O documento descreve as obras e carreiras dos artistas brasileiros Hélio Oiticica e Lygia Clark, expoentes do experimentalismo nas artes plásticas nos anos 1960 e 1970 no Brasil. Ambos desenvolveram trabalhos que fundiam arte e vida, envolvendo o corpo do espectador de forma ativa através de instalações e performances. Suas obras evoluíram da pintura para o espaço tridimensional e ambiental, questionando a relação entre arte, artista e público.
Impressionismo foi um movimento artístico que revolucionou profundamente a pintura, música e escultura e deu início às grandes tendências da arte do século XX.
Impressionismo foi um movimento artístico que revolucionou profundamente a pintura, música e escultura e deu início às grandes tendências da arte do século XX.
Edição de Vídeos para Redes Sociais com Adobe PremiereMultimidia e Arte
Apresentação sobre o uso do Illustrator e After Effects para criação de cenários e personagens. Fez parte da Semana Adobe, onde ministrei três dias de Workshop sobre ferramentas Adobe.
1. Hélio Oiticica e Lygia Clark
Universidade Feevale
Mestrado em Processos e Manifestações Culturais
Disciplina de Estética e Processos Culturais
Aline Corso
2. Lygia e Hélio na performance “Diálogos de Mão”
Hélio Oiticica e Lygia Clark, expoentes do experimentalismo nas artes plásticas nos anos 1960 e 1970 no Brasil
construíram percursos que nasceram na pintura e se projetaram para o espaço tridimensional. Cada um a seu
modo construiu intenso cruzamento arte-vida e ambos nutriram grande admiração mútua. Como vetor motriz
comum, o conceito de “não-objeto” formulado pelo crítico Ferreira Gullar os articula na superação de uma arte
de cunho geométrico-representacional para a proposição de experiências artísticas vivenciais centradas no
corpo.
Ambos participaram do Grupo Frente e do grupo Neoconcreto.
3. Hélio Oiticica Pintor, escultor,artista plástico e performático de aspirações anarquistas.
Hélio Oiticica é um artista cuja produção se
destaca pelo caráter experimental e inovador.
Seus experimentos, que pressupõem uma ativa
participação do público, são, em grande
parte, acompanhados de elaborações
teóricas, comumente com a presença de
textos, comentários e poemas. Pode-se, de
acordo com o crítico Celso Favareto, identificar
duas fases na obra de Oiticica: uma mais
visual, que tem início em 1954 na arte
concreta e vai até a formulação dos Bólides,
em 1963, e outra sensorial, que segue até
1980.
4. Hélio Oiticica inicia, em 1954, estudos de
pintura com Ivan Serpa, no Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. Essas
aulas são essenciais porque possibilitam a
Oiticica o contato com materiais variados e
liberdade de criação. Em 1957, inicia a série
de guaches sobre papel denominada, nos anos
1970, Metaesquemas. Segundo Oiticica, essas
pinturas geométricas são importantes por já
apresentar o conflito entre o espaço
pictórico e o espaço extra-pictórico,
prenunciando a posterior superação do
quadro.
5. Com as Invenções, de 1959, o artista marca o
início da transição da tela para o espaço
ambiental, o que ocorre nesse ano com os
Bilaterais - chapas monocromáticas pintadas
com têmpera ou óleo e suspensas por fios de
nylon - e os Relevos Espaciais, suas primeiras
obras tridimensionais. Nessa época produz
textos sobre seu trabalho, sobre a arte
construtiva e as experiências de Lygia Clark.
Embora não tenha participado da 1ª Exposição
Neoconcreta nem assinado o Manifesto
Neoconcreto, em 1960 participa da 2ª
Exposição Neoconcreta no Rio de Janeiro e
pensa sua produção em relação à Teoria do
Não-Objeto, de Ferreira Gullar.
6. Em 1960, cria os primeiros Núcleos, também
denominados Manifestações Ambientais e Penetráveis,
placas de madeira pintadas com cores quentes
penduradas no teto por fios de nylon. Neles tanto o
deslocamento do espectador quanto a movimentação das
placas passam a integrar a experiência. Em continuidade
aos projetos, Oiticica constrói, em 1961, a maquete do
seu primeiro labirinto, o Projeto Cães de Caça, composto
de cinco Penetráveis, o Poema Enterrado, de Ferreira
Gullar, e o Teatro Integral, de Reynaldo Jardim. É uma
espécie de jardim em escala pública para a vivência
coletiva que envolve tanto a relação com a arquitetura
quanto com a natureza. A maquete é exposta, no mesmo
ano, no MAM/RJ, com texto de Mário Pedrosa, mas a
obra nunca chega a ser construída. Até esse período
sua obra é primordialmente visual. O espectador está
presente nos Núcleos, mas há um desenvolvimento
dessa questão com suas primeiras estruturas
manuseáveis, os Bólides - recipientes que contêm
pigmento - resultado, em 1963, da vontade de dar corpo
à cor e acrescentar à experiência visual outros estímulos
sensoriais.
7. No fim da década de 1960 é levado pelos
colegas Amilcar de Castro e Jackson Ribeiro a
colaborar com a Escola de Samba Estação
Primeira de Mangueira. Envolve-se com a
comunidade do Morro da Mangueira e dessa
experiência nascem os Parangolés. Trata-se de
tendas, estandartes, bandeiras e capas de
vestir que fundem elementos como cor,
dança, poesia e música e pressupõem uma
manifestação cultural coletiva.
Posteriormente a noção de Parangolé é
ampliada: "Chamarei então Parangolé, de agora
em diante, a todos os princípios formulados aqui
[...]. Parangolé é a antiarte por excelência;
inclusive pretendo estender o sentido de
'apropriação' às coisas do mundo com que
deparo nas ruas, terrenos baldios, campos,
o mundo ambiente enfim [...]".
8. Em 1967, as questões levantadas com o
Parangolé desembocam nas Manifestações
Ambientais com destaque para as obras
Tropicália, 1967, Apocalipopótese, 1968, e
Éden 1969. A Tropicália apresentada na
exposição Nova Objetividade Brasileira, no
MAM/RJ, é considerada o apogeu de seu
programa ambiental - é uma espécie de labirinto
sem teto que remete à arquitetura das favelas e
em seu interior apresenta um aparelho de TV
sempre ligado. Depois que o compositor
Caetano Veloso passa a usar o termo tropicália
como título de uma de suas canções, ocorrem
diversos desdobramentos na música popular
brasileira e na cultura que ficam conhecidos
como tropicalismo.
9. O Projeto Éden - composto de Tendas, Bólides
e Parangolés como proposições abertas para a
participação e vivências individuais e coletivas -
é apresentado em Londres em 1969, na
Whitechapel Gallery. Considerada sua maior
exposição em vida, é organizada pelo crítico
inglês Guy Brett e apelidada de Whitechapel
Experience. Com essa espécie de utopia de
vida em comunidade, surge a proposição
Crelazer, ligada à percepção criativa do lazer
não repressivo e à valorização do ócio. Em
1970, na exposição Information realizada no
Museum of Modern Art - MoMA em Nova York,
Oiticica desenvolve a idéia dos Ninhos como
células em multiplicação ligadas ao crescimento
da comunidade. Depois de breve período no Rio
de Janeiro, em 1970, ganha bolsa da Fundação
Guggenheim e instala-se em Nova York,
fazendo de suas residências grandes Ninhos.
10. Em Nova York, inicia os projetos ambientais
chamados de Newyorkaises, entre eles alguns
labirintos do programa Subterranean Tropicália
Projects. Retoma os Parangolés, propondo seu
uso no metrô da cidade, com ênfase não mais
no samba, mas no rock. Nos anos 1970,
escreve demonstrando sua admiração por
astros pop - Jimi Hendrix, Janis Joplin, Yoko
Ono, Mick Jagger e os Rolling Stones, entre
outros. Insatisfeito com o cinema como
espetáculo e a passividade do espectador,
elabora Cosmococa - programa in progress.
Trata-se de nove blocos, alguns feitos com o
cineasta brasileiro Neville d'Almeida e Thomas
Valentin, e outros como proposta para amigos,
denominados quase-cinema. São basicamente
filmes não narrativos, produzidos com base em
slides e trilha sonora, projetados em ambientes
especialmente criados para eles e com
instruções para participação. Em Nova York, o
artista inicia alguns filmes em Super-8, como o
inacabado Agripina é Roma Manhattan, entre
dezenas de projetos de Penetráveis.
11. Volta ao Brasil em 1978 e participa de alguns
eventos coletivos, como o Mitos Vadios,
organizado pelo artista plástico Ivald Granato.
No ano seguinte, organiza o acontecimento
poético-urbano Caju-Kleemania, proposta para
participação coletiva no bairro do Caju, no Rio
de Janeiro. Em homenagem a Paul Klee, realiza
o contrabólide Devolver a Terra à Terra, que
consiste em trazer terra preta de um lugar e
colocá-la numa fôrma quadrada sem fundo
sobre uma terra de outra coloração. Em 1980,
ano de sua morte, propõe o segundo
acontecimento poético-urbano Esquenta pr'o
Carnaval, no Morro da Mangueira.
Em 2009 um incêndio na residência de César Oiticica,
destrói parte do acervo de Hélio Oiticica.
12. Lygia Clark Pintora e escultora brasileira contemporânea que autointitulava-se "não artista".
Lygia Clark é uma das fundadoras do Grupo
Neoconcreto. Gradualmente, troca a pintura
pela experiência com objetos tridimensionais.
Após 1976 se afasta da produção de objetos
estéticos e volta-se sobretudo para
experiências corporais em que materiais
quaisquer estabelecem relação entre os
participantes. A poética de Lygia Clark
caminha no sentido da não representação e da
superação do suporte. Propõe a
desmistificação da arte e do artista e a
desalienação do espectador, que finalmente
compartilha a criação da obra. Na medida em
que amplia as possibilidades de percepção
sensorial em seus trabalhos, integra o corpo à
arte, de forma individual ou coletiva.
Finalmente, dedica-se à prática terapêutica.
13. Lygia Clark trabalha com instalações e body art.
Em 1954, incorpora como elemento plástico a
moldura em suas obras como, por exemplo, em
Composição nº 5. Suas pesquisas voltam-se
para a "linha orgânica", que aparece na junção
entre dois planos, como a que fica entre a tela e
a moldura. Entre 1957 e 1959, realiza
composições em preto-e-branco, formadas por
placas de madeira justapostas, recobertas com
tinta industrial aplicada a pistola, nas quais a
linha orgânica se evidencia ou desaparece de
acordo com as cores utilizadas.
14. A radicalidade com que explora as potencialidades
expressivas dos planos, leva-a a desdobrá-los,
como nos Casulos (1959), que são compostos de
placas de metal fixas na parede, dobradas de
maneira a criar um espaço interno. No mesmo ano,
participa da 1ª Exposição Neoconcreta. O
neoconcretismo define-se como tomada de
posição com relação à arte concreta
exacerbadamente racionalista e é formado por
artistas que pretendem continuar a trabalhar no
sentido da experimentação, do encontro de
soluções próprias, integrando autor, obra e
fruidor. Inicia, em 1960, os Bichos, obras
constituídas por placas de metal polido unidas por
dobradiças, que lhe permitem a articulação. As
obras encorajam a manipulação do espectador, que
conjugada à dinâmica da própria peça, resulta em
novas configurações. Em 1963, começa a realizar
osTrepantes, formados por recortes espiralados em
metal ou em borracha, como Obra-Mole (1964),
que, pela maleabilidade, podem ser apoiados nos
mais diferentes suportes ocasionais como troncos
de madeira ou escada.
15. Sua preocupação volta-se para uma participação
ainda mais ativa do público. Caminhando (1964) é
a obra que marca essa transição. O participante cria
uma fita de Moebius [August Ferdinand Moebius
(1790-1868), matemático alemão]: corta uma faixa
de papel, torce uma das extremidades e une as
duas pontas. Depois a recorta no comprimento de
maneira contínua e, na medida em que o faz, ela se
desdobra em entrelaçamentos cada vez mais
estreitos e complexos. Experimenta um espaço sem
avesso ou direito, frente ou verso, apenas pelo
prazer de percorrê-lo e, dessa forma, ele mesmo
realiza a obra de arte. Inicia então trabalhos
voltados para o corpo, que visam ampliar a
percepção, retomar memórias ou provocar
diferentes emoções. Neles, o papel do artista é de
propositor ou canalizador de experiências.
16. Em Luvas Sensoriais (1968) dá-se a redescoberta
do tato por meio de bolas de diferentes tamanhos,
pesos e texturas e em O Eu e o Tu: Série Roupa-
Corpo-Roupa (1967), um casal veste roupas
confeccionadas pela artista, cujo forro comporta
materiais diversos. Aberturas na roupa
proporcionam, pela exploração táctil, uma sensação
feminina ao homem e à mulher uma sensação
masculina. A instalação A Casa É o Corpo: Labirinto
(1968) oferece uma vivência sensorial e simbólica,
experimentada pelo visitante que penetra numa
estrutura de 8 metros de comprimento, passando
por ambientes denominados "penetração",
"ovulação", "germinação" e "expulsão".
17. Em Túnel (1973) as pessoas percorrem um tubo de
pano de 50 metros de comprimento, onde às
sensações de claustrofobia e sufocamento
contrapõe-se a do nascimento, por meio de
aberturas no pano, feitas pela artista. Já
Canibalismo e Baba Antropofágica (ambos de 1973)
aludem a rituais arcaicos de canibalismo,
compreendido como processo de absorção e de
ressignificação do outro. No primeiro
acontecimento, o corpo de uma pessoa deitada é
coberto de frutas, devoradas por outras de olhos
vendados; e, no segundo, os participantes levam à
boca carretéis de linha, de várias cores e
lentamente os desenrolam com as mãos para
recobrir o corpo de uma pessoa que está deitada no
chão. No final, todos se emaranham com os fios.
18. A partir de 1976, dedica-se à prática terapêutica,
usando Objetos Relacionais, que podem ser, por
exemplo, sacos plásticos cheios de sementes, ar ou
água; meias-calças contendo bolas; pedras e
conchas. Na terapia, o paciente cria relações com
os objetos, por meio de sua textura, peso, tamanho,
temperatura, sonoridade ou movimento. Eles
permitem-lhe reviver, em contexto regressivo,
sensações registradas na memória do corpo,
relativas a fases da vida anteriores à aquisição da
linguagem.