O documento descreve as ideias do filósofo alemão Wilhelm Dilthey sobre a fundamentação das ciências do espírito. Dilthey propõe que as ciências do espírito têm como objeto principal o homem e sua história, enquanto as ciências naturais estudam o mundo físico. As ciências do espírito se baseiam na experiência interna humana e no entendimento mútuo entre as pessoas, ao contrário das ciências naturais que usam a observação externa.
2. Dilthey: professor em Berlim, onde
sucedeu na cátedra a Lotze.
Seu propósito consiste antes de tudo em
completar a obra de Kant com uma
epistemologia das ciências do espíritoo,
através de uma “crítica da razão
histórica”, paralela à “crítica da razão
pura”.
3. RUDOLF HERMANN LOTZERUDOLF HERMANN LOTZE
•(1817-1881) foi um filósofo e
lógico alemão.
•Também contava com uma
graduação de médico e era
muito versado em biologia.
•Os seus estudos contribuiram
para o campo da psicologia
científica.
4. OBRAS HISTÓRICASOBRAS HISTÓRICAS
Vida de Schleiermacher (1867-70)
A intuição da vida no Renascimento e na
Reforma (1891-1900)
A história do jovem Hegel (1905-1906)
Experiência vivida e poesia, (1905)
As três etapas da estética moderna, (1892)
5. OBRAS FILOSÓFICASOBRAS FILOSÓFICAS
Introdução às ciências do espírito (1883)
Idéias para uma psicologia descritiva e analítica (1894)
Contribuição para o estudo da individualidade (1896)
Estudos sobre os fundamentos das ciências do espírito
(1905)
A construção do mundo histórico e as ciências e no
espírito (1910)
Os tipos de intuição do mundo (1911)
Novos estudos sobre a construção do mundo histórico
nas ciências e no espírito (póstumo)
6. Os últimos escritos - os posteriores aOs últimos escritos - os posteriores a
1905, são os mais importantes visto1905, são os mais importantes visto
conterem a expressão maisconterem a expressão mais
amadurecida do pensamento de Dilthey.amadurecida do pensamento de Dilthey.
7. HISTORICISMOHISTORICISMO
toda a filosofia que reconhece como sua
tarefa exclusiva ou fundamental a
determinação da natureza e da validade
dos instrumentos do saber histórico
9. CARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICAS
1) Supõe que os objetos do conhecimento
histórico tem um caráter específico que os
distingue dos objetos do conhecimento
natural.
A diferença entre história e natureza é
portanto óbvia, e desenvolveu-se
paralelamente à fase positivista das
ciências naturais.
10. CARACTERÍSTICASCARACTERÍSTICAS
2) O historicismo supõe que os
instrumentos do conhecimento histórico
são, pela sua natureza ou, quanto mais
não seja, pela sua modalidade, diferentes
dos utilizados pelo conhecimento natural.
Surge aqui (como em Kant), o problema
de remontar do conhecimento histórico
às condições que o tornam possível, ou seja,
que estão na base da sua validade.
12. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS DO
ESPÍRITO
TESES FUNDAMENTAIS
1ª) O objeto das ciências do espírito é, em
primeiro lugar, o homem nas suas relações
sociais, ou seja, na sua história.A historicidadehistoricidade
essencial ou constitutiva do homemessencial ou constitutiva do homem e, em geral,
do mundo humano
13. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS DO
ESPÍRITO
TESES FUNDAMENTAIS
2ª) O mundo histórico é constituído por
indivíduos que, enquanto “unidades psicofísicas
vivas”, são os elementos fundamentais da
sociedade: é por isso que o objetivo das ciências
do espírito é “o de reunir o singular e o individual
na realidade histórico-social, de observar como as
concordâncias (sociais) agem na formação do
singular”.
14. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS DO
ESPÍRITO
TESES FUNDAMENTAIS
3ª) Objeto das ciências do espírito não é
externo ao homem mas interno: não é
conhecido, como o objeto natural, através da
experiência externa, mas sim através da
experiência interna, a única pela qual o
homem se apreende a si mesmo.
15. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS DO
ESPÍRITO
TESES FUNDAMENTAIS
4ª) Dilthey chama de Erlebnis (experiência
vivida) a esta experiência interna e considera-
a como a fonte donde o mundo externo
retira “a sua origem autônoma e o seu
material”
16. EXPERIÊNCIA INTERNAEXPERIÊNCIA INTERNA
JOHN LOCKE
(1632-1704)
WILHELM DILTHEY
(1833-1911)
REFLEXÃO
É a segunda fonte das idéias
(a primeira é a sensação)
Percepção das experiências
internas
São oriundas das sensaçõesSão oriundas das sensações
do mundo exteriordo mundo exterior
percepção, pensar, duvidar,
acreditar, raciocinar,
conhecer, querer e de todas
as diversas ações do nosso
próprio espírito...
ERLEBNIS
É a fonte donde o mundoÉ a fonte donde o mundo
externo retira “a suaexterno retira “a sua
origem autônoma e o seuorigem autônoma e o seu
materialmaterial
Possui não só o caráter de
uma representação mas,
também, o do sentimento e
da vontade
17. INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS DO
ESPÍRITO
TESES FUNDAMENTAIS
4a) Distinção fundamental entre ciência da
natureza e ciência do espírito
(Geisteswissenshaften): as primeiras têm um
caráter exclusivamente teórico: as segundas,
devido ao órgão que lhes é próprio (a
experiência vivida), têm simultaneamente
caráter teórico, sentimental e prático.
18. NosNos Estudos para a fundação das ciências do
espírito (1910) e(1910) e A construção do mundo histórico
nas ciências do espírito (1910), ele apresenta em(1910), ele apresenta em
forma definitiva o seu projeto deforma definitiva o seu projeto de
fundamentação das ciências do espíritofundamentação das ciências do espírito..
19. Erlebnis e ErlebenErlebnis e Erleben
Erlebnis: (experiência vivida) é uma
etapa do Erleben
Erleben: (vida) aquilo que é comum às
ciências do espírito, ou seja, o que
constitui o seu domínio, é “que todas elas
estão baseadas no Erleben
20. Em outras palavras, a corrente da vida seEm outras palavras, a corrente da vida se
realiza em complexo de objetivações cujorealiza em complexo de objetivações cujo
significado deve ser entendido graças aosignificado deve ser entendido graças ao
esforço deesforço de compreensão::
““Os estados de consciência se expressam
continuamente em sons, em gestos de vulto, em
palavras e têm sua objetividade em instituições,
estados, igrejas e institutos científicos – e
precisamente nessas conexões é que se move a
história”.”.
21. AUTONOMIA DAS CIÊNCIAS DOAUTONOMIA DAS CIÊNCIAS DO
ESPÍRITOESPÍRITO
É o nexo entre Erleben, expressão e entender
que institui a peculiaridade do mundo
humano e fundamenta a autonomia das
ciências do espírito.
Esse nexo não pode ser encontrado na
natureza nem nas ciências naturais.
Dilthey viu na expressão e no entender os
elementos que, unidos à experiência vivida,
dão a esta última universalidade,
comunicabilidade e objetividade, constituindo
portanto, juntamente com ela, a atitude
fundamental das ciências do espírito.
22. ATITUDE FUNDAMENTALATITUDE FUNDAMENTAL
Esta atitude torna-se possível pelo fato
de essa experiência vivida estar sempre
ligada ao entendimento ou compreensão de
outras experiências vividas que nos dão
dadas sob a forma de expressão
23. EXPRESSÃOEXPRESSÃO
Expressão: um “processo em que, de
forma externa, reconhecemos algo interno”.
O homem deixa de estar isolado, a sua vida
deixa de estar fechada na intimidade do seu
eu, pois encontra em si mesma uma
existência autônoma e um desenvolvimento
próprio.
As relações com a natureza externa e com
os outros homens pertencem à sua vida e
encontram o seu órgão fundamental no
compreender.
24. A VIDA (ERLEBEN)A VIDA (ERLEBEN)
torna-se espírito objetivo, isto é, se objetiva em
instituições (Estados, igrejas, sistemas jurídicos,
movimentos religiosos, filosóficos, literários e
artísticos, sistemas éticos etc.)
E o entender, na referência retrospectiva, dá origem
às ciências do espírito: tais disciplinas são a história, a
economia política, as ciências do direito e do Estado,
a ciência da religião, o estudo da literatura e da
poesia, da arte figurativa e da música, das intuições do
mundo e dos sistemas filosóficos e, por fim, a
psicologia.
Todas essas ciências se referem ao mesmo grande
fato: o gênero humano, isto é, a realidade histórico-
social do homem.
25. GEISTESWISSENSCHAFTGEISTESWISSENSCHAFT
Uma realidade que tem um lado externo investigável
pelas ciências naturais, claro, mas cujo lado interno –
o significado ou essência – só pode ser alcançado
pelas ciências do espírito.
E pode ser alcançado porque, através do entender –
que é “um encontro do eu no tu” -, o homem pode
compreender as obras e as instituições dos homens.
O entender é, deste ponto de vista, o reviver e o
reproduzir a experiência de outrem: é assim possível
um sentir em conjunto com os outros e um
participar das suas emoções.
No compreender realiza-se pois a unidade do sujeito
e do objeto que é característica das ciências do
espírito.
26. ““Aqui, o sujeito do saber é idêntico aoAqui, o sujeito do saber é idêntico ao
seu objeto”, pois “aqui a vida capta aseu objeto”, pois “aqui a vida capta a
vida”. Em suma, o entender é possívelvida”. Em suma, o entender é possível
porque “a alma anda pelos caminhosporque “a alma anda pelos caminhos
habituais, nos quais já gozou e sofreu,habituais, nos quais já gozou e sofreu,
sofreu e agiu em situações de vidasofreu e agiu em situações de vida
semelhantes. Há infinitas estradas nosemelhantes. Há infinitas estradas no
passado e nos sonhos do futuro”.passado e nos sonhos do futuro”.
27. Através de uma “Através de uma “transferência interior”, uma “”, uma “empatia””
((MitfühlenMitfühlen) e uma “) e uma “penetração simpatética”, o homem”, o homem
pode reviver várias outras existências:pode reviver várias outras existências:
““Diante dos confins impostos pelas circunstâncias, abrem-seDiante dos confins impostos pelas circunstâncias, abrem-se
para ele outras belezas do mundo e outras regiões da vidapara ele outras belezas do mundo e outras regiões da vida
(...) Em termos gerais, ligado às realidades e por elas(...) Em termos gerais, ligado às realidades e por elas
determinado, o homem vem a se libertar não somentedeterminado, o homem vem a se libertar não somente
mediante a arte – o que tem ocorrido com maior freqüênciamediante a arte – o que tem ocorrido com maior freqüência
-, mas também através da compreensão daquilo que é-, mas também através da compreensão daquilo que é
históricohistórico”.”.
28. CATEGORIAS DA RAZÃOCATEGORIAS DA RAZÃO
HISTÓRICAHISTÓRICA
o compreender realiza-se através de
diversos instrumentos que constituem as
categorias da razão histórica
os modos de apreensão do mundo
histórico e as estruturas fundamentais do
mundo histórico.
29. CATEGORIAS DA RAZÃOCATEGORIAS DA RAZÃO
HISTÓRICAHISTÓRICA
1a) sobre a qual se baseiam todas as
outras, é a vida
vida não é, para Dilthey, nem
uma noção biológica nem um
conceito metafísico, mas sim a
existência do indivíduo singular
nas suas relações com os outros
indivíduos.
Ela é pois a própria situação do
homem no mundo, sempre
determinada espacial e
temporalmente, pelo que
compreende inclusive todos os
produtos da atividade humana
associada e o modo como os
indivíduos os executam ou os
avaliam.
2a) conexão dinâmica
A conexão dinâmica distingue-se
da conexão causal da natureza na
medida em que “produz valores e
realiza fins”
Dilthey fala por isso do caráter
“teleológico-imanente” da
conexão dinâmica e considera
como conexões dinâmicas (ou
‘estruturais’, como também
afirma) os indivíduos, as
instituições, a comunidade, a
civilização, a época histórica e a
própria totalidade do mundo
histórico que é constituída por
um número infinito de conexões
estruturais..
30. AUTO-CENTRALIDADEAUTO-CENTRALIDADE
O traço característico da estrutura é a
auto-centralidade: toda a estrutura tem o
seu centro em si própria.
Assim como o indivíduo, afirma Dilthey,
também qualquer sistema cultural, ou
qualquer comunidade, tem o seu centro
em si mesmo
Nele se ligam num todo único a
interpretação da realidade, a valorização
e a produção de bens”.
31. SIGNIFICADOSIGNIFICADO
Esta auto-centralidade estabelece entre
as partes e o todo de uma estrutura uma
relação que constitui o seu significado
O significado de uma estrutura qualquer
pode por isso ser determinado a partir
dos valores e dos fins em que ela se
centra.
32. Assim, Dilthey busca o fundamental deAssim, Dilthey busca o fundamental de
sua epistemologia numa psicologia que,sua epistemologia numa psicologia que,
longe de possuir a estrutura própria daslonge de possuir a estrutura própria das
ciências naturais, permita compreenderciências naturais, permita compreender
ao homem como entidade histórica eao homem como entidade histórica e
não como um ente imutável, umanão como um ente imutável, uma
natureza ou uma substância.natureza ou uma substância.