O documento discute a alta inflação no Brasil em 2012, que atingiu principalmente os segmentos de renda mais baixa. A inflação superou a meta pelo terceiro ano consecutivo, chegando a 5,8%, enquanto a economia cresceu apenas 1%. Isso corroeu o poder de compra das famílias mais pobres e pode levar a mais inadimplência.
1. A face cruel da inflação
Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 14 de janeiro de 2013
O debate sobre os artifícios contábeis usados pelo Executivo federal no fechamento das suas
contas de 2012 e os desdobramentos para a credibilidade do governo junto a investidores e a
setores da sociedade diminuíram a atenção sobre a inflação registrada no país, divulgada na
semana passada.
Os números medidos pelo IBGE confirmam mais um dado negativo da política econômica do
governo ao mostrar que, pelo terceiro ano consecutivo, o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) superou o centro da meta de 4,5%, chegando a 5,8%.
Cotejado com o desempenho medíocre ao longo do ano, que gerou um pibinho de 1%, esse
resultado explicita uma situação preocupante de inflação em alta e de economia quase
estagnada.
Os resultados de dezembro confirmaram o cenário de inflação elevada ao fechar o mês em
0,79% -o maior índice para o período desde 2004. Para 2013, à exceção dos prognósticos das
autoridades econômicas, as previsões são de que o índice seguirá acima do centro da meta.
É ruim para todos -para o país e para os brasileiros, sobretudo para os segmentos de renda
mais baixa. A inflação é o mais perverso dos “impostos”, uma vez que penaliza, sobretudo, os
trabalhadores de menor poder aquisitivo, corroendo o seu poder de compra.
O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) -que mede os gastos das famílias com renda
mensal de até cinco salários mínimos- fechou 2012 acima do IPCA, chegando a 6,2%.O
Indicador de Preços ao Consumidor – Classe 1 medido pela FGV, que leva em conta a inflação
das famílias de até 2,5 salários mínimos, chegou a 6,9%.
São exatamente os segmentos da população que não têm como se defender da inflação e
sentem mais intensamente o peso do aumento de serviços essenciais, como planos de saúde e
alimentação, inclusive de produtos da cesta básica.
Segundo o INPC, os alimentos consumidos no domicílio ficaram 10,6% mais caros no ano
passado. Em Belém (PA), o aumento chegou a 14,2%. Das regiões metropolitanas pesquisadas,
a concentração dos índices acima da média nacional no Norte e no Nordeste é perversa.
Ao corroer o poder aquisitivo das famílias mais vulneráveis, a inflação restringe o acesso a
produtos de primeira necessidade e subtrai também recursos que seriam usados na quitação
dos empréstimos contraídos nos últimos anos de expansão do crédito, acelerando os riscos de
inadimplência.
É alto o preço que o país está pagando pelas decisões que vêm sendo tomadas pelo governo e
pelas que têm sido negligenciadas, como as reformas que deveriam ter sido implementadas.
Bons governos administram, no presente, as bases do futuro.