Não é justo com o país reduzir medidas com desdobramentos tão amplos a um falso
maniqueísmo que tenta colocar, de um lado, os que querem baixar o valor da conta de luz e,
do outro, apresentar os que propõem o debate como meros defensores de interesses das
empresas do setor.
Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - BNDES com transparência
Redução do custo da energia elétrica no Brasil
1. Energia
Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 11 de novembro de 2012
Ninguém questiona a necessidade de redução do custo da energia elétrica no Brasil. Mas já
sabemos que a MP 579 vai muito além disso, alterando o marco regulatório do setor elétrico
brasileiro. Como aponta o ex-ministro João Camilo Penna, o governo teria outras formas mais
diretas para diminuir o valor das contas de luz pagas pelos consumidores, como uma maior
redução de impostos. O caminho escolhido é complexo e, por isso, merece ser debatido com
cautela, sem arroubos de intolerância.
Não é justo com o país reduzir medidas com desdobramentos tão amplos a um falso
maniqueísmo que tenta colocar, de um lado, os que querem baixar o valor da conta de luz e,
do outro, apresentar os que propõem o debate como meros defensores de interesses das
empresas do setor.
Mais uma vez, pontua-se a forma desrespeitosa com que o Planalto trata o Congresso, ao fixar
prazos que impedem a correta discussão do tema no Parlamento, alijando-o da sua legítima
participação em decisão dessa envergadura.
Segundo especialistas, a MP 579 traz conteúdo que ignora a necessidade de expansão do setor
elétrico, afugentando investidores e descapitalizando perigosamente as concessionárias.
Ninguém sabe onde buscar os recursos para o acréscimo de 5 a 7 mil MW a cada ano
necessários ao crescimento da economia.
Hoje o país está ameaçado de viver uma crise de abastecimento que poderia ser evitada se
pudéssemos contar com mais 3,3 mil MW, caso as termoelétricas, vencedoras dos leilões de
2005, estivessem aptas a entrar em operação, mas esses projetos ou foram cancelados ou
estão atrasados.
Considerando essas usinas canceladas e outras previstas para entrar em operação nos
próximos anos, cujos projetos foram abandonados, temos quase 6 mil MW de redução na
expansão esperada de geração, causando uma enorme incerteza quanto ao atendimento do
mercado futuro.
A energia produzida por parques eólicos no Nordeste é uma alternativa com a qual ainda não
podemos contar, pois as linhas de transmissão que deveriam conectá-la ao sistema não foram
concluídas pelo governo federal. Essa falta de planejamento provocou o aumento do custo no
mercado de curto prazo. No inicio do ano, o custo da energia no mercado livre era R$ 12,20 e
agora chega a R$ 400,00.
Insisto: o tema é complexo e deve ser amplamente discutido também para que não seja
aberto um precedente em relação à credibilidade dos marcos regulatórios no país.
Nos últimos anos o governo não deu atenção ao ponto mais importante para reduzir o custo
da energia: um planejamento capaz de garantir a ampliação da oferta. E, como dizia o ex-
presidente Juscelino Kubitscheck, “energia cara é aquela que não existe”.