na transição entre a idade média e o
  renascimento;
• Surgimento e ascensão da burguesia mercantil (poder
  econômico e político dividido com a aristocracia);
• A maior parte da população européia de baixa renda
  abandona os feudos e passa a habitar os burgos – cidades-
  estado (principalmente na Itália) – onde se pratica livremente
  o comércio;
• Roma, Milão, Florença, Veneza, Mântua, Ferrara e várias
  outras cidades-estado italianas dominam o comércio marítimo
  com o oriente;
• Desenvolvimento de formas republicanas de governo
  (administração a cargo de um magistrado-chefe eleito pelos
  cidadãos);
Contexto cultural e ideológico

• A burguesia passa a investir em cultura, algo que até
  então era feito apenas pela igreja e pelos grandes
  soberanos;
• Com o enfraquecimento do poder da igreja sobre a
  cultura, há uma verdadeira redescoberta de textos e
  autores da antiguidade clássica (greco-latina);
• O foco dos humanistas é o ser humano, o que os afasta
  do teocentrismo medieval;
• Resgata-se, assim, a visão antropocêntrica
  característica da cultura greco-romana;
• O imaginário cristão, porém, ainda é uma constante na
  obra dos artistas da época, como se vê n’A Divina
  Comédia, exemplo mais expressivo da manutenção
  deste imaginário.
A Divina Comédia - Dante Alighieri (1265 – 1321)
 • Poema épico escrito entre 1307 e 1321;
 • Narra a viagem de Dante aos três destinos reservados à
   alma humana segundo o imaginário católico: inferno,
   purgatório e paraíso;
 • Em sua jornada pelo inferno e pelo purgatório, Dante é
   guiado por Virgílio (70 a.C. – 19 a.C.), poeta romano, autor
   da Eneida, poema épico que narra a formação da nação
   italiana. É considerado um dos maiores poetas latinos;
 • No paraíso – onde Virgílio não podia entrar, já que não
   havia sido batizado – Dante é recebido por sua amada
   Beatriz;
 • Segundo alguns estudiosos, Beatriz representa, na obra, a
   fé, enquanto Virgílio representa a razão;
 • São justamente a fé e a razão os dois pólos em que se
   debate, filosoficamente, o homem do humanismo;
A tensão entre o velho e o novo


  • A literatura humanista, como sua natureza, digamos,
    transitória, já indica, não tem características completamente
    definidas: o velho e o novo convivem, provocando uma
    tensão que se evidencia na produção artística e cultural;
  • Os traços mais marcantes da literatura do período é um
    lento abandono à subordinação até então imposta pela
    igreja católica e o resgate dos padrões clássicos;
  • Com o estudo das obras greco-latinas, surge um olhar
    racional sobre o mundo, que procura na ciência
    explicações para fenômenos naturais até então atribuídos a
    Deus.
O público e os temas

• Assim como no trovadorismo, a literatura humanista
  circula no ambiente aristocrático das cortes e dos
  palácios;
• “O objetivo dessa produção, porém, se modifica. Não
  se trata mais de criar representações literárias de
  uma determinada ordem social, porque os dias do
  feudalismo estão chegando ao fim, levando com eles
  a tradição cavalheiresca e os ideais de subordinação
  social e amorosa. A literatura, agora, volta-se para o
  prazer e a diversão da aristocracia”;
• Com o interesse cada vez maior da burguesia em
  “ilustrar-se”, este público vai mudar, mas de forma
  lenta. Esta mudança vai acontecer, de forma mais
  concreta, somente no Renascimento.
Uma invenção que faz toda a diferença!

Por volta de 1450, Johann Gutenberg cria a
prensa e revoluciona a produção de livros
na Europa, fazendo com que a cultura oral
comece a perder espaço para a cultura
escrita. Essa mudança no contexto de
circulação das obras permitirá que escritores e
poetas explorem novos recursos de linguagem
que não dependem da oralidade e da memória,
fatores a que, até então, estavam subordinados.
Enquanto isso, em Portugal...
• Quando o humanismo chega a Portugal, no início
  do reinado da Dinastia de Avis (1385), a produção
  poética vive uma crise: entre 1350 e 1450 não se
  tem notícia da circulação de textos poéticos no
  país.
• O que está em voga é a crônica historiográfica e a
  prosa doutrinária (tipo de manual de bons
  costumes para os fidalgos da corte).
• O ressurgimento da poesia em Portugal irá
  acontecer apenas na segunda metade do século
  XV, durante o reinado de D. Afonso V, incentivador
  das artes e da cultura.
• É neste contexto que surge o teatro de Gil Vicente,
  mas, antes dele...
Fernão Lopes (1378 – 1459)
  • A nomeação de Fernão Lopes como
    cronista-mor do reino, em 1434, é
    considerada o marco inicial do
    humanismo português.
  • Sua função era registrar, em crônicas, as
    histórias dos reis que governaram
    Portugal.
  • Por seu estilo e isenção na descrição dos
    acontecimentos da história de Portugal,
    Fernão Lopes é considerado o “pai da
    historiografia portuguesa”.
  • Pela primeira vez, com Fernão Lopes, o
    povo vai aparecer como personagem
    importante na história do país.
  • É também a partir dos textos de Fernão
    Lopes que a língua portuguesa vai atingir
    um certo padrão, um modelo que a
    diferencia do castelhano, por exemplo.
Gil Vicente
                       (1465 – 1536)

É considerado o primeiro grande dramaturgo
português;
 - Sua primeira peça conhecida é o Auto da
Visitação ou Monólogo do Vaqueiro (1502) – uma
homenagem à rainha, D. Maria, pelo nascimento
de seu filho, o futuro rei D. João III.
- O texto e a encenação (feita, segundo consta,
pelo próprio autor) agradaram tanto a rainha que
Gil Vicente tornou-se seu protegido;
- Foi sob a proteção do rei D. Manuel (esposo de
D. Maria) e, mais tarde, de D. João III, que Gil
Vicente irá escrever boa parte de sua obra
dramatúrgica, composta basicamente de autos e
farsas.
Os autos de Gil Vicente caracterizam-se por:
• Uma estrutura composta de quadros justapostos
  (sketches) que, em geral, podem ser apresentados de
  forma autônoma;
• Personagens que são tipos comuns dentro das
  instituições que faziam parte da sociedade portuguesa da
  época;
• Escritos em verso, com esquema de rimas (geralmente
  redondilhas menores ou maiores – versos de cinco ou sete
  sílabas poéticas);
• Linguagem coloquial (adaptada à classe social de cada
  personagem);
• Apresentam um teor de crítica social, que funciona como
  agente moralizante, e um fundo religioso (cristão, mas
  não dogmático) bem característicos do humanismo.
• Em seus textos, Gil Vicente vale-se da sátira alegórica
  para...
- Denunciar os exploradores do povo, como o fidalgo, o
  sapateiro e o agiota do Auto da barca do inferno;

- Ridicularizar condutas condenáveis como a do velho
   protagonista de O velho da horta ou a de Inês Pereira,
   personagem principal de A farsa de Inês Pereira;

Como não há distinção entre os segmentos sociais ( os
defeitos comportamentais de ricos, pobres, nobres e
plebeus são igualmente criticados – os únicos que
escapam são os membros da família real), o teatro de Gil
Vicente funciona como um rico painel da sociedade de seu
tempo.
Personagens TIPOS.

           Todo = instituição



           Um = indivíduo


           Tipo = conjunto
           dentro do todo.
           Representação
           coletiva social
           ou psicológica
Caso do Rei
                Todo = Um




              Não há Tipo =
              conjunto dentro do
              todo.
              O rei é, por si
              mesmo, uma
              instituição.
A visão de inferno da época
O AUTO DA BARCA DO
          INFERNO (1517)
Peça mais importante de Gil Vicente, pertencente
  à trilogia das Barcas (da Glória, do Purgatório e
  do Inferno).
Demonstra o maniqueísmo cristão, dividindo o
  mundo entre o Bem e o Mal, com conseqüentes
  Céu e Inferno.
É um auto de moralidade.
Alegoria simples e simbólica.
O AUTO DA BARCA DO
          INFERNO (1517)
A história é simples: os personagens que chegam
vão sendo conduzidos pelos barqueiros (diabo e
anjo) para as respectivas barcas, que levam,
respectivamente, ao Inferno e ao Céu.

As falas são marcadas por muita ironia,
principalmente pelo diabo, que é o personagem que
mais se destaca no auto.

É uma peça de religiosidade alegórica.
Os arrais (barqueiros):

          Diabo: tem um ajudante, é
          liberal, recebe todos com
          humor e simpatia (ainda que
          falsa), argumenta muito,
          ouve, pondera o que as
          pessoas têm a dizer antes de
          condená-las. É um ótimo
          anfitrião.
Anjo: argumenta pouco, é
calado, frio, discreto e
autoritário.
Passagem do Fidalgo
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel   FIDALGO Parece-te a ti assi!...
infernal, diz:                       DIABO Em que esperas ter guarida?
                                     FIDALGO Que leixo na outra vida
FIDALGO Esta barca onde vai ora,       quem reze sempre por mi.
  que assi está apercebida?          DIABO Quem reze sempre por ti?!..
DIABO Vai pera a ilha perdida,         Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
  e há-de partir logo ess'ora.         E tu viveste a teu prazer,
FIDALGO Pera lá vai a senhora?         cuidando cá guarecer
DIABO Senhor, a vosso serviço.         por que rezam lá por ti?!...
FIDALGO Parece-me isso cortiço...       Embarca - ou embarcai...
DIABO Porque a vedes lá de fora.       que haveis de ir à derradeira!
FIDALGO Porém, a que terra             Mandai meter a cadeira,
passais?
                                       que assi passou vosso pai.
DIABO Pera o inferno, senhor.
                                     FIDALGO Quê? Quê? Quê? Assi lhe
FIDALGO terra é bem sem-sabor.       vai?!
DIABO Quê?... E também cá            DIABO Vai ou vem! Embarcai prestes!
zombais?
                                       Segundo lá escolhestes,
FIDALGO E passageiros achais           assi cá vos contentai.
  pera tal habitação?                  Pois que já a morte passastes,
DIABO Vejo-vos eu em feição            haveis de passar o rio.
  pera ir ao nosso cais...
FIDALGO Não há aqui outro navio?
                                         FIDALGO Pera senhor de tal marca
DIABO Não, senhor, que este fretastes,
                                           nom há aqui mais cortesia?
    e primeiro que expirastes
                                           Venha a prancha e atavio!
    me destes logo sinal.
                                           Levai-me desta ribeira!
(...)
                                         ANJO Não vindes vós de maneira
ANJO Que quereis?
                                           pera entrar neste navio.
FIDALGO Que me digais,
                                           Essoutro vai mais vazio:
    pois parti tão sem aviso,
                                           a cadeira entrará
    se a barca do Paraíso
                                           e o rabo caberá
    é esta em que navegais.
                                           e todo vosso senhorio.
ANJO Esta é; que demandais?
FIDALGO Que me leixeis embarcar.
                                           Ireis lá mais espaçoso,
    Sou fidalgo de solar,
                                           vós e vossa senhoria,
    é bem que me recolhais.
                                           cuidando na tirania
ANJO Não se embarca tirania                do pobre povo queixoso.
  neste batel divinal.                     E porque, de generoso,
FIDALGO Não sei porque haveis por mal      desprezastes os pequenos,
  que entre a minha senhoria...            achar-vos-eis tanto menos
ANJO Pera vossa fantesia                   quanto mais fostes fumoso.
  mui estreita é esta barca.
(...)                             DIABO Ora, senhor, descansai,
FIDALGO Ao Inferno, todavia!        passeai e suspirai.
    Inferno há i pera mi?           Em tanto virá mais gente.
    Oh triste! Enquanto vivi      FIDALGO Ó barca, como és ardente!
    não cuidei que o i havia:       Maldito quem em ti vai!
    Tive que era fantesia!
    Folgava ser adorado,
    confiei em meu estado
    e não vi que me perdia.
    Venha essa prancha! Veremos
    esta barca de tristura.
O AUTO DA BARCA DO
      INFERNO - Julgamentos


Fidalgo = Um empregado traz a cadeira, para o conforto
do patrão. Caracterizado pela presunção, pela tirania,
pelo abuso de poder. Reconhece o erro e aceita a
condenação.
Onzeneiro (agiota) = traz bolsa vazia (não conseguiu
levar nada), Caracterizado pela usura (ganância).
Joane, o parvo                           DIABO Entra! Põe aqui o pé!
                                         PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco!
                                         DIABO Entra, tolaço eunuco,
Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do
Inferno:                                   que se nos vai a maré!
PARVO Hou daquesta!                      PARVO Aguardai, aguardai, houlá!
DIABO Quem é?                              E onde havemos nós d'ir ter?
PARVO Eu soo.                            DIABO Ao porto de Lucifer.
           É esta a naviarra nossa?      PARVO Ha-á-a...
DIABO De quem?                           DIABO Ó Inferno! Entra cá!
PARVO Dos tolos.                         PARVO Ó Inferno?... Eramá...
DIABO Vossa.                               Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
           Entra!                          Pêro Vinagre, beiçudo,
PARVO De pulo ou de voo?                   rachador d'Alverca, huhá!
   Hou! Pesar de meu avô!                  Sapateiro da Candosa!
   Soma, vim adoecer                       Antrecosto de carrapato!
   e fui má-hora morrer,                   Hiu! Hiu! Caga no sapato,
   e nela, pera mi só.                     filho da grande aleivosa!
DIABO De que morreste?                     Tua mulher é tinhosa
PARVO De quê?                              e há-de parir um sapo
   Samicas de caganeira.                   chantado no guardanapo!
DIABO De quê?                              Neto de cagarrinhosa!
PARVO De caga merdeira!
   Má rabugem que te dê!
O AUTO DA BARCA DO
      INFERNO - Julgamentos


Joane (parvo, bobo) = Veste a roupa típica de sua
classe. Caracteriza-se pela inocência. Seu erro não foi
consciente. Fica perto do anjo, como observador, e
passa a ajudá-lo nos julgamentos
Sapateiro = traz as fôrmas (com as quais roubava os
clientes). Caracteriza-se pelo apego aos bens
materiais. Ia à Igreja e, por isso, pretende salvar-se.
O AUTO DA BARCA DO
INFERNO - Julgamentos
      Frade dominicano = traz a namorada
      (Florença), o escudo, a espada e o
      capacete (símbolos da vida de
      prazeres). Não seria condenado se
      não fosse padre (crítica à vocação
      desencontrada). Expressa a dicotomia
      entre os prazeres e a penitência.
      Argumenta, para tentar salvar-se, que
      é padre e que ninguém o avisou de
      que não podia ter namorada.
      Demonstra o rigor moral do autor.
O AUTO DA BARCA DO
      INFERNO - Julgamentos
Alcoviteira (Brísida Vaz) = traz 600
virgos (virgindades defloradas), o
Diabo a deseja, pela sua
repugnância, chama-a de Senhora
(como nas Cantigas). É acusada de
feitiçaria e tenta salvar-se dizendo
que ajudou a Igreja.
O AUTO DA BARCA DO
INFERNO - Julgamentos

      Judeu = traz, nas costas, um
      bode (símbolo do judaísmo) que
      não larga, apesar do anjo colocar,
      como condição para o embarque,
      que o bode fique. Não podendo
      embarcar para o céu, tenta
      embarcar na barca do inferno,
      mas o Diabo não permite. É um
      tipo social.
O AUTO DA BARCA DO INFERNO -
         Julgamentos
Corregedor (juiz) = traz autos, fala em latim,
representa a corrupção.
Procurador (advogado) = traz livros, participa
dos “esquemas” do corregedor.
Enforcado = traz, ainda no pescoço, a corda
com que foi enforcado. Ladrão tolo, que rouba
sem vantagens, iludido pelo tesoureiro da
casa da moeda.
Os três representam o uso
das instituições públicas
para obtenção de privilégios
privados
O AUTO DA BARCA DO
      INFERNO - Julgamentos
Quatro Cavaleiros = cantam hinos, não trazem armas.
São mártires cristãos. Ignoram o Diabo e são acolhidos
pelo Anjo.

          Condenam-se:
          Fidalgo
          Onzeneiro
          Sapateiro
                            x         Salvam-se:
                                      Bobo
                                      Cavaleiros

          Frade
          Alcovieteira
          Judeu
          Corregedor
          Procurador
          Enforcado
A farsa de Inês Pereira (1523)
    Na apresentação desta peça, quando foi
    impressa, lê-se o seguinte:
    A seguinte farsa de folgar foi representada ao
    muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro
    do nome em Portugal, no seu Convento de
    Tomar, era do Senhor de MDXXIII. O seu
    argumento é que porquanto duvidavam certos
    homens de bom saber se o Autor fazia de si
    mesmo estas obras, ou se furtava de outros
    autores, lhe deram este tema sobre que fizesse:
    segundo um exemplo comum que dizem: mais
    quero asno que me leve que cavalo que me
    derrube. E sobre este motivo se fez esta farsa.
    Ou seja, Gil Vicente teria sido desafiado a
    escrever a partir de um “mote”, de um tema,
    para comprovar sua originalidade.
Peça de cunho cômico sobre a questão do casamento como
solução para a camponesa Inês ter uma vida folgada.
Lianor Vaz, a casamenteira, apresenta-lhe Pero Marques,
jovem rico, mas completamente ignorante.
Inês o repudia
Aparecem dois Judeus (Vidal e Latão), casamenteiros, que
propõem o casamento com o
Escudeiro Brás da Mata

O escudeiro vê em Inês uma boa possibilidade. Apresenta-se
como uma pessoa discreta e talentosa (toca viola).
Casa-se com Inês. Logo depois do casamento, revela-se um
homem grosseiro, que proíbe Inês de ir à Igreja e à janela
O escudeiro parte e depois de um tempo chega uma
carta contando de sua morte (nas cruzadas).

Inês volta a conversar com Lianor e é convencida a
casar-se novamente, agora com Pero Marques

Percebe que pode usar o marido para o seu prazer.
Encontra um jovem eremita (falso e que já havia
dado em cima de Inês anos antes) e percebe uma
chance de “aproveitar” a vida.

Pede para Pero Marques a levar em romaria ao
eremitério. O que Inês quer, na realidade, é se
encontrar com o eremita. No meio do caminho, pede
que o marido a carrege, pois está cansada. Canta
uma canção chamando o marido de gamo e cervo, ou
seja, de chifrudo, corno.
De acordo com o mote, portanto…

Escudeiro (1° marido) = cavalo
Pero Marques (2° marido) = asno
Temática do casamento por interesse

A idéia geral é a de que “Os fins justificam os meios”
e aponta para a dissolução moral da sociedade.
Escrita em português e castelhano (fala do ermitão),
em versos rimados, com adaptação da linguagem às
classes sociais representadas.
(UFRGS/04) Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao
    episódio do embarque do fidalgo, da obra Auto da Barca do Inferno,
    de Gil Vicente.

    I – A acusação de tirania e presunção dirigida ao fidalgo configura
V   uma crítica não ao indivíduo, mas à classe social a que ele pertence.
V   II – Gil Vicente critica as desigualdades sociais ao apontar o
    desprezo do fidalgo aos pequenos, aos desfavorecidos.
    III – No momento em que o fidalgo pensa ser salvo por haver
X   deixado, em terra, alguém orando por ele, evidencia-se a crítica
    vicentina à fé religiosa.

    Quais estão corretas?

    (a)      Apenas I.
    X
    (b)     Apenas I e II.
    (c)      Apenas I e III.
    (d)      Apenas II e III.
    (e)      I, II e III.
(UFRGS/02) Assinale a alternativa INCORRETA sobre a obra de Gil
    Vicente.

V (a) paraVicente tem suas raízes na oIdade Média, mas volta-
  se
      Gil
           o Renascimento, aliando      humanismo religioso à
    atitude crítica diante dos problemas sociais.
    (b) Variada na forma, a obra vicentina desvenda os
V   costumes do século XVI, satirizando a sociedade feudal sem
    perder o caráter moralista e resguardando o sentido de
    intervenção social.
    X
    (c) Embora critique o clero, a nobreza e o seu séqüito
    ocioso, o teatro vicentino faz a exaltação heróica dos reis,
                                                  heróica
    atitude comum na Idade Média.
V   (d) Aos mesmo tempo que desenvolve a sátira social, a
    produção vicentina aponta para a necessidade de reforma
    da Igreja, devido aos abusos do clero.
V   (e) Trabalhando com um verdadeira galeria de tipos, Gil
    Vicente adapta o uso da linguagem coloquial ao estilo e à
    condição social de cada um deles.
(UFRGS/00) Em relação ao Auto da Barca do Inferno de
    Gil Vicente, considere as seguintes afirmações.

VI      – Trata-se de um grande painel que satiriza a
    sociedade portuguesa de seu tempo.
V   II – Representa a transição da Idade Média para o
    Renascimento, guardando traços dos dois períodos.
V   III – Sugere que o diabo, ao julgar justos e pecadores,
    tem poderes maiores que Deus.
?
    Quais estão corretas?
    (a)     Apenas I.
    (b)     Apenas I e II.
    (c)     Apenas I e III.
    (d)     Apenas II e III.
     X
    (e)     I, II e III.
Classicismo Português
Contexto Histórico
• Grandes Navegações – para driblar o
  monopólio mercantil italiano, Portugal vai
  buscar, já no século XV, um caminho para
  as Índias e para o Extremo Oriente;
• Enriquecimento da corte portuguesa com
  a exploração das novas colônias – Brasil
  incluído;
• É nesse contexto de prosperidade
  econômica que o classicismo chega ao
  país.
Francisco de Sá de Miranda (1481 – 1558)

• Sá de Miranda é um dos primeiros artistas
  portugueses a visitar a Itália e entrar em contato
  com os novos padrões estéticos, a filosofia e as
  novas formas poéticas, como o soneto, forma
  clássica estabelecida e popularizada por
  Petrarca;
• A volta de Sá de Miranda a Portugal, em 1526,
  trazendo todas essas novidades, marca
  oficialmente o início do classicismo português.
Na mala de Sá de Miranda também
             veio...

A chamada “Medida Nova” – escrita de
poemas com versos decassílabos. Em
Portugal, só se praticava a redondilha
menor (cinco sílabas poéticas) ou a
redondilha maior (sete sílabas poéticas). A
escrita em redondilhas passa a ser
conhecida então como “Medida velha”.
Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.

Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda,
de que me valerei, se alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.

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Humanismo aula 1

  • 2.
  • 3. Sobre “Os efeitos de um bom governo”, de Ambrogio Lorenzetti • Que cena é retratada e em que espaço ela acontece? • É possível reconhecer, na cena, alguma característica medieval? Qual? • As pessoas retratadas parecem ser todas do mesmo segmento social? • Não há, na obra, nenhuma referência à religião. O que essa ausência sugere em relação à perspectiva teocêntrica medieval e ao papel do ser humano na construção do próprio destino?
  • 4. Contexto econômico e político do humanismo • O Humanismo é um período histórico entre os séculos XIV e XV – ou seja, na transição entre a idade média e o renascimento; • Surgimento e ascensão da burguesia mercantil (poder econômico e político dividido com a aristocracia); • A maior parte da população européia de baixa renda abandona os feudos e passa a habitar os burgos – cidades- estado (principalmente na Itália) – onde se pratica livremente o comércio; • Roma, Milão, Florença, Veneza, Mântua, Ferrara e várias outras cidades-estado italianas dominam o comércio marítimo com o oriente; • Desenvolvimento de formas republicanas de governo (administração a cargo de um magistrado-chefe eleito pelos cidadãos);
  • 5. Contexto cultural e ideológico • A burguesia passa a investir em cultura, algo que até então era feito apenas pela igreja e pelos grandes soberanos; • Com o enfraquecimento do poder da igreja sobre a cultura, há uma verdadeira redescoberta de textos e autores da antiguidade clássica (greco-latina); • O foco dos humanistas é o ser humano, o que os afasta do teocentrismo medieval; • Resgata-se, assim, a visão antropocêntrica característica da cultura greco-romana; • O imaginário cristão, porém, ainda é uma constante na obra dos artistas da época, como se vê n’A Divina Comédia, exemplo mais expressivo da manutenção deste imaginário.
  • 6. A Divina Comédia - Dante Alighieri (1265 – 1321) • Poema épico escrito entre 1307 e 1321; • Narra a viagem de Dante aos três destinos reservados à alma humana segundo o imaginário católico: inferno, purgatório e paraíso; • Em sua jornada pelo inferno e pelo purgatório, Dante é guiado por Virgílio (70 a.C. – 19 a.C.), poeta romano, autor da Eneida, poema épico que narra a formação da nação italiana. É considerado um dos maiores poetas latinos; • No paraíso – onde Virgílio não podia entrar, já que não havia sido batizado – Dante é recebido por sua amada Beatriz; • Segundo alguns estudiosos, Beatriz representa, na obra, a fé, enquanto Virgílio representa a razão; • São justamente a fé e a razão os dois pólos em que se debate, filosoficamente, o homem do humanismo;
  • 7. A tensão entre o velho e o novo • A literatura humanista, como sua natureza, digamos, transitória, já indica, não tem características completamente definidas: o velho e o novo convivem, provocando uma tensão que se evidencia na produção artística e cultural; • Os traços mais marcantes da literatura do período é um lento abandono à subordinação até então imposta pela igreja católica e o resgate dos padrões clássicos; • Com o estudo das obras greco-latinas, surge um olhar racional sobre o mundo, que procura na ciência explicações para fenômenos naturais até então atribuídos a Deus.
  • 8. O público e os temas • Assim como no trovadorismo, a literatura humanista circula no ambiente aristocrático das cortes e dos palácios; • “O objetivo dessa produção, porém, se modifica. Não se trata mais de criar representações literárias de uma determinada ordem social, porque os dias do feudalismo estão chegando ao fim, levando com eles a tradição cavalheiresca e os ideais de subordinação social e amorosa. A literatura, agora, volta-se para o prazer e a diversão da aristocracia”; • Com o interesse cada vez maior da burguesia em “ilustrar-se”, este público vai mudar, mas de forma lenta. Esta mudança vai acontecer, de forma mais concreta, somente no Renascimento.
  • 9. Uma invenção que faz toda a diferença! Por volta de 1450, Johann Gutenberg cria a prensa e revoluciona a produção de livros na Europa, fazendo com que a cultura oral comece a perder espaço para a cultura escrita. Essa mudança no contexto de circulação das obras permitirá que escritores e poetas explorem novos recursos de linguagem que não dependem da oralidade e da memória, fatores a que, até então, estavam subordinados.
  • 10. Enquanto isso, em Portugal... • Quando o humanismo chega a Portugal, no início do reinado da Dinastia de Avis (1385), a produção poética vive uma crise: entre 1350 e 1450 não se tem notícia da circulação de textos poéticos no país. • O que está em voga é a crônica historiográfica e a prosa doutrinária (tipo de manual de bons costumes para os fidalgos da corte). • O ressurgimento da poesia em Portugal irá acontecer apenas na segunda metade do século XV, durante o reinado de D. Afonso V, incentivador das artes e da cultura. • É neste contexto que surge o teatro de Gil Vicente, mas, antes dele...
  • 11. Fernão Lopes (1378 – 1459) • A nomeação de Fernão Lopes como cronista-mor do reino, em 1434, é considerada o marco inicial do humanismo português. • Sua função era registrar, em crônicas, as histórias dos reis que governaram Portugal. • Por seu estilo e isenção na descrição dos acontecimentos da história de Portugal, Fernão Lopes é considerado o “pai da historiografia portuguesa”. • Pela primeira vez, com Fernão Lopes, o povo vai aparecer como personagem importante na história do país. • É também a partir dos textos de Fernão Lopes que a língua portuguesa vai atingir um certo padrão, um modelo que a diferencia do castelhano, por exemplo.
  • 12. Gil Vicente (1465 – 1536) É considerado o primeiro grande dramaturgo português; - Sua primeira peça conhecida é o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro (1502) – uma homenagem à rainha, D. Maria, pelo nascimento de seu filho, o futuro rei D. João III. - O texto e a encenação (feita, segundo consta, pelo próprio autor) agradaram tanto a rainha que Gil Vicente tornou-se seu protegido; - Foi sob a proteção do rei D. Manuel (esposo de D. Maria) e, mais tarde, de D. João III, que Gil Vicente irá escrever boa parte de sua obra dramatúrgica, composta basicamente de autos e farsas.
  • 13. Os autos de Gil Vicente caracterizam-se por: • Uma estrutura composta de quadros justapostos (sketches) que, em geral, podem ser apresentados de forma autônoma; • Personagens que são tipos comuns dentro das instituições que faziam parte da sociedade portuguesa da época; • Escritos em verso, com esquema de rimas (geralmente redondilhas menores ou maiores – versos de cinco ou sete sílabas poéticas); • Linguagem coloquial (adaptada à classe social de cada personagem); • Apresentam um teor de crítica social, que funciona como agente moralizante, e um fundo religioso (cristão, mas não dogmático) bem característicos do humanismo. • Em seus textos, Gil Vicente vale-se da sátira alegórica para...
  • 14. - Denunciar os exploradores do povo, como o fidalgo, o sapateiro e o agiota do Auto da barca do inferno; - Ridicularizar condutas condenáveis como a do velho protagonista de O velho da horta ou a de Inês Pereira, personagem principal de A farsa de Inês Pereira; Como não há distinção entre os segmentos sociais ( os defeitos comportamentais de ricos, pobres, nobres e plebeus são igualmente criticados – os únicos que escapam são os membros da família real), o teatro de Gil Vicente funciona como um rico painel da sociedade de seu tempo.
  • 15. Personagens TIPOS. Todo = instituição Um = indivíduo Tipo = conjunto dentro do todo. Representação coletiva social ou psicológica
  • 16. Caso do Rei Todo = Um Não há Tipo = conjunto dentro do todo. O rei é, por si mesmo, uma instituição.
  • 17. A visão de inferno da época
  • 18. O AUTO DA BARCA DO INFERNO (1517) Peça mais importante de Gil Vicente, pertencente à trilogia das Barcas (da Glória, do Purgatório e do Inferno). Demonstra o maniqueísmo cristão, dividindo o mundo entre o Bem e o Mal, com conseqüentes Céu e Inferno. É um auto de moralidade. Alegoria simples e simbólica.
  • 19. O AUTO DA BARCA DO INFERNO (1517) A história é simples: os personagens que chegam vão sendo conduzidos pelos barqueiros (diabo e anjo) para as respectivas barcas, que levam, respectivamente, ao Inferno e ao Céu. As falas são marcadas por muita ironia, principalmente pelo diabo, que é o personagem que mais se destaca no auto. É uma peça de religiosidade alegórica.
  • 20. Os arrais (barqueiros): Diabo: tem um ajudante, é liberal, recebe todos com humor e simpatia (ainda que falsa), argumenta muito, ouve, pondera o que as pessoas têm a dizer antes de condená-las. É um ótimo anfitrião.
  • 21. Anjo: argumenta pouco, é calado, frio, discreto e autoritário.
  • 22. Passagem do Fidalgo Vem o Fidalgo e, chegando ao batel FIDALGO Parece-te a ti assi!... infernal, diz: DIABO Em que esperas ter guarida? FIDALGO Que leixo na outra vida FIDALGO Esta barca onde vai ora, quem reze sempre por mi. que assi está apercebida? DIABO Quem reze sempre por ti?!.. DIABO Vai pera a ilha perdida, Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... e há-de partir logo ess'ora. E tu viveste a teu prazer, FIDALGO Pera lá vai a senhora? cuidando cá guarecer DIABO Senhor, a vosso serviço. por que rezam lá por ti?!... FIDALGO Parece-me isso cortiço... Embarca - ou embarcai... DIABO Porque a vedes lá de fora. que haveis de ir à derradeira! FIDALGO Porém, a que terra Mandai meter a cadeira, passais? que assi passou vosso pai. DIABO Pera o inferno, senhor. FIDALGO Quê? Quê? Quê? Assi lhe FIDALGO terra é bem sem-sabor. vai?! DIABO Quê?... E também cá DIABO Vai ou vem! Embarcai prestes! zombais? Segundo lá escolhestes, FIDALGO E passageiros achais assi cá vos contentai. pera tal habitação? Pois que já a morte passastes, DIABO Vejo-vos eu em feição haveis de passar o rio. pera ir ao nosso cais...
  • 23. FIDALGO Não há aqui outro navio? FIDALGO Pera senhor de tal marca DIABO Não, senhor, que este fretastes, nom há aqui mais cortesia? e primeiro que expirastes Venha a prancha e atavio! me destes logo sinal. Levai-me desta ribeira! (...) ANJO Não vindes vós de maneira ANJO Que quereis? pera entrar neste navio. FIDALGO Que me digais, Essoutro vai mais vazio: pois parti tão sem aviso, a cadeira entrará se a barca do Paraíso e o rabo caberá é esta em que navegais. e todo vosso senhorio. ANJO Esta é; que demandais? FIDALGO Que me leixeis embarcar. Ireis lá mais espaçoso, Sou fidalgo de solar, vós e vossa senhoria, é bem que me recolhais. cuidando na tirania ANJO Não se embarca tirania do pobre povo queixoso. neste batel divinal. E porque, de generoso, FIDALGO Não sei porque haveis por mal desprezastes os pequenos, que entre a minha senhoria... achar-vos-eis tanto menos ANJO Pera vossa fantesia quanto mais fostes fumoso. mui estreita é esta barca.
  • 24. (...) DIABO Ora, senhor, descansai, FIDALGO Ao Inferno, todavia! passeai e suspirai. Inferno há i pera mi? Em tanto virá mais gente. Oh triste! Enquanto vivi FIDALGO Ó barca, como és ardente! não cuidei que o i havia: Maldito quem em ti vai! Tive que era fantesia! Folgava ser adorado, confiei em meu estado e não vi que me perdia. Venha essa prancha! Veremos esta barca de tristura.
  • 25. O AUTO DA BARCA DO INFERNO - Julgamentos Fidalgo = Um empregado traz a cadeira, para o conforto do patrão. Caracterizado pela presunção, pela tirania, pelo abuso de poder. Reconhece o erro e aceita a condenação. Onzeneiro (agiota) = traz bolsa vazia (não conseguiu levar nada), Caracterizado pela usura (ganância).
  • 26. Joane, o parvo DIABO Entra! Põe aqui o pé! PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco! DIABO Entra, tolaço eunuco, Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno: que se nos vai a maré! PARVO Hou daquesta! PARVO Aguardai, aguardai, houlá! DIABO Quem é? E onde havemos nós d'ir ter? PARVO Eu soo. DIABO Ao porto de Lucifer. É esta a naviarra nossa? PARVO Ha-á-a... DIABO De quem? DIABO Ó Inferno! Entra cá! PARVO Dos tolos. PARVO Ó Inferno?... Eramá... DIABO Vossa. Hiu! Hiu! Barca do cornudo. Entra! Pêro Vinagre, beiçudo, PARVO De pulo ou de voo? rachador d'Alverca, huhá! Hou! Pesar de meu avô! Sapateiro da Candosa! Soma, vim adoecer Antrecosto de carrapato! e fui má-hora morrer, Hiu! Hiu! Caga no sapato, e nela, pera mi só. filho da grande aleivosa! DIABO De que morreste? Tua mulher é tinhosa PARVO De quê? e há-de parir um sapo Samicas de caganeira. chantado no guardanapo! DIABO De quê? Neto de cagarrinhosa! PARVO De caga merdeira! Má rabugem que te dê!
  • 27. O AUTO DA BARCA DO INFERNO - Julgamentos Joane (parvo, bobo) = Veste a roupa típica de sua classe. Caracteriza-se pela inocência. Seu erro não foi consciente. Fica perto do anjo, como observador, e passa a ajudá-lo nos julgamentos Sapateiro = traz as fôrmas (com as quais roubava os clientes). Caracteriza-se pelo apego aos bens materiais. Ia à Igreja e, por isso, pretende salvar-se.
  • 28. O AUTO DA BARCA DO INFERNO - Julgamentos Frade dominicano = traz a namorada (Florença), o escudo, a espada e o capacete (símbolos da vida de prazeres). Não seria condenado se não fosse padre (crítica à vocação desencontrada). Expressa a dicotomia entre os prazeres e a penitência. Argumenta, para tentar salvar-se, que é padre e que ninguém o avisou de que não podia ter namorada. Demonstra o rigor moral do autor.
  • 29. O AUTO DA BARCA DO INFERNO - Julgamentos Alcoviteira (Brísida Vaz) = traz 600 virgos (virgindades defloradas), o Diabo a deseja, pela sua repugnância, chama-a de Senhora (como nas Cantigas). É acusada de feitiçaria e tenta salvar-se dizendo que ajudou a Igreja.
  • 30. O AUTO DA BARCA DO INFERNO - Julgamentos Judeu = traz, nas costas, um bode (símbolo do judaísmo) que não larga, apesar do anjo colocar, como condição para o embarque, que o bode fique. Não podendo embarcar para o céu, tenta embarcar na barca do inferno, mas o Diabo não permite. É um tipo social.
  • 31. O AUTO DA BARCA DO INFERNO - Julgamentos Corregedor (juiz) = traz autos, fala em latim, representa a corrupção. Procurador (advogado) = traz livros, participa dos “esquemas” do corregedor. Enforcado = traz, ainda no pescoço, a corda com que foi enforcado. Ladrão tolo, que rouba sem vantagens, iludido pelo tesoureiro da casa da moeda. Os três representam o uso das instituições públicas para obtenção de privilégios privados
  • 32. O AUTO DA BARCA DO INFERNO - Julgamentos Quatro Cavaleiros = cantam hinos, não trazem armas. São mártires cristãos. Ignoram o Diabo e são acolhidos pelo Anjo. Condenam-se: Fidalgo Onzeneiro Sapateiro x Salvam-se: Bobo Cavaleiros Frade Alcovieteira Judeu Corregedor Procurador Enforcado
  • 33. A farsa de Inês Pereira (1523) Na apresentação desta peça, quando foi impressa, lê-se o seguinte: A seguinte farsa de folgar foi representada ao muito alto e mui poderoso rei D. João, o terceiro do nome em Portugal, no seu Convento de Tomar, era do Senhor de MDXXIII. O seu argumento é que porquanto duvidavam certos homens de bom saber se o Autor fazia de si mesmo estas obras, ou se furtava de outros autores, lhe deram este tema sobre que fizesse: segundo um exemplo comum que dizem: mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube. E sobre este motivo se fez esta farsa. Ou seja, Gil Vicente teria sido desafiado a escrever a partir de um “mote”, de um tema, para comprovar sua originalidade.
  • 34. Peça de cunho cômico sobre a questão do casamento como solução para a camponesa Inês ter uma vida folgada. Lianor Vaz, a casamenteira, apresenta-lhe Pero Marques, jovem rico, mas completamente ignorante. Inês o repudia Aparecem dois Judeus (Vidal e Latão), casamenteiros, que propõem o casamento com o Escudeiro Brás da Mata O escudeiro vê em Inês uma boa possibilidade. Apresenta-se como uma pessoa discreta e talentosa (toca viola). Casa-se com Inês. Logo depois do casamento, revela-se um homem grosseiro, que proíbe Inês de ir à Igreja e à janela
  • 35. O escudeiro parte e depois de um tempo chega uma carta contando de sua morte (nas cruzadas). Inês volta a conversar com Lianor e é convencida a casar-se novamente, agora com Pero Marques Percebe que pode usar o marido para o seu prazer. Encontra um jovem eremita (falso e que já havia dado em cima de Inês anos antes) e percebe uma chance de “aproveitar” a vida. Pede para Pero Marques a levar em romaria ao eremitério. O que Inês quer, na realidade, é se encontrar com o eremita. No meio do caminho, pede que o marido a carrege, pois está cansada. Canta uma canção chamando o marido de gamo e cervo, ou seja, de chifrudo, corno.
  • 36. De acordo com o mote, portanto… Escudeiro (1° marido) = cavalo Pero Marques (2° marido) = asno Temática do casamento por interesse A idéia geral é a de que “Os fins justificam os meios” e aponta para a dissolução moral da sociedade. Escrita em português e castelhano (fala do ermitão), em versos rimados, com adaptação da linguagem às classes sociais representadas.
  • 37. (UFRGS/04) Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao episódio do embarque do fidalgo, da obra Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. I – A acusação de tirania e presunção dirigida ao fidalgo configura V uma crítica não ao indivíduo, mas à classe social a que ele pertence. V II – Gil Vicente critica as desigualdades sociais ao apontar o desprezo do fidalgo aos pequenos, aos desfavorecidos. III – No momento em que o fidalgo pensa ser salvo por haver X deixado, em terra, alguém orando por ele, evidencia-se a crítica vicentina à fé religiosa. Quais estão corretas? (a)      Apenas I. X (b)     Apenas I e II. (c)      Apenas I e III. (d)      Apenas II e III. (e)      I, II e III.
  • 38. (UFRGS/02) Assinale a alternativa INCORRETA sobre a obra de Gil Vicente. V (a) paraVicente tem suas raízes na oIdade Média, mas volta- se Gil o Renascimento, aliando humanismo religioso à atitude crítica diante dos problemas sociais. (b) Variada na forma, a obra vicentina desvenda os V costumes do século XVI, satirizando a sociedade feudal sem perder o caráter moralista e resguardando o sentido de intervenção social. X (c) Embora critique o clero, a nobreza e o seu séqüito ocioso, o teatro vicentino faz a exaltação heróica dos reis, heróica atitude comum na Idade Média. V (d) Aos mesmo tempo que desenvolve a sátira social, a produção vicentina aponta para a necessidade de reforma da Igreja, devido aos abusos do clero. V (e) Trabalhando com um verdadeira galeria de tipos, Gil Vicente adapta o uso da linguagem coloquial ao estilo e à condição social de cada um deles.
  • 39. (UFRGS/00) Em relação ao Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, considere as seguintes afirmações. VI – Trata-se de um grande painel que satiriza a sociedade portuguesa de seu tempo. V II – Representa a transição da Idade Média para o Renascimento, guardando traços dos dois períodos. V III – Sugere que o diabo, ao julgar justos e pecadores, tem poderes maiores que Deus. ? Quais estão corretas? (a)     Apenas I. (b)     Apenas I e II. (c)     Apenas I e III. (d)     Apenas II e III. X (e)     I, II e III.
  • 41. Contexto Histórico • Grandes Navegações – para driblar o monopólio mercantil italiano, Portugal vai buscar, já no século XV, um caminho para as Índias e para o Extremo Oriente; • Enriquecimento da corte portuguesa com a exploração das novas colônias – Brasil incluído; • É nesse contexto de prosperidade econômica que o classicismo chega ao país.
  • 42. Francisco de Sá de Miranda (1481 – 1558) • Sá de Miranda é um dos primeiros artistas portugueses a visitar a Itália e entrar em contato com os novos padrões estéticos, a filosofia e as novas formas poéticas, como o soneto, forma clássica estabelecida e popularizada por Petrarca; • A volta de Sá de Miranda a Portugal, em 1526, trazendo todas essas novidades, marca oficialmente o início do classicismo português.
  • 43. Na mala de Sá de Miranda também veio... A chamada “Medida Nova” – escrita de poemas com versos decassílabos. Em Portugal, só se praticava a redondilha menor (cinco sílabas poéticas) ou a redondilha maior (sete sílabas poéticas). A escrita em redondilhas passa a ser conhecida então como “Medida velha”.
  • 44. Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho, e vejo o que não vi nunca, nem cri que houvesse cá, recolhe-se a alma a si e vou tresvaliando, como em sonho. Isto passado, quando me desponho, e me quero afirmar se foi assi, pasmado e duvidoso do que vi, m'espanto às vezes, outras m'avergonho. Que, tornando ante vós, senhora, tal, Quando m'era mister tant' outr' ajuda, de que me valerei, se alma não val? Esperando por ela que me acuda, e não me acode, e está cuidando em al, afronta o coração, a língua é muda.