O documento discute 3 pontos principais: 1) Após as eleições, os políticos devem dar significado aos resultados e não apenas ajustá-los às conveniências; 2) Os novos prefeitos terão que governar cidades cada vez mais pobres com menos recursos; 3) Hoje mais da metade dos recursos ficam na União e Estados e municípios têm que sobreviver com percentuais menores, comprometendo serviços públicos.
Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - Energia no palanque
Coluna do Senador Aécio Neves da Folha - Apés as eleições
1. Após as eleições
Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 29 de outubro de 2012
Acabado o segundo turno das eleições, é hora de os partidos e seus líderes se esforçarem para
dar significado político ao resultado das urnas.
Teima-se em usar a lógica das eleições locais, ignorando suas circunstâncias próprias, como
viés determinante para projetar o futuro. Assim, busca-se ajustar os resultados às
conveniências do momento, daqueles que venceram ou sucumbiram ao voto popular.
A contabilidade mais importante, a que interessa, porém, é outra. Passadas a euforia e as
comemorações, os novos prefeitos vão ter que se haver com uma dura realidade: o
enfraquecimento continuado das nossas cidades -cada vez mais pobres em capacidade
financeira e, por consequência, sem autonomia política.
Os novos administradores terão que governar com arrecadações e transferências de recursos
em queda e responsabilidade administrativa cada vez maior, sem a necessária contrapartida
financeira. Obrigatoriamente, serão instados pela realidade a esquecerem a briga política e os
palanques para buscar parcerias e fazer funcionar uma inventividade gerencial, a fim de
cumprirem os compromissos assumidos com os eleitores.
Lembro que a Constituição de 1988 tratou da distribuição de recursos entre os diferentes
entes federados de acordo com suas obrigações e deveres com a população. Movia os
constituintes a lúcida percepção de que não pode existir país forte com Estados e municípios
fracos e dependentes, de pires na mão. Um crônico centralismo redivivo aos poucos permeou
governos de diferentes matizes e se exacerbou agora, incumbindo-se de desconstruir a obra
federativa criada naquele momento histórico, de revisão constitucional.
Fato é que, hoje, do total arrecadado no país, mais da metade fica nos cofres federais. Os
Estados e os mais de 5.000 municípios brasileiros têm que sobreviver com percentuais muito
inferiores, incluídas as transferências obrigatórias. Cada vez menos a União participa com
recursos e responsabilidades das principais políticas públicas nacionais. Basta fazer as contas:
nas principais áreas, a presença federal é minoritária, quando não decrescente.
A consequência, óbvia, consta de recente estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio
de Janeiro: 83% dos municípios brasileiros simplesmente não conseguem se sustentar.
Impassível diante dessa realidade, o governo central ignora Estados e municípios como
parceiros e poderosas alavancas para a produção de um crescimento diferenciado,
descentralizado, mais inclusivo e também mais democrático, fundamental neste momento de
crise, em que as fórmulas tradicionais estão esgotadas e fechamos o ano na lanterna dos
países emergentes.